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HERBERT FENSTERHEIM, Ph. D. Professor de Psicologia do Colégio de Medicina, Universidade Cornell, e Chefe da Clinica de Terapia do Comportamento, New York Hospital JEAN BAER NÃO DIGA SIM QUANDO QUER DIZER NÃO COMO O TREINAMENTO DA AUTO-AFIRMAÇÃO PODERÁ MUDAR A SUA VIDA Tradução de THOMAZ SCOTT NEWLANDS NETO 13a EDIÇÃO RECORD EDITORA � � Capítulo VII Auto-Afirmação Através do , Autodomínio Na Odisséia, Homero relata como Ulisses, após ter vencido a Batalha de Tr6ia, içou vela rumo à pátria, acompanhado de sua tripulação. A rota até Itaca o obrigaria a passar pela Ilha das Sereias, onde viviam aquelas criaturas sem coração, me- tade mulher e metade pássaro, que atraíam os marujos à praia com sua música encantatória, no propósito de devorá-los, Advertido por Circe a respeito de seu possível destino, Ulisses decidiu pregar um logro à morte quase certa que o aguardava. Mandou tapar com cera os ouvidos de todos os seus tripulantes, deixando os seus próprios ouvidos limpos para que somente ele pudesse ouvir o canto das sereias quando o navio se apro- ximasse da ilha. Tomou, porém, a precaução de ordenar aos marinheiros que o amarrassem firmemente a um mastro. Assim, Ulisses conseguiu conduzir seu navio além das mortíferas sereias e salvar a própria vida e também a de todos os seus homens. Ulisses realizou essa façanha que nos conta a mitologia, através de duas ações que o jargão psicológico denomina re- moção do estímulo e prevenção da resposta. Quando uma pessoa que estiver fazendo um regime conserva os alimentos fora do alcance de seus olhos. pratica a remoção do estímulo. Quando tranca aparta do refrigerador a cadeado, de sorte que não possa alcançar os alimentos, exerce a prevenção da resposta. Um indivíduo pode modificar, controlar e transformar seu próprio comportamento. Valendo-se de uma série de técnicas, proporcionará a si mesmo contingências (probabilidade de ocor- rência das coisas), atividades, recompensas e até mesmo pu- nições, a fim de que seu comportamento se torne aquilo que quer que ele seja. Comportamentos indesejados podem ser subs- tituídos por outros, desejados. Uma pessoa poderá libertar-se até de um mau hábito que seja uma característica individual de toda a sua vida. 190 Ao modificar seu comportamento, um indivíduo torna-se verdadeiramente afirmativo. Conseguir o domínio sobre o pró- prio eu, o que muitas vezes é denominado autodomínio, cons- titui parte importante da auto-afirmação. Quando alguém pratica um ato que lhe proporciona respeito a si mesmo, sua auto-estima aumenta. Isso significa o seguinte; posto em forma de equação: Um comportamento desejado = auto-satisfação = auto- estima. Inversamente, quando um indivíduo adia a realização de alguma coisa, come em excesso ou executa qualquer ato que o leva a perder o respeito próprio, essa auto-estima diminui. No Capítulo I discuti a fórmula: auto-afirmação = a auto- .estima. Os comportamentos auto-reguladores devem ser consi- derados parte da auto-afirmação. Efetivamente, para que uma pessoa possa ser verdadeiramente afirmativa há de possuir o domínio de si mesma. É difícil saber como agir diante de expressões vagas como "domínio de si mesmo", "força de vontade". No entanto, se analisarmos essas expressões, iremos descobrir que tudo quanto realmente implicam se resume numa série de hábitos especí- ficos e que poderão dizer respeito a qualquer coisa, desde os alimentos que uma pessoa ingere até a maneira insatisfatória em que trabalha. A chave da questão consiste, com muita freqüência, em identificar o hábito específico' que se deseja modificar. Conhecido esse hábito, a pessoa será capaz de modificá-lo dizendo simplesmente a si mesma que assim deve proceder. Mas efetuar a modificação de certos maus hábitos poderá revelar-se muito mais difícil e exigir um complexo programa de treinamento. É necessário perceber que alterar até mesmo um mau hábito trivial (como arrumar as roupas em seu lugar antes de ir para a cama, em vez de atirá-las em cima de uma cadeira) confere ao indivíduo um sentimento agradável de domínio sobre ele próprio. B. F. Skinner, Professor Emérito de Psicologia da Uni- versidade de Harvard, talvez o mais influente psicólogo vivo norte-americano, escreveu o seguinte: "Pouco ajuda dizer a uma pessoa que utilize sua força de vontade, ou seu autodo- mínio. Ela não saberá o que fazer. Considerando os compo- nentes específicos de que se constitui aquilo que denominamos autodomínio teremos efetivamente a vantagem prática de saber que medidas tomar no esforço com vistas a modificá-los." 191 POR QUE UMA PESSOA NÃO POSSUI AUTODOMÍNIO Modificar o relacionamento para consigo mesmo é tão im- portante para um indivíduo como modificar seu relacionamento em face de outras pessoas, tornando-o melhor. Certos indivíduos não atribuem importância a muitos de seus comportamentos. Não se preocupam com o estado das ga- vetas de suas mesas de trabalho, nem se têm oito quilos de excesso de peso, ou desperdiçam suas horas de lazer. Mas o domínio de seus próprios hábitos tem grande significação para uma pessoa. Seus maus hábitos poderão gerar tal angústia, que irá influenciar seu estado de espírito, seus sentimentos para consigo mesmo, seu estilo de vida. Por que um indivíduo não haverá simplesmente de trocar maus hábitos por bons hábitos, tomando a decisão de assim proceder? As pessoas falham nesse particular porque nunca apren- deram a habilidade de modificar-se. Não poderão fazer aquilo que não sabem. E essa falta de conhecimento do assunto será suscetível de impedir que tentem assim agir. Muitas vezes ra- cionalizam sua incapacidade de modificar-se, julgando que os comportamentos indesejados lhes satisfaz alguma necessidade in- consciente. As pessoas falham nesse terreno porque são passivas. Não gostam de um determinado comportamento seu, mas não pro-. curam modificá-lo. Essa inação acentua o sentimento de que nada poderá ser feito. As pessoas falham nesse setor porque não apreenderam o conceito de força de vontade. A expressão "use sua força de vontade" significa que cada indivíduo possui certo domínio sobre seus atos, se exercitar esse domínio. Mas existe nessa expressão um defeito: ela não informa o que se há de fazer. A força de vontade poderá servir como ponto central da auto- modificação somente se uma pessoa fizer da ação um corolário dessas palavras. CASO Frank Edwards, um executivo de quarenta anos de idade, que exerce um cargo administrativo de nível médio, veio procurar- mo, queixando-se do problema de "viver adiando as coisas". Seu trabalho era brilhante, mas s6 o entregava meses depois 192 de vencido o· prazo devido. Em conseqüência disso, vinha sempre sendo preterido em suas promoções e sentia-se perma- nentemente tenso e deprimido. Durante mais de vinte anos, Frank havia tentado vários tipos de tratamento, no propósito de superar esse problema. Seis meses de terapia do comportamento foram-lhe mais va- liosos do que a psicanálise e a hipnose. Durante uma sessão, quando Frank estava falando sobre a tensão que sentia porque um certo relatório deveria ser en- tregue em determinado prazo, que já se esgotara, voltei-me para ele e lhe indaguei o seguinte: "Escute uma coisa. Você é per- feitamente· capaz de terminar esse relatório. Decida-se a fazer isso. “Use sua força de vontade.” Então expliquei a Frank que seus conceitos sobre a vida eram errados, Ele alimentava a idéia de que sem a ocorrência de um novo comportamento de sua parte, o comportamento certo haveria de emergir. Julgava que poderia preservar uma atitude essencialmente passiva e, mesmo assim, de algum modo executar seus trabalhos dentro do prazo devido. "Força de von- tade", eu defini, "significaque isso é um problema seu, e não está vinculado a qualquer circunstância exterior ou força in- terior. Você terá de fazer com que as coisas aconteçam, nesse' caso, terminar o relatório que deverá ser entregue dentro de três semanas.” Frank ficou espantado e declarou-me o seguinte: "Com mais de vinte anos de tratamento, nunca pessoa alguma me disse que eu usasse minha força de vontade. Poderei tentar." A expressão "força de vontade" orientou Frank no sentido de assumir o controle de sua própria vida, ou seja, no caso em questão, entregar seu relatório no prazo marcado. Não lhe foi fácil concluir esse relatório, mas de fato ele o concluiu. A nova compreensão do significado da expressão "força de vontade", de parte de Frank, e a ação que executou por causa disso, revelaram-se no momento em que a terapia começou a surtir efeito junto a ele. A TEORIA DA MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO Para que' se possa compreender e acrescentar o "como" à força de vontade, torna-se necessário ter uma noção clara dos trabalhos de B. F. Skinner. 193 Ao passo que Pavlov se interessou por processos que se verificam dentro da pessoa (tais como mudanças no sistema nervoso), Skinner dá ênfase ao relacionamento de natureza fundamental que ocorre entre a pessoa e o meio ambiente. Um indivíduo emite um comportamento. Esse comportamento opera no meio ambiente, o mundo que o circunda. Em outras palavras, o comportamento acarreta conseqüências e, na opinião de Skinner, o comportamento é "afeiçoado e mantido pelas suas conseqüências". Tais conseqüências, que Skinner denomina "reforços", é que determinam a probabilidade de um ser hu- mano repetir seu comportamento. Essas conseqüências, eventos que ocorrem imediatamente após o indivíduo executar deter- minado ato, afetam o comportamento de três maneiras: (1) Reforço. A conseqüência torna o comportamento mais forte e mais apto a ser novamente praticado. Isso acon- tece sob duas condições: (a) A conseqüência poderá ser a de que algo é acres- centado à situação. Isso se denomina reforço positivo. Geral- mente uma recompensa é considerada sinônimo de reforço po- sitivo. Poderá assumir a forma de coisas materiais, como o dinheiro, os presentes, os alimentos. Uma recompensa poderá consistir num reforço social, como o louvor, a, atenção, o afeto, o amor. Ou então poderá ser o próprio sentimento íntimo de alegria ou satisfação. Muitas pessoas interpretam erroneamente a noção de re- forço positivo e julgam que terá ele de ser algo de bom. Nem todos os reforços positivos são necessariamente recompensas. A conseqüência do comportamento de um homem poderá ser sua esposa esbravejar com ele, ou ele próprio sentir-se angus- tiado. Se tais conseqüências fortalecerem e revigorarem o com- portamento que as tiver imediatamente precedido, deverão ser consideradas reforços positivos. Foram acrescentadas à situação. Quando um indivíduo modifica seu comportamento em ma- téria de autodomínio, isso se torna um aspecto relevante. Se ele quiser modificar um hábito específico, há de identificar os reforços positivos que mantenham o comportamento indesejado, e removê-los. Procurando identificar esses reforços, não deverá se limitar àqueles que sejam agradáveis ou gratificantes. Quais- quer conseqüências que decorram do comportamento poderão prover os reforços. Se o indivíduo afastá-lo, debilitará o com- portamento em causa. Qualquer reação que experimente a mãe diante do com- portamento de um filho, quer assuma a forma de atenção 194 compreensiva ou de protesto em altas vozes diante desse com- portamento, poderá proporcionar um reforço positivo. Às vezes Os reforços assumem forma extremamente sutil. Um paciente meu tinha o hábito compulsivo de gastar demais em restau- rantes. Tivemos dificuldade em identificar que reforços man- tinham esse comportamento indesejado. Disso decorre o prin- cípio para a identificação dos reforços de comportamentos in- desejados: se um comportamento, tomado como meta, redu- zir-se quando o indivíduo deixar de acrescentar uma conse- qüência particular a determinada situação, essa conseqüência será, então, o reforço do referido comportamento. • (b) A conseqüência poderá consistir em ser algo sub- traído à situação. Isso se denomina reforço negativo. As pessoas julgam erroneamente que um reforço negativo é um mau evento, que se confundiria com uma punição, Segundo Skinner, reforço negativo é aquilo que é subtraído, algo que é afastado de uma situação e, desse modo, aumenta ou mantém um comportamento, Se uma pessoa, por exemplo, se atrasa em seu trabalho no escritório e seu supervisar a censura, quando essa pessoa puser o trabalho em dia. Esse supervisor deixará de criticá-la. A conseqüência de o indivíduo pôr seu trabalho em dia é a subtração das palavras do supervisar: "O que há com você?" O reforço negativo mantém ou incrementa o melhor compor- tamento desse indivíduo no trabalho. A conseqüência desagra- dável foi afastada. Os reforços negativos mantêm grande parte dos comporta- mentos de autodomínio. Entretanto, como acontece no caso de qualquer reforço, poderão operar em dois sentidos: bom e mau. Consideremos o exemplo de dois homens que detestam pagar suas contas. Ambos sentem-se fortemente pressionados pelo imenso número de contas a pagar, e acham tal sentimento muito desagradável. Um deles poderá dirigir-se à sua mesa de trabalho e emitir cheques em favor do Departamento de Rendas Internas, em nome de grandes firmas, remetendo-lhes esses cheques. Um ato dessa natureza afasta aquele sentimento de pressão. No futuro, esse indivíduo estará mais apto a pagar suas contas. O refe- rido sentimento desagradável foi subtraído. O homem experi- mentará um sentimento agradável em conseqüência do ato do pagamento de suas contas, o qual irá revigorar ainda mais seu hábito de assim proceder - e aumentará sua auto-estima. 195 O outro indivíduo poderá começar a assistir a um programa de televisão para fugir da situação de pagar suas contas. Isso também afastará o sentimento de pressão já mencionado, mas também irá manter o mau hábito de adiaras coisas. Se ele realmente apreciar o programa de televisão, seu comporta- mento de procrastinação irá tornar-se ainda mais forte, pas- sando a ser equivalente a um sentimento de satisfação. Mas esse homem irá sentir-se mais infeliz consigo mesmo por causa dessa procrastinação, e sua auto-estima diminuirá. (2) Extinção. Ocorre quando um comportamento não tem conseqüências, debilita-se e acaba por desaparecer do repertório dos comportamentos de um indivíduo. Se uma pessoa conta uma anedota e ninguém acha graça nela ou reage de maneira indiferente à mesma, será menos provável que essa pessoa torne a contar tal anedota. A inexistência de qualquer reforço constitui a única ma- neira de extinguir-se determinado comportamento. Se um indi- víduo tiver um mau hábito e puder identificar e remover os reforços desse hábito, seu comportamento cessará, nesse par- ticular. Ao ser utilizada a técnica da extinção, conhecida pelo nome de afastamento dos reforços, quatro coisas deverão ser levadas em consideração: (a) O primeiro resultado do emprego dessa técnica po- derá ser um aumento real do comportamento que se deseja extinguir. Isso é freqüentemente seguido por um acentuado de- clínio desse comportamento. Cumpre simplesmente não esquecer que a extinção de um comportamento exige tempo. (b) Se um indivíduo empregar a técnica de extinção de um comportamento, seu mau hábito jamais deverá ser refor- çado. Se for permitida até mesmo a rara ocorrência de um reforço, isso tornará mais difícil a extinção do comportamento. Até mesmo um único reforço poderá possuir forte efeito. (c) Depois de extinto, um comportamento poderá reocorrer se forem modificadas as contingênciasdo reforço. Se uma pessoa houver se libertado de um mau hábito e o mesmo co- meçar a reocorrer, deverá procurar modificar as conseqüências desse hábito. Provavelmente verificará que terá restabelecido antigos reforços, ou criado outros. (d) Às vezes um indivíduo extingue hábitos desejados mediante o afastamento inadvertido de certos reforços. Resta- belecidos os reforços de origem, poderá reaparecer o hábito desejado. 196 CASO "Antigamente eu era muito capaz de fazer economia, mas, de repente, não consigo mais poupar nada." Assim me falou Marty Wilden, numa de nossas sessões de tratamento. Investiguei que reforços haviam anteriormente mantido esse comportamento "econômico" de Marty. Ele me contou que, durante muitos anos, todas as sextas-feiras ia ao banco que ficava perto de seu escritório, à hora do almoço, nele depositando certa quantia. As caixas eram geralmente moças bonitas, que sorriam para ele e diziam-lhe um caloroso "Muito obrigada". Às vezes até flertavam com ele. Posteriormente Marty aceitou um novo emprego num local que ficava a cinco quilômetros desse banco. Começou a fazer seus depósitos bancários pelo Correio. Mas, de repente parou de economizar. Para restabelecer os reforços e restaurar o comportamento desejado, que havia sido extinto, o de fazer alguma economia semanalmente, sugeri a Marty que transfe- risse sua conta para um banco perto de seu escritório. As caixas. desse banco eram bonitas, educadas e gostavam de flertar. Marty agora faz seu passeio ao meio-dia, todas as sextas-feiras, e poupa seu dinheiro. (3) Punição: A eliminação do comportamento. Isso ocorre sob condições diretamente opostas a um reforço. Tra- ta-se de um reforço positivo, que é removido da situação, ou de uma conseqüência desagradável à mesma acrescentada ime- diatamente após a prática do comportamento. Em outras pa- lavras, algo de agradável ou de desagradável deixa de ocorrer. A punição não extingue o comportamento não desejado (somente o afastamento do reforço poderá isso fazer), mas sim- plesmente o elimina. Afastada a punição, o comportamento tende a reocorrer. Em conseqüência, a punição se revela um meio bastante ineficiente de modificar hábitos. Se for utilizada, e o comportamento indesejado começar a reocorrer, a pessoa terá de. valer-se da punição para novamente eliminá-lo. Será necessário que aplique a si própria uma série constante de outras punições. Em determinadas circunstâncias, a punição poderá reve- lar-se extremamente eficiente: a eliminação de um hábito per- mitirá o desenvolvimento de outro hábito alternativo. O indi- víduo pune o comportamento não- desejado, substitui esse com- portamento pelo outro hábito, e o revigora. 197 CASO Um residente em psiquiatria que eu estava tratando, sentiu-se perturbado porque notou estar aumentando de peso. Chuck analisou seu próprio comportamento e limitou o problema ao seu desejo compulsivo de comer sobremesas. Infelizmente, Chuck nunca conseguiu reforçar seu comportamento de não comer sobremesas, porque jamais o executou. Decidiu utilizar-se da punição, suprimindo os doces de elevado teor calórico. Chuck fez uma lista das organizações e entidades que realmente abominava (como a Ku Klux Klan) e redigiu uma série de cartas e também preencheu uma série de cheques de vinte e cinco dólares cada um, explicando que sua contribuição visava a "ajudar" a manter a boa causa. Entregou as cartas e Os cheques a outro residente, acompanhados das seguintes ins- truções: "Eu lhe telefonarei todas as manhãs para informá-lo de que não comi nenhuma sobremesa na véspera, à noite. Se eu não lhe telefonar, você deverá presumir que eu "escorreguei". Nesse caso, ponha no Correio a primeira carta. Proceda sempre dessa maneira." Como detestava essas organizações, Chuck conseguiu con- trolar seu comportamento durante duas semanas. Mas um belo dia comeu duas porções de torta de maçã ao jantar, não deu seu telefonema matinal ao amigo, e este imediatamente enviou a primeira carta de Chuck, contendo sua contribuição à Ku Klux Klan. "A coisa deu certo," disse-me Chuck. "Por causa daquela carta à Ku Klux Klan, meu nome foi posto na lista das pessoas que recebem correspondência de toda uma série de organizações de "ódio". Hoje em dia, cada vez que eu ponho os olhos numa sobremesa, penso também nessa terrível lista de correspondência de "ódio". Cumpre lembrar que a única maneira de incrementar um comportamento é ref'orçá-lo. E o único modo de libertar-se de um comportamento é extinguí-lo. A punição possui apenas um emprego limitado. Falta de Controle dos Reforços Há uma situação especial em matéria de comportamento na qual o indivíduo não possui o menor controle sobre seus reforços. Por exemplo: uma criança cuja mãe é pouco razoável nunca saberá se seu comportamento será reforçado, posto de lado ou punido. Não existe qualquer relação entre o que essa 198 criança faz e as conseqüências que a isso se sucedem. Outro exemplo poderá ser o de um empregado que tiver um patrão imprevisível. Um excelente trabalho seu receberá elogios, num determinado dia, e não merecerá a menor atenção do chefe, no dia seguinte. Nessa situação, e em outras semelhantes, as vítimas aprenderão a sentir-se desorientadas a respeito do que lhes acontece. Não dispõem de controle sobre seus reforços. Alguns teóricos afirmam que essa desorientação "aprendida" constitui o maior fator das depressões. É bem interessante observar que isso se ajusta a uma das teorias psicanalíticas propostas pelo Dr. Edward Bibring. Ele situa como núcleo central das depressões a consciência que possui o ego de que é impotente e inerme, e isso faz remontar aos traumas da primeira infância. Quer seja tal situação devida ou não a esses traumas da primeira infância, o indivíduo que não é capaz de auto-afirmação tende efetivamente a ser im- potente e inerme, daí lhe sobrevindo a depressão. Quando esse indivíduo se torna afirmativo, adquire uma "competência apren- dida", e isso o liberta de seu estado depressivo. Estímulos Discriminativos Imaginemos que um indivíduo mantém um pombo dentro de uma caixa. Se ele acender uma luz vermelha, o pombo fará pressão sobre uma barra e receberá alimento. Se ele acender uma luz branca e o pombo pressionar essa barra, não receberá alimento algum. Se o indivíduo deixar acesa a luz branca, o pombo receberá alimento somente se descrever um círculo. Assim, o pombo aprende a discriminar entre as duas situações. Ficará sabendo que ao acender-se a luz branca só obterá o alimento se descrever um círculo. As diferentes res- postas à luz se denominam discriminação. As luzes são estí- mulos discriminativos. Constituem o sinal do comportamento que será reforçado. Grande parte das vidas dos adultos está sob a influência de estímulos discriminativos. Constituem sinais de que seus com- portamentos terão conseqüências: serão reforçados ou punidos. Assim, os indivíduos aprendem a comportar-se de maneiras di- ferentes, em diferentes situações. Aprendem uma série de estí- mulos discriminativos que lhes dirão, por. exemplo, que ao soltarem uns brados durante um jogo de bola, receberão de- terminado reforço, como o de se sentirem parte integrante da multidão, ou fazerem com que uma pessoa sentada ao seu 199 lado inicie com eles uma conversação cordial. Da mesma maneira, esses indivíduos terão absorvido uma série de estímulos discriminativos que constituem sinais de que se gritarem em voz alta, no interior de uma igreja, são punidos com olhares fuzilantes, de desaprovação, ou com ordens como "Fique quieto". Assim, as pessoas gritam durante um jogo de bola e permanecem silenciosas dentro de uma igreja. Um indivíduo terá problemas se houver aprendido o SD errado (sigla proposta por Skinner para denotaros estímulos discriminativos) para um seu comportamento. Se uma pessoa equiparar a visão de uma iguaria, um bolo na vitrina de uma pastelaria ou uma travessa de batatas fritas à mesa, a um SD para ingerir um alimento, provavelmente terá excesso de peso, enfrentará problemas em matéria de dieta e dirá a si própria que não tem força de vontade. Estímulos discriminativos inapropriados poderão dominar a vida de um indivíduo. Uma situação de trabalho ou de estudo poderá conter SDs que constituam o sinal de que conversar com os amigos fará com que uma pessoa se sinta bem. Assim, ela irá conversar com QS amigos, um comportamento incompa- tível com o trabalho e o estudo. Dentro em breve, essa pessoa irá censurar-se por ser preguiçosa, procrastinadora e ter outros maus hábitos em matéria de trabalho. A diferença não reside no comportamento da pessoa em questão, nem nos reforços, mas nas sugestões ante as quais ela reage. Para estabelecer seu autodomínio, terá de modificar os estímulos discriminativos. Observe-se que não me referi a conflitos emocionais in- conscientes nem a impulsos instintivos. Skinner não se preo- cupa com isso. Assevera que compreender a interação entre o indivíduo e o meio ambiente é o bastante para se modificar seu comportamento. Mostra que a ciência não progrediu en- quanto os cientistas anteriores a Galileu procuravam imaginar o que ocorria no interior de uma pedra que caía sob a ação da gravidade. A ciência só avançou quando Galileu tomou em consideração apenas as forças externas que operavam sobre a pedra e, desse modo, determinavam que todos os objetos que caem, qualquer que seja sua massa, o fazem à mesma velo- cidade. A partir dos anos trinta, Skinner formulou as bases da ciência do comportamento, baseada na relação entre a fre- qüência de um comportamento e suas conseqüências. Descobriu, finalmente, que sendo controlados os reforços, seria até mesmo 200 possível ensinar-se aos pombos a prática de atos tão compli- cados como jogar pingue-pongue. Skinner se preocupa com o comportamento que "opera sobre o meio para produzir efeitos", e denomina esse com- portamento como "comportamento operante". Quando o com- portamento operante dos pombos atendeu às exigências de Skinner, ele os reforçou positivamente, proporcionando-lhes ali- mento. Controlou esse comportamento, estabelecendo "contin- gências de reforço", circunstâncias nas quais um aspecto par- ticular de um comportamento desejado é reforçado ou gratifi- cado para o efeito de assegurar-se que ele se repetirá. É inte- ressante observar que é mais humano treinar animais, crianças e adultos mediante recompensas atribuídas a comportamentos desejados do que através da punição infligida a comportamentos indesejados. Além disso, trata-se de um procedimento mais eficiente. . Assim, Skinner comprovou que o comportamento pode ser modificado de maneira previsível, puramente através do con- trole das conseqüências exteriores desse comportamento e sem qualquer referência ao que se passa no íntimo do indivíduo. Ele e· outros especialistas demonstraram que o comportamento humano poderá ser moldado da mesma maneira previsível. Os partidários de Skinner asseveram que todo e qualquer compor- tamento está sujeito a essas conseqüências. Seus opositores afirmam que "as pessoas não são pombos". Acreditam que a abordagem de Skinner é limitada e não leva em consideração os comportamento que são exclusivos dos· seres humanos, particularmente as áreas que envolvem o pensar (tão influenciado pela capacidade humana de valer-se da linguagem) e a conação (termo psicológico que concerne aos impulsos, de- sejos, volições e esforços marcados por algum propósito). Esteja Skinner certo ou errado com respeito a todos os comportamentos, é possível aplicar-se com segurança suas téc- nicas de reforços, extinção ou punição para aperfeiçoar os há- bitos individuais de autodomínio. Se uma pessoa não gosta da maneira com que se comporta, não se deverá censurar por falta de força de vontade, carência de autodisciplina ou de energia. Terá de considerar que isso consiste em hábitos. Decidindo que mudanças deseja realizar, cumpre à pessoa deliberadamente iniciar um programa que as torne 'efetivas. 201 � Capítulo VIII Um Guia Para a Codificação dos Hábitos Como poderá o indivíduo criar novos e melhores hábitos e romper com velhos e maus hábitos? Poderá uma pessoa chegar à hora marcada para um en- contro quando sempre, durante toda sua vida, tem chegado uma hora atrasada para tudo? Será capaz de aprender a seguir um regime alimentar com êxito quando seu passado revela permanentes insucessos em matéria de resistência diante dos alimentos? Os seres humanos têm muitos tipos de hábitos. Alguns deles são de caráter pessoal, como a falta de ordem, o impulso incontrolado de roer as unhas e a incapacidade de concentrar-se. Outros são de natureza social. Estes últimos in- cluem o de ser sarcástico, o de portar-se como palhaço ou, até mesmo, a incapacidade de lembrar-se dos nomes das pessoas. Para assegurar a modificação de um hábito, qualquer que seja ele, a pessoa terá de cumprir as seis etapas seguintes: IDENTIFICAR O HÁBITO QUE SE DESEJA MODIFICAR Esse procedimento essencial abrange também a identifi- cação das condições em que ocorre o comportamento em causa (falta de capacidade de estudar, negligência, por exemplo). Mo- dificadas essas condições, o indivíduo assume uma posição de controle e, desse modo, modificará seu comportamento na di- reção desejada. (1) Cumpre identificar os comportamentos que envolvem o hábito indesejado. Se o indivíduo não conhecer precisamente os comportamentos que deseja modificar, terá dificuldade em isso conseguir. Norma a ser adotada: expressar esses compor- tamentos de sorte que possam ser contados ou medidos. 202 David Martin, por exemplo, um rapaz de vinte e nove anos de idade, veio procurar-me porque tinha o hábito de ser negligente, descuidado. Sua falta de ordem chegara a um ponto em que jamais convidava os amigos para ir ao seu apar- tamento e abominava ele próprio esse apartamento. David queria tornar-se um "rapaz ordeiro e asseado", mas ser tal coisa consiste em muitos comportamentos. Solicitei a David que re- gistrasse, durante uma semana, seus comportamentos específicos. Seguem-se alguns deles, que observou: Não fazia a cama antes de sair de casa. Deixava pratos sujos, da véspera, na mesa da sala de jantar. Espalhava suas meias, camisas e também seus papéis, de qualquer jeito, dentro das gavetas, de sorte que nunca conseguia localizar com facilidade coisa alguma. Deixava a pia do banheiro besuntada de creme de barbear e de pasta de dentes. Depois de ficar consciente de quais os exatos comporta- mentos em questão, David conseguiu traçar um rumo para sua ação, visando a um tipo de comportamento que conduzisse à formação de hábitos de ordem. A seguinte técnica é valiosa: andar sempre com um caderno de notas à mão, durante uma semana e, cada vez que deparar com algum hábito pertencente à modalidade que deseja modificar, registrar isso no caderno. É preciso não esquecer que é mais fácil aprender a fazer a própria cama antes de sair de casa do que tornar-se uma "pessoa ordeira". (2) Medir o comportamento que houver sido identificado para verificar a freqüência com que o mesmo ocorre antes de planejar o programa com vistas a modificá-la. Essa fase "an- terior" informará o indivíduo a respeito do ponto de partida de seu programa e lhe permitirá ulteriormente verificar os pro- gressos que realizar. Há várias maneiras de "contar" um com- portamento. Verificar a freqüência com que ele ocorre, o ritmo em que ocorre num determinado intervalo de tempo, e a du- ração desse comportamento. (3) Estudar a cadeiado comportamento. Um indivíduo poderá não ser capaz de controlar o ato final, mas esse ato não constitui obra de mero acaso. É geralmente precedido por uma série de outros atos. Talvez possa uma pessoa modificar um hábito à meia altura da cadeia em que ele se insere, antes que comece a adquirir Ímpeto. - 203 CASO Quando vi pela primeira vez Stan Block, ele me revelou ser um jogador compulsivo. Havia tentado tudo, desde a terapia dos Jogadores Anônimos, num esforço por dominar seu vício de jogar nas corridas de cavalos. Os hábitos de Stan obedeciam a um determinado padrão. Todas as manhãs, quando se vestia, prometia a si mesmo: "Hoje eu não vou apostar em patas de cavalos." Terminado o café da manhã, repetia à mulher essa deliberação. A caminho do escritório ou, nos fins de semana, quando tomava café, passava os olhos nos jornais, chegando, afinal, à sessão de esportes. Lia o noticiário sobre corridas de cavalos e começava a pensar em vários possíveis ganhadores, placês ou animais que poderiam fazer forfait. Nele crescia um sentimento de com- pulsão até que, momentos antes da hora do início dos páreos, perdia o autodomínio. Empregando todos os centavos em que pudesse deitar a mão, fazia sua aposta. Eu fiquei pensando se não seria mais fácil intervir antes, na cadeia de hábitos de Stan, e não naquele 'ato final - o de fazer a aposta. Por esse motivo, perguntei a Stan se ele não poderia deixar de ler o jornal da manhã. Ele assim fez e deixou de jogar. E os agiotas desapareceram de sua vida. A Sra. Block, insatisfeita, telefonava regularmente para mim, dizendo o seguinte: "Mas, Doutor, Stan ainda não compreende por que jogava. Ele não possui uma perfeita visão do problema.". Achava que se não houvesse essa perfeita. visão do problema, ele iria reaparecer. Acompanhei esse caso durante três anos. Stan não jogou mais uma única vez. Agora lê o Wall Street Journal todas as manhãs, o qual não tem uma página de esportes. FAZER UM CONTRATO DE INTENÇÃO NO SENTIDO DE QUE SE DESEJA MODIFICAR. DETERMINADO COM- PORTAMENTO Firmar o contrato consigo mesmo ou com outra pessoa. (1) Esse contrato de intenção deve ser rigorosamente es- pecífico. Se um indivíduo afirmar, por exemplo: "Eu vou estudar mais", isso será muito vago. Como poderá realmente contar ou medir tal coisa? É melhor dizer a si mesmo o se- guinte: "Eu vou estudar duas horas por dia." E poderá acres- centar que irá contar o número de dias em que estudar essas horas. Até mesmo afirmar, simplesmente, "Eu chegarei à hora 204 no trabalho." será demasiado. impreciso. Chegar apenas dois minutos atrasado. será chegar à hora no. trabalho? E que dizer de chegar dez minutos atrasado. a ele? E se a: pessoa ·se atrasar e seu supervisor não. reparar nisso? É muito. preferível que um indivíduo. afirme algo. de específico. como, por exemplo, "Eu chegarei todas as manhãs ao escritório, o mais tardar às nove horas." Mesmo. as palavras "eu chegarei" poderão não. ser claras. Isso significará a hora em que a pessoa chegar ao hall de entrada do edifício. em que trabalha... marcar o cartão. de ponto... sentar-se à sua mesa? O que se acaba de afirmar acentua a necessidade de serem definidos os vários comportamentos que envolvem o. fato de "não. procrastinar", ou seja, não. adiar a realização das coisas, "ser mais ordeiro", "vestir-se melhor", "aproveitar melhor o. próprio. tempo." Uma declaração específica de intenções, entretanto, torna fácil para um indivíduo iludir-se a si próprio, acreditando, com isso, haver cumprido seu compromisso. O Dr. Allen Marlatt, da Universidade de Washington, e o. Dr. Burt E. Kaplan, da Universidade da Flórida do. Sul verificaram ser isso. verdadeiro. quando estudaram o cumprimento das chamadas resoluções de Ano-Novo. Quanto mais vaga uma resolução, mais será susce- tível de ser declarada decisão cumprida. É mais fácil acreditar que uma pessoa está "mais afinada com o. mundo." do que crer que perdeu cinco quilos quando a balança lhe mostrar que só perdeu três. É necessário que a pessoa registre por escrito, num pedaço de papel, qual a sua intenção, de sorte a não poder modificá-la inadvertidamente. (2) Deverá uma pessoa comunicar a outra qual é sua intenção, mostrando-lhe, de preferência, o que houver escrito, Essa segunda pessoa há de estar em posição de poder controlar o comportamento da primeira. Se um indivíduo quiser modi- ficar seu comportamento no escritório onde trabalha, revelará a um colega aquilo que deseja modificar, e não a um amigo. com quem costuma jogar boliche nas noites de terças-feiras. Mas se o caso for de jogo de boliche, comunicará sua intenção, de modificar algum comportamento a alguém com quem jogue boliche, e não com aquele homem tão simpático que trabalha na sala dos mimeógrafos. É preciso ser específico: ninguém poderá saber se uma pessoa "parou de ter maus pensamentos". Será apenas capaz de observar que essa pessoa concluiu deter- minada tarefa no prazo devido. 205 Gabe uma palavra de cautela: um amigo não deverá re- forçar qualquer intenção de uma pessoa fazendo-lhe elogios pelo fato de ter ela essa intenção. Nem essa pessoa há de elogiar-se por ter uma boa intenção. Não se chegará, porém, ao extremo oposto de imaginar que um indivíduo irá expressar sua intenção a alguém que a desaprove, pois isso tornará mais difícil para ele próprio estabelecer futuras intenções. (3) A pessoa deverá estabelecer como intenção algo que possa ser realizado num futuro próximo. Uma promessa feita no Dia de Natal, por exemplo, que afirme, "Eu nunca mais ficarei embriagado numa festa de Natal em meu escritório" não constitui um contrato funcional, porque o ensejo de cum- prí-lo situa-se em futuro muito remoto. (4) O indivíduo estabelecerá como meta obter uma série de sucessos. Deverá escolher um comportamento em cuja exe- cução tenha grandes probabilidades de êxito, e "trabalhar" com esse comportamento. O sucesso tornará mais fácil agir na área de outros comportamentos, como também simplificará o pro- cesso de estabelecer novas intenções como base de projetos com vistas a modificar os próprios hábitos. Uma pessoa, por exemplo, vive adiando fazer os serviços domésticos. Será irrea- lista dizer a si mesma o seguinte: "Eu preciso de todo o dia de sábado para fazer esses serviços de casa." Estabelecerá uma série de metas: (a) trabalhar nos serviços domésticos durante uma hora, nas manhãs de sábados; (b) quando esse hábito estiver firmado a meta seguinte deverá ser trabalhar duas horas nos serviços de casa, nas manhãs de sábados; (c) em seguida, a meta será trabalhar duas horas pela manhã e outras duas à tarde, nos sábados. Esse padrão será mantido até que a pessoa atinja seus objetivos. EXAMINAR A SITUAÇÃO E' VERIFICAR SE A AÇÃO INDESEJADA· PODE SER DE EXECUÇÃO MAIS DIFÍCIL E SE A AÇÃO DESEJADA PODERÁ SER DE REALIZAÇÃO MAIS FÁCIL (1) O indivíduo deverá controlar os estímulos que desen- cadeiam um comportamento indesejado. Foi o que fez Ulisses quando colocou cera nos ouvidos dos tripulantes de seu barco para que não pudessem ouvir o canto das sereias: tornou o estímulo ineficiente. Muitas vezes as condições físicas da área em que o indi- víduo opera lhe enviam mensagens erradas. 206 (a) Se uma pessoa não dispuser de suficiente espaço em seu armário ou em suas gavetas, essa situação material poderá ser-lhe um estímulo de que manter suas roupas e seus objetos em ordem constitui um problema, e seu comportamento ordeiro não será reforçado. Assim, essa pessoa terá menos probabili- ·dades de arrumar o próprio armário e pôr suas gavetas em ordem. (b) Se um jovem estiver tentando estudar física enquanto seu irmão estiver assistindo a um programa de televisão, poderá receber o estímulo discriminativo que lhe dirá que ele tambémteria prazer em assistir ao mesmo programa de TV (reforço positivo), ou que se assistisse a esse programa, eliminaria a pres- são de aprender a Lei de Boyle (reforço negativo). Assim, pára de estudar física e vai plantar-se diante do aparelho de tele- visão. É necessário ordenar o meio, de sorte a eliminar estímulos ao comportamento indesejado e fortalecer os estímulos ao com- portamento desejado. Aumentar o espaço no armário e nas gavetas, por exemplo, poderá iniciar a emissão de estímulos discriminativos, no sentido de que o comportamento ordeiro será mais fácil de ser executado. Se uma pessoa fizer seus deveres de casa sozinha, sem ter diante de si um aparelho de televisão, afastará o indesejável estímulo desse aparelho. Os estímulos discriminativos voltados para o estudo irão tornar-se dominantes. (2) O indivíduo deverá eliminar uma resposta não - de- sejada. Muitas vezes ele não conseguirá controlar um estímulo. Todavia, dando uma nova ordenação ao meio, poderá' impedir que ocorra a resposta indesejada. Um escritor, por exemplo, que tinha o mau hábito de telefonar aos amigos em vez de trabalhar, encontrou a seguinte solução: todas as manhãs, ele próprio passava um cadeado no disco do telefone e entregava a chave desse cadeado à mulher. Abria o cadeado às duas horas da tarde, quando geralmente terminava aquela restri- ção imposta ao seu dia. Finalmente, não teve mais necessidade do cadeado e da chave, sentindo-se orgulhoso de seu "melhor autodomínio". (3) A pessoa poderá suprimir o comportamento indese- jado, utilizando-se da autopunição. Repito que a punição ge- ralmente não é uma técnica eficiente quando se tratar de mo- dificar comportamentos. É muito melhor isso conseguir através do emprego de reforços, ou mediante o afastamento desses re- 207 forçoso Às vezes, porém, um comportamento desejado nunca se torna real, ou o indivíduo não consegue reforçá-lo porque algum mau hábito é muito arraigado, ou ele não logra des- cobrir quais os reforços que mantêm esse hábito. Assim não consegue extingui-lo, Em tais circunstâncias, o método da pu- nição poderá revelar-se útil. Esse método poderá ser igualmente valioso quando um indivíduo tem necessidade de uma imediata modificação de seu comportamento. Talvez um hábito indesejado possa cul- minar na perda de seu emprego, se ele não o modificar sem perda de tempo. Nesse caso, a técnica da punição poderá ser a única possível. Cumpre lembrar que uma punição terá de ser forte e administrada logo após a execução do comportamen- to indesejado. CASO Por sua falta de polidez com os fregueses, Alan Wood havia perdido três empregos e achava que estava prestes a ser des- pedido de seu novo cargo, o de vendedor de uma loja de de- partamentos. Precisando pagar uma hipoteca vencida, teria de controlar imediatamente esse mau hábito. Por esse motivo, elaborei para ele uma técnica de puni- ção. Disse a Alan que fosse a uma loja de novidades e com- prasse um pequeno objeto que parecia ser um isqueiro, mas na realidade, quando comprimido, dava à pessoa um choque elétrico bastante forte. Era usado para pregar peças, mas eu tinha em mente outro propósito: Alan teria sempre esse ob- jeto num dos bolsos do paletó. Cada vez que tivesse consciência de haver dito a algum cliente qualquer coisa que ele próprio pudesse considerar indelicada, enfiaria a mão no bolso, aper- taria o tal aparelho e aplicaria um choque elétrico em si mes- mo. Ao cabo de alguns dias, Alan percebeu que havia ocorrido uma modificação em seu comportamento. E transcorridos mais dias, começou a receber de seu supervisor e de colegas de trabalho reforços para essa modificação, que vieram revigorar seu comportamento polido. Os clientes também o ajudaram a reforçar esse comportamento desejado. Depois de cerca de uma semana, Alan raramente teve de usar o aparelho de dar cho- ques, mas o conservou no bolso do paletó durante algum tempo. "Sabendo que ele aí está, me impede de ser malcriado", co- mentou Alan. . (4) A pessoa deverá modelar o comportamento desejado. Se um indivíduo tiver algum problema que decorra imediata- 208 mente do comportamento que desejar ter, há de começar no ponto em que se encontrar e modificar pouco a pouco esse . comportamento no sentido da meta que houver estabelecido. Por vezes a técnica de "aquecimento" o consegue. Um redator tinha o problema de começar a trabalhar. Decidiu, como exer- cicio de "aquecimento", arquivar o texto que tivesse redigido no dia anterior. Ficou tão interessado em ler o que havia es- crito na véspera e também em pensar como poderia melhorar seu próximo rascunho, que conseguiu facilmente iniciar seu tra- balho daquele dia. Um aluno poderá achar mais fácil começar a estudar ma- temática do que história, ou vice-versa. Um executivo talvez tenha maior facilidade em começar seu dia de trabalho por uma conferência ou um ditado em vez de organizar um rela- tório de fim de ano, porque os estímulos sociais daquelas si- tuações lhe serão proporcionados. Uma advertência: a pessoa deverá ater-se a cada etapa até ser capaz de prosseguir, atacando a etapa seguinte. Mas se permanecer por um tempo excessivo numa etapa preliminar, poderá sentir-se presa a essa etapa. VERIFICAR QUE CONSEQÜÊNCIAS DO COMPORTAMEN- TO INDESEJADO O REFORÇAM. DEVEM SER PRQCURA- DAS AS CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS DO ATO (QUE NÃO TÊM DE SER NECESSARIAMENTE AGRADÁVEIS). Quaisquer que sejam tais conseqüências, deve ser presu- mido que constituem reforços a esse comportamento. O indivíduo tem que levar em consideração as conseqüên- cias imediatas de seu comportamento. Uma pessoa que esteja fazendo um regime queixa-se das conseqüências de comer de- mais. Não quer usar roupas tamanho 50, e sim outras, tama- nho 42. Sabendo disso, por que motivo, então essas desagra- dáveis conseqüências não reprimem sua imensa ingestão de Ca- Lori as? Não o fazem porque ela sente tão grande prazer, ou tamanho alívio de tensões quando devora uma travessa de al- môndegas com espaguete, que se esquece do resultado final disso: a gordura. Sabemos teoricamente o seguinte: Um comportamento seguido de um reforço (positivo ou negativo) conduz a um incremento desse comportamento. 209 Um comportamento seguido de uma punição leva a uma diminuição desse comportamento. Que acontece quando determinado comportamento é ime- diatamente seguido de uma conseqüência reforçadora e, após isso, de uma punição? O comportamento será mantido ou, até mesmo, incrementado. O que importa é a conseqüência que vem imediatamente após o ato. Outras conseqüências não con- tam. Um ébrio compulsivo, por exemplo, faz descer pela goela abaixo uma série de doses de uísque. Sente-se menos tenso, em paz consigo mesmo, cheio de ânimo. Posteriormente, passa terrivelmente mal. A segunda conseqüência é inoperante. Ele continuará a beber porque a primeira conseqüência o levou a sentir-se bem. (1) Um indivíduo poderá ter de modificar o comporta- mento das pessoas que o rodeiam para evitar as conseqüências que mantêm ou incrementam um hábito indesejado. Teodora Ayllon e Jack Michael, dois eminentes experimentadores no campo dos operantes, relataram o caso de Lucille, uma pa- ciente hospitalizada, deficiente mental, cujas visitas ao centro de enfermagem do hospital onde estava internada, visitas cons- tantes, interferiam com o trabalho das enfermeiras. Durante dois anos, Lucille viveu importunando essas enfermeiras que manifestavam à moça seu aborrecimento por causa disso. Quando tal procedimento provou não dar resultado, as en- fermeiras tomaram a seguinte atitude, dizendo: "Ela é tola demais para entender as coisas." Terapeutas do comporta- mento começaram a lidar com o caso e decidiram que o com-portamento das enfermeiras teria de ser modificado. Eles as instruíram a não dar atenção a Lucille quando esta viesse visitá-las, não tomando conhecimento de sua presença. Assim fizeram as enfermeiras. Durante os dois anos precedentes, Lu- cille fizera em média dezesseis visitas Dor dia ao centro de enfermagem. Quando as enfermeiras deixaram de reforçar seu comportamento, não mais prestando atenção a ele, as visitas da moça baixaram a duas por dia. . Encontramos um exemplo muito conhecido na vida quoti- diana, familiar a todas as pessoas que tenham tentado fazer um regime alimentar. Quando sucumbem à tentação de in- gerir algum alimento de elevado teor calórico, toda gente lhes faz a seguinte observação: "Você não devia comer isso." Ou então lhes dizem o seguinte: "O que aconteceu com seu re- gime?" Essas pessoas, dando atenção ao hábito que tem um indivíduo, de quebrar seu regime, estão reforçando o hábito 210 em questão. Mas quando o indivíduo se mantém firme e segue seu regime, as outras pessoas geralmente não tomam conhe- cimento disso, assim afastando um reforço ao comportamento de manter seu regime, de parte desse indivíduo e, assim, ten- dem a favorecer a diminuição desse comportamento. Os re- forços que essas pessoas proporcionam às que fazem algum regime alimentar são exatamente o contrário do que as últimas necessitam para que se mantenham firmes em seus regimes. (2) A pessoa deverá remover os reforços que estiverem mantendo o comportamento indesejado. É necessário identificar as conseqüências que imediatamente se seguem ao ato inde- sejado, afastando-as da situação ou tornando-as ineficientes. Privado desse reforço, o comportamento diminuirá e acabará desaparecendo. CASO Uma universitária de vinte e um anos veio procurar-me por causa de um problema que tinha: o de viver puxando os pró- prios cabelos (hábito indesejado muito comum entre pessoas de ambos os sexos). Quando estava estudando, Dina puxava os cabelos de sua bela cabeleira loura. O padrão do compor- tamento de Dina era o seguinte: tomava dois ou três fios do cabelo e os enrolava bem apertado em torno da ponta da unha do dedo indicador, de sorte que a pressão era exercida pelos bordos da unha. Contou-me que "gostava de sentir aquela pressão". Por esse motivo, decidimos remover o sentimento de prazer proporcionado por essa pressão, o qual estava pro- porcionando o reforço. Instruí Dina para que colocasse uma atadura em redor do dedo indicador a fim de que não pudesse experimentar aquela sensação agradável de prazer. Ao cabo de algumas semanas, durante as quais andou com o dedo en- volto na atadura, conseguiu controlar seu hábito. (b) Se não afastar o reforço, a pessoa poderá ser capaz de dominá-lo, acrescentando uma conseqüência ao seu com- portamento, que seja mais importante do que a anterior, de tal sorte que esta perde o controle que antes possuía. CASO Um homem que era pianista de um nightclub veio me pro- curar porque tinha o problema de roer as unhas. Isso o preo- cupava porque suas mãos feias, estavam sempre à vista de todos. Sugeri que procurasse um farmacêutico de sua confian- 211 ça e adquirisse algum remédio que pudesse aplicar nas unhas e tornasse menos agradável a experiência de roê-las. Há certos preparados que têm um forte sabor, positivamente ruim, quan- do colocados nas unhas. Várias semanas depois, ele me tele- fonou dizendo o seguinte: "Minhas unhas começaram a crescer." Transcorridos seis meses, informou-me que não pre- cisava mais do remédio e que tudo estava sob controle. (c) A pessoa deverá usar a imaginação a fim de con- trolar os reforços. Na técnica da sensibilização dissimulada, desenvolvida por Joseph R. Cautela, professor de psicologia do Boston College e ex-presidente da Associação para o Pro- gresso da Terapia do Comportamento, imagina-se uma cena extremamente desagradável (como sentir-se doente, estar sendo mordido por um cão danado, estarem uns ratos correndo sobre seu corpo). Em seguida, quando a pessoa começar a executar um comportamento indesejado imaginará essa cena. A cena deverá ser a mais vívida possível e a pessoa persistirá em imaginá-la até fazer cessar aquilo que não deseja fazer. Logo que isso acontecer, passa imediatamente a imaginar uma cena agradável, algo que seja o extremo oposto da outra cena que lhe houver causado aversão. O paciente executa no consultório do terapeuta não só o ato desejado como também a cena de- sagradável, em sua imaginação. Em seguida, vai adiante, pra- ticando esse método em situações da vida real. Embora as cenas imaginadas sejam desagradáveis não só para o terapeuta mas também para o paciente, revelam-se extremamente va- liosas como técnica para provocar a desejada modificação do comportamento. ESTABELECER O HÁBITO DESEJADO Para essa finalidade, torna-se necessário que a pessoa pos- sua perfeito conhecimento daquilo que deseja precisamente se torne seu comportamento, como também deverá dispor de um sistema de reforços que operem nesse sentido. . Ainda que esses reforços constituam algo de lógico e que os amigos da pessoa possam julgar que se trate de uma maravilhosa recompensa, talvez não possuam para ela tal fun- ção. Um indivíduo que deteste os dias muito frios e também qualquer tipo de esporte, não há de considerar uma recom- pensa algum prometido fim de semana em Aspen. Torna-se necessário escolher reforços que o convenham. _ 212 (1) Ao serem escolhidos reforços positivos, cumpre con- siderar suas três modalidades: (a) Reforços de natureza social. Conforme observei, os amigos de um indivíduo poderão estimular' seus progressos com sorrisos, atenções, demonstrações de interesse, elogios. (b) Reforços que proporcionam prazer. Poderá tratar-se de alguma coisa que a pessoa deseja vivamente, como um ves- tido novo, uma noite na cidade, uma pescaria. Ou então, al- guma coisa que aprecia. Um martíni, por exemplo, saboreado à hora do almoço, ou a leitura empolgante de um romance policial. (c) Reforços que consistam em algo que a pessoa revela a tendência de fazer muitas vezes, como escovar os cabelos, fazer sua maquilagem ou olhar vitrinas de lojas. Se um indi- víduo puder pensar num reforço dessa natureza, deverá ob- servar o que faz reiteradamente e se utilizar disso como re- compensa. Essa lei do comportamento denomina-se "Princípio de Premack" (do nome do Dr. David Premack, que o for- mulou). O Dr. Premack demonstrou que aquilo que o indi- víduo faz com mais; freqüência, numa situação livre, pode ser por ele utilizado como reforço. Para incrementar um compor- tamento raramente executado, a pessoa deverá executar esse comportamento e, imediatamente, fazê-lo seguir de outro que lhe seja freqüente. Um indivíduo, por exemplo, sempre ouve o noticiário matutino transmitido pelo rádio. Logo que começar a fazer seus exercícios, deverá ligar o rádio e ouvir esse noticiário. (2) Devem ser empregados reforços positivos: (a) Os reforços não poderão advir antes que a pessoa execute o comportamento desejado. Assim, se um indivíduo tiver o mau hábito de chegar sempre atrasado ao trabalho, só tomará seu café quando estiver completamente vestido e pronto a partir para o escritório, às oito horas. Minha mulher, Jean, afirma que essa técnica, mesmo tendo ela um emprego de tempo integral, lhe permitiu escre- ver quatro livros. Quando se levanta às seis horas da manhã, diariamente, para trabalhar em algum livro, gratifica-se' com um Bloody Mary e um bife tártaro no almoço dos sábados. Se conseguir também levantar-se às seis horas num sábado, vai almoçar num restaurante. Mas se não sair da cama a essa hora, não terá seu Bloody Mary nem seu bife tártaro, e nãoalmoçará num restaurante. 213 Muito antes de Skinner, Benjamin Franklin aplicou acer- tadamente esse princípio do reforço contingência. Quando era presidente da Sociedade Americana de Filosofia, aconselhou ao capelão dessa sociedade, "um zeloso ministro presbiteriano", a maneira de como conseguir que um maior número de mem- bros da mesma chegasse à hora marcada para suas reuniões a fim de antes fazer suas orações. Como cada um desses mem- bros recebia sua porção diária de rum (quatro onças), Fran- klin sugeriu ao Capelão Beatty o seguinte: "Se o senhor dis- tribuir o rum somente após as orações terá todos eles ao seu redor." Beatty seguiu a sugestão de Franklin e "nunca as ora- ções foram freqüentadas por tanta gente e tão pontualmente". O comentário de Franklin foi este: "Julguei esse método pre- ferível às punições infligidas por certas leis militares pela falta de freqüência aos serviços religiosos." (b) Não deverá ser esquecido que o comportamento que precede imediatamente o reforço é aquele que tende a aumen- tar. Se um indivíduo espera demais para reforçar um bom comportamento seu, outros comportamentos irrelevantes se in- trometerão. Esses comportamentos é que irão ser reforçados, e não aquele que a pessoa deseja incrementar. Não resta dú- vida de que o indivíduo não terá de receber a recompensa con- creta no exato momento em que executar uma ação desejada. Um símbolo, uma marca qualquer, ou simplesmente, a to- mada de consciência de que obteve o reforço é igualmente eficaz. Jean sabe que se gratificará com um Bloody Mary no sábado desde que se levante às seis horas da manhã durante toda a semana. (c) A pessoa deverá manter o controle de suas ações. Registrar os atos praticados poderá constituir um reforço. Isso poderá ser feito com o emprego de gráficos, quadros, ou qual- quer outro tipo de registro que seja eficiente. Deverão ser contados quantas vezes esses atos sejam praticados em cada dia. Se se tratar, por exemplo, de um ato que a pessoa realize apenas uma vez por dia, como ir para o trabalho às nove horas da manhã, um quadro muito simples poderá ser organizado. O próprio auto-registro é suscetível de modificar o com- portamento de um indivíduo. Um marcador de pontos de golfe talvez seja um meio simples de assim proceder. Se uma pessoa tiver o hábito de devanear quando estiver trabalhando, cada vez que der consigo mesma a olhar pela janela, ou perceber que esteja absorta em alguma fantasia ao passo que sua aten- ção deveria estar voltada para o trabalho, registrará isso no 214 marcador de pontos. No fim do dia, o total será transferido para um gráfico ou quadro, que deverá ser mantido num local bem visível. Esse gráfico geralmente será a melhor solução, porque a pessoa poderá perceber, num relance de olhos, o que estiver ocorrendo. Não deverá ficar surpreendida se as mudan- ças de seu comportamento começarem a verificar-se imedia- tamente após haver iniciado esse auto-registro. Observei que o auto-registro é recurso muito eficaz no caso de vendedores, corretores e outros homens de negócios que têm de dar muitos telefonemas para desenvolver suas ati- vidades. Muitos não cumprem essa tarefa. Por isso sentem-se deprimidos, insatisfeitos consigo mesmos, preocupados com a queda de suas comissões e com a possibilidade de perderem ° emprego. Geralmente não sabem quantos telefonemas dão por dia. Quando um paciente que tinha esse problema veio ao meu consultório, eu lhe mandei comprar um caderno de notas. Cada vez que desse um telefonema, deveria anotá-lo nesse caderno, reservando uma folha do mesmo para cada dia de trabalho e somando, no fim do dia, os telefonemas que houvesse dado. Esse simples auto-registro muitas vezes per- mite que o paciente passe a ter um desempenho que o satis- faça. (d) A pessoa poderá dar a si própria uma recompensa por executar determinado comportamento. Isso representa a utilização da técnica de reforço dissimulado, criada por Joseph R. Cautela, que apliquei às situações sociais, no Capítulo IV. A pessoa toma o comportamento que deseja incrementar, ima- gina estar executando esse comportamento, e reforça o de- sempenho do mesmo com apelo à imaginação. Poderá igual- mente aplicar esse método quanto aos seus hábitos. Cumpre lembrar o seguinte: pensar no comportamento que deseja executar; imaginar estar executando esse comportamento; em seguida, dizer de si para si "reforço", e começar a imaginar algo que seja uma recompensa. A pessoa deverá assim proceder seguidamente, empregan- do um conjunto de dez reforços. Assim, atribuirá um reforço positivo ao ato real que deseja executar. é preciso não esque- cer que isso poderá ser feito centenas de vezes. Um terceiranista de certa faculdade havia criado um blo- queio que o impedia de redigir seu trabalho de fim de semes- tre, que deveria versar sobre o teatro irlandês. Obteve grande sucesso com o emprego dessa técnica. A cena que imaginou 215 foi a seguinte, quanto às varias etapas que seu trabalho exi- gia: Seu reforço imaginário foi o de estar beijando a namo- rada! (e) A pessoa deverá fazer com que as recompensas se- jam cada vez mais difíceis de ser conquistadas. Os padrões terão de ser cada vez mais elevados. Inicialmente, por exem- plo, o indivíduo dará a si próprio uma recompensa cada vez que chegar pontualmente ao trabalho, Em seguida, para me- recer essa recompensa, deverá chegar ao escritório pontual- mente durante três dias consecutivos... depois, durante uma semana seguida, duas semanas sucessivas. Logo que uma pessoa houver conquistado três recompensas, elas deverão tornar-se mais difíceis de ser alcançadas. Um modo de assim proceder é o seguinte: estabelecer um sistema de pontos. A execução de cada ato que represente o comportamento desejado dará à pessoa um determinado número de pontos. Mas será preciso que ela reúna uma série de pontos para que se gratifique com uma recompensa. Outra maneira de proceder será o em- prego de reforços intermitentes, aplicados ao acaso. Em de- terminadas ocasiões, a pessoa terá sua recompensa, ao passo que em outras vezes não a receberá. Isso poderá ser decidido, por exemplo, utilizando-se a pessoa do recurso de "tirar cara ou coroa". Ainda uma terceira maneira de agir será o em- prego do sistema de aperfeiçoamento ou modelagem do compor- tamento. A pessoa reforçará aproximações cada vez mais per- feitas do comportamento desejado. Inicialmente, atribuirá a si mesma uma recompensa se chegar apenas vinte e cinco minu- tos atrasada ao trabalho. Em seguida, se o fizer com quinze minutos de atraso e, após, será gratificada quando esse atraso for apenas de cinco minutos. Repita-se, mais uma vez, que o importante é não permanecer durante demasiado tempo numa etapa preliminar do comportamento desejado. (f) A pessoa deverá ter consciência de que o fato de estar fazendo alguma coisa em seu próprio benefício poderá constituir um reforço muito poderoso. Tratei de um jovem advogado, muito bem - sucedido em sua profissão. O problema que ele apresentava era o seguinte: não conseguia economizar dinheiro. Estabelecemos um com- plexo programa de treinamento, com vistas a incrementar seu comportamento em matéria de poupança, empregando reforços como, por exemplo, a aprovação de sua secretária, um pro- grama de auto-registro de seu comportamento, e o aumento de sua conta bancária. Finalmente, Ken (este era seu nome) 216 sentiu haver dominado suas extravagâncias, tendo criado o de- sejado hábito de poupança. Nessa altura, disse-me o seguinte: "O senhor quer saber de uma coisa? O melhor reforço não foi nada disso que estabelecemos: foi o fato de que cada vez que vou ao meu banco tenho orgulho de mim mesmo. Sei queestou controlando minha própria vida." 217 � Capítulo X Como Emagrecer c Conservar-se Magro Ao passo que milhões de infortunados seres humanos, no mundo inteiro, sofrem por causa de problemas de desnutrição é fome, a principal doença da nutrição neste país é a obesidade. Fazer regime alimentar tomou-se o mais popular dos esportes praticados dentro de quatro paredes. Dolorosos dados estatísticos nos revelam, entretanto, que menos de 10% dos milhões de norte-americanos que fazem re- gime todos os anos se mantêm no peso a que conseguiram chegar. Qualquer método de emagrecimento que sigam pode torná-los temporariamente mais magros, mas não se conservam assim. As pessoas que fazem regimes possuem, em média, um determinado padrão. Suas roupas ficam-lhes apertadas; os amigos e o marido (ou a mulher) os criticam, dizendo-lhes o seguinte: "Você está gordo demais!" A pessoa sente que está gorda e pouco atraente. Preocupada com isso, começa a fazer um re- gime violento que irá durar, provavelmente, de sessenta a no- venta dias. Perde peso. No entanto, seis meses depois, terá recuperado tudo quanto perdeu. Isso acontece porque não modi- ficou seus hábitos essenciais em matéria de alimentação. Para conseguir uma redução permanente de peso a pessoa terá de modificar seus hábitos alimentares c o tipo de exercícios que faz, isso para o resto da vida e não apenas durante um breve período. O comportamento das pessoas é deficiente no que toca ao controle do próprio peso, e isso acontece por três razões prin- cipais: (1) Quem tem excesso de peso vive muito sob o controle de estímulos externos (como ver e sentir o cheiro dos alimen- tos). Se houver o que comer junto a um indivíduo desse tipo, 225 ele logo o come. A disponibilidade de qualquer coisa comestí- vel, e não a fome, desencadeia o ato de comer. Ver, numa re- vista, um anúncio de dar água na boca, o despacha numa incursão ao refrigerador. Muitos estímulos indiretos igualmente se tornam sinais para o comer. Associando a alimentação ao ato de assistir à televisão, esse indivíduo fica beliscando amen- doins quando vê o noticiário da noite ou lê alguma coisa. (2) A certa altura da vida, as pessoas desse tipo terão aprendido um comportamento precário em matéria de alimen- tação. O hábito de comer demais tornou-se para elas um estilo de viver, que mantêm porque o apreciam. Privadas desse há- bito, sentem-se inseguras porque ele lhes proporciona um alívio temporário de sentimentos como a angústia, a cólera ou a de- pressão. Alguns desses indivíduos comem para evitar o stress. Pelo fato de terem excesso de peso, conseguem evitar deter- minadas circunstâncias que provocam tensões, como a aproxi- mação do sexo oposto. (3) Certas pessoas têm excesso de peso por causa de seus hábitos deficientes em matéria de exercício. Talvez não comam demais, mas não queimam o que comem. Às vezes sua limi- tada atividade os leva a maior ingestão de alimentos. A abordagem do Treinamento da Auto-Afirmação no que se refere ao controle de peso ajuda as pessoas a adquirir au- todomínio nessas três áreas. Não irão seguir uma dieta drás- tica. Um rigoroso regime alimentar visa a modificar o peso de um indivíduo e não a modificar seu comportamento. Esta- belecer um novo hábito em caráter permanente exige tempo, e a perda extrema e rápida de peso raramente poderá ser man- tida por um prazo suficientemente longo para que seja alcan- çada uma modificação do comportamento. Em conseqüência, a meta de uma pessoa deverá ser a de perder em média de meio a um quilo por semana, e conseguir uma mudança a longo prazo de seus hábitos alimentares, Para assim proceder, deverão ser aplicados os princípios do autodomínio. A pessoa procurará verificar que estímulos desencadeiam o indesejado hábito de comer, e eliminá-los. De- finirá seu comportamento específico no campo da alimentação e dos exercícios físicos que deseja modificar. Eliminará os reforços que 'estiverem mantendo sua indesejada ingestão excessiva de alimentos, e os substituirá por reforços que irão aumentar o desejado comportamento alimentar, ou os reforçará, caso já exis- tam. 226 Experiências rigorosamente controladas, de modo especial as que foram realizadas na Universidade de Michigan, na Uni- versidade de Colúmbia e na Faculdade de Medicina da Uni- versidade de Pensilvânia comprovaram o êxito dessa abordagem. Segundo o Dr. Albert J. Stunkard, ex-chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Pensilvânia, atualmente pre- sidente do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, e especialista em obesidade, a aplicação da terapia do comportamento a pacientes obesos "constitui o primeiro progresso significativo ocorrido no decurso de muitos anos... os antigos programas de redução de peso apenas impunham às pessoas que os padecessem e suportassem; este tratamento lhes proporciona a oportunidade de se esfor- çar e obter sucesso". A MODIFICAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES: UM PROGRAMA DE CINCO PONTOS Primeiro Ponto: A pessoa deverá identificar seus hábitos ali- mentares. Não poderá modificar esses hábitos se não souber quais são eles. Deverá manter um diário, durante uma semana, que abrangerá o seguinte: quem, que, quando, por que e onde, no tocante à ingestão de alimentos. O diário será feito da se- guinte maneira: em seu caderno de apontamentos do Treina- mento da Auto-Afirmação a pessoa reservará uma página para cada dia da semana c. nessas páginas, traçará colunas com estes cabeçalhos: Horas em que se alimentou Que quantidade ingeriu Alimentos que ingeriu Onde o fez Com quem comeu ou se o fez desacompanhado Como se sentiu quando co- meu. Se um indivíduo mantiver esse registro, será muito cons- ciente do que realmente comeu, bem como dos estímulos am- bientais e psicológicos associados à sua ingestão de alimentos. Uma dona-de-casa, de trinta anos de idade, informou-me que após duas semanas desse auto-registro, percebeu pela primeira vez que a cólera lhe estimulava a vontade de comer. Depois que ficou sabendo disso, sempre que se sentia irritada saía da cozinha e escrevia num pedaço de papel como estava se sen- tindo. Isso lhe diminuía a irritação e frustrava o ato de comer. Outra mulher tinha uma irmã infeliz e deprimida, que sempre lhe telefonava à hora do almoço para repetir-lhe suas preocupações. Essa mulher, depois de haver percebido o que estava ocorrendo, pediu à irmã que lhe desse aquele telefonema diário depois do jantar. Segundo Ponto: O indivíduo deverá controlar seus estímulos. As pessoas que têm peso normal comem quando sentem fome e não apenas porque algum alimento esteja diante delas. Graças a várias experiências de laboratório, é sabido que as pessoas que têm excesso de peso comem sem parar: na mesa de trabalho, nos bares, nas ruas, diante de um aparelho de TV, no quarto de dormir antes de ferrar no sono, e assim por diante. Como o ato de comer ocorre em muitas e diferentes con- dições, inúmeros e variados estímulos tornam-se associados a esse ato. Tais estímulos serão discriminativos (estímulos que constituem um sinal de conseqüências) e significam o seguinte: "Vá em frente. Coma!" O aparelho de TV poderá proporcionar o sinal para isso, o mesmo podendo acontecer com o fato de a pessoa sentar-se à sua mesa de trabalho, ler, andar de auto- móvel ou simplesmente encontrar-se em seu quarto de dormir. Resistir a todos esses apelos exigiria uma força de vontade sobre-humana. Será muito fácil enfraquecer os sinais emitidos por esses estímulos. O primeiro passo nesse sentido consiste em reduzir o número de estímulos que a pessoa associa ao ato de comer. Isso não lhe exigirá que deixe de comer, mas a levará a controlar onde e quando come. (1) Em sua própria casa, a pessoa poderá comer tudo quanto quisere a qualquer hora, mas deverá fazê-lo sempre no mesmo lugar. Se escolher a sala de jantar para isso, jamais irá comer na sala de estar, no quarto de dormir ou diante da pia da cozinha. Quando estiver comendo, não poderá executar qualquer outro ato. Não poderá ler, costurar sua colcha de retalhos, ver televisão. Se estiver vendo um programa interessante e sentir uma vontade irresistível de comer um biscoito de chocolate, desligará a televisão,· irá apanhar o biscoito e o comerá na sala de jantar. Quando tiver acabado de fazer isso, poderá tornar a ligara televisão. CASO Quando Jane Jones veio me procurar, confessou-me o seguinte: "Eu sou viciada em comer chocolate." Solteira, com quase trinta anos de idade, Jane Jones achava que seu excesso de peso - dez quilos - prejudicava seu relacionamento com os homens. 228 Declarou-me: "Eu me acho. gorda e insegura. Não consigo ser eu mesma, por isso afasto os homens." E assim me falou com tristeza no olhar. Jane comia normalmente nas horas das re- feições e só de vez em quando tomava um coquetel. Mas sua paixão pelo chocolate fazia com que aqueles 10 quilos perma- necessem. Saía do escritório todas as tardes, às três horas, ia até uma banca de jornais e comprava de seis a oito barras de chocolate. Antes de terminar o trabalho, dava conta de todas elas. Às vezes fazia uma segunda incursão à banca de jornais, comprava mais chocolate, colocando-o na bolsa para comê-lo no ônibus. Quando eu lhe sugeri uma ligeira redução inicial da quan- tidade de chocolate que comia, ela insistiu, dizendo o seguinte: "Não consigo fazer isso. Tenho que comer todo esse cho- colate." Era óbvio que inúmeros estímulos davam a Jane este sinal: "Coma uma barra de chocolate" Minha meta consistiu em re- duzir- tais estímulos. Estabeleci um programa para Jane. Ela poderia comer quantas barras de chocolate quisesse, mas apenas sob três condições: (1) 'Compraria uma única barra de cada vez; (2) só poderia comê-la num lugar apropriado para se comer: (3) cada vez que comesse uma barra de chocolate. deveria tomar nota disso. A firma onde Jane trabalhava tinha uma cantina para o pessoal e nela havia uma máquina de vender balas e chocolate. Sempre que Jane sentisse forte desejo de comer uma barra de chocolate, teria de ir até a cantina, que estava sempre api- nhada (não ir à banca de jornal), comprar uma única barra de chocolate, sentar-se a uma mesa, fazer uma anotação em sua ficha de registro e comer o chocolate. Se ficasse com muita vontade de comer outra barra de chocolate, teria de voltar à cantina e repetir todo esse processo. Se ficasse muito desejosa de comer chocolate quando estivesse dentro de um ônibus, teria de saltar do ônibus, descobrir uma cantina, entrar nela, comprar sua barra de chocolate, sentar-se a uma mesa, fazer a tal ano- tação em sua ficha e devorar o chocolate. Como Jane realmente queria acabar aquele seu hábito, . cooperou plenamente comigo. O fato de saber que poderia comer um número ilimitado de barras de chocolate lhe afastou o temor de sofrer uma privação. Foram necessários quase dois meses para que Jane se tornasse consciente de que estava co- mendo um número muito menor de barras de chocolate. Em seguida, percebeu que quando se encontrava no escritório ou 229 dentro de um ônibus raramente recebia aquele sinal de "Coma!" Começou. a ir com muito menos freqüência à cantina. Redu- zindo os estímulos, estabelecemos o controle dos mesmos sobre aquele "vício" de Jane. Passaram-se meses até desaparecer essa dependência de minha paciente. Se reocorresse, Jane saberia como lidar com a situação. Se não tivesse sido capaz de man- ter-se fiel ao seu piano de controle dos estímulos, eu teria sido obrigado a empregar uma abordagem da situação por etapas, eliminando apenas um estímulo de cada vez, o que teria exigido muito mais tempo. (3) Deverá ser evitada a compra de alimentos de elevado teor calórico. As prateleiras dos supermercados estão abarro- tadas de muitos artigos proibidos e apetecíveis, que possuem grande índice de carboidratos e açúcar. A pessoa deverá fazer suas compras de acordo com uma lista que houver feito, e levar ao supermercado apenas o dinheiro suficiente para adqui- rir os alimentos de que realmente necessita. Dessa maneira, evitará comprar coisas especiais como café, balas e massas. Se um determinado bolo de chocolate constituir a "desgraça" dessa pessoa, jamais deverá comprá-la. Seu marido e seus filhos es- tarão dispostos a passar sem ele por causa do regime da dona da casa. Ela lhes dará outra coisa qualquer que não a seduza tanto: (4) A pessoa deverá fazer 'Suas compras de alimentos após haver tomado uma refeição completa. O Dr. Richard E. Stuart, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e autor do livro Slim Chance in a Fat World, estudou o comportamento de mulheres obesas e verificou que aquelas que faziam compras depois do jantar adquiriam 20% menos artigos do que as que faziam compras antes dessa refeição. (5) Usar pratos menores. A pessoa deverá fazer com que sua porção de alimentos pareça maior do que realmente é. A mesma quantidade de um alimento parece ser maior num prato de salada do que num prato raso. O prato principal de uma refeição deve ser comido num prato de salada. A expe- riência comprovou que os indivíduos que têm excesso de peso declaram encontrar mais satisfação com esse prato menor, ainda que eles próprios tenham medido quantidades iguais de ali- mentos e as colocado nos dois pratos, o grande e o pequeno. Quem gosta muito de biscoitos não deverá levar a lata de biscoitos para a mesa. Leve dois ou três biscoitos, ponha-os num prato e coma-os à mesa. Três biscoitos dentro de um prato dão a impressão de ser mais do que os mesmos três que 230 foram retirados de uma lata. A pessoa irá sentir-se mais satis- feita com um menor número de biscoitos se os comer tirando-os de um prato e não de uma lata. (6) Não deverão ser servidos condimentos ou molhos de elevado teor calórico às refeições. O princípio em causa é o seguinte: esse estímulo é mantido ausente da situação. Se os filhos da dona da casa, por exemplo, quiserem xarope de bordo em suas panquecas, eles próprios deverão ir buscá-lo. (7) A pessoa deverá tornar os alimentos apetitosos, tendo a melhor aparência possível. Um rabanete com suas folhas crespas fica mais bonito e pode ser tentador. Deverá ser usado um serviço de mesa especial, uma louça decorativa e sobre eles colocar os pratos e os cristais mais belos. Terceiro. Ponto: Modificar o comportamento em matéria do alimentação. A pessoa há de querer desenvolver técnicas espe- ciais que a ajudem a adquirir o controle sobre o ato de comer. (1) Redução do ritmo da ingestão dos alimentos. (a) Levar à boca, de cada vez, apenas uma pequena porção de alimento e descansar o garfo enquanto o saborear. (b) Quando estiver comendo, contar cada vez que levar uma porção de alimento à boca. Depois da terceira garfada, colocar a faca e o garfo sobre a mesa enquanto mastigar e engolir o alimento que tiver na boca. (c) A certa altura, durante a refeição, parar completa- mente de comer, fazendo uma pausa de um ou dois minutos. Ou então, descansar o talher durante uns cinco segundos, mar- cados a relógio, isso várias vezes durante a refeição. Um pa- ciente meu reduziu o seu ritmo de comer usando pauzinhos desses que os chineses usam. (d) Se a pessoa verificar que ainda está comendo mais depressa do que as outras, poderá ser a última a sentar-se à mesa e a primeira a levantar-se dela. Terá de procurar man- ter-se afastada dos alimentos. (2) Deverá sempre ser deixado no prato um pouco de alimentos, ainda que seja apenas uma garfada. Essa técnica começa a romper com o mau hábito que a pessoa possa ter, o de comer simplesmente porque