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Pedologia Fundamentos - SBCS 1 ed 2012 (1)

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m
V
. **. fw^y. j í r v
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Pedologia
Fundamentos
João Carlos Ker - Nilton Curi - Carlos Ernesto G. R. Schaefer - Pablo Vidal-Torrado (Editores)
PEDOLOGIA 
Fundamentos
EDITORES
João Carlos Ker 
Nilton Curi 
Carlos Ernesto G. R. Schaefer 
Pablo Vidal-Torrado
1- Edição
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 
Viçosa - Minas Gerais 
2012
Copyright © 2012
Edição 2012 - V E d ição
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta publicação sem a permissão expressa da Sociedade 
Brasileira de Ciência do Solo.
REVISÃO
Maria da Glória T. Ignácio 
Maria Aparecida Soares
DIAGRAMAÇÃO
Miro Saraiva
FOTOS DA CAPA
Gentilmente cedidas por: João Carlos Ker 
(UFV)
Ficha Catalográfica preparada pela Seção de Catalogação 
da Biblioteca Central da UFV
Pedologia : fundamentos / Editores João Carlos Ker... [et al.].
P371 - Viçosa, MG : SBCS, 2012.
2012 343p. : il. (algumas col.) ; 26cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-86504-09-9.
1. Ciência do solo. I. Ker, João Carlos, 1955-. II. Curi,
Nilton, 1949-. III. Schaefer, Carlos Ernesto Gonçalves Reynaud,
1965-. IV. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.
CDD 22. ed. 631.4
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO 
Tel.: (OXX) 31 3899-2471 
E-mail: sbcs@sbcs.org.br 
http\\www. sbcs.org.br
EDITORES
João Carlos Ker 
Nilton Curi 
Carlos Ernesto G. R. Schaefer 
Pablo Vidal-Torrado
CAPA
(layout)
Manuela Vieira Novais
CAPA
(arte)
Luiz Felipe Mesquita
mailto:sbcs@sbcs.org.br
PREFÁCIO
A Pedologia, como ramo da Ciência do Solo, trata de estudos 
relacionados com a identificação, a formação, a classificação e o mapeamento 
dos solos. As informações geradas por esses estudos pedológicos, além de 
sua utilização pelos demais ramos da Ciência do Solo, encontram aplicação 
nas mais diversas áreas da ciência, como Agronomia, Geografia, Geologia, 
Engenharia, Arqueologia, Biologia, Medicina e outras mais. A Pedologia é 
uma área de pesquisa desafiadora, pois trata da formação e distribuição 
espacial dos solos na paisagem, com suas implicações socioambientais. 
Apesar de existirem várias e excelentes obras estrangeiras sobre o tema, é 
de longa data que o ensino da Pedologia no Brasil vem sentindo a carência 
de uma obra básica e abrangente, com enfoque nos solos locais. A ideia de 
tal obra germinou na SBCS já na década de 1980, sem ser efetivada; essa 
carência vem sendo parcialmente suprida por diversas publicações 
individuais ou coletivas, por particulares ou institucionais, geralmente com 
enfoque regionalizado ou mais específico. Sempre consciente da lacuna e 
da premência de um livro-texto de Pedologia, a SBCS finalmente lança em 
2012 a presente obra, coroando assim a dedicação e o empenho dos seus 
editores e colaboradores.
O objetivo principal deste livro é, portanto, orientar as pessoas 
interessadas (leigos, estudantes e profissionais dos mais diversos ramos) 
em estudar, conhecer e entender cientificamente a imensa variedade de solos 
encontrados no território brasileiro. A complexidade do assunto é tratada 
de forma abrangente nos diversos capítulos escritos com a colaboração de 
profissionais de diversas instituições de ensino e pesquisa. O assunto é 
apresentado em capítulos desde introdutórios até avançados, o que 
possibilita um aprendizado crescente aos interessados. Os autores, com 
extensa experiência de ensino e pesquisa no tema, foram também 
privilegiados pelo aprendizado e convívio com renomados pedólogos e 
pesquisadores em Ciência do Solo no País. Seguindo essa tradição, os autores
vi
aqui contribuem com seu conhecimento e experiência para estimular novas 
gerações de interessados e a formação de futuros pedólogos. A sua intenção 
é contribuir para "alargar o caminho de modo a facilitar a passagem a todos 
que queiram percorrê-lo".
O enfoque e a abrangência desta obra objetivam subsidiar o ensino da 
Pedologia nos cursos de graduação (Agronomia e outros) e de pós-graduação 
em Ciência do Solo no Brasil. Os exemplos das situações aqui selecionadas 
podem ser acrescidos e, ou, substituídos por casos específicos, em função 
do conhecimento local ou regional dos usuários. Ainda, as inúmeras 
referências bibliográficas citadas no texto, correspondentes a publicações 
nacionais e estrangeiras, além de indicarem a fonte da informação, ensejam 
uma ampliação do conhecimento.
Os Editores
PEDOLOGIA
Fundamentos
JU L H O , 2012
CONTEÚDO
P R EFÁ C IO ................................................................................................................v
I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO H ISTÓ RIC A
Nestor Kãmpf & Nilton Curi...................................................................................... 1
II - PRIN CÍPIO S DA CLASSIFICAÇÃO DO S SO LO S
Mauro Resende, Nilton Curi, João Bertoldo de Oliveira & João Carlos Ker......21
III - CARACTERIZAÇÃO M O RFO LÓ G ICA DO SOLO
Mateus Rosas Ribeiro, Lindomário Barros de Oliveira & José Coelho 
de Araújo Filho.......................................................................................................... 47
IV - M IN ERALOGIA DE SO LO S BRA SILEIRO S
Nestor Kãmpf, João José Marques & Nilton Curi..................................................81
V - CARACTERIZAÇÃO DO SOLO
Nilton Curi & Nestor Kãmpf....................................................................................147
V I - IN TEM PERISM O DE ROCHAS E M IN ERA IS
Maurício P. F. Fontes............................................................................................... 171
V II - FORM AÇÃO E EVOLUÇÃO DO SOLO (PEDOGÊNESE)
Nestor Kãmpf & Nilton Curi..................................................................................207
V III - SISTEM A BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
Lúcia Helena Cunha dos Anjos, Paulo Klinger Tito Jacomine, Humberto 
Gonçalves dos Santos, Virlei Álvaro de Oliveira & João Bertoldo de Oliveira......303
I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO 
HISTÓRICA
Nestor Kãmpfv & Nilton Curiv
^Professor Aposentado do Departam ento de Solos, Faculdade de Agronomia, U niversidade Federal 
do Rio Grande do Sul - UFRGS. Porto Alegre (RS). E-mail: nestorkam pf@gm ail.com 
2/Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo, Universidade Federal de Lavras - UFLA. 
Lavras (MG). Bolsista do CNPq. E-mail: niltcuri@ dcs.ufla.br
Conteúdo
IN TRO D U ÇÃ O ....................................................................................................................................................................................1
O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS DE SO LO S.................................................................................................. 4
O Solo como Meio para o Crescimento e Desenvolvimento das P lantas.................................................................. 5
O Solo como Regolito....................................................................................................................................................................6
O Solo como Corpo Natural Organizado............................................................................................................................. 7
O Solo como Sistema A berto..................................................................................................................................................11
APLICAÇÃO DE CONCEITOS E MODELOS DE SO L O S .............................................................................................15
CONSIDERAÇÕES FIN A IS.........................................................................................................................................................17
LITERATURA C IT A D A ...............................................................................................................................................................17
INTRODUÇÃO
"A explicação que procuramos, as perguntas que fazemos, são 
fortemente influenciadas pelo conhecimento teórico existente, o qual 
condiciona o nosso aprendizado"
(Dijkerman,1974).
O que é solo? Geralmente, as pessoas têm algum entendimento do significado do 
termo solo, pois é uma característica do ser humano reconhecer e entender um objeto 
conforme aprendeu a olhá-lo e a manipulá-lo. Assim, para um Engenheiro Agrônomo, o 
solo pode ser o meio capaz de armazenar e fornecer água e nutrientes para o cultivo de 
plantas. Para um Engenheiro Civil, o solo pode ser um material com determinada
KER, J.C .; CURI N.; SCHAEFER, C.E.G.R. & VIDAL-TORRADO, P ., eds. Pedologia; Fundam entos. 
V içosa, MG, SBCS, 2012. 343p.
mailto:nestorkampf@gmail.com
mailto:niltcuri@dcs.ufla.br
2 N estor Kãm pf & N ilton C uri
capacidade de suportar cargas e edificações, rodovias, ou adequado para a instalação de 
fossas sépticas e outros usos. Para o Pedólogo, o solo é um corpo tridimensional formado 
na superfície terrestre, por meio da interação dos fatores ambientais (material de origem, 
clima, relevo, organismos) agindo ao longo do tempo, varia espacialmente, é resiliente a 
perturbações, mas é capaz de ser destruído. Em vista disso, o conceito de solo, sua 
abrangência, estudo e análise variam conforme a atividade profissional e o modelo 
conceituai que ele representa nos diferentes ramos do conhecimento. O presente capítulo 
trata da evolução histórica e do uso de diversos conceitos e definições do solo, sob o 
ponto de vista da Ciência do Solo.
Por consenso geral, o termo solo (do latim solum: suporte, superfície, base) refere-se 
à parte superior da crosta terreste ou litosfera, mais precisamente à porção superior do 
regolito (Figura 1). Por regolito, entende-se o material solto, constituído por rocha alterada 
e solo, que ocorre acima da rocha consolidada. O solo é constituído por partículas sólidas, 
minerais e orgânicas, ordenadas espacialmente, formando a estrutura da matriz do solo, 
por vazios (poros) preenchidos com água e sais, formando a solução do solo, e por gases, 
constituindo o ar do solo. As proporções relativas dessas três fases no solo dependem das 
condições ambientais e da ação humana.
A formação natural do solo decorre da interação entre os fatores ambientais que 
condicionam a ação de processos pedogenéticos (do grego, pedon: solo ou terra), agindo 
sobre o regolito. Como essa ação é muito lenta, o solo é um recurso natural lentamente
P e d o l o g i a
I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 3
renovável. Entretanto, a interferência humana pode modificar rapidamente suas propriedades. 
Assim, o solo pode ser o produto de processos naturais e da intervenção humana.
Numa visão global, o conjunto dos solos na crosta terrestre constitui a pedosfera, a 
qual reveste os continentes como uma camada contínua de alguns milímetros a vários 
metros de espessura, localmente interrompida por afloramentos de rocha ou corpos de 
água. Na pedosfera, superpõem-se e interagem a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. 
Consequentemente, a pedosfera integra a biosfera, a qual compreende todos os 
ecossistemas, ou seja, os organismos vivos em interação com o meio físico.
Os solos são, portanto, simultaneamente, ambiente e local de comunidades de 
organismos (biocenoses) e, como tal, integrantes de geoecossistemas. Geoecossistemas 
são compartimentos terrestres onde há uma interação característica de comunidades de 
organismos com o meio abiótico (pedosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera). A grande 
diversidade de geoecossistemas implica em uma enorme diversidade de tipos de solos 
distinguidos entre si conforme características adquiridas ao longo da pedogênese. 
Geoecossistemas e solos são sistemas abertos e, portanto, continuamente alterados por 
fatores externos (atmosfera, hidrosfera, litosfera), em interação com seu ambiente. Por 
isso, o solo deve ser estudado e examinado em relação à paisagem (toposfera) que ocupa 
e aos demais fatores externos que o influenciam (atmosfera, hidrosfera, litosfera, biosfera). 
Fora do seu sistema de relações, o material "solo" não tem o significado de solo 
propriamente dito: é uma amostra de solo, um substrato ou apenas "sujeira".
Historicamente, a natureza e as propriedades dos solos têm sido fatores decisivos 
no desenvolvimento cultural e econômico das civilizações. Isto é decorrência das várias 
funções essenciais dos solos à vida humana. O seu cultivo serve principalmente à 
produção de alimentos e de matérias primas industrializáveis (fibras, combustíveis e 
outros); além disso, serve de base para a habitação, atividades de lazer e para a saúde 
humana. Os solos funcionam como amortecedores (= tampões) de mudanças ambientais. 
A sua capacidade de absorção e armazenamento da água das chuvas previne inundações 
catastróficas. Atuam como filtros de produtos tóxicos, mantendo a pureza das águas 
subterrâneas, e podem , por sua vez, ser poluídos. Na pesquisa arqueológica 
(geoarqueologia ou pedoarqueologia), solos são indicadores de habitação, de padrões de 
assentamento e de uso agrícola (Holliday, 1992, 2004). Segundo Hillel (1991), o nome 
bíblico "Adão" está relacionado com adamah, que, em hebreu, significa terra ou solo, 
expressa, no livro do Gênese da Bíblia, uma íntima ligação da humanidade com o solo, 
ao qual estamos relacionados durante toda a vida e ao qual retornaremos após o término 
desta jornada.
Para a humanidade, portanto, os solos constituem um dos bens mais valiosos e 
merecedores de proteção. Para isso é necessário um conhecimento adequado de suas 
propriedades, funções e potencialidades. Este é o objetivo da Pedologia, que é o ramo da 
Ciência do Solo que estuda as características, a evolução e a ocorrência dos solos, bem 
como as possibilidades e os riscos do seu uso pelos seres humanos.
Os aspectos históricos dos conceitos de solo apresentados a seguir baseiam-se 
principalmente nas revisões de Simonson (1968), Arnold (1983), Amundson & Tandarich 
(1994) e Bockenheim et al. (2005).
P e d o l o g i a
4 N estor K àm pf & N ilton C uri
O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS DE SOLOS
"O desenvolvimento de uma ciência não é independente do meio 
social, nem alheio às influências das teorias discutidas nas diferentes 
disciplinas. Como produto da sociedade, a ciência influi nela e dela 
sofre as influências."
(Freire-Maia, 1992).
O desenvolvimento de uma ciência não é um simples acúmulo de informações, mas 
um processo descontínuo em que se sucedem novas ideias e teorias (modelos ou 
paradigmas), cada qual a seu tempo, produzindo uma nova visão do mundo. A medida 
que se esgotam as suas capacidades de responder aos questionamentos, os paradigmas 
são substituídos por novas concepções, que passam a reger nossa atividade (Kuhn, 1990). 
Assim, o atual estádio de conhecimento sobre os solos resulta de uma evolução histórica, 
em que se destacam concepções desenvolvidas desde os primórdios conhecidos da 
humanidade até o presente. Entretanto, tal conhecimento não é definitivo, consistindo- 
se em uma aproximação da realidade.
Normalmente, a substituição de um conceito já estabelecido por outro inovador é 
muito lenta. Consequentemente, conceitos tendem a persistir por muito tempo, mesmo 
quando superados ou desatualizados. Isto explica porque certos conceitos formados 
durante a história tendem a permanecer em uso até nossos dias. Por outro lado, a 
coexistência de diferentes conceitos do mesmo objeto decorre das diversas áreas de 
interesse ou dos modelos (= paradigmas) aceitos para caracterizar seu objeto de estudo, 
o qual no presente caso é o solo.
A Ciência do Solo desenvolveu-se a partir da atividade de quím icos, físicos, 
geólogos, geógrafos, biólogos e agrônomos. Em função da ênfase no estudo do solo 
para a produção de alim entos, a C iência do Solo con cen trou -se quase que 
integralm ente no âm bito das Escolas de Agronom ia e instituições ligadas ao 
desenvolvimento agrícola. Como ciência, entretanto, o conhecimento e o estudo do 
solo transcendem o modelo agrícola. O solo, além de ser um meio insubstituível para 
a agricultura, constitui um componente vital de processos e ciclos ecológicos;um 
depósito para acomodar os nossos resíduos; um melhorador da qualidade da água; 
um meio efetivo para a recuperação biológica; um suporte das infraestruturas urbanas, 
rodoviárias e industriais; sendo ainda um meio onde os arqueólogos e pedólogos 
leem a nossa história cultural (Miller, 1993).
A seguir, são abordados quatro conceitos básicos de solo: (a) o solo como meio para 
o crescimento e desenvolvimento das plantas; (b) o solo como regolito; (c) o solo como 
corpo natural organizado; e (d) o solo como sistema aberto. Tais conceitos representam 
diferentes enfoques (ou paradigmas), todos válidos e em uso conforme o interesse imediato 
dos diferentes usuários.
P e d o l o g i a
I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 5
O Solo como Meio para o Crescimento e Desenvolvimento 
das Plantas
O estudo do solo primordialmente como meio para a produção vegetal é definido 
como Edafologia (do grego, edaphos: solo ou terra). Nesta linha, o objetivo final do solo é 
a produção de alimentos e plantas de interesse econômico, modelo que tem sido 
tradicionalmente seguido nas Escolas de Agronomia.
Presume-se que o conceito de solo como meio para o crescimento e desenvolvimento 
das plantas tenha se originado no momento em que a humanidade passou da fase caçadora 
e nômade para a fase do cultivo de plantas, formando pequenas comunidades agrícolas. 
O processo primitivo para diagnosticar a aptidão de um solo para a produção de 
alimentos, provavelmente, foi por tentativa e erro. Esse procedimento não se baseava no 
conhecimento das propriedades internas do solo, mas na experiência adquirida nas 
áreas já testadas e assim transmitida de uma geração para outra; em áreas novas e 
desconhecidas, o agricultor estava sujeito a uma nova tentativa. Desta maneira empírica, 
os solos foram classificados de acordo com a sua adequação a determinada cultura e 
respectiva produtividade: solo para milho, trigo, arroz ou outras culturas. Nos dias atuais, 
o procedimento de tentativa e erro ainda é frequentemente aplicado na colonização de 
novas fronteiras agrícolas, quando o agricultor tenta extrapolar a sua experiência sem o 
apoio de uma orientação técnica adequada.
Evidências arqueológicas indicam que o início da agricultura deu-se, provavelmente, 
há cerca de 9.000 anos na Mesopotâmia, em partes dos atuais Irã e Iraque. Na América, 
esta transformação teve início no México há menos de 6.500 anos, com o cultivo de milho. 
No Peru, os incas deixaram vestígios da construção de terraços cultivados em áreas 
montanhosas, com uso de irrigação e conservação do solo (Sandor, 2006). O desmatamento 
e a erosão do solo, o assoreamento dos canais de irrigação e a salinização do solo 
contribuíram para o declínio de muitas civilizações antigas.
A partir do século XVIII, o avanço do conhecimento de Química foi aplicado à 
agricultura. Em 1761, na Suécia, W ajlerius propôs que as raízes das plantas 
alim entavam -se diretam ente do húmus do solo. Esta "teoria do húmus" teve 
continuidade na primeira metade do século XIX, com Thaer (1752 -1828), na Alemanha. 
A prática do melhoramento das terras agrícolas com calcário já era largamente 
empregada na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX. Os avanços em Química e Fisiologia 
Vegetal durante o século XIX produziram grandes mudanças no conceito do solo como 
meio para o crescimento das plantas. Assim, a teoria do húmus foi substituída em 1843 
pela "teoria mineral" do químico alemão Justus von Liebig (1803-1873). Segundo Liebig, 
as necessidades de elementos essenciais podiam ser estimadas pela análise dos 
elementos componentes das plantas e dos solos, procurando-se o equilíbrio entre essas 
quantidades. Assim, a retirada de nutrientes do solo pelas plantas deveria ser 
contrabalançada pela adição de fertilizantes. Este modelo passou a ser amplamente 
aceito, graças ao sucesso alcançado na produção agrícola, e, de certa maneira, tem sido 
praticado até os dias atuais. Baseado na composição química do solo e das plantas 
cultivadas, Liebig postulou a "lei do mínimo", pela qual o crescimento das plantas é 
limitado por aquele elemento essencial presente no meio de cultivo na menor proporção.
P e d o l o g i a
6 N estor K ãm pf & N ilton C uri
Este princípio continua válido, pois cada elemento essencial é necessário à planta 
numa certa quantidade mínima. A qualquer tempo, aquele elemento ausente ou 
disponível em teor abaixo do mínimo necessário retardará o crescimento vegetal. 
Atualmente, a lei do mínimo pode ser expandida para incluir todos os fatores de 
crescimento das plantas, como temperatura, água e outros, além dos nutrientes.
Todavia, a pesquisa científica tem demonstrado que apenas a reposição dos nutrientes 
retirados pelas culturas não é suficiente para a manutenção da produtividade do solo. É 
necessário adotar um sistema de manejo integrado, com procedimentos e equipamentos 
adequados ao preparo do solo, adição de corretivos e fertilizantes minerais ou orgânicos, 
uso de culturas adequadas e de práticas conservacionistas, que minimizem as perdas de 
solo, água, nutrientes e C orgânico, dentre outras medidas.
O conceito de solo como meio para o crescimento das plantas é corrente entre os 
agricultores em geral. Para estes, o solo é a camada superficial do terreno, com alguns 
centímetros de espessura, importante para o crescimento das plantas. O conceito de solo 
vigente nas práticas de paisagismo, jardinagem e arborização urbana considera como 
solo qualquer material mineral ou orgânico inconsolidado, de origem natural ou artificial, com 
potencial para o desenvolvimento de plantas (Hollis, 1991). Aqui o termo "potencial" significa 
que esses solos ou materiais podem apresentar problemas que devem ser corrigidos para 
possibilitar o crescimento e desenvolvimento de vegetação.
O Solo como Regolito
Para a maioria dos geólogos e engenheiros, o solo é visualizado como sinônimo de 
regolito: m aterial solto, inconsolidado, na superfície terrestre, originado pelo 
intemperismo das rochas no local ou transportado. Portanto, segundo esse conceito, 
solo é todo material mineral inconsolidado na superfície da crosta terrestre, podendo 
abranger dezenas de metros de espessura. O conceito que considera o solo como um 
produto da alteração das rochas desenvolveu-se no final do século XVIII com a ciência 
da Geologia, quando os geólogos começaram a aplicar aos solos técnicas de campo, 
como a estratigrafia. Como na época os geólogos também se dedicavam à utilização 
agrícola dos solos, originou-se a ciência da Agrogeologia ou Geologia Agrícola. O tipo 
de material geológico de origem do solo era reconhecido como o principal fator 
condicionante na formação e no comportamento agrícola dos diferentes solos. Desse 
modo, surgiram classificações de solos de acordo com a sua rocha de origem, como 
solos de granito, de calcário, de arenito e de outros materiais geológicos. Fallou, em 
1862, aplicou o termo Pedologia como sinônimo de Ciência do Solo e, como tal, foi 
reconhecido até a primeira metade do século XX.
O conceito de solo como regolito continua sendo usado nas Geociências e na 
Engenharia Civil, ou seja, o termo solo tem uma concepção própria para os profissionais 
dessas áreas. No ramo da Pedologia, a preocupação com o transporte de água e 
contaminantes da superfície do solo aos aqüíferos tem estimulado a ampliação dos 
estudos de forma a incluir as propriedades da porção do regolito situado abaixo do solo 
(Cremeens et al., 1994). Este assunto é tratado com mais detalhe no item seguinte.
P e d o l o g i a
I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 7
O Solo como Corpo Natural Organizado
O reconhecimento do solo como corpo natural organizado é recente, pois surgiu na 
segunda metade do século XIX. Os avanços do conhecimento nas ciências, como, por 
exemplo, na Química (classificação periódica dos elementos, minerais do solo como fonte 
de nutrientes para as plantas), e na Geologia (Mineralogia, Petrografia, técnicas de 
mapeamento), bem como a teoriaevolucionista de Darwin, tiveram decisiva influência 
no desenvolvimento desta nova visão do solo, notadamente na Rússia, por Vasilii 
Vasilevich Dokuchaev (1846-1903) e colaboradores (Figura 2).
Figura 2. Dokuchaev, responsável pelo primeiro conceito pedológico de solo.
Apresenta-se um breve histórico das atividades de Dokuchaev baseado na compilação 
de vários autores (Krupenikov, 1992, 1996; Tandarich & Sprecher, 1994; Durmadov & 
Karpachevskii, 1996; Sokolov, 1996; Tyuryukanov & Fedorov, 1996; Evtuhov, 2006). Em 
1876, na Rússia tzarista, a Sociedade Imperial de Economia Livre (SIEL), que reunia 
produtores e exportadores agrícolas, bem como cientistas expoentes da época (corno 
Mendeleiev, autor da tabela periódica dos elementos), financiou estudos interdisciplinarcs 
coordenados por Dokuchaev, geólogo e professor da Universidade imperial de São 
Petersburgo, sobre os solos Chernozem, famosos pela alta produtividade do cultivo tritícola.
O objetivo da SIEL era a avaliação das terras e o desenvolvimento da agricultura. A 
discussão das investigações dos solos em campo com os demais cientistas estimulou 
Dokuchaev a desenvolver um modelo que explicasse as relações entre os fatores 
ambientais e a distribuição geográfica dos diferentes tipos de solos. Na época, a noção de
P e d o l o g i a
8 N estor Kãm pf & N ilton C uri
solo era ainda bastante limitada, ficando restrita à camada arável do regolito para o uso 
agrícola. Como geólogo, Dokuchaev aplicou seu conhecimento de estratigrafia à descrição 
do perfil dos solos, identificando a sucessão vertical das diferentes camadas na forma de 
horizontes A-B-C, o que vem sendo utilizado (com modificações) até os dias atuais (veja 
capítulo 3). Assim, uma nova visão de solo foi concebida por Dokuchaev, que foi muito 
além da camada arável. Mais importante ainda, Dokuchaev formulou a concepção dos 
fatores de formação do solo - material de origem, clima, vegetação, relevo, agindo ao 
longo do tempo - cuja combinação sendo conhecida "permitiria predizer quais os solos 
que ocorrem em cada local, ou seja, a mesma combinação de fatores corresponderia ao 
mesmo tipo de solo" (Krupenikov, 1992).
Os estudos de Dokuchaev foram relatados aos membros da SIEL em 1877 e 1878, 
sendo publicados em 1879. Os resultados finais das investigações foram publicados em 
1883 no clássico "O Chernozem Russo" (Dokuchaev, 1883). Em 1881, o então já famoso 
Dokuchaev e seus estudantes (Sibirtsev, Glinka e outros) iniciaram as atividades de 
mapeamento de solos contratados pelo conselho administrativo regional (zemstvo) de 
Nizhnii Novgorod para fins de avaliação da qualidade dos solos e produtividade 
potencial visando à taxação de impostos. Estes estudos foram bem mais completos do 
que os anteriores efetuados sobre o Chernozem, levando ao desenvolvimento de uma 
classificação de solos para fins de comparação dos perfis de solos e mapeamento dos 
solos (Evtuhov, 2006). Vale registrar que o zemstvo expressou sua insatisfação com o 
detalhe das investigações de Dokuchaev sobre os solos, considerado excessivo para a 
aplicação prática do desenvolvimento agrícola e avaliação das terras. (Observação similar 
é muitas vezes feita a respeito dos levantamentos pedológicos atuais!). Considerando as 
secas catastróficas que assolaram a área de produção agrícola da Rússia na segunda 
metade do século XIX, Dokuchaev também se dedicou ao estudo das condições naturais 
da agricultura russa, na expectativa de que um melhor manejo do ambiente natural 
pudesse prevenir a devastação provocada pela seca e fome. Neste contexto, abordou o 
problema do desmatamento, da erosão do solo e do assoreamento dos rios, propondo 
soluções para os respectivos casos. Como destaque, Dokuchaev expressava que a 
informação gerada pelo estudo científico do solo deveria ser transmitida para aqueles 
que lavravam as terras, isto é, para os agricultores. Nada mais atual!
Os estudos de solos efetuados por Dokuchaev estabeleceram o primeiro conceito 
pedológico de solo, que originou a atual Pedologia, a qual consiste no estudo do solo 
quanto à sua gênese, classificação e mapeamento. A concepção original de Dokuchaev 
seguia o condicionamento determinista da ciência natural e da filosofia vigente na época, 
expresso em 1820 na forma condensada de Laplace como: "cada evento é determinado 
por eventos prévios; portanto, o conhecimento das causas de um evento e das leis da 
natureza que governam sua ocorrência permite predizer eventos futuros". No decorrer 
de sua carreira, Dokuchaev formou uma equipe de jovens colaboradores, notadamente 
Nikolai Mikhailovitch Sibirtsev (1860-1900), Konstantin Dimitrievich Glinka (1867 -1929) 
e outros, que deram continuidade ao seu trabalho e suas ideias, consolidando as bases 
da incipiente Ciência do Solo (Durmanov & Karpachevskii, 1996).
No início do século XX, com as falhas observadas na aplicação da concepção 
determinista laplaciana, essa concepção foi substituída pela noção de probabilidade,
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I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 9
pela qual a ação de certa combinação de fatores tem por resultado um solo "mais provável". 
E neste contexto de formulação de hipóteses a serem corroboradas pela verificação de 
campo e laboratório que o paradigma de Dokuchaev (1883) continua a ser aplicado nos 
estudos de gênese (veja capítulo 6) e mapeamento de solos (Hudson, 1992). A divulgação 
do novo paradigma de solo deu um impulso decisivo ao desenvolvimento da Ciência do 
Solo, inicialmente na Alemanha por Emil Ramann (1851-1926), depois na Inglaterra e em 
outros países europeus. Nos EUA, o pensamento da escola russa de pedologia foi 
divulgado em 1893 na World's Columbian Exposition em Chicago, expondo aspectos da 
gênese e classificação dos solos, mas alcançando pouca repercussão. Somente a partir de 
1917, com a tradução para o inglês da obra de Glinka, efetuada por Curtis Fletcher Marbut 
(1863-1935), o conceito de perfil e dos fatores de formação do solo foram difundidos aos 
pedólogos americanos.
A partir do I Congresso Internacional de Ciência do Solo realizado em 1927 nos 
EUA, as novas concepções de solos da escola russa alcançaram repercussão mundial. 
Contemporaneamente com o trabalho desenvolvido por Dokuchaev e equipe, nos EUA, o 
geólogo Eugene Woldemar Hilgard (1833-1916), atuando no mapeamento de solos no 
Missouri e na Califórnia, relacionou as propriedades químicas dos solos aos fatores 
clima (1882) e material de origem (1906). Apesar de meritosa, a concepção da formação 
do solo por Hilgard foi menos completa do que a elaborada por Dokuchaev e seus 
discípulos. Marbut, como diretor da U.S. Soil Survey Division do USD A, adotou, ampliou 
e aplicou os conceitos da escola russa na caracterização, na classificação e no mapeamento 
de solos, o que foi posteriormente seguido mundialmente. A lentidão da aceitação pelos 
profissionais atuantes na área da nova teoria e filosofia de formação do solo desenvolvida 
por Dokuchaev, Hilgard e outros, é freqüente na história do desenvolvimento do 
conhecimento, pois há uma resistência natural à substituição de conceitos antigos já 
arraigados por novas interpretações (Simonson, 1968; Kuhn, 1990). Neste contexto, cabe 
a afirmação de Max Planck (Kuhn, 1990), ao analisar sua própria carreira: "uma nova 
verdade científica não triunfa pelo convencimento dos seus opositores (...), mas sim porque os 
opositores eventualmente morrem e uma nova geração cresce familiarizada com ela".
A prim eira equação dos fatores de formação do solo foi form ulada por Shaw 
(1930), como: S = M(C + V)T + D, em que S = solo, M = m aterial de origem, C = fator 
clim ático, V = organismos vivos, T = tempo e D = modificação do solo por erosão e 
deposição. Essa equação foi posteriormente reescrita por Jenny (1941), na presente forma:
S =/(c, o, r, mo, t . ..), em que/= função, c = clima, o = organismos, r = relevo, mo = material 
de origem e t = tempo (veja capítulo 7). O livro "Fatores de formação do solo" publicadopor Jenny (1941) impulsionou o ensino e a aplicação do modelo de Dokuchaev nos estudos 
de solos, contribuindo notavelmente para o desenvolvimento da Pedologia (Wilding, 
1994). E interessante ressaltar que, pela sua obra, Jenny é muitas vezes louvado 
(especialmente nos EUA) como coautor ou até autor desse modelo, quando, na realidade, 
foi o seu maior pesquisador e divulgador.
Como é de se esperar, o modelo de Dokuchaev e as pressuposições formuladas por 
Jenny (1941) têm recebido críticas (Wilding, 1994), principalmente quanto: (1) à concepção 
de serem os fatores de formação do solo variáveis independentes (Jenny, 1941); (2) ao fato 
de muitos solos serem poligenéticos, o que dificulta detectar o efeito isolado de cada fator
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10 N estor K ãm pf & N ilton C uri
nos seus desenvolvimentos; (3) ao fato de muitos solos serem desenvolvidos de material 
de origem não uniforme e por meio da combinação de processos pedogenéticos; e (4) ao 
destaque insuficiente da influência antropogênica. Esses e outros aspectos têm estimulado 
a proposição de novos modelos de formação do solo (Runge, 1973; Hugget, 1975; Johnson
& Watson-Stegner, 1987; Bryant & Arnold, 1994), cada qual com seus méritos e suas 
limitações (veja capítulo 7).
O reconhecimento dos processos de formação do solo (ou processos pedogenéticos), 
como ações internas responsáveis pela evolução dos solos, foi iniciado pioneiramente com 
Dokuchaev e teve continuidade com seus sucessores, sendo claramente utilizados nos 
sistemas antigos de classificação de solos. Uma concepção mais atual dos processos 
pedogenéticos é encontrada nos textos de Fanning & Fanning (1989) e van Breemen & Buurman 
(1998). Gerasimov (1975) sintetizou a atuação dos processos pedogenéticos na seguinte 
seqüência hierárquica: fatores de formação do solo —» processos pedogenéticos —» propriedades 
diagnosticas do solo. Ou seja, os processos são condicionados, em parte, pelos fatores 
ambientais e são responsáveis pelas propriedades diagnosticas dos solos (veja capítulo 7). 
O fato de os processos pedogenéticos serem raramente observados, bem como a atuação 
simultânea de mais de um processo em determinado solo, estimulou o uso de propriedades 
diagnosticas (que são mais diretamente quantificáveis do que os processos) na elaboração 
dos modernos sistemas morfogenéticos de classificação de solos, como o Soil Taxonomy, o 
WRB e o SiBCS (veja capítulos 2 e 8). Dessa maneira, os processos pedogenéticos são usados 
subliminarmente nos sistemas de classificação dos solos, pois estão relacionados com a 
expressão dos horizontes diagnósticos e das classes de solos (Bockheim & Gennadiyev, 
2000). O mesmo se observa no SiBCS (veja capítulo 8). Isso mostra que os sistemas de 
classificação modernos também estão fundamentados nos processos pedogenéticos, como 
explicação para a provável origem das propriedades diagnosticas no perfil de solo e das 
classes de solos, o que corrobora a constatação de que as classificações de solos refletem as 
teorias pedogenéticas favorecidas pelos seus organizadores (Simonson, 1984).
Ainda nas primeiras décadas do século XX, os pedólogos, que eram ainda fortemente 
influenciados pela Geologia dada a sua formação, tentavam diminuir ou livrar-se da 
dependência das teorias geológicas, visando à consolidação da ainda incipiente Ciência 
do Solo (Tandarich et al., 1994). Em conseqüência, houve um acordo informal de separar- 
se o estudo do solo na porção superior do regolito como zona de atuação dos pedólogos 
e a porção do regolito abaixo do solo como zona de atuação dos geólogos, estabelecendo- 
se também uma respectiva terminologia diferenciada para descrever e analisar o regolito. 
Considerando a dificuldade de definir o limite entre essas duas zonas, criou-se de maneira 
não intencional uma zona cinzenta (ou "terra de ninguém") no regolito, que, na maioria 
dos casos, não é estudada por pedólogos tampouco por geólogos. A parte superior do 
regolito, compreendendo parte do solo pedológico é, geralmente, a zona de grande 
interesse para os engenheiros civis, que desenvolveram ensaios de mecânica de solos 
para a sua caracterização. Este fato tem estimulado maior interação do estudo de solos 
entre pedólogos e engenheiros, inclusive com propostas de uma expansão do conceito de 
perfil de solo para perfil de peáo-intemperismo, unindo o perfil de solo ao perfil de 
intemperismo, que é o homólogo geológico do perfil de solo (Tandarich et al., 1994,2002). 
Realmente, o melhor conhecimento do comportamento da porção do regolito abaixo do
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I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 11
solo é de grande importância para os usos não agrícolas do solo, como, por exemplo, 
para descarte de resíduos, dada a preocupação em evitar-se a contaminação dos aqüíferos.
Atualmente, a definição de solo mais usada na Ciência do Solo integra os conceitos 
pedológico (solo como corpo natural organizado) e edafológico (solo como meio para o 
desenvolvimento das plantas), enfatizando a ação antrópica sobre o solo: o solo é a coleção 
de corpos naturais na superfície terrestre, em parte modificado ou mesmo construído pela 
atividade humana a partir de material terrestre, que contém matéria viva e é capaz de 
sustentar plantas ao ar livre. Em sua parte superior, o solo limita-se com a atmosfera; 
lateralmente, limita-se com a rocha consolidada ou alterada e com os corpos de água. O 
limite inferior do solo é muitas vezes difícil de definir, mas aquilo que é reconhecido como 
solo deve excluir o material que mostre pouco efeito das interações do clima, organismos 
vivos, material originário e relevo ao longo do tempo (Soil Survey Division Staff, 1993).
Dentre os vários conceitos de solo, o de solo como corpo natural organizado é um dos 
mais abrangentes, pois sintetiza as suas características e propriedades em interação com o 
ambiente e é capaz de representá-lo para os mais diversos interesses. Todavia, em muitas 
áreas, a atividade humana tem promovido intensas alterações na paisagem (urbanização, 
mineração, aterramentos, etc.), incorporando materiais artificiais (resíduos tecnogênicos) 
e mesmo construindo solos a partir desses diversos materiais não terrestres (veja capítulo 7). 
Nestas situações o solo não é um corpo natural, mas um produto da ação humana, que 
apresenta potencial para o crescimento e desenvolvimento da vegetação (paisagismo, 
florestamento e outros usos) e a execução de obras de engenharia. Essas situações originaram 
a proposta de destacar-se a ação antrópica (a) como o sexto fator de formação do solo 
(Pouyat et al., 1998; Dudal et al., 2002); quando a influência antrópica é dominante, a 
formação do solo é expressa como: S =/(a)c r 0 mo t com o (re)início da pedogênese a um novo 
tempo zero (veja capítulo 7). Esta concepção permite expandir o paradigma de Dokuchaev 
para incluir esses depósitos antrópicos, os quais na prática funcionam como equivalentes 
a solos naturais. Tais casos mostram a importância de manter-se uma flexibilidade na 
aplicação dos conceitos de solo, ou de fazer uso de concessões na aplicação de paradigmas. 
Alguns sistemas de classificação (WRB, FAO, Soil Taxonomy, Austrália, Rússia e outros) 
já reconhecem as situações especiais em que há ação antrópica alterando significativamente 
solos naturais e, ou, construindo solos com materiais tecnogênicos, estabelecendo classes 
de solos como Antrossolos, Tecnossolos, Urbanossolos e outras denominações.
O Solo como Sistema Aberto
"...aquilo que observamos não é a Natureza em si mas, sim, a Natureza 
exposta ao nosso método de questionar"
(Werner Heisenberg, 1987).
Na introdução deste capítulo foi mencionado que os solos (ou a pedosfera) são 
sistemas abertos que interagem com a biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera. Tal 
concepção baseia-se na "teoria de sistemas" proposta por Ludwig von Bertalanffy (1968) 
nas décadas de 1930 e 1940, a qual consiste em uma abordagem filosófica (ou um modelo)
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12 N estor K àmpf & N ilton C uri
que fornece uma estrutura para estudar "sistemas" como entidades em lugar de 
conglomerados de partes. A teoria dos sistemas propõe uma visão holística (do grego, 
holos = totalidade) e ecológica, em que a maneira como as partes estão integradas no todo 
é mais importante do que as partes isoladas, constituindo uma mudança da concepção 
mecanicista baseada na decomposição de objetos em seus componentes para um exame 
individualizado (= modelo reducionista). Desta maneira, um sistema é definido como 
um todo organizado, constituído de um conjunto de componentes interdependentes, que 
atuam integradamente, de maneira que a alteração de um componente modifica os demais.
Note-se, contudo, que o uso do termo "reducionista" não tem conotação pejorativa. 
No contexto da prática científica, é freqüente o uso de uma combinação de modelos 
holísticos e reducionistas, conforme a abordagem contemple um contexto global ou os 
componentes ou mecanismos específicos envolvidos. De modo geral, o entendimento do 
"todo" (ou sistema) é muito complexo, razão porque, para sua melhor compreensão, torna- 
se necessário conhecer em detalhe as "partes" individualizadas. Isso é viabilizado por 
meio da concepção da hierarquia de sistemas, explicada adiante.
Assim como os organismos vivos, sociedades e ecossistemas, os solos são sistemas 
abertos complexos porque trocam energia e matéria com sua circunvizinhança (Dijkerman, 
1974; Smeck et al., 1983). Fluxos de energia e matéria são continuamente transferidos, 
como, por exemplo, dos minerais do solo para as plantas e destas ao solo, dos resíduos 
vegetais aos micro-organismos do solo e destes aos minerais; fluxos de água passam 
continuamente através do solo, adicionando, transferindo e removendo elementos 
químicos, minerais e compostos orgânicos. Os solos formam-se e evoluem continuamente, 
em velocidades e vias diversas (Figura 3).
Figura 3. Solo como sistema aberto e fluxos de material e energia.
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I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 13
Isto significa que o solo, como componente intrínseco de geoecossistemas, constitui 
um sistema dinâmico, constantemente perturbado por forças internas e externas. Uma 
distinção entre perturbações internas e externas depende dos limites impostos ao sistema 
em consideração. Portanto, para estabelecer as relações dentro do sistema e deste com 
suas circunvizinhanças, é necessário especificar os seus limites operacionais. Estes são 
bastante claros no caso de organismos vivos, por exemplo, uma árvore ou uma bactéria; 
mas, geralmente não o são no caso de solos; nesta situação, os limites do solo são definidos 
a partir dos objetivos do estudo pretendido.
Conforme esses objetivos o sistema pode ser subdividido, para fins operacionais, 
em uma hierarquia de subsistemas conforme exemplifica o quadro 1 (Dijkerman, 1974; 
Sposito & Reginato, 1992). Os termos pedosfera, paisagem, catena, polipedon, peãon, perfil, 
horizonte, ped, minerais e solução do solo representam uma hierarquia organizada de 
(sub)sistemas de solo, com limites definidos. Uma breve descrição dos diversos 
(sub)sistemas exemplifica essa interrelação hierárquica. O nível mais elevado na 
hierarquia é a pedosfera, compreendendo a camada de solos que reveste os continentes. 
A pedosfera contém subsistemas na forma de paisagens onde as variações de relevo, 
geologia, clima e hidrografia condicionam os processos pedogenéticos que determinam 
a distribuição dos solos em catenas (ou topossequências). As catenas, como subsistemas 
da paisagem, contêm diferentes tipos de solos (identificados como polipedons ou 
unidades de solos), os quais ocupam determinadas posições na catena e apresentam 
determinada distribuição geográfica. Os polipedons, como subsistemas da catena, são 
constituídos por grupos de pedons contíguos e são identificados com base nas 
características dos pedons ou dos perfis de solo (menores unidades representativas do 
solo). Os pedons e os perfis de solo, como subsistemas dos polipedons, apresentam 
determ inado arran jo dos horizontes do solo com o resu ltad o dos processos 
pedogenéticos. Os horizontes do solo, como subsistemas do perfil, são compostos de 
peds (agregados estruturais). Estes, por sua vez, são constituídos por subsistemas de 
minerais e compostos orgânicos, os quais estão em contato com a solução do solo. O 
subsistema solução do solo contém elementos dissolvidos e elementos associados aos 
minerais e compostos orgânicos, representando o meio onde ocorrem as reações químicas 
que condicionam a disponibilidade de nutrientes para as plantas, bem como a 
intemperização dos minerais.
Essa concepção hierárquica possibilita, com o detalhe desejado, o estudo das 
transferências entre os sistemas (ou subsistemas) e suas circunvizinhanças. Isto permite 
entender e quantificar os processos e as relações fundamentais dos solos como base para 
predizer o seu comportamento no contexto de um sistema. Uma alteração de um sistema 
em qualquer nível pode alterar os sistemas (ou subsistemas) em nível inferior ou superior, 
dependendo da modificação imposta. Desta maneira, qualquer mudança na biosfera que 
altere os ecossistemas também alterará os solos e o mesmo acontece no sentido inverso. 
Esta interação contínua entre sistemas (ou subsistemas) mostra o caráter holístico 
embutido na concepção de sistema.
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14 N estor K ãm pf & N ilton C uri
Quadro 1. Exemplo de hierarquia de sistemas solo para o estudo (ou modelagem) do solo.
Nível Sistema Definição
1. Pedosfera Camada de solos que reveste os continentes
2. Paisagem Porção da superfície terrestre
3. Catena Seqüência regular de solos associada com o relevo
4. Polipedon Grupo contíguo de pedons similares
5. Pedon Menor volume considerado como solo
6. Perfil Seção vertical de um pedon ou solo
7. Horizontes Camadas minerais ou orgânicas aproximadamente paralelas 
à superfície, originadas via processos pedogenéticos e, ou, 
antropogênicos
8. Peds Agregados estruturais formados pela interação de minerais e 
compostos orgânicos
9, Minerais Compostos inorgânicos com estrutura e composição química 
definida em contato com a solução do solo
10. Solução do solo Fase aquosa do solo
Fonte: Modificado de Dijkerman (1974).
Os m étodos usados para estudar o solo nos diferentes níveis de organização 
(= subsistem as) variam conforme a escala do objeto em análise (Sposito & Reginato, 
1992) (Figura 4). Por exemplo, no estudo de minerais, podem ser usadas a microscopia 
ótica (partículas com 0 de 2 a 0,02 mm), microscopia eletrônica (partículas com 0 <
0,002 mm) ou a difratometria de raios-x (partículas com 0 < 0,02 mm). No estudo de 
agregados estruturais (escala em centímetros) ao pedon ou perfil de solo (escala de 
centímetros a metros) a escala pode ser visual, enquanto no estudo de catenas e paisagens 
(extensões de metros a quilômetros) além da escala visual empregam-se imagens obtidas 
por sensoreamento remoto (aerofotos, imagens de satélite, dentre outras).
Um avanço no entendimento da dinâmica do solo é alcançado com a aplicação da 
termodinâmica do não equilíbrio (Prigogine & Stengers, 1984) à modelagem do solo como 
sistema aberto complexo (Targulian & Krasilnikov, 2007). A pedogênese é entendida como 
uma integração de processos pedogenéticos específicos, cada qual capaz de criar na fase 
sólida do solo um conjunto de características pedogenéticas. Cada solo é formado por alguma 
combinação desses processos e as variações nos tipos e nas interações destes processos 
explicam a grande diversidade de solos na Terra (veja capítulo 7). Neste contexto, em ambientes 
constantes, a formação do solo é um processo sinergético de auto-organização ao longo do 
tempo, que tenderia a um quase equilíbrio ou um equilíbrio estacionário (steady-state) com 
um balanço entre os fluxos de matéria e energia com seu ambiente. Todavia, em um ambiente 
sujeito a flutuações (o que é mais comum), a evolução do solo (por meio de processos 
irreversíveiscom a auto-organização de estruturas dissipativas criando novas estruturas 
emergentes) é contínua, visto que muitos processos pedogenéticos específicos mudam em
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I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 15
resposta às alterações ambientais (Targulian & Krasilnikov, 2007). Assim, considerando as 
eventuais flutuações (ou perturbações) no decorrer da pedogênese, a evolução do solo pode 
ser imprevisível ou constituir uma "incerteza determinística" (Phillips et al., 1996).
Figura 4 - Hierarquia de sistemas: representação esquemática de (sub)sistemas e 
correspondentes técnicas de análise.
Fonte: Adaptado de Sposito & Reginato (1992).
APLICAÇÃO DE CONCEITOS E MODELOS DE SOLOS
Conforme mencionado anteriormente, o sistema solo é, por sua complexidade, difícil 
de ser analisado. Para facilitar seu estudo, constrõem-se modelos mentais (teorias ou 
paradigmas), que são instrumentos para coletar, descrever, explicar, pesquisar e predizer 
informações a respeito do solo. Modelos têm a vantagem de serem mais simples e mais 
fáceis de trabalhar mas, convém lembrar, são apenas uma representação simplificada do 
nosso entendimento da realidade.
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16 N estor K àm pf & N ilton C uri
Por exemplo, um conceito de solo como corpo (natural ou artificial) organizado 
representa um modelo de solo, em que está estabelecido que: (1) os solos são originados 
por meio de processos pedogenéticos e, ou, antropogênicos, pelos quais são continuamente 
modificados; (2) um conjunto de fatores de formação do solo (rocha, clima, organismos, 
relevo, ação humana) agindo ao longo do tempo direciona esses processos; e (3) conforme 
a possibilidade combinatória desses fatores, as características do solo serão diferentes 
de um local para outro. Este modelo corresponde a um sistema aberto, razão pela qual 
pode ser estudado utilizando o procedimento da hierarquia de subsistemas, pelo qual o 
sistema é subdividido em subsistemas sucessivamente menores e de complexidade 
decrescente, mas que interagem uns com os outros. Assim, uma delimitação (= subsistema) 
do solo apropriada ao seu reconhecimento e à sua caracterização no campo é o perfil de 
solo (Quadro 1), que consiste numa seção vertical que corta o solo desde a superfície até 
a rocha ou material de origem. No perfil de solo, pode ser feita a caracterização da 
estruturação interna visível do solo conforme descrição padronizada (Santos et al., 2005; 
veja capítulo 3).
No perfil, é identificada a divisão do solo em horizontes, que são seções 
aproximadamente paralelas à superfície do terreno, originadas e desenvolvidas por 
processos pedogenéticos e, ou, antropogênicos. Os horizontes são definidos por um 
conjunto de características ou propriedades, que compreendem, por exemplo: a cor, a 
granulometria (= textura), a mineralogia, a estrutura, as propriedades físicas e químicas, 
a distribuição de raízes, da flora e da fauna do solo. No Brasil, adota-se o perfil de solo 
para descrever, amostrar e analisar o solo tridimensional, bem como para classificá-lo 
(Embrapa, 2006). Entende-se que o perfil de solo representa um determinado "indivíduo 
solo" ou uma classe taxonôm ica de solo, identificada segundo um sistem a de 
classificação (veja capítulo 8), cuja distribuição espacial pode ser representada em 
mapas de solos na forma de unidades de mapeamento.
Tomando por base o fato de os solos serem corpos tridimensionais que ocupam 
determinado volume na pedosfera, nos E.U. A. (Soil Survey Division Staff, 1993) é adotado 
outro modelo (ou subsistema) para a caracterização do solo no campo: o peãon, que é a 
menor unidade de volume imaginária extraída da pedosfera que ainda mantém todas as 
características de um solo, com uma área superficial mínima de 1 m2 e com uma 
profundidade variável. Todavia, os pedons são muito pequenos para mapear a distribuição 
geográfica dos solos numa paisagem (vários km2); assim, na avaliação dos recursos de 
solos de uma região, estes são separados em unidades de mapeamento constituídas por 
conjuntos de pedons similares, ou seja, polipedons. Polipedons são porções da pedosfera 
com determinada distribuição espacial e com uma conformação geométrica geralmente 
relacionada com o relevo. O polipedon é um mosaico de pedons similares contíguos, 
limitados na parte superior pela atmosfera, na parte inferior pela rocha e lateralmente 
por outros polipedons, por corpos de água ou rochas. Os polipedons são denominados 
conforme a classe de um sistema de classificação de solos (Soil Taxonomy), na qual suas 
características se enquadram.
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I - CONCEITO DE SOLO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diz a sabedoria popular que "nós só enxergamos aquilo que conhecemos" ou 
"enxergamos da maneira como entendemos o objeto em questão". De fato, conforme a 
evolução do conhecimento também muda a nossa percepção do solo ou daquilo que é 
considerado solo. Vimos que os conceitos de solo são baseados em modelos ou paradigmas 
ou teorias que ajudam a explicar o objeto em questão para determinados objetivos; eles 
refletem a nossa percepção (ou entendimento) do solo em determinada época, auxiliando 
na sua identificação e caracterização; orientam o seu estudo, isto é, o nosso 
questionamento, assim permitindo testar hipóteses na prática da ciência normal, levando 
à melhor articulação ou fortalecimento do paradigma. Todavia, nenhum paradigma 
resolve todos os problemas que define, o que pode ensejar uma competição entre 
paradigmas (Kuhn, 1990). Neste contexto, os conceitos têm sua utilidade ou validade 
enquanto satisfizerem nossos questionamentos, portanto, não são dogmas. Assim, a 
história tem mostrado que os conceitos de solo podem ser alterados ou substituídos de 
acordo com a evolução do conhecimento. A própria definição do termo pedologia sofreu 
mudanças ao longo do tempo. Todavia, a ousada ideia de Dokuchaev e seus colegas em 
reduzir a complexidade da gênese do solo a cinco fatores ambientais externos (material 
de origem, clima, relevo, organismos), agindo ao longo do tempo - a qual originou a 
concepção de "solo como corpo natural organizado" - continua válida até os dias atuais. 
Esta concepção contribuiu para o estabelecimento da Ciência do Solo e deu fundamentos 
à Pedologia, sendo intensamente aplicada desde o ensino e a pesquisa do solo até o 
mapeamento dos solos no campo.
Novas concepções de solo que atendam às diversas demandas da sociedade 
continuam a ser buscadas (Ibánez & Boixadera, 2002). Neste contexto, uma versão mais 
abrangente e atual do paradigma fundamental da pedologia é expressa pelo seguinte 
esquema: fatores de formação do solo —» dinâmica interna do sistema solo —> processos 
pedogenéticos específicos propriedades e características do solo —» funções externas 
dos solos (Targulian & Krasilnikov, 2007). Nesta expressão, são incluídos os efeitos das 
propriedades e características do solo no ecossistema e no uso do solo para as mais 
diversas finalidades (Miller, 1993).
Como recomendação final aos interessados em prosseguir no aprendizado do tema 
Solos, além de um sólido conhecimento que pode ser adquirido por meio da literatura 
pertinente e do trabalho dedicado no campo, é essencial manter uma curiosidade científica 
pelo "como e por que?" e a mente acessível a inovações.
LITERATURA CITADA
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P e d o l o g i a
II - p r in c íp io s d a c l a s s if ic a ç a o d o s
SOLOS
M a u r o R e s e n d e '7, N i l t o n C u r i2/, J o ã o B e r t o ld o d e 0 1 i v e i r a 3/ & J o ã o C a r lo s K e r v
^Professor Aposentado do Departam ento de Solos, Universidade Federal de Viçosa - UFV.
Viçosa (MG). E-m ail: m resende2007@yahoo.com .br 
2/Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo, Universidade Federal de Lavras - UFLA.
Lavras (MG). Bolsista do CNPq. E-mail: niltcuri@ dcs.ufla.br 
3/Pesquisador Aposentado do Instituto Agronômico de Cam pinas - IAC. Cam pinas (SP).
E-mail: bertoldo@lexxa.com .br 
4/Professor Associado do Departamento de Solos, Universidade Federal de Viçosa- UFV. Viçosa (MG).
Bolsista do CNPq. E-mail: jcker@ ufv.br
Conteúdo
C O N C EITU A Ç Ã O ....................................................................................................................................................................... 22
POR QUE E PARA QUE CLASSIFICAR? .............................................................................................................................23
Reconhecimento e Definição de Grupos ............................................................................................................................24
Ferramenta para Predições.....................................................................................................................................................24
Reflexo do Conhecimento.......................................................................................................................................................... 25
Relações Custo/Benefício.......................................................................................................................................................25
Estrutura Lógica...........................................................................................................................................................................26
HISTÓRICO DA CLASSIFICAÇÃO DOS SO L O S .......................................................................................................... 26
Pioneiros........................................................................................................................................................................................ 26
Esforços Mais M odernos...........................................................................................................................................................27
ATRIBUTOS, CARACTERÍSTICAS DIFERENCIAIS E ACESSÓRIAS....................................................................31
Atributos Comuns e Características Diferenciais.......................................................................................................... 31
Características Covariantes....................................................................................................................................................32
Escolha da Característica Diferencial.................................................................................................................................34
TAXONOMIA D ESEJÁ V EL......................................................................................................................................................35
UMA CONSIDERAÇÃO IM PO RTA N TE............................................................................................................................36
CONTROVÉRSIAS ENVOLVENDO INDIVÍDUOS E POPULAÇÃO DE SO L O S ............................................37
Um Panorama Evolutivo........................................................................................................................................................39
Ecotesselas....................................................................................................................................................................................40
CORRELAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTOS................................................................................ 41
Correlação..................................................................................................................................................................................... 41
KER, J.C .; CURI N.; SCHAEFER, C.E.G.R. & VIDAL-TORRADO, P ., eds. Pedologia; Fundam entos. 
V içosa, MG, SBCS, 2012. 343p.
mailto:mresende2007@yahoo.com.br
mailto:niltcuri@dcs.ufla.br
mailto:bertoldo@lexxa.com.br
mailto:jcker@ufv.br
22 M auro R esende e t a l.
Transferência de Conhecimentos ........................................................................................................................................... 42
CONSIDERAÇÕES FIN A IS.........................................................................................................................................................43
LITERATURA C IT A D A ...............................................................................................................................................................44
CONCEITUAÇÃO
Os termos classificação, taxonomia e sistemática estão definidos no Quadro 1. O 
uso do termo classificação, abrangendo taxonomia, usado na Soil Taxonomy (Estados 
Unidos, 1975, 1979), parece estar mais harmônico com as definições (Quadro 1) que 
consideram a taxonomia como um subconjunto da classificação. Todos os pedólogos 
fazem classificação; alguns poucos, taxonomia; raros, sistemática.
Aparentemente, a palavra classificação tem sentido abrangente também na literatura 
referente à lógica. As citações referentes a Stuart Mill (Estados Unidos, 1975), e mesmo o 
texto sobre lógica (Seria Liart, 1979), dão à classificação um sentido amplo, sem incluir 
os termos taxonomia e sistemática. Isso parece até justificar, como fez Ross (1973), 
considerar-se taxonomia e classificação como sinônimos.
Além dos termos classificação, taxonomia e sistemática, outros termos, tais como: 
extensão, compreensão, definição são frequentemente usados quando se constroi o 
sistema de classes.
Q uadro 1. Conceitos de classificaçao, taxonomia e sistemática
Classificação Classificações são esquemas organizados pelo homem para atender
a seus objetivos. Elas não são verdades propriamente ditas que 
possam ser descobertas. Elas não são estáticas, mas requerem 
mudanças à medida que o conhecimento avança. Inclui taxonomia, 
mas também inclui o grupamento de solos de acordo com suas 
limitações que afetam propósitos práticos específicos 
Taxonomia Termo menos abrangente do que classificação. Parte da classificação
que trata primariamente das relações naturais entre solos e entre os 
solos e os fatores responsáveis por seu caráter. Inclui nomes, 
ordenação e distinção sistemática de grupos dentro de determinado 
campo de estudo. Muitas classificações podem ser feitas a partir da 
taxonomia básica
Sistemática Ciência dedicada a inventariar e descrever a diversidade de solos e
compreender as relações existentes entre eles. E a ciência teórica da 
classificação. Inclui a taxonomia e a classificação
Fonte: Simpson (1962); Estados Unidos (1975, 1999); adaptado de Wikipedia (2007).
A classificação feita com finalidade científica é considerada como natural, 
taxonômica ou pedológica, enquanto aquela feita com objetivos mais específicos é 
chamada de técnica ou interpretativa (Quadro 2).
P e d o l o g i a
II - PRINCÍPIOS DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 
Quadro 2. Tipos de classificação de solos e suas características principais
23
Classificação Características
Natural (taxonômica) Visa a organizar todo o conhecimento. Em princípio,
leva em consideração todos os atributos conhecidos. 
Apoia-se na totalidade dos caracteres. As 
características diferenciais (aquelas selecionadas como 
base para distinção de classes) com o maior número 
possível de covariantes são usadas, por isso têm 
grande influxo dos conhecimentos de gênese
Técnica (interpretativa) É em geral voltada para um problema específico,
levando em consideração apenas os atributos 
pertinentes ao problema
Para tornar os levantamentos pedológicos mais úteis, é comum adicionar-se ao nome 
indicador da classe taxonômica adjetivações referentes às fases de vegetação, relevo, 
pedregosidade, etc. Estas adjetivações adicionam informações do solo não contidas na 
classe taxonômica e ajudam, e muito, na especificação das qualidades da terra.
Apesar de ser a separação entre classificação natural e técnica muito mencionada, 
há aqueles que, como Hempel (1952), não fazendo esta distinção, consideram que toda 
classificação que conduz à predição de novos fatos é natural.
POR QUE E PARA QUE CLASSIFICAR?
O postuladomais lógico da ciência é a existência de ordem na natureza. Sempre há, 
em cada um de nós, a necessidade inata de ordem. E, sob certa forma, um esforço para 
simplificar o mundo, frente ao sempre crescente conjunto de informações que nos são 
oferecidas a cada instante.
O ato de agrupar todas as percepções que se têm a respeito do mundo é um 
procedimento comum. Poder-se-ia mesmo dizer que isto está na base da própria 
conservação da vida. Até um ser primitivo como uma ameba não reage a cada partícula 
alimentar do mesmo modo, mas, sim, diferencialmente como se classificasse os numerosos 
objetos num processo de formação de grupos ou classes de alimentos (Simpson, 1962). A 
colocação de um dos alimentos (elementos), isto é, identificação, numa classe errada 
pode significar danos irreparáveis. A ingestão de uma planta venenosa, por um animal, 
ou a utilização de um alimento estragado, pelo homem, representam estas identificações 
errôneas.
A classificação é, portanto, a expressão do processo de conhecimentos ganhos. E 
um contínuo exercício de seleção (abstração), cujos erros tendem a ser corrigidos pelos, 
às vezes, dolorosos insucessos. E, assim, um processo relacionado com a própria evolução 
biológica.
P e d o l o g i a
24 M auro R esende e t a l.
Na exemplificação dada anteriormente, podem ser enfatizados alguns aspectos 
importantes ligados ao reconhecimento e definição de grupos, predições, conhecimentos, 
relações custo/benefício e estrutura lógica do ato de classificar, abordados a seguir.
Reconhecimento e Definição de Grupos
Diante de multiplicidade dos fenômenos que nos cercam, surgiu a necessidade intrínseca 
muito forte de agrupar os fenômenos para nos ajudar a memória e aumentar a chance de 
sobrevivência. Este fato é tão natural que frequentemente nem nos apercebemos dele.
As terras de cultura (relativam ente mais ricas em nutrientes) e de campo 
(relativamente mais pobres em nutrientes e com teores mais elevados de Al3+) (Figura 1) 
são mais harmonicamente unificadas, no universo das qualidades das terras, quando 
ordenadas, tendo as terras de meia cultura como intermediárias entre as de cultura e 
campo. Assim, é, até certo ponto, paradoxal o fato de, no processo de classificação, a 
formação dos grupos (um processo de divisão) levar a uma unificação global, por realçar 
que há transições entre os grupos.
Universo
cultura meia cultura campo
classe ou grupo
Figura 1. Exemplo de formação de grupos de qualidade da terra usados por agricultores da região 
dos cerrados brasileiros. As terras de determ inada região (o universo no caso as terras do 
Cerrado) são divididas em três classes.
Ferramenta para Predições
Ao identificar um fenômeno, colocando-o num dos grupos (classes) de um sistema 
de organização previamente definido, viabiliza-se uma série de previsões. Estas previsões 
não poderiam ser feitas sem algum tipo de organização, colocando o fenômeno em 
determinada classe. A classificação, mesmo que não explicitada claramente, é, portanto, 
um modelo preditivo ou uma ferram enta para predições, que, consciente ou 
inconscientemente, vem sendo utilizada há muito.
Um perfil ou polipedon (definidos a seguir) caso sejam identificados como 
Latossolo Am arelo distrocoeso - LAdx, (Figura 2) faz com que se acione todo um 
processo de rem em orização ligado à ideia de classe, com as correspondentes 
conseqüências interpretativas, tais como: baixo teor de Fe, m ineralogia caulinítica 
e goethítica, adensamento subsuperficial, etc., que permite a previsão de atributos e 
de comportamento.
P e d o l o g i a
II - PRINCÍPIOS DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 2 5
Fenômeno
(elemento)
uterpretação 
ou Previsão
Polipedon de Latossolo 
Amarelo distrocoeso 
textura argilosa
Baixo teor de Fe
Caulinítico e goethítico
Coeso, duro quando seco 
e friável quando úmido
Adensado; dificuldade de 
penetração de raízes 
Baixa disponibilidade de 
nutrientes
Teor de argila entre 35 e
60%
Figura 2. A classe (ou grupos) serve de ponte para previsões e interpretações.
Reflexo do Conhecimento
A classificação é um processo que se aperfeiçoa continuamente, num ritmo tanto 
maior quanto mais acelerado for o conhecimento adquirido sobre o objeto que se pretende 
classificar. As novas experiências, mesmo negativas, são conhecimentos importantes e, 
como tais, devem ser inseridas, ordenadamente, no acervo do que se sabe. Isto é, podem 
ser usadas para aprimorar o sistema de classes.
A classificação não é, no entanto, uma verdade que se procura, mas, sim, um artifício 
criado pelo homem para servir de ferramenta, aperfeiçoável com o tempo, para realizar 
uma função.
Relações Custo / Benefício
O esforço ou a energia gastos para a atividade classificatória foram recompensados 
na forma de estratégia relativa à conservação, como nos exemplos dos alimentos, ou à 
satisfação pessoal, em termos de ordenação e comando do conhecimento, podendo ter ou 
não uma contrapartida mais prática e objetiva.
Assim, por processos evolutivos estimulados talvez inicialmente, como estratégia 
de sobrevivência, criou-se uma necessidade natural de se criar uma ideia abstrata de 
grupos ordenados com as funções tanto de organizar as informações, como de possibilitar
P e d o l o g i a
26 M auro R esende e t a l.
previsões importantes ou, segundo Cline (1949): organizar nossos conhecimentos a 
respeito dos objetos de tal maneira que as propriedades deles possam ser relembradas, e 
as relações entre eles possam ser entendidas.
Esta ideia abstrata tem característica de ser uma aproximação da verdade, refletindo
o conhecimento, e o seu sucesso é medido pelas relações entre o esforço e energia para 
identificar um indivíduo, como pertinente a um grupo e os benefícios auferidos deste 
fato.
Estrutura Lógica
Observando qualquer objeto (por exemplo, um pedaço de rocha), cada um de nós, 
mesmo sem perceber, coloca aquele objeto dentro de um grupamento qualquer, existente 
na nossa mente. A natureza, precisão e grau de refinamento deste grupamento vai 
depender do nível de conhecimento de cada um. Talvez, para alguns, o pedaço de rocha 
seja colocado em um grupo de corpos duros que podem machucar os pés; no entanto, 
para outros, o mesmo objeto seria classificado como um material que serve para construção 
civil; e, para um terceiro indivíduo, pode significar um fragmento de rocha que em geologia 
é classificado como um gnaisse. Ao observar o pedaço de rocha, houve, por parte de cada 
um, uma atividade classificatória, ou seja, a identificação daquele corpo, como pertencente 
a um conjunto abstrato, por meio do qual se pode prever alguma coisa a respeito das 
características e do comportamento daquele objeto.
HISTÓRICO DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 
Pioneiros
A criação de grupos de solos afins, segundo alguns critérios e colocação de cada 
solo conhecido neste grupamento, deve ser tão antiga quanto o próprio homem. Os vários 
acidentes de terreno, as áreas inundáveis, as áreas onde ocorriam com maior incidência 
determinadas plantas ou animais, devem ter inspirado aos nossos ancestrais a criação 
de grupos (classes) naturais de paisagens. E mesmo possível que a mudança para novas 
regiões trouxesse, pelo menos inicialmente, certo desconforto informativo para os nossos 
antecessores, requerendo talvez maior esforço de observação, tentando ordenar o complexo 
padrão de fenômenos, aparentemente estanques, dando certo elemento de previsibilidade 
e segurança.
A utilização dos fatores do meio, como aspectos do terreno, presença de determinadas 
plantas, frequência das inundações, pode ser considerada, sob certa forma, uma 
classificação ecológica das terras.
Na Pré-História, a passagem do homem de uma atividade de simples coleta para a 
agricultura deve ter estimulado uma maior atenção para determinados aspectos, tais 
como: o crescimento de plantas cultivadas, a dureza do solo para a escavação, a cor do
P e d o l o g i a
II - PRINCÍPIOS DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS 27
solo, a aspereza da terra - um reflexo da textura

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