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Shadows e a Gênese do Cinema de John Cassavetes

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CURSO CINEMA E AUDIOVISUAL
DISCIPLINA HISTÓRIA E ESTÉTICA DO CINEMA 2
ALEX NUNES BARROSO
SHADOWS E A GÊNESE DO CINEMA DE JOHN CASSAVETES
Fortaleza, 04 de Dezembro de 2017
ALEX NUNES BARROSO
SHADOWS E A GÊNESE DO CINEMA DE JOHN CASSAVETES
Trabalho apresentado como requisito
parcial de avaliação na disciplina de
História e Estética do Cinema 2, à
Professora Ana Elisabete Freitas
Jaguaribe.
Fortaleza, 04 de Dezembro de 2017
INTRODUÇÃO
Os filmes de John Cassavetes influenciaram e ainda hoje influenciam alguns dos mais
importantes cineastas no mundo, não somente pela crudeza de suas narrativas ou pela
estética de seus enquadramentos, que praticamente dançam com os movimentos dos
atores em cena, na maioria das vezes ao som de um bom jazz, mas por seu legado
deixado no cinema independente mundial, sem a megalomania dos grandes estúdios ou
as pressões comerciais dos grandes produtores. Seu discurso traz mais do que um bom
texto, o que para ele nem é tão importante assim, a alma da situação cênica era o que ele
fazia questão de estampar na tela, o que Walter Benjamim chama de a aura na arte, pois
valoriza a experiência da cena, colocando o ator como um coautor do filme em sua mise-
en-scène. Shadows foi finalizado em 1959 em Nova Iorque, sendo o primeiro filme de
Cassavetes, trazendo algumas inovações para o cinema feito fora dos estúdios, como o
seu processo de produção, que buscou a adesão de atores desconhecidos das telas e a
busca recursos de forma colaborativa, sendo um marco para o cinema independente
norte-americano. Em seus textos são abordados diversos questionamentos considerados
tabus em Hollywood nessa época, como racismo, virgindade, os dilemas de ser um
músico de jazz clássico nesse período, dentre outros. Trazer para os dias de hoje o
debate sobre o cinema de John Cassavetes, é atualizar uma prática que está muito em
voga no cinema contemporâneo cearense, onde há cada vez mais filmes sendo
produzidos de forma colaborativa, onde cada vez mais atores estão roteirizando e
dirigindo seus próprios filmes, bem como uma nova geração de atores estão cada vez
mais dispostos a experimentar as novas estéticas do século XXI. Assim, refletir sobre o
filme Shadows, é de suma importância para compreender esse “cinema-corpo”
desenvolvido por John Cassavetes, onde a direção dos atores traz uma relação visceral
entre o empírico e o roteiro, entre o vulgar e o erudito, como bem pontua Deleuze &
Guattari, “arrancar o afeto das afecções, como passagem de um estado para outro”.
A TRAJETÓRIA DE JOHN CASSAVETES
Nascido em Nova Iorque em 09 de Dezembro 1929, Cassavetes era filho único de um
casal de imigrantes gregos. Quando criança morou em Long Island, ilha onde se localiza
o Bronx e bem próximo de Manhattan. Frequentou escolas e universidades tradicionais
dos EUA, e em 1953 foi estudar teatro na Academia Americana de Artes Dramáticas
(AADA), encorajado por amigos que afirmavam que lá estava cheio de garotas. Logo
conheceu Gena Rowlands e quatro meses depois já estava casado. Gena foi sua grande
musa inspiradora, atuando na maioria dos filmes que dirigiu e teve três filhos. Na AADA
estudou o método de Stanislavski, mas procurou se aproximar mais da obra de Beckett,
Tchecov, Tenessee Williams, Ibsen e Artaud, por também acreditar na quebra da escrita e
da linguagem para tocar a vida, participou da Actor`s Studio, criado por Elia Kazan e foi
aluno de Lee Strasberg, fundador do primeiro coletivo teatral dos EUA.
Cassavetes participou de algumas turnês teatrais, trabalhou um tempo na Broadaway,
mas acabou atuando mais em séries de televisão e no cinema, somente em 1980 dirigiu
sua primeira peça, já no cinema dirigiu 12 filmes e atuando também em alguns deles, na
televisão participou de mais de 30 séries e no cinema atuo em mais de 30 filmes. O seu
reconhecimento veio principalmente da crítica europeia, pois a norte-americana sempre
esteve muito presa aos filmes de diretores associados à Academy of Motion Pictures Arts
and Sciences (AMPAS), academia que realiza o Oscar, mesmo recebendo diversos
prêmios e indicações, como diretor, roteirista e ator, nunca levou um Oscar, seus prêmios
foram somente em Veneza e Berlim, com os filmes Shadows (1959), Gloria (1980) e Love
Streams (1984). Cassavetes se destacava pela ousadia e forte tom realista que imprimia
em seus filmes, apreciava bastante as obras de Akira Kurosawa e Ingman Bergman,
sendo contemporâneo de Brian de Palma, Martin Scorsese, Woody Allen e Francis Ford
Coppola. John Nicholas Cassavetes morreu em 03 de Fevereiro de 1989, em Los
Angeles, vítima de cirrose hepática.
 SHADOWS
Cassavetes já estava se consolidando como ator no final dos anos 1950, tendo
participado de diversos filmes e séries para TV. Para produzir o seu primeiro filme fez uma
oficina de improvisação na Variety Arts, onde dava aulas, no intúito de formar um elenco
que melhor transmitisse o afeto dos personagens, que trouxessem mais que a
interpretação do texto, mas composição e fotogenia. Shadows teve duas versões, mas
somente a segunda foi exibida pra o grande público. O filme pode ser considerado como
pioneiro do cinema independente norte-americano, por ser produzido com recursos do
próprio diretor, equipamentos emprestados, equipe de amigos e financiamento do público.
Quando Cassavetes foi em uma entrevista no programa muito popular na época em Nova
Iorque chamado Night People, fez uma brincadeira dizendo que estava precisando de
dinheiro para fazer um filme e surpreendentemente no dia seguinte, o público começou a
ligar querendo contribuir para o filme. A seleção dos atores foi feita a partir de um
workshop aberto para quem quisesse participar, em entrevista Cassavetes diz:
“Tomamos a decisão de escancarar nossas portas e
deixar entrar todos aqueles que assim o desejavam. E
eles chegaram diretamente da rua, munidos apenas do
desejo de serem atores; poucos tinham alguma
experiência; nunca tinham feito figuração, ou, talvez
mesmo, visto uma câmera.” 
Shadows contra a história de três irmão de etnias diferentes na Nova Iorque dos anos
1950. Ben é o casula, é trompetista e passa a maior parte do seu tempo aprontando com
os amigos pelas ruas de Manhattan, Leila é uma jovem sonhadora, que só pensa em ser
livre e encontrar seu grande amor, mas sempre se decepciona com quem se envolve, já
Hugh é o mais velho, um talentoso cantor de jazz clássico que sonha ver seu talento ser
reconhecido, porém é obrigado a se curvar à indústria do entretenimento, tantos os
protagonistas como os demais personagens trazem seus nomes próprios, deixando a
atuação dos mesmos ainda mais sincera. O filme tem como temas principais a juventude
rebelde dos subúrbios de Nova Iorque, as dificuldades de um músico de jazz erudito nos
anos 1950 na cidade, o empoderamento feminino a partir das atitudes de Leila, o racismo
muito presente entre a classe média e os conflitos de relação dos irmãos em meio às
adversidades da metrópole, todos são personagens às sombras do mainstream, são
relações que só se encotram nas ruas, no contato, e Cassavetes torna isso muito
presente no filme. Shadows termina com a frase: “THE FILM YOU HAVE JUST SEEN
WAS AN IMPROVISATION”, ou seja, o flime que você acabou de ver foi uma
improvisação, mostrando a verve underground e iconoclasta de John Cassavetes.
DO CINEMA CORPO AO CINEMA JAZZ
Cassavetes costumava dizer que não dirigia os atores e sim buscava suscitar neles o
contato com suas forças inconscientes, o abandono do domínio da consciência. Surgindo
assim o conceito do cinema-corpo, ondeo personagem é equivalente às suas posturas,
vicissitudes e atitudes corporais, se tornando assim tempo, duração, velocidade, lentidão,
transformação ou repetição. Ele acreditava que ensaios exaustivos com os atores
privilegiava o momento das filmagens, alcançando um nível de entrega, transparência,
ambiguidade, potência e presença, revelando assim algo das categorias íntimas dos
seres, das coisas e do mundo. Para isso apostava no improviso como forma de desfazer
o roteiro e colocar o corpo na cena, um corpo de força em combate incalculável, um corpo
como um espetáculo que não se explica organicamente. Eu vou mais longe e acredito que
o cinema de Cassavetes se aproxima mais de um cinema-jazz, em uma espécie de
partitura da experiência, partindo da ideia que o afeto é um lugar de fusão, de
entrelaçamento entre o corpo e o mundo, indeterminado e impessoal, que atravessa a
distinção entre sujeito e objeto, um devir do inconsciente humano, um movimento de
emoções e gestos que se dá com a experienciação das relações, que afloram inspiração,
subjetividade, alegria e poesia. Assim como uma jam session de jazz, não sabe-se ao
certo onde vai chegar, que conexões serão feitas, vendo o fluir do instante uma
embriaguez com lucidez.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mergulhar no cinema e na vida de John Cassavetes é uma estrada sem um fim visível,
com atalhos e novos caminho que se abrem a cada filme, a cada plano, a cada entrevista,
a cada making of, a cada texto a seu respeito. Trazer um recorte do filme Shadows é
apenas uma breve degustação do que se apresenta, na multiplicidade de dobras
possíveis em cada cena, é possível refletir sobre diversos temas. Shadows estreia no
cinema independente norte-americano uma teatralidade dentro do cinema ou um teatro
cinematográfico, o que cada filme só ganha volume a sensação tátil das narrativas. Trazer
para os dias de hoje o debate sobre o cinema de John Cassavetes, é atualizar uma
prática que está muito em voga no cinema contemporâneo cearense, onde há cada vez
mais filmes sendo produzidos de forma colaborativa, onde cada vez mais atores estão
roteirizando e dirigindo seus próprios filmes, bem como uma nova geração de atores
estão cada vez mais dispostos a experimentar as novas estéticas do século XXI.
REFERÊNCIAS
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Cassavetes
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Cassavetes_filmography
https://makingoff.org/forum/index.php?showtopic=12917
http://www.imdb.com/name/nm0001023/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Shadows_(filme ) 
https://www.popoptiq.com/a-look-back-at-john-cassavetes-shadows-a-pioneering-movie-
in-the-history-of-american-independent-cinema/
http://www.slate.com/articles/arts/dvdextras/2009/11/shadows.html
https://www.criterion.com/current/posts/339-shadows-eternal-times-square
https://www.melhoresfilmes.com.br/atores/john-cassavetes
http://seculodiario.com.br/24303/17/cassavetes-colocou-a-imagem-da-america-no-gosto-
da-velha-europa
Artigo. El Legado de John Cassavetes. Blog El Boomeran(g), Peliculas y Realizadores. 
http://www.elboomeran.com/upload/ficheros/obras/el_legado_de_john_cassavetes.pdf
Artigo. Investigações sobre fotogenia: produção de afetos no cinema de John Cassavetes.
Rodrigo Desider Fischer. Revista Rumores (ECA-USP), edição 11, ano 6, número 1,
janeiro-junho 2012.
Artigo. O corpo no cinema de John Cassavetes. Viviane de Lamare. Artigos Temáticos
UFRJ, http://www.uva.br/trivium/edicao1/artigos-tematicos/9-ocorpo-no-cinema-de-john-
cassavetes.pdf.

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