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O agendamento pós internet 
Os sites de redes sociais a capacidade de inserir temas na agenda pública?
Jessé Souza de Mattos Graduando do Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter, Porto Alegre/ RS, Email:jesse.souza170@gmail.com
Resumo
Partindo do pressuposto da teoria do agendamento de que os meios de comunicação têm como função mediar a relação entre os cidadãos e o sistema político através da formação de uma agenda pública, esse texto pretende apresentar que o formato de agendamento nos dias atuais é bem diferente de quando tudo começou a décadas atrás, através de uma visão teórica e uma análise crítica do efeito da agenda após a chegada da internet compilada das redes socias.
Palavra-chave: Agenda setting, redes sociais, mídia tradicional.
1 Contextualização 
É inquestionável a influência dos meios de comunicação no cotidiano das pessoas, vendo que temos uma abundância de informações que são lançadas por estes meios. “O objeto de interesse da massa é aquele em condições de atrair a atenção de pessoas para além de suas culturas locais e de suas esferas de vida...” (Blumer,1978, p.178). Os temas das conversas do nosso dia a dia são sugeridos pelos jornais, televisão, rádio e internet, facilitando aos receptores a ordem dos assuntos que devem ser pensados e falados. A realidade social passa a ser representada por um cenário montado a partir dos meios de comunicação de massa.
Segundo Wolf (2005, p. 143) A mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos quais se pode ter uma opinião e discutir. A asserção fundamental da agenda-setting é que a compreensão das pessoas em relação a grande parte da realidade social é modificada pelos meios de comunicação de massa.
A formula que estuda sobre o que e como os assuntos devem ser pensados é a hipótese da agenda setting. Originalizada por americanos, o primeiro estudo foi produzido pelos pesquisadores Maxwell McCombs e Donald Shaw em 1972, mas sua essência veio no ano de 1922 por Walter Lippmann na obra clássica Public Opinion. Muitas aplicações, problematizações e atualizações desse marco teórico foram feitos por diversos autores, mas a ideia inicial e o arcabouço teórico utilizado por esta teoria se basearam nas tecnologias de comunicação disponíveis à época, das quais a internet não fazia parte. 
 “Com avanço da internet conseguimos perceber que os meios não apenas ajudam como atrapalham o sistema democrático, pois não beneficiam só os cidadãos, mas colocam os interesses dos grupos que os controlam na frente[...]” (Ramonet,2013, p.53). Esse novo tempo digital resultou numa mudança nos jornalistas obrigando-os a pensarem cada vez mais fora da caixa para trazerem recursos diferentes dos demais para seus meios de comunicação e com a influência dos grupos crescendo perante aos meios a sociedade expandiu sua visão para o jornalismo digital, mas ainda vendo os meios tradicionais como grandes divulgadores de credibilidade, pois o público considera a notícia mais confiável quando passa por um meio de massa.
2 Discussão teórica
Consideramos, portanto, que seja necessário repensar essa teoria de agenda setting a partir do novo contexto comunicacional existente hoje. A internet, e especificamente os sites de redes sociais, traz novas possibilidades de comunicação que devem ser levadas em conta na formulação de uma teoria da agenda para os dias atuais. A publicação de conteúdo por cidadãos não especializados para tanto e a facilidade na formação de redes de disseminação de conteúdos são algumas das características desse ambiente que podem influenciar a formação de uma agenda pública.
esse novo contexto, interessa-nos observar qual o papel que o cidadão passa a ter nesse ambiente. Seriam os cidadãos atores sociais mais influentes em uma teoria da agenda que considere os sites de redes sociais como instâncias de formação da agenda pública. Essa questão surge da consideração de que a capacidade dos cidadãos de influenciar o sistema político é um importante parâmetro para a democracia e que a formação da agenda pública é um relevante fator nessa questão. No entanto, é preciso observar com cautela o papel dos sites de redes sociais na formação da agenda considerando diversos aspectos, como a sua importância como fonte de informação política, a quantidade de conteúdo deles que redirecionam para meios de massa e a possibilidade da confrontação de pontos de vista diversos.
A partir de uma leitura atenta aos jornais, é possível perceber que as informações divulgadas nas redes sociais são bastante utilizadas na produção de notícias, assuntos de destaques nas redes como Twitter e Facebook é possível verificar em que medida houve uma transferência de informações desses temas para a agenda midiática, criando assim novos fluxos de agendamento. Quando o jornalista se baseia nas postagens feitas nas redes sociais para desenvolver uma pauta ou produzir uma notícia, o objetivo pode ser estabelecer esse vínculo com a audiência, em busca de satisfazer as expectativas que são geradas em relação aos conteúdos publicados nos jornais e transmitidos nos outros meios.
Um exemplo são os trending topics do Twitter, ao mesmo tempo que agendam a temática no âmbito da rede social, conseguem agendar os meios de comunicação. Quando os jornalistas observam a esfera de acontecimentos das mídias sociais com o objetivo de transformar as mensagens e informações em conteúdo jornalístico, eles utilizam uma série de critérios que justificam as escolhas realizadas ao longo do processo. Um desses critérios pode ser o nível de envolvimento dos internautas com algum assunto específico, revelado pelos trending topics. O público on-line é mais acolhedor e sendo assim o engajamento de uma simples notícia acontece frequentemente e por mais que não prenda o leitor ainda assim ele irá dar uma atenção para aquela notícia por ela ter vindo até ele, caso a informação prenda os leitores uma simples publicação pode transformar-se em um conteúdo importante e consequentemente virando um agendamento para meios impressos ou televisivos etc.
No Brasil, a versão on-line do tradicional Jornal do Brasil foi o formato que abriria caminho para os grandes portais noticiosos que existem até hoje. Torna-se cada vez mais frequente encontrarmos os maiores jornais utilizando o Instagram como uma das plataformas essenciais para divulgação de seus conteúdos, com a popularização da internet alguns meios passaram a circular exclusivamente em suas plataformas digitais e encerraram sua versão impressa. Seguindo esse caminho, os portais começaram a produzir conteúdo jornalísticos em larga escala percebendo que era preciso fabricar um produto específico para a internet aproveitando ao máximo as possibilidades de conteúdo e inovações trazidas com os hiperlinks. 
Com a efervescência das redes sociais na internet, assistimos ao aumento da quantidade de notícias que são construídas e pautadas sob os olhares dos jornalistas para perfis de personalidades e veículos de comunicação. É comum encontrarmos redações em que há jornalistas assumindo papel de gatewatcher, monitorando as redes sociais e estão atentos aos elementos noticiosos que possam ser aproveitados e mobilizados pela imposição das manifestações dentro da própria rede. O fluxo de publicações e replicações de determinados conteúdos movimentam a pauta jornalística e abrem os portões da redação. Os mecanismos de aproximação e contato rápido com o público fazem das redes sociais na internet um grande agenciador midiático onde, apesar de ainda haver uma certa resistência pelos meios de comunicação tradicionais, a grande adesão da população aos veículos de comunicação digitais e frequentes questionamentos aos veículos tradicionais tem feito com que a perspectiva da Teoria do Agendamento se torne um tanto mais democrática, levando em consideração e participação do público as redes sociais na internet, a exemplo do contato gerado pelas fan pages no Facebook e os trending topics no Twitter, monitorador dos assuntos mais discutidos no momento.
As novas tecnologiasde informação e comunicação, sobretudo aquelas advindas do ambiente online, inserem no contexto comunicacional uma facilidade na criação de veículos de comunicação próprios, como blogs, perfis no Twitter, perfis no Instagram e a facilidade de acesso a essas fontes de informação, sem limites temporais ou espaciais tão rígidos – cria um novo tipo de relação comunicacional entre personalidades e instituições e os cidadãos. Agora, torna-se possível falar diretamente a um coletivo, prescindindo dos meios de comunicação de massa, mas agenda do público on-line tem uma relação significantemente positiva com a da mídia, cada tema das agendas apresenta alta correlação com a agenda da mídia. A agenda pública dos usuários da mídia tradicional é diferente da agenda pública dos usuários da internet, na digital configuram suas agendas de forma mais individualizada, buscando ativamente informações on-line, as mídias digitais possibilitam uma comunicação interativa (um para o outro) e aberta, potencialmente de todos para todos. As especificidades do meio digital sua possibilidade de trabalhar com infinitos temas segmentados formam a Cauda Longa do Agendamento. Assim, os líderes de Opinião contemporâneos, mesmo sem acesso aos meios de comunicação de massa, podem ver, na internet, a sua capacidade de agendar temas, junto aos usuários, ampliar-se exponencialmente.
Os sites de redes sociais fazem sim o papel de mediadores entre as esferas civil e política e são importantes fontes de informação política para os cidadãos. O fato de conseguir se tornar um campo de influência na agenda dos media já pode trazer significativas contribuições à formação da agenda pública e se considerarmos que uma importante característica da democracia é a capacidade do cidadão de influenciar o campo político e suas decisões, podemos ver ganhos nesse processo de inserção dos sites de redes sociais na formação da agenda pública.
Portanto, os sites de redes sociais, por serem espaços abertos à participação de qualquer cidadão que tenha acesso às tecnologias adequadas para tal são um importante espaço de manifestação dos problemas e anseios civis. E o fato de considerar que essas redes podem gerar conteúdos e repercussões que influenciam de forma relevante a agenda pública é sem dúvida um ganho democrático. 
3 Considerações finais
As redes sociais podem atuar como fontes produtoras de informação, como filtros de informação, ou ainda como espaços de reverberação dessas informações. Assim a rede social será ponto de partida para uma notícia quando uma discussão surgida na rede acaba recebendo atenção da mídia. Isso ocorre, por exemplo, quando acontecimentos que tomam lugar em sites de redes sociais servem como pauta para os veículos jornalísticos, ainda que não haja intencionalidade por parte dos envolvidos em virar notícia. Nesse sentido, as redes sociais, enquanto circuladoras de informações, são capazes de gerar mobilizações e conversações que podem ser de interesse jornalístico na medida em que essas discussões refletem anseios dos próprios grupos sociais. O próprio Twitter pode por vezes servir como fonte de notícias, como quando frases ditas por políticos ou celebridades na ferramenta servem de pauta para a produção de notícias em um determinado veículo, mas não são só os famosos que têm seus tweets reproduzidos nas páginas de um jornal. Pode haver situações em que a fala de um cidadão comum na ferramenta Twitter pode ser transformada em fonte para uma notícia. 
O diferencial diz respeito ao fato de que os jornalistas têm à sua disposição, 24 horas por dia, um conjunto de declarações por escrito, feitas espontaneamente ou não, por famosos ou políticos (ou por seus assessores), a partir das quais podem produzir suas matérias.
 Mas mesmo cidadãos comuns podem se utilizar das redes com a finalidade de buscar receber posterior atenção da mídia tradicional, como quando atuam como testemunhas oculares de fatos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando uma manifestação específica iniciada na rede social recebe atenção de jornais de referência. Desse modo, o trabalho do jornalista nesses veículos se aproxima ao papel de um jornalista sentado, na medida em que o profissional não precisa sair da redação para produzir uma notícia. De fato, a mera observação do que é dito por políticos e famosos no Twitter pode bastar para que se obtenha um fluxo contínuo de frases e citações que possam ser transformadas em notícias.
As redes e os meios tradicionais se encadeiam, um vindo a complementar o outro. Mesmo notícias que sejam meras reproduções de algo dito nas redes podem ser úteis para aqueles que não viram o conteúdo circular no jornal, rádio, televisão e nessas ocasiões, o meio digital atuam como filtro das informações.
Referências
Mauro Wolf, Teorias das Comunicações de Massa, 2005.
Ignacio Ramonet, Meios de Comunicação um poder a serviço de interesses privados, 2003.
 Hebert Blumer, Massa Público e Opinião Pública, 1978.
CERVI, E. U.; HEDLER, A. P. Como os jornais brasileiros dão visibilidade a temas públicos: uma análise comparativa sobre os assuntos que ocupam as manchetes de periódicos diários de circulação local, regional e nacional. Revista FAMECOS, v.17, n.1, 2010.
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ZAGO, G. Da circulação à recirculação jornalística: filtro e comentário de notícias por interagentes no Twitter XXI Encontro Anual da Compós. Juiz de Fora, MG: Compós, 2012.

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