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Resenha Crítica: 1984, de George Orwell

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RESENHA CRÍTICA: 1984, DE GEORGE ORWELL
1984 é um romance distópico futurista, publicado na década de 1940, de autoria do escritor inglês George Orwell, ambientado no que seria uma versão futura da Grã-Bretanha. A "Pista No. Um", como se chama o país, integra o superestado da Oceania, e o regime político vigente é o que se conheceria como Socialismo Inglês, ou ingsoc na novilíngua - idioma fictício imposto pelo governo hiperautoritário vigente. A sociedade política é dividida em classes: o Partido Interno, o Partido Externo e as "proles". O Partido Interno é dominante e oligárquico, corresponde a uma parcela muito pequena na população, e persegue o individualismo e a liberdade de pensamento, o a qual chega a ser instituído como crime (crimideia, na novilíngua).
O governo da Oceania, onde habita o protagonista, é conduzido pelo ditador referido como "O Grande Irmão", o qual desempenha o papel de invadir a privacidade individual, inclusive o ambiente privado do domicílio da população, através do sistema de comunicação da "teletela". A teletela é um dispositivo bidimensional, através do qual é possível ver e ser visto. Servia para propagar as mensagens oficiais e monitorar o cidadão, e até mesmo quando não estava passando mensagens, permanecia com a figura d'O Grande Irmão. Essa situação de observância constante é frisada o tempo todo através de propagandas, como "O Grande Irmão está te observando", "O Grande Irmão zela por ti".
A figura d'O Grande Irmão é respaldada por um intenso culto de personalidade, e as supostas virtudes do governante são exaltadas como divulgação de sua figura de modo a gerar na população aquele ideal de que seu governo é o melhor governo para todos. O partido constantemente passa informações à população sobre guerra e espionagem, incutindo ódio e medo do imaginário das pessoas, influenciando-as, além da ideia positiva de que o regime é benéfico, a um estado de não-ideia, não-crítica, a ausência de uma consciência que se oponha ao Estado.
Os trabalhadores são selecionados para funções pré-estabelecidas, sem discordar e sem escolher. As pessoas que não concordavam ou tinham ideias divergentes do Estado eram forçadas a fazer lobotomia, lavagem cerebral, até pensarem da forma que O Grande Irmão estabelecia.
O protagonista da história é Winston Smith, que trabalha para o Partido Externo. Suas funções no contexto do regime governamental repressivo, que controla seus passos, suas escolhas, sua tomada de decisão e livre arbítrio, e até mesmo seus pensamentos, é atuar no Ministério da Verdade, desempenhando uma função que é justamente o oposto disso: lapidar a verdade através do revisionismo histórico. Tudo o que atinge a mídia é controlado pelo governo, através da ocultação de fatos. Smith reescreve artigos do passado, de modo que não exista um histórico de críticas ao partido. Aqueles que não são editados são destruídos, não havendo relatos contrários ao modo como O Grande Irmão governa. Assim, as pessoas nem chegavam a achar que outro regime diferente do que viviam poderia ser melhor, e consequentemente, não existia o ímpeto de mudar a conjuntura, forçando as pessoas à inércia do status quo. "Guerra é paz", por exemplo, era um pensamento estratégico do governo para que as pessoas se condicionassem a permanecer unidas por uma causa maior. O inimigo não é aquele que está em seu continente, mas sim aquele que ataca o continente, e dada essa ameaça constante, as pessoas devem se permanecer unidas para lutar contra ela.
Smith era um bom trabalhador, mas odiava o regime e ansiava por uma rebelião. Os membros do Partido Externo, ao contrário dos do Interno, eram condicionados a pensar que sua existência miserável era favorável ao indivíduo, enquanto os membros do grupo dominante não enfrentavam os mesmos problemas de condições de vida. Inconformado, Smith começa uma revolta.
 O totalitarismo como se conhecia na época foi bem demonstrado por Orwell, que explicitou em sua obra dos perigos do excesso de poder nas mãos de uma figura pública. Por exemplo, no início do livro há a descrição de uma cena em que crianças brincam de guerra entre si, dando a entender que a vigilância e a manipulação do governo incutiram nelas o pensamento de que assim deveriam se comportar no futuro, estando condicionadas a se policiar e vigiar a própria família. A mensagem é passada pelas crianças em ações de vigilância por meio das teletelas, o meio de comunicação do partido, e a mensagem ali perpetuada era imediatamente aceita e espalhada entre os receptores inicias, que se tornam propagadores daquela.
Evidencia-se o papel da mídia, quando esta se alinha ao governo. Os meios de comunicação mostram a informação somente de acordo com o que interessa ao sistema que vejamos e façamos. Até mesmo a novilíngua, idioma em construção, faz parte dessa repressão, pois dificulta o discurso contrário ao Estado. Isso faz com que a população se torne alienada, sem formar pensamento crítico construtivo, o que contribui para a perpetuação do sistema. Uma população sem pensamento crítico é conformada, e segue controlada por um superior que emite essas ideias, ocasionando um ciclo vicioso.
O obra de Orwell foi bastante popularizada e até hoje é citada em contextos de regimes totalitários contemporâneos. É possível identificar alguns aspectos até mesmo no contexto nacional, em que a mídia possui um papel significativo na formação da opinião pública, em especial a das camadas menos favorecidas da população. Também contamos com exemplos históricos de líderes carismáticos que voltavam-se para o uso de suas figuras como sendo o melhor para a nação como um todo, além de usar expressões familiares como O Grande Irmão faz. Em inglês, Big Brother significa irmão mais velho, que supostamente seria uma figura quase que paterna para alguns.
No entanto, é comum que se faça a comparação com "O Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley (em inglês, Brave New World). Escrito em 1931, quase vinte anos antes de "1984", a obra de Huxley aborda tecnologia reprodutiva e condicionamento humano, que, combinados, reformam a sociedade e a moldam de acordo com o que se julgam ser as necessidades de uma sociedade civilizada ultra-estruturada. Um pequeno comparativo é oportuno nesse momento, pois frequentemente os dois romances são contrapostos para analisar a sociedade atual.
Na medida em que Orwell preconizava que livros fossem banidos através de um comitê de censura, para Huxley isso não seria uma preocupação, já que não haveria razão para que um livro fosse banido - as pessoas estariam condicionadas a não querer ler um livro em primeiro lugar. As notícias eram alteradas em Orwell, enquanto em Huxley isso nem era necessário. As pessoas, condicionadas a aceitar a própria condição e alienadas conforme suas necessidades individuais, sequer chegariam a desejar conhecer outras realidades, mesmo numa sociedade também estruturada em castas.
Orwell receava que os indivíduos fossem privados de informação, enquanto Huxley demonstrava que o excesso de informação levava o indivíduo a se tornar passivo e egoístico, voltado apenas a seus próprios interesses. Para Orwell, a verdade é escondida do cidadão, "tudo está bem", funcionando perfeitamente. A memória de regimes anteriores é apaga, o pensamento crítico é desencorajado. Para Huxley, a verdade era soterrada por futilidades que a tornavam irrelevante. A existência humana era voltada para os prazeres: o sexo era estimulado e até mesmo o uso de drogas para que as pessoas fossem sempre felizes e realizadas com sua própria condição.
Orwell preconizou a cultura controlada: só chega ao cidadão a cultura que o Estado assim deseja, e tudo que o cidadão recebe passa pelo crivo do Estado antes. Já Huxley falava de uma cultura fútil, voltada somente para os prazeres humanos. Em 1984, as pessoas eram controladas através da dor (o medo da ameaça externa, a necessidade de se permanecer em guerra para proteger o bem maior), e em Brave New World são controladas pelo prazer (o prazer aliena e torna o cidadão um perfeitoseguidor, sem questionamentos pelo simples fato de que estes não são de seu interesse).
O que podemos extrair disso é que o sistema político de 1984 é uma versão exagerada do anticapitalismo (mesmo que o próprio autor já tenha feito declarações no sentido de que não se trata de uma crítica ao socialismo ou aos regimes comunistas implantados na época), demonstrando um regime opressivo como sendo o necessário para o bem comum, assim submetendo a população a ele. Já em Brave New World não existe essa ideia, pois demonstra-se que tortura e repressão não são necessárias para submeter uma população. O que Huxley propõe é que as pessoas amem a própria servidão e não tentem lutar contra ela, na medida em que é tudo o que conhecem. As regras do totalitarismo de Huxley se baseiam em dar ao indivíduo exatamente o que eles querem, ou pensam que querem, direcionando-os a um estado de perfeita complacência.
Ambos os regimes podem se relacionar com a sociedade atual, pois o acesso a informação com a internet, a evolução da tecnologia e a globalização revelam essa preocupação em Brave New World, e que o excesso de informação alienaria as pessoas e as tornaria voltadas para os próprios prazeres. Por outro lado, a mídia tradicional costuma ser conivente com o governo, muitas vezes sendo um veículo para divulgação dos discursos deste. A mídia, ainda que na era da informação, ainda goza de credibilidade para construir e destruir figuras, inclusive figuras políticas, perante a população. O que se observa, na realidade, é uma fusão dos dois sistemas, de Orwell e Huxley: a população se aliena conforme seus próprios interesses através das tecnologias da informação, mas ainda confia na mídia tradicional para assuntos políticos e de governo.
REFERÊNCIAS
ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. São Paulo: Globo de Bolso, 2014.

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