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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIAS DA COMUNICAÇÃO E DA IMAGEM DISCIPLINA: TEORIAS DA COMUNICAÇÃO PROF. RICARDO JORGE DE LUCENA LUCAS APOSTILA (teorias da comunicação) Atualizada em 2010 ANTES DE TUDO: COMO LER E ESTUDAR O quê estudar? Qual seu tema? Qual o problema que seu tema propõe? 1. passo: procurando o tema - qual o assunto que lhe interessa? - é um aspecto específico dele? Ou é algo muito geral? - o quê você tem sobre o assunto? (livros, artigos, trabalhos anteriores etc.) - você saberia discorrer sobre esse tema? (se sim, tente fazer um pequeno texto sobre esse tema) - você tem alguma(s) dúvida(s) sobre o tema? 2. passo: preparando o tema - monte (ou tente montar) uma bibliografia que possa ser útil; - pesquise bibliografias comentadas; - procure referências e bibliografias comentadas sobre o assunto na Internet em sites confiáveis (na dúvida, consulte o site www.allwhois.com); - pesquise em livrarias e bibliotecas, livros e revistas acadêmicas; - pesquise ementas e bibliografias de disciplinas de cursos de graduação e pós-graduação da área que lhe interessa (para perceber as obras mais recorrentes); - perceba se há ou não obras que se refiram ao seu tema (atenção: ausência de obras NÃO significa ausência de possibilidade de pesquisa). 3. passo: preparando a futura orientação - vislumbre um professor com perfil adequado ao seu tema; - monte (ou tente montar) sua própria bibliografia; - submeta-a, junto com o texto no qual discorreu sobre seu tema, ao professor candidato a orientador. 4. passo: preparando o ambiente de estudo - separe ou dedique um espaço de sua residência para estudar, sem som, TV, telefone e quaisquer objetos que possam tirar sua concentração; - defina para si próprio o tempo e o horário que irá separar para estudar; - tente perceber qual o horário de estudo para você (não se preocupe se não é o mesmo horário de outras pessoas). - tente ser rígido consigo próprio nesse quesito 5. passo: definindo o que ler - não leia tudo, nem leia sem objetivo claro - defina objetivo + finalidade + itinerário da leitura - veja se, após a leitura, você consegue: escrever algo resumidamente OU esquematizar os conceitos - explore a “periferia” do texto e da obra capa + contracapa + orelha prólogo + prefácio + posfácio introdução + conclusão + bibliografia título + subtítulo + autor + sumário + índice analítico ou remissivo - leia parágrafos a esmo e veja se o livro é compreensível; 6. passo: enfim, lendo - leia o início e o fim dos capítulos pertinentes ao seu objeto; - veja se os primeiros e últimos períodos de cada parágrafo dão noção plena das idéias contidas no parágrafo todo; - veja títulos, subtítulos, tópicos, ilustrações, gráficos e tabelas; - veja as palavras destacadas ou sublinhadas pelo autor. - anote tudo o que for útil (idéias, citações, conceitos, autores etc.) de modo a que você possa recuperar as informações sobre aquele texto num outro momento (cadernos, agendas, fichas, arquivos eletrônicos etc.). LEMBRE-SE: a leitura é uma atividade que depende do tipo de texto que se tem à frente. Não se lêem todos os tipos de texto do mesmo modo. Texto narrativo = tudo é importante (detalhe pode mudar interpretação) Texto jornalístico = manchete + início (lide) são o mais importante Texto científico = idéias e conceitos são o mais importante (texto é “redundante”, pois pressupõe que leitor possa ser leigo no assunto). PARA LER MAIS: BEAUD, Michel. Arte da Tese. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996. CHEVALIER, Brigitte. Leitura e Anotações. São Paulo, Martins Fontes, 2005. TEORIA DA COMUNICAÇÃO; ANTES: O QUE É TEORIA? O QUE É COMUNICAÇÃO? Teoria - vem do grego, theoria (significa, dentre várias possibilidades, contemplação, espetáculo, especulação, concepção mental, reflexão sobre algo). Para alguns, pela theoria o homem se aproxima de Theous - Deus. Teoria = conjunto de leis que sistematizam e/ou definem um fenômeno, ou um conjunto de hipóteses que tentam confirmar/verificar/corrigir um fenômeno. Teorias tendem ou a convergir ou a entrar em choque. Ciência = campo do saber que tenta explicar de modo o mais completo possível um certo campo de fenômenos. Para alguns, a ciência é limitada, pois se constitui de um “recorte da realidade” acrescida de jargões de uma dada área. Paradigma = modelo ou “fórmula” que é a base de uma teoria dominante. Aquilo que membros de uma comunidade científica partilham (Thomas S. Kuhn); ao mesmo tempo, uma comunidade científica é formada de indivíduos que partilham um paradigma (observação: sentido de “partilhar um paradigma” não é o mesmo de “concordar com um paradigma”). Paradigma pode tanto facilitar quanto “emburrecer” a ciência. Verdade científica = limitada no tempo, no espaço e num dado meio científico-social. Metanarrativas (grandes narrativas) = saberes que tentam explicar a realidade a partir de um determinado foco (“significado transcendental”, diria Jacques Derrida: o capital, no capitalismo; o operariado, no socialismo; o inconsciente, na psicanálise; Deus, no catolicismo etc.). Ponto de viragem: física clássica física quântica observação direta escolha subjetiva certezas probabilidades Se verdade científica é algo limitado, ela pode ser colocada em xeque. Alguns apontam para uma “crise dos paradigmas” (Jean-François Lyotard, Michel Serres, Bruno Latour), uma vez que percebe-se que não há saber que explique o todo ontológico da realidade (marxismo, capitalismo, comunismo, psicanálise etc.) Questões envolvendo teoria e comunicação: 1) Comunicação é uma ciência, um campo teórico ou um fenômeno? (MUNIZ SODRÉ: “uma verdadeira teoria da Comunicação seria uma colocação em xeque das outras Ciências Humanas”). 2) Comunicação é uma área/campo que historicamente se constituiu a partir de outros campos do saber (Psicologia, Sociologia, Filosofia, Lingüística, Antropologia, Informática etc.). 3) por não ser, certamente, uma ciência exata, mesmas causas implicam em diferentes conseqüências ou efeitos. Para se trabalhar com pesquisa em Comunicação, é preciso definir o viés com o qual se pretende trabalhar: - p sicológico (comportamento das pessoas individualmente) - sociológico (comportamento do público coletivamente) - lingüístico-semiológico (análise de textos e/ou mensagens) - antropológico (relações grupais, aspectos culturais) - filosófico (ética, verdade) - estético (gráfico, artístico) - informático (redes de computadores, mídias digitais) - histórico (gênese de meios e tecnologias de comunicação, resgate histórico) A opção por um desses vieses NÃO EXCLUI necessariamente os outros aspectos. ATENÇÃO: PARADIGMA CLÁSSICO DA COMUNICAÇÃO: Emissor -> mensagem -> Receptor Ou simplesmente: E -> R E (emissor) = quem gera uma mensagem -> = conteúdo a ser transmitido de E a R R (receptor) = quem recebe uma mensagem Crise dos paradigmas irá afetar e/ou problematizar, em alguns aspectos, o paradigma clássico da Comunicação. EMISSOR - criador ou fonte de uma mensagem RECEPTOR - recebedor ou destinatário dessa mesma mensagem MENSAGEM - ordenação de signos visando a transmissão de uma dada informação SINAIS - fenômenos físicos que transformam os signos em uma mensagem SIGNOS - elementos de uma mensagem (letra, imagem, som etc.) CÓDIGO- linguagem ou sistema de signos convencionais e regrados na qual a mensagem é transmitida INFORMAÇÃO - o conteúdo de uma mensagem RETORNO (FEED-BACK) - volta da mensagem à origem (emissor) CONTEXTO - situação ou ambiente onde o processo comunicacional se dá CANAL - o “suporte” físico ou material da mensagem RUÍDO - sinal que atrapalha a transmissão da mensagem REPERTÓRIO - vocabulário de um dado código REDUNDÂNCIA - repetição de signos para reforçar uma dada mensagem PARA LER MAIS: COELHO NETTO, J. Teixeira. Semiótica, Informação, Comunicação. 3. ed., São Paulo, Perspectiva, 1990. PEREIRA, José Haroldo. Curso Básico de Teoria da Comunicação. Rio de Janeiro, Quartet : UniverCidade, 2001. EPSTEIN, Isaac. Teoria da Informação. São Paulo, Ática, 1986. PRINCIPAIS CONCEITOS DO CAMPO TEÓRICO DA COMUNICAÇÃO NÍVEIS DE COMUNICAÇÃO: comunicação intrapessoal - efetuada consigo próprio; emissor e receptor coincidem. ( E = R) comunicação interpessoal (ou face-a-face, presencial) - entre diferentes pessoas, que são simultaneamente emissor e receptor. (E/R <-> E/R) comunicação intergrupal - entre diferentes grupos sociais. comunicação massiva - apoiada nos tradicionais meios de comunicação de massa (MCM), como rádio, televisão e mídia impressa. Emissor e receptor são instâncias separadas pelo tempo e/ou espaço. R MCM (E) R R comunicação mediada pelo computador - efetuada através de computadores interligados em rede, operando em “tempo real” (Internet, intranets). Traz aspectos da comunicação interpessoal (onde pessoas são simultaneamente emissor e receptor) e da comunicação massiva (há um suporte técnico mediando os agentes sociais envolvidos no processo). E/R E/R E/R E/R E/R E/R Comunicação ocorre ainda entre: - seres brutos (matérias) - transmissão, no sentido físico-químico - seres orgânicos (animais) - informação, no sentido biológico - seres humanos - interação + interpretação, no sentido cultural-simbólico PRINCIPAIS CONCEITOS DO CAMPO TEÓRICO DA COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO = conceito que se confunde com outros conceitos paralelos (informação e transmissão) Isso ocorre porque, nas sociedades tradicionais (pré-modernas), comunicação e informação tendencialmente “caminhavam” juntas. Além disso, uma noção de comunicação vai se desenhar na primeira metade do século XX (consolidando-se nos anos 40-50), a partir do momento em que os meios de comunicação de massa (rádio, cinema, televisão) vão se tornando elementos cotidianos na vida das pessoas. COMUNICAÇÃO vem do latim COMMUNICATIO, onde: CO + MUNIS + TIO SIMULTANEIDADE + ESTAR ENCARREGADO DE + AÇÃO-ATIVIDADE Ou seja, a idéia de comunicação implica em uma atividade ou ação na qual se pressupõe um compartilhar de algo. A partir desses radicais, surgem outras palavras afins, como COMUNGAR. Dicionários designam geralmente a comunicação como: - ato de estabelecer relação (coisas, células, animais, seres humanos); - ato de transmitir sinais através de códigos (animais, seres humanos); - ato de trocar pensamentos ou sentimentos (seres humanos); - usar meios tecnológicos (comunicação telefônica, via Internet); - mensagem ou informação; - vias que ligam espaços distintos, ou circulação; - disciplina, saber, ciência ou grupo de ciências. Vamos precisar o conceito de COMUNICAÇÃO e diferenciá-lo de INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO (Adriano Duarte Rodrigues) = “a esfera da informação é uma realidade relativa que compreende o conjunto dos acontecimentos que ocorrem no mundo e formam o nosso meio ambiente. Os acontecimentos são tanto mais informativos quanto menos previsíveis e portanto mais inesperados. (...) A informação é, por conseguinte, uma realidade que pode ser teoricamente medida pelo cálculo de probabilidades, sendo o valor informativo de um acontecimento inversamente proporcional à sua probabilidade de ocorrência (...) A informação está por isso intimamente associada à natureza relativamente inexplicável de fenômenos, ao fato de a razão humana não os conseguir dominar e de ocorrerem no mundo à nossa volta sem aviso prévio, fora do controle e do domínio da liberdade humana, de intervirem de maneira brutal e inesperada” (RODRIGUES, 1994: pp. 20-1). COMUNICAÇÃO é um PROCESSO DE TROCA ENTRE DOIS AGENTES (ANIMAIS, SERES HUMANOS ETC.), uma vez que há algo a ser compartilhado. COMUNICAÇÃO (Adriano Duarte Rodrigues) = “processo que ocorre entre pessoas dotadas de razão e de liberdade, entre si relacionadas pelo fato de fazerm parte, não do mundo natural, com as suas regras brutais e os seus mecanismos automáticos, mas pelo fato de pertencerem a um mesmo mundo cultural. (...) processo dotado de relativa previsibilidade. Da previsibilidade do processo comunicacional depende um dos seus princípios fundamentais, o da intercompreensão. (...) os processos comunicacionais são dotados de valores que põem em jogo as preferências, as opções, os desejos, os amores e os ódios, os projetos, as estratégias dos intervenientes na intercompreensão e na interação. (...). A comunicação não é um produto, mas um processo de troca simbólica generalizada, processo de que se alimenta a sociabilidade, que gera os laços sociais que estabelecemos com os outros, sobrepondo-se às relações naturais que mantemos com o meio ambiente” (RODRIGUES, 1994, pp. 21-2). INFORMAÇÃO. Vem do latim informatio (ação de modelar ou de dar forma). Ou seja, ela formata um aspecto da realidade, por nós desconhecido, de um modo específico. COMUNICAÇÃO = INFORMAÇÃO ASPECTO CENTRAL DA COMUNICAÇÃO = TROCA TROCA => OUTRAS ÁREAS (ECONOMIA E ANTROPOLOGIA) ECONOMIA = pensamento fisiocrata - FRANÇA, SÉC. XVIII (François Quesnay) Premissa = fisiocratas eram anti-mercantilistas (mercantilismo pregava o centralismo do estado nas decisões). Fisiocratas adotam o lema do laissez-faire, laissez-passer (“deixar fazer, deixar passar”) e a figura da “mão invisível do mercado”. Progresso político-econômico viria com o desenvolvimento dos meios de comunicação (ou melhor, das vias fluviais, marítimas e terrestres de comunicação), interligando diferentes pontos, fazendo circular produtos e renda. Ou seja: há uma visão de interdependência entre as partes, sistêmica, no qual tudo precisa funcionar bem para que todos estejam bem. Economia de fluxo, de trocas, era vista como algo “natural”. ANTROPOLOGIA = estudo sobre dádiva - FRANÇA, SÉC XIX-XX (Marcel Mauss). Premissa = troca é um fato social total (conforme definição do tio, Émile Durkheim, ou seja, quando a totalidade do social está presente, ou ainda, quando o fato é puramente social, não pode se dar apenas na instância do estritamente individual). Mauss = dádiva é um fato social baseado numa tríade: dar, receber e retribuir (objetos materiais ou simbólicos), criando laços sociais. DÁDIVA = processo de mão dupla “desigual”, pois: QUEM DÁ, PODE RECEBER - QUEM RECEBE, DEVE RETRIBUIR Está em vantagem, portanto, quem dá, criando uma obrigação para quem deve retribuir. Mesmo que o recebedor não queira “entrar no sistema”, ele já está nele ao receber, e mesmo que se recuse a receber ou a retribuir. Ou seja: o que está em jogo aqui são a honra e o prestígio (de dar ou de retribuir). DIFERENÇAS ECONOMIA: TROCA = LUCRO (MERCADO + SOLIDÃO) ANTROPOLOGIA: TROCA = HONRA(ALIANÇA + SOCIABILIDADE) ASPECTO CENTRAL DA INFORMAÇÃO = TRANSMISSÃO (DA MENSAGEM) INFORMAÇÃO = mensagem referente a acontecimento inesperado, desconhecido ou novo, do ponto-de-vista de quem NÃO o conhece e que depende das probabilidades de acontecer ou não. INFORMAÇÃO = matéria-prima da comunicação e da cultura de massas (novelas, noticiários, eventos esportivos etc.), uma vez que trabalham com subentendidos do tipo “saiba que”. INFORMAÇÃO = transmissão UNILATERAL de um suposto SABER, da parte de quem sabe (EMISSOR) direcionado para um ou mais destinatários que supostamente NÃO SABEM DE OU DESCONHECEM ALGO. Preocupação: que mensagem emitida seja a mesma a ser recebida pelo destinatário, sem perda de elementos ou falhas de transmissão. Mensagem enviada (emissor) = Mensagem recebida (receptor) COMUNICAÇÃO = baseia-se na TROCA INFORMAÇÃO = baseia-se na TRANSMISSÃO DE ALGO (MENSAGEM) Antigamente (sociedades pré-modernas), comunicação e informação caminhavam juntas, ou seja, partilhavam a mesma EXPERIÊNCIA para os indivíduos envolvidos. Com o desenvolvimento da comunicação de massa, instâncias da comunicação e da informação se separam. SODRÉ: “a regra do jogo é fingir que o medium (o intermediário técnico entre falante e ouvinte) equivale à completa realidade comunicacional dos sujeitos. E o primeiro grande falseamento operado por essa ficção é confundir informação com comunicação” (SODRÉ, 1977: 24) COMUNICAÇÃO DE MASSA (THOMPSON) = “série de fenômenos que emergiram historicamente através do desenvolvimento de instituições que procuravam explorar novas oportunidades para reunir e registrar informações, para produzir e reproduzir formas simbólicas, e para transmitir informação e conteúdo simbólico para uma pluralidade de destinatários em troca de algum tipo de remuneração financeira. Sejamos mais precisos: eu usarei a expressão ‘comunicação de massa’ para me referir à produção institucionalizada e difusão generalizada de bens simbólicos através da fixação e transmissão de informações ou conteúdo simbólico” (THOMPSON, 1998: 32. Grifos no original). Diferenças centrais entre comunicação e informação COMUNICAÇÃO = processo de troca simbólica INFORMAÇÃO = mensagem a ser transmitida a alguém COMUNICAÇÃO = processo dialógico, bilateral INFORMAÇÃO = transmissão monológica, unilateral (detalhe: sempre há possibilidade de reversibilidade da informação num processo comunicacional; a essa reversibilidade da informação, de volta ao emissor, chamamos feed-back). COMUNICAÇÃO = potencialmente horizontalizada INFORMAÇÃO = tendencialmente verticalizada A COMUNICAÇÃO COMO OBJETO TEÓRICO Tende-se a pensar a Comunicação como objeto teórico somente a partir do séc. XX, quando do surgimento e expansão dos MCM. Primeiros “teóricos” da Comunicação = Platão e Aristóteles Platão: trata de temas que ainda são recorrentes até os dias de hoje Fedro (problema da relação escrita x memória; tecnologia) A República (problema da representação, simulacro e espetáculo) “Seguidores” de Platão = pensadores pós-modernos (Jean Baudrillard) e críticos da tecnologia (Neil Postman), por exemplo. “Polêmica”: Filosofia (Platão), Dialética (Sócrates) e Retórica (Górgias). FILOSOFIA = busca da verdade (ideal) e do conhecimento DIALÉTICA = busca do verdadeiro na síntese (tese x antítese) RETÓRICA = busca do bom resultado (verossímil) RETÓRICA surge provavelmente na Sicília (467 a.C.) (disputa jurídica). Córax e Tísias levam-na para a Grécia, considerada berço da Retórica; depois ela vai se desenvolver em Roma. RETÓRICA vem de rhetón (dizibilidade / discurso / expressão), significa “arte de persuadir pela argumentação” (“fazer crer em”, ≠ “levar a fazer algo”). RETÓRICA = primeira sistematização de conhecimentos e idéias acerca da Comunicação. Influenciou outros campos do discurso (Jornalismo, Publicidade, Direito, Pedagogia etc.) É ampliada por Górgias na Grécia antiga, depois por demais sofistas. Sofistas = combatidos por Platão, por praticarem, em vez da boa retórica em busca da Verdade (psicagogia: formação das almas pela palavra), uma má retórica (logografia: fala-se sobre qualquer coisa em troca de dinheiro e “exibicionismo”). Aristóteles sistematiza Retórica para tratar do verossímil (aquilo a que não cabe uma verdade, pois trata do “que lhe parece” - opinião - e não “do que é”) e transforma-a, efetivamente, na primeira teoria da Comunicação: 1) Arte Retórica trata de três instâncias: ORADOR (tomo I) JUÍZES (tomo II) ESTILO (tomo III) EMISSOR RECEPTOR MENSAGEM 2) retórica baseia-se no kairós ( , senso de oportunidade ou politropia): adapta-se o discurso para cada situação e cada platéia a ser convencida (oposto, um mesmo discurso para todos = monotropia). 3) sistema retórico permite seu uso para praticamente todas as produções textuais (orais, escritas, audiovisuais etc.). 4) Retórica aristotélica é, para alguns, ainda a primeira teoria da Recepção, uma vez que discurso deve ser adaptado, ou seja: a recepção é pensada antes e no momento da emissão. Esse aspecto será esquecido por grande partes das posteriores teorias da comunicação de massa. O SISTEMA RETÓRICO é composto de 3, 4 ou 5 partes (varia conforme autores): - inventio (heuresis) = escolha dos argumentos (e não invenção) - dispositio (taxis) = disposição, ordenamento dos argumentos - elocutio (lexis) = estilo de expressão dos argumentos; ornamento - actio (hypocrisis) = estilo corporal/gestual para apresentar argumentos - memoria (mneme) = capacidade mnemômica de expor argumentos Inventio - busca dos argumentos para convencer a um auditório, depende: 1) do gênero do discurso: 2) do tipo de argumento: etos (ethos) - caráter (do orador) - MORAL patos (pathos, passio) - emoções (do auditório) - PSICOLÓGICO logos - argumentação dialética (do discurso) - LÓGICO “Los medios operan, de distintas maneras y con resultados diferentes según las circunstancias, sobre las tres dimensiones básicas de la comunicación: la dimension de las reglas (qué se debe hacer o no hacer: el componente ético); la dimensión de los hechos (cómo se describe un acontecimiento determinado, cómo se lo narra, cómo se lo contextualiza: el componente relativo a la veracidad de la información) y los sentimientos (qué sensaciones, impresiones, afectos, son asociados a tal o cual hecho: el componente emocional de la información)”. (VERÓN, 1999: 131) Dispositio - ordenação dos argumentos, constitui-se de: exórdio - início do discurso - etos narração - exposição clara, breve e crível dos fatos - logos confirmação - conjunto de provas - logos peroração - fim do discurso - logos + patos Pode haver ainda: digressão - relaxamento do discurso recapitulação - resumo da argumentação Judiciário Juízes Passado Acusar/defender Justo/injusto Entinema Possível/ (dedutivo) impossível Deliberativo Assembléia Futuro Aconselhar/desaconselhar Útil/nocivo Exemplo Real/ (indutivo) não-real Epidíctico Espectador Presente Louvar/censurar Nobre/vil Amplificação Mais/ menos Elocutio - uso de figuras e de estilo adequado à situação Estilo objetivo prova momento do discurso nobre comover patos peroração/digressão simples explicar logos narração/confirmação ameno agradar etos exórdio/digressão Actio - diz respeito à capacidade interpretativa do orador: voz, gestos, acenosde cabeça etc. Memoria - capacidade de falar em público como se estivesse criando no momento mesmo da emissão. Chréia - exercício de invenção e memória (“antecessor” do lide jornalístico): Quis? Quid? Ubi? Quibus auxiliis? Cur? Quomodo? Quando? (Quem? O quê? Onde? Por que meios? Por quê? Como? Quando?) Retórica aristotélica, diferente de boa parte das teorias da Comunicação, vê receptor como parte ativa do processo comunicacional, livre: “persuasão implica liberdade. Não faz sentido tentar persuadir alguém que não pode escolher, que não pode exercitar um mínimo de livre-arbítrio. A persuasão também implica diferença, pois tampouco há sentido em tentar influenciar alguém que já pensa como você, a não ser talvez como um tipo de suplemento ideológico. (...) não existe, portanto, nenhuma contradição entre retórica ou democracia, ou entre retórica e conhecimento. Pelo contrário, a retórica pressupõe e requer democracia; e na medida em que a retórica é tanto prática como crítica ela também a sustenta. A retórica é essencial tanto para o exercício do poder como para sua oposição” (SILVERSTONE, 2002: 64-5. Grifos no original) PARA LER MAIS: ARISTÓTELES. Arte Retórica, Arte Poética. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s.d. BARTHES, Roland. “A Retórica Antiga”. In BARTHES, Roland. A Aventura Semiológica. Lisboa, Ed. 70, 1987, pp. 19-91. NEIVA JR., Eduardo. Comunicação - teoria e prática social. São Paulo, Brasiliense, 1991, pp. 169-201. PLEBE, Armando. Breve História da Retórica Antiga. São Paulo, EPU/ Edusp, 1978. FUNCIONALISMO NORTE-AMERICANO A Comunicação volta a ser estudada sistematicamente só no início do século XX (em particular no período entre as duas Grandes Guerras), com o advento e expansão dos MCM. Essas retomadas influenciaram boa parte dos anos 60/70 (70/80 no Brasil). Suas origens: CONTEXTO = EUA, pós-I Guerra Mundial INFLUÊNCIAS = behaviorismo (John Watson) + condicionamento clássico (Ivan Pavlov). Visão psicanalítica (inconsciente, ego) é aqui ignorada. América do Norte Teorias matemáticas, pensamento funcionalista norte-americano e ideário de Marshall McLuhan Europa a teoria crítica da Escola de Frankfurt e a semiologia francesa Behaviorismo comportamento humano é analisável porque observável, graças aos estímulos que provocam respostas (atos do indivíduo); recusam-se conceitos mentais (não-observáveis) E > R (estímulo provoca resposta) Condicionamento pavloviano tentava mostrar que biologia natural podia ser influenciada por estímulos externos. Padrões comportamentais não eram herdados ou genéticos, apenas, mas também alterados E externo > atividade natural Cria-se a idéia dos MCM como instâncias criadoras de “estímulos” (conteúdos), que provocariam “respostas” (efeitos) junto à audiência (vide notícias sobre a guerra, propaganda, programa de rádio A Guerra dos Mundos, de Orson Welles etc.). É a base para a Teoria da Agulha Hipodérmica (ou Teoria da Bala Mágica ou da Correia de Transmissão): MCM = onipotentes, poderosos X massa = impotente, passiva (massa = sociedade de indivíduos isolados, conforme pensamento de Gustave Le Bon e José Ortega y Gasset) PLEBE, Armando & EMANUELE, Pietro. Manual de Retórica. São Paulo, Martins Fontes, 1992. REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo, Martins Fontes, 1998. É no final dos anos 40, dentro desse cenário de paranóia/medo, que surgem, nos EUA, dois dos paradigmas mais clássicos da Comunicação e que orientarão grande parte dos estudos posteriores na área: o modelo teórico de Harold Lasswell e a Teoria Matemática da Informação de Shannon & Weaver. Harold Lasswell 1948, “A Estrutura e a Função da Comunicação na Sociedade” quem? diz o quê? em qual canal? para quem? com quais efeitos? Viés funcionalista: vê o sistema social como um organismo cujas partes, de funções específicas, devem funcionar bem para o todo funcionar bem Meta: funcionalidade do sistema Claude Shannon e Warren Weaver 1949, “A Teoria Matemática da Comunicação” Viés matemático-informacional: vê partes componentes do sistema (e não o processo comunicacional) comunicativo apenas do ponto-de-vista técnico, com particular preocupação de que os sinais da mensagem transmitida cheguem ao destinatário do mesmo modo que “saíram” da fonte. Meta: transmissão otimizada da mensagem, sem preocupação com o seu conteúdo fonte destinatário mensagem mensagem codificador (E) sinal canal sinal decodificador (R) sentido da transmissão (ruído) Diferenças nas propostas paradigmáticas de Lasswell e de Shannon & Weaver: Em ambos os casos, só uma coisa importa: o sistema (social ou técnico) Shannon & Weaver preocupação apenas com o funcionamento técnico (não semântico) do sistema comunicativo. Lasswell preocupação com o papel da mídia na sociedade. Funções: vigilância + correlação das partes sociais + transmissão da herança cultural Paradigma matemático-informacional de Shannon & Weaver, aplicado apenas às telecomunicações e à engenharia de comunicações, foi depois adaptado por Wilbur Schramm à comunicação humana, onde: fonte + codificador = comunicador decodificador + destinatário = receptor comunicador e receptor = devem partilhar “campos de experiências em comum” (em outros termos: repertório). Schramm percebeu: 1) estudo da Comunicação como dependente de uma série de outros fatores, como contribuições de outros campos científicos (Sociologia, Psicologia); 2) Comunicação como “relação interativa” (e não como apenas algo que se transmite a alguém) e; 3) que estudar a Comunicação significa estudar as pessoas que interatuam nos processos comunicacionais. Outros autores norte-americanos importantes: Paul Felix Lazarsfeld - avança em relação a demais pesquisadores norte- americanos. Premissa: todo ser humano é capaz de fazer escolhas, portanto não sendo tão passivo quanto se imaginava (e sim seletivo). Para Lazarsfeld, pessoas tomam decisões a partir da influência pessoal do “líder” de um grupo ao qual pertença. É o two-step flow of communication (duplo fluxo da comunicação), proposto junto com Elihu Katz: MCM A A A A MCM A E B D C H G F Ação da mídia pela ótica da Teoria Hipodérmica Two-step flow of communication A = indivíduo isolado A, E = formadores de opinião junto aos demais { Lazarsfeld chegou a trabalhar nos anos 50 junto com Adorno (a quem acusou de não fazer a verificação das hipóteses com as quais trabalhava) e, apesar de defender a administrative research, percebeu três funções dos MCM, juntamente com Robert King Merton: 1) o poder de atribuir status a questões públicas, pessoas, organizações e movimentos sociais (estabilização e coerção à hierarquia da sociedade); 2) a execução de normas sociais (normatização e visibilização dos desvios possíveis numa sociedade); 3) a capacidade de narcotizar o público (chamado pelos autores de “disfunção narcotizante”). Ou seja: o indivíduo prefere “saber sobre algo” a “fazer algo sobre” (informação inibe a ação). Joseph T. Klapper - ex-aluno de Lazarsfeld e sociólogo, Klapper propõe modelo teórico no qual os MCM não podem ser tomados como causa única e suficiente dos efeitos junto ao público. Visão fenomênica de Klapper vê “os meios de comunicação como uma influência queopera entre outras influências dentro de uma situação total” (apud MCQUAIL, 1985: 228). Klapper aprofunda noção da capacidade seletiva do público, pois crê que: 1) pessoas preferem se expor aos MCM condizentes com as suas atitudes individuais; portanto, na verdade, em vez de serem influenciadas pelos MCM, as pessoas reforçariam seus sistemas de crenças, pois 2) as pessoas não estão diante dos MCM em estado de “nudez psicológica”, mas sim com um conjunto de pré-disposições já existentes. Percebe-se, aqui, que foco dos estudos sobre os MCM vai gradativamente deixando de lado os conteúdos e os efeitos que eles provocam, e passam a se dirigir para o lado dos receptores. PARA LER MAIS: ARAÚJO, Carlos Alberto. “A Pesquisa Norte-Americana”. In: HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz C. & FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comuni- cação. Petrópolis, Vozes, 2001, pp. 119-30. POLISTCHUK, Ilana & TRINTA, Aluizio Ramos. Teorias da Comunicação. Rio de Janeiro, Campus, 2003, pp. 83-108. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa, Presença, 1987. ESCOLA CANADENSE DE ESTUDOS EM COMUNICAÇÃO Outro conjunto de idéias sobre os MCM vem do Canadá (anos 60) na polêmica obra de Marshall McLuhan, seguidor das idéias de Harold Innis (começo dos anos 50), geógrafo e economista. Foco de Innis = determinismo tecnológico; tecnologias da comunicação (e outras também, como transporte) são base de processos políticos e econômicos. Traços culturais de cada civilização antiga estão ligados aos meios por ela usados (meio “predispõe” uma forma social específica). Comunicação, tecnologia e esfera econômica = favorecem “monopolização do conhecimento” por parte de um grupo que cria/domina uma nova tecnologia, criando um “desequilíbrio” na sociedade (experts x “analfabetos tecnológicos”). Resultado: ou se impede o desenvolvimento ou surgem novos mecanismos para tentar “corrigir” esse desequilíbrio. Dimensões fundamentais = tempo e espaço (cada meio se adapta melhor a uma dimensão do que a outra). Exemplos: papel e papiros (da ordem da inscrição e leves) e comunicação eletrônica tendem a vencer o espaço, por se “moverem” mais facilmente; pedra, pergaminho e argila (da ordem da inscrição mas pesados e resistentes) tendem a vencer o tempo. Esses aspectos influenciam no desenvolvimento de uma civilização. Innis troca as considerações sobre os efeitos e os conteúdos (mensagens) por questionamentos sobre os canais. Seu pensamento terá influências, diretas ou indiretas, nas obras de McLuhan, Pierre Lévy, Derrick de Kerchove e Régis Debray. McLuhan - para alguns, precursor dos estudos midiológicos (“lógica da mídia”). Foge do formalismo do funcionalismo, mas não do funcionalismo em si (ao prever a “aldeia global”, espécie de “expansão/conexão mundial” da mídia até então localizada, por exemplo). McLuhan privilegia em suas análises o sensorial, nunca o ideológico. Importava para ele como o canal e a mensagem (“massagem”) atuavam no receptor, mas não o quê a mensagem significava. Para McLuhan, um novo meio modifica a percepção sensorial da realidade, uma vez que ele é uma extensão de algum sentido humano; um novo meio cria um novo ambiente, com conseqüências psíquicas e sociais. Meios se influenciam, se alternam, superam um ao outro, mas não se destróem. McLuhan 1) propõe uma divisão dos meios: 2) propõe uma linha evolutiva para a Humanidade: tribalização (oral) -> destribalização (escrita) -> retribalização (eletrônica) 3) e define que: “o meio é a mensagem” (pois o conteúdo de um meio é um outro meio) Crítica ao pensamento de McLuhan: 1) falta de sistematização; 2) frouxidão dos conceitos (vide meios quentes e frios); 3) desinteresse pelos conteúdos midiáticos; 4) o meio não é a mensagem; o meio faz parte da mensagem. Virtudes do pensamento de McLuhan: 1) pensar, para além dos conteúdos, os suportes midiáticos e suas conseqüências sociais e individuais; 2) pensar, ainda que frouxamente, no papel do receptor diante dos meios. Meios quentes (hot media) prolongam um único sentido em alta definição (grande quantidade de dados) menos participativo livro, jornal, rádio, cinema, fotografia Meios frios (cool media) prolongam vários sentidos em baixa definição (pequena quantidade de dados) mais participativo TV, telefone, HQs, desenho animado PARA LER MAIS: MCLUHAN, Marshall. A Galáxia de Gutenberg. São Paulo, Editora Na- cional, 1972. MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo, Cultrix, 1969. 4.000 a. C. 486 a.C. 1457 Séc. XVIII 1a. metade do Séc. XX Anos 40/ Séc. XXI Escrita Retórica Livro impresso Surgimento da imprensa Expansão dos MCM Surgimento e expansão da informática e tecnologias digitais - 1a. técnica de comunicação (ideográfica e alfabética) - surgimento de escribas e lectores - 1a. teoria da comunicação - exercício da fala / memória - memória do texto escrito - “dissociação” autor x texto - aceleramento da difusão da visão eurocêntrica - texto = não-circulante - influência de teorias liberais (Quesnay, Smith) sobre fluxos e circulação - influência da Revolução Francesa (cidadania / opinião / informação / censura) - divisão do espaço entre público e privado - 1as. primeira teorias da comunicação de massa - surgimento de uma nova elite - surgimento da cultura de massa - remodelamento das teorias da comunicação em geral - influência no processo de globalização - digitalização de processos econômicos, culturais etc. - surgimento de mídias digitais PRINCIPAIS FATOS ENVOLVENDO ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO E AS MODIFICAÇÕES SOCIAIS RESULTANTES ESCOLA DE FRANKFURT - perspectiva crítica diante dos MCM; contrapõe-se à visão funcionalista e administrativa norte-americana. Nomes centrais: Theodor W. Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm (mais Walter Benjamin e Siegfried Kracauer). Base teórica central = marxismo (ideologia) + psicanálise (projeções) Premissas: 1) MCM impõem a ideologia da classe dominante, através da persuasão ou manipulação; por isso não teria havido a revolução proletária. 2) sociedade é um todo, não dividida em partes funcionais, mas como resultado de processos histórico-sociais, portanto não naturais. 3) Dialética do Iluminismo: se a Modernidade previa libertação do homem através do progresso econômico, racionalidade e tecnologia, o que ocorre é oposto, ou seja, a barbárie tecnológica (com os MCM inseridos nesse universo). Indivíduo progressivamente vai perdendo a sua autonomia. Visão marxista = transposta da análise dos meios de produção de bens materiais para os meios de produção de bens simbólicos. Indústria cultural (Kulturindustrie) = termo cunhado por Adorno e Horkheimer nos anos 40 para substituir a expressão “cultura de massas” e explicar o processo de serialização / estandartização / divisão do trabalho que rege a transformação da cultura em mercadoria na esfera capitalista. Termo se opõe a Kultur, que diz respeito à capacidade de criação do espírito humano nas diversas áreas e que traz embutido a noção de progresso e de civilização. Produtos culturais subordinam-se à racionalidade técnica / organizacional / de planejamento. Arte = sacralizada Produto cultural = dessacralizado Produtos culturais são ideológicos, em dois sentidos possíveis do termo: falsa consciência / alienação + ideologia [da classe] dominante Assim, consumidor (sujeito da indústria cultural) é “objeto” (vítima) dela.Estudos frankfurtianos centravam-se mais nos aspectos teóricos de suas análises do que na verificação empírica de suas teses (o que levou, dentre outros motivos, a antagonismos entre Adorno e Lazarsfeld, quando da estada do alemão nos EUA nos anos 40). Radicalidade do pensamento frankfurtiano, para alguns (como Jesús Martín-Barbero), deve-se ao contexto em que foi produzido: Alemanha nazista + Estados Unidos da [pretensa] democracia de massas. Problemas do pensamento frankfurtiano: 1) visão elitista da arte, baseada na Aufklärung (“estado social oposto à barbárie dos povos selvagens”). A arte não pode “rebaixar-se”, tornar-se “ligeira”, nem ir ao encontro das massas; deve buscar a comoção, não a emoção; buscar a experiência estética, não a diversão. Adorno: “a arte permanece íntegra precisamente quando não participa da comunicação”. Em suma: arte e massas seriam pólos distantes, opostos; experiência estética e prazer são termos inconciliáveis. 2) enxergar indústria cultural como “sistema” (conceito esse criticado pelos próprios frankfurtianos quando se referiam ao modo como os funcionalistas norte-americanos se referiam à sociedade). Não enxergam indústria cultural como palco de contradições, conflitos e dilemas, nem como reprodutora de aspectos culturais da esfera social na qual ela é gerada. Isso implica em visão totalizante / totalitária da realidade construída pelos MCM (alguns desses aspectos serão rebatidos tanto por Estudos Culturais quanto por pensadores pós-modernos). Exemplo: afirmação de Adorno de que todos os filmes, de Charles Chaplin a Orson Welles, dizem a mesma coisa, relativa ao triunfo do capitalismo invertido. 3) percebem sujeito receptor como alguém acrítico, não dotado de capacidade crítica diante da realidade e do que lhe é imposto/sugerido pelos MCM. Para frankfurtianos, individualidade é na verdade uma pseudo- individualidade, baseada em estereótipos que balizam tanto o tempo produtivo quanto o tempo livre (lazer) das pessoas. Benjamin e Kracauer: frankfurtianos, ma non troppo Se frankfurtianos enxergavam tecnologia quase que totalmente com restrições (dentro da visão iluminista que não se concretizou e por causa do potencial exploratório do capitalismo), Benjamin e Kracauer percebem a tecnologia como algo que pode (não necessariamente deve) revolucionar a arte; ou seja, percebem um potencial revolucionário nela. Cidade + tecnologia = novas possibilidades estéticas e culturais. Privilégio cultural deixava de ser apenas da burguesia para se “espraiar” para as massas. Kracauer: via cinema, por exemplo, como esfera na qual sonhos/desejos/ devaneios reprimidos em outras esferas eram expressos “livremente”. Benjamin: acreditava que a arte, livre da aura, podia tornar-se objeto cultural, reprodutível e ao alcance das massas, que dificilmente teriam acesso à obra de arte de um outro modo. Sensibilidade dava lugar à aproximação. Essa nova experiência era fundamental para entender as massas, para entender sua recepção. E isso era possível graças às novas tecnologias (fotografia, cinema etc.). Para Benjamin, atividade crítica e prazer artístico podem estar juntos. Massa que “de retrógrada diante de um Picasso se transforma em progres- sista diante de um Chaplin” (Benjamin). Pensamento benjaminiano terá influências nos Estudos Culturais. Edgar Morin - um frankfurtiano à francesa Pensamento da Escola de Frankfurt deixou algumas marcas na França, com Edgar Morin, que introduziu no país o conceito de “indústria cultural”, a qual, para ele, não é onipotente, mas produtora de mudanças culturais. Diferente de Adorno, Morin não crê na morte da criação artística, mesmo com as esferas de planejamento, divisão de trabalho e mediação existentes dentro da indústria cultural (criação tende a se tornar produção). “A cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações específicas. Ela se acrescenta à cultura nacional, à cultura humanista, à cultura religiosa, e entra em concorrência com estas culturas” (MORIN, 1975: 11). A cultura de massas se torna a “primeira cultura universal da história do homem” (idem: 12). Análise leva a Morin a dizer que indústria cultural se apóia numa dualidade: burocracia-invenção x padrão-individualidade Ou seja, ao mesmo tempo em que se produz/oferta sempre o mesmo produto, ele deve também ter algo de novo, de diferente, a fim de produzir um mínimo de originalidade. O que vai possibilitar tal “paradoxo” é o fato de que existe uma estrutura do imaginário, que é “esqueletado” conforme determinados arquétipos (figurinos-modelo). Ambos (indústria cultural e imaginário), por serem estruturas, podem “dialogar” entre si, ainda que haja tendência para a transformação dos arquétipos em estereótipos. Grandes temas do imaginários viram arquétipos e estereótipos constituídos em padrão da indústria cultural: “fórmula substitui forma” (C. W. Mills). Aspecto em comum entre Edgar Morin e os frankfurtianos: retomada de categorias de Freud (psicanalíticas) usadas pelos frankfurtianos, como os mecanismos de identificação e projeção, para dar conta da demanda de mitos e heróis. Paradoxo: cultura de massas contemporânea tende a virar cultura de elite. PARA LER MAIS: ADORNO, Theodor W. Intervenciones - nueve modelos de critica. Cara- cas, Monte Avila, 1969. ADORNO, Theodor W. “A Indústria Cultural”. In: COHN, Gabriel. Comuni- cação e Indústria Cultural. 5. ed., São Paulo, T. A. Queiroz, 1987, pp. 287- 295. ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max. “A Indústria Cultural - o iluminismo como mistificação de massas”. In: LIMA, Luiz Costa (org.). Teoria da Cultura de Massa. 4. ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990, pp. 159-204. BENJAMIN, Walter. “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”. In: LIMA, Luiz Costa (org.). Teoria da Cultura de Massa. 4. ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990, pp. 209-40. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX - O Espírito do Tempo I - Neurose. 3. ed., Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1975. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX - O Espírito do Tempo II - Necrose. 2. ed., Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1986. RÜDIGER, Francisco. “A Escola de Frankfurt”. In: HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz C. & FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comunicação. Petrópolis, Vozes, 2001, pp. 131-47. STRINATI, Dominic. Cultura Popular - uma introdução. São Paulo, Hedra, 1999, pp. 61-91. ECONOMIA POLÍTICA DA COMUNICAÇÃO Desdobramento natural dos questionamentos envolvendo o papel da comunicação de massa na sociedade contemporânea e também desdobramento natural da visão marxista-frankfurtiana, onde MCM são vistos como aparato ideológico, seja do Estado (Louis Althusser), seja de grupos econômicos e sociais específicos (Herbert Schiller). A visão, aqui, é de que há uma indústria cultural. Desdobramento também da visão de MCM como aparato imperialista norte-americano (num primeiro momento), depois como aparato mantenedor do capitalismo (pois ajuda a enfrentar as crises cíclicas do capitalismo) e, por fim, analisando o impacto da cultura e da visão de mundo dos EUA nos diferentes países. Nessa visão, os MCM consolidam e ampliam o capitalismo norte-americano; assim, o imperialismo cultural levava ao surgimento de idéias como a “teoria da dependência” (Schiller, Noam Chomsky, Armand Mattelart – vide Para Ler o Pato Donald – e Luiz Beltrão). Visão contemporânea – leva em conta os atuais processos de globalização, fusão de empresas de diferentes áreas (comunicação de massa, informática, entretenimentoetc.) como relevantes para a análise da produção e da circulação dos produtos midiáticos. A comunicação é vista como mercadoria e ainda como mantenedora do sistema capitalista. Porém, a dominação norte-americana começa a entrar em “disputa” simbólica com outros mercados produtores de produtos culturais (Índia, Brasil, Japão, Egito). Ou seja: passa-se da noção de “indústria cultural” para o de “indústrias culturais”. Foco das análises: “o lado econômico (quase sempre oculto) da comunicação, a formação dos grandes grupos econômicos transnacionais, os fenômenos de dominação daí resultantes, assim como os aspectos estratégicos dos fluxos transnacionais de informações ou produtos culturais” (MIÈGE, 2000: 58). PARA LER MAIS: BOLAÑO, César. Indústria cultural, informação e capitalismo. São Paulo, Hucitec/Polis, 2000. BOLAÑO, César; MASTRINI, Guillermo e SIERRA, Francisco (orgs). Economía Política, Comunicación y conocimiento. Buenos Aires, La Crujía, 2005. MATTELART, Armand & MATTELART, Michelle. O Carnaval das Imagens. São Paulo, Brasiliense, 1997. ESTRUTURALISMO E SEMIÓTICA Estruturalismo e semiótica não são, em sua origem, teorias da Comunicação (assim como os estudos funcionalistas norte-americanos também não o são, influenciados pela Sociologia e pela Psicologia). Porém, seus métodos de análise têm reflexos até hoje, nos estudos sobre as mensagens que circulam na instância do sistema midiático. ESTRUTURALISMO = projeto derivado da proposta inicial de Ferdinand de Saussure (1857-1913), que se propunha a conceber uma ciência que estudasse a vida dos signos no seio da vida social (a Semiologia). Para Saussure, a Semiologia incorporava a Lingüística e era incorporado pela Psicologia Social: Como Saussure situa a Semiologia no campo das ciências humanas Psicologia Geral Psicologia Social Psicologia Individual ... Semiologia Língüística Escritura Outros sistemas de signos culturais Aparentemente Saussure parecia desconhecer outros estudos a respeito da natureza dos signos, desde Platão (Crátilo), Aristóteles, Santo Agostinho, os estóicos, os epicuristas, William de Ockham, John Locke, Charles Sanders Peirce, dentre outros. E o que é signo? Vem de sema -> semeîon, signo. Vamos, genericamente e por enquanto, dizer que um signo é algo que representa uma outra coisa ou que se associa a uma outra coisa, sendo que essa “uma outra coisa” nunca (em tese) é ela própria e essa representação/associação pode servir a mais de “uma outra coisa” (vide metáforas, metonímias e outras figuras de Retórica). Exemplos na literatura: Aventuras de Alice (Lewis Carroll), na seqüência da floresta das coisas sem nome, ou Viagens de Gulliver (Jonathan Swift), quando os sábios de Balbinarbi queriam transportar/usar as próprias coisas, em vez de usarem as palavras que as designam. Saussure via a linguagem como sistema de signos a serem analisados sincronicamente (dentro de um recorte de tempo), e não diacronicamente (seu desenvolvimento através do tempo). O signo é a associação entre um conceito e uma imagem acústica. O signo que mais interessava aos estudos de Saussure era o signo lingüístico. SIGNO SAUSSURIANO: SIGNIFICADO (sdo) SIGNO SIGNIFICANTE (ste) sdo conceito ste imagem acústica hexágono Ou: c-ã-o = ste / animal de quatro patas que late = sdo Significante pode mudar conforme a língua (cão, dog, perro, chien, hund). Simplificando: ste “=” nome; sdo “=” coisa/idéia denominada. Relação entre sdo/ste no signo lingüístico é arbitrária (social, cultural); o significante é linear (os sinais se desenvolvem linearmente no tempo e no espaço). Linguagem = língua (langue) + fala (parole); porém, Saussure vai se interessar apenas pela língua (instituição social e estrutural), deixando de lado a fala (ato individual, e apenas individual, de apropriação da língua. A fala como problema da Comunicação será retomada por Mikhail Bakhtin). Saussure enxerga na língua relações de duas ordens: - sintagmática = ordenação dos elementos (“eu vi você”, “você eu vi”) - paradigmática = substituição possível dos elementos eu / vi / você minha pessoa / vislumbrou / o senhor Linguagem e cultura, na visão estruturalista, se assemelham, por serem sistemas estruturais. Fundamental nas estruturas = aquilo que é só o é por não ser o que não é, ou seja, em termos de sua diferenciação (a qual é perceptível numa comparação estrutural): gato = rato, fato, galo, gago, gota Paralelismos com o pensamento saussuriano: Claude Lévi-Strauss: cultura e mito são sistemas estruturáveis, ainda que “invisíveis”, portanto inconscientes (exemplos: tabus, mitos etc.) Tabu = relações / combinações proibidas (num sistema de parentesco) Mito = estrutura que se mantém em diferentes narrativas (Édipo-Rei) Algirdas Julien Greimas: faz análise actancial das estruturas (sintaxe) narrativas, ou seja, da estruturação dos personagens numa dada narrativa. Distingue em seis (6) o número de actantes: - sujeito - realiza ação (herói) - objeto - instrumento da ação (princesa raptada, por exemplo) - destinador - quem “dá” o objeto / propicia a ação (rei, por exemplo) - destinatário - quem “recebe” o objeto / desfecho da ação (rei) - oponente - quem tenta atrapalhar a ação do herói (vilão) - adjuvante - quem é o assistente do sujeito (ajudante) Proposta mais radical do Estruturalismo: Roland Barthes. Começo de tudo: O Grau Zero da Escrita (1953), no qual ataca suposta “neutralidade e naturalidade” do estilo clássico francês de escrita. Premissa: realidade natural nunca é dada como certa, pois é construída socialmente. Leitura do mundo depende dos códigos que usamos, ou melhor, que nos acostumamos a usar e a achar “naturais”. Assim, não há para Barthes uma escrita politicamente neutra. A escrita não-ideológica é uma ilusão. Ápice do pensamento estruturalista barthiano: Mitologias (1957): mito - transforma história em natureza mito = sistema de comunicação / mensagem meta de Barthes = análise do processo de significação (produção de significados) no mito, onde: Língua { ste sdo S / ste sdo Mito S { mito = metalinguagem que esvazia de sentido S/ste e o associa a um novo conceito (sdo) para criar um novo signo (S), ou seja, para criar um mito; neste, ste = forma; sdo = conceito; S = significação. Nas Mitologias, Barthes analisa, dentre outras coisas, a mídia em seu sentido amplo (jornais, revistas, TV, programas etc.), sendo que a mídia é “pequeno-burguesa” e, ao mesmo tempo, ela “apaga” a pequena burguesia nesse universo (o social torna-se natural). Mito = estruturação ideológica que não esconde nada, nem faz desaparecer nada, apenas “deforma”. Exemplo de análise de Barthes (página seguinte) = capa da revista francesa Paris-Match: “Estou no cabeleireiro, dão-me um exemplar do Paris-Match. Na capa, um jovem negro vestindo um uniforme francês faz a saudação militar, com os olhos erguidos, fixos sem dúvida numa prega da bandeira tricolor. Isto é o sentido da imagem. Mas (...) bem vejo o que ela significa: que a França é um grande Império, que todos os seus filhos, sem distinção de cor, a servem fielmente sob a sua bandeira, e que não há melhor resposta para os detratores de um pretenso colonialismo do que a dedicação deste preto servindo os seus pretensos opressores. Eis-me, pois (...) perante um sistema semiológico ampliado: há um significante, formado já ele próprio por um sistema prévio (um soldado negro faz a saudação militar francesa); há um significado(aqui uma mistura intencional de ‘francidade’ e de ‘militaridade’); há enfim uma presença do significado através do significante” (BARTHES, 1975: 138. Grifos no original). Virada: Elementos de Semiologia (1964). Se para Saussure a Lingüística fazia parte da Semiologia (as linguagens, ou sistemas de signos, eram analisáveis segundo critérios distintos, não apenas lingüísticos), para Barthes ocorria o inverso: a Semiologia estava dentro da Lingüística: todo sistema de signos é uma linguagem ou um sistema de significação. Alguns passos para a análise semiológica de Barthes: 1) confrontar ste x sdo (o que se percebe/ouve x o que se traduz por ele) 2) confrontar denotação x conotação (aquilo que é num “primeiro nível” x aquilo que se conota num “segundo nível”). DETALHE - para Barthes, a ideologia perpassa a conotação. ALGUNS PROBLEMAS DO ESTRUTURALISMO / SEMIOLOGIA: 1) não se interessam por contexto de produção/consumo das mensagens; 2) Barthes resume a noção de ideologia à ideologia burguesa, apenas; 3) análises, paradoxalmente, acabam sendo a-históricas; 4) nada garante que leituras de Barthes sejam as únicas e/ou as corretas. Capa da revista Paris-Match analisada por Roland Barthes em Mitologias SEMIÓTICA - difícil falar da semiologia saussuriana sem falar, particularmente, da semiótica peirciana. Motivos: 1) confusão que ambos os termos causam junto aos estudiosos/leitores; 2) o fato de que uma não se refira à outra e vice-versa. Semiologia de Saussure - signo lingüístico com dois elementos (sdo e ste). Semiótica de Peirce - signo lógico com três elementos (R, O e I, abaixo). Elemento clássico da semiótica = signo ou representamen, “algo que representa uma outra coisa na ausência dessa mesma coisa”. Premissas importantes: - tudo é / pode ser signo de algo (outra coisa) - nada pode ser signo de si próprio Conceito central = semiose infinita R (representamen) O (objeto) I (interpretante) / R O I / R O I Pensamento peirciano: 1) pensar = manipular signos 2) homem = ele próprio é um signo 3) há 3 categorias universais: Primeiridade (firstness) = sentimento imediato e presente das coisas, sem relação com mais nada, sem reflexão (exemplo: percepção) Secundidade (secondness) = quando fenômeno primeiro se relaciona com um fenômeno segundo, comparação / efeito / relação (exemplo: leitura) Terceiridade (thirdness) = quando fenômeno segundo se relaciona com um terceiro, representação, memória, signo (exemplo: interpretação). onde: R = objeto perceptível (signo); O = referente, coisa; I = efeito do signo, que gera um novo signo ATENÇÃO: Interpretante não é o intérprete ESTUDOS CULTURAIS (cultural studies) - corrente iniciada nos anos 50, se solidifica em 1964 com a fundação do Centre of Contemporary Cultural Studies (CCCS) por parte de Richard Hoggart em Birmingham, Inglaterra. Objetivos: - contrapor-se às teorias funcionalistas norte-americanas (optam por análise da classe social, e não da massa); - recuperar conceitos de “ideologia” e “hegemonia”; - levar em conta o fator econômico nas relações culturais; - analisar o papel - central - da cultura dentro da sociedade, levando em conta as diversas práticas e formas culturais existentes em diferentes grupos, bem como as mudanças sociais daí possíveis. Cultura = amálgama da constituição de uma sociedade; cultura é algo que se constrói, na qual se é ativo; cultura não é consumida passivamente. Fontes principais: 1) As Utilizações da Cultura (Richard Hoggart, 1957). De caráter também autobiográfico, obra focaliza modo como as classes operárias se apropriam de produtos culturais e de MCM. Percebe submissão e resistência, por parte de operários, a esses produtos culturais. Mesmo assim, vê industrialização da cultura de modo negativo. 2) Cultura e Sociedade (Raymond Williams, 1958). Vê cultura (literatura) como processo onde significações são construídas sócio-historicamente. 3) A Formação da Classe Operária Inglesa (Edward P. Thompson, 1963). Como Williams, entende que cultura e história devem ser percebidas como espaço de enfrentamento de diferentes modos de vida (conflitos, tensões, lutas) PARA LER MAIS: BARTHES, Roland. Mitologias. 2. ed., São Paulo/Rio de Janeiro, Difel, 1975. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma Introdução. São Paulo, Martins Fontes, 1994, pp. 97-135. PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 1995. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo, Cultrix, 1969. Outras influências: Gramsci (“hegemonia”), Marx e Althusser (“ideologia”), Escola de Frankfurt e estruturalismo francês (Barthes). Hegemonia = capacidade de um grupo social para assumir a direção intelectual e moral sobre a sociedade, formando em torno de seu projeto um novo sistema de alianças sociais, um novo “bloco histórico”, onde há negociações / compromissos / mediações. Ou seja: hegemonia é a construção do poder pela aquiescências dos dominados aos valores da ordem social. Mesmo assim, classe dominante acaba, por vezes, tendo de se “reenquadrar” nesse novo contexto. Ideologia = conjunto de imagens / representações / significações que circulam no âmbito da mídia, visando o monopólio do poder social. Assim: - cultura é um universo no qual o sujeito é produto ativo dela própria. - cultura NÃO É sabedoria / experiência passiva, mas sim um conjunto de intervenções ativas que podem mudar a história e transmitir o passado. Estudos Culturais se propõem a analisar e relacionar produção / distribuição / recepção culturais a práticas econômicas associadas à constituição do sentido cultural. “4 . fonte principal” dos Estudos Culturais: Stuart Hall, segundo diretor do a CCCS. Texto-chave: “Codificação/Decodificação” (1973). Nele, Hall faz uma análise do processo comunicativo televisivo. Produção Circulação Reprodução Distribuição/consumo Hall defende que instâncias se articulam entre si, não podem ser analisadas independentemente. Assim, por exemplo, diz Hall, audiência é tanto a fonte quanto o receptor da mensagem (aqui, Hall retoma Marx: “o consumo determina a produção, a produção determina o consumo”). Funcionamento da mídia não pode ser visto como apenas a transmissão mecânica de uma mensagem, por parte de uma fonte, pela recepção. Produção = processo de codificação que é realizado conforme: Consumo = processo de decodificação que se dá de três modos possíveis, em relação à ideologia dominante Assim, diz Hall: codificação = decodificação , pois processos distintos, ainda que interdependentes Primeiros estudos culturais abriram espaço para outros tipos de análises culturais: feministas, culturas populares, grupos profissionais midiáticos, subculturas jovens, minorias étnicas etc. Sua fácil adaptabilidade a qualquer ambiente social (contraditório, socialmente falando) fez com que se desenvolvesse rapidamente em outros países. Estudos culturais têm realidade diferente da Escola de Frankfurt: mídia = situada no âmago da sociedade, não estranha a ela; classe dominante = existe, mas tem de negociar com classes subalternas; “dominados” = não passivos, negociam sentido conforme sua cultura; tende-se a falar, atualmente, de comunidades interpretativas (Stanley Fish). Problema dos estudos culturais: tender a focar demais na recepção, deixando de lado aspectos e particularidades de quem detém os meios de produção simbólica e não considerar outras leituras possíveis (feministas,gays etc.) imagens da audiência códigos profissionais { dominante - hegemônica oposicional - contestária negociada - mesclada ou “contraditória” { PARA LER MAIS: ESCOSTEGUY, Ana Carolina. “Os Estudos Culturais”. In: HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz C. & FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da Comuni- cação. Petrópolis, Vozes, 2001, pp. 151-70. HALL, Stuart. Da Diáspora - identidades e mediações culturais. Belo Ho- rizonte, UFMG/UNESCO, 2003. MATTELART, Armand & NEVEU, Érik. Introdução aos Estudos Culturais. São Paulo, Parábola Editorial, 2004. SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). O Que é, Afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte, Autêntica, 2000. ESTUDO DAS ROTINAS PRODUTIVAS (SOCIOLOGIA DOS EMISSORES) Se, de um lado, os estudos sobre os fenômenos da Comunicação começavam a lançar bases para estudos da recepção (vide Estudos Culturais), por outro houve algumas tentativas de se sistematizar alguns aspectos que envolvem a produção dos conteúdos midiáticos (em particular, dos jornalísticos). Parte-se para uma análise das rotinas produtivas nas redações jornalísticas. - início de tudo: Kurt Lewin (1947), em estudo sobre decisões envolvendo a compra de alimentos para uma casa ou restaurante. Lewin comparou sistema com o processo de produção da informação. A quem decidia sobre os produtos a serem adquiridos, Lewin chamou de gatekeeper. David White (1950): análise do caso de “Mr. Gates”, que selecionava, dentre os despachos de telex que chegavam à redação em que trabalhava, quais matérias eram importantes e quais não eram. Resultado: 90% das matérias = lixo (falta de espaço/histórias repetidas/má redação); 10% das matérias = publicadas David White não percebeu critério lógico para a escolha. Bruce Westley & Malcolm MacLean (1957): percebem prática do gatekeeping como prática “institucional”, não individual (pressão da empresa); além disso, para eles, os jornalistas trabalham conforme a imagem e o gosto dos seus públicos. John T. McNelly (1959): percebe que há vários gatekeepers na esfera midiática em geral (jornais, rádios, TVs etc.) Warren Breed (1955): estudo que analisa as formas pelas quais se dá o “controle social nas redações”, através de seis características básicas: 1) autoridade institucional e sanções; 2) sentimentos de dever / estima para com seus superiores; 3) aspirações à mobilidade profissional; 4) caráter agradável do trabalho; 5) ausência de grandes conflitos inter-grupais; 6) o fato de a notícia ter um valor. Breed acrescenta depois uma sétima característica: o grupo de referência. Para alguns, análise de Breed visibiliza os critérios subjetivos que interferem na produção de uma notícia; assim, passamos do gatekeeping para o newsmaking, para a análise dos modos e rotinas de produção em um jornal, ou seja, o que faz algo ser notícia (newsworthiness). Mais precisamente: notícia passa a ser aquilo que se adequa à linha editorial de cada jornal, não algo que seja “particular” do jornalista. Para Peter Golding e Phillip Elliot (1979), passa-se da noção de “distorção voluntária” para a “distorção involuntária” (unwitting bias). Denis McQuail (1985) define quatro tipos de distorção, sendo as duas primeiras mais facilmente localizáveis e as duas últimas mais “invisíveis”: - posição partidária (voluntária e explícita) - propaganda (involuntária e explícita) - ideologia (voluntária e implícita) - unwitting bias (involuntária e implícita) De modo geral, o modus operandi do jornalista diz respeito a dois grupos de fatores (geralmente desconhecidos do público em geral): 1) a cultura profissional do jornalista (a naturalização das práticas profissionais); 2) a organização do trabalho e suas e processos produtivos (convenções que acabam por definir a noticiabilidade de um fato). Exemplos de naturalização: 1) depoimento (fonte) = texto editado (em tempo, tamanho); 2) opção (atual) pelo relato lógico, não cronológico; 3) texto jornalístico = indexical (só se refere ao referente, raramente ao modo como ele próprio - texto - é produzido). 4) uso de recursos lingüísticos similar ao dos textos históricos e científicos: “apagamento” do sujeito enunciador. Conseqüências: 1) superficialidade e acontextualidade (em relação aos textos históricos e científicos), pois enfoque é maior no “o quê?”, “como?”, “onde?” etc., e menor - muitas vezes - no “por quê?”). Paradoxo: quanto (de informação) em quanto tempo / espaço. 2) Importâncias e hierarquizações se dão conforme certas características: - critérios de noticiabilidade: grau / nível dos envolvidos no fato + impacto sobre país / interesse nacional + número de pessoas envolvidas no fato / capacidade de evolução do assunto. - critérios do produto: disponibilidade / acessibilidade ao material + brevidade + ideologia da notícia (desvio é melhor do que rotina) + atualidade + qualidade + equilíbrio (balanceamento dos fatos). - critérios dos MCM: existência de apoio visual (imagens, fotos) + freqüência do fato (aparecerá uma vez ou várias?) + formato (duração / tamanho / formato da matéria). - critérios do público (imaginado) - critérios de concorrência: fragmentação exagerada / exacerbada (boxes : rubricas etc.) + expectativas recíprocas (um pensa no que o outro vai escrever / publicar) + expectativas recíprocas que desencorajam inovações + modelos de referência (“se FSP vai dar...” ou “se O Globo não der...”). Em suma: fato de atender potencialmente boa parte desses critérios para se tornar um “acontecimento jornalístico”. Por isso, diz Adriano Duarte Rodrigues, “o fato cria a notícia, a notícia cria o fato”. Rotinas produtivas: dizem respeito ao cotidiano das redações. - recolha de informações (fontes, agências, press-kits, releases, agendamento de datas e fatos etc.); - seleção de informações (conhecimento prévio + qualidade visual + visibilidade / existência nos MCM); - apresentação das informações (edição, diagramação, “recontextualização”, hierarquização dos fatos e “apagamento do público”). Problemas do newsmaking: 1) o going native (assemelhamento do estrangeiro ao pesquisado); 2) o “não estranhamento” (como jornalista se “afasta” de colegas / realidade?); 3) após conhecer rotinas, difícil não pensar na mesma lógica do jornalista. CULTURA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA Regras peculiares ao universo midiático: temporalidade + narrativa + critérios para visibilização de fontes - temporalidade própria: fatos devem ser “diários” ou “diarizáveis” (suitáveis), mas também devem acabar coincidindo com o horário do fechamento dos MCM. Acaba levando a imprensa a tentar antecipar certos fatos (“jornalismo antecipatório”). - narrativa própria: edição + hierarquização + seleção e/ou omissão de fatos + apagamento do sujeito. - acesso aos MCM (por parte das fontes) - para Pierre Bourdieu, há três mecanismos de acessibilidade aos meios, que são a obediência e a adaptação a: - tempo (poder de síntese); - tema sugerido (imposto por veículo); - linguajar cotidiano (proibição ao uso de jargões). Para Dominique Wolton, essa relação é mais profunda, uma vez que TV “aproxima” as realidades (culturas de elite e de massa). Relações entre mídia e fontes (intelectuais) se dão de cinco modos: - intelectuais midiáticos (fazem uso racional, sistemático e “natural” da TV; geralmente não pertencem à Academia); - intelectuais estrategistas (usam mídia visando aumento da própria influência pessoal; atacam TV mas querem estar nela); - intelectuais usuários (usam mídia quando necessário, dado seu poder de transmissão de informações úteis / importantes); - intelectuaisanônimos (maioria, à margem da mídia); - tecnocratas midiáticos (aqueles que aliam inteligência + poder + idéias em seu discurso seguro e seco). Mídia: paradoxalmente, cria seus próprios intelectuais, “à margem” da Academia e, ao mesmo tempo, “descobre” velhos intelectuais por ela própria muitas vezes esquecidos. Interesse midiático recai sobre: - filósofos (puros / pessimistas / sintéticos / antevêem o futuro); - historiadores (“úteis” para falar sobre o hoje / se nutrem do passado); - médicos (interesse humano sobre vida / morte / doença / saúde); - sábios. Desinteresse midiático recai sobre: - cientistas (herméticos / sérios / tecnicistas / sem charme); - cientistas sociais (não generalizam conceitos / não são tão claros / parecem “inúteis” aos olhos da mídia / parecem semiconcorrentes da imprensa). Exceções tendenciais: economistas e cientistas políticos (trabalham com números e estatísticas, que parecem mais “objetivos”). Demais intelectuais: exceções, são solicitados em questões pontuais / emergenciais / extremas. Em suma: mídia tem conjunto de regras próprias para seu funcionamento; isso levará a críticas de autores pós-modernos / pessimistas (Jean Baudrillard, Lucien Sfez, Paul Virilio) PARA LER MAIS: BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Edi- tor, 1997. BREED, Warren. “Controlo Social na Redacção: uma análise funcional”. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa, Vega, 1993, pp. 152-66. TRAVANCAS, Isabel. O Mundo dos Jornalistas. São Paulo, Summus, 1993. WHITE, David. “O Gatekeeper: uma análise de caso na selecção de no- tícias”. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e “es- tórias”. Lisboa, Vega, 1993, pp. 142-51. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 4. ed., Lisboa, Presença, 1995, pp. 159-227. WOLTON, Dominique. Elogio do Grande Público - uma teoria crítica da televisão. São Paulo, Ática, 1996. OS EFEITOS A LONGO PRAZO (AGENDA-SETTING, ESPIRAL DO SILÊNCIO) Para entender o que se quer dizer com “efeitos a longo prazo”, é preciso entender antes como podem ser classificados os efeitos da mídia em geral. Denis McQuail propõe uma tipologia desses efeitos, a partir de estudos de Peter Golding (1980). Tipologia dos Efeitos dos Meios de Comunicação de Massa Intencionalidade voluntária - resposta individual - difusão (planejada) de - campanhas educativas / desenvolvimento informativas - distribuição de conhecimento (notícias, informações etc.) Tempo curto prazo longo prazo - reações individuais coletivizadas - controle social (manutenção de - reações individuais não previstas ordem e autoridade) (imitação, agressividade, excitação, transtornos, medos etc.) - socialização (adoção informal de normas, valores, comportamentos) - definição de realidade (tendência dos MCM a apresentar visão incompleta / particular da realidade - troca institucional (efeitos sobre outras instituições sociais) involuntária Para McQuail, podemos classificar os quatro modos nos seguintes termos: - intencionais a curto prazo = tendenciosos - não intencionais a curto prazo = tendenciosos inconscientes - intencionais a longo prazo = políticos - não intencionais a longo prazo = ideológicos Agenda-setting Premissa: mídia é capaz de influenciar a pauta da agenda pública (ou seja, mídia sugere sobre o que falar e pensar). Se um fato ou personagem não estiver na superfície midiática, é como se ele não existisse (um fato não mediatizado é um fato inexistente). Ou seja: um fato pode deixar de existir (socialmente). Agenda-setting diz respeito à existência de uma informação (construção da realidade). Espiral do silêncio Premissa: mídia é capaz de influenciar a opinião pública e as pessoas (ou seja, mídia aponta para o que falar e pensar sobre algo). Se há uma opinião majoritária (na sociedade e/ou na mídia), a pessoa discordante tende a se calar, temendo o isolamento social. Ou seja: uma opinião discordante pode deixar de existir. Espiral do silêncio diz respeito à extinção de uma opinião minoritária (construção da opinião pública). As hipóteses do agenda-setting e da espiral do silêncio fazem parte do conjunto dos efeitos midiáticos de longo prazo involuntários (por serem definidores da realidade). Nesse caso: - efeitos dos MCM deixam de ser psicológicos e passam a ser cognitivos (podem modificar a percepção individual da realidade); - efeitos são acumulativos, segmentados no tempo, não imediatos; - de algum modo, a mídia constrói a realidade. “Esses dois efeitos só são possíveis graças a duas características próprias ao conjunto da produção informativa. De um lado, a coincidência tendencial de temas selecionados (...) e, de outro, a relativa homogeneidade na abordagem desses temas (consonância temática)” São (...) duas características da objetividade aparente do conteúdo informativo. Sem essas características, invariavelmente presentes em maior ou menor grau, os meios produziriam outros efeitos” (BARROS FILHO, 1995: 167). Ambas as hipóteses (agenda-setting e espiral do silêncio) surgem no começo dos anos 70, respectivamente, pelos norte-americanos Maxwell E. McCombs & Donald L. Shaw e pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Ambas são hipóteses, e não teorias, porque devem ser comprovadas no curso de uma dada investigação sobre os MCM. Diferenças entre o agenda-setting e a espiral do silêncio AGENDA-SETTING Tipos de agendas possíveis numa sociedade de massas: - agenda individual (intrapessoal); - agenda interpessoal manifestada; - agenda da mídia; - agenda pública (da sociedade como um todo); - agenda institucional (prioridades temáticas eleitas por uma instituição). Fatores condicionantes: 1) origem da mensagem (mesmas agências, mesmas fontes); 2) veículo da mensagem (TV = tempo menor de agendamento, jornal = tempo maior de agendamento); 3) conteúdo da mensagem (se é temático ou acontecimento, se é próximo ou afastado do cotidiano dos leitores etc.). Críticas ao agenda-setting: 1) falta de critérios precisos para a determinação de um time-lag (intervalo de tempo do agendamento) adequado para análise; 2) falta de critérios precisos para a determinação de uma amostragem de indivíduos condizente com determinados universos sociais estudados; 3) dúvida sobre foco da análise: conhecimento do receptor, hierarquização temática ou abordagem específica de um fato; 4) dificuldade de localizar nível da análise: tematização do assunto (editoria); conhecimento; ou argumentação sobre o assunto; 5) predominância de temas políticos na análise, em detrimentos de outros assuntos; 6) falta de homogeneidade metodológica nos estudos da área. ESPIRAL DO SILÊNCIO - Silêncio - indivíduo tem medo do isolamento social, assim ele prefere omitir sua opinião (minoritária). - Espiral - opinião minoritária tende a ser “abafada” pelo silêncio, que cresce de modo espiralado. silêncio tendencial Receptor “acuado” tende a: mudança de opinião tendencial Outro fator inibidor: medo de opinar por falta de competência específica sobre um assunto (quanto mais conhecedor de algo, mais à vontade se sente a pessoa e vice-versa) = hipótese do knowledge gap (intervalo, hiato ou diferença de conhecimento), proposta por Philip. J. Tichenor, George A. Donohue & Clarice N. Olien (1970). entrevistado bem-preparado
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