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1/6 Éticas da era da linguagem O que se diz como ―virada linguística‖ é decorrência das novas medialidades iniciadas por acontecimentos como o surgimento da psicanálise no início do século XX, as novas teorias científicas, a antropologia social, os estudos linguísticos e as comunicacionalidades, desde o cinema e televisão até as que surgiram no fim do século XX. As teorias éticas objetivam estudar as práticas éticas, fundamentado-as com a linguagem e a análise das subjetividades. A análise e a investigação levam em conta as modificações ocorridas no campo da comunicação. Nietzsche Nietzsche foi um dos filósofos mais polêmicos da fase inicial da era da linguagem, devido ao enfoque histórico e psicológico dado ao estudo da moral. Sua crença, era de que esse enfoque permitiria ter uma visão mais ampla dos fatos morais e dos autênticos problemas da moral, que só surgem quando é possível comparar diferentes tipos de moral. Em sua obra ―Além do Bem e do Mal‖, conforme CORTINA e MARTÍNEZ (2005), encontramos: ―(...) a distinção entre três períodos da história humana, denominados ―pré- moral‖, ―moral‖ e ―extramoral‖, dependendo de o valor das ações derivar de suas conseqüências, da procedência (a intenção) ou do não-intencionado. Para ―os imoralistas‖ – como Nietzsche gosta de chamar a si mesmo e aos que compartilham sua visão crítica -, é este último o que decide o valor de uma ação, já que para ele as intenções são um preconceito que deve ser superado na ―auto-superação‖ da moral.‖ ―(...) é um método que relativiza toda pretensão de caráter absoluto dos valores, questionando a diferenciação dos valores desde sua origem. Porque não existem valores em si, mas é mister descobrir as fontes de onde brotam os valores.‖ (CORTINA e MARTINEZ, 2005, p. 80) Através da proposta de uma vontade de potência como interpretação do mundo, Nietzsche reabilita a ética individual, a liberdade e a justiça. ―A justiça e as virtudes não estariam marcadas por normas morais de dever, mas consistiriam no reconhecimento dos outros em seu ser individual, sem conceito, nem padrão. Porque quem submete outros a seu próprio padrão comete uma injustiça; no entanto quando dois homens se reconhecem mutuamente em sua individualidade, começa a verdade.‖ (Idem, p.85) Para Nietzsche, a injustiça não consiste em infringir normas de justiça, mas em julgar. E isso é válido até mesmo quando julga-se a si mesmo. ―Não julgueis!‖ 2/6 Emotivismo – G.E. Moore No emotivismo, os juízos morais não descrevem sentimentos — exprimem-nos, ou seja, ao debater questões morais, não é mais do que apelar aos sentimentos das pessoas. Esta teoria nos leva a perceber que nossas ideias sobre a moralidade, a verdade, o que é certo, nem sempre estão de acordo com nossos sentimentos. Segundo GENSLER (1988), ―no fundo, à luz do emotivismo, qualquer debate racional se reduz a uma tentativa de influenciar as emoções.‖ O nosso desejo e a nossa vontade conduzem o debate. Quando duas pessoas têm perspectivas diferentes sobre um assunto, isso quer apenas dizer que têm sentimentos diferentes em relação a esse assunto. Mas mesmo assim pode valer à pena debater racionalmente esse assunto: uma pessoa pode tentar apresentar razões que leve a outra a mudar os seus sentimentos. É claro que, em casos extremos, as pessoas podem ter sentimentos tão diferentes que nenhum debate racional poderá fazê-las chegar a um acordo. (GENSLER, Harry.) Ética In: A arte de pensar. Prescritivismo: R. M. Hare Prescritivismo é um conjunto de doutrinas éticas que formula ou prescreve conceitos e regras morais que em diversos casos desconhece a tradição ética local ou se opõe ao costume social. É clássico o exemplo da consciência de sujeito prescritivista que se opõe à norma de não jogar cigarro e papel na via pública, porque invoca outra norma (a de que fabricar papel é altamente poluente). Em linguística, o prescritivismo se preocupa com a ―etiqueta linguística‖, dando preferência a padrões linguísticos mais valorizados socialmente. O prescritivismo ético, no exemplo acima, sobrepõe àquela norma primeira de mais valor. R.M. Hare (1919–2002) Filósofo moral inglês, professor de filosofia moral em Oxford, e depois na Universidade da Flórida. O primeiro livro de Hare, The Language of Morals (1952), fez do prescritivismo uma das teorias principais sobre a natureza dos juízos morais. As suas análises da noção de louvor e da noção de universalizabilidade em ética continuam a ser marcos na aplicação da filosofia da linguagem à teoria moral. Dicionário de Filosofia, de Simon Blackburn (Gradiva, 1997) 3/6 Éticas procedimentais: Formalismo dialógico é Ética do Discurso Formalismo dialógico A comprovação da correção das normas não deve ser feita apenas por uma pessoa. A compreensão de uma norma correta é um empreendimento de todas as pessoas afetadas pela norma em questão e de acordo com procedimentos racionais. Essa ―compreensão de todos‖ não tem uma dimensão universalizável do fenômeno moral. Na universalização da moral, os procedimentos racionais culminariam no que é justo, mas não no que é bom. J.Rawls propôs a ―imparcialidade da justiça‖, para que se negocie numa situação denominada ―posição original”. Outro procedimento proposto por Apel e Habermas é o de que, ao verificar a correção moral das normas, perguntar-se se tal norma seria aceitável para todos os afetados por ela, situados em uma possível ―situação ideal de fala‖. (CORTINA e MARTÍNEZ, 2005, p.89.) Essas atitudes procedimentais do formalismo dialógico, a justiça como imparcialidade e a ética do discurso, têm um dos princípios de justiça considerado por Rawls como: As desigualdades econômicas e sociais têm que satisfazer duas condições: primeira, devem estar associadas a cargos posições abertos a todos em condições de uma equitativa igualdade de oportunidades; segunda, devem obter o máximo benefício dos membros menos privilegiados da sociedade.(Political Liberalism in CORTINA e MARTÍNEZ, 2005, p.91) Os temas que hoje provocam polêmica, tal como o sistema de cotas para os negros nas universidades e nos cargos públicos, deriva diretamente da concepção de sociedade justa estabelecida por Rawls. J. Rawls (1921 – 2002) Rawls nasceu em Baltimore (EUA). Estudou na Universidade de Princeton e foi professor nas Universidades de Cornelle e Harvard. Rawls é um teórico do contrato social, na linha de Hobbes e Rousseau. Procurou formular as bases de um sistema ético-político que fosse garantia de um estado de justiça equitativa, e onde a desigualdade só seria justificada no caso de estar ligada a funções e posições 4/6 abertas a todos em condições de justa igualdade de oportunidades, e servir para maior benefício dos menos favorecidos. Na sua obra fundamental, A Teoria da Justiça (1971), estabeleceu um conjunto de princípios segundo os quais uma sociedade poderia ser considerada justa. Fonte: Educa Terra (http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/04/13/001.htm) Ética do discurso – Habermas O diálogo é única possibilidade de procedimento de inegável dimensão solidária para viver os valores de liberdade, justiça e solidariedade em nossa sociedade. A tarefa de dialogar pode ser dividida em duas partes: fundamentação, a descoberta do princípio ético e a aplicação deste à vida cotidiana. Argumentos sobre submissão e desobediência civil, sobre a distribuiçãode riquezas, sobre a violência, sobre a corrupção, são adotados com duas medidas distintas. Uma é a discutir por discutir sem querer chegar a um entendimento, a outra é a de levar o diálogo a sério, pois queremos saber como podemos nos entender. A argumentação séria sobre normas pressupõe que todos os seres capazes de se comunicar são interlocutores válidos e que nem todo diálogo nos permite descobrir se uma norma é correta. Se uma pessoa afetada pela norma é excluída a priori, as reuniões e conversações não passam de pantomimas (mímicas). Ainda sobre as regras do discurso, CORTINA e MARTÍNEZ, 2005, p.92, citando Habermas, enumeram: cessidades; nas regras anteriores, mediante coação interna ou externa ao discurso. Fonte: Controvérsia (http://www.controversia.unisinos.br/index.php?a=45&e=2&s=9) 5/6 As decisões, através do diálogo celebrado em condições mais próximas da ―simetria‖, serão moralmente corretas, pois a racionalidade comunicativa do diálogo satisfaz interesses universalizáveis. Uma aplicação semelhante do diálogo dá lugar à ética aplicada, que hoje em dia tem vários âmbitos: bioética, ética da empresa, ética política, ética ecologia e ética das profissões. Comunitarismo O comunitarismo vem a ser uma réplica ao liberalismo. A crítica de seus teóricos ao liberalismo é de que certas variantes do liberalismo produzem efeitos indesejáveis como: individualismo não solidário, desapego afetivo, desvalorização dos laços pessoais, perda de identidade cultural, etc. Todos nós somos criaturas comunitárias. Os comunitaristas insistem nos vínculos comunitários e argumentam que a prática social liberal consagra um modelo de sociedade em que vivem indivíduos radicalmente isolados, egoístas racionais, homens e mulheres protegidos e divididos por seus direitos inalienáveis que visam garantir seu próprio egoísmo. Os comunitaristas criticam os efeitos atomizadores das mobilidades liberais, potencializados por fatores, como o avanço do conhecimento e o desenvolvimento tecnológico. Essas mobilidades e seus efeitos seriam de quatro ordens: -nos com tanta frequência que a ―comunidade de lugar‖ se torna mais difícil e o desapego mais fácil; isso implica em perda dos costumes, norma de modos de vida; crítica comunitarista, é uma consequente deterioração familiar; pode ter como consequência a instabilidade das instituições. Segundo o teórico Walzer, as pessoas sobrevivem a essas quatro mobilidades. O que temos observado em nossa sociedade é que o liberalismo exige uma revisão comunitarista através de novas práticas de troca, de relações familiares, de responsabilidade social e sustentabilidade. 6/6 Nessa questão existem dois extremos igualmente recusáveis: compromisso com a comunidade, que a rodeia como se fosse possível configurar uma identidade pessoal sem solidariedade continuada; confundem o fato de que pertencer a uma determinada comunidade concreta implica em servir incondicionalmente aos interesses dessa comunidade (família, etnia, lugar, classe social), sob pena de perder todo tipo de identidade pessoal. Muitos são os teóricos do comunitarismo, a maioria de origem anglo-saxônica como: A. MacIntyre, Ch. Taylor, M. Sandel, M. Walzer e B. Barber. Em conclusão, deve-se entender que traz riscos a aceitação acrítica da visão liberal da vida humana e que criticar não significa impugnar tal visão. (CORTINA e MARTINEZ, 2005, p. 94-98)
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