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Resumo Filsosofia Juridica a finalidade da lei

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A Finalidade da Lei
(Manual de Filosofia do Direito, Rizzatto Nunes)
Resumo 
1. Direito e Democracia Real
Informações Preliminares
Tendo como base a Constituição, é possível investigar as raízes das leis em geral, a 
fim de definir qual o seu verdadeiro sentido, se a finalidade para a qual foi criada, é 
satisfatoriamente atingida no meio social, ou seja, qual a verdade por trás de cada norma 
jurídica.
Entender até que ponto o meio social age sobre a legislação, ou se existem intenções 
não declaradas e camufladas mediante um sistema de leis formalmente estabelecido, que, de 
forma imperativa, é posta em prática pelo Estado.
1.1. A Influência da Lei na Sociedade
Questões Antigas
Como a Lei influi no meio social e até onde vai o seu poder? A lei pode mudar o 
comportamento social? O seu cumprimento ou não, é prova da sua eficácia?
Lei, Instrumento de Ação do Estado
Nos países onde o Direito teve origem romana, como os da Europa Continental e dos 
países latino-americanos, a Lei é a principal fonte do Direito. Quem cria leis tem o poder de 
reformar a sociedade, pois ela é um instrumento de relevância no desenvolvimento e controle 
social, traçando caminhos a serem seguidos, seja no campo econômico, político ou social.
A questão continua sendo: será mesmo que a Lei é eficaz nessa transformação social? 
Lei e realidade estão em harmonia? A Lei é criada para atender às verdades dos fatos sociais, 
ou, de forma “superior”, imperativa, vai de encontro às vontades do legislador, que cria sua 
própria verdade? Impondo ao povo, que está acostumado aos dogmas da Lei, e os aceita como 
algo que vem de cima, superior, soberano.
Evolução histórica da Finalidade da Lei
Ao longo da história, a finalidade da Lei tinha sentidos diferentes. Na antiguidade a 
Lei tinha o fim de manter a paz em todas as circunstâncias e a qualquer preço. As 
necessidades individuais poderiam ser sacrificadas em prol da paz.
Depois, a Lei tinha o fim de manter cada indivíduo no seu lugar dentro da 
sociedade, ou seja, dirigia-se à manutenção da paz entre pessoas de um mesmo parentesco, 
entre clãs, regrando as relações entre diversos clãs, e cabia a cada clã cuidar de suas 
necessidades especiais.
Em seguida, veio a organização política como centro de controle social, e o indivíduo 
passou a ser visto como ser livre, e não por estar vinculado a um clã. Num terceiro momento, 
no século XVI, teorizou-se sobre a igualdade natural do indivíduo, convertendo-se numa lei 
para obtenção dos direitos naturais, e que tinha como restrição, respeitar o direito dos outros.
No século XIX, a finalidade da Lei era garantir o mais elevado grau possível de auto-
afirmação individual geral. Funcionou enquanto o mundo não era super-populoso e complexo, 
sendo limitado a partir desse crescimento. O mundo havia sido descoberto!!
A partir de então, começa-se a pensar na finalidade da Lei como um máximo de 
satisfação das necessidades e expectativas humanas, passando a lei a ser vista como uma 
instituição social.
A Criação da Lei e sua Eficácia
É preciso investigar acerca dos motivos que levam à elaboração de uma lei e se existe 
relação desses motivos com a verificação de sua eficácia. Considerando que as leis tem 
origem na Constituição, que é a lei das leis, também cabe saber “quem” pensa as 
Constituições e os seus limites, já que esta é o princípio de um conjunto de normas que 
influenciam o meio social.
Via de regra, a lei regula uma situação desde sua criação para o futuro, mas também 
pode retroagir, sempre respeitando o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa 
julgada. Mas, qual a mola propulsora que determina a criação de uma lei? Seus motivos são 
justos, lícitos, ou escusos?
Para tentar descobrir a verdade, deve-se seguir certos preceitos, e um deles é examinar 
a exposição de motivos que acompanha a lei. Hoje, a doutrina não busca somente a vontade 
do legislador, mas o fim a que realmente a lei se destina.
Quanto à eficácia da lei, diz-se que é a relação entre a ocorrência concreta e o prescrito 
pela norma positiva ou negativa. Existe uma conexão entre a lei – abstrata, e o meio social a 
que ela se dirige – concreto, ou seja, há uma relação entre a lei editada e os atos praticados 
pelas pessoas as quais ela é dirigida.
Há a questão da vigência da lei e o problema de eficácia de leis que não são 
cumpridas; daí, como incidência, pode dizer que é um fenômeno normativo, pois a lei é válida 
e começa a viger, estando ou não apta para produzir efeitos, para ter eficácia.
Assim, a incidência ocorre exatamente quando a situação subjetiva se configura e o 
efeito se produz. Incidência significa configuração atual de situações. Validade, vigência e 
eficácia são, pois, condições de incidência. A eficácia diz respeito à possibilidade de produção 
de efeitos e a incidência se refere ao efeito produzido; uma norma pode ter eficácia jurídica 
sem ser socialmente eficaz, ou seja, pode ter efeitos jurídicos e não ser efetivamente cumprida 
no plano social. Eficácia tem relação com o sucesso da comunicação.
Cada lei em si tem seu próprio sucesso delimitado e que não está ligado, 
necessariamente à aplicabilidade concreta e no meio social. Existem leis que tem sucesso, e 
nesse sentido, são totalmente eficazes, exatamente porque não são aplicadas. São leis que tem 
outra função escondida mais importante, tais como aquietar forças sociais e ideológicas, que 
nesse caso – o descumprimento da lei – a sua não aplicação – é o seu sucesso e sua eficácia.
2. As forças sociais que atuam sobre a legislação
Existem fatores que influenciam na criação das leis e outros que delineiam sua 
finalidade, posto que os indivíduos na sociedade podem exercer pressão tanto na criação 
quanto na revogação de leis, pois os fatores do meio social, os meios de comunicação, o poder 
econômico, dentre outros, influenciam na legislação. A população, muitas vezes iludida por 
tal influência, é que dá força aos “ideais” dos legisladores.
Algumas concepções economicistas sustentam que a realidade econômica é a base e a 
causa efetiva de todas as transformações sociais, políticas, culturais e jurídicas. De forma 
ampla, o fator econômico influi na criação e aplicação da lei.
É assim que os anseios sociais passam a ser representados pelo Poder Legislativo e 
pelo Executivo, que elaboram leis em nome da população, mesmo que a representatividade 
seja apenas formal. Essa influência econômica tem forte relação com o fato de que, muitas 
vezes, o exercício do direito correto, do direito justo, que é levado às últimas conseqüências, 
passou a ser avaliado pelo valor econômico no quesito custo/benefício; por isso se diz 
popularmente, que não se põe dinheiro bom em cima de dinheiro ruim, o que denota a idéia 
de que a preocupação maior é com o fator econômico, depois com o jurídico.
3. A finalidade da lei – um caso norueguês e um brasileiro
O caso norueguês versa sobre a legislação no tocante aos direitos das empregadas 
domésticas, em 1948; o legislador daquele país, criou uma lei cuja a finalidade era proteger os 
interesses envolvidos no serviço doméstico, assegurando uma série de direitos às empregadas; 
Ocorre que a lei foi ineficaz ao fim a que se propôs, pelo menos ao fim “oficial”, pois 
foi elaborada sem nenhum fundamento empírico, sem conhecer a verdade e os anseios da 
classe; fato é que a verdade por trás da lei era que o legislador, ao elabora-la, visava atingir 
um ideal político-partidário, a um anseio talvez da opinião pública, que queria ver a situação 
das domésticas em conformidade com o estágio de desenvolvimento social que o país vivia.
Já o caso brasileiro, traz o parágrafo único do Art. 7º da ConstituiçãoFederal/1988, 
que acrescenta novos direitos aos que as empregadas domésticas já tinham, ou seja, ampliou 
esses direitos, aproximando-as das outras classes trabalhistas, mesmo que ainda os outros 
empregados do país gozem de mais direitos.
Ainda assim, a norma jurídica não agradou a empregadas e patroas. De um lado, as 
patroas até entendem ser justo que a empregada tenha direitos trabalhistas assegurados, mas 
que, como empregadoras, sentiam-se lesadas na sua boa-fé, pois não conseguem controlar a 
“falta de compromisso”, como faltas, atrasos, etc., além do que sempre arcaram com o custo 
extra de alimentação de suas empregadas. 
Por outro lado, segundo a Diretora da Associação das Empregadas Domésticas de São 
Paulo, as empregadas domésticas não tem muita consciência dos seus direitos, pois preferem, 
em vez de contribuir para a Previdência, depositar na poupança, que não procuram reclamar 
seus direitos, enfim.
Tal qual o legislador norueguês, o Constituinte brasileiro também tinha como 
finalidade, ao criar a lei, de inserir o Brasil no rol dos países desenvolvidos no tocante aos 
avanços sociais e de garantias e direitos trabalhistas. Tanto é que à época, havia grupos de 
constituintes que eram taxados de progressistas, ou seja, expressavam pensamento avançado 
sobre o tema. Entretanto, considerando que a lei da Noruega foi criada em 1948, o Brasil 
parece um “pouco” atrasado nesse dito desenvolvimento.
4. Conclusões
A lei é instrumento valioso de ação do Estado, sem a qual, as transformações sociais não 
ocorreriam. Entretanto, a força de uma lei não está no simples fato de ser ela ou não 
cumprida, pois os motivos que determinam a eficácia da lei são bastante complexos.
Fato é que, enquanto há leis que são criadas para atender uma necessidade, uma “verdade” 
social, outras são apenas para aquietar a opinião pública, forças sociais e ideológicas, e 
também nesse contexto, são eficazes.
“Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplica-lo bem.”
Descartes.

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