Buscar

TRABALHO DE DIREITO PENAL CONCURSO DE CRIMES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TRABALHO DE DIREITO PENAL – CONCURSO DE CRIMES
Art. 73 - ERRO NA EXECUÇÃO
JÚLIO FABBRINI MIRABETE:
Por razões diversas, pode ocorrer que o agente cause resultado diverso do pretendido ao executar o crime, quer no que se relaciona com a vítima, quer no que se refere ao próprio dano produzido. Isso leva a lei a disciplinar a aplicação da pena nesses casos, denominados de aberratio ictus e aberratio criminis. Nos termos do art. 73, ocorre aberratio ictus (erro na execução) quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, em vez de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa: A atira em B, mas o projétil vai atingir C, que estava nas proximidades, matando-o. Nesse caso, o agente responde como se tivesse praticado o homicídio contra B, considerando-se as condições ou qualidades da pessoa visada e não da vítima, como se tivesse ocorrido um erro sobre a pessoa (art. 20, § 39). Assim, se a pessoa visada era velha e a atingida não, ocorrerá a agravante prevista no art. 61, II, h; se a vítima era criança, mas a visada não, inexistirá a agravante do mesmo dispositivo. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70, ou seja, do concurso formal (art. 73, 22 parte).' Pode ocorrer aberratio ictus numa causa justificativa, como, por exemplo, no exercício da legítima defesa. O agente, ao repelir injusta agressão de outrem, atinge um terceiro inocente por mero acidente ou erro no uso dos meios de execução. Nem por isso deixa a justificativa de ser admissível, se comprovada, uma vez que quem age em legítima defesa pratica um ato lícito. No erro da execução do fato típico, aliás, manda o dispositivo que o agente responda como se o estivesse praticando contra a pessoa que pretendia atingir, que, no caso, é o autor de uma agressão injusta.
CÓDIGO PENAL COMENTADO:
Também conhecido por aberratio ictus, que significa desvio no golpe ou aberração no ataque. Tendo o agente – segundo reconheceu o Conselho de Sentença –, por erro de pontaria, atingido (de forma fatal) vítima diversa da pretendida, além de ferir também a vítima visada e outra pessoa, configurado está o erro na execução na modalidade complexa, incidindo a regra do art. 73 c/c art. 70 do CP. O caso não se confunde com o aberratio criminis (resultado diverso do pretendido) previsto no art. 74 do CP, o qual prevê a circunstância em que o agente visa atingir um bem jurídico e acaba atingindo outro, de natureza diversa, o que inocorreu na hipótese dos autos. Resta configurado o erro na execução, quando reconhecida a unidade criminosa, dirigida contra a pessoa almejada, mas que por desvio da trajetória desejada, vem a ser atingida pessoa diversa. 
Erro de pessoa para pessoa:
Para que se possa falar em aberratio ictus deve ocorrer a seguinte situação: a) o agente quer atingir uma pessoa; b) contudo, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, vem a atingir uma pessoa diversa. Em se tratando de caso em que a condenação se dá por aberratio ictus, o fato de que terceiro foi atingido, em lugar da vítima real, em razão de erro na execução, constitui elementar do tipo, uma vez que a responsabilidade do agente se dá pela norma do art. 73 do Código Penal, segundo o qual a punição deve ocorrer como se se tratasse da vítima realmente alvejada. Se a pessoa ofendida foi diversa da pretendida, estamos diante de uma situação que se amolda ao contido no art. 73 do CP (aberratio ictus), porque a mudança da vítima não tem o condão de alterar a natureza do fato. Nessa hipótese, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, produzindo um único resultado (morte ou lesão corporal). O art. 73 do Código Penal determina, neste caso, seja aplicada a regra do erro sobre a pessoa, prevista no § 3º do art. 20 do Código Penal. Assim, se houver a produção do resultado morte em pessoa diversa, o agente responderá por um único crime de homicídio doloso consumado, como se efetivamente tivesse atingido a pessoa a quem pretendia ofender. Se queria a morte de seu pai e, por erro na execução, matar um estranho, responderá pelo delito de homicídio, aplicando-se, ainda, a circunstância agravante prevista no art. 61, II, e, primeira figura do Código Penal (ter cometido o crime contra ascendente). Se, contudo, ainda agindo com animus necandi, atingir terceira pessoa, causando-lhe lesões corporais, deverá o agente responder pela tentativa de homicídio. 
Aberratio ictus com unidade complexa: 
Há um resultado duplo, razão pela qual a unidade é tida como complexa. Aplica-se, nesse caso, a regra do concurso formal de crimes, prevista no art. 70 do Código Penal. São quatro as hipóteses de aberratio ictus com unidade complexa, partindo-se do pressuposto de que em todos os casos o agente atua com o dolo de matar: 1º) o agente atira em A, causando não somente sua morte, como também a de B. Responderá pelo crime de homicídio doloso consumado, com a pena aumentada de 1/6 até metade; 2º) o agente mata A e fere B. Responderá pelo homicídio consumado, aplicando-se também o aumento previsto pelo art. 70; 3º) o agente fere A e B. Deverá ser responsabilizado pela tentativa de homicídio, aplicando-se o aumento de 1/6 até metade; 4º) o agente fere A, aquele contra o qual havia atuado com dolo de matar; contudo, acaba produzindo o resultado morte em B. Responderá pelo homicídio doloso consumado, aplicando-se o aumento do concurso formal de crimes. Ao erro na execução com resultado duplo (art. 73, parte final, do Código Penal) podem ser aplicadas tanto a regra atinente ao concurso formal próprio de crimes quanto a regra referente ao concurso formal impróprio de crimes, tudo a depender das circunstâncias concretas. Se o agente, apesar de não intencionar atingir um terceiro, previu esta possibilidade e aquiesceu com ela, agindo em dolo eventual, aplica-se a regra do concurso formal impróprio de crimes ao erro na execução. Tendo o agente – segundo reconheceu o Conselho de Sentença-, por erro de pontaria, atingido (de forma fatal) vítima diversa da pretendida, além de ferir também a vítima visada e outra pessoa, configurado está o erro na execução na modalidade complexa, incidindo a regra do art. 73 c/c art. 70 do CP. O caso não se confunde com o aberratio criminis (resultado diverso do pretendido) previsto no art. 74 do CP, o qual prevê a circunstância em que o agente visa atingir um bem jurídico e acaba atingindo outro, de natureza diversa, o que 350 inocorreu na hipótese dos autos. Hipótese em que se atingiu não só a pessoa visada como também terceiro, por erro de execução. Regência da espécie pela disciplina do concurso formal. Se, por erro de execução, o agente atingiu não só a pessoa visada, mas também terceira pessoa aplica-se o concurso formal. Recurso conhecido e provido. 
Necessidade de previsibilidade do resultado aberrante 
Se o resultado aberrante não tiver sido previsível, não se poderá cogitar da hipótese de aberratio ictus, pois, caso contrário, estaríamos aceitando a possibilidade de responsabilizar objetivamente o agente. 
Aberratio ictus e dolo eventual: 
Se o caso é de erro na execução, aquele que atinge outra pessoa que não aquela que pretendia ofender, somente se poderá cogitar em aberratio se o resultado for proveniente de culpa, afastando-se o erro na hipótese de dolo, seja ele direto ou mesmo eventual. Isso porque se o agente queria (diretamente) ou não se importava em produzir o resultado por ele previsto e aceito, agindo com dolo eventual, não há falar em erro na execução. O cometimento de uma só conduta, que acarreta resultados diversos, um dirigido pelo dolo direto e outro pelo dolo eventual, configura a diversidade de desígnios. Hipótese em que se verifica o concurso formal imperfeito, que se caracteriza pela ocorrência de mais de um resultado, através de uma só ação, cometida com propósitos autônomos. Ocorrendo a figura da aberratio ictus, mas com dolo eventual, em face da previsibilidade do risco de lesão com relação a terceiros, conquanto se tenha concursoformal de crimes dolosos, as penas são aplicadas cumulativamente, de conformidade com a norma do art. 70, parte final, do Código Penal. 
Concurso material benéfico: 
Em qualquer das hipóteses de aberratio ictus com unidade complexa, ou seja, com a produção de dois resultados, deverá ser observada a regra do concurso material benéfico. 
Conflito de competência: 
Ainda que tenha ocorrido a aberratio ictus, o militar, na intenção de cometer o crime contra colega da corporação, outro militar, na verdade, acabou praticando-o contra uma vítima civil, tal fato não afasta a competência do juízo comum. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o suscitado.
Reparação dos danos: 
O agente que, estando em situação de legítima defesa, causa ofensa a terceiro, por erro na execução, responde pela indenização do dano, se provada no juízo cível a sua culpa. Negado esse fato pela instância ordinária, descabe condenar o réu a indenizar o dano sofrido pela vítima. Arts. 1.540 e 159 do CC. 
ROGÉRIO GRECO:
Embora a doutrina faça referência ao erro na execução como hipótese de erro de tipo acidental, como já tivemos oportunidade de destacar em capítulo próprio, na verdade, se analisarmos o sentido técnico da expressão erro como a falsa percepção ou o conhecimento equivocado da realidade, a colocação do estudo do erro na execução sob a rubrica do erro de tipo acidental não foi uma escolha feliz. A palavra erro, aqui empregada, não tem o sentido de falso conhecimento da realidade. Nesse caso, como veremos a seguir, o agente conhece exatamente aquilo que está acontecendo. Contudo, por um desvio no golpe ou por uma aberração no ataque, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Não há, portanto, tecnicamente, qualquer pensamento dissociado da realidade, como acontece nas hipóteses de erro. Como bem destacou Cezar Roberto Bitencourt: "No erro de execução a pessoa visada é a própria, embora outra venha a ser atingida, involuntária e acidentalmente. O agente dirige a conduta contra a vítima visada, o gesto criminoso é dirigido corretamente, mas á execução sai errada e a vontade criminosa vai concretizar-se em pessoa diferente. Não é o elemento psicológico da ação que é viciado - como ocorre no error in persona -, mas é a fase executória que não corresponde exatamente ao representado pelo agente, que tem clara percepção da realidade. O erro na aberratio surge não no processo de formação de vontade, mas no momento da sua exteriorização, da sua execução." São vários os detalhes que merecem atenção no estudo do erro na execução, sendo que, neste momento, analisaremos inicialmente dois deles, a saber: a) o agente quer atingir uma pessoa; b) contudo, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, vem a atingir uma pessoa diversa. A primeira ilação que se faz do erro na execução é que ele, como induz o artigo, é um erro de pessoa para pessoa, ou seja, o agente quer atingir uma determinada pessoa e acaba atingindo pessoa diversa. Por exemplo, A querendo causar a morte de B, atira em direção a este último, vindo, contudo, a atingir C, causando-lhe a morte. Sendo um erro de pessoa para pessoa, o agente pode atingir somente aquela contra a qual não estava dirigindo a sua conduta ou mesmo produzir um duplo resultado. Por essa razão, a aberratio ictus pode ser dividida em: a) aberratio ictus com unidade simples; b) aberratio ictus com unidade complexa. Na primeira hipótese, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, produzindo um único resultado (morte ou lesão corporal). O art. 73 do Código Penal determina, neste caso, seja aplicada a regra do erro sobre a pessoa, prevista no § 3°- do art. 20 do Código Penal. Assim, se houver a produção do resultado morte em pessoa diversa, o agente responderá por um único crime de homicídio doloso consumado, como se efetivamente tivesse atingido a pessoa a quem pretendia ofender. Se queria a morte de seu pai e, por erro na execução, matar um estranho, responderá pelo delito de homicídio, aplicando-se, ainda, a circunstância agravante prevista no art. 61, I!, e, primeira figura do Código Penal (ter cometido o crime contra ascendente). Se, contudo, ainda agindo com animus necandi, atingir terceira pessoa, causando-lhe lesões corporais, deverá o agente responder pela tentativa de homicídio. Na segunda hipótese de aberratio ictus, há um resultado duplo, razão pela qual a unidade é tida como complexa. Aplica-se, nesse caso, a regra do concurso formal de crimes, prevista no art. 70 do Código Penal. São quatro as hipóteses de aberratio ictus com unidade complexa, partindo-se do pressuposto de que em todos os casos o agente atua com o dolo de matar: 1"-) o agente atira em A, causando não só a sua morte, como também a de B. Responderá pelo crime de homicídio doloso consumado, com a pena aumentada de 1/6 até metade; 2"-) o agente mata A e fere B. Responderá pelo homicídio consumado, aplicando-se também o aumento previsto pelo art. 70; 3"-) o agente fere A e B. Deverá ser responsabilizado pela tentativa de homicídio, aplicando-se o aumento de 1/6 até metade; 4"-) o agente fere A, aquele contra o qual havia atuado com dolo de matar; contudo, acaba produzindo o resultado morte em B. Responderá pelo homicídio doloso consumado, aplicando-se o aumento do concurso formal de crimes. Como se percebe, não fosse a regra da aberratio ictus, o agente teria sempre de responder por duas infrações penais, havendo ou não o concurso formal. Isso porque, tomando-se como exemplo a primeira hipótese estudada, imagine-se que o agente, agindo com vontade de matar, tivesse atirado em A, vindo, contudo, a causar a morte de B. Deixando de lado a regra do erro na execução, teríamos, in casu, uma tentativa de homicídio com relação a A e um delito de homicídio culposo com relação a B. Note-se que estamos partindo da premissa de que o resultado proveniente de erro na execução era previsível para o agente, razão pela qual o resultado ocorrido na vítima efetiva (B) deve ser transportado para a vítima em potencial (A). Suponhamos, agora, o seguinte: Um matador profissional leva a vítima para um lugar abandonado, isolado da cidade, próprio para o extermínio de pessoas. Ninguém trabalha ali por perto, o vilarejo mais próximo fica a quilômetros de distância e este lugar é completamente cercado, impedindo o ingresso de pessoas estranhas. Ao levar a vítima para esse local, que serve de cemitério clandestino, o agente aponta-lhe o seu fuzil e puxa o gatilho. Erra o alvo e, ao fundo, escuta o grito de uma outra pessoa que por ele havia sido atingida. Essa outra pessoa era um mendigo que havia pulado a cerca que ficava ao redor da propriedade e, supondo-a abandonada, resolveu por ali dormir. Indaga-se: Da forma como o problema foi colocado, era previsível que o agente, errando o alvo, pudesse acertar em uma outra pessoa? Absolutamente não. Se esse resultado não lhe era previsível, não será possível, segundo entendemos, transportá-lo para a vítima em potencial, ou seja, aquela pessoa que para ali havia sido levada com a finalidade de ser morta, razão pela qual o agente deverá responder somente pela sua tentativa de homicídio. Colocando-se contrariamente à posição por nós assumida, Paulo José da Costa Júnior aduz: "Prevalece na Itália a concepção pela qual o agente é responsabilizado pelo segundo evento de forma objetiva. No Brasil, a posição não deve ser diversa. De fato, a segunda parte do art. 73 não exige qualquer indagação acerca do comportamento psicológico do agente, limitando-se a determinar que 'no caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender', ser-lhe-á imposta 'a mais grave das penas cabíveis, ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade." 2 Apesar da posição do renomado professor, não podemos tolerar, nos dias de hoje, qualquer ofensa ao princípio do nullumcrimensine culpa, ou seja, o agente somente poderá responder pelos resultadosque vier a produzir a título de dolo ou culpa, afastando-se, portanto, a chamada responsabilidade penal objetiva. 2.1. Aberratio ictus e dolo eventual Se a aberratio ictus quer traduzir uma hipótese de desvio no golpe ou uma aberração no ataque, será ela compatível com o dolo eventual no que diz respeito à vítima que fora efetivamente atingida em virtude de erro na execução? Entendemos que se o caso é de erro na execução, aquele que atinge outra pessoa que não aquela que pretendia ofender, somente se poderá cogitar em aberratio se o resultado for proveniente de culpa, afastando-se o erro na hipótese de dolo, seja ele direto ou mesmo eventual. Isso porque se o agente queria (diretamente) ou não se importaria em produzir o resultado por ele previsto e aceito, agindo com dolo eventuaI. Não há falar em erro na execução. Nesse sentido é a lição de Paulo José da Costa Júnior que, com precisão, assevera: "Não se poderá, pois, conceber um comportamento doloso qualquer com respeito à pessoa atingida e não visada. Em outras palavras: a pessoa diversa não poderá estar compreendida na esfera representativa ou volitiva do sujeito agente, quer porque o art. 73 não põe a seu cargo as agravantes que respeitam a individualidade do ofendido, quer porque se trata de uma divergência entre desejado e realizado devido a um acidente ou erro no uso dos meios de execução do crime. Nem mesmo o dolo, em sua forma eventual, de menor intensidade, poderá configurar-se com atinência à pessoa diversa. Qualquer forma de dolo é incompatível com as hipóteses previstas pelo art. 73, escapando ao âmbito da aberratio ictus."
Art. 74 - RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO 
JÚLIO FABBRINI MIRABETE:
Disciplina o art. 74, sob a rubrica "resultado diverso do pretendido", a aberratio criminis. Quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo. Exemplificando: A tenta quebrar uma vidraça, mas, por erro de pontaria, atinge C, causando-lhe lesão corporal. Responderá o agente pelo crime de lesão corporal culposa (art. 129, § 6°) e não por tentativa de dano. Caso ocorra o inverso, pretendendo o agente ferir uma pessoa e a pedra vindo a atingir a vidraça, não se punindo o dano culposo, dever-se-á reconhecer uma tentativa do delito de lesão corporal. Caso ocorra também o resultado pretendido, aplica-se ao agente a regra do concurso formal próprio (art. 74, segunda parte). 
CÓDIGO PENAL COMENTADO:
Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. 
Resultado diverso do pretendido:
Também conhecido por aberratio criminis ou aberratio delicti, que tem o significado de desvio do crime. Lesões corporais. Resultado diverso do pretendido. Impossibilidade de responsabilidade objetiva. Se a vítima fraturou o braço em decorrência de queda provocada pela esquiva do golpe do réu, responderá o agressor tão somente por lesões corporais simples, pois não era previsível que de seu golpe resultasse uma fratura que afastaria a vítima de suas atividades habituais por mais de 30 (trinta) dias. Hipóteses Conforme as lições de Damásio de Jesus, “enquanto na aberratio ictus existe erro de execução a persona in personam, na aberratio criminis há erro na execução do tipo a personam in rem ou a re in personam. No primeiro caso, o agente quer atingir uma pessoa e ofende outra (ou ambas). No segundo, quer atingir um bem jurídico e ofende outro (de espécie diversa).” 
Concurso material benéfico:
Em qualquer das hipóteses de aberratio criminis com unidade complexa, ou seja, com a produção de dois resultados, deverá ser observada a regra do concurso material benéfico. 
ROGÉRIO GRECO:
O art. 74 do Código Penal inicia sua redação dizendo: Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. No artigo anterior, mencionado pelo art. 74, encontra-se a hipótese de aberratio ictus que, já dissemos, ocorre quando o erro do agente varia de pessoa para pessoa. Como o art. 74 começa a sua redação dizendo fora dos casos do artigo anterior, entende-se que nele será estudada outra modalidade de erro, que não o erro de pessoa para pessoa. Damásio, com precisão, aduz: "Aberratio criminis (ou aberratio delicti) significa desvio do crime. Enquanto na aberratio ictus existe erro de execução a persona in personam, na aberratio criminis há erro na execução do tipo a personam in rem ou a re in personam. No primeiro caso, o agente quer atingir uma pessoa e ofende outra (ou ambas). No segundo, quer atingir um bem jurídico e ofende outro (de espécie diversa)." Interpretando o artigo em estudo, podemos concluir que somente haverá interesse na sua aplicação quando o erro for de coisa para pessoa. Na hipótese de ser o erro de pessoa para coisa ficará mantido o dolo do agente, que responderá pela infração penal correspondente à sua finalidade criminosa. Assim, suponhamos que A arremesse uma pedra contra uma vitrine com a finalidade de destruí-la; contudo erra o alvo e atinge uma pessoa que por ali passava. De acordo com a regra do art. 74 do Código Penal, se o erro for de coisa para pessoa, se houver um resultado único, devemos desprezar o dolo inicial do agente, que era de causar dano, e o responsabilizaremos pelo resultado por ele produzido a título de culpa, devendo responder, portanto, pelo homicídio ou pelas lesões corporais por ele causadas culposamente. Numa situação inversa, quando o erro do agente varia de pessoa para coisa, embora tenha o agente errado a pessoa que pretendia ofender, vindo a atingir uma coisa, destruindo-a culposamente, para que não cheguemos a conclusões absurdas, devemos desprezar o resultado, pois atípico, fazendo com que o agente responda pelo seu dolo. Se a sua conduta era finalisticamente dirigida a causar a morte da vítima, responderá por tentativa de homicídio; se era a de produzir-lhe lesões, será responsabilizado por tentativa de lesão corporal. Tal raciocínio se faz necessário porque, caso contrário, o simples fato de o agente ter errado a pessoa, contra quem dirigia sua conduta a fim de causar-lhe a morte, vindo, contudo, a destruir culposamente uma coisa, não havendo possibilidade de ser punido pelo dano, cuja modalidade culposa não foi prevista pelo Código Penal, conduziria a uma situação de atipicidade do fato por ele levado a efeito, o que é de todo inconcebível. Pode ser que a conduta do agente produza dois resultados: um contra a pessoa contra quem o agente queria praticar o crime e o outro, o dano por ele produzido culposamente. Nesse caso, como não há o dano culposo, não há que falar em concurso formal, aplicando-se somente a pena correspondente ao crime contra a pessoa. Se a finalidade era a de causar dano e se o agente, além de conseguir produzi-lo, vier a atingir uma pessoa, a situação agora permitirá a aplicação da regra do concurso formal de crimes, haja vista que o julgador deverá selecionar a mais grave das penas e sobre ela aplicar o aumento de um sexto até metade, previsto pelo art. 70 do Código Penal.
CONCURSO MATERIAL BENÉFICO NAS HIPÓTESES DE ABERRATIO ICTUS E ABERRATIO CRIMINIS 
Em qualquer das hipóteses de aberratio ictus ou aberratio criminis com unidade complexa, ou seja, com a produção de dois resultados, deverá ser observada a regra do concurso material benéfico. A regra do concurso formal cederá diante do caso concreto caso a regra do cúmulo material seja mais benéfica ao agente. Assim, por exemplo, aquele que, agindo com dolo de matar, impelido por um motivo fútil, atira contra a· vítima, causando-lhe a morte, bem como lesões corporais em terceira pessoaque por ali se encontrava, responde, inicialmente, pela aberratio ictus com unidade complexa, aplicando-se a regra do concurso formal de crimes. Entretanto, se levada a efeito a aplicação do concurso formal de crimes, fazendo-se incidir o aumento de um sexto até a metade, a pena final for superior àquela que seria encontrada pela regra do cúmulo material, este último é que terá aplicação ao caso concreto. Assim, deverá o juiz, caso a caso, observar se, efetivamente, a aplicação do concurso formal às hipóteses de crimes aberrantes está ou não beneficiando o agente, pois, caso contrário, deverá ceder espaço para a aplicação do concurso material benéfico.
Art. 75 - LIMITES DE PENAS
JÚLIO FABBRINI MIRABETE:
Sendo uma pessoa condenada a longas penas privativas de liberdade por vários crimes, praticados em concurso ou não, não será ela obrigada a cumprir mais do que 30 anos. É o que determina o art. 75: "O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos." Transitadas em julgado as sentenças condenatórias e excedendo esse prazo o total das penas impostas ao sentenciado, serão elas unificadas para atender a esse limite máximo (art. 75, § 19). Deve-se proceder à unificação logo no início do cumprimento da pena, mas devem ser incluídas todas as condenações anteriores, inclusive as decorrentes de crimes praticados após o encarceramento. De outro lado, se a condenação é posterior à sentença de unificação, aplica-se o art. 75, § 2°, como se verá. Entendemos que é sobre o total de 30 anos que deverão ser considerados os prazos para eventuais benefícios a que fizer jus o sentenciado (livramento condicional, progressão, comutação, remição etc.). Na jurisprudência, porém, fixou-se o entendimento de que a unificação somente se refere à duração da pena. Contrariando esta última orientação, a Lei n° 8.072, de 25-7-90, que dispõe sobre os crimes hediondos e determina outras providências, ao prever o aumento de metade da pena para os crimes nela relacionados, quando praticados contra vítima que esteja nas hipóteses mencionadas no art. 224 do Código Penal, impõe o limite superior de 30 anos de reclusão. Este limite é, portanto, válido não só para a duração da pena como para a fixação dela pelo juiz na sentença. Assim, o condenado por um crime previsto na referida lei pode obter os benefícios legais (progressão, livramento condicional, indulto etc.) tendo como base uma pena de 30 anos, ao contrário do que ocorre nos demais crimes, segundo a interpretação que se vem dando ao art. 71, § 12, do CP. Em um caso de homicídio qualificado contra pessoa que não é maior de 14 anos, por exemplo, o limite máximo de pena é de 40 anos (art. 121, §§ 29 e 4°, última parte, com a redação do art. 263 da Lei n° 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente), e com base nele é que se calculam os prazos para o benefício; se o delito for de latrocínio ou extorsão mediante sequestro com morte contra o menor de 14 anos, o limite será sempre de 30 anos. Fica assim beneficiado o autor de crime mais grave. Pode ocorrer que o sentenciado cometa novo crime após o início do cumprimento da pena unificada de 30 anos. Sobrevindo condenação por este fato, nova unificação das penas será realizada, para atender ao limite máximo. Não se computa, para esse fim, porém, o período de pena cumprido até a data do crime (art. 75, § 29). Adotou-se na lei nova a opinião de Nelson Hungria, vencedor da Conferência de Desembargadores, realizada no Rio de Janeiro, em 1943, quanto à interpretação do art. 55 da lei anterior. Derivam os dispositivos mencionados do entendimento de que se veda, na Constituição Federal, a aplicação da pena de prisão perpétua, o que na prática levaria à cumulação das penas sem limite máximo, bem como da necessidade de se alimentar no condenado a esperança da liberdade e a aceitação da disciplina, pressupostos essenciais da eficácia do tratamento penal. A solução acolhida pelo legislador, porém, deixa praticamente impune o sujeito que, condenado a uma pena de trinta anos de reclusão, comete o novo crime logo no início do cumprimento dessa sanção. Existindo um hiato entre a satisfação das penas anteriores cumpridas pelo sentenciado e o começo de novas penas, impostas após o cumprimento daquelas, não se aplica o dispositivo em estudo. O art. 75 refere-se apenas à duração do cumprimento das penas impostas antes e durante a execução da sanção. Como já foi visto, a pena de multa tem seu limite máximo em 360 dias-multa, no valor de cinco salários mínimos (art. 49, § 12), podendo ser triplicada se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. Poderá atingir, assim, 5.400 salários mínimos (o vigente no país na época do crime), atualizado pelos índices de correção monetária (art. 49, § 2°).
CÓDIGO PENAL COMENTADO:
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. § 1º. Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. § 2º. Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. 
Limite das penas:
Em obediência ao disposto no art. 5º, XLVII, da Constituição Federal, que proíbe as penas de caráter perpétuo, diz o caput do art. 75 do Código Penal que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
Tempo de cumprimento:
Não se confunde com tempo de condenação. Poderá o agente ser condenado a 300 anos, por exemplo. No entanto, de acordo com a determinação legal, não poderá cumprir, efetivamente, como regra, período superior a 30 (trinta) anos. 
Diferença entre soma e unificação:
Soma é um critério matemático, no qual todas as penas aplicadas serão computadas a fim de que se conheça o seu total; unificação é o critério mediante o qual o julgador deverá desprezar, para efeitos de cumprimento da pena, o tempo que exceder a 30 (trinta) anos. 
Competência para decidir sobre a soma ou a unificação de penas:
De acordo com o art. 66, III, I, a, da LEP, compete ao Juízo das Execuções. 
Tempo sobre o qual deverão ser procedidos os cálculos para a concessão dos “benefícios” legais:
Duas correntes: a primeira delas entende que, por questões de política criminal, os cálculos deverão ser realizados sobre o total das penas unificadas; a segunda, aduz que os cálculos deverão recair sobre o total das penas somadas. Adepto desta última posição, o STF vinha decidindo reiteradamente “que no concurso de penas privativas de liberdade, cuja soma ultrapassa o limite juridicamente exequível de 30 anos, os requisitos objetivos de certos institutos ou benefícios legais, tais como o indulto, a comutação, a progressão do regime, a remição e o livramento condicional, devem ser considerados em função do total da pena efetivamente imposta e não calculados sobre o quantum resultante da unificação determinada pelo art. 75 do Código Penal”. Na sessão plenária de 24 de setembro de 2003, o Supremo Tribunal Federal, consolidando sua posição, aprovou a Súmula nº 715, que diz: Súmula nº 715. A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou 353 regime mais favorável de execução. “Apena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução” (Súmula nº 715/STF) O cálculo para a concessão de qualquer benefício, por ocasião da execução penal, deve ter por base o somatório das penas privativas de liberdade efetivamente impostas ao condenado. Nos termos da jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, o art. 75 doCódigo Penal, que determina o limite de 30 (trinta) anos para o cumprimento da pena de segregação da liberdade, não influi quando do cálculo do lapso para fins de concessão de benefícios da execução penal, em que se considera o tempo total da condenação imposta ao paciente. O art. 75 do Código Penal estabelece o limite de 30 (trinta) anos para o cumprimento da pena privativa de liberdade. A unificação de penas, prevista no referido dispositivo legal, não influi no cálculo do lapso para fins de concessão de benefícios, pois deve ser considerado o tempo total da condenação. 
Condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena:
Embora a lei tenha, inicialmente, determinado o cumprimento máximo de 30 anos, se o agente vier, após a unificação, a ser condenado por fato posterior ao início do cumprimento da pena, deverá ser realizada nova unificação, sendo desprezado, para esse fim, o período de pena já cumprido. Assim, de acordo com a redação prevista pelo § 2º do art. 75 do Código Penal, o limite de efetivo cumprimento poderá ser superior a 30 anos. Veja-se, por exemplo, o que tem ocorrido com frequência em nossas penitenciárias, onde presos causam a morte de outros, pertencentes a grupos rivais. Nesses casos, o período de pena já cumprido será desprezado, devendo ser sua nova condenação somada ao tempo restante de cumprimento da pena, para efeitos de ser realizada nova unificação, caso ultrapasse, novamente, o limite de 30 anos. In casu, ante a superveniência de nova condenação após o início do cumprimento da pena, nos termos do art. 75, § 2º, do Código Penal, para fins de observância do limite trintenário, outra unificação das penas deve ser realizada desprezando-se, nesse cálculo, o período já cumprido. Medida de segurança Súmula nº 527 do STJ. O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. Nos termos do atual posicionamento desta Corte, o art. 97, § 1º, do Código Penal deve ser interpretado em consonância com os princípios da isonomia, proporcionalidade e razoabilidade. Assim, o tempo de cumprimento da medida de segurança, na modalidade internação ou tratamento ambulatorial, deve ser limitado ao máximo da pena abstratamente cominada ao delito perpetrado e não pode ser superior a 30 (trinta) anos, situações que não ocorrem no caso. A 1ª Turma deferiu parcialmente habeas corpus em favor de denunciado por homicídio qualificado, 354 perpetrado contra o seu próprio pai em 1985. No caso, após a realização de incidente de insanidade mental, constatara-se que o paciente sofria de esquizofrenia paranoide, o que o impedira de entender o caráter ilícito de sua conduta, motivo pelo qual fora internado em manicômio judicial. Inicialmente, afastou-se a alegada prescrição e a consequente extinção da punibilidade. Reafirmou-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que o prazo máximo de duração de medida de segurança é de 30 anos, nos termos do art. 75 do CP. Ressaltou-se que o referido prazo não fora alcançado por haver interrupção do lapso prescricional em face de sua internação, que perdura há 26 anos. No entanto, com base em posterior laudo que atestara a periculosidade do paciente, agora em grau atenuado, concedeu-se a ordem a fim de determinar sua internação em hospital psiquiátrico próprio para tratamento ambulatorial. Conquanto o Supremo Tribunal Federal entenda que a medida de segurança deva ser cumprida pelo prazo máximo de trinta anos, este Superior Tribunal de Justiça se posicionou pela duração da medida de segurança enquanto persistir a periculosidade do agente. Apresentando o paciente melhora progressiva em seu quadro psiquiátrico, embora ainda precise de tratamento contínuo, poderá ser colocado em desinternação progressiva, em regime de semi-internação até que alcance a desinternação condicional. 
ROGÉRIO GRECO:
A Constituição Federal, por intermédio de seu art. 5°, inciso XLVII, proíbe expressamente as penas de caráter perpétuo, conforme já dissertamos no capítulo correspondente ao princípio da limitação das penas. Se a pena deve exercer suas funções preventivas, principalmente no que diz respeito à prevenção especial, ou seja, à ressocialização do condenado, seria um enorme contrassenso admitir-se a pena de prisão perpétua, pois seria de total inutilidade buscar a ressocialização daquele que jamais retornaria ao convívio em sociedade. Embora grande parte da sociedade não admita essa hipótese, influenciada pelos meios de comunicação de massa, é possível e perfeitamente viável a readaptação do condenado à sociedade da qual fora retirado a fim de cumprir a pena que lhe foi imposta em virtude de ter sido condenado pela prática de uma infração penal qualquer. Por mais grave que seja o delito, o condenado tem direito ao arrependimento. Deverá, portanto, durante o cumprimento de sua pena, lutar para retornar à sociedade, buscando tornar-se um cidadão útil. Caso fosse condenado à prisão perpétua, estaríamos retirando-lhe o sopro de esperança que lhe resta para que pudesse voltar a viver pacificamente com seus pares. A sociedade deve, a seu turno, perdoar o erro cometido pelo condenado, facilitando a sua readaptação. Fato é que todos nós cometemos desvios constantemente, e da mesma forma que precisamos do perdão de nosso irmão, também devemos perdoar, pois, conforme afirma o apóstolo Paulo em sua carta dirigida aos romanos, "todos pecaram e carecem da glória de Deus."Jesus, ensinando a seus discípulos, contou-lhes a parábola do credor incompassivo, dizendo-lhes: "Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando afazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservas que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que havia se passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoares cada um a seu irmão." Impedindo-se a prisão perpétua, mantém-se vivo o ensinamento cristão do perdão, devendo a sociedade, em vez de emitir um novo juízo condenatório, auxiliar o condenado a se livrar do estigma do encarceramento.
LIMITE DAS PENAS: Em obediência ao disposto no art. 5", XLVII, da Constituição Federal, que proíbe as penas de caráter perpétuo, diz o caput do art. 75 do Código Penal que: Art. 7 5. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. Com base na redação do mencionado artigo, podemos fazer a seguinte indagação: Será que alguém pode vir a ser condenado a uma pena superior a trinta anos? Sim, pois a limitação existente no art. 75 do Código Penal diz respeito ao tempo de efetivo cumprimento da pena, e não à sua aplicação ao condenado. Assim, a título de exemplo, alguém poderá ser condenado a trezentos anos de prisão. Contudo, conforme determina o§ 1° do art. 75 do Código Penal: § 1 Q Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. Unificar quer dizer que o julgador deverá cortartoda a "gordura" excedente ao limite máximo de cumprimento da pena, que é de trinta anos. Tomando-se por base o exemplo fornecido, em que o agente havia sido condenado a trezentos anos, deverá o julgador, para fins de cumprimento de pena, desprezar duzentos e setenta anos, devendo o condenado iniciar a execução de sua pena já unificada pelo limite máximo de trinta anos. As condenações que foram desprezadas para efeito de cumprimento da pena servirão a outras finalidades, a exemplo de permitir que as vítimas executem seus títulos executivos judiciais que obtiveram com o trânsito em julgado das sentenças penais condenatórias; poderá o réu, se vier a praticar novas infrações penais, ser considerado reincidente ou portador de maus antecedentes etc. De acordo com o art. 66, 111, a, da Lei de Execução Penal, compete ao Juízo das Execuções decidir sobre a soma ou unificação das penas.
TEMPO SOBRE O QUAL DEVERÃO SER PROCEDIDOS OS CÁLCULOS PARA A CONCESSÃO DOS "BENEFÍCIOS" LEGAIS 
Tratando-se de direito subjetivo do condenado ou falando-se em benefícios legais, não importando, no momento, esse tipo de discussão, os cálculos a serem realizados durante a execução da pena deverão incidir sobre o total das penas unificadas, ou seja, trinta anos, ou sobre o total da soma das penas aplicadas ao condenado? Como a própria indagação indica, duas correntes se formaram. A primeira, por questões de política criminal, assevera que todos os cálculos durante a execução da pena deverão ser realizados sobre a pena unificada. Assim, suponhamos que alguém tivesse sido condenado a trezentos anos. Realizada a unificação, deixada de lado a "gordura" de duzentos e setenta anos, o condenado dá início ao cumprimento de sua pena unificada em trinta anos. Considerando o fato de que o condenado preenche todos os requisitos exigidos para a concessão do livramento condicional, por exemplo, bem como que era reincidente em crime doloso, sendo que devia cumprir mais da metade da pena, nos termos do art. 83, inciso 11, do Código Penal, esse cálculo deverá ser realizado sobre trinta anos. Dessa forma, cumpridos mais de 15 anos, poderá o condenado pleitear o livramento condicionai, mesmo que sua pena somada seja de trezentos anos. Essa corrente aduz que se os cálculos fossem levados a efeito sobre o total das penas somadas isso geraria uma desmotivação, pelo condenado, durante o cumprimento de sua pena, eis que teria de cumpri-la integralmente, sem que lhe fosse dada qualquer perspectiva de saída do sistema penitenciário antes do final do cumprimento de sua pena, unificada em trinta anos. Nesse sentido são as lições de Ney Moura Teles, quando diz: "O cumprimento de qualquer pena privativa de liberdade só faz sentido se existir, na mente do condenado, a perspectiva de alcançar a liberdade. Aquele que tiver a certeza de que somente ganhará a liberdade após 30 anos de reclusão, não terá nenhuma razão para respeitar, no presídio e fora dele, qualquer dos valores protegidos pelo direito. Se com o sistema progressivo de cumprimento de penas privativas de li herdade, com a possibilidade concreta e real de alçar regimes mais brandos, nossas penitenciárias são verdadeiras escolas de aperfeiçoamento do crime, muito mais o seriam se uma parcela dos condenados não tivesse nenhuma perspectiva de obtenção de liberdade, ainda que a semiliberdade dos regimes semiaberto e aberto. Por isso que melhor, por plenamente coerente com o sistema progressivo brasileiro, e, principalmente, por atender aos interesses democráticos da nossa sociedade, é que a pena de 30 anos, unificada, destina-se não só ao efetivo cumprimento, mas também para o cálculo dos diversos benefícios permitidos aos condenados." A segunda corrente, adotando posição contrária à anterior, aduz que os cálculos deverão ser procedidos sobre o total da soma das penas aplicadas. Isso porque, explicam, se os cálculos fossem. Levados a efeito sobre o total das penas unificadas, geraria um tratamento desigual entre os condenados, privilegiando aqueles que cometeram maior número de crimes. Suponhamos que o agente já tenha sido condenado por dois crimes de latrocínio a uma pena de cinquenta anos de reclusão. Depois das referidas condenações, e antes que houvesse a sua unificação, para que se desse início ao efetivo cumprimento da pena, o agente poderia praticar quantas infrações penais lhe conviesse, pois, se condenado por elas, em nada repercutiria no cumprimento de sua pena, e mais, em nada interferiria quando houvesse possibilidade de pleitear qualquer dos benefícios existentes durante a fase da execução da pena. Adepto desta última posição, o STF vinha decidindo reiteradamente: "No concurso de penas privativas de liberdade, cuja soma ultrapassa o limite juridicamente exequível de 30 anos, os requisitos objetivos de certos institutos ou benefícios legais, tais como o indulto, a comutação, a progressão do regime, a remição e o livramento condicional, devem ser considerados em função do total da pena efetivamente imposta e não calculados sobre o quantum resultante da unificação determinada pelo art. 75 do Código Penal". Na sessão plenária de 24 de setembro de 2003, o Supremo Tribunal Federal, consolidando sua posição, aprovou a Súmula n" 715, que diz: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução. A nosso ver, entendemos que a razão se encontra com a nossa Corte Maior. Conforme já argumentado acima, se adotássemos a unificação como regra geral para todos os cálculos, além de ser o teto máximo de cumprimento da pena, estaríamos ofendendo o princípio da isonomia, que determina, simplificadamente, que os iguais sejam tratados igualmente, bem como que os desiguais tenham tratamento desigual. Não podemos comparar aquele condenado que, depois de cometer um grande número de infrações penais, foi por elas condenado a duzentos e cinquenta anos de reclusão, com aquele que praticou um número bem menor e foi condenado a trinta anos. É certo que o preso deverá sentir-se estimulado a cumprir sua pena, atendendo às regras do sistema carcerário, acenando-lhe o Estado com uma série de benefícios que anteciparão o seu retorno ao convívio social; contudo, também é certo que o Estado não pode estimular a prática de infrações penais, o que aconteceria se o condenado tivesse sempre que levar a efeito os cálculos para a concessão de certos benefícios sobre o total da pena unificada.
CONDENAÇÃO POR FATO POSTERIOR AO INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PENA
O § 2° do art. 75 do Código Penal diz que: § 2° Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. A unificação, conforme afirmamos anteriormente, existe para que seja cumprida a determinação constitucional que proíbe as penas de caráter perpétuo. Por essa razão, fundados em argumentos de política criminal, determinou-se que o limite máximo de cumprimento de pena seria o de trinta anos. Contudo, vale a indagação: Será que alguém pode cumprir, ininterruptamente, período superior a trinta anos? A resposta, de acordo com a redação dada ao § 2° do art. 75 do Código Penal, só pode ser afirmativa. Um detalhe merece a nossa atenção. A lei penal diz que, sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação. Isso significa que se o agente for surpreendido por uma condenação por fato praticado antes do início do cumprimento de sua pena já unificada, em nada modificará o cumprimento da pena, que seguirá seu curso normal, sem que seja procedida a uma nova unificação. O raciocínio é simples. Suponhamos que o agente tenha praticado dez infrações penais, que geraram dez ações penais diferentes. Depois de sete condenações, o total das penas aplicadas chegou a cento e trinta anos de reclusão. O juiz da execução, atendendo ao disposto no § 1"· do art. 75 doCódigo Penal, unificou a pena em trinta anos e desprezou, para efeitos de efetivo cumprimento, cem anos. Foi dado início ao cumprimento da pena. Decorridos cinco anos, surgiram as outras condenações, que somaram mais vinte anos de reclusão. Deverá o juiz, agora, unificar, por mais uma vez, as penas aplicadas ao condenado? Não, pois se essas condenações tivessem surgido antes do início do cumprimento da pena, elas teriam sido desprezadas para fins de unificação, sendo que o condenado teria de cumprir efetivamente trinta anos. Permaneceriam, tão somente, como já afirmamos linhas atrás, para efeito de cálculo destinado à concessão de benefícios legais. Situação diferente é aquela trazida pelo § 2" do art. 75 do Código Penal. Aqui, o condenado já teve sua pena unificada e, agora, vem a praticar nova infração penal após o início do cumprimento da pena, e por ela também é condenado. Segundo o mencionado parágrafo, o período de pena já cumprido será desprezado, sendo procedida nova unificação, ou seja, haverá a soma do tempo de pena a cumprir com a nova condenação, fazendo-se, em seguida, nova unificação, a fim de atender o limite de trinta anos. O item 61 da Exposição de Motivos da nova parte geral do Código Penal, esclarecendo a determinação contida no§ 2"- do art. 75, diz: 61. O projeto baliza a duração máxima das penas privativas de liberdade, tendo em vista o disposto no art. 153, § 11,4 da Constituição, e veda a prisão perpétua. As penas devem ser limitadas para alimentarem no condenado a esperança da liberdade e a aceitação da disciplina, pressupostos essenciais da eficácia do tratamento penal. Restringiu-se, pois, no art. 75, a duração das penas privativas da liberdade a 30 (trinta) anos, criando-se, porém, mecanismo desestimulado r do crime, uma vez alcançado este limite. Caso contrário, o condenado à pena máxima pode ser induzido a outras infrações, no presídio, pela consciência da impunidade, como atualmente ocorre. Daí a regra de interpretação contida no art. 75, § 2".
Art. 76 - CONCURSO DE INFRAÇÕES
JÚLIO FABBRINI MIRABETE:
Sistemas de aplicação da pena
É possível que, em uma mesma oportunidade ou em ocasiões diversas, uma mesma pessoa cometa duas ou mais infrações penais que, de algum modo, estejam ligadas por circunstâncias várias. Quando isso ocorre, estamos diante do chamado concurso de crimes (concursusdelictorum), que dá origem ao concurso de penas. Não se confunde essa hipótese com a reincidência, circunstância agravante que ocorre quando o agente, após ter sido condenado irrecorrivelmente por um crime, vem a cometer outro delito. São vários os sistemas teóricos preconizados pela doutrina para a aplicação da pena nas várias formas de concurso de crimes. O primeiro é do cúmulo material, em que se recomenda a soma das penas de cada um dos delitos componentes do concurso. Critica-se esse princípio por levar à imposição de uma pena total desproporcionada com a gravidade dos delitos, afirmando-se ainda que o criminoso poderia emendar-se após o cumprimento de uma pena menor. O segundo é o sistema do cúmulo jurídico, pelo qual a pena a ser aplicada deve ser mais grave do que a cominada para cada um dos delitos sem se chegar à soma delas. Pelo terceiro sistema, da absorção, só deve ser aplicada a pena do mais grave delito, desprezando-se os demais. Critica-se essa orientação, por deixar impune a prática de vários crimes. Por fim, há o sistema da exasperação, segundo o qual deve ser aplicada a pena do delito mais grave, entre os concorrentes, aumentada a sanção de certa quantidade em decorrência dos demais crimes.
CÓDIGO PENAL COMENTADO:
Art. 76. No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave. 
Ordem de execução das penas:
De acordo com os arts. 69 e 76 do Código Penal e 681 do Código de Processo Penal, no concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a mais grave, devendo a pena de reclusão ser cumprida antes da pena de detenção. Concorrendo penas de reclusão e detenção, ambas com regime inicial aberto, se do somatório ultrapassar quatro anos, há a possibilidade de fixação do regime inicial semiaberto.

Continue navegando