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RECONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA A PARTIR DA IDÉIA DE JURIDICIDADE DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
RECONSTRUCTION OF THE MEANING OF THE PRINCIPLE OF ADMINISTRATIVE LEGALITY FROM THE JURIDICITY IDEA OF THE ADMINISTRATIVE ACTIVITY
Belo Horizonte
2018
Ageane de Oliveira Silva
Ana Cláudia Aparecida Vilaça
Carolina Vieira de Souza
Luciana Carvalho Pimentel
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade discorrer acerca da vinculação a que a administração pública está submetida, tendo como referencial a mutação existente entre o princípio da legalidade e o principio da juridicidade. No primeiro momento, todo ato e toda atividade da administração pública deve obediência ao principio da legalidade, sendo permitido fazer tudo aquilo que a lei autoriza e nada além. Entretanto, este princípio ganhou novo significado devido à interferência do principio da juridicidade da atividade administrativa. 
Devido isto, as atuações estatais devidas em cada caso concreto, sofrem influência direta, sendo possível tomar por base outras fontes do direito, principalmente e em especial, a Constituição Federal. Em outras palavras, a administração pública passa a estar vinculada ao direito como um todo, fazendo-se o fato necessário para alcançar o resultado de uma vida digna a todo cidadão. 
Palavras-Chave: Administração Pública. Constituição Federal. Direitos Fundamentais. Princípio da legalidade. Princípio da juridicidade.
ABSTRACT
The purpose of this article is to discuss the linkage to which the public administration is submitted, having as reference the mutation existing between the principle of legality and the principle of legality. In the first moment, every act and activity of the public administration must obey the principle of legality, being allowed to do everything that the law authorizes and nothing else. However, this principle has gained new meaning due to the interference of the principle of the juridicity of administrative activity. Due to this, the state actions due in each concrete case, have direct influence, being possible to be based on other sources of the right, mainly and especially, the Federal Constitution. In other words, the public administration becomes linked to the law as a whole, making itself necessary to achieve the result of a dignified life for every citizen. 
Keywords: Public Administration. Federal Constitution. Fundamental rights. Principle of legality. Principle of legality.
1. INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 é a lei fundamental e suprema, do ordenamento jurídico, estando acima de toda a legislação brasileira, seguindo hierarquicamente abaixo, as leis e normas infraconstitucionais, que devem obediência aos pressupostos dogmáticos, quais sejam segundo Norberto Bobbio, unidade, competência e completude, ou seja, todo o ordenamento jurídico deve andar em consonância com a Carta Magna. Os princípios são gênero da norma jurídica, caminhando ao lado das regras, cada um com suas particularidades. Destacando os princípios, estes podem ser identificados de forma explícita ou implícita no ordenamento jurídico, possuindo grande importância devido ao fato de atuar como fundamento da norma jurídica, ou como se fosse uma estrutura do direito.
Analisando a administração pública, esta não tem liberdade na tomada de decisões, mas deve fazer somente o que a lei permite, seguindo obediência ao princípio da legalidade. Neste momento surge o princípio da juridicidade, que alarga os moldes de atuação da administração pública, se estendendo para além da lei e buscando auxílio em meios mais específicos para tratar cada caso concreto. Isto é válido porque se trata de direitos fundamentais, que possuem proteção na Constituição Federal e muitos destes direitos não encontram conforto somente na lei. Muitos são os princípios que auxiliam quando detectado possível violação a direitos fundamentais, em que a lei por si só não se faz capaz de solucionar os problemas, sem um auxílio.
Contudo, vale a pena analisar acerca dos pontos mais importantes que perfazem a juridicidade, como se deu o surgimento, bem como o seu fundamento constitucional que é de onde provém força para a sua aplicação.
2.PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA
O princípio da legalidade, remete a ideia do poder subordinado a lei, surgindo a partir da Revolução Francesa. O que se pretendia nessa época era proteger os direitos individuais, regular os fatos relacionados com a administrativa pública de modo que a atuação do Estado fosse pautada em discricionariedade somente com base legal. A legalidade é um dos princípios constitucionais explícitos, que encontra fundamento no art. 5º, II, da Constituição Federal de 1988 que diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Entretanto, o artigo mencionado alcança somente os particulares, que tem total liberdade para as tomadas de decisões, praticando seus atos com autonomia de vontade, mas como deve estar em cumprimento com a legalidade, não poderá fazer se lei proibir. Vale mencionar que apesar de poder fazer tudo aquilo que não é proibido por lei, o particular será responsabilizado por qualquer resultado que esteja relacionado com o ato praticado.
Diferentemente, quando se trata da administração pública, seguindo o princípio da legalidade, sua autonomia na tomada de decisões é limitada, sendo permitido fazer somente o que a lei permite, em conformidade com o ordenamento jurídico. Quer dizer que para que ocorra a atuação estatal, a permissão deve estar a lei de forma expressa. Na Constituição Federal o seu art. 37, caput, dispõe que ‘’a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência’’. Então o agente público não pode fazer o que entender devido, ou o que quiser, mas estará sujeito aos mandamentos da lei, para atingir os fins desejados. Nas palavras de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2006, p. 67): 
“[...] através do princípio da legalidade a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite, ou seja, todos os atos do administrador dependem da lei e a Administração Pública não pode, através de ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações aos administrados. Assim, a vontade da Administração Pública é aquela que decorre da lei.”
O princípio da legalidade em face da administração pública serve como segurança ao povo brasileiro de que o Estado cumprirá o regramento legal, não atuando de forma discricionária com arbitrariedade, evitando com isto as surpresas nas decisões administrativas. Contudo, este princípio é considerado uma das maiores conquistas dos indivíduos, sem dúvida porque direciona as condutas praticadas pelos agentes da Administração Pública, trazendo garantias que são aplicadas na relação entre direito individual e o poder da Administração Pública. As regras são estabelecidas para limitar o poder que a Administração Pública tem sobre os indivíduos, evitando abuso de poder na tomada de decisão, bem como, o uso do poder para bem próprio de forma indevida.
Uma maior segurança se faz, pelo fato de que a lei recebe legitimidade porque emana do povo por meio dos seus representantes, e com isso traz inovação no ordenamento jurídico. O fato é que, o Estado estando vinculado a lei, e cumprindo somente o que a lei permite, torna-se possível prever antecipadamente todos, ou pelo menos muitos dos atos e atividades administrativas que poderão ser tomadas em cada situação. E importante destacar que a Administração pública deve agir de forma licita, sem que cometa ilegalidades, devendo se sujeitar aos ditames da lei sobe pena de tornar seu ato inválido. 
3. PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE ADMINISTRATIVA
O princípio da juridicidade torna ampla a atuação do Estado, que passa a ter fundamento para além das leis, estando vinculada principalmente a ConstituiçãoFederal e aos princípios constitucionais, com destaque maior para os direitos fundamentais e o principio da democracia. Na juridicidade, é como se a legalidade no momento em que precisa atuar, reconhecesse sua incapacidade para alcançar sozinha o resultado ideal, volvendo seu olhar para todo o ordenamento jurídico em busca de apoio. Com isso, a juridicidade vem ocupando lugar de destaque e ganhando espaço cada vez maior em meio ao ordenamento jurídico brasileiro, visto que ainda hoje, a lei possui muitas lacunas, necessitando de suporte com grande frequência.
Conforme Gustavo Binenbojm, a partir da juridicidade, a atividade administrativa passa a realizar-se conforme o princípio da legalidade, porém, não de maneira superior, podendo também ser baseada diretamente na Constituição ou para além e também contra essa, desde que fundamentada e ponderada conforme a legalidade observando os princípios e direitos constitucionais.
O mesmo art. 37, caput, da Constituição Federal, que traz expresso o princípio da legalidade, introduz também o principio da juridicidade, mas de forma implícita, quando dispõe que ‘’a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência’’.
O princípio da juridicidade pode ser encontrado no artigo, porque estende a vinculação da administração pública para além da lei, que em respeito a Constituição, deve obedecer quanto aos princípios da moralidade e eficiência. Então, o que se nota, com o artigo 37 da Carta Maior, é que a atuação da administração pública deve estar sempre pautada nos princípios mencionados neste, ou seja, ela não deve obediência somente à lei, mas esta própria estende a vinculação da administração pública. Gustavo Binenbojm trata do assunto da seguinte forma:
“O administrador público, por seu turno, é valorizado, pois se torna um aplicador direto da constituição e não apenas da lei, como tradicionalmente concebido. Assim, por exemplo, diante de uma determinada tomada de decisão discricionária deverá ter preferência a alternativa que melhor atenda aos princípios da moralidade ou da eficiência (art. 37, caput), podendo ser ainda necessário que tais princípios sejam ponderados, o que esvazia significativamente o espaço de conveniência e oportunidade administrativas.” (BINENBOJM, Gustavo, p. 132)
Como bem falado pelo doutrinador, estando diante de um caso concreto, quando se age moralmente e em busca de resultado eficiente, obedecendo ao artigo mencionado, muitas vezes a lei não preenche todos os requisitos para que o resultado seja satisfatório e neste caso o administrador público precisa atuar com discricionariedade, o que é diferente de arbitrariedade, visto que no primeiro, o Estado decide, mas visando sempre a satisfação dos direitos fundamentais e em obediência a lei, o que acaba meio que abandonando os princípios da oportunidade e conveniência administrativa.
Em decorrência do vínculo entre a Constituição e a Administração Pública, devem os agentes agir conforme o que é autorizado pela norma constitucional, sempre em observância com os princípios da dignidade da pessoa humana. Os atos administrativos praticados que violarem essas normas são passíveis de punição conforme previsão legal.
4. O DIREITO ADMINISTRATIVO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
O direito administrativo passou por toda a transição desde o autoritarismo até chegar ao Estado Democrático de Direito, no entanto, carrega em sua origem, uma herança de base ditatorial. Foi devida a promulgação da Constituição Federal de 1988 que o direito administrativo ganhou impulso constitucional e passou a ser visto forma mais ampla, visto que a Carta Magna tutelou os direitos fundamentais, com base na dignidade da pessoa humana. Para Gustavo Binenbojm:
“As ideias de direitos fundamentais e democracia representam as duas maiores conquistas da moralidade política em todos os tempos. Não à toa, representando a expressão jurídico-político de valores basilares da civilização ocidental, como liberdade, igualdade e segurança, direitos fundamentais e democracia apresentam-se, simultaneamente, como fundamentos de legitimidade e elementos estruturantes do Estado Democrático de Direito. ” (BINENBOJM, Gustavo, p. 49)
Assim, o cidadão passou a ser visto como um sujeito de direitos e deveres, dotado de personalidade, tendo como garantia a proteção dos direitos fundamentais, que são reconhecidos como essenciais para alcançar uma vida digna. Entretanto, para que fosse realmente possível tutelar esses direitos, a Constituição Federal incumbiu ao Estado a responsabilidade na satisfação destes, sendo o direito administrativo, o ramo do direito público legitimado a disciplinar o funcionamento estatal, regulamentando normas às pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado que executam a função estatal. Com isso, o Estado passou a ter que obedecer a estas regras que foram a ele impostas, buscando sempre a meta final, que é a satisfação dos direitos fundamentais.
“Pode-se dizer, assim, que há entre direitos fundamentais e democracia uma relação de interdependência ou reciprocidade. Da conjugação desses dois elementos é que surge o Estado Democrático de direito, estruturado como conjunto de instituições jurídico-políticas erigidas sob o fundamento e para a finalidade de proteger e promover a dignidade da pessoa humana. “(BINENBOJM, Gustavo, p. 50)
Não restam dúvidas de que a Constituição Federal veio com o intuito de inovar em todos os sentidos, e nesse contexto, a administração pública busca a realização dos direitos fundamentais, ou seja, visa cumprir da melhor forma possível, a tarefa constitucional a ela atribuída. No tocante a este ponto, a maior parte da doutrina defende a idéia de que a busca dos direitos fundamentais se faz sob o prisma de que o princípio do interesse público prevalece sobre o interesse do particular. A outra parte defende a idéia de que essa busca se faz somente em virtude do melhor interesse público levando em consideração o princípio da dignidade da pessoa humana.
Contudo, vale lembrar que o poder atribuído ao Estado, passou pela separação dos poderes, onde foram criados os poderes legislativo, executivo e judiciário e apesar de vivermos atualmente em um modelo de Estado constitucional, grande é o questionamento doutrinário acerca da real democracia na realização das funções estatais.
Neste contexto, trazendo à tona alguns dos doutrinadores que levantam esses questionamentos, vale ressaltar que Gustavo Binenbojm afirma que a administração pública não se submete ao julgamento do judiciário visto que, o Estado, através do poder executivo criou o direito administrativo, e o próprio Estado julga por meio do poder judiciário. E tem mais, esse julgamento, ocorre por meio de normas próprias, criadas pelo poder legislativo. Em outras palavras, não é possível julgar a si próprio, utilizando de leis próprias, sendo que tudo passa pelas mãos da administração pública.
Segundo Paulo Otero (2003), a separação de poderes foi um simples pretexto no intuito de garantir o alargamento da liberdade da administração Pública nas tomadas de decisão, e ainda evitando um provável controle judicial.
Esta é a explicação que alguns doutrinadores encontram para o fato de o Estado ser dotado de poder exorbitante, podendo muitas vezes atuar de forma unilateral, sem o consentimento da outra parte, como ocorre, por exemplo, nos casos de contrato administrativo realizado entre o Estado e um particular para a prestação de um serviço público.
4. A CRISE DA LEGALIDADE ADMINISTRATIVA
Como já mencionado, o principio da legalidade, engessa toda e qualquer atuação do agente administrativo, que pode, ou melhor, deve fazer somente o que a lei permite.
“Surge, destarte, a ideia da legalidade como vinculação à lei positiva: se aos particulares, em prestígio e valorização de sua autonomia públicae privada, é permitido fazer tudo aquilo que não lhes for vedado pela lei, à Administração Pública cabe agir tão-somente de acordo com o que lei prescreve ou faculta.” (BINENBOJM, Gustavo, p. 10).	
Entretanto, o princípio da juridicidade, modificou este contexto e com isso, a atuação administrativa não se vincula somente a lei, mas vai além, se vinculando ainda à Constituição Federal em especial aos direitos fundamentais, aos princípios e a democracia. O que ocorre é uma expansão na atuação da administração pública que mediante o caso concreto passa a ter diante de si um rol maior para atuar. 
“O direito administrativo não surgiu da submissão do Estado à vontade heterônoma do legislador. Antes, pelo contrário, a formulação de novas princípios gerais e novas regras jurídicas pelo Conseil d’ État, que tornaram viáveis soluções diversas das que resultariam da aplicação mecaniscista do direito civil aos casos envolvendo a Administração Pública, só foi possível em virtude da postura ativista e insubmissa daquele órgão administrativo à vontade do Parlamento. ”(BINENBOJM, Gustavo, p. 11)
 Neste sentido, desde a criação o direito administrativo sempre carregou certa discricionariedade, entretanto de forma extremamente camuflada, pois como se pretendia regular as atuações estatais de modo a garantir que não haveriam violações aos direitos fundamentais, era necessário leva a todos esse entendimento. Este é um dos pontos cruciais que demonstram a contradição a tudo que vimos até agora sobre a estrutura da legalidade administrativa.
A crise da legalidade administrativa não é algo recente, mas iniciou em meados do século XIX, quando o poder executivo recebeu notória importância. Neste mesmo período, nasce o Estado Social que trouxe mudanças relevantes e a principal delas foi a intervenção estatal na vida da sociedade. Ocorre que era necessária, como é até hoje, a atuação do Estado para satisfazer as necessidades da população que ansiavam por solução para os problemas, e em muitos casos, não havia lei previa para a determinada conduta. Foi neste momento que se deu inicio a crise no poder legislativo, pois este não conseguia criar lei para todos os possíveis casos. 
Como era necessário solucionar os problemas e o legislativo não era capaz de fazer sozinho, surgiram vários outros diplomas normativos, como decretos, portarias, regulamentos que se amoldavam aos casos concretos e propiciavam as soluções, com isso o poder executivo passou a utilizá-los em todos os casos que não havia lei própria e que fosse possível chegar a solução por meio do diploma aplicado. Neste ponto, é nítido que a legalidade vai perdendo suas forças, não sendo mais a única capaz de solucionar os casos. O que colaborou mais para o abalo e o enfraquecimento da lei foi a descrença que irradiou na população, pois esta não tinha representatividade popular perante o legislativo e com isso as leis eram criadas sem que a sociedade fosse ouvida. 
“Ao ângulo funcional, a crise da lei é a própria crise da idéia de legalidade como parâmetro de conduta exigível de particulares e do próprio Estado. Hoje não mais se crê na lei como expressão da vontade geral, nem mais se a tem como principal padrão de comportamento reitor da vida pública ou privada.” (BINENBOJM, Gustavo, p. 125).
A crise ganhava gigantismo e com isso, a Constituição Federal, calcada nos princípios garantidores de proteção dos direitos fundamentais, torna possível a ordem jurídica. Neste contexto, a legalidade ganha novos ares, passando a vincula-se ao ordenamento jurídico como um todo, especialmente à Constituição que passa a ser o ponto de partida em que todos os diplomas legais devem estar em conformidade para serem validos. Este é o momento em que a legalidade abre espaço para a juridicidade, passando a administração pública a ter atuação não somente conforme a lei, mas todo o ordenamento jurídico. 
Desta forma, quando a Constituição se torna o “cerne” na tomada das decisões estatais, se obtém maior garantia de que os direitos fundamentais serão preservados na tomada de decisão administrativa. A mudança de paradigma em que ocorre com a mutação, passando o princípio da legalidade a estar impregnado de juridicidade, recebe o nome de constitucionalização da legalidade. Isto se deve ao fato de que, a legalidade que antes só atuava por si própria, neste momento esta voltada para os princípios constitucionais, ou seja, a lei somente pode ser aplicada e passa a ser válida se não for inconstitucional. Vale lembrar que quando a lei obedecer a Carta Magna, estará sempre em cumprimento com a busca do melhor interesse público, seguindo a meta final constitucional.
5. ANÁLISE DE CASO CONCRETO
	No dia 03 do mês de abril do ano de 2018, a imprensa brasileira trouxe a seguinte reportagem: ”TCE- RJ aponta que Seap gastou quase R$ 877 milhões sem licitação”. 
O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) ao rastrear as contas do governo do Estado, verificou que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, gastou em alimentação de preso o montante de R$ 877.000.000,00 (oitocentos e setenta e sete milhões de reais) nos últimos 03 (três) anos sem realizar licitação, que seria devida, conforme o caso apresentado.
	Após a apuração, foi aberta a auditoria para verificar a legalidade dos atos realizados pelo administrador público. O relator da auditoria concluiu que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, tornava os processos de licitação lentos com o intuito de chegar nas hipóteses elencadas no artigo 24, IV da lei 8666/93, a fim de declarar o caráter emergencial para realizar a contração com empresas privilegiadas, bem como excluindo a chance de “concorrência”. Vejamos uma publicação no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em que a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, traz a justificativa para a dispensa de licitação:
A publicação em epígrafe totaliza o valor montante de 81.203.837,54 (oitenta e um milhões duzentos e três mil oitocentos e trinta e sete reais e cinquenta e quatro centavos) gastos em alimentação para presos no ano de 2017. A justificativa para a dispensa de licitação da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária baseou-se no caráter emergencial ou de estado e calamidade pública contido no artigo 24, IV, da lei 8666/93, conforme segue abaixo:
“Art. 24.  É dispensável a licitação:
IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos; ”
	Pois bem, a justificativa feita pelo administrador público para dispensar a licitação seguiu todos os parâmetros legais? Respeitou o princípio da legalidade para realizar o ato? Ao indagarmos tais questões devemos observar que a administração pública deve observar todos os parâmetros da legalidade, sendo assim, deve fazer apenas o que estiver em conformidade com a legislação. O artigo 37, caput, da constituição federal, traz a seguinte redação:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.”
	Neste sentido, o administrador público deve realizar os atos em consonância com a legislação e os princípios constitucionais, sempre buscando satisfazer as necessidades populares que possuem proteção constitucional, pois caso contrário, poderá responder por crime de responsabilidade.
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro, aojustificar o estado emergencial ou calamidade pública, com a finalidade de dispensar a licitação que cuida da alimentação dos presos podemos dizer, em fundamento com a legislação, que tal justificativa não condiz com a concordância da lei, pois quando a lei regulamenta a licitação, o intuito é que o gestor público faça o planejamento adequado. Sendo ainda confirmada a necessidade de licitação, deve ser respeitado o principio da igualdade, em que todos os particulares que desejam contratar com a administração pública, possam ter a oportunidade de apresentar e ter as suas propostas analisadas. Em outras palavras os direitos atribuídos aos particulares que querem ter a oportunidade de apresentar as propostas à administração pública devem ser iguais.
	Em análise ao presente caso, podemos observar que tal justificativa do gestor da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária ao dispensar a licitação era rotineira, bem como agia em desconformidade com a lei 8666/93 violando os princípios básicos da administração pública, uma vez que não foi aberta a oportunidade a todos que desejavam contratar com a administração pública. Conforme mencionado pelo coordenador de auditorias do TCE-RJ, Bruno Vilas Boas:
“A administração pública deve se planejar, ou seja, sabendo que um prazo contratual vai terminar, ela deve, antes do término do prazo, adotar medidas com vistas à contratação de novas empresas. Ao se omitir, fabrica uma situação que vêm ser suprida por um mecanismo que a gente entende como artificioso, nesse caso, para dar continuidade a prestação de serviço”
	Por fim, na presente análise do caso concreto, notamos que até a presente data, a conclusão da auditória ainda não foi julgada pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, ressaltando ainda que mesmo diante das investigações, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária continua realizando contrações para a alimentação dos presos sem o devido processo licitatório.
6. CONCLUSÃO
A Constituição Federal de 1988 foi o ponto marcante para todo o ordenamento jurídico, sendo a estrutura garantidora dos direitos fundamentais. Não restam dúvidas de que a mutação legalidade/juridicidade trouxe maior tranquilidade ao cidadão, pois qualquer lei para ser aplicada deve obediência constitucional. Isto porque a administração pública, além de estar vinculada à lei, também está vinculada ao ordenamento jurídico como um todo, devendo estar em consonância com a Constituição. 
O Princípio da legalidade traz a idéia de que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite, porém, com a Constituição Federal de 1988, que trouxe garantias aos direitos fundamentais, entende que caso a lei seja cumprida à risca pela Administração Pública, ela acaba violando esses direitos. Portanto, para que a Administração Pública atue nos casos concretos ela necessita utilizar de outras fontes para atender as necessidades e neste contexto, nos deparamos com o princípio da juridicidade, que diz que a Administração Pública não precisa agir somente em conformidade com a lei, mas também deve observar os princípios, a Democracia e os Direitos Fundamentais, previstos na Carta Maior.
Conforme supracitado a Administração Pública, deve agir conforme os ditames da Democracia, dos princípios e principalmente conforme a Constituição Federal. Qualquer ato praticado pela Administração usando do seu poder deve ser observado conforme essas garantias, para que ocorra o cumprimento do melhor interesse público, conforme o caso concreto. Caso seja entendido que a administração pública esta usando do seu poder para agir de forma inconstitucional, será a ela aplicada sanções devidas.
7. REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa: por um Direito Constitucional de luta e resistência, por uma nova hermenêutica, por uma repolitização da legitimidade. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
BAGINSKI, Cibele Bumbel; NETO, João Manganeli. Linhas gerais sobre o princípio da legalidade administrativa. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30398/linhas-gerais-sobre-o-principio-da-legalidade-administrativa . Acesso em 18 de abril de 2018.
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do Direito Administrativo: direitos fundamentais, democracia e constitucionalização. 2ª edição. Revista e atualizada. Rio de Janeiro. São Paulo. Recife. Renovar, 2008. p. 132.
CAMILO, Guilherme Vitor de Gonzaga; LELIS, Davi Augusto Santana de Lelis. A crise do paradigma da legalidade: uma nova interpretação principiológica. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=8b3ecc6c4da9bf7e . Acesso em 18 de abril de 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 18 de abril de 2018. 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2006. P. 67.
GUILHERME, Gustavo Calixto. O conceito de juridicidade administrativa. Disponível em: https://gustavocg.jusbrasil.com.br/artigos/234274263/o-conceito-de-juridicidade-administrativa. Acesso em 18 de abril de 2018.
OTERO, Paulo. Legalidade e administração pública: o sentido da vinculação administrativa à juridicidade. Coimbra: Almedina, 2007. P. 175.

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