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Arte e técnica 
 
Arte e técnica, na Antiguidade, significavam a mesma coisa: um conjunto de regras 
ou modos de agir e operar na realização de uma tarefa. A classificação aristotélica 
das artes foi feita em “artes utilitárias” (técnicas) e “artes liberais” (poesia, 
pintura, música e outras atividades estéticas). O que elas têm em comum é que, 
para ambas, é necessário o domínio do conhecimento (saber) e da habilidade 
prática (fazer). 
 
Na Idade Média, a habilidade do artesão e seu conhecimento de processos e 
materiais eram a garantia da qualidade técnica. Modernamente, a compreensão do 
termo técnica está diretamente associada às técnicas produtivas – o 
comportamento do homem em relação à produção de bens. 
 
O artista e a obra de arte surgiram bem antes, com as manifestações 
expressionistas do homem primitivo e sua relação mágica com a natureza, 
realizada através de habilidade artística para fins rituais. A necessidade de 
confeccionar um fetiche ou um sortilégio leva ao emprego das habilidades de um 
artesão. O feiticeiro era um ser habilidoso que tinha conhecimento mítico e sabia 
fazer (cantar, dançar, esculpir) ou orientar a fabricação de objetos úteis às 
liturgias. 
 
As obras de arte de finalidade ritual adquirem, assim, um valor de culto, possuindo 
uma aura que transcende o mundo imanente, isto é, do ambiente real. A 
representação que expressa a divindade pode ser vista por alguns, em lugares 
reservados e em determinadas ocasiões. Desse modo, se exemplifica o valor de 
culto. 
 
O valor de exposição é atribuição no final da sequência magia – religião – arte. As 
derivações dos objetos sagrados se dão agora em objetos utilitários e artísticos. As 
obras de arte, antes restritas ao ambiente religioso, com suas derivações, passam a 
ser vistas e admiradas em outros locais que não apenas os de culto. As obras de 
arte admiradas nas praças, edifícios públicos e palácios passam a ser vistas por um 
público maior e muito mais presente, através da reprodução. 
 
O senso comum na cultura do espetáculo, em relação ao consumo de arte e 
diversão, tende a expressar-se com termos análogos a essa condição da obra de 
arte com valor de culto: “ícone sagrado”, “templo do rock”, “puro fetiche”, “rolou 
uma energia”. O valor de culto, e, portanto, o caráter aurático da obra de arte, 
que, com a reprodução, cedeu lugar ao valor de exposição. 
 
Walter Benjamim, em seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade 
técnica, escreve: Em suma, o que é aura? É uma figura singular, composta de 
elementos especiais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais 
perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia de 
montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa 
respirar a aura dessas montanhas, desse galho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Através das artes, o mundo era sacralizado e divinizado, ao mesmo tempo que 
transcendia, presentificava os deuses, tornando-os mais próximo dos homens. Essa 
origem religiosa transmitiu a qualidade aurática às obras de arte mesmo quando 
deixaram de fazer parte da religião para se tornarem autônomas. 
 
Escreve Walter Benjamim: 
 
A unicidade da obra de arte é idêntica à sua inserção no contexto da 
tradição. Sem dúvida, essa tradição é algo muito vivo, extraordinariamente 
variável. Uma antiga estátua de Vênus, por exemplo, estava inscrita numa 
certa tradição entre os gregos, que faziam dela um objeto de culto, e em 
outra tradição, na Idade Média, quando os doutores da Igreja viam nela um 
ídolo malfazejo. O que era comum às duas tradições, contudo, era 
unicidade da obra ou, em outras palavras, sua aura (...) 
 
Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e 
agora da obra de arte, sua existência única, no lugar em que ela se 
encontra. É nessa existência única, e somente nela, que se desdobra a 
história da obra. Essa história compreende não apenas as transformações 
que ela sofreu, com a passagem do tempo, em sua estrutura física, como as 
relações de propriedade em que ela ingressou. 
 
 
A perda da aura decorre do desejo de quebrar a distância e a transcendências dos 
objetos artísticos. Essa quebra só foi possível com a reprodução técnica da obra de 
arte, que permite a existência do objeto artístico em série tal como na gravura, na 
fotografia, no disco e no cinema, tornando impossível distinguir original e cópia. 
 
A essência da obra de arte traz em si essa quebra da aura, já que toda obra possui 
dois valores: o de culto e o de exposição. O valor de exposição suscita a 
reprodutibilidade, o que possibilita a democratização da obra de arte. O que 
Benjamim não previu foi que no sistema capitalista essa reprodutibilidade traria 
também a massificação cultural. 
 
À medida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual, aumentam as 
ocasiões para que elas sejam expostas. A arte de maneira geral, possui 
intrinsicamente valor de exposição ou visibilidade, isto é, existe para ser 
contemplada e fruída. 
 
Gêneros de arte como gravura, fotografia, cinema, vídeoarte, as apropriações e 
releituras de objetos da cultura de massa dão novas leituras à obra de arte. Haja 
vista, os ready-made e as obras do estilo pop-art, como as de Andy Warhol e Roy 
Lichenstein, e o uso retrô que o design gráfico tem feito das obras de arte. Explica 
Benjamim: “Com o advento do século XX, as técnicas de reprodução atingiram tal 
 
 
 
 
 
 
 
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nível que, em decorrência, ficaram em condições não apenas de se dedicar a todas 
as obras de arte do passado e de modificar de modo bem profundo os seus meios de 
influência, mas de elas próprias se imporem, como formas originais de arte.” 
 
Se antes as técnicas estavam a serviço do ritual, atualmente, se emanciparam, 
tornaram-se técnicas de reprodução em massa, e a exponibilidade das obras de 
arte cresce em tamanha escala que a supremacia de seu valor de exposição gera 
uma mudança qualitativa profunda: uma verdadeira refuncionalização da arte.

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