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Paradigmas avaliativos: paradigma objetivista Pré-requisito Para esta aula, é importante que você já esteja sabendo, como foi trabalhado na aula anterior, que o ato avaliativo deve sempre conduzir à refl exão crítica sobre o contexto em que se realizará sua prática avaliativa na sala de aula. ob jet ivo s Meta da aula Apresentar aos alunos os paradigmas avaliativos, com ênfase inicial no paradigma objetivista. 2AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Defi nir o que é paradigma. Caracterizar o paradigma objetivista. Demonstrar as principais críticas ao paradigma objetivista. 20 C E D E R J Métodos e Técnicas de Avaliação | Paradigmas avaliativos: paradigma objetivista INTRODUÇÃO Na aula anterior, admitimos que a Prática de Ensino, tal como a entendemos, ultrapassa os treinamentos mais comuns ou a simples aplicação das teorias e procedimentos apreendidos em várias disciplinas. Na presente disciplina de Prática de Ensino, com foco bastante ampliado nos Métodos e Técnicas de Avaliação, temos também intenção de discutir com você diversos aspectos epistemológicos da avaliação da aprendizagem dos alunos. Nossa caminhada será fácil e desprovida de armadilhas. Todos os textos que preparamos para você procuram ser claros e diretos porém, em todos eles, procuramos evitar simplifi cações e reduções. Queremos acompanhá-lo, guiá-lo com segurança e propiciar-lhe elementos importantes para suas futuras práticas avaliativas escolares, nas quais, certamente, você atuará com consciência em prol do desenvolvimento de seus alunos. A avaliação, nesse sentido, será sempre um meio, não um fi m em si mesma, para classifi car, hierarquizar e produzir exclusões escolares e sociais. Talvez a essa altura você já esteja se perguntando: “Ora, o que ainda preciso saber de avaliação, se sempre fui avaliado, desde meu primeiro minuto como aluno? Avaliar, afi nal de contas, não é apenas atribuir notas ou conceitos aos alunos, depois de terem feito algum teste ou prova?” As coisas, no entanto, não são bem assim! Nós acreditamos que o fato de alguém ter sido avaliado ao longo de sua escolaridade não o capacita a avaliar a aprendizagem de outrem, da mesma forma que o paciente de alguma intervenção médico-cirúrgica também não está habilitado a operar ou a ser médico.Você verá nesta aula que avaliar é mais que o simples ato de contar erros e acertos de alguém, por intermédio de um dado instrumento – ultrapassa o simples ajuizamento ou a valorização da qualidade de algum produto escolar. C E D E R J 21 A U LA 2 Todavia, para começar a entender o signifi cado do ato avaliativo na escola, precisamos antes escolher nossa fi liação paradigmática, isto é, que concepções e procedimentos vamos usar para avaliar nossos alunos? De uma perspectiva mais acadêmica, a questão é a seguinte: nossos procedimentos teóricos e práticos correspondem a qual paradigma? Comecemos nossos primeiros passos por aí, considerando estas duas questões: O que é paradigma? Quais são os paradigmas da avaliação educacional? PARADIGMAS DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL Segundo o dicionário Aurélio, o termo “paradigma” deriva do grego parádeigma e do latim paradigma, ambos signifi cando “modelo” ou “padrão”. Os físicos, porém, segundo o mesmo dicionário, têm entendimento mais ampliado do termo. Para eles, paradigma corresponde a um “conjunto de hipóteses sobre a estrutura ou o comportamento de um sistema físico pelo qual se procuram explicar ou prever, dentro de uma teoria científi ca, as propriedades do sistema”. Esse entendimento, de fato, é melhor, mais amplo e muito mais próximo do conceito de paradigma desenvolvido por Thomas Khun (1997). De acordo com este físico e fi lósofo, paradigmas são conjuntos de leis, teorias, aplicações e instrumentações dos quais brotam as tradições da pesquisa, isto é, os modos de pesquisar próprios de determinadas épocas e lugares. Sem a utilização de tais conjuntos, torna-se difícil defi nir, por exemplo, o problema de investigação, assim como sua solução. Para esse autor, os paradigmas são quebra-cabeças que testam a engenhosidade e a habilidade humana na resolução de problemas. Mas também são solucionadores de problemas, permitindo que as comunidades científi cas se debrucem sobre questões sociais relevantes, formuladas como quebra-cabeças à luz de enunciados, instrumentos e conceitos já tidos como próprios de determinado paradigma. Khun admite que o estudo dos paradigmas, pelos alunos, é de grande importância, pois lhes permite entrar em dada comunidade científi ca e agir em conformidade com determinadas leis, conceitos, modelos, analogias, valores, regras e padrões de pesquisa. Nós concordamos com ele. Os estudantes de Prática de Ensino e futuros avaliadores também devem buscar suas coerências, desde cedo assumindo as concepções de 22 C E D E R J Métodos e Técnicas de Avaliação | Paradigmas avaliativos: paradigma objetivista dado paradigma. No interior das comunidades avaliativas, os estudiosos recomendam o estudo dos paradigmas que já estão consolidados. A literatura produzida por estas comunidades, aliás, tem dado visibilidade a dois grandes paradigmas: o objetivista e o subjetivista. Nesta aula, veremos como se defi ne o paradigma: o objetivista. 1. a. Em uma folha a parte elabore uma defi nição de paradigma que possa usar sempre. 1. b. Tente também desenvolver um pequeno texto, justificando um pa radigma como solucionador de problemas. _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ATIVIDADE COMENTÁRIO Um paradigma dominante é um conjunto de conceitos e métodos aceitáveis e úteis para um dado conjunto de estudiosos/cientistas. Mas não só para eles, a sociedade, em geral, incluindo empresários, políticos, autoridades e cidadãos comuns, precisa aceitar e fazer uso do paradigma hegemônico para resolver questões, pensar a vida individual e coletivamente, os diferentes modos de ser, ter, fazer, acreditar etc. Sabe-se, porém, não ser fácil solucionar problemas com qualquer paradigma. A primeira condição, entretanto, é saber que tentativas vêm sendo trabalhadas. Por exemplo, é a partir de Thomas Hobbes (1588-1679) e de sua obra O Leviatã, que a sociedade do século XVII passou a ter novos conceitos e dados para resolver problemas ou, simplesmente, repensar os temas da organização da sociedade e do direito. O mesmo ocorre com a Física newtoniana. Até o surgimento das teorias do físico Isaac Newton (1642-1727), não se admitia que a gravitação fosse um fenômeno inerente a todos os corpos do Universo. Pensava-se, por exemplo, que a órbita da Lua marcava a fronteira entre a região terrestre e o céu, no qual as leis da Física conhecidas pelo homem deixavam de ser aplicadas. C E D E R J 23 A U LA 2 O PARADIGMA OBJETIVISTA Na literatura sobre avaliação e no meio educacional, o paradigma objetivista é, segundo Franco (1991), aquele que tende a associar a avaliação com medidas dadas às suas bases epistemológicas calcadas no positivismo comtiano e no positivismo lógico. O positivismo comtiano,criado por AU G U S T E CO M T E no século XIX, considera a Ciência como o paradigma de todo o conhecimento. O positivismo lógico, também chamado de empirismo lógico, é a versão contemporânea do positivismo comtiano, com a adição das idéias empiristas de Mill, Hume, Mach & Russell combinadas à lógica moderna de Hilbert, Peano & Frege e às idéias de Wittgenstein, segundo informações de Gewandsznajder (1998, p. 10). O processo de avaliação da aprendizagem, em conformidade com essa propensão de medir, tende a se realizar somente por meio de testes e outros instrumentos de apreciação do “status de um fenômeno de um modo preciso” (POPHAM, 1978). Como abordaremos em aulas seguintes, os testes e demais instrumentos de avaliação, por essa razão, são construídos com rigor científi co para garantir o mínimo de distorções e o máximo de fi dedignidade aos resultados. Essa propensão, entretanto, é apenas uma característica desse paradigma avaliacional. A rigor, a principal característica desse para- digma é a preocupação com a objetividade, sempre considerada no sentido de tornar real alguma coisa, de torná-la típica da realidade objetiva, de REIFICÁ-LA, portanto. Segundo Gewandsznajder (1998, p. 12), por causa dessa preocupação alguns positivistas lógicos chegaram mesmo a contestar a teoria atômica do início do século XX por não terem qualquer possibilidade de observar o átomo com as técnicas existentes até então. Essa mesma preocupação com a objetividade também se faz presente em muitos momentos avaliativos, implicando reduzir a subjetividade a critérios e valores objetivos. Nessa perspectiva, o processo de avaliação pretende ser capaz de atribuir alguma qualidade ao que é avaliado, independentemente do caráter ou índole do avaliador. Concretamente, na mesma perspectiva, tem-se a expectativa de que se pode avaliar, aprovar, aceitar ou recusar qualquer coisa em conformidade com certos critérios ou com uma escala de valores. Porém, antes de entrarmos nas críticas ao paradigma objetivista, vamos às nossas atividades: IS I D O R E-AU G U S T E- MA R I E-FR A N Ç O I S- XAV I E R CO M T E Filósofo francês nascido em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier, e falecido em 5 de setembro de 1857, em Paris. RE I F I C A Ç Ã O No processo de alienação, a reifi cação corresponde ao momento em que a característica de ser uma “coisa” se torna típica da realidade objetiva. (Dicionário Aurélio) 24 C E D E R J Métodos e Técnicas de Avaliação | Paradigmas avaliativos: paradigma objetivista CRÍTICAS AO PARADIGMA OBJETIVISTA As críticas ao positivismo e às suas versões mais contemporâneas, no campo das discussões fi losófi cas e científi cas, obviamente também têm refl exos no meio avaliacional. No Brasil, são diversos os estudiosos que fazem críticas à avaliação impregnada pelo paradigma objetivista. Dentre eles, podemos destacar: Luckesi, 1998; Gama, 1997; Lima, 1994; Lüdke & Mediano, 1992. No conjunto das críticas que são feitas, duas são prontamente destacáveis. A primeira delas aparece ligada ao fato de os alunos serem levados a apreender determinados conhecimentos tidos como importantes, mas que se distanciam dos seus interesses pessoais ou sociais; na prática, tais conhecimentos se prestam mais a fi ns de discriminação, classifi cação, exclusão. É por esta razão que, no cotidiano escolar, ainda encontramos diversas questões, ou testes e provas distinguindo e aprovando somente os alunos que sabem, por exemplo, que panapaná é o coletivo de borboletas, e que as andorinhas são espécimes hirundinídeas. 2. a. Como você defi ne o paradigma objetivista? 2. b. Quais as principais características e preocupações deste paradigma? 2. c. Como a avaliação objetivista, baseada neste paradigma, pode ser caracterizada? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ATIVIDADE COMENTÁRIO As respostas a essas questões supõem que você compreenda os paradigmas como esquemas de pensamento, conjuntos de conceitos e métodos de análises usados por grupos de cientistas em seus trabalhos. O elemento comum a elas é a preocupação com a objetividade, preferencialmente construída segundo os rigores da Ciência. Na avaliação não será diferente: testes, provas e análise dos resultados serão todos trabalhados cientifi camente. C E D E R J 25 A U LA 2 A segunda crítica, igualmente importante, surge em função do processo de alienação implícito nas práticas de ensino, aprendizagem e avaliação, aliás, bastante claro quando ocorre de modo a realizar produtos (testes, provas, redações, relatórios etc.) que podem ser medidos/avaliados, mas que, às vezes, são destituídos de sentido, distantes da realidade e capazes de difi cultar ou impedir a consciência dos problemas políticos e sociais. Essa crítica tem a ver com a “produção” do sucesso nos processos escolares, cujos resultados levam os alunos a responder com certeza à maioria das questões presentes nos instrumentos de medida, mas que, em uma perspectiva política e social de construção da sociedade democrática e igualitária, os mantêm de braços cruzados como espectadores distantes, sem se envolverem em questões dessa ordem, em nada ameaçando os privilégios cristalizados. O estado desses alunos é o de “intransitividade da consciência”, no qual, na acepção de Paulo Freire (1976), os sujeitos se encontram circunscritos a estreitas áreas de interesses e preocupações, e pertencem às coletividades delimitadas e dobradas sobre si mesmas. Não obstante tais críticas, há diversos estudos de avaliação com base nesse paradigma, facilmente encontrados em revistas educacionais de circulação nacional e internacional. Candau et alli (1994), em pesquisa com o objetivo de mapear a produção bibliográfi ca sobre avaliação nos principais periódicos especializados nessa área em circulação no Brasil, observam ter sido crescente o volume de produção desses estudos, no período compreendido entre 1980 e 1992. A maioria deles se preocupa com a obtenção de resultados fi dedignos e próximos da exatidão, privilegiando o exame de técnicas e procedimentos de objetivação do processo de avaliação, operacionalização, efi ciência e até a sua informatização. Dentre alguns dos artigos nacionais é possível, por exemplo, citar os estudos dos brasileiros Santos Filho (1982); Vianna (1990); Silva & Sette (1993). 26 C E D E R J Métodos e Técnicas de Avaliação | Paradigmas avaliativos: paradigma objetivista R E S U M O O que são paradigmas? Os estudiosos de avaliação admitem a existência de dois deles: os paradigmas objetivista e subjetivista. No paradigma objetivista, são bem evidentes as preocupações com a objetividade cientifi camente construída. Não obstante as várias críticas a esse paradigma, sua continuidade, ainda hoje, é acentuada nas práticas avaliativas realizadas em nossas escolas, onde disputa a hegemonia com o paradigma subjetivista, que se apresenta como uma alternativa a ele. Na próxima aula, discutiremos o paradigma subjetivista. No âmbito das atuais políticas públicas de educação, também é grande a infl uência desse paradigma,em particular, na orientação dos Sistemas de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Educação Média (ENEM) e da Educação Superior (ENC ou PROVÃO). Esses sistemas são gerenciados pelo Ministério da Educação do Governo brasileiro e, sem exceção, predominam neles as provas objetivas, elaboradas cientifi camente com a fi nalidade de medir o desempenho dos estudantes participantes, tendo como referência determinadas competências e habilidades. C E D E R J 27 A U LA 2 AUTO-AVALIAÇÃO Você está dominando, com autonomia, os objetivos desta aula? É capaz, sem ajuda, de produzir textos abordando cada um dos objetivos propostos? Que tópicos da aula está apreendendo mais?
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