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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI TEORIA DA ARTE GUARULHOS - SP Sumário 1 O QUE É ARTE....................................................................................................... 3 1.1 História da Arte ....................................................................................................4 1.2 Arte na Pré-História .............................................................................................6 1.3 Tipos de Artes.................................................................................................... 12 1.3.1 Artes Plásticas.............................................................................................. 12 1.3.2 Artes Cênicas................................................................................................ 14 1.3.3 Artes visuais.................................................................................................. 17 2 ARTE ERUDITA..................................................................................................... 19 2.1 O contexto da popularização da Arte................................................................. 21 3 Estilo Kitsch............................................................................................................ 24 3.1 Alguns teóricos do estilo Kitsch......................................................................... 26 4 A ARTE CONTEMPORÂNEA................................................................................ 28 4.1 A Idade Contemporânea.................................................................................... 30 4.2 Expressões da Arte Contemporânea................................................................. 33 5 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS E CONTEMPORÂNEOS........................................ 36 5.3.1 Arte Conceitual.............................................................................................. 36 5.3.2 Arte Povera................................................................................................... 37 5.3.3 Arte Cinética.................................................................................................. 39 5.3.4 Pop Art.......................................................................................................... 40 5.3.5 Op Art............................................................................................................ 43 5.3.6 Expressionismo Abstrato.............................................................................. 44 5.3.7 Minimalismo.................................................................................................. 46 6 MUSEUS DE ARTE............................................................................................... 50 6.1 Museu, Cultura e Comunicação de Massa........................................................ 53 6.2 Recepção e Inclusão nos Museus de Arte...........................................................57 6.3 Museus importantes no mundo.......................................................................... 66 6.4 Importantes Museus no Brasil............................................................................ 70 7 DESIGN..................................................................................................................74 7.1 Arte, design e técnica: relações etimológicas.................................................... 79 8 A FUNÇÃO DA ARTE............................................................................................ 82 8.1 A Função Social da Arte.................................................................................... 84 8.2 Compreender e Ensinar Arte num viés Socioeducativo......................................86 8.3 Finalidade da Arte na Educação........................................................................89 9 BIBLIOGRAFIA BÁSICA........................................................................................ 94 3 1 O QUE É ARTE A arte é uma das melhores maneiras do ser humano expressar seus sentimentos e emoções. Ela pode estar representada de diversas maneiras, através da pintura plástica, escultura, cinema, teatro, dança, música, arquitetura, dentre outros. A arte é o reflexo da cultura e da história, considerando os valores estéticos da beleza, do equilíbrio e da harmonia. Fonte: imaginie.com.br Desde a pré-história, na pintura rupestre, verificamos a necessidade do homem em representar a realidade sob a sua perspectiva e percepção. A arte evolui com o tempo e em cada época, de acordo com o contexto histórico, observa-se uma tendência a certo estilo. A arte pode ser também definida como algo inerente ao ser humano, feito por artistas a partir de um senso estético, com o objetivo de despertar e estimular o interesse da consciência de um ou mais espectadores, além de causar algum efeito. Cada expressão artística possui significado único e diferente. Está interligada à estética pelo fato de ser potencial do homem de imprimir beleza ou se esforçar para materializar (ou imaterializar) algo que o inspira. 4 1.1 História da Arte A história da arte está relacionada à cultura dos mais variados povos existentes. Ela atravessa os tempos, criando e contando o passado e recriando o presente. A arte está presente à nossa volta e com ela compomos a história de uma sociedade. Cada objeto artístico apresenta uma finalidade. Desde a pré-história, o homem sempre criou elementos que o ajudassem a superar as suas necessidades e a vencer desafios. Fonte: institutoibe.com.br Existem objetos do homem que representam os seus sentimentos, algo que a utilidade pública muitas vezes não consegue questionar, somente considera a sua beleza. Eles são conhecidos como obras de arte. Elas fazem parte da cultura do povo e são capazes de ilustrar situações sociais ou não. A arte pode ser definida como fruto da criação do homem e de seus valores junto a sociedade. Dentro dela existem vários procedimentos e técnicas utilizadas para compor uma obra. Ela é uma necessidade que faz o homem se comunicar e refletir sobre as questões sociais e culturais dentro da sociedade. Podemos identificá-las de todas as formas: • Arquitetura; • Música; • Cinema; http://pre-historia.info/ 5 • Teatro; • Dança; • Pintura, • Artesanato, etc. Mas, será preciso estudar a história da arte, se ela está em tudo que existe? Por que ela é importante? Para responder a tais questões, é preciso estar disposto a aprender, a conhecer o mundo. Nela, aprendemos a refletir sobre as principais filosofias e os principais críticos da arte, assim como o estudo dos objetos artísticos e os diferentes contextos sociais. A partir daí você estará apto para criar, criticar e entender os movimentos artísticos que surgem no decorrer dos anos. Saiba que um artista não é só aquele que é criativo, mas aquele que cria objetos capazes de atender as necessidades e divulgar os seus pensamentos, assim como estimular outras pessoas e descobrir novas formas de fazer arte. Nesse site, você descobrirá um pouco sobre o contexto histórico de cada movimento artístico que existiu, assim como a arquitetura, a escultura, a pintura e artes menores. Interaja nesse mundo artístico, navegue pela linha do tempo, conhecendo mais sobre as diversas fases da arte! Descubra as manifestações artísticas que ocorreram ao longo da história. Fonte: historia-da-arte.info 6 1.2 Arte na Pré-História Pré-História é uma época anterior à escrita, iniciada pelo aparecimento dos primeiros hominídeos, entre 1.000.000 até 4000 a.C. Não há nenhum documento escrito revelando algo sobre esse período. Pesquisadores, antropólogos e historiadores, por meio da arqueologia,fizeram estudos para desvendar os povos que viviam nessa época. Nos primórdios da humanidade, a formação da Terra, de acordo com os cientistas, é de cinco bilhões de anos. Já o início da vida na Terra começou a se formar depois de um bilhão de anos. E foi evoluindo. A Pré-História, conhecida também como Idade da Pedra ou Paleolítico Superior, foi o período mais longo da época, é dividido em três períodos: Paleolítico Inferior – até 500.000 a.C. (caça e coleta, instrumentos feitos de pedra, madeira, ossos, controle do fogo e surgimento dos primeiros hominídeos); Paleolítico Superior – aproximadamente 30.000 a.C. (pinturas e esculturas, objetos feito de marfim, ossos, pedra e madeira); Neolítico – por volta do ano 10.000 a.C. (objetos feitos de pedra polida, início da agricultura, artesanato, construção de pedra e a primeira arquitetura), de 5.000 até 3.500 a.C. surge a idade dos metais, o final desse período, quando acontece o desenvolvimento da metalurgia, surgimento de cidades, invenção da roda, da escrita e do arado de bois. As primeiras manifestações artísticas foram encontradas no Paleolítico Superior ou Idade da Pedra Lascada. Idade da Pedra Lascada O naturalismo era a forma dos primeiros artistas da Pré-História registrarem aquilo que viam. 7 Fonte: luigimatte.com.br Muitos dos desenhos se assemelhavam aos desenhos infantis, mas as técnicas reproduzidas por eles não devem ser encaradas dessa forma. Como principal característica da arte, temos o naturalismo. Naquele tempo o artista desenhava aquilo que ele estava vendo, e isso pode ser notado através das pinturas deixadas nas cavernas, ou pinturas rupestres. Os animais, a natureza e tudo que eles podiam captar, eles reproduziam. Uma das explicações sobre isso é que as pinturas eram feitas por caçadores que acreditavam em princípios mágicos: se fizessem a pintura de um animal na parede, poderiam capturá-lo no dia seguinte. Técnicas na Idade da Pedra Lascada Mãos em negativo – feitas com argila no interior das cavernas, começaram a desenhar e pintar animais. O motivo era que através da pintura de animais, feita por caçadores, eles poderiam capturá-lo no momento de sua caça. 8 Fonte: forademim.com.br Interpretação da natureza – suas imagens produzidas nas cavernas revelam traços de força e movimentos para figuras de animais selvagens, como os bisontes e traços mais leves e frágeis, como cavalos. Fonte: veterinandoufpa.wixsite.com Escultura – as mulheres eram as mais reproduzidas nas esculturas. Nelas, encontramos uma mulher com ventre e quadris volumosos, seios grandes e a cabeça se juntava ao corpo. Ex.: • Vênus de Savinhano; • Vênus de Willendorf. http://animais-selvagens.info/ 9 Fonte: colegioweb.com.br Instrumentos – utilizavam para fazer as pinturas óxidos minerais, osso, carvão, sangue de animais e vegetais e também o pó proveniente da trituração de pedras para fazer as mãos em negativo. Fonte: brainly.com.br 10 Idade da Pedra Polida Homem começa uma revolução no último período da Pré-História (Neolítico ou Idade da Pedra Polida), por volta do ano de 10 000 a. C. Nesse período eles criavam armas e instrumentos com pedra polida, fato que deu o nome ao período. Com êxito, é o período em que eles começam a domesticar animais e dão os primeiros passos na agricultura. Além disso, os objetos com cerâmica, a fiação, o artesanato e a arquitetura começam a compor o cotidiano do homem na Pré-História. Os povos passaram a formar famílias e foi feita a divisão do trabalho. Técnicas da Idade da Pedra Polida • Técnica de tecer panos; • Fabricação de cerâmicas; • Arquitetura: construção das primeiras casas; • Técnicas para a produção do fogo; • Trabalho com metais. A partir dessa revolução, os homens se transformaram em camponeses, trocaram o sentido de caça pela livre abstração e racionalização, ou seja, a arte deixou de ser natural e passou a ser mais geométrica e simples. Surgiu, então, a primeira transformação da história da arte. Nessa época, os trabalhos cotidianos eram representados e sentia-se a necessidade de dar movimento às imagens. Vê-se nas imagens, a representação de danças, relacionadas as suas crenças, a criação de figuras leves, rápidos, pequenas e com pouca cor. A partir desses desenhos começou a surgir a escrita pictográfica. Outro fato era a produção de cerâmicas: a beleza era considerada e não apenas a utilidade do objeto. Ex.: Ânfora em terracota, da Dinamarca, e o Vaso escandinavo em terracota, encontradas na Escandinava e na Sardenha. 11 Idade dos Metais Geralmente, as esculturas em metais eram representadas por guerreiros, mulheres cheias de detalhes que mostravam roupas e armas utilizadas no período. Fonte: historia-da-arte.info Os homens que antes moravam em cavernas passaram a construir suas próprias casas. As mais conhecidas são os nuragues, os dolmens. Técnicas da Idade dos Metais • A técnica da cera perdida; • Método da forma de barro. Monumentos em Destaque • Stonehenge na Inglaterra, considerada um dos monumentos mais impressionantes do período, é um mistério; • Templo de Gdantija, em Malta; • Cromeleque do Alamendres, Portugal1. 1 Extraído e adaptado do site: http://historia-da-arte.info/arte-na-pre-historia.html 12 1.3 Tipos de Artes De acordo com o segmento, a arte pode ser classificada de várias maneiras: artes plásticas, artes cênicas, artes visuais, etc. Além disso, existem graduações específicas para que uma pessoa se especialize na área de sua escolha. Veja a definição de algumas: 1.3.1 Artes Plásticas Artes plásticas é a designação dada ao conjunto constituído pela arquitetura, a escultura, as artes gráficas e o artesanato artístico. As artes plásticas são caracterizadas, tal como as restantes artes, tanto global como individualmente, pelo efeito recíproco da forma e do conteúdo. Na evolução dos estilos artísticos se verificam características especiais de desenvolvimento histórico. Cada época, como a românica, a gótica, a barroca ou renascentista, tem estilos característicos regionais (nacionais) e individuais, com evolução própria e ligados a individualidades artísticas isoladas, cuja investigação é do foro da história da arte. Fonte: cultura.culturamix.com 13 O fato de o princípio da harmonia inerente a uma obra de arte nem sempre estar ligado à concepção corrente de beleza determinada pelos ideais clássicos, já se observa na arte das culturas pré-históricas: separação entre superfície e forma, por exemplo, nas imagens rupestres e utensílios da era glaciar. Encontra-se tanto na arte dos povos primitivos, que serve as finalidades do culto mágico, como na arte popular, nas obras de arte das igrejas e cortes ocidentais e na expressão imagística das crianças, sendo a finalidade de todos os ramos da educação artística auxiliar o desenvolvimento do impulso inconsciente da criação. A lógica da progressão do desenvolvimento de formas estilísticas através das fases da juventude, maturidade, idade adulta e avançada, bem como a importância do contexto de relações sociais, políticas e religiosas, são também fatores determinantes de todas as artes e obras artísticas, quer tenham por finalidade servir, educar, criticar ou apenas sugerir ou retratar as relações temporais. A fé cristã, e nomeadamente a vida litúrgica, constituíram até ao início do período barroco as mais importantes forças de fomento da arte ocidental. Contudo, já a partir do Renascimento se verificou uma gradual separação da arte da sua finalidade até aí predominantemente religiosa, sendo fortalecido simultaneamente o interesse por trabalhos puramente estéticos. A consequência extrema deste desenvolvimento foi o surgir, no século XIX, da ideologiada arte pela arte, que, todavia, se concretizou menos nas artes plásticas do que na literatura e na música. As escolas e academias de arte se dedicaram ao ensino das artes plásticas. Os museus, que têm muitas vezes a sua origem em fundações particulares, têm por missão cuidar da herança artística do passado e da conservação de importantes testemunhos da arte contemporânea. Tornam acessíveis ao público, de um modo ordenado, quadros, esculturas, trabalhos gráficos e artesanato artístico, executam os restauros necessários e organizam muitas vezes exposições especiais e itinerantes. Os serviços de manutenção dos monumentos cuidam da conservação de monumentos históricos inamovíveis. Os serviços públicos de conservação da arte fazem também contratos com artistas famosos, transmitem conhecimentos no âmbito da educação de jovens e adultos, editam publicações e efetuam intercâmbios de bolseiros, de resultados de investigações científicas e de coleções com o estrangeiro. 14 As associações locais de arte, que orientadas por fundações particulares e subsídios públicos, se dedicam essencialmente a exposições e conferências, ocupam desde o século XVIII um importante lugar na conservação e fomento da arte. Os críticos de arte informam o público sobre acontecimentos e questão da arte contemporânea sob a forma de crítica valorativa. Não se limitam a se pronunciar sobre as exposições e manifestações similares, mas exercem uma pedagogia artística. A Associação Internacional dos Críticos de Arte é desde 1948 a organização internacional que engloba todas as associações de críticos2. 1.3.2 Artes Cênicas Arte Cênica é uma forma de arte apresentada em um palco ou lugar destinado a espectadores. O palco é compreendido como qualquer local onde acontece uma representação, sendo assim, estas podem acontecer tanto em praças como em ruas. A arte Cênica abrange o estudo e a prática de toda forma de expressão que necessita de uma representação, como o teatro, a música ou a dança. A Arte Cênica ou Teatro divide-se em cinco gêneros: Trágico Fonte: escriturascenicas.com.br 2 Extraído e adaptado do site: https://www.significados.com.br/artes-plasticas/ 15 Dramático Fonte:g1.globo.com Cômico Fonte: esc-es.com.br 16 Musical Fonte: variety.com Dança Fonte: jornalboavista.com.br Segundo autores como Hegel e Ricciotto Canudo (que considerou o cinema como 7ª arte através do Manifesto das Sete Artes e Estética da Sétima Arte, em 1912), teóricos e críticos de arte, há uma lista numerada do que pode ser considerado arte nos dias atuais, principalmente com o advento da tecnologia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ricciotto_Canudo 17 1. Música: é um tipo de arte que se baseia em sons e ritmos de acordo com determinado período de tempo; 2. Dança/Coreografia: a dança está classificada dentro das artes cênicas, e é uma forma de movimento que se realiza com o corpo baseado ou não em uma coreografia (arte de criar roteiros/trilhas de movimentos para realizar uma dança); 3. Pintura: está relacionada a cor e suas variações, bem como a forma com que o artista a utiliza em uma superfície; 4. Escultura: é uma forma de arte em que há a criação de imagens plásticas em relevo utilizando vários tipos de materiais (bronze, mármore, argila, madeira, etc.); 5. Teatro: é um tipo de arte em que um ou mais atores encenam uma determinada história ou situação em local específico (anfiteatros, praças, ruas, etc.); 6. Literatura: é uma arte que utiliza a palavra para criação de histórias ou poesias de acordo com técnicas específicas; 7. Cinema: é uma arte e técnica criada para a reprodução de imagens com movimento em uma tela; 8. Fotografia: se baseia em imagens e técnicas para capturar paisagens e seus diversos momentos; 9. Histórias em Quadrinhos: forma de arte que utiliza a cor, a palavra e imagem para narrar uma história; 10. Jogos de Computador e de Vídeo: constitui na criação de jogos que podem ser reproduzidos por meio de um aparelho eletrônico com imagens, cores e sons que fazem com que o jogador interaja com ele; 11. Arte digital: é a arte produzida por meio de programas de computador relacionados às artes gráficas, que possibilitam criações em 3D e 2D3. 1.3.3 Artes visuais Artes visuais é a designação dada ao conjunto de artes que representam o mundo real ou imaginário e que tem a visão como principal forma de avaliação e apreensão. 3 Extraído e adaptado do site: http://historia-da-arte.info/o-que-e-arte.html 18 Fonte: todamateria.com.br Uma arte visual está relacionada com a beleza estética e com a criatividade do ser humano, capaz de criar manifestações ou obras agradáveis aos olhos. O conceito de arte visual é muito amplo, envolvendo áreas como o teatro, dança, pinturas, colagens, gravuras, cinema, fotografia, escultura, arquitetura, moda, paisagismo, decoração, etc. As novas tecnologias também têm revolucionado o conceito de artes visuais, em áreas como o web design, que tem um grande impacto na sociedade atual. As artes visuais podem ser criadas através de várias ferramentas ou instrumentos, como o papel, madeira, gesso, argila, programas informáticos, máquinas de captação e reprodução de imagens como filmadoras ou máquinas fotográficas4. 4 Extraído e adaptado do site: https://www.significados.com.br/artes-visuais/ 19 2 ARTE ERUDITA A denominada Arte Erudita sempre esteve aliada ao poder e a Instituição que o representa. Durante toda a Idade Média ela foi mediada pela Igreja Católica, servindo de instrumento narrativo do Cristianismo. Já no Renascimento era a nobreza quem ditava a produção artística, e determinava o seu valor estético. Durante a modernidade não foi diferente “as relações de poder que determinam por que algumas obras de arte, entretenimento, ou moda tem mais status do que outros” (SMIERS, 2006, p.27). Fonte: webestudante.com.br Um marco importante na transição da Modernidade para a Pós Modernidade é o fim da Segunda-guerra mundial e o período que se segue denominado Guerra Fria. Nesse momento, a Arte também serviu como ferramenta política de poder representada na figura do Estado. Tanto na literal propaganda da ideologia socialista produzida pela União Soviética quanto na exaltação dos artistas do Expressionismo Abstrato que contribuíam para a imagem libertária e democrática enfatizada na ideologia capitalista nos Estados Unidos. No período em que o mundo estava polarizado entre as ideologias Socialistas e Capitalista é quando a Arte e a Política se confundem. Portanto, surge uma mudança importante no âmbito político e social da Arte representada na produção de alguns artistas que inauguram movimentos de destaque como a Pop Art, a Arte Conceitual, 20 o Grupo Fluxus e etc. Todos esses movimentos emergem com o intuito de contestar essa relação de poder estabelecida na Arte e questionar o seu espaço e seus agentes de validação, tais como o Museu e a Galeria. Ou seja, o Mercado da Arte que determina as regras da produção é colocado em xeque por esses movimentos que desenvolvem uma produção artística não vendável, que não pode ser transformada em mercadoria e independa de um pequeno grupo da elite compradora. Nesse contexto, inauguram-se novas linguagens artísticas como a Arte Postal, a Arte Pública, o Grafite, a Performance e o Happening No Brasil, o cenário é muito parecido, porém há uma peculiaridade ligada ao contexto político das décadas de 60 e 70, na qual o país vive uma ditadura militar. Sendo assim, os artistas que debatem essas questões centralizam a discussão nas relações de poder que o regime militar estabelece na sociedade.É nesse período que o artista Cildo Meireles cria uma ferramenta inédita de contestação e circulação da Arte. Com o seu trabalho “Inserções em Circuitos Ideológicos” ele utiliza as garrafas retornáveis de refrigerante e a cédula de dinheiro como veículo de circulação da sua mensagem. Fonte: itaucultural.org.br 21 Dessa forma o artista questiona o regime ditatorial, mas preserva ao mesmo tempo o anonimato e amplia o acesso do público à Arte, se afastando das regras estabelecidas pelo mercado artístico como iremos mais à frente analisar, após uma contextualização histórica da passagem da Modernidade para a Pós-Modernidade no Brasil e no mundo5. 2.1 O contexto da popularização da Arte Após a Segunda Guerra Mundial ocorre uma grande mudança no cenário econômico e social que, consequentemente, modifica enfaticamente o panorama artístico. Durante as décadas de 50 e 60 percebe-se um relevante crescimento na economia mundial produzido por uma expansão urbano-industrial. Alguns fatores são determinantes para ocasionar essa mudança, como a disposição de capital, a nova divisão internacional do trabalho, os avanços tecnológicos e a disponibilidade crescente de combustível e energia. Todos esses fatores aliados possibilitaram a expansão industrial que tem como principal consequência um aumento significativo do consumo. (MORAES, 1998, p.497). A década de 50 é considerada um marco no âmbito artístico, pois é justamente o momento em que o mercado “descobriu que quase meio século de depressão estava indo embora”. (HOBSBAWN, 1995, p. 493). Esse crescimento econômico e social do pós-guerra ocorre em especial nos Estados Unidos da América, que saíram beneficiados da guerra e surgem como nova potência mundial. Beneficiado, em larga medida, pela emigração de intelectuais e artistas europeus, os EUA aparecem também como centro artístico emergente. O centro cultural e, portanto, também mercantil se transfere, assim, de Paris para Nova Iorque. Como consequência, neste momento, surge em Nova Iorque o primeiro estilo pictórico norte-americano a obter reconhecimento internacional: o Expressionismo Abstrato. 5 Extraído e adaptado do site: https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/artigo_celacc_felicia.pdf 22 Fonte: pt.slideshare.net Apresentando uma nova atitude em relação à arte ao relacionar a pintura com o corpo através do gesto espontâneo e expressar a individualidade de cada artista. No entanto, tais avanços tecnológicos aliados à possibilidade de uma guerra nuclear eminente, produz um fortalecimento no sentimento de mudança dos homens nessas décadas, fazendo com que surjam variados movimentos sociais. Os pós-modernos tendiam a um radical relativismo, e questionavam um mundo que se apoiava na tecnologia e na ideologia de progresso e se afirmava pela ciência (HOBSBAWM, 1995, p.499). Nas Artes, a situação também não era diferente. Esse sentimento de mudança que permeava a população, juntamente com este boom que ocorre no mercado de arte, fez com que surgissem diversos movimentos artísticos que contestavam a postura impositiva e meramente econômica do mercado artístico. O Expressionismo Abstrato, totalmente em voga na época, estava na contramão dessa vertente e propunha uma relação do artista totalmente a par dos acontecimentos do mundo: Apenas dez anos depois de uma guerra mundial devastadora, muitos artistas sentiram que não podiam aceitar o conteúdo essencialmente apolítico do Expressionismo Abstrato, extremamente popular na época. O fato de os artistas pintarem solitariamente em seus ateliês enquanto havia tantos problemas políticos reais em jogo passou a ser visto como algo socialmente irresponsável. Esse estado de espírito impregnado de consciência política estimulou a pratica de manifestações que lembravam os eventos dadaísta porque constituíam um meio de atacar os valores da arte estabelecida. (GOLDBERG, 2006, p.134). 23 A crítica a Arte estabelecida e sem comprometimento social e posicionamento político passa a ser tema de debate, e começam surgir diversos movimentos que carregam essa bandeira. A Pop Art, que se definiu como um movimento consistente desse novo pensamento, exemplifica bem a mudança de atitude que permeou a arte da década de 50, de um pensamento totalmente apolítico para um conceito de arte engajado. Ao utilizar signos e símbolos que permeiam a vida cotidiana e que fazem parte da cultura de massa ela aproxima a Arte do popular, e consequentemente, se afasta da dita “Arte Erudita” e do romantismo artístico do Expressionismo Abstrato. Neste momento, a crítica da Pop Art, e dos movimentos que se seguiram, são estimuladas por um novo ideal americano de consumo, onde os meios de comunicação de massa possuem um papel determinante. Argan ressalta que o intuito da Pop Art consistia na “renuncia às categorias técnicas tradicionais e o emprego de qualquer técnica capaz de “desmistificar” a arte, para inseri-la no circuito de comunicação de massa”. (ARGAN, 1992, p.579). E, é, exatamente, atuando com esses signos estéticos massificados da publicidade que ela critica a sociedade de consumo. Sendo assim, a Pop Art e, os outros movimentos que surgiram concomitantemente a ela, pretendiam aproximar a arte da realidade, e a Arte Erudita da Arte Popular, como observa Danto: O Pop se recusou a permitir a distinção entre requintado e comercial, ou entre artes eruditas e populares. Minimalistas fizeram arte de materiais industriais (...). Realista como George Segal e Claes Oldenberg se emocionaram ao constatar quão extraordinário é o comum: nada feito por um artista poderia conter significados mais profundos que aqueles evocados por roupas do dia a dia, fast food, partes de carros, placas de trânsito. (DANTO In HENDRICKS, 2002, p.28) Essa nova discussão, que sugere a aproximação entre arte e vida, afastando- a da Arte Erudita, e, criando uma consequente alteração no papel do artista e sua função - indiciadas pela Pop Art - foi tratada com ênfase durante as décadas que se seguiram. O Pós-modernismo é marcado por travar uma luta contra o distanciamento entre a arte e a vida, e a inacessibilidade dos trabalhos artísticos ao grande público. Ele diminuiu a distância entre arte erudita e arte popular e tenta eliminar as diferenças entre culturas de massa e “superior.” (PINHO, 2009, p. 127). 24 Durante as décadas de 60 e 70, foram inúmeras as tentativas de desvinculação com esse poder institucionalizado da Arte Erudita: a Arte Conceitual, a Mail Arte, o Happening, a Performance, a Arte Pública, o Grafite. Essas novas linguagens artísticas propõem, de forma efetiva, o rompimento com o mercado de arte hegemônico. Neste contexto, surgem diversos grupos contestadores dessa arte estabelecida, como por exemplo, o grupo Fluxus na Alemanha e o Art&Language na Inglaterra, que possuem como questão central a oposição a qualquer mecanismo de poder estabelecido pelo circuito artístico. Mecanismo estes, denominados por Adorno de gerenciamento. O gerenciamento determina o que é a Cultura de valor e o que não é. Para tanto, não se preocupa com a qualidade do objeto artístico e sim com normas e padrões estéticos previamente estabelecidos, quando não impostos pelo mercado de Arte. (BAUMAN APUD ADORNO, 2009, p.73) Portanto, os movimentos que surgem durante o pós-modernismo têm como intuito, assim como a obra de Cildo Meireles, criar novas ferramentas de desvinculação com o gerenciamento, tornando à arte acessível e totalmente independente da Instituição artística6. 3 ESTILO KITSCH Esta expressão de procedência alemã é empregada por aqueles que desejam se referir a uma apreciação artística inferior ou a objetos notadamente abaixo da qualidade. Ela também se reporta ao hábito de reciclar um mobiliário, seja ele mais antigo ou moderno. A palavra deriva dotermo alemão ‘kitschen’, que tem o sentido de estorvar, e de ‘verkitschen’, realizar um negócio fraudulento, ou seja, substituir a mercadoria adquirida por outro objeto não desejado, o que revela o significado vulgar que o vocábulo ‘Kitsch’ traz em si. Sua utilização inicial se deu no campo da decoração, como uma recusa do utensílio verdadeiro; depois o kitsch acabou se transformando na nova cultura da 6 Extraído e adaptado do site: https://paineira.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/artigo_celacc_felicia.pdf 25 corrupção das formas de expressão convencionais e cristalizadas pelo sistema cultural vigente. Tudo neste estilo lembra a intensidade das emoções que despontam das páginas dos livros produzidos durante o Romantismo, que redunda literariamente no melodrama e nas obras de cunho popular. Não é à toa que o Kitsch surge justamente neste contexto romântico, e se estende posteriormente pelas demais esferas artísticas. As principais características deste estilo são a reprodução em larga escala, como, por exemplo, a dos santinhos distribuídos com a intenção de divulgar preces e novenas, e as réplicas dos quadros famosos; o caráter postiço das obras e uma natureza aleatória que mistura várias expressões ao mesmo tempo. Fonte: decorandotudo.org O kitsch é visto com frequência na arte imagética, na produção literária, na música, no campo do design, nos vários objetos do dia-a-dia, como as famosas lembrancinhas adquiridas nas viagens turísticas e os utensílios devocionais, nos túmulos localizados nas vizinhanças dos centros urbanos, nas faces externas dos templos evangélicos, em casas noturnas, motéis, casas de emergentes sociais, entre outros recintos. Sendo assim, não é um estilo típico de um ou outro setor da sociedade, pois está presente tanto entre os pobres quanto entre os de maior status social. Ele está 26 profundamente relacionado à produção em massa característica do mundo pós- moderno, movida por um consumismo desgovernado, o qual gerou uma arte reles. Theodor Adorno, Hermann Broch e Clement Greenberg foram os teóricos que mais contribuíram para disseminar o conceito do Kitsch, contrapondo-o às obras moderna e de vanguarda. Adorno o relaciona à consciência artificial; Broch o insere no polo oposto da produção inventiva; enquanto isso, Greenberg o compreende como a arte das réplicas, dos sentimentos simulados e da dependência das normas acadêmicas. O estilo Kitsch dilacera todas as linhas que separam o belo do feio, o bom do mau-gosto, e convence o indivíduo não iniciado nos meandros da arte que, ao encontrar esta forma de expressão, ele se deparou com a mais elevada produção cultural. Os elementos que o compõem são sempre teatrais, sensuais, emocionais e excessivos7. 3.1 Alguns teóricos do estilo Kitsch A palavra "kitsch" tem uma origem pouco clara. Segundo o dicionário etimológico de Friedrich Kluge, a palavra surgiu entre pintores alemães em torno de 1870. Talvez estivesse associada ao ato de atravancar, amontoar detritos ou barro nas ruas, kitschen, e ao instrumento com que isso era feito, Kitsche. No dialeto do sul da Alemanha significava também fazer móveis novos a partir de velhos. Também poderia estar ligada à palavra verkitschen, que significa trapacear, vender uma coisa no lugar de outra. Outras palavras alemãs com a mesma terminação "tsch" comumente se referem a coisas vulgares, ingênuas, sentimentais ou infantis. Richard Avenarius relatou outra origem possível, indicando ter aparecido em Munique a partir da palavra inglesa sketch, esboço, aplicado a pinturas baratas de baixa qualidade na intenção de classificá-las como "lixo". Para Gilbert Highet, contudo, a palavra pode derivar do russo kitchit'sya, significando "ser desdenhoso e orgulhoso", e já foi aventado que seja um trocadilho com o termo francês chic, chique. O que importa é saber que desde sua origem kitsch assumiu uma conotação negativa. Alguns críticos, como Abraham Moles, Arthur Koestler e Susan Sontag, entendem que o kitsch é um fenômeno recorrente na história da arte, mas a maior 7 Extraído e adaptado do site: https://www.infoescola.com/artes/estilo-kitsch/ 27 parte dos estudos concorda que se trata de uma manifestação cultural recente, derivando dos avanços na industrialização e na tecnologia em geral, da ascensão da classe média, da crescente urbanização, do afluxo em massa dos camponeses às cidades, da dissolução das culturas tradicionais e dos folclores, da maior educação do proletariado, da conquista de maior tempo para o lazer e do surgimento da chamada cultura de massa. Gillo Dorfles afirmou que os pressupostos da definição atual de kitsch não existiam na arte pré-moderna, que tinha funções e características em tudo distintas da modernidade, e Hermann Broch considerou-o um filho do Romantismo, compartilhando com ele traços como sentimentalismo e amor ao drama e ao exagero, e definindo beleza como uma característica imanente ao objeto, não mais como era antes, um objetivo transcendente que uma obra finita jamais poderia alcançar. Mesmo que algo como o kitsch possa de fato ter existido antes do século XIX, foi a partir deste período que ele passou a assumir um papel de destaque no mundo da cultura, chegando a estar presente hoje em toda parte. Fonte: wikiart.org Fonte: wikiart.org https://www.wikiart.org/pt/artists-by-art-movement/romantismo http://www.wikiart.org/ 28 Fonte: wikiart.org 4 A ARTE CONTEMPORÂNEA Arte contemporânea é uma tendência artística que se construiu a partir do pós- modernismo, apresentando expressões e técnicas artísticas inovadoras, que incentivam a reflexão subjetiva sobre a obra. Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br Também conhecida como Arte Pós-Moderna, a arte contemporânea rompeu com alguns aspectos da Arte Moderna, ajudando a configurar uma nova mentalidade http://www.wikiart.org/ 29 no mundo artístico. No entanto, muitos dos valores defendidos pela Arte Moderna foram mantidos na Contemporânea, como o desejo pelas invenções e experimentações artísticas, por exemplo. Não há um consenso sobre quando a arte contemporânea teria se originado, mas provavelmente foi em meados da segunda parte do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra o sentimento que predominava era o de reconstrução da sociedade. Os artistas, a partir deste princípio e apoiados no avanço da globalização, das novas tecnologias e mídias, passaram a enxergar novos meios de se expressar artisticamente. Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br A arte contemporânea valoriza mais o conceito, a atitude e a ideia da obra do que necessariamente o objeto final. A intenção é refletir de modo subjetivo sobre a peça artística, não apenas contempla-la pela sua natureza estética. Um extenso leque de estilos, perspectivas e técnicas compõem a arte contemporânea, que pode ser manifestada seja através da pintura, como da dança, música, teatro, escultura, literatura, moda, instalações, etc8. 8 Extraído e adaptado do site: https://www.significados.com.br/arte-contemporanea/ 30 Fonte: taislc.gpot.com 4.1 A Idade Contemporânea Idade Contemporânea é uma divisão cronológica da História, compreendendo o período entre o início da Revolução Francesa, com a queda da Bastilha em 14 julho de 1789, até os dias atuais. A Idade Contemporânea representa principalmente o período de consolidação do capitalismo como o modo de produção e sua expansão por todo o globo terrestre entre os séculos XVIII e XXI. Essa é mais uma das divisões cronológicas da História baseadas nos acontecimentos ocorridos em solo europeu. Nesse sentido, podemos até perguntar: Por que a Revolução Francesa é mais importante que a Independência dos EUA, já que muitos traços eram comunsa ambos os acontecimentos? O principal motivo é mesmo o fato de terem sido os historiadores europeus a realizarem a divisão cronológica do que eles consideravam a História da Humanidade. Porém, a Revolução Francesa representou transformações profundas na sociedade europeia da época e teve consequências em outros continentes, como a influência nos processos de independência das colônias da América espanhola, portuguesa e francesa. 31 Fonte: hcamarta11q.blogspot.com Com os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a burguesia francesa e outros setores populares da sociedade conseguiram derrubar o poder político da aristocracia proprietária de terras, que havia consolidado seu poder durante a Idade Média. A conquista do poder político era a coroação de um fortalecimento econômico da burguesia que havia sido iniciado a partir de finais da Idade Média, com novas formas de produção nas cidades e no campo, além da abertura comercial no Mediterrâneo e das novas rotas marítimas no Atlântico e Pacífico. O regime político burguês, baseado na separação dos poderes entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, expandiu-se a partir da França durante a Idade Contemporânea, alcançando quase todos os locais do planeta. A ação de Napoleão Bonaparte foi importante para essa expansão, como foi também para mostrar a força de reação que detinha ainda a aristocracia, que conseguiu deter seu poderio. Mas o desenvolvimento do capitalismo não foi detido pela aristocracia. Os séculos XIX e XX foram o período áureo do capitalismo com os imensos avanços tecnológicos. Imensas cidades foram construídas, a população cresceu exponencialmente, distâncias foram encurtadas, a ponto de o ser humano poder chegar ao espaço sideral e a pisar na lua. Por outro lado, apesar de todas as riquezas e avanços, a Idade Contemporânea foi marcada pela manutenção da miséria de grande parte da população, mesmo com a criação de imensas riquezas. Essa contradição gerou ainda uma série de 32 movimentos de contestação do capitalismo liberal. As principais consequências foram as lutas sociais das classes sociais exploradas, notadamente os trabalhadores assalariados, contra a exploração capitalista. Exemplo marcante de tentativa de superação da exploração foram as revoluções, sendo a mais conhecida a Revolução Russa de 1917. Entretanto, os desenvolvimentos subsequentes da revolução representaram a reprodução da exploração, mesmo que sob o manto ideológico do socialismo. Essa forma de organização social, de propriedade estatal e domínio político e social nas mãos de um Partido Comunista, foi implantada em metade do território mundial. O século XX foi então marcado por essa divisão entre um capitalismo de base privada e uma organização social controlada pelo Estado. Houve ainda outros regimes que marcaram a Idade Contemporânea, principalmente os chamados totalitários, representados pelo fascismo e pelo nazismo. Outra característica nefasta da Idade Contemporânea foram as guerras. Inúmeras delas ocorreram. As maiores e mais mortíferas foram as chamadas guerras mundiais, a Primeira Guerra Mundial, que ocorreu entre 1914 e 1918, e a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, resultando na morte de mais de uma centena de milhões de pessoas. A ciência utilizada para fins militares resultou ainda na criação da mais letal das armas já criadas, a bomba nuclear. Fonte: pt.gde-fon.com 33 Porém, a ciência possibilitou melhorias nas condições de higiene e na saúde da população, proporcionando o aumento da expectativa de vida na maior parte dos locais do planeta. A apresentação sucinta das principais características da Idade Contemporânea mostra os inúmeros aspectos contraditórios de nossa sociedade. 4.2 Expressões da Arte Contemporânea Arte contemporânea é formada através de diferentes estilos, técnicas e movimentos. A “diversidade” é a palavra-chave para descrever as expressões da arte contemporânea. As categorias artísticas não são mais levadas tão a sério. Já não se sabe ao certo como classificar uma obra. Para produzir uma obra de arte, já não é necessário usar apenas pincéis e tintas, na arte contemporânea qualquer material pode ser considerado parte de uma obra, inclusive ações e pensamentos. Um exemplo da diversidade da arte contemporânea é a arte conceitual, que é o predomínio da ideia sobre o objeto artístico finalizado. O pensamento do artista é superior ao resultado final, sendo que este pode até ser dispensável; grande parte dos artistas conceituais tem por objetivo, com esse tipo de procedimento, popularizar a arte, fazer com que ela servisse como veículo de comunicação. Desta maneira a produção do material palpável pode até ser feito por outra pessoa, não necessariamente o artista. O que importa é o pensamento artístico, o conceito, aquilo que é formulado intelectualmente antes de sua materialização. Fonte: educamundo.com.br https://www.nucleodoconhecimento.com.br/comunicacao 34 Outra manifestação são as intervenções urbanas, que surgem para criticar, interagir e analisar ao nosso presente, pondo em discussão valores, crenças e identidades sociais. Surgem como uma alternativa de diálogo direto com a sociedade, capaz de ligar mutuamente a arte com o indivíduo. Esse meio artístico interfere diretamente no cotidiano das pessoas, pois são obras de arte que se misturam a rotina de uma cidade. Assim como diz Maria Angélica Melendi, sobre intervenções urbanas, elas servem para: …abrir na paisagem pequenas trilhas que permitam escoar e dissolver o insuportável peso de um presente cada vez mais opaco e complexo. Cabe observar que, atualmente nas artes visuais, a linguagem da intervenção urbana precipita-se num espaço ampliado de reflexão para o pensamento contemporâneo. Disponível em: (http://www.intervencaourbana.org/) A instalação, outra manifestação contemporânea que permite uma grande possibilidade de suportes; sua realização pode integrar inúmeros recursos, mas sempre com o questionamento do próprio espaço e do tempo, absorvendo e construindo tudo a sua volta, e ao mesmo tempo desconstruindo. A instalação consiste em instalar uma ação em determinado lugar, aguçando o senso crítico e criativo da população, provocando-a para uma análise mais profunda sobre determinada situação. Pode se dizer que a instalação é um espelho do nosso tempo, mexe com os sentidos do público, e faz com que os espectadores experimentem diferentes sensações, sejam elas agradáveis ou incômodas. O espectador participa da obra, e não somente a aprecia, pois, a partir do momento que a obra de arte for colocada no cenário urbano, não está mais exposta aos olhos estáticos, de pessoas voltadas de alguma forma às artes, mas sujeita a tudo o que está ao seu redor, recebendo assim, todo o tipo de interpretação pública e sofrendo inúmeras transformações por segundo. Devido a essa diversidade de manifestações, é difícil definir a arte contemporânea. Para alguns críticos, a característica mais importante da arte contemporânea é sua tentativa de criar pinturas e esculturas voltadas para si mesmas e, assim, distinguir-se das formas de arte anteriores, que transmitiam ideias de instituições políticas ou religiosas poderosas. …os artistas contemporâneos não são mais 35 financiados por essas instituições, têm mais liberdade para atribuir significados pessoais às suas obras. Fonte: democrart.com.br Essa atitude é, em geral, denominada como arte pela arte, um ponto de vista quase sempre interpretado como arte sem ideologia política ou religiosa. Ainda que as instituições governamentais e religiosas não patrocinassem a maioria das artes, muitos artistas contemporâneos procuravam transmitir mensagens políticas ou espirituais. A arte contemporânea, vigente até os dias de hoje, engloba uma pluralidade de movimentose linguagens. Além da diversidade de propostas, as linguagens são diferentes entre si e, por vezes, contraditórias, provocando desta maneira um olhar especial para cada uma delas, e muito mais provocativo com relação a cada ser humano. Do espectador exige-se maior atenção e um olhar que pensa, uma visão que o faça ler a obra. Ao artista cabe o pensar arte, inventar / reinventar arte, criticar arte, e assim produzir uma arte diferencial.9 9 Extraído e adaptado do site: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/arte/arte-contemporanea- arte-e-vida 36 5 MOVIMENTOS ARTÍSTICOS E CONTEMPORÂNEOS Imbuídos dos ideais que alicerçam a arte contemporânea, surgem diversos movimentos ou escolas artísticas vanguardistas. Elas buscaram romper com a Arte Moderna, ligada ao consumo, para dar lugar à arte contemporânea, relacionada com a comunicação: 5.3.1 Arte Conceitual A Arte Conceitual é uma vanguarda artística moderna e contemporânea que surgiu nos anos 60 e 70 na Europa e nos Estados Unidos. Como o próprio nome indica, trata-se de uma expressão artística mais pautada nos conceitos, reflexões e ideias, em detrimento da própria estética (aparência) da arte. Em outras palavras, a arte conceitual é uma “arte-ideia” em detrimento da “arte- visual”, sendo o principal material da arte a "linguagem". Diante disso, os artistas conceituais preocupam-se em criar reflexões visuais para seus espectadores. Esse movimento artístico que critica o formalismo e propõe a autonomia da obra artística, foi capaz de revolucionar muitos aspectos da arte. Fonte: zkm.de/en/event/2013/03/henry-flynt 37 O termo “arte conceitual” foi utilizado pela primeira vez pelo artista, escritor e filósofo estadunidense Henry Flynt, em 1961. Sobre a arte conceitual, afirma o escultor estadunidense Sol LeWitt (1928-2007): “a própria ideia, mesmo se não é tornada visual, é uma obra de arte tanto quanto qualquer produto”. Para muitos estudiosos, Marcel Duchamp (1887-1968) foi um dos precursores da arte conceitual, na década de 50, no momento em que colocou um mictório no museu e o chamou de arte. Ali, a ideia dos “ready mades” (Já feito), considerado uma antiarte, não era o produto artístico, mas sim o conceito de arte que o artista quis demostrar e que levava mais ao processo reflexivo, em detrimento do visual. A grande questão da arte conceitual era definir os limites e fronteiras do fazer artístico, ou seja, ela é baseada na indagação: O que é arte? Principais Características As principais caraterísticas da arte conceitual são: • Crítica ao formalismo e ao mercado da arte • Crítica ao materialismo e ao consumo • Oposição ao hermetismo da arte minimalista • Popularização da arte como veículo de comunicação • Arte mental e reflexiva • Radicalismo e culto a “antiarte” • Ruptura com a arte clássica e formal • Uso de fotografias, textos, vídeos, instalações, performances (teatro, dança).10 5.3.2 Arte Povera A Arte Povera (em inglês, “poor art”) foi um movimento artístico de vanguarda surgido na Itália na década de 60 e que significa literalmente “arte pobre”. 10 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/arte-conceitual/ https://www.todamateria.com.br/marcel-duchamp/ 38 O termo “arte povera” foi cunhado pelo crítico e historiador da arte italiano Germano Celant, em 1967, no catálogo da exposição “Arte povera – ImSpazio”, ocorrida em Veneza. A ideia do movimento povera, que se destacou na pintura, escultura, instalação e performance, era de fato propor uma nova reflexão estética sobre o produto artístico ao “empobrecer a arte” e trazer à tona sua efemeridade através da utilização de materiais simples e naturais. Fonte: wsimag.com As cidades italianas que desenvolveram mais trabalhos da arte povera foram: Turim, Milão, Roma, Gênova, Veneza, Nápoles e Bolonha, embora o efêmero movimento tenha se espalhado por todo continente europeu, terminando na década de 70. Ao lado do Futurismo, a Arte Povera foi um dos mais importantes movimentos artísticos italianos do século XX. Principais características • Crítica a sociedade de consumo, capitalismo e processos industriais; • Crítica a comercialização do objeto artístico; • Oposição ao modernismo, pop arte, racionalismo científico e minimalismo; https://www.todamateria.com.br/futurismo/ 39 • Arte antiformalista que se aproxima de algumas vanguardas europeias, tal qual o surrealismo e dadaísmo; • Utilização de materiais simples e naturais (sucatas, papel, vegetal, terra, metal, comida, sementes, areia, pedra, tecido, etc.); • Criatividade e espontaneidade; • Efemeridade e materialidade da arte; • Valores pobres e marginais; • Contraste do “novo” e do “velho”; • Temáticas da natureza e do cotidiano11. 5.3.3 Arte Cinética A “arte cinética” ou “cinetismo” representa um movimento artístico moderno das artes plásticas, surgido em Paris na década de 50. Como o próprio nome indica, determina uma arte vibrante e dinâmica que possui como principal característica o movimento, em detrimento do caráter estático da pintura e da escultura. Fonte: obeijo.com.br 11 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/arte-povera/ 40 Os artistas dessa corrente artística trabalham especialmente com a arte abstrata (abstracionismo), de forma a gerar no espectador uma ilusão de ótica, expressa por meio de efeitos visuais de uma “obra móvel”. Nesse sentido, vale lembrar que o movimento da "Op Arte" está intimamente relacionada com a proposta da arte cinética. Um dos maiores exemplos da arte cinética está o pintor e escultor estadunidense Alexander Calder (1898-1976), muito conhecido por seus “Móbiles” (desenho em quatro dimensões), um tipo de escultura com peças que se movimentam, seja pela ação dos ventos ou por motores de energia. Ainda que seja Calder o mais lembrado quando se fala de “mobiles”, foi o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) seu criador. Na física, a palavra “cinética” refere-se ao estudo da ação das forças na mudança de movimento dos corpos. Esse termo é também utilizado na química, biologia e filosofia. Principais características • Estímulo do sentido visual por meio de efeitos visuais (movimentos, ilusão de ótica, etc.) • Profundidade e tridimensionalidade • Uso de cores, luz e sombra • Uso de formas simples e repetidas • Oposição a arte figurativa12 5.3.4 Pop Art Pop Art é um movimento artístico que se caracteriza pela utilização de cores vivas e a alteração do formato das coisas. Muitas vezes, as obras são representadas de forma repetida e seguida com cores diferentes. Também chamada de Popular Art, surgiu durante a década de 1950, na Inglaterra, e se difundiu durante os anos de 1960. Atingiu seu auge em Nova York. A Pop Art não deve ser considerada um fenômeno de cultura popular, mas uma 12 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/arte-cinetica/ https://www.todamateria.com.br/op-art/ 41 interpretação feita pelos seus artistas da cultura dita popular e de massas. Este fenômeno artístico baseou-se, em grande medida, na estética da cultura de massas, a mesma criticada pela Escola de Frankfurt. O movimento influenciou grandemente o grafismo e os desenhos relacionados à moda. Obras de Andy Warhol Andy Warhol tornou-se o representante mais conhecido da Pop Art no Mundo. Ficou famoso por retratar ídolos da música popular e do cinema, evidenciando o quanto estas figuras são impessoais e vazias. São exemplos Marilyn Monroe, Michael Jackson e Elvis Presley. Marilyn Monroe, 1967 Michael Jackson, 1984 https://www.todamateria.com.br/cultura-de-massa/ https://www.todamateria.com.br/andy-warhol/ 42 Warhol também representou a impessoalidade do objeto ao reproduzir as garrafasde Coca-Cola e as latas de sopa Campbell. Coca-Cola, 1962 Características Os artistas da Pop Art trabalhavam com cores vivas, inusitadas e massificadas pela publicidade. Eles elegiam as imagens pictóricas e os símbolos de natureza popular. Esses símbolos eram ironizados de modo a constituir uma crítica implícita ao excesso de consumo da sociedade capitalista. Isso porque o capitalismo é incentivado de forma abundante pela dimensão publicitária, cinematográfica, etc. Apesar de diferirem pelo mundo afora, os artistas mantinham as mesmas temáticas, os desenhos simplificados e as cores saturadas. A Pop Art buscava evidenciar a crise da arte do século XX por meio de um retorno à arte figurativa. Fazia um bom contraponto ao expressionismo alemão e ao hermetismo da arte moderna. Ela recusa-se a separação entre arte e vida. Daí a arte pop ser capaz de se conectar ao seu público a partir de signos e símbolos extraídos do imaginário da cultura de massa e da vida cotidiana. https://www.todamateria.com.br/expressionismo/ https://www.todamateria.com.br/arte-moderna/ 43 Este feito foi levado a cabo quando estes artistas utilizaram na arte a linguagem do design comercial. Com isso, diluíram as diferenças que separavam arte erudita da arte popular. No Brasil, a Pop Art surgiu no contexto da ditadura militar e foi usada como instrumento de crítica ao sistema. Os principais nomes da pop art brasileira são: • Romero Britto (1963) • Antônio Dias (1944) • Rubens Gerchman (1942-2008) • Claudio Tozzi (1944)13 5.3.5 Op Art A “Op Art” ou “Optical Art” (Arte Ótica) foi um movimento artístico que atingiu seu auge na década de 60 nos Estados Unidos. Em Nova York, ocorreu a primeira exposição no Museu de Arte Moderna (MOMA) intitulada “The Responsive Eye” (O Olho que Responde), em 1965. Baseado em recursos visuais, sobretudo na ilusão de ótica, esse movimento que expressa a mutabilidade do mundo e suas ilimitadas possibilidades, é fundamentado no mote “menos expressão e mais visualização”. Ele foi considerado uma variação do expressionismo abstrato, sendo seu precursor o artista húngaro Victor Vasarely, na década de 30. 13 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/pop-art/ https://www.todamateria.com.br/romero-britto/ 44 Fonte: ritsumei.ac.jp Principais Características As características do movimento Op Art são: • Tridimensionalidade • Efeitos óticos e visuais • Movimento e contraste de cores • Tons vibrantes (principalmente preto e branco) • Formas geométricas e linhas • Observador participante • Estilo abstrato14 5.3.6 Expressionismo Abstrato O expressionismo abstrato tem origem no período denominado de pós-guerra, (após a segunda guerra mundial), numa época conturbada, de afirmação de valores. 14 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/op-art/ 45 O expressionismo abstrato e a arte “verdadeiramente estadunidense” surge para oferecer um novo enfoque artístico-cultural, sobretudo, nos aspectos contra o sistema formal da pintura. O expressionismo abstrato atingiu influência mundial, e, nesse momento, Nova York passa a ser um dos mais importantes centros de arte do mundo, que até então era a França (Paris). O termo “Expressionismo Abstrato” já tinha sido usado na década de 20 para identificar pinturas do artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944). Mais tarde foi utilizado pelo escritor, filósofo e crítico estadunidense Harold Rosemberg (1906-1978). O termo apareceu em seu artigo “Artistas americanos do Action Painting”, publicado em 1952 no jornal “Art News”. Fonte: casavogue.globo.com Foi assim que muitos artistas dessa corrente inovadora romperam com a arte tradicional de cavalete. Focaram na criação artística nas emoções e expressões humanas, tal qual Jackson Pollock, um dos maiores representantes do expressionismo abstrato norte-americano. Pollock trabalhava com uma técnica que ficou conhecida como “Action Painting” (Pintura de Ação). 46 Ele colocava imensas telas no chão e sem objetivo prévio e com movimentos bruscos do pincel ou outros objetos (talheres, varas, areia, etc.), a tinta era lançada na tela privilegiando assim, a espontaneidade artística. A partir dessa relação corporal do artista com a pintura, essas obras gestualísticas (arte performática) dependiam completamente dos movimentos e atuação do autor. Outro estilo utilizado por alguns artistas dessa corrente, foi chamada de “Color FieldPainting” (Pintura do campo de cor). Ao contrário do “Action Painting”, ele privilegiava a objetividade das cores nas telas, ao utilizar padrões geométricos mais simples. Um dos maiores representantes desse estilo foi o pintor estadunidense, nascido na Letônia, Mark Rothko. Principais Caraterísticas • Influência do existencialismo e da psicanálise • Influência das vanguardas artísticas europeias (surrealismo, cubismo e futurismo) • Rompimento com a pintura tradicional • Liberdade artística, subjetivismo, improvisação e espontaneidade • Subconsciente e pintura automática • Uso de formas geométricas, linhas e cores15 5.3.7 Minimalismo Em termos gerais, os movimentos minimalistas se caracterizam pela austeridade e síntese, inclusive dos meios e usos da abstração. Enquanto aspecto filosófico, o minimalismo irá adequar às necessidades da vida aquilo que é realmente essencial, descartando as futilidades no caminho da realização pessoal. 15 Extraído e adaptado do site: https://www.todamateria.com.br/expressionismo-abstrato/ 47 Fonte: maze.com Por conseguinte, no campo das artes, normalmente está representado de forma abstrata e “crua”, de modo a revelar a origem industrial e a natureza dos materiais que compõem a obra minimalista, a qual, via de regra, interage com o público. Minimalismo nas Artes Plásticas Nas artes plásticas, o minimalismo surgiu em Nova York, ainda na década de 1950, quando um grupo de artistas passou a lançar mão de poucos elementos para fundamentar suas obras, abusando de atributos visuais criados a partir de um pequeno número de cores, privilegiando as formas geométricas simples, puras, simétricas e repetitivas, reduzindo os objetos aos seus aspectos de reprodução em série para que eles sejam mais bem percebidos em seu próprio contexto. Já do ponto de vista do conteúdo das representações, é comum a ausência de emotividade. 48 Fonte: arteref.com Assim, as estruturas minimalistas suportam uma bi ou tridimensionalidade que lhe permite vencer os conceitos tradicionais, principalmente acerca da necessidade do suporte que limitava pintura e a escultura aos seus respectivos campos de ação. Este caráter geométrico é fruto da influência construtivista, a qual buscava uma linguagem universal para expressão artística. Neste campo, os principais destaques são Sol LeWitt (1928-2007), Frank Stella (1936), Donald Judd (1928-1994) e Robert Smithson (1928-1994). Minimalismo no Design Muitas vezes oposto ao design funcionalista, o design minimalista é caracterizado pelo despojamento formal típico da década de 1980, com sua redução formal e uso de cores neutras como uma forma de se opor aos movimentos pós- modernos no design. Destacaram-se aqui Philippe Starck (1949), Shiro Kuramata (1934-1991) e John Pawson (1949). 49 Fonte: hansgrohe.com.br Minimalismo na Música Na Música, o minimalismo se destacou pela composição com poucas notas musicais, as quais possuem o mínimo de variações sonoras para criar um ritmo pulsante e hipnótico, a partir da repetição harmônica de pequenos trechos, como na música eletrônica e psicodélica. Destacam-se na produção musical Philip Glass (1937), Steve Reich (1936) e Arvo Part (1935). Minimalismo na Literatura No campo literário, o minimalismo se caracterizou pela produçãode minicontos(micropontos), pela economia de palavras, evitando os advérbios, pelos cenários pouco explícitos e personagens banais, bem como pela leitura participativa. Destacam-se aqui os nomes de Raymond Carver (1938-1988) e Ernest Hemingway (1899 -1961). 50 Fonte: iteracomunicq.com 6 MUSEUS DE ARTE Quase sempre, o primeiro contato que temos com a arte é na escola, seja visitando um museu, seja frequentando as aulas de arte que fazem parte da grade escolar. Nessas classes, o indivíduo começa a ter as primeiras noções sobre os artistas, as coleções, os espaços culturais e museus. Por isso é tão importante que esse contato inicial com a arte seja estimulado de maneira prazerosa, instrutiva, preocupada com os conceitos que são ensinados, sem nunca esquecer de levar em conta o universo imenso e diverso que temos na área artística. Fonte: oficinadeinverno.com.br 51 Quando o aluno é incentivado a expandir seu modo de ver, de se expressar e de se comunicar através do que está sendo apresentado a ele, tanto nos museus quanto dentro da sala de aula, ele se torna um cidadão capaz de se conhecer e se reconhecer dentro da sociedade de uma forma muito melhor. A arte é uma construção social, por isso, definir um conceito único de arte se torna praticamente impossível. Ela possibilita a percepção individual de cada ser humano e, por ser quase um sinônimo de expressão de sentimentos, cada um percebe a obra artística de acordo com as próprias experiências de vida, criando um diálogo único com o que está sendo visto, ouvido ou sentido. Essa conversa permite que a arte ganhe um significado singular para cada pessoa, e é por isso que estimular desde cedo o contato com o universo artístico é tão importante. Quando olhamos para a cultura de modo mais amplo, como identidade de um povo que se reconhece como integrante de um país, através da arte, da dança, do cinema, da comida, do patrimônio cultural material e imaterial como um todo, e analisamos o Brasil, nos deparamos com um país novo, com uma história muito recente, se comparada a de outros países da Europa, por exemplo. Isso, aliado a outros fatores, pode causar perguntas como: O que podemos considerar uma cultura artística genuinamente brasileira, afinal? A vinda de estrangeiros, ao longo dos anos, em diferentes regiões do país, cada um com a sua própria cultura e modo de vida, pode ter causado certa dificuldade, para alguns de nós, na identificação do que é a cultura brasileira. Várias gerações já nascidas no Brasil, provenientes dessas etnias diversas, ainda se identificam com a origem de seus antepassados, adotando alguns aspectos dessas culturas e se sentindo mais parte delas do que do Brasil. Por sermos um país tão jovem, a nossa educação patrimonial é ainda muito precária, e o estímulo à arte também é tímido e limitado. Na verdade, nem sabemos direito que nosso patrimônio cultural pode ser um bem de natureza material imóvel, como cidades históricas e sítios arqueológicos, por exemplo, ou móveis, como acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Também são considerados patrimônio cultural, mas de natureza imaterial, práticas e domínios da vida social, como ofícios, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas e até mesmo celebrações. 52 Além disso, há aqueles que acham que só o que é novo é bom e interessante, ou seja, tudo o que é de uma época passada é velho, sem uso, chato e ultrapassado. Isso, aliado ao senso comum cultivado por tantos de que museu só é lugar de “coisa velha”, causa um distanciamento e a baixa visitação aos espaços culturais. Fonte: gentequefaz.com Quando o contato com a arte e museus de diferentes tipologias começa desde cedo, o indivíduo pode conhecer mais sabiamente o que lhe agrada e o que ele realmente não gosta, baseado nas próprias experiências e no acesso a informações que ele obteve. Por isso, o trabalho dentro da sala de aula é parte fundamental para a formação do senso crítico dos alunos, e os espaços culturais devem oferecer material informativo de qualidade a fim de que os professores trabalhem durante todo o ano letivo com suas turmas nas escolas, para que o ensino cultural não fique restrito ao que se aprende nas visitas aos museus, por exemplo. O trabalho educacional, voltado para o patrimônio cultural, deve ser a base para o reconhecimento de cada um dentro de uma sociedade, pois leva a uma maior apropriação e valorização da memória coletiva e permite um melhor uso dos equipamentos culturais e das manifestações artísticas. Quando o indivíduo entende, pondera e colabora ativamente para a criação cultural, ele passa a se sentir 53 representado e capaz de se apropriar de suas raízes, o que gera um impacto direto na preservação do patrimônio e um aumento na autoestima de uma comunidade. Deve existir um esforço social maior para inserir educação patrimonial de qualidade e atuante nas escolas, desde cedo. Assim, cresceríamos sabendo por que é importante preservar nosso passado, pensar no nosso presente, entender o nosso futuro, e valorizar nosso território e nossa arte, seja em que parte do Brasil for. Somos um país imenso e diverso, com muitas diferenças e semelhanças entre nossas regiões, e por isso, cada estado, cidade, bairro é único e deveria se mobilizar para entender e cuidar da sua história, para que se sinta valorizado e respeitado. A Federação de Amigos dos Museus do Brasil (Feambra) trabalha estimulando e organizando projetos de capacitação e educação para a sociedade, com o objetivo de incentivar a criação e gestão de Associações de Amigos de Museus. Quanto mais conhecermos nossa história e valorizarmos nossa arte e nosso patrimônio cultural, mais capazes estaremos de preservar nossas memórias e de construir novas16. 6.1 Museu, Cultura e Comunicação de Massa O raciocínio conceitual que aborda os museus como meios de comunicação já não é tão novo. Há, dentre as definições de Museu dadas pela UNESCO, uma que o qualifica como “um meio de comunicação, o único dependente da linguagem não verbal, de objetos e de fenômenos demonstráveis.” Mesmo considerada uma instituição ligada à preservação da Cultura e, mais especificamente, da chamada Alta Cultura ou cultura de elite, o museu se reinscreveu na sociedade da Comunicação como instituição inquestionável. A despeito dos eventuais embates com o mercado, em particular, propostos pelas artes moderna e contemporânea, o museu não é mais uma instituição a ser questionada como permanência orgânica. Pelo contrário, sua forma/estrutura propõe uma nova conjunção de interesses com outras mídias, e também com outros setores da indústria cultural, permitindo que várias poéticas utilizem o museu como espaço de ratificação. O que não significa que a arte contemporânea não suscite novas questões, principalmente em relação a valores 16 Extraído e adaptado do site: http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/o-papel-da-arte-e-dos-museus- na-formacao-da-sociedade/ 54 estabelecidos, tais como: patrimônio, o que pode ser musealizado/colecionado, como expor e conservar entre outras questões. Se formos considerar todos os agentes implicados no processo que reconhecemos como museologia aplicada será preciso, antes, definir o conceito de museologia que orienta o raciocínio com o qual lidamos. De acordo com Waldisa Rússio, Museologia é a ciência que busca estudar e compreender os fenômenos vinculados ao fato museal. E, fato museal caracteriza-se como “a relação profunda entre o Homem, sujeito que conhece, e o objeto, parte da realidade à qual o ser humano também pertence e sobre a qual tem poder de agir, relação esta que se processa em um cenário institucionalizado e ideal: o museu.” (Rússio, 1990, pg.7). Ainda, segundo a teoria museológicabaseada no fato museal, é necessário extrair dentre os vestígios, marcas e testemunhos da presença do ser humano sobre a realidade, aqueles que se destacam no meio da massa de objetos criada constantemente. Tais objetos musealizados se caracterizam por possuírem algum grau de significação percebida nos seus aspectos de Documentalidade, Testemunhalidade e Fidelidade. Dessa maneira, o processo de musealização, através da manutenção da integridade física e da informação (registro), permite a apreensão transformada dos sentidos dos objetos em outros tempos e espaços. Portanto, entendemos a Museologia como um processo comunicacional dinâmico que, ao retirar determinados objetos da vida cotidiana, permite que seu potencial informativo seja otimizado. Além disso, a Museologia vale-se do museu não como ambiente neutro – receptáculo da possibilidade de relação – mas, ao contrário, como condição para sistematizar as formas de apreensão do conhecimento e de recriação das diversas memórias, apresentando sua interpretação sobre os fenômenos da realidade. Nesse sentido, o museu é uma mídia cujos contornos definem um tipo específico de relação: a museológica. As relações entre poder, cultura e tecnologia se acentuam no universo museológico, sobretudo, quando se trata de museus de arte, justamente pelo vínculo que estabelecem com o conhecimento, o acesso a ele e, mais vinculado ao mundo capitalista (de maneira indireta, mas efetiva), ao mercado de arte. Os museus de arte contemporânea parecem ainda mais expostos a essa condição de vulnerabilidade. No ambiente museológico, os objetos, obras e referências artísticas e patrimoniais, acentuam a diferença que Abraham Moles estabelece entre objeto- 55 função e objeto-comunicação semelhante ao que ocorre com o processo de musealização. O autor trabalha com a distinção entre os papéis sociais que o objeto cumpre e afirma que este se tornou um mediador essencial do corpo social, mas determina certas distinções baseadas em categorias sociológicas que percebem: o objeto em si; isolado; em grupos; em massa. Tais categorias estabelecem: “O objeto em si: indivíduo ao qual se refere o sistema de coordenadas, observador que acompanha o objeto em suas transformações e se identifica com ele; objeto isolado: objeto situado em um contexto, em um marco; objeto em grupos: constituem um set ou conjunto inter-relacionado; objetos em massa: formam um conjunto desprovido da propriedade da relação mútua.” (Moles, 1975, pg.24-25). Fonte: triscele.com.br Assim, podemos considerar, a partir da teoria de Moles, que a materialidade do objeto é apenas uma de suas fisionomias possíveis, logo, em se tratando de obras de arte, temos um universo de possibilidades interpretativas. De acordo com o autor, o objeto também se refere a um aspecto de resistência ao indivíduo – aquilo que é pensado em oposição ao ser pensante ou sujeito – e, finalmente, refere-se à idéia de permanência, ligada à de inércia. Entendemos, nesse caso, objetos artísticos tanto aqueles que possuem forma material bem como o registro (como forma de retenção ou interpretação do gesto artístico) de formas expressivas imateriais. Como meio de comunicação, o princípio diferenciador do museu e da exposição museológica em relação a outros veículos, verifica-se na própria constituição da arte 56 enquanto tal e que se distingue, acima de tudo, dos produtos publicitários criados com a finalidade de intermediação – diferente da criação publicitária – entre o produto e o consumidor. De acordo com Deleuze e Guattari, a obra de arte tem por característica uma autonomia muito grande: “a coisa tornou-se, desde o início, independente de seu ‘modelo’, mas ela é independente também de outros personagens eventuais, que são eles próprios coisas-artistas, personagens de pintura respirando este ar de pintura. E ela não é dependente do espectador ou do auditor atuais, que se limitam a experimentá-la, num segundo momento, se têm força suficiente. E o criador, então? Ela é independente do criador, pelo auto posição do criado, que se conserva em si.” (Deleuze & Guattari, 1993, pg.213). A definição acima permite compreender o diapasão no qual atua a museologia: por um lado o museu como meio de comunicação, por outro a arte que, mesmo que estruturada como linguagem, prescinde da tarefa da comunicação. A arte, mesmo quando recebe reverberações do mercado ou ainda, quando estende seus efeitos sobre ele e vice-versa, mantém-se – quando autêntica – independente da lógica do consumo. O objeto museológico e mais especificamente, a obra de arte no museu, ajudam a constituir um discurso em oposição à lógica do consumo baseada nos moldes da ‘aquisição-consumo-descarte’ Cabe ressaltar que, no museu, não se trata do consumo da obra em si – o processo de aquisição por compradores/colecionadores de uma determinada produção – mas da possibilidade de apropriação dos valores expressos pela obra de arte e que não se restringem a um objetivo imediato – mensagem – esperado pela publicidade que gera o consumo. Poderíamos defender que a relação museológica, mesmo inserida no universo da comunicação de massa, pode ser considerada como uma forma autêntica de apropriação de conteúdos simbólicos da arte. Dessa maneira, não consideramos o museu – nem mesmo as exposições museológicas – como um meio de comunicação de massa, em especial porque a experiência museológica não pode ser medida com os mesmos instrumentos utilizados para verificar a efetividade de qualquer media comercial: seja pelo aumento das vendas ou o resultado da veiculação de idéias através de pesquisas de opinião calculadas sobre o princípio da amostragem. O conhecimento do potencial de transformação e de reinvenção dos 57 meios sensíveis nos museus será dificilmente avaliado porque se caracteriza, em primeiro lugar, como uma experiência individual17. 6.2 Recepção e Inclusão nos Museus de Arte Os estudos de comunicação vêm apontando para a possibilidade de compreensão de uma relação mais fluida entre emissor e receptor permitindo-se pensar uma eventual resistência a um conteúdo de contornos fechados, restabelecendo um espaço de conflito. Por isso, o processo de comunicação não se daria de forma tão passiva. De acordo com Mauro Wilton de Sousa “recepção e passividade, caixa vazia, elo final de um processo de captura, são, entre outros, termos indicativos do desequilíbrio da relação emissor-receptor e da limitação de seu uso.” O autor propõe que há um viver social contemporâneo cujas lógicas propositivas são distintas. Dessa forma, são pensadas novas práticas sociais que implicam em relações sociais em permanente mudança, mas que não descartam a necessidade de inclusão a um todo social, mesmo que construído por agentes plurais e diversos. (Sousa, 2001, pg.48-49). Fonte: jatai.go.gov.br 17 Extraído e adaptado do site: http://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/download/51435/55502/ 58 Tal pensamento encontra eco em Gianni Vattimo que afirma que “a intensificação das possibilidades de informação sobre a realidade nos seus mais variados aspectos torna cada vez menos concebível a própria idéia de realidade. (...) Realidade, para nós, é o resultado do cruzamento, da ‘contaminação’ (no sentido latino) das múltiplas imagens, interpretações, reconstruções que, em concorrência entre si ou, seja como for, sem qualquer coordenação central, os media distribuem. (...) na sociedade dos media, em vez de um ideal de emancipação modelado pela autoconsciência completamente definida, (...) abre caminho a um ideal de emancipação que tem antes na sua base a oscilação, a pluralidade, e por fim o desgaste do próprio ‘princípio de realidade’.” (Vattimo, 1992, pg.13). Creio que a problemática que se apresenta para o museu, na atualidade, seja semelhante àquelas indicadas por Sousa
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