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ARQUITETURA PAISAGÍSTICA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL

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Arquitetura 
paisagística 
contemporânea if 
no Brasil
V Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil
As últimas três décadas foram muito diferentes, qualitativamente, para 
a arquitetura paisagística no Brasil e para a própria compreensão que os 
paisagistas fazem da abrangência de suas atuações profissionais. Avança­
mos dos primeiros passos da consciência ambiental, nos anos 1970, para 
a atual discussão cotidiana de amplas questões ambientais. Nesse tempo, 
deixamos de enxergar o ofício como atividade meramente estética e passa­
mos a encará-lo como o endosso de uma carta de princípios comprometida 
com a própria sobrevivência do planeta. Perosinperdería hermosura, é claro!
Não por coincidência, a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas 
(Abap) foi fundada há pouco mais de três décadas, aglutinando os profis­
sionais brasileiros, vivenciando e alimentando-se de toda a efervescência 
do período. Era uma época em que contávamos com 0 incansável Roberto 
Burle Marx, considerado o maior paisagista do século XX, como porta-voz 
oficial dos novos paradigmas. Pois foi por meio dele que tomamos contato 
com o descalabro ambiental que se alastrava por todo 0 território brasileiro, 
que descobrimos a beleza e a importância de nossa vegetação nativa, que 
aprendemos a valorizar as associações entre espécies vegetais, a respeitar
n r a
1
SUMÁRIO
|
I
7 Nota do editor
9 Prefacio - T rinta anos, uma longa jornada | Rosa Crena Kliass 
13 Apresentação | Eduardo Barra 
17 Agradecimentos
19 Introdução | Ivete Farah, Mònica Bahia Schlee, Raquel Tardin
__________________________________________________________ _______________ Parte í
35 Capítulo 1 . Arquitetura paisagística até 1930 | Hugo Segawa
49 Capítulo 2 . A produção paisagística brasileira entre 1930 e 1976 | Ana Rita Sá Carneiro
______________________________________________________ __________ __________ Parte 2
77 Capítulo 3 . A arquitetura paisagística no período entre 1976 e 1985 | Ivete Farah
119 Capítulo 4 . O (re) desenho paisagístico das cidades brasileiras (1986-1995) | Mònica Bahia Schlee
169 Capítulo 5 . A arquitetura paisagística no período entre 1996 e 2006 | Raquel Tardin
_______________________ _______________________________________ Conclusão
215 Perspectivas da arquítetura paisagística no Brasil | Lucia Maria S. A. Costa, Paulo Renato M. Pellegrino
229 Sobre os autores
231 Créditos iconográficos
NOTA DO EDITOR
Em 1976, surgiu a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), insti­
tuição pioneira, entre outras coisas, no diálogo da pesquisa com a atuação profissional. 
Desde sua fundação, a Abap mantém profícuas relações com importantes universidades 
brasileiras, promovendo seminários, cursos e congressos que, além de abordar temas de 
relevância para o paisagismo, incluem parcerias com órgãos públicos de gestão e adminis­
tração.
Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil, coletânea composta por textos de 
professores e pesquisadores de renomadas instituições brasileiras ligados à Abap, traça 
um painel das realizações dos precursores da arquitetura paisagística no Brasil até 1976 
e, a partir de então, da forma como os associados da Abap contribuíram para a produção 
paisagística nacional.
Com esta publicação, o Senac São Paulo objetiva não só disseminar o conheci­
mento sobre a produção paisagística no Brasil, como também destacar a importância das 
abordagens dessa atividade no que diz respeito aos processos de intervenção na paisa­
gem, oferecendo a profissionais e a estudantes da área informações consistentes e reflexão 
sobre um fazer que se torna cada vez mais fundamental.
Rosa Grena Klutss
PREFÁCIO | TRINTA ANOS, UMA LONGA JORNADA
Rosa Crena Kliass
FU N DADO RA DA ABAP
Sensação plena de missão cumprida! A caminhada foi árdua, porém prazerosa. 
Picadas foram abertas para, com alguma dificuldade, descobrir novos lugares. Quanta 
surpresa! Novas paisagens, novos companheiros. A cada encruzilhada, novas perspecti­
vas, novos grupos juntando-se a nós. Finalmente, aqui estamos: já somos uma plêiade de 
profissionais de todos os quadrantes, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, buscando a multi­
plicação dessas jornadas para novos encantamentos, novas descobertas, novas lutas para 
a materialização do grande sonho: a urdidura da rede que, lançada sobre o nosso país, 
garantirá a manutenção da diversidade e da qualidade da nossa paisagem e a criação de 
novos lugares calcados na percepção de sua identificação com o meio ambiente e com os 
desígnios propugnados.
U m p o u c o d e h is t ó r ia
E pensar que essa campanha, de cunho essencialmente nacional, tenha tido seu 
início fora de nossas fronteiras, aliás, em uma instância internacional!
A revista Acrópole havia recebido publicação de uma organização internacional, 
que o senhor Manfredo Gruenwald, diretor da revista, me encaminhou, acreditando ser 
de meu interesse por tratar-se de arquitetura paisagística. Foi então que tive conhecimento 
da International Federation of Landscape Architects (Ifla), e, diante da possibilidade
IO
de filiação como membro individual, apresentei-me e fui aceita. Fernando Chacel, Luiz 
Emygdio de Mello Filho e Almir de Lima Machado já eram filiados.
O passo seguinte foi minha participação numa Sessão Técnica da Ifla, em San 
Antonio, no Texas, por ocasião do Congresso da American Society o f Landscape Architects 
(Asla), em 1975, em que tive ocasião de conhecer os membros da organização. Edgard 
Fontes, arquiteto paisagista português, era o secretário-geral e dedicou-se a me convencer 
da necessidade de criar uma associação no Brasil. Afinal, na terra de Burle Marx, como 
era possível não haver uma organização dos arquitetos paisagistas? Tentei justificar o fato 
pelo pequeno número de profissionais na área, porém, diante de sua insistência, assumi 
o compromisso de tentar a façanha.
De volta, convoquei um grupo de colegas para discutir essa possibilidade e. para 
minha surpresa, houve aceitação imediata. Iniciou-se então o processo de criação da que 
se tomou a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), oficialmente criada em 
28 de maio de 1976, com 29 associados fundadores.
A cerimônia de sua instalação deu-se nos salões da Vila Penteado, na Faculdade 
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), e contou com a 
presença dos sócios honorários Roberto Burle Marx, Hermes Moreira de Souza. Mario 
Guimarães Ferri e Mauro de Morais Vitor.
Em 1976, participei do Congresso Mundial da Ifla em Istambul, quando foi sub­
metida e aprovada a filiação da Abap. Como representante da Abap. passei a participar 
com assiduidade das reuniões do World Council e dos congressos, tendo me encarregado 
da missão de realizar, em 1978, no Brasil, o Congresso Mundial. Foi, talvez, em toda a 
minha trajetória, a tarefa mais difícil que assumi.
O XVI Congresso Mundial da Ifla, em Salvador, BA, foi um sucesso e colocou-nos 
definitivamente no mundo como partícipes do processo de valorização da profissão.
T rinta anos depois
Desde então, a estruturação da Abap veio se efetivando no ritmo e nos tempos 
das instituições. Um dos fatos relevantes é que, hoje, somos reconhecidos como um dos 
órgãos representativos dos arquitetos e - com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), 
a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea), a Associação Brasileira de 
Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea) e a Federação Nacional de Arquitetos e Urba­
nistas (FNA) - estamos participando do processo de criação de um conselho profissional 
independente.
No que tange aos aspectos da formação dos arquitetos paisagistas, a Abap tem tido 
uma atuação constante. Duas iniciativas merecem ser citadas.
A primeira foi o encontro de professores de paisagismo em escolas de arquitetura, 
realizado pela Abap e pela FAU-USP em 1993, aproveitando a vinda ao Brasil do profes­
sor Peter Jacobs, arquiteto paisagista canadense. Com a presença de grande número de 
professores de escolas de vários estados, esse encontro marcou o início da instalação do 
programa do Encontro Nacional sobre Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e 
Urbanismo no Brasil (Enepea), que já se encontra na io- edição.
A segunda foi a realização do Programa de Capacitação para Professores de Arqui­
tetura Paisagística, sob os auspícios da Ifla, Abap, Fundação para a Pesquisa Ambiental 
(Fupam) e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), 
ministrado por professores americanos e canadenses, em parceria com professores brasi­
leiros, ao qual atenderam professores e arquitetos paisagistas de vários estados do Brasil.
O resultado de todo esse processo está nas páginas que se seguem e que, de forma 
clara e enfática, demonstram o efetivo campo de trabalho atual e a qualidade dos profissio­
nais nele atuantes.
APRESENTAÇÃO
Eduardo Barra
PRESIDENTE DA ABAP (2005-2008)
As últimas três décadas foram muito diferentes para a arquitetura paisagística 
e para a própria compreensão que os paisagistas têm da abrangência de suas atuações 
profissionais. Avançamos dos primeiros passos da consciência ambiental, nos anos 1970, 
para a discussão cotidiana de questões como aquecimento global, escassez de recursos 
hídricos, queimadas na Amazônia, propagação da soja no cerrado brasileiro, exploração 
indiscriminada de bens naturais não renováveis, necessidade premente de regeneração 
das áreas degradadas, proteção legal das áreas de preservação permanente, ecogênese, pre­
servação da paisagem cultural, e outros temas desse quilate. Em outras palavras, deixamos 
de enxergar 0 ofício como atividade meramente estética — ou cosmética, como preferem 
alguns — e passamos a encará-lo como o endosso de uma carta de princípios comprometi­
da com a própria sobrevivência do planeta. Pero sin perder la hermosura, é claro!
A Conferência Mundial de Estocolmo, realizada em 1972 - a primeira vez em que 
países do mundo inteiro se reuniram para discutir a sanidade planetária - , costuma ser 
apontada como 0 marco inicial desse novo olhar. Sabemos, entretanto, que sua gestação 
teve início muito antes, talvez no segundo quartel do século XX, mas os trinta últimos 
anos foram mesmo decisivos. Em 1973, o Governo Federal do Brasil criou a primeira 
Secretaria do Meio Ambiente. Não por coincidência, a Associação Brasileira de Arqui­
tetos Paisagistas (Abap), fruto da pertinácia de Rosa Kliass e de um pequeno grupo de 
visionários, foi fundada em São Paulo apenas três anos depois. Também não foi por acaso 
que a International Federation of Landscape Architects (Ifla), em 1978, resolveu adotar o 
Brasil como sede de seu XVI Congresso Mundial. A partir daí, começaram a ocorrer, no
M
país, inúmeros outros eventos relacionados às questões paisagísticas e ambientais, num 
momento em que contávamos com o incansável Roberto Burle Marx, considerado o maior 
paisagista do século XX, como porta-voz oficial dos novos paradigmas.
Foi através de Burle Marx que tomamos contato com o descalabro ambiental que 
se alastrava por todo o território brasileiro, que descobrimos a beleza e a importância de 
nossa vegetação nativa, que aprendemos a valorizar as associações entre espécies vegetais, 
a respeitar seus ecossistemas originais, a enxergar a paisagem tropical com olhos tropi­
cais. Ele não estava sozinho nessa batalha, é óbvio, mas carregava a bandeira com vontade. 
E que vontade! A consequência de tanto empenho é a impressionante qualidade e o volu­
me de seu legado, que soma arte e ciência com muita fundamentação.
Toda a efervescência dessas décadas foi, de algum modo, captada e aglutinada 
pela Abap, instituição que, desde sua fundação, trabalha incessantemente em prol da in­
formação e da instrumentação dos profissionais brasileiros e, diria ainda, pela própria 
formatação do oficio em solo pátrio, uma vez que ainda não temos cursos de graduação 
de arquitetos paisagistas e, portanto, uma profissão devidamente regulamentada - por 
m ais incrível que isso possa parecer. Com a intenção de ampliar a abrangência das áreas 
de atuação do arquiteto paisagista, a Abap incentivou o exercício pleno da interdisciplina- 
ridade, conduzindo o paisagista brasileiro à participação em equipes com formação hete­
rogênea, compostas por ambientalistas, hidrólogos, geólogos, geógrafos, biólogos, enge­
nheiros agrônomos e florestais, entre outros. Os profissionais atuantes no início dos anos 
19 70 precisavam adaptar-se aos novos tempos, e foi através da Abap que novos conceitos 
e fundam entos começaram a tomar forma e a propagar-se. Era hora, também, de ampliar 
o "tim e”, até então limitado a poucos iniciados. Foram cursos, palestras, seminários e 
encontros, que suscitaram o debate, a troca de idéias e a formação de uma mentalidade. 
Portanto, acredito que não se possa dissociar 0 paisagismo contemporâneo brasileiro des­
sa instituição: são elementos completamente imbricados.
Por tudo isso, por ocasião do I Congresso Internacional da Abap, realizado no 
Rio de Janeiro em novembro de 2006 - quando a instituição comemorava seu 30o aniver-
rio , consideramos que estava na hora de registrar o percurso da arquitetura paisagís­
tica brasileira no período. O livro que imaginamos, para isso, deveria retratar exatamente 
esse momento de transição, tentando compreender de onde partimos, o que alcançamos 
e o rumo que pretendemos tomar. Tínhamos como referência a bela publicação comemo­
rativa do centenário da American Society o f Landscape Architects (Asla), em que Melanie 
Simo traça um histórico pormenorizado do século XX e, em paralelo, permite uma visão 
abrangente da evolução do ofício através do simples folhear de suas páginas, repletas de 
fotos criteriosamente selecionadas. Através da já consagrada parceria entre a Abap e o 
Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Prourb), eu e a professora Lucia Costa começa­
mos a delinear o formato do livro. Tínhamos três décadas para enfocar, mas não podíamos 
esquecer dos antecedentes que levaram essas três décadas a ser como foram.
Convidamos as professoras Ivete Farah, Mônica Bahia Schlee e Raquel Tardin para 
escrever os três principais capítulos e coordenar a produção intelectual do conjunto. Hugo 
Segawa surgiu como o nome óbvio para traçar o histórico da produção nacional dos pri- 
mórdios até os anos 1930, tendo em vista a seriedade de suas pesquisas e a qualidade de 
seus artigos e livros, referências obrigatórias de todos os estudiosos do tema. Já os anos 
1930 a 1970 cairíam bem nas mãos da professora Ana Rita Sá Carneiro, estudiosa da obra 
de Roberto Burle Marx e que conhece como poucos seu trabalho pioneiro desenvolvido 
no início da carreira na cidade do Recife, tendo, inclusive, trabalhado na recomposição de 
seus primeiros jardins. Por fim, o professor Paulo Pellegrino foi convidado para juntar-se 
à Lucia Costa na reflexão sobre o futuro da arquitetura paisagística brasileira, momento 
em que nos provocam e instigam a pensar.
E assim, após muita pesquisa, muito debate e muito trabalho, temos a satisfa­
ção de entregar ao leitor este belo produto, com a certeza de que se tomará referência 
para todos os que estudam, desfrutam e apreciam a cultura e as paisagens brasileiras.
Deliciem-se!
agradecimentos
As organizadoras agradecem a Eduardo Barra e Lucia Costa, idealizadores desta 
coletânea, pelo empenho para a sua viabilização; a Marcos de Sousa, por acreditar na 
im portância
de sua publicação; e os comentários, as informações e imagens cedidas por 
Alexandre Campello, Andréa Queiroz Rego, Beatriz Johansen, Beatriz Marinho, Benedito 
Abbud, Claudia Netto Costa, Dora Celidônio, Fernando Chacel, Francine Sakata, Gisela 
Heuchert, Gláucia Dias Pinheiro, Haruyoshi Ono, Iraci Leme, Isabel Duprat, Isabela Ono, 
Ism ar A lm eida, Jam il José Kfouri, João Ramid, Jonathas Magalhães e equipe do arquiteto 
Luiz Carlos Toledo, José Tabacow, Kássia Torres, Lucia Porto, Luciano Fiaschi, Luiz Can- 
cio, Luiz M arques, Luiz Vieira, Manuel Águas, Márcia Nogueira Batista, Maria Cecília 
Barbieri Gorski, Marieta Cardoso Maciel, Michel Todel Gorski, Mirelli Borges Medeiros, 
Nícia Paes Borm ann, Patrícia Akinaga, Raul Pereira, Rosa Kliass, Rubens de Andrade, 
Saide Kahtouni, Sérgio Treitler, Sidney Linhares, Sidonio Porto, Sílvio Soares Macedo, 
Vera Tângari e Virgínia Vasconcellos.
Fundação da Abap. Rosa M 
Mauro de Moraes Vitor e I
INTRODUÇÃO
Ivete Farah 
M ônica Bahia Schlee 
Raquel Tardin
Como o país que viu nascer um dos mais ilustres paisagistas do mundo - Roberto 
Burle Marx - apresenta sua produção paisagística contemporânea? Quais as linhas de 
atuação que hoje se destacam? Em que medida a trajetória da produção paisagística brasi­
leira dos últimos trinta anos reflete legados e influências, conquistas alcançadas e deman­
das da nossa sociedade em transformação? Quais os desafios e os novos horizontes da
Fundação da Abap. Rosa Kliass, Roberto Burle Marx, Paulo Nogueira Neto, 
Mauro de Moraes Vitor e Hermes Moreira de Souza.
profissão do arquiteto paisagista brasileiro no século XXI?
Essas são algumas das questões que nos propusemos a investi­
gar neste livro. Vamos abordá-las especificamente a partir do per­
curso trilhado pela Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas 
(Abap), instituição fundada em 1976, cuja história se confunde 
com o desenvolvimento e a consolidação desse campo profissional 
no Brasil. Ao resgatar o papel da Abap nesse processo, esta publica­
ção vem celebrar seus trinta anos de criação.
Na busca por abordagens diversificadas, reunimos aqui textos 
de professores e pesquisadores de diversas instituições brasilei­
ras, com a finalidade de apresentar um panorama representativo 
da produção dos profissionais ligados à Abap nos trinta anos de 
sua existência, estendendo o olhar a projeções futuras. Para sua 
publicação, retomou-se a parceria, de longa data, da Abap com o 
Programa de Pós-graduação èm Urbanismo (Prourb) da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ), que 
conta com a realização de ações e eventos relevantes para o desenvolvimento da profissão 
no Brasil.
O livro está organizado em cinco capítulos, que se distribuem em duas partes, 
caracterizando diferentes momentos da produção paisagística. A primeira parte trata dos 
caminhos precursores da arquitetura paisagística no Brasil até 1976. Seu primeiro capí­
tulo oferece um panorama da produção paisagística brasileira nos três primeiros séculos 
do Brasil após a colonização portuguesa. Nele, Hugo Segawa delineia as atitudes da so­
ciedade brasileira, relacionando-as com a trama das nossas cidades, tendo como recorte 
os espaços públicos ajardinados. No segundo, Ana Rita Sá Carneiro aborda os rumos da 
produção paisagística brasileira entre as décadas de 1930 e 1976, relacionando-os à busca 
pela afirmação das raízes brasileiras e à construção do caráter da produção paisagística 
nacional.
Na segunda parte, analisamos a contribuição dos associados da Abap na produção 
paisagística brasileira ao longo dos últimos trinta anos. Ela se desenvolve em três capítu­
los - de autoria de Ivete Farah, Mônica Bahia Schlee e Raquel Tardin - que permitem a 
visualização dos caminhos da profissão do arquiteto paisagista brasileiro, oferecendo um 
panorama dos planos, projetos e obras realizados, e analisando essa produção quanto aos 
tipos de espaços livres, aos partidos adotados, à linguagem projetual, aos aspectos morfo- 
lógicos, funcionais, e às tendências conceituais que orientaram sua inserção nos diversos 
contextos urbanos brasileiros.
À guisa de conclusão, Lucia Costa e Paulo Pellegrino apresentam uma reflexão 
em direção ao futuro da profissão de arquiteto paisagista no Brasil, em que abordam des­
dobramentos e perspectivas para a prática projetual, a partir do material e das discussões 
propostas no corpo dos artigos apresentados.
21
Introdução
Pa i s a g i s m o n o B r a s i l e a f o r m a ç ã o d o a r q u i t e t o p a i s a g i s t a
No Brasil, a produção paisagística do período 1976-2006 espelha as tendências 
do projeto da paisagem no contexto internacional e, entre outros fatores, reflete condi- 
cionantes ditadas pela conjuntura sociocultural, científica e urbanística do país. Ao longo 
da década de 1970, desenhou-se um quadro pontuado por três características principais: 
a valorização do ambiente urbano, 0 desenvolvimento do movimento ambientalista e 0 
início dos estudos interdisciplinares como subsídio ao planejamento urbano e regional. 
Ao longo desses trinta anos, a atuação do arquiteto que trabalha com a paisagem, tanto na 
escala urbana como nas escalas metropolitana e regional, tornou-se gradativamente mais 
reconhecida no Brasil, acrescentando um olhar diferenciado ao de diversos profissionais 
que tratam do tema, como geógrafos, historiadores, antropólogos, entre outros.
Na atualidade, a complexidade das paisagens urbanas tem levado o projeto pai­
sagístico a extrapolar suas condicionantes e qualificações tradicionais para, simultanea­
mente, considerá-las integradas, de acordo com a concepção de que a paisagem, por si 
só, está relacionada a diversos campos disciplinares. Tal tendência vem reforçar o caráter 
interdisciplinar do tema e ampliar o campo de atuação do arquiteto paisagista perante 
outros profissionais que elegeram a paisagem como objeto de trabalho. Na criação de 
novos espaços livres destinados a uma variada gama de funções, na revitalização de áreas 
centrais, no planejamento em âmbito regional e urbano, na melhoria da qualidade de vida 
das nossas cidades e na preservação do nosso patrimônio natural e cultural, o papel do 
arquiteto paisagista tem-se desempenhado de forma cada vez mais atuante.
" A formação do profissional dessa área ainda é um ponto de discussão, acirrado 
pelo debate crítico acerca das linhas de atuação na produção da paisagem e pelos campos 
disciplinares que lhe são afins. Observam-se - tanto no Brasil como em âmbito internacio­
nal - diversidades no caráter dessa formação, com títulos, currículos e enfoques diferen­
ciados.
22Arquitrtura paisagística contcmporânva no Brasil
A expressão arquitetura da paisagem”, cunhada por Frederick Law Olmsted e Cal- 
vert Vaux, criadores do Central Park, em Nova York, e de diversos outros parques urbanos 
na Costa Leste norte-americana, em fins do século XIX, passou a designar a profissão, que, 
a partir de 18 9 9 , foi institucionalizada nos Estados Unidos com a criação da Am erican 
Society o f Landscape Architects (Asla), fundada por profissionais oriundos de diversas 
form ações.1
No Brasil, ainda hoje, a formação do profissional em arquitetura paisagística segue 
privada de um nível de graduação específico. Em muitos casos, a formação do profissional 
em paisagism o consolida-se através da prática direta nos escritórios ou através de cursos 
de pós-graduação ou extensão universitária.
Nas últimas três décadas, os cursos de formação paisagística passaram a ocorrer, 
de form a precursora, em nível de pós-graduação em escolas como a Faculdade de A r­
quitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)
e a FAU-UFRJ, disse- 
minando-se em outras cidades do país. Importantes grupos de pesquisa em paisagismo 
constituíram-se ao longo dos últimos anos, possibilitando a evolução do processo reflexivo 
e analítico relativo a esse campo disciplinar e à sua aplicação na prática projetual, em con­
sonância com as necessidades locais.
As temáticas abordadas nesses grupos de pesquisa, que contam com a presença de 
vários profissionais associados à Abap,* trazem contribuições relacionadas ao estudo da 
paisagem urbana e territorial brasileira. A associação entre pesquisa e atuação profissional 
é fundamental para o desenvolvimento e evolução do campo disciplinar em arquitetura
Para um panorama da produção paisagística norte-americana e a contribuição da American Society o f Landscape Archi­
tects no período de 1899, data da sua criação, a 1999. ver Melanie Simo, 100 Yearsof Landscape Architecture: Some Pattems 
o f a Cenlury (Washington. DC: Asla, 1999).
Destaca-se a contribuição de Sílvio Soares Macedo através da organização da revista Paisagem e Ambiente: Ensaios, lança­
da em 1986, e de várias outras publicações abordando temas relacionados à paisagem, que aglutinaram e divulgaram a 
produção paisagística realizada no país e a produção científica de professores de diversas universidades brasileiras. Ao 
longo das décadas de 1980 e 1990. Macedo consolidou o grupo de pesquisa em paisagismo da FAU-USP, dando conti­
nuidade ao trabalho de Miranda Martinelli Magnoli na construção, consolidação e difusão dos fundamentos conceituais 
referentes à paisagem urbana brasileira.
*3
da paisagem e, nesse sentido, a relação estabelecida entre a Abap e as universidades tem 
sido bastante frutífera, como demonstrado pelos frequentes seminários, cursos e congres­
sos promovidos pela instituição em parceria com a academia. Tais encontros abordaram 
temas de relevância para o paisagismo e têm envolvido, além de instituições de pesquisa, 
a parceria com órgãos públicos de gestão e administração.
Não menos importante para a formação profissional de diversas gerações de arqui­
tetos paisagistas foi a contribuição dos escritórios de Roberto Burle Marx, no Rio de Janei­
ro, e de Roberto Coelho Cardozo e Rosa Grena Kliass, em São Paulo. Vale ainda ressaltar 
o papel fundamental de Burle Marx e Fernando Chacel como incentivadores da dimensão 
científica e interdisciplinar desse campo de atuação, ao incorporar a estrutura da natureza 
brasileira em seus projetos e divulgar esses conceitos em fóruns nacionais e internacio­
nais. Um número considerável de escritórios consolidados que se dedicam ao projeto 
paisagístico, criados ao longo desse período, colaboraram nesse percurso e têm inovado 
em suas abordagens projetuais, trazendo contribuições conceituais e práticas para o de­
senvolvimento do paisagismo no Brasil.
A CONSOLIDAÇÃO DA PROFISSÃO DE ARQUITETO PAISAGISTA NO BRASIL
Ao longo de sua existência, a Abap contribuiu significativamente para a consolida­
ção da profissão de arquiteto paisagística no Brasil, por seu papel aglutinador nos encon­
tros, seminários, congressos nacionais e internacionais, nas palestras e mesas-redondas 
que promoveu. Essas atividades foram fundamentais para a divulgação e o intercâmbio 
do conhecimento na área. Com apenas dois anos de criação, a Abap organizou, em 1978, 
0 XVI Congresso Mundial da International Federation o f Landscape Architects (Ifla), na 
cidade de Salvador, contando com a participação de profissionais de 25 países, tendo como 
tema principal o desenvolvimento espontâneo dos assentamentos humanos nos países
em vias de industrialização, enfatizando 
o papel do arquiteto paisagista para a me­
lhoria da qualidade de vida nas cidades. O 
encontro representou um marco no desen­
volvimento desse campo disciplinar no país 
e na construção de suas relações com as co­
munidades internacionais.
Nesse congresso foram destacadas 
algumas questões que ainda hoje perma­
necem relevantes, como: a complexidade 
da intervenção na paisagem, reforçando a 
premissa do envolvimento de profissionais 
de diversos campos disciplinares; o caráter 
processual das estruturas paisagísticas; e a 
indicação, como princípio básico, da rea­
lização de planos e programas visando à 
conciliação política com as necessidades 
de desenvolvimento e de manutenção dos 
remanescentes de paisagens naturais no 
meio urbano, com garantia da qualidade de 
vida da população.
O aprimoramento da formação dos 
profissionais é questão que sempre esteve 
presente nas atuações da instituição desde 
a sua fundação. Na primeira década, desta- 
caram-sc os cursos ministrados pela Abap 
com o Instituto dos Arquitetos do Brasil 
(IAB), visando a ampliar os conhecimentos
XVI,k IFLA WORLD CONGRESS1978
SALVADOR • B AH IA • BRASIL 2 5 a 28 de setembro
XVI Congresso Mundial da Ifta. em Salvador. Roberto Burle Man o gcwcraackx da Bahtt. Roberto S
Ciça Gorski, Sidney Linhares, Rosa Kliass, prof. Luiz 
Emygdio de Mello Filho e sua esposa, dona Irene.
específicos e interdisciplinares do profissional da arquitetura da paisagem, tornando-o 
mais qualificado ao seu desempenho. A partir daí, vários cursos de extensão e capacitação 
têm sido organizados.
Na segunda década, surgiu o Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em 
Escolas de Arquitetura (Enepea), e, com sua disseminação, a Abap voltou sua atenção ao 
ensino de paisagismo nas escolas de arquitetura. Na última década, o foco dirigiu-se ao 
aperfeiçoamento da profissão e à formação e capacitação de docentes, com a elaboração do 
curso Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)/ 
Fundação para a Pesquisa Ambiental (Fupam).
A realização de cursos de extensão e capacitação proveu condições para ampliar 
as ferramentas dos profissionais da arquitetura da paisagem no Brasil. Os diversos cursos 
promovidos pela entidade nas últimas décadas contemplam um farto repertório de temas 
e conhecimentos interdisciplinares, envolvendo a participação de profissionais de áreas 
afins; por exemplo, o que foi organizado pela Abap com o Instituto dos Arquitetos do Bra­
sil no Rio de Janeiro (IAB-RJ), em 1982, contando com a participação de renomados pro­
fissionais, como Rachel Sisson e Fernando Chacel. Foram organizadas equipes de profis­
sionais especializados em disciplinas específicas para ministrar temas importantes, como 
no curso Vegetação Aplicada ao Paisagismo, no início da década de 1980, que contou com 
a valiosa contribuição de Luiz Emygdio de Mello Filho, Aziz Ab’Sáber, Mario Guimarães 
Ferri, Hermes Moreira de Souza, entre outros.
As discussões a respeito do ensino do paisagismo nas faculdades de arquitetura 
foram fomentadas a partir do I Colóquio sobre Ensino de Arquitetura Paisagística no 
Brasil, realizado em 1993, em ação conjunta com a FAU-USP, configurando-se como 0 
primeiro encontro de professores de paisagismo em escolas de arquitetura. Plantada a se­
mente desse debate, ela evoluiu para o maior fórum brasileiro de discussão sobre o tema, 
o Enepea, que, no ano de 2008, assistiu à concretização de sua 9a edição. Como resultado 
desses encontros, valorizou-se e difundiu-se a importância desse campo disciplinar no 
ensino de arquitetura e urbanismo no país, ampliando sua abrangência em termos de
m
m
Visita técnica nos anos 1980.
temáticas abordadas, seu papel, carga horária no currículo das faculdades de arquitetura e 
urbanismo, e sua importância para a formação de profissionais.
Em 2002, foi desenvolvido o programa de capacitação em arquitetura paisagística, 
promovido pela Abap com a Ifla, Unesco e Fupam.3 Com duração de dois anos, o curso 
foi elaborado com o objetivo de definir conteúdos e métodos voltados para a prática profis­
sional em paisagismo, e de
servir como modelo para o ensino relacionado ao projeto e ao 
planejamento da paisagem.
A realização de sessões técnicas, que têm como objetivo relatar a prática de atuação 
de arquitetos paisagistas, demonstra o envolvimento da instituição com as questões de 
projeto e do exercício profissional. Essas sessões começaram com reuniões de associados, 
em que aconteciam as trocas de experiências, evoluindo ao longo do tempo para a apresen­
tação de projetos específicos, temas selecionados, sendo convidados profissionais externos 
à instituição. Nessa mesma linha, um outro tipo de evento se destaca - as visitas técnicas 
- visando à experimentação de importantes projetos paisagísticos e paisagens.
O primeiro programa foi coordenado pelos professores Paulo Pcllegrino (USP) e |ames Taylor (Ifla),
I Congresso Internacional sobre Metodologias e Práticas 
Projetuais em Arquitetura Paisagística na América Latina. 
José Tabacow, Zelia e John Stoddart, Fernando Chacel, 
Eduardo Barra e Carlos Martner.
Exposição da Ia Premiação Internacional de Arquitetura 
Paisagística da Abap durante o I Congresso Internacional.
Visita técnica ao Sítio Roberto Burle Marx (Rio de Janeiro, 
RJ) durante o I Congresso Internacional, com orientação 
de José Tabacow.
O foco na atuação prática também caracterizou os encontros e eventos promovi­
dos pela parceria Abap/Prourb, representando um diferencial temático, envolvendo dis­
cussões sobre projetos contemporâneos e especificidades da arquitetura paisagística. O 
Encontro Internacional sobre Parques Públicos Contemporâneos: Conceitos e Projetos,4 
realizado no Rio de Janeiro em 2003, com a participação de profissionais da área, em âm­
bito nacional e internacional, marcou essa atuação.
Nesse sentido, outro evento que se destacou foi o I Congresso Internacional sobre 
Metodologias e Práticas Projetuais em Arquitetura Paisagística na América Latina, com 
a organização da Ia Premiação Internacional de Arquitetura Paisagística da Abap, em 
2006, ambos em parceria com o Prourb/FAU-UFRJ. Esses eventos divulgaram a produ­
ção latino-americana em arquitetura paisagística, contrapondo idéias, dificuldades e carac­
terísticas próprias desse campo de trabalho em diversos países. A exposição de projetos 
de renomados profissionais de paisagismo, com abrangência internacional, delineou um
4 Esse evento foi organizado pelos professores Lucia Costa (Prourb) e Eduardo Barra (Abap-Rio).
■a no Bros 28
quadro referencial da produção paisagística 
latino-americana da atualidade.
Outros eventos internacionais orga­
nizados pela entidade que desempenha­
ram importante papel na consolidação da 
arquitetura paisagística nacional foram a 
Ifla Western Regional Conference 2002, 
na cidade de Belém do Pará, cujos princi­
pais temas discutidos foram a requalifica- 
çâo dos espaços urbanos e a conservação 
do patrimônio paisagístico, tendo sido le­
vantadas, a partir deles, importantes ques­
tões relativas a conceitos e experiências de 
intervenção nos espaços urbanos, a fim de 
estabelecer diretrizes para novas ações que 
respeitem e preservem os valores ambien­
tais e culturais.
A Abap também se destacou na 
congregação de profissionais em nível na­
cional, suscitando trocas e discussões per­
manentes por meio de sua participação 
na organização do I Encontro Nacional de 
Arquitetos Paisagistas, em 1981, em Curi­
tiba, e do apoio institucional ao Congresso 
Brasileiro de Paisagismo, de periodicidade 
anual, encontrando-se, em 20 0 9 , em sua 
12* edição.
1 Encontro Nacional de Arquitetos Paisagistas. Roberto Burle Marx, Jayme Lemer, Fernando Chacel e Rosa Kliass.
2 9
Luciano Fiaschi e Rosa Kliass carregam faixa da Abap em manifestação públic;
Em 2005, o I Seminário Nacional 
sobre Regeneração Ambiental de Cidades: 
Aguas Urbanas, realizado no Rio de Ja­
neiro, organizado em uma ação interativa 
entre a Abap, a Prefeitura da Cidade do 
Rio de Janeiro, o Programa de Pesquisa e 
Pós-graduação em Arquitetura (Proarq), da 
FAU-UFRJ, e o Grupo de Pesquisa Histó­
ria do Paisagismo (GPHP-EBA), também 
da UFRJ, contribuiu para a divulgação das 
reflexões acerca das experiências contem­
porâneas de regeneração ambiental de ci­
dades. Seu tema central foi a reabilitação de 
ambientes urbanos situados às margens de 
corpos d'água - orlas marítimas e fluviais, 
baias, praias, lagoas, rios e canais.
Outro caminho essencial na forma­
ção e consolidação profissional do arquiteto 
paisagista foi a atuação da Abap e de seus 
associados na difusão do conhecimento por 
meio de publicações que abordavam a pro­
dução da arquitetura paisagística no Brasil. 
Publicações como Cadernos de Paisagismo
Ver Lúcia no Fuschi. CuJtm oi Brêsàeitm At AtytXfttfi. 
feuogisntp I. vol. 5 (Slo Paulo: Projeto. 1980$, e Benedi­
to Abbud (org.). CsAtmot Bnnim w At Arynirrun» Am* 
tagismo II. vol. ít (y ed São Paulo Projeto. 198(0
3°
e Visões de paisagem6 constituíram-se em um dos principais veículos de divulgação não só 
da produção dos profissionais da arquitetura da paisagem em todo o Brasil, m as tam bém 
das reflexões sobre a produção paisagística brasileira. Desde 1 9 9 9 , a Abap veicula o seu 
boletim informativo, que, a partir de 2005, passou a ser denominado Paisagem Escrita, 
distribuído em versão impressa e digital.
Cabe ressaltar que essas realizações contribuíram para form ar opiniões e inform ar 
a sociedade, mostrando a importância da defesa dos valores do patrimônio paisagístico 
nacional e dos interesses coletivos de nossa sociedade. A contribuição da entidade se fez 
presente em várias comissões oficiais, ligadas ao agenciamento da paisagem urbana em 
esferas públicas e privadas, posicionando-se em favor da preservação da paisagem cultural 
e natural em diversas cidades brasileiras. Um caso exemplar é a atuação do Núcleo-Rio na 
participação da luta para salvaguardar importantes referências paisagísticas da cidade do 
Rio de Janeiro, como o Campo de Santana, o Passeio Público, a Praça Luís de Cam ões e, 
mais recentemente, o Parque do Flamengo, ameaçados de descaracterização por interven­
ções m unicipais de caráter temporário ou permanente.
Por fim, este livro representa mais uma iniciativa na construção do conhecim ento 
sobre a produção da paisagem no Brasil, no intuito de colaborar para o desenvolvim ento 
e a divulgação da arquitetura paisagística, ofício que, cada vez m ais, configura-se funda­
mental nos processos de intervenção em nossas paisagens. Desejamos que nossos olhares 
contribuam para futuras reflexões e discussões sobre tema tão rico, amplo e apaixonante.
Ver Guilherme Mazza Dourado (org.), Visões de paisagem: um panorama do paisagismo contemporâneo no Brasil (São Pau­
lo: Abap, 1997).
3 *
B i b l i o g r a f i a
ABBUD, Benedito (org.). Cadernos Brasileiros de Arquitetura: Paisagismo II. Vol. n . y ed. São Paulo:
Projeto, 1986.
DOURADO, Guilherme Mazza (org.). Visões de paisagem: um panorama do paisagismo contemporâneo no Brasil. 
São Paulo: Abap, 1997.
FIASCHI, Luciano. Cadernos Brasileiros de Arquitetura: Paisagismo I. Vol. 5. São Paulo: Projeto, 1986.
S1MO, Melanie. 100 Years o f Landscape Architeclure: Some Pattems o f a Century. Washington, DC: Asla, 1.999.
■
M
II
i
I
CAPÍTULO 1
ARQUITETURA PAISAGÍSTICA ATÉ 1930
Hugo Segawa
Difícil tratar de um tema como a arquitetura paisagística nos três primeiros sécu­
los do Brasil. É um período longo de nossa história, que aqui deve ser revisado num ensaio 
- por definição, escrito nada longo. Ademais, há a contingência de se olhar para trás na 
perspectiva da arquitetura paisagística, um conceito contemporâneo aplicado a momentos 
ancestrais.
Identificar as atitudes das sociedades
humanas diante das paisagens e reconhecer 
a figura do arquiteto paisagista em tempos imemoráveis seguem como desafios para os 
historiadores e naturalistas, e também para os poetas. Talvez excesso de cautela para uma 
proposição nada pretensiosa que desenvolvo adiante. Terei como recorte os espaços pú­
blicos ajardinados: jardins (às vezes semipúblicos), passeios, bosques, parques. Espaços 
necessariamente desenhados - embora nem sempre se conheçam aqueles que os deli­
nearam - e relacionados com a trama das cidades. Tentarei resgatar alguns significados 
desses logradouros, muitos deles com vestígios não no território, mas apenas em relatos 
dos livros.
No imaginário do europeu, navegador e renascentista, a América nasceu sob o sig­
no do paraíso perdido. A exuberância dos trópicos propiciou o lugar mitológico da Utopia. 
de Thomas More (1478-1535). No confronto entre civilização e natureza, a porção ibero- 
-americana acomodou peculiares hipóteses de domínio territorial, prestou-se como campo 
de experimentação: os conquistadores dominaram seus nativos, organizaram cidades e 
campos, e, na dialética das culturas, criou-se o laboratório americano.
Como sabemos, a América Central, o Caribe e a América do Sul foram domínios 
espanhóis, tendo presença portuguesa na colonização do que mais tarde se configurou 
como Brasil. Todavia, não foram portugueses ou espanhóis os primeiros a desenvolverem 
um reconhecimento da natureza do Novo Mundo, linlre 1(147 *' 1644. Johann Moritz von 
Nassau-Siegen (1604-1679). conhecido entre nós como Mauricio de Nassau, estalu-lei eu 
na cidade do Rccile uma possessão holandesa e trouxe consigo diversos naturalistas, que 
realizaram extensa documentação sobre a flora, fauna, geografia, observações as tro n ô m i­
cas e meteorológicas, linlre os primeiros registros iconográficos da paisagem americana, 
estão as pinturas de Frauz Post (1612-1680), Alberl Ekhout (1610?- 16655) e /ac harias Wa- 
gener (1 614-1688). Dentro desse espírito de curiosidade naturalista. Nassau foi o criador 
do primeiro jardim botânico 11a América, por volta de 1642, na cidade do Rec ife. Todavia, 
pouco sabemos a respeito desse jardim, senão pelos relatos de Frei Manuel Calado do 
Salvador (1648) e de Gaspar Harléu (1647).
A ARTE DE PASSEAR
Podemos considerar o Passeio Público do Rio de Janeiro como o primeiro lardim 
urbano construído no Brasil, li representante de uma geração peculiar de espaços públicos 
ajardinados ibero-americanos que floresceram ao longo do século XVIII
Nada mais singular, do ponto de vista urbanístico do Brasil do século XVIII, que 
a realização do Passeio Público do Rio de janeiro. O que surpreende n e s s e recinto jjar 
dinado? A vegetação e o panorama do seu terraço deslumbraram os visitantes estrangei 
ros mais sensíveis. Diíerentemente dos e spaços abertos do urbanismo colonial, o Passeio 
Público, em si, não era um símbolo evidente da autoridade portuguesa - como seria o 
campo onde se fincava o pelourinho, ou se erguiam o paço. a câmara r cadeia ou o quartel 
, tampouco o vazio defronte ou em volta do rdifii 10 religioso o largo da matriz, o acho 
francíscano ou beneditino, 0 terreiro jesuíta. O Passeio Público não se prestava paia nnol-
durar nenhum monumento. Ao contrário, era um monumento à natureza, monumento a 
si mesmo.
Em 1720, o Brasil era elevado à condição de vice-reino. Em 1763, a sede do vice- 
-reinado foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, com o incremento da exploração 
do ouro das Minas Gerais. O Rio de Janeiro do início do século XVIII era 0 maior assen­
tamento meridional português na América. Maior, mas não notável: porto de localização 
estratégica no domínio metropolitano, cidade administrativa, militar e mercantil a contro­
lar e servir uma vasta área ao sul do vice-reinado. Caracterizava-se por uma implantação 
peculiar: uma cidade virtualmente encarapitada sobre morros, vigiando o horizonte m arí­
timo, olhando desconfiada para as miasmáticas planícies, sujeitas aos humores da maré e 
aos horrores das invasões.
Estudos contemplando 0 Passeio Público informam que sua execução decorreu 
entre 1779 e 1783, por ordem do vice-rei dom Luís de Vasconcelos (1740-1807), que encar­
regou o artista Valentim da Fonseca e Silva (c. 1745-1813), 0 Mestre Valentim - importante 
escultor, arquiteto e, no caso, urbanista do Rio de Janeiro colonial - , a traçar o recinto 
ajardinado.
Sua localização decorreu de uma estratégia de tratamento e aproveitamento de 
áreas alagadas e charnecas, buscando conquistar terreno firme num sítio carente de ho­
rizontes de expansão, marcado por elevações e baixadas pantanosas. Alinhar o desenvol­
vimento da cidade em direção sul deve ter priorizado 0 esforço de aterrar a lagoa do Bo­
queirão da Ajuda - estabelecendo a comunicação para os lados dos futuros bairros do 
Flamengo e de Botafogo - e implantar signos de urbanização mediante o alinhamento de 
novas ruas e a criação do próprio Passeio Público.
O Passeio Público do Rio de Janeiro espelha também o surgimento, no século 
XVIII, de lugares especificamente desenhados para a apreciação da paisagem marítima. O 
belvedere como lugar de contemplação está na origem do advento do gosto pelo panorama.
O belvedere marítimo é uma inovação que surgiu com a apreciação do espetáculo do mar.
Busto do Mestre Vale 
Rio de Janeiro.
•ntim no Passeio Público do
39
Antes disso, a organização das construções nas áreas litorâneas usualmente voltava as costas 
para as águas. O surgimento de estruturas chamadas esplanades, teiraces e marine parades pe­
los ingleses, ou certas práticas mediterrâneas que deram origem a termos como marina ou 
montpellier, revelava a nova disposição de permanecer e usufruir das delícias à beira-mar.
O Passeio Público é um exemplo desses mirantes à beira d’água, necessariamente 
relacionados com espaços arborizados e, nesse sentido, antecedeu aos inúmeros congêne­
res europeus que se multiplicaram ao longo do século XIX. A organização espacial que se 
opera no Passeio Público, no entanto, revela uma extraordinária justaposição de sentidos. 
A paisagem de árvores, flores e jardins era o domínio do repouso e da harmonia, espaço 
edênico mitificado e idealizado pelo ser humano. O mar, ao contrário, pelo mistério de 
seu vazio insondável, era o abismo desconhecido a se desvendar, fascinante paisagem a 
infundir terror e respeito, o não domínio do ser humano. O terraço do Passeio Público era 
a tênue linha das suscetibilidades humanas: ao ser humano concedia-se a simultaneidade 
de defrontar-se com duas paisagens antitéticas, desafiando os seus anseios de formular 
um imaginário capaz de explicar as raízes da existência, o seu relacionamento com a na­
tureza e o mundo.
Em 1861, o Passeio Público sofreu uma remodelação projetada pelo botânico fran­
cês Auguste François Marie Glaziou (1833-1906), transformando os canteiros geométricos 
de Mestre Valentim em percursos curvilíneos, ao gosto da época. Apesar de seu traçado ter 
sido reformado em 1862, o Passeio Público do Rio de Janeiro é o único remanescente de 
jardim público do período colonial entre nós.
O Passeio Público foi contemporâneo ao surgimento dos primeiros jardins pú­
blicos europeus, na segunda metade do século XVIII, símbolos do pensamento iluminis- 
ta a invocar práticas sociais em que a aristocracia e a burguesia encontravam um lugar 
comum. Surpreendente foi, em plena vigência do colonialismo português, 0 vice-rei do 
Brasil ter-se proposto a construir um jardim público à maneira dos recintos existentes 
na Europa. Espaços que - no Velho Mundo - serviam de palco para as transformações 
das formas de sociabilidade na aristocracia, na pequena nobreza, e eram testemunho da
4 °
ascensão da burguesia. Essa composição social e política soava estranha ao escravocrata
meio colonial carioca.
Até o ajardinamento do Campo de Santana (1880), o Passeio Público foi, por qua­
se um século, o único recinto com as características de local "para ver e para ser visto . 
Descrições de viajantes ao longo do século XIX revelaram instantes animados, mas, muito 
mais, momentos de abandono e solidão de um espaço programado como público. Público 
em um sentido que deve ser examinado em seu tempo. Espaço de acesso controlado, de 
comportamento vigiado, um mundo à parte. Tão à parte, que os visitantes estrangeiros 
estranhavam a ausência da população no recinto e a falta de empenho dos governantes em 
conservá-lo, apesar dos tantos predicados que vislumbravam no local.
Há de se considerar que esses defensores forâneos traziam um olhar educado, 
sensível a outros significados. A natureza com recortes específicos: a natureza misteriosa 
- o mar - e a natureza ordenada - o jardim - , juntas, lado a lado, confrontando-se num 
espaço criado por seres humanos. Desconhecido o culto à natureza na forma humanizada 
de um jardim; imerso num horizonte circundante que parece infinito, não só a partir do 
terraço, mas de qualquer lugar e em qualquer direção para onde a imagem saturadora dos 
trópicos permanentemente impregna as retinas, que significado tem um Passeio Público 
como esse no Rio de Janeiro? Como o viajante norte-americano Thomas Ewbank exultou 
em 1846, "não deixei este paraíso terrestre antes do pôr do sol". Era um paraíso - paraíso 
artificial, cultivado pelo ser humano.
A TERRA COMO FONTE DE RIQUEZA
Os recursos botânicos da colônia iriam tornar-se do interesse de Portugal somente 
a partir do fim do século XV II1, quando a Fisiocracia inspirou a Coroa portuguesa a pro­
mover ações de reconhecimento de plantas do além-mar com potencial econômico. Num 
primeiro instante, os jardins botânicos coloniais voltaram-se tanto para 0 reconhecimento
Campo de Santana.
4*
botânico nativo como para a aclimatação de plantas exóticas, em especial, para introduzir 
no território a cultura de especiarias das Índias Orientais. Em 1796, a Carta Régia orde­
nava a criação do Jardim Botânico de Belém, não muito distante do Jardim Botânico de 
Caiena. estabelecido pouco antes pelos franceses em seu domínio. O Aviso Régio de 1798 
ordenou aos governadores das capitanias de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Pau­
lo a constituição de jardins botânicos nos moldes do de Belém. Os governadores tomaram 
as primeiras iniciativas para o cumprimento do Aviso, mas não concluíram a tarefa.
Com a transferência da Corte portuguesa para 0 Brasil, 0 príncipe regente dom 
João mandou estabelecer, em 1808, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o segundo por 
iniciativa portuguesa e o único que chegou até nossos dias. Manuel Arruda da Câmara 
(c. 1752-1811), naturalista brasileiro comissionado pelos portugueses para realizar expedi­
ção científica pelo Nordeste, defendia a ideia de constituir vários jardins botânicos, argu­
mentando a importância econômica da agricultura em um reino com a extensão territorial 
do Brasil. Em 18 11, foi criado o Jardim Botânico de Olinda (logo desaparecido), como con- 
traparte daquele do Rio de Janeiro. Somente após a Independência do Brasil foram fun­
dados. em 1825, outros hortos botânicos: Ouro Preto (desaparecido) e São Paulo (que se 
transformou no Jardim da Luz). Na área destinada ao horto botânico de Salvador, criou-se 
o Passeio Público, em 1803. Todos esses recintos eram resquícios do Aviso Régio de 1798.
Apesar do impulso original, os jardins botânicos ao longo do século XIX não logra­
ram alcançar o objetivo fundamental de desenvolvimento científico, tendo sido, de manei­
ra geral, desprezados pelos naturalistas e apreciados pelos frequentadores como lugar de 
passeio.
O SÉCULO DA SALUBRIDADE
Figura emblemática no paisagismo brasileiro da segunda metade do século XIX 
foi o francês Auguste François Marie Glaziou, engenheiro civil e botânico, que atuou no
jardim Botânico do Rio de janeiro.
Brasil entre 1858 e 1897, primeiro como Diretor-Geral de Matas e Jardins e, depois. Dire­
tor de Parques e Jardins da Casa Imperial, no Rio de Janeiro. O reconhecimento da flora 
brasileira e sua introdução nos jardins públicos no Rio de Janeiro foi contribuição impor­
tante de Glaziou. Muitas décadas depois, Roberto Burle Marx reconhecería no paisagista 
francês uma fonte de inspiração, por sua preocupação com a flora brasileira. Entre os pro­
jetos paisagísticos reconhecidos como de sua autoria estão os jardins do Palácio Imperial 
de Petrópolis, 0 Parque São Clemente (Nova Friburgo, RJ), as remodelações dos jardins 
do Passeio Público (1861), da Quinta da Boa Vista (1874-1878), e o projeto paisagístico do 
Campo de Santana (1873-1880 - atual praça da República, no centro do Rio de Janeiro), 
sua principal realização, seguindo padrões estéticos vigentes na França no final do século 
XIX.
A passagem do século XIX para 0 XX foi marcada pelo reconhecimento da im­
portância da vegetação no espaço urbano como fator de salubridade. Nesse período, a 
consolidação da disciplina urbanística evidenciou a importância de áreas verdes nas cida­
des. Inúmeras realizações dessa época fundamentaram-se nessa convicção. Dentro dessa 
perspectiva, o sistema de parques e jardins estabelecido pelo intendente Antônio José de 
Lemos (1843-1913) na cidade de Belém, entre 1898 e 19 11, foi um dos mais bem-sucedidos: 
a arborização da área central que caracteriza a capital paraense, a praça da República, a 
praça Batista Campos e o Bosque Municipal foram realizações do apogeu da economia 
da borracha. O provável responsável pela implantação desse sistema foi Eduardo Hass 
(?-i9o8), diretor do Serviço dos Bosques, Parques, Jardins e Hortos Municipais. Um dos 
mais significativos remanescentes dessa época é o Bosque Municipal, atual Bosque Rodri­
gues Alves. Sua criação data de 1883, como forma de ocupação de uma área livre no limite 
da área urbana da época. Em 1903, foi reformado e reinaugurado pelo intendente Antônio 
Lemos. O bosque ocupa uma área retangular de aproximadamente 152 mil metros qua­
drados, hoje completamente cercada pela cidade. Foi 0 maior jardim público de Belém no 
início do século XX, e é ainda um importante logradouro para a cidade, constituindo uma 
reserva natural da vegetação amazônica, não obstante as transformações e perdas em um
Quinta da Boa Vista
século de existência. Está dividido em quatro quadriláteros permeados por vias curvilíneas 
e com um lago central constituído em foco para um cenário típico dos jardins brasileiros 
da passagem do século XIX para o XX, com seus equipamentos: regatos, cascatas, ilhas, 
pontilhões, rotundas, grutas, pavilhões, viveiros para aves e animais amazônicos.
O primeiro grande gesto da República em Minas Gerais foi a decisão, em 1893, de 
transferir a capital do estado de Minas Gerais da colonial Ouro Preto para uma cidade 
nova. Belo Horizonte, inaugurada em 1897, foi um marco de afirmação de uma moderni­
zação política e uma aposta no futuro, simbolizados na materialização de um espaço ur-
Quinta da Boa Vista
bano. A ação da Comissão Construtora da 
Nova Capital, liderada por Aarão Reis (1853- 
1936) e seus colegas egressos da Escola 
Politécnica do Rio de Janeiro - eminente 
reduto positivista caracterizou uma das 
primeiras iniciativas em que um saber téc­
nico sistematizado fundamentava o projeto 
de uma cidade. Eram os alvores do urba­
nismo moderno, alimentando a jovem Re­
pública. No traçado da nova capital, Aarão 
Reis reservou uma área de 640 mil metros 
quadrados para o Parque Municipal. Para 
o desenvolvimento das obras, o paisagista 
francês Paul Villon, um ex-assistente de 
Glaziou, fixou residência no Parque. A ma­
turação desse logradouro, todavia,
foi lenta, 
e sua fisionomia geral, contando com equi­
pamentos típicos da época, como os descri­
tos para o Bosque Rodrigues Alves, foi sen­
do gradativamente implantada, sobretudo 
depois da Primeira Grande Guerra.
Em 19 11, o urbanista francês Joseph- 
Antoine Bouvard (1840-1920) propôs para 
a cidade de São Paulo a criação de duas 
grandes áreas ajardinadas: o Parque do 
Anhangabaú (lentamente executado até o 
fim da década de 1910), e o Parque da Vár­
zea do Carmo. As áreas alagadiças do rio
4 6
Tamanduateí, lindeiras ao marco da fundação da cidade, eram conhecidas como Várzea 
do Carmo, um setor insalubre, obstáculo para a circulação e expansão da cidade. O primei­
ro esforço de urbanização foi um aterro, aproveitado para a criação da Ilha dos Amores, 
em 1872, na tentativa de estabelecer um jardim público, mas que teve vida efêmera. Foi 
o paisagista E. F. Cochet o responsável pelo projeto paisagístico que, a partir de 1918, foi 
implantado numa área estimada em 451,8 mil metros quadrados, inaugurada em 1922, 
como Parque D. Pedro II. A adoção do Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia, a partir 
de 1938, e os subsequentes planos urbanos privilegiando o sistema de circulação viária, fo­
ram gradativamente sacrificando 0 Parque D. Pedro II, com perdas de áreas mediante no­
vas vias e viadutos, restando completamente desfigurado no início dos anos 1970. A área 
é um testemunho das vicissitudes de um espaço livre na maior metrópole sul-americana 
contemporânea.
U ma questão urbana
A introdução do padrão garden city no Brasil se fez através de um de seus criadores, 
Barry Parker (1867-1941), que em 1918 e 1919 esteve em São Paulo a serviço da City o f São 
Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited, empresa constituída em 1911 
por investidores europeus e brasileiros atentos aos vaticínios do crescimento urbano de 
São Paulo, patrocinado pela riqueza do café. Quando se fala em “jardins” na capital pau­
lista, evoca-se uma região cheia de glamour, de sofisticação, de luxo. Claro que a elástica 
geografia da especulação imobiliária estendeu os “jardins” para além dos limites origi­
nalmente estabelecidos. Foi Barry Parker, associado com Raymond Unwin (1863-1940), 
que, no começo do século XX, deu forma concreta às teorias do conterrâneo britânico Sir 
Ebenezer Howard (1850-1928), idealizador de uma proposta de cidade - as cidades-jardins 
- baseada na conciliação entre o ambiente campestre e o urbano, numa concepção não 
isenta de dimensões utópicas e sociais, rebento das transformações advindas da Revolução
47
Industrial na Inglaterra. Parker foi o responsável direto por consubstanciar um padrão ur­
banístico, paisagístico e arquitetônico consoante o modelo das cidades/subúrbios-jardins 
— dos quais foi um dos instauradores captando as peculiaridades da cultura local para a 
elaboração de estratégias que resultaram nos magníficos e aristocráticos bairros paulista­
nos, como o Jardim América (iniciado em 19 x3 , urbanisticamente definido em 19 19 ), Alto 
da Lapa (19 2 1), Pacaembu (19 25), Alto de Pinheiros (19 25 ), Butantã (19 35)- Se comparadas 
às experiências congêneres anteriores (e cotejando-as aos códigos de posturas, à legislação 
da época, e ao estado da arte do urbanismo no Brasil e no mundo), não é difícil concluir 
o quão inovadoras, progressivas e perenes foram as propostas de Barry Parker elaboradas 
na segunda década do século XX. Os bairros-jardins de Parker caracterizaram-se por uma 
integração diferenciada entre cidade, arquitetura, paisagem e natureza: um pitoresco am­
biente de ruas sinuosas, arborizadas, casas “ilhadas” em meio à vegetação, e o público e o 
privado dissimulados na continuidade entre ruas e jardins, demarcada por discretas cer­
cas vivas de pouca altura. Idílico “bairro perfeito” nas bem elaboradas peças publicitárias 
estampadas em jornais e revistas da época, produzia uma imagem pública de seriedade e 
rigor, vendendo conforto, salubridade, qualidade urbana, escrupulosamente controlados 
pelo empreendedor com normas urbanísticas e construtivas mais severas que as próprias 
exigências da municipalidade. Tal rigor, que perpassou as muitas mudanças de legislações 
e inevitáveis transformações urbanas nas últimas oito décadas, foi o que assegurou, quase 
que milagrosamente, uma inusitada mancha orgânica na dura e geométrica aerofotogra- 
metria do coração da metrópole paulistana.
Podemos dizer que os últimos grandes parques, criados ainda sob 0 influxo do ideá­
rio paisagístico estabelecido no primeiro terço do século XX, são o Parque Redenção, em 
Porto Alegre, com cerca de 400 mil metros quadrados, projetado pelo urbanista francês 
Alfred Agache (1875-1959) e inaugurado em 1935; e os parques Botafogo (540 mil metros 
quadrados) e Buritis (400 mil metros quadrados), concebidos por Attilio Correia Lima 
(1901-1943) em seu projeto de 1933 para a nova capital de Goiás, Goiânia - onde também 
se evidenciou o modelo das cidades-jardins. Ao me referir a “últimos grandes parques”,
nào quero dizer que nossas cidades deixaram de ganhar parques de grande extensão e 
significado. No Brasil, 1930 marca o início da Era Vargas. Mas as grandes formulações 
ou reformulações urbanísticas não configuram data precisa. Foi por volta dessa virada de 
década que surgiram as proposições de Alfred Agache, para o Rio de Janeiro, e o plano de 
Prestes Maia, para São Paulo. Doravante, a paisagem urbana ganha uma nova dimensão 
como desenho de cidades. Mas isso é tema para outro ensaio.
B i b l i o g r a f i a
KLIASS, Rosa Grena. Parques urbanos de São Paulo. São Paulo: Pini, 1993.
MACEDO, Silvio Soares & SAKATA, Francine Gramacho. Parques urbanos no Brasil. Sâo Paulo: Edusp/Im­
prensa Oficial, 2002.
MONTES, Maria Lúcia et a l “ Eu, Maurício". Em Os espelhos de Nassau. São Paulo/Recife: Banco Real, 2004. 
RIBEIRO, Maria Eliana Jubé. Goiânia: os planos, a cidade e 0 sistema de áreas irriUs. Goiânia: Universidade 
Católica de Goiás, 2004.
SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp, 1996.
__________. Prelúdio da metrópole. São Paulo: Ateliê, 2000.
TERRA, Carlos Gonçalves. O jardim no Brasil do século XIX: Glaziou remitado. Rio de Janeiro: Escola de Belas 
Artes-UFRJ, 1993.
WOLFF, Sílvia Ferreira Santos. Jardim América: 0 primeiro bairrojardim de Sâo Paulo e sua arquitetura. Sâo 
Paulo: Edusp/Imprensa Oficial/Fapesp, 2001.
CAPÍTULO 2
A PRODUÇÃO PAISAGÍSTICA BRASILEIRA ENTRE 1930 E 1976
Ana Rita Sá Carneiro
Com a concepção do jardim brasileiro, os anos 1930 marcaram uma fase distinta, 
preponderante e decisiva na história do paisagismo no Brasil. Por essa época, foram firma­
dos os princípios do pensamento moderno, que mudaram os rumos da produção artística 
até então referenciada nas influências estrangeiras fortemente europeias. Surgia a pro­
posta desafiadora de construir o caráter nacional da produção artística, democratizando-a 
e, portanto, desprendendo-a dos modelos estrangeiros. Quanto à arquitetura, Lúcio Costa 
afirmava que deveria estar voltada para a coletividade, procurando explorar a potencialida­
de dos materiais locais disponíveis e refletir a racionalidade da estrutura construtiva, para 
solidificar as raízes brasileiras.1
Nessa atmosfera propícia, coube ao paisagista Roberto Burle Marx a tradução desse 
sentimento e conceito no jardim, reunindo conhecimentos em outros tipos de arte, como a 
pintura, a escultura, a música e, além disso, a botânica. Por isso, o arquiteto Michel Racine 
caracterizou o modernismo brasileiro como um “movimento-modemista-com-jardimV 
porque foi traduzido no campo da paisagem por um espírito revolucionário como o de 
Burle Marx. A determinação desse paisagista evidenciou-se com muita propriedade em *
Lúcio Costa apuei Márcia Sant’anna, “Modernismo e patrimônio: o antigo-modemo e o novo
antigo", em Luiz Antonío 
Cardoso & Lívia Oliveira (orgs.), (Re)discutindo 0 modernismo: universalidade e diversidade do movimento moderno em arqui 
tetura e urbanismo no Brasil (Salvador: UFBA, 1977). p 123.
Michel Racine, “ Dans les jardins de Roberto Burle Marx", em Jacques Leenhardt (org.). Nos jardins de Burle Marx (São 
Paulo: Perspectiva, 1996), p. 114.
contem porânea no Brasil
artigo publicado em jornal do Recife, no ano de 1935, quando expressou a urgência em 
começar a semear a alma brasileira nos nossos jardins.’
Por volta dos anos 1940 e 1950, começaram a ser visíveis as intervenções paisa­
gísticas realizadas por Azevedo Neto e Luiz Emygdio de Mello Filho no Rio de Janeiro e 
por Roberto Coelho Cardozo, em São Paulo. E, na década de 1960, mais dois nomes des­
pontaram: Fernando Chacel e Rosa Kliass, entre outros paisagistas que contribuíram para 
enriquecer nossas paisagens urbanas e rurais. São diferentes maneiras de intervir, a partir 
de diferentes enfoques e priorizando quase sempre o elemento natural. Mas, no computo 
geral, esse legado artístico-paisagístico é testemunho da capacidade e do talento desses 
profissionais inspirados e sensibilizados pela diversidade da paisagem brasileira. Alguns 
desses projetos, do intervalo de 1930 a 1976, são comentados com a finalidade de mostrar 
que as formas de intervir na paisagem variam conforme os olhares dos paisagistas, seus 
estímulos e capacidade criativa. Os projetos paisagísticos apresentados trazem escalas di­
ferentes da paisagem urbana, incluindo jardins residenciais e institucionais, praças, par­
ques c alguns exemplos de grandes áreas em âmbito regional.
A o b r a d e R o b e r t o B u r l e M a r x e a c r ia ç ã o d o j a r d i m b r a s i l e i r o
Entre 19 2 0 e 19 30 instalou-se no Brasil um frenesi de criação artística. Retornan­
do ao Rio de Janeiro após período vivido na Alemanha, onde estudou música, pintura e 
fez tratam ento dos olhos, Burle Marx trouxe consigo a vontade de fazer, a impetuosidade 
e a confiança nas lições artísticas recebidas, pronto para exercitar o olhar e descobrir a 
paisagem brasileira na sua expressividade e nas suas cores. Somaram-se, como estímulo, 
a riqueza dos elem entos naturais da paisagem carioca e os jardins projetados por Glaziou, 
um precursor das explorações botânicas pelo interior do Brasil.
Burl*» Mar* jardiri* « parquru <Jo R<-afi*w, em Diário da Tarde, Rrcifir, I4-J-I935-
Ao visitar o Jardim Botânico de Dahlem, na Alemanha, por volta de 1928, Roberto 
Burle Marx conheceu de perto os cactos e outras plantas brasileiras exuberantes. De volta 
ao Brasil, em seu convívio com artistas e intelectuais, observa os cactos já utilizados por 
Mina Warchavchik no jardim da residência na rua Santa Cruz (Vila Mariana, São Paulo, 
SP), simbolizando a paisagem brasileira. O emprego de materiais locais na arquitetura da 
casa, projetada por Gregori Warchavchik, e no jardim de cactos, como um gesto inovador 
e moderno, era motivo de ironia e depreciação por parte de alguns grupos sociais.4 Tais 
mudanças incorporavam algo diferente que estava para surgir e causar impacto na vista, 
nas atitudes, na cultura. O exercício de Burle Marx em perceber a paisagem estava aguça­
do em capturar as estruturas, os marcos, a arquitetura, os fatos sociais e outros estímulos 
para conceber algo diferente do que até então vigorava.
Guiado pelos princípios modernistas de Lúcio Costa e Le Corbusier (e a convite 
do governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti), Burle Marx chegou à cidade 
do Recife, onde lançou as bases de sua carreira, em 1934, e permaneceu até 1937 como 
Chefe do Setor de Parques e Jardins da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo do Estado 
de Pernambuco, dirigida pelo arquiteto Luís Nunes. Atuando em reformas e ações com­
plementares nos jardins existentes, Burle Marx implantou uma nova forma de pensar o 
espaço público a partir dos elementos da paisagem local, interpretada segundo princípios 
artísticos da pintura, da música e da poesia. Contribuiu para isso a companhia de Joa­
quim Cardozo, que congregava outros intelectuais como Clarival Valadares, Gibson Bar- 
boza, Gilberto Freyre e Cícero Dias.5 Teve como resultado uma geometria espacial inédita, 
em que a vegetação surgia como o elemento expressivo da comunicação ou mensagem 
artística.
4 G u ilh erm e M azza D ourado , Modernidade verde:jardins de Burle M arx (São P au lo : E d itora S e n a c S ã o P a u lo /E d u sp , 2 0 0 9 ) .
* C on rad H a m erm an . “ B urle M arx: the Last In terv iew ", e m The Journal o f the Decorative and Propaganda Arts. n 2 1 . B ra z il 
T h e m e Issu e , 19 9 5 , pp. 15 6 - 17 9 .
Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil | 52
Segundo Burle Marx, as pinturas serviam de laboratório para a com posição dos 
jardins; quando pintava, experimentava novas formas, novas justaposições de cores, crian­
do momentos elevados e dramáticos.6 E assim se fez o projeto paisagístico, segundo prin­
cípios modernos, em que a vegetação tinha papel fundamental. Por isso, revolucionou a 
arte paisagística tradicional, dando os passos decisivos para a ruptura com a prática e os 
modelos importados prevalecentes.
Na sua dedicação em conhecer os detalhes da paisagem do Recife, observou os 
rios, os casarões do período colonial e os mocambos e palafitas, ou seja, a “casa-grande” e a 
“ senzala” , que inspiraram Gilberto Freyre em sua obra lançada por aquela época. Acredita­
va que a cultura geral, a técnica e a experimentação eram condições básicas na construção 
do jardim m odem o. Ou seja, o paisagista precisava ter conhecimento sobre pintura, botâ­
nica, história, geografia, música, poesia, etc., para compreender a arte de projetar jardins; 
a técnica seria alcançada com o detalhamento do emprego dos materiais e dom ínio das 
etapas de construção; e a experimentação seria realizada nas sementeiras ou nos laborató­
rios, testando a associação de plantas e a introdução de novas espécies. Isso ele adquiriu 
com o estudo, a prática da jardinagem e exercitando a percepção da paisagem local, em 
que se insere o convívio com intelectuais e pessoas comuns. Como afirm ou Joaquim Car- 
dozo, em jornal local, “a paisagem pernambucana tem oferecido a Burle M arx elementos 
preciosos e que foram , até certo ponto, desprezados pelos seus antecessores” .7 Finalm en­
te, ainda assegura que “o senhor Burle Marx acabará dando aos jardins do Recife um 
caracter próprio e incomparável, como certamente nunca tiveram anteriormente” .8
É essa convivência multidisciplinar que possibilita Burle M arx conceber um jar­
dim de características modernas, apoiado em três funções urbanas: higiene, educação e 
arte, com o ele ressalta no artigo “Jardins para Recife” publicado em 1935. H igiene e esté­
Ibidem.
"Jard in s bonitos que o Recife possui” , entrevista com Joaquim Cardozo, em Diário da Tarde, Recife, 14 -6 -1937.
' Ibidem.
53 A produção paisagística brasileira entre igjo e 1976
tica eram requisitos projetuais já veiculados no Recife, aos quais ele acrescenta educação 
e arte. Relacionado à higiene, o jardim representaria uma concentração de vegetação que 
ameniza o clima e a poluição urbana. Como objeto educativo, o jardim seria um meio de 
instruir, de transmitir conhecimento através do conjunto dos seus elementos no qual a 
vegetação era o principal. E, como arte, o jardim deveria “obedecer a uma ideia básica, um 
tema, com perspectivas lógicas e subordinado a uma determinada forma de conjunto” .9 
Nesse sentido, entendia o jardim como uma intervenção humana sobre a natureza que 
trabalha um conteúdo não edificado, aberto, no qual a arte se faz a partir dos elementos vi­
vos como a vegetação, a água, o solo e poucos elementos
construídos. Além disso, enaltece 
0 compromisso social e pedagógico do jardim como obra de arte pública com capacidade 
de despertar a sensibilidade artística das pessoas que o contemplam e usam.
Durante esse período, a partir da assimilação dos condicionantes da paisagem 
regional, Burle Marx formula e consolida, mediante uma intensa experimentação, os pres­
supostos da sua concepção paisagística: o emprego e valorização da flora autóctone e o 
respeito ao meio ambiente e à cultura local. O elemento água quase sempre está presente, 
exercendo seu poder de atração e de proporcionar a continuidade da paisagem urbana 
recifense.
Os jardins do Recife idealizados por Burle Marx formam um conjunto de espaços 
livres distribuídos a partir do centro urbano e penetrando nos subúrbios, perseguindo, 
quando possível, uma temática vegetal, uma estrutura. Cada um dos jardins representa 
um grupo isolado pela característica geográfica dos elementos “subordinados, entretanto, 
à ideia de conjunto”.10 Quando relaciona com a ideia de conjunto, que tão bem soube 
explorar, ele introduz a visão de planejamento urbano interpretado como “plano de remo­
delação” , “plano de reforma” , "plano moderno de aformoseamento” , ou ainda “plano de
Roberto Burle Marx. “Jardins para Recife”, em Boletim de Engenharia, 7 (1), Recife, março de 1935. 
Ibidem.
-A .
jard ins u n ifo rm iz a d o '" em que o con junto de jard in s púb licos d e ve n a se r a o 
no centro d a cidade, m as tam bém n os b airros resid en ciais. .
O p rim eiro projeto de jard im público de sua carre ira , executad o n o R e c í e , 0 1 a 
praça de C asa Forte, em 19 35 , u m jard im de água, com vegetação d e v á ria s p ro ce d ê n c ia s . O 
segund o, a praça E u d id es da C unha, in icialm ente d esign ad a C actário d a M a d a le n a - u m 
jardim ecológico, com fundam ento botânico consistente na id ealização d a p a is a g e m , n a 
intenção de in form ar da vegetação da caatinga e do c lim a sem iárid o n o rd e stin o . S e g u e m 
nom es de outros projetos de jard ins, em bora p eq uenas in terven ções t iv e sse m o co rrid o e m 
paralelo: praça Artur O scar, praça D ezessete, praça do D erby, p raça d o E n tro n ca m e n to , 
praça C oração de Jesu s (hoje C hora M enino), praça P into D am aso , p raça d a R e p ú b lic a e 
os jardins do Palácio do C am po das Princesas.
Foram quatro anos de intenso trabalho, durante os q u a is B u rle M a rx re a liz o u 
mais de dez intervenções paisagísticas, entre projeto com pleto e p e q u e n a s a lte ra ç õ e s o u 
complementaçòes. Depois dessa fase, ele volta a trabalhar no R ec ife e m 1 9 5 1 , q u a n d o fa z 
doação ao Instituto do Patrimônio H istórico e A rtístico N ac ion al (Iph an) d o p ro je to d o 
entorno da Capela da Jaqueira, dentro do parque da Jaq u eira . E n tre 19 5 7 e 19 5 8 , proje­
tou a praça de Dois Irmãos, no largo do Jardim Zoobotân ico , b e m co m o a p ra ç a S a lg a d o 
Filho, cuja plasticidade e elegância dos arranjos vegetais, refletidos n a s fu lg u ra ç õ e s d e
um lago. convertem-na em m onum ento sin gu lar d iante do A ero p o rto In te rn a c io n a l d o s 
Guararapes.
O jard im de C asa Forte foi construído a partir da re fo rm a da p raça existente cujo 
ponto focal era u m m onum ento aos h eró is da R estauração Pernambucana B u r le M a rx 
retirou o m onum ento, passando a re lacionar o ja rd im co m o casario d o e n to rn o e a ittre ia 
num a das extrem idades e criando n o seu in terior u m gran d e esp aço ab erto q u e n ro n o r 
cion a a o vis tante um a forte se n sa ç io d e am plitude e p ro fu n d id ad e , e m fu n ç ã o d a f o i 
longitudinal do terreno. Devido a sua capacidade d e le r a paisagem local e id e n tific a r o s !
"A vid«i da odidr A rHornu doi jardin* público* do Kctifc •cm ôírino da Tarde, Re, if,. ü -5 iy)5.
P ra ç a d e Casa F o rte , R e c ife . PE, 1935.
caráter, explicitou o sentido de cada planta 
empregada em cada solução. A praça res­
surgiu como um jardim d’água inspirado 
na paisagem do Jardim Zoobotânico de 
Dois Irmãos, que tinha a vitória-régia como 
motivo central. A diversidade da vegetação 
era o tema principal, contemplada em três 
jardins, cada um com um motivo vegetal 
distinto: o primeiro, um jardim de plantas 
da mata atlântica, mostrando uma associa­
ção de plantas aquáticas dos rios e açudes 
da região; o segundo, de plantas da Amazô­
nia, em cujo lago central (com flora aquáti­
ca) seria instalada uma estátua do escultor 
Celso Antônio, representando uma índia a 
banhar-se - que não chegou a ser colocada; 
e o terceiro, de plantas exóticas das regiões 
tropicais e de outros continentes. Incluiu 
também, nos canteiros das extremidades, a 
cana-da-índia,12 planta considerada vulgar, 
comumente encontrada em terrenos vazios 
na cidade e áreas ribeirinhas, e que passou 
a fazer parte dos jardins dos recifenses.
A praça Eudides da Cunha despon­
tou com uma ideia inovadora e por isso 
pode ser considerada o primeiro jardim pú-
u N o m e cien tifico : Canna indica.
57
P ra ç a E u d id e s d a C u n h a , R ec ife , P E , 19 35 .
A produção paisagística brasileira entre tçjo e J976
blico essencialmente brasileiro - jardim temático, cujo fundamento foram as plantas do 
semiárido nordestino pertencentes ao ecossistema da caatinga. Essa proposta ainda não 
tinha sido explorada em um jardim urbano. Para tanto, Burle Marx debruçou-se na leitu­
ra da obra de Euclides da Cunha, Os sertões, aprofundando seu conhecimento botânico e 
social sobre a paisagem da caatinga e sobre o povo sertanejo. Sua admiração pelo escritor 
levou-o a sugerir o nome da praça. Por essa época, o cangaço vivia um momento de grande 
popularidade.
Para esse jardim, indicou a composição dos cactos com blocos de pedra e uma es­
tátua representando um “homem de tanga” (do escultor Celso Antônio), afirmando sua 
intenção de reverenciar o homem do Norte do Brasil. Em lugar da escultura proposta, foi 
colocada a de um sertanejo (do escultor Abelardo da Hora), no final da década de 1950. No 
centro dessa estrutura, ficavam as cactáceas, de onde partiam canteiros lineares gramados 
e passeios em terra batida até o limite da praça, contornado por árvores do sertão. Numa 
das extremidades, as fileiras de árvores encontravam-se, formando um pequeno bosque, 
tendo ao lado o edifício da Estação Elevatória da Companhia de Água e Saneamento de 
Pernambuco (1915).
Sua concepção do jardim moderno originava-se de um pensamento que ordena a 
natureza - segundo princípios artísticos como harmonia, contraste, relação de cheios e 
vazios - , em que a vegetação definia piso, parede e teto. Ao colocar um jardim de cactáceas 
no centro da praça, sedimenta um princípio clássico de convergência, ainda rígido, man­
tendo, dentro de uma simetria, o foco para o objeto de admiração e prestigiando a riqueza 
da flora. A intenção é de divulgá-la para conhecimento público, ressaltando ainda a varie­
dade existente, pois nela estão presentes oito das doze comunidades e subcomunidades do 
Domínio das Caatingas, confirmadas no estudo do botânico Dárdano de Andrade Lima.'5
” A n a R ita S á C arn e iro & L iana M esq uita , Restaurando o Recife de Burle M arx, re latório (R ecife : P re fe itu ra d o R ecife/ 
Emlurb, 2003).
A u tilização das cac láceas n u m jard im público va lorizan d o a p a isa g e m u rb an a é nm a 
d e m o n stra rã o da p reocup ação com a cu ltura, a ed u carão i* a eco log ia , m o stran d o u m a re a ­
lid a d e d u ra e so fr id a , m as, ao m e sm o tem po, de gran d e riqueza cu ltu ra l. O co

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