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BIOQUÍMICA VETERINÁRIA II METABOLISMO DO GRUPO HEME Em 1899, Kuster foi o primeiro a relacionar bilirrubina com a hemoglobina. A hemoglobina responde por 90% dos pigmentos biliares formados e está presente em várias proteínas, participa das reações de oxi-redução e transporte de O² e possui um núcleo de ferro em sua estrutura. GRUPO HEME O grupo heme (protoporfirina IX de ferro) encontra-se em proteínas como: hemoglobina, mioglobina, catalase e os citocromos. Na hemoglobina e na mioglobina, o Fe²+ tem a função de ligar uma molécula de O², possibilitando o seu transporte na corrente sanguínea. Na catalase, o ferro catalisa a dismutação do peroxido de hidrogênio. Em proteínas como os citocromos, o grupo heme serve como meio de transporte de elétrons entre proteínas, recebendo um ou dois elétrons de uma proteína e transferindo-os para outra. BIOSSÍNTESE DO GRUPO HEME A biossíntese do grupo Heme ocorre no fígado (citocromos) e na medula óssea (reticulócitos – hemoglobina). Etapa 1: a enzima ALA SINTASE converte o succinil-CoA + Glicina em δ- aminolevulinato; Etapa 2: formação do porfobilinogênio; Etapa 3: formação do uroporfirinogênio III; Etapa 4: formação do coproporfirinogênio III; Etapa 5: formação do protoporfirinogênio IX; Etapa 6: formação da protoporfirina IX; Etapa 7: na última etapa, a enzima FERROQUELATASE insere um Fe²+ no centro da molécula de protoporfirina IX e da origem ao Heme. Regulação da biossíntese do grupo heme HEPATÓCITO O passo limitante na síntese hepática é catalizado pela enzima ALA sintase. O produto de oxidação do heme, a hemina, atua como um inibidor da ALA sintase. A hemina inibe o transporte de enzima no citosol (onde é sintetizada) para a mitocôndria (o seu local de ação). Além disso, pode reprimir a síntese da enzima. A biossíntese do heme requer enzimas citosólicas e mitocondriais. O ferro é suplementado pela ferritina. Succinil-CoA + Glicina g-Aminolevulinato ALA Sintase Piridoxal fosfato (B6) HEMINA (Ferri-protoporfirina) O ponto de controle da síntese do Heme é a enzima ALA sintase e requer piridoxal fosfato como co-fator. Essa enzima é inibida pela hemina. A intoxicação por chumbo pode bloquear o segundo passo da síntese do Heme. Porfobilinogênio PERCURSORES ERITRÓIDES O controle é exercido ao nível da ferroquelatase, a enzima responsável pela inserção do ferro na protoporfirina IX. A biossíntese de hemoglobina inicia-se no eritroblasto policromatófilo e continua nos estágios subsequentes do desenvolvimento celular até os reticulócitos. Formação deficiente de hemoglobina Ingestão deficiente ou absorção anormal de ferro, interferência na atividade normal de células macrofágicas e interferência na formação de eritropoietina, produzida no rim quando há diminuição das células vermelhas e influencia diretamente a medula (insuficientes renais não produzem eritropoietina = anemia). Porfirinas São derivadas da degradação dos eritrócitos, juntamente com a bilirrubina e hemoglobina. Porfirias São alterações genéticas na biossíntese de porfirinas, que podem levar ao acumulo de intermediários da via, causando uma série de doenças. A mais comum é a porfiria aguda intermitente, diagnosticada pela excreção em excesso de porfobilinogênio. Pode causar sintomas como lesões na pele, dor abdominal e distúrbios mentais, que muitas vezes são erroneamente interpretados como psiquiátricos. DEGRADAÇÃO DO GRUPO HEME O grupo heme é degradado principalmente no baço, fígado e medula óssea, em dois passos: 1. O complexo enzimático Heme Oxigenase (HO) degrada o grupo heme, o convertendo em biliverdina, liberando Fe²+ e CO. Ocorre duas oxigenações e utilização de mais uma molécula de NADPH, que permite liberar o ferro, o monóxido de carbono e a biliverdina. HEMOGLOBINA Espécie Sobrevida do eritrócito (dias) Equino 140 – 145 Bovino 130 Homem 120 Cão 100 – 115 Gato 73 Camundongo 43 Quanto menor o tempo de vida, maior a taxa de mitoses, fazendo a sobrevida dos eritrócitos serem menores. Os macrófagos do baço digerem as hemácias velhas, aproveitando suas partes, como acontece com o ferro. A hemoglobina corresponde a 85-90% dos pigmentos biliares formados. Outras proteínas que tem grupo heme em sua estrutura também produzem bilirrubina (citocromos). 2. No segundo passo, a enzima bilirrubina redutase converte a biliverdina em bilirrubina. Esquema: DESTINO DOS PRODUTOS DA DEGRADAÇÃO O Fe²+ liga-se a ferritina, que o transporta no sangue, podendo ser reutilizadona formação de novos eritrócitos; O monóxido de carbono é produzido em concentrações não toxicas, tendo funções antioxidantes, vasodilatadora e de regulação da síntese de neurotransmissores; A bilirrubina é encaminhada para os hepatócitos, onde é processada para posteriormente ser secretada na bile. TRANSPORTE, CONJUGAÇÃO E EXCREÇÃO DE BILIRRUBINA 1. TRANSPORTE A bilirrubina é transportada pela albumina sérica através do plasma sanguíneo desde os locais de formação até os hepatócitos. A bilirrubina entra nos hepatócitos por processos de difusão facilitada. HEMOGLOBINA HEME GLOBINA Aminoácidos Fe ²+ Fe ³+ CO Protoporfirina Biliverdina BILIRRUBINA Heme oxigenase Bilirrubina redutase A bilirrubina é praticamente insolúvel no plasma sanguíneo, e para que isso ocorra são necessários mecanismos que permitam o seu transporte e transformação. 2. CONJUGAÇÃO No reticulo endoplasmático liso dos hepatócitos, a bilirrubina é conjugada ao ácido glicuronico, formando a bilirrubina diglicuronideo, que é um composto solúvel em água. Reação catalisada por glicuronil transferases. 3. SECREÇÃO A bilirrubina diglicuronideo (conjugada) sai dos hepatócitos para os canalículos biliares, por transporte ativo. Esses canalículos terminam no ducto biliar e a bilirrubina diglicuronideo é secretada através da bile no duodeno. Excreção da bilirrubina Quando a bilirrubina diglicuronideo atinge a porção terminal do íleo e o intestino grosso, as B-glicuronosidades produzidas pela flora fecal removem e reduzem a bilirrubina em vários compostos, sendo o principal o urobilinogênio (molécula incolor). O urobilinogênio a partir daí, pode seguir vários caminhos: a. Reabsorção na corrente sanguínea e a nova secreção através da bile – ciclo enterohepático do urobilinogênio; b. Reabsorção na corrente sanguínea e transformação o rim (via urinária). O urobilinogênio, ao chegar aos rins, é convertido em urobilina, um pigmento de cor amarela, que é excretado na urina; c. Degradação no próprio intestino (via fecal). A floral fecal realiza a oxidação do urobilinogênio em estercobilina, pigmento de cor vermelho-castanho, que é excretado através das fezes. RESUMO A bilirrubina liberada no plasma é ligada à albumina para o transporte até as células hepáticas, onde é conjugada com ácido glicurônico pela enzima UDP-glicuronil transferase. A bilirrubina conjugada é normalmente secretada através dos canalículos biliares e excretada pela bile na luz intestinal. No trato intestinal a bilirrubina é degradada a urobilinogênio para a sua excreção nas fezes, com reabsorção parcial para a circulação geral e re-excreção biliar o ciclo enterohepático da bile. Uma pequena quantidade de bilirrubina conjugada e urobilinogênio normalmente escapam-se à re-excreção hepática e são eliminados na urina. Quantidades aumentadas são excretadas naqueles animais com doença hepática. Para entender... Há duasformas de bilirrubina, a bilirrubina indireta (não conjugada) que é ligada a albumina e a bilirrubina direta (conjugada); A bilirrubina não conjugada não pode ser filtrada pelo rim, somente a conjugada (bilirrubinúria = pigmentos biliares na urina); O acumulo de bilirrubina no sangue leva a icterícia; Na anemia hemolítica, a maioria da bilirrubina no sangue está na forma não conjugada. Na doença hepatocelular, ambas as formas estão aumentadas e na obstrução extra- hepática do ducto biliar ocorre aumento da bilirrubina conjugada. Mecanismos reguladores Regulação da enzima heme oxigenase: a enzima heme oxigenase é ativada pela presença do heme logo é uma enzima induzida pelo substrato. VARIAÇÕES ENTRE ESPÉCIES BOVINOS: baixos valores de bilirrubina mesmo em colestase e hepatopatias. Em bovinos não há grandes aumentos de bilirrubina mesmo em hepatopatias (os valores não passam de 2mg/dL). EQUINOS: hiperbilirrubinemia fisiológica (consumo de carotenoides e xantofilas; jejum). O equino pode apresentar uma icterícia fisiológica devido ao alto teor de bilirrubina livre em condições normais, especialmente no jejum e ao consumo de carotenoides e xantofilas. Em hepatopatias o cavalo pode apresentar níveis muito elevados de bilirrubina (>25mg/dL). Nas anemias hemolíticas os níveis de bilirrubina livre ou não conjugada ficam elevados (>70mg/dL). A causa da hiperbilirrubinemia em jejum é devido a diminuição da excreção pelo fígado e não a maior produção do pigmento. A bile é jogada diretamente do fígado para o intestino delgado. Nesses animais, para melhor avaliação do fígado, deve-se utilizar outros marcadores de função hepática. AVES: as aves excretam somente biliverdina, pois não possuem bilirrubina redutase, portanto, não apresente icterícia. Neste caso deve-se dosar ácido úrico. METABOLISMO DA BILIRRUBINA ICTERÍCIA HEMOLÍTICA – PRÉ HEPÁTICA O aumento da forma não conjugada e aumento do urobilinogênio é característico de doença hemolítica. A destruição das hemácias pode ser por anemia ou outros fatores, como contato com carrapato. Em gatos pode ocorrer doença hemolítica por infecção por Mycoplasma (hemoparasitose). Pode ser avaliado um aumento de reticulócitos. ICTERÍCIA HEPÁTICA O aumento da bilirrubina total e das duas frações pode indicar alterações das enzimas hepáticas. Realizar dosagem da albumina ou ALT. Através de exame de ultrassonografia pode-se observar aumento do volume do fígado. Fígado fibroso não regenera. ICTERÍCIA OBSTRUTIVA – PÓS HEPÁTICA Aumento da forma conjugada e urobilinogênio diminuído. Os animais podem apresentar esteatorreia (fezes sem coloração) e urina de coloração forte. A fosfatase alcalina pode se apresentar aumentada em casos de obstrução do ducto biliar. Exame de ultrassonografia pode avaliar a obstrução. Peritonite biliosa = liberação da bile no peritônio. Liquido abdominal esverdeado.