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Geoquímica I Geoquímica dos Isótopos Radiogénicos e Estáveis Universidade Federal de Sergipe Departamento de Geologia Prof. Carlos Marques de Sá Aula 11 Sumário Introdução Decaimento Radioativo Lei da Radioatividade Métodos de Datação: U-Th-Pb Espectrometria de Massa Introdução aos Isótopos Estáveis Fracionamento Isotópico Fracionamento Isotópico na Hidrosfera Isótopos de Oxigênio na Calcita Isótopos de O e H em Argilas 2 Introdução • O que é um Isótopo? • Isótopo (= mesmo lugar) são átomos do mesmo elemento cujos núcleos contêm o mesmo número de protões (Z) mas diferente número de neutrões (N) e portanto massa diferente. 3 1H 2H 3H Introdução • A geoquímica dos isótopos radiogênicos baseia-se num pequeno grupo de elementos instáveis que ocorrem naturalmente e que decaiem (desintegram- se) produzindo energia para dar origem a átomos mais estáveis de elementos diferentes. • O fenómeno de decaimento tem as seguintes características: ocorre a uma velocidade conhecida; não é afectado pela maioria dos processos físico- químicos; processa-se num intervalo de tempo comparável à idade da Terra. • Assim, estes elementos podem ser utilizados na datação radiométrica ou Geocronologia. 4 Decaimento Radioativo • O processo de nucleossíntese nas estrelas ancestrais produziu mais de 2200 nuclídeos, a maior parte dos quais instáveis e que se decompuseram instantaneamente. • Apenas os nuclídeos estáveis ou que decaem lentamente sobreviveram até hoje. Para além destes alguns nuclídeos radioativos de curta-vida existem actualmente porque: 1. Resultam do decaimento radioativo do U e Th. 2. Resultam de reações nucleares entre raios cósmicos e átomos na atmosfera ou em rochas à superfície. 3. Um terceiro grupo de radionuclídeos existe na Terra devido às reações nucleares causadas pelo Homem 5 Decaimento Radioativo • Os nuclídeos podem ser representados numa tabela de nuclídeos (Z versus N). 6 Tabela de Nuclídeos até Si n° neutrons N n ° p ro to n s Z decaimento β+ ou absorção de um e-. Deficiência de neutrons decaimento β- Excesso de neutrons Decaimento Radioativo • A razão de neutrons / protons dos isótopos estáveis é aproximadamente igual a 1, subindo até 3 com o aumento do número atómico (Z). • Os isótopos instáveis são deficientes em neutrons ou noutros casos os neutrons excedem o número de protons. Este facto reflete o modo como decaem. • Isótopos deficientes em neutrons → decaimento β+ ou absorção de um e-. • Isótopos com neutrons em excesso → decaimento β- 7 Decaimento Radioativo • A radioatividade consiste em transformações nucleares espontâneas, que alteram o número de protons e neutrons no núcleo. • O processo dá-se até que seja produzido um isótopo estável. • As transformações são acompanhadas de emissão de partículas α e β e de radiação γ. • A maioria dos radionuclídeos sofre decaimento β, muito menos sofrem α e alguns dos isótopos mais pesados decaem por fissão nuclear espontânea. 8 Decaimento Radioativo Decaimento Beta - (β-): Perda de um “eletron” por parte de um neutron que passa a proton (não um eletron da última camada). Número atómico aumenta 1. 9 Decaimento Radioativo • O decaimento β pode dar-se de três formas diferentes, dependendo se o radionuclídeo tem excesso ou deficiência de neutrons. • Radionuclídeos com excesso de neutrons emitem uma partícula negativa, aumentando o número de protons. • Neutron → proton + β- + ν- • Em que β- é idêntico a um eletron e ν- é um antineutrino. O excesso de energia do nuclídeo filho é emitido sob a forma de radiação γ. 10 Decaimento Radioativo • Radionuclídeos deficientes em neutrons decaem emitindo um positrão (β+) ou por captura de um elétron. • Estas formas de decaimento radioativo resultam no aumento do número de neutrons. • Proton → neutron + β+ + ν • Proton + e- → neutron + ν- • Alguns radionuclídeos podem decair das 3 maneiras, ex: 4019K pode decair para 40 18Ar (β +) ou para 4020Ca (β -) 11 Decaimento Radioativo Decaimento Beta + (β+): Proton captura um eletron de fonte exterior Número atómico decresce em 1 Exemplo: Decaimento Potássio (Z=19) → Argon (Z=18) 12 Decaimento Alfa: Perda da partícula α (núcleo de He) por parte do núcleo; Particula α consiste em 2 protons e 2 neutrons; Número atómico decresce 2, número de massa decresce 4 Decaimento Radioativo 13 Decaimento Alfa Decaimento Radioativo • No decaimento alfa é libertada uma partícula com 2 protons e dois neutrons, idêntica ao núcleo de 42He. • A emissão da partícula α diminui o número de protons e neutrons do nuclídeo filho em 2. • AZP → A-4 Z-2F + 4 2He + Q • Em que P é o radionuclídeo pai, F o nuclídeo filho e Q a energia total do decaimento. • O decaimento alfa é comum para radionuclídeos com número atómico > 58 e também a alguns nuclídeos de baixo número atómico, como: 52He, 5 3Li e 6 4Be, entre outros. 14 Decaimento Radioativo • Os isótopos radioativos de 23592U, 238 92U e 232 90Th decaem para isótopos estáveis de Pb, através de uma série de radionuclídeos de curto tempo de vida, formando uma cadeia de decaimentos dos tipos alfa e beta. 15 Decaimento Radioativo 16 Decaimento por Fissão: O núcleo quebra-se em dois fragmentos de peso desigual, formando os núcleos de dois nuclídeos filhos. Decaimento Radioativo • Alguns isótopos de U e de elementos transuranianos decaem por fissão espontânea. • Estes elementos têm excesso de neutrons e por isso decaem emitindo partículas β- e raios γ até se produzir um isótopo estável. • A fissão espontânea liberta enormes quantidades de energia sob a forma de emissões de neutrons, partículas alfa e outros fragmentos de material nuclear. 17 Decaimento Radiotivo • A fissão nuclear também pode ser induzida, quando núcleos de U e Pu absorvem neutrões ou outras partículas. • Resulta na libertação de neutrões e fissão do U em cadeia, libertando enormes quantidades de energia. • É o processo utilizado em reatores nucleares e em outras aplicações nucleares. 18 Lei da Radioatividade • Em 1902 Rutherford e Soddy definem a Lei da Radioatividade: “A taxa de decaimento de um radionuclídeo é proporcional ao número de átomos desse nuclídeo que sobram a qualquer momento” • Em que N é o número de átomos que sobram, λ é a constante de decaimento e o sinal menos indica que a taxa de decaimento se reduz ao longo do tempo. • Integrando e fazendo t = 0, fica N = N0e -λt 19 Lei da Radioatividade 20 • Define-se tempo de meia-vida, T1/2, como o tempo necessário para o decaimento de metade de um dado número de átomos radioativos; se t = T1/2, então N = N0/2, e: Lei da Radioatividade • Cada radionuclídeo tem uma constante de decaimento característica, determinada experimentalmente. • Faz-se medindo a taxa de decaimento e obtendo a resultante curva de decaimento. 21 Lei da Radioatividade • Assim, para datar uma rocha podemos utilizar a equação: • F = F0 + N(e λt – 1) • Em que F – número de isótopos filhos formados pelo decaimento; F0 – número de isótopos filhos no início; N – número de isótopos pai; t – tempo. • O valor de λ é constante e é conhecido por medições prévias. • O número inicial de isótopos filho F0 é geralmente assumido • (ex: K-Ar, F0 = 0). 22 Lei da Radioatividade • Quando se analisamrochas da mesma idade e mesmo conteúdo inicial de isótopos filho (F0), temos t e F0 constantes. Obtemos assim a equação de uma reta chamada isócrona. • O declive da reta é determinado utilizando um mínimo de três amostras. O declive m e a idade t são expressos pelas equações: 23 Lei da Radioatividade • Regras para cálculo da idade: • O número de isótopos mãe e filhos por unidade de peso da amostra só se modificou por decaimento de isótopo mãe para filho. • A composição isotópica do elemento parental não se alterou por fraccionamento isotópico no momento de formação do mineral. • A constante de decaimento do isótopo parental é conhecida com precisão. • A isócrona não representa uma linha de mistura (mixing). • Os dados analíticos são precisos. 24 Métodos de Datação • Existem na Terra vários isótopos radioativos naturais que podem ser utilizados em métodos de datação geocronológica. • A Aplicabilidade de cada método de datação depende de considerações geoquímicas. 25 Métodos U-Th-Pb • O urânio tem dois isótopos principais, U-238 e U-235, sendo o U-238 o mais abundante. • O decaimento dos isótopos de U-238, U-235 e Th-232 segue em cadeia com vários passos intermédios, até se formar Pb estável. • Estas cadeias atingem um equilíbrio imposto pelas taxas de decaimento dos isótopos parentais. 26 Métodos U-Th-Pb 27 • As equações geocronométricas são: • Estas permitem a determinação independente de três idades em minerais ou rochas que contenham U e Th, sendo que frequentemente as idades determinadas não são concordantes – dizem-se discordantes. A discordância resulta da perda de Pb, ou de isótopos filhos intermédios, que pode ser causado por radiação que danifica os minerais devido a libertação de energia no processo de decaimento α. Métodos U-Th-Pb • Embora existam muitos minerais com U e Th, apenas alguns servem para a datação porque retêm o Pb radiogénico e porque são comuns, são eles: zircão, monazite e apatite. • No entanto, apesar de o zircão ser o melhor mineral para datação, pode, mesmo assim, dar origem a idades discordantes. • Este problema é resolvido através do diagrama de concordia (Wetheril, 1956). 28 Métodos U-Th-Pb 29 Diagrama de concordia: é construído calculando as razões 206Pb/238U e 207Pb/235U de sistemas concordantes que dão origem à curva de concordia; As datações discordantes encontram-se numa reta que reflete a perda de Pb por processos metamórficos, chamada discordia. A intersecção dá a idade da cristalização. Espectrometria de Massa • Técnica para identificar os átomos que compõe uma substância. • Moléculas na fase vapor são bombardeadas com um feixe de elétrons produzindo íons. • Um campo magnético curva as trajetórias dos íons, variando estas com a massa. • Assim se separam os íons num espectro de massa. A massa e a carga dos íons podem ser medidas por sua posição no espectro. 30 Introdução aos Isótopos Estáveis • Vários elementos de baixo número atómico têm dois ou mais isótopos estáveis. • Quando estes elementos se unem para formar moléculas estas diferem, dada a sua variação isotópica. Exemplo: existem nove variedades isotópicas de H2O e dez de CO2 com diferentes pesos moleculares. • As diferenças de pesos moleculares afetam a maneira como estas moléculas reagem a certos processos físicos. 31 Além disso a força das ligações covalentes nessas moléculas vai depender das massas dos átomos. Introdução aos Isótopos Estáveis 32 Introdução aos Isótopos Estáveis • A estabilidade de um núcleo depende da razão N/Z • Os nuclídeos estáveis situam-se ao longo de uma reta • Os que têm baixa massa têm N/Z ≈ 1 (Z=N); • Os com massa elevada N/Z ≈ 3 (Z<N); • Este fato está relacionado com forças repulsivas entre os protons e a área de superfície em contacto, podendo o aumento do número de neutrons escudar os protons entre si. 33 Nº de neutrons vs nº de protons em nuclídeos estáveis. Introdução aos Isótopos Estáveis • Para que servem os Isótopos Estáveis? 1. Termometria: temperaturas de formação de rochas, minerais obtidas do fracionamento isotópico entre duas ou mais fases cogenéticas. Fundamental em paleoclimatologia. 2. Traçadores: origem de rochas, fluidos, plantas, poluição, fontes de alimentação. Biomarcadores. 3. Mecanismos de reação: distinção entre difusão e recristalização, sistemas abertos e fechados, processos bacterianos e termoquímicos. 4. Quimioestratigrafia: mudanças abruptas na razão isotópica de minerais e matéria orgânica em sedimentos oceânicos: marcadores estratigráficos, indicadores de produtividade oceânica, química atmosférica. 34 Introdução aos Isótopos Estáveis • As composições isotópicas de certos elementos de número atómico baixo variam, dependendo do composto em que o elemento reside, assim como da origem desse composto (ex: composição isotópica da água das chuvas varia com a latitude e outros fatores climáticos). • O processo pelo qual diferentes isótopos de um elemento são separados durante reações químicas, processo físico e/ou biológico, chama-se fracionamento isotópico. 35 Fracionamento Isotópico • Elementos cujos isótopos se encontram comumente fraccionados são o H, C, N, O e S. • Outros isótopos em que se observa fracionamento são o Si, Fe, Cl, Li e B. • O fracionamento isotópico é impossível para o Be, F, Na, Al e P porque possuem apenas um isótopo estável. • As variações nas composições isotópicas de H, O, C, N e S são importantes no estudo dos processos naturais, porque eles são dos elementos mais abundantes na Terra. 36 Fracionamento Isotópico • Quais as características de um sistema de isótopos estáveis? • Baixa massa atómica • Relativamente grandes diferenças de massas entre os isótopos estáveis. • O elemento tende a fazer ligações fortemente covalentes. • O elemento tem mais do que um estado de oxidação ou forma ligações com vários tipos de elementos. • Os Isótopos mais raros do elemento existem em abundância suficiente para serem medidos com rigor. 37 Fracionamento Isotópico • A magnitude do fracionamento isotópico vai depender: • Das diferenças de massa dos isótopos; • Da temperatura de formação dos compostos em que ocorrem; • Do carácter das ligações químicas que formam; • entre outros fatores… • Os isótopos vão fraccionar através de: • Reacções de troca isotópica; • Processos cinéticos, dependentes das taxas de reacção das moléculas isotópicas. 38 Fracionamento Isotópico • A diferença das massas dos isótopos são uma causa importante para o fraccionamento isotópico (ex: deutério é 99,8% mais pesado que prótio). Nos restantes elementos as diferenças de massas diminuem com aumento de Z. • O peso molecular dos compostos varia também de acordo com os isótopos que contém, afetando as taxas de processos físico-químicos como a difusão, a evaporação e a dissociação. 39 Fracionamento Isotópico • O Fracionamento isotópico expressa-se como diferenças nas razões isotópicas, R • R é sempre = Isótopo pesado / Isótopo leve • Que é o mesmo que Isótopo raro / Isótopo abundante • Exemplo: D/H, 13C/12C, 15N/14N, 18O/16O, 34S/32S 40 16O: 99.763% 1H: 99.9844% 32S: 95.02% 12C: 98,9 % 14N: 99,63 % 17O: 0.0375% 2H: 0.0156% 33S: 0.75% 13C: 1,1 % 15N: 0,37 % 18O: 0.1995% 34S: 4.21% 36S: 0.02% Abundâncias isotópicas Fracionamento Isotópico • Por exemplo, a razão média terrestre 18O/16O é 0,002 e a razão D/H é 0,00015.Como é difícil medir pequenas diferenças, em razões já tão pequenas, as composições isotópicas são expressas como a diferença entre a amostra e um padrão em permil. Usa-se a notação δ. • Exemplos: 41 Fracionamento Isotópico • Fracionamento Isotópico em Equilíbrio • É devido a movimentos translacionais, rotacionais e vibracionais de moléculas em gases e líquidos e de átomos em malhas cristalinas. • A energia destes movimentos depende da massa. • Os sistemas tendem à menor energia possível. A energia é geralmente maior em ligações covalentes do que nas iónicas. • Exemplo: a 25°C 18O/16O é maior no CO2 do que na H2O em equilibrio. 42 Fracionamento Isotópico • O Fracionamento em Equilíbrio geralmente diminui à medida que T aumenta, aproximadamente à taxa de 1/T2. • O Fracionamento isotópico é maior para elementos leves e isótopos com massas muito diferentes. • No equilíbrio, isótopos pesados tendem a concentrar-se nas fases com as ligações mais fortes. A magnitude do fracionamento será mais ou menos proporcional à diferença da força de ligação entre as substâncias equilibradas. 43 Fracionamento Isotópico • Fracionamento isotópico causado por reações de troca. • Um exemplo de fracionamento é a reação: • ½ C16O2 + H2 18O ↔ ½ C18O2 + H2 16O • No equilíbrio temos: • 𝐶18𝑂2 1 / 2(𝐻2 16𝑂) 𝐶16𝑂2 1 / 2(𝐻2 18𝑂) = K • Se K = 1 não ocorre fracionamento. • Na realidade a 25ºC K = 1,0412 o que implica algum fracionamento dos isótopos de O. 44 Fracionamento Isotópico • As reações de troca isotópica tendem a atingir o equilíbrio e geralmente a existência de um equilíbrio isotópico implica um equilíbrio químico. • Na reação anterior K é diferente de 1 porque 18O forma uma ligação covalente mais forte que o 16O, sendo a molécula mais estável. • O isótopo pesado tende a fracionar para o composto em que o elemento se encontra mais fortemente ligado (Bigeleisen, 1965). • Outro Exemplo: • H12CO3 -(aq) + 13CO2(g) ⇔ H 13CO3 -(aq) + 12CO2(g) • KHCO3/CO2 = 1.0092 (0°C) e KHCO3/CO2 = 1.0068 (30°C) 45 Fracionamento Isotópico • K 1/n= RA/RB = αA/B = (1000 + δXA)/ (1000 + δXB) • Temos, assim: • O fator de fracionamento isotópico • αA/B = RA/RB • Deste modo, relacionando com o fator de fracionamento, • αA/B = RA/RB = (1000 + δXA)/(1000 + δXB) • Os fatores de fracionamento também se podem expressar como Δ • ΔA-B = AB • é aproximadamente igual a: • ΔA-B 1000lnA-B • Aproximações: 1000 lnαA/B ≈ δA - δB ≈ ΔA/B 46 Fracionamento Isotópico • Dependência de α da Temperatura 47 α tende para 1 com o aumento da temperatura T Fracionamento Isotópico • Frequentemente a dependência relativamente à temperatura é expressa em equações da forma: 1000 lnα = a (106/T2) + b (103/T) + c onde T é em Kelvin, e a, b e c são constantes. • A variação de temperatura de fatores de fracionamento isotópico é determinada experimentalmente e expressa pela equação: 48 Fracionamento Isotópico • Isto significa que a diferença de valores δ decresce com o aumento da temperatura, para C, N, O e S em compostos coexistentes em equilíbrio isotópico. • Se T muito grande Δ aproxima-se de zero, pois ambos os compostos têm a mesma composição isotópica. Porém, em condições naturais à superfície, compostos de H,C, N, O e S têm diferentes composições isotópicas, apesar das reações de troca estarem em equilíbrio. 49 Fracionamento Isotópico • Fracionamento cinético de isótopos • Depende da massa das moléculas. • Devido principalmente às diferenças nas energias vibracionais de moléculas que contêm átomos de diferentes massas. • Ocorre em reações unidirecionais, incompletas ou ramificadas devido a diferenças na taxa de reação de átomos ou moléculas contendo diferentes massas. • Em processos como a evaporação, difusão, etc. 50 Fracionamento Isotópico • Exemplos: • Moléculas que contêm o isótopo leve saem de um sistema por difusão mais rapidamente que as que contêm o isótopo pesado. • Na evaporação da água as moléculas com 16O escapam para a fase vapor mais prontamente que as com 18O, deixando a água enriquecida no isótopo pesado. • Diferenças na força de ligação em reações unidirecionais, como no caso da redução do S pela bactéria Desulfovibrio desulfuricans, em que o isótopo leve é removido mais prontamente, ficando os produtos mais enriquecidos em 32S. 51 Fracionamento Isotópico • Diferentes velocidades das moléculas vão causar fracionamento. • As moléculas isotopicamente mais leves podem abandonar preferencialmente um sistema, deixando o reservatório enriquecido no isótopo mais pesado. • Os isótopos leves formam ligações mais fracas, que quebram com maior facilidade, reagindo portanto mais rapidamente. • As moléculas de isótopos pesados são mais estáveis • Nas reações regidas pela cinética, os isótopos leves estão concentrados nos produtos da reação 52 Fracionamento Isotópico • Em todos os casos um valor δ positivo significa que a amostra se encontra enriquecida no isótopo pesado. Valores negativos indicam empobrecimento no isótopo pesado. 53 • Os valores de δ são determinados em espectrómetros de massa especialmente desenhados para tal (ex. IRMS), utilizando-se padrões. Fracionamento Isotópico • O padrão para a água é o SMOW (Standard Mean Ocean Water) – Padrão para H e O • δ18O(SMOW) = 1,03091 δ 18O(PDB) + 30,91 • PDB – Pee Dee Belemnite – Padrão para C na calcita • Padrão para N é o N2 atmosférico • Padrão para o S é a troilite de Canyon Diablo - CDT 54 Fracionamento Isotópico 55 Fracionamento na Hidrosfera • A evaporação de água da superfície dos oceanos nas regiões equatoriais da Terra resulta na formação de massas de ar que contêm vapor de água empobrecido em 18O e D quando comparados com a água do mar. • No hemisfério norte o ar torna-se saturado em vapor de água, como resultado da diminuição da temperatura, causando condensação e precipitação. 56 Fracionamento na Hidrosfera • O condensado é enriquecido nos isótopos pesado de O e H, devido a ser o processo contrário à evaporação, sendo no entanto um processo que se dá em equilíbrio. 57 Fracionamento na Hidrosfera • Pode portanto calcular-se os valores de δ18O e δD, que mostram cada vez maior empobrecimento do vapor no isótopo pesado. • O efeito resultante é chamado Efeito da Latitude 58 Fracionamento na Hidrosfera • O efeito da latitude é causado por: 1. Fracionamento isotópico progressivo relacionado com condensação do vapor de água e remoção de gotas da massa de ar. 2. Aumento dos fatores de fracionamento isotópico devido ao decréscimo da temperatura 3. Re-evaporação de água meteórica da superfície da Terra. 4. Evapotranspiração de água pelas plantas. 59 Fracionamento na Hidrosfera • Dado que H e O ocorrem conjuntamente nas moléculas de água e sofrem os mesmos processos durante a migração das massas de ar, os seus valores de δ18O e δD estão fortemente correlacionados e satisfazem a equação empírica conhecida como reta da água meteórica. 60 δD = 8δ18O + 10 A situação δD = 10 (δ18O = 0) é chamada o excesso de deutério. Isótopos de O na Calcita • Harold Urey, descobridor do deutério, investigou o fraccionamento isotópico do oxigênio entre a calcita e a água, desenvolveu um paleotermómetro baseado na composição isotópica do O na calcita marinha. • A calcita e a aragonita são enriquecidas em 18O se comparadascom a água da qual precipitaram. • Quando se dá a reação, o valor de δ 18O e δC da água do mar estão relacionados com a temperatura pela equação: 61 Isótopos de O na Calcita • Costuma expressar-se os valores de δ 18O de carbonatos no padrão PDB, escolhido por Urey, sendo logicamente os valores de carbonatos marinhos próximo de 0‰ na escala PDB e tendo os carbonatos não marinhos um valor negativo, porque a água fresca é empobrecida em 18O. • δ18O(SMOW) = 1,03091 δ 18O(PDB) + 30,91 62 Isótopos de O na Calcita • O paleotermómetro de isótopos de O baseia-se também na presunção de que calcitas biogénicas foram precipitadas em equilíbrio isotópico com a água do mar, o que só acontece para alguns organismos marinhos como molúsculos e foraminíferos. • O aumento do enriquecimento em 18O na calcita pode ser causado por decréscimo da temperatura ou por aumento do teor de 18O na água, ou por ambos. • Os valores da temperatura e de δ18O também podem ser afetados pelo início de uma glaciação, ficando os oceanos enriquecidos em 18O. 63 Isótopos de O na Calcita • Os carbonatos não marinhos são empobrecidos em δ18O quando comparados com os carbonatos marinhos, sendo comum terem valores negativos na escala PDB, porque se formaram a partir de águas meteóricas. • Para estes carbonatos, se os precipitados se formaram em equilíbrio isotópico, os fracionamentos dos isótopos de O variam com a T (entre 0 e 500°C) de acordo com a equação de Friedman & O’Neil (1977): 64 Isótopos de O na Calcita 65 Valores de δ18O nos reservatórios geológicos mais importantes e em alguns reservatórios naturais de oxigénio (Hoefs, 2004; Ehleringer & Cerling, 2002). O e H em argilas • O oxigênio nos silicatos em rochas ígneas, metamórficas e sedimentares está enriquecido em 18O relativamente ao SMOW. • Quando estes minerais reagem com águas ácidas para formar argilas, a composição isotópica (O e H) resultante nesses minerais vai depender de diversos fatores: • 1) Composição isotópica da água • 2) Composição isotópica dos minerais reagentes • 3) Quantidade de água comparada com a quantidade de minerais reagentes (razão água/rocha) • 4) Temperatura • 5) Fatores de fracionamento isotópico do O e do H. 66 O e H em argilas • As reações entre feldspatos e água dão-se na presença de excesso de água e portanto a composição isotópica das argilas vai depender da água e não dos minerais reagentes. • Como δ18O e δD da água meteórica variam com a latitude e temperatura climática, os minerais das argilas formados vão herdar essa relação δ18O e δD expressa pela reta da água meteórica. 67 O e H em argilas • Portanto as equações relativas têm declives semelhantes: • δD = 7,3δ18O – 260 (montmorillonita) • δD = 7,5δ18O – 220 (caulinita) 68 Estas equações são representadas no gráfico ao lado, que ilustra a relação entre a composição isotópica dos minerais das argilas e da água meteórica. O e H em argilas • O cálculo da temperatura a que se dá o fracionamento para diferentes minerais das argilas e outros pode ser realizado utilizando os valores da tabela ao lado e a equação: • 103lnα = A x 106 / T2 + B 69 Dependência da Temperatura do fracionamento isotópico do O Bibliografia • Faure, G. (1991). “Principles and Applications of Geochemistry”. Ed. Prentice Hall • Faure, G. (1986). “Principles of Isotope Geology”. Ed. Wiley • Hoefs, J. (1980). “Stable Isotope Geochemistry”. Ed. Springer • Krauskopf, K.B. (1972). “Introdução à Geoquímica” vol. I. Ed. Polígono • Mason, B. (1966). “Princípios de Geoquímica”. Ed. Polígono 70 OBRIGADO PELA VOSSA ATENÇÃO! 71
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