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Ética, Moral e Bioética Conceitos Introdutórios

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Prévia do material em texto

Ética e Legislação 
Farmacêutica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material teórico 
 
Responsável pelo Conteúdo: 
Profa. Dra. Thais Adriana do Carmo 
 
Revisão Textual: 
Profa. Dr. Patricia Silvestre Leite Di Iorio 
Ética, Moral e Bioética: Conceitos Introdutórios 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ética, Moral e Bioética: 
Conceitos Introdutórios 
Nesta unidade serão apresentados os conceitos de 
Ética, Moral e Bioética, bem como um breve histórico 
de cada um deles. 
Conhecer a fundamentação e os princípios desses 
conceitos é o objetivo principal desta Unidade. 
 
Atenção 
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar 
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 
 
 
 
 
 
 
Nesta unidade estudaremos os conceitos de Ética, Moral e Bioética. 
Ética pode ser definida como uma ciência que estuda as ações humanas e seus 
fundamentos, mas também como um conjunto de valores e princípios que orientam as 
escolhas individuais ou coletivas em uma sociedade. 
Moral é entendido como os costumes, valores e princípios de uma sociedade que 
geralmente se transformam em normas e leis, porque são considerados um consenso social. 
Bioética é uma nova ciência que busca avaliar os impactos que o desenvolvimento das 
ciências e a produção de conhecimento têm na sociedade atual e nas gerações futuras. 
São conceitos importantes para a reflexão e fundamentação da prática dos profissionais 
de saúde, incluindo o farmacêutico. 
Conhecer esses conceitos, seu histórico e sua importância, são o objetivo dessa 
Unidade. 
 
 
 
 
Contextualização 
 
 
 
 
 
Ética 
Ética é uma palavra muito utilizada atualmente. Em todos os lugares, na mídia, na 
escola, no governo, no debate político, utiliza-se a palavra ética. São realizados 
questionamentos éticos e morais. Apesar disto, diferentes autores afirmam que a humanidade 
vivencia uma terrível crise ética e moral. Boff (2003), por exemplo, diz que essa crise atinge o 
coração da humanidade, pois afeta “as razões para estarmos juntos e o sentido derradeiro da 
vida”. Segundo ele, vivemos num momento de confusão, de perplexidade, onde já não 
sabemos o que é importante, o que é certo, o que é bom, o que ainda vale. Trata-se de uma 
crise mundial de valores que se traduz em uma insegurança cotidiana e permanente tensão 
nas relações sociais. 
 
Mas o que é Ética? É a mesma coisa que moral? Pode-se dizer que determinada 
pessoa não é ética? Que um determinado comportamento é antiético? 
Políticos que desviam milhões de ministérios que deveriam zelar pela infraestrutura 
do país podem ser classificados como antiéticos? 
Profissionais de saúde que desviam e revendem medicamentos para câncer 
comprados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e, que deveriam ser distribuídos 
gratuitamente, não tem ética? 
 
Utiliza-se a palavra “Ética” como sinônimo de moral e muitas vezes como um juízo de 
valores. Entretanto, segundo Gallo (2003), Ética “é a parte da filosofia que se dedica a pensar 
as ações humanas e seus fundamentos”, portanto, é uma Ciência. Como Ciência tem 
metodologia e instrumentos próprios para investigar seu objeto. Busca identificar e 
compreender as diferentes visões de mundo, os valores, as concepções sobre a vida e as 
relações sociais de diferentes comunidades. 
Por outro lado, a Ética pode ser entendida como um conjunto organizado de valores e 
princípios que norteiam as práticas individuais ou coletivas, pessoais ou sociais. 
Material Teórico 
 
 
A palavra Ética tem origem grega. Deriva de ethos que pode significar “modo de ser”, 
perfil, caráter de uma pessoa ou também como costumes, moral, hábitos (entendimento que 
originou a palavra Moralis em latim). 
Por outro lado, ethos também era utilizado pelos gregos como sinônimo de “morada”. 
Mas não somente a casa, estrutura física, mas todas as representações e relações estabelecidas 
na constituição dessa morada: as relações construídas entre os moradores e familiares, entre 
esses e seus vizinhos; os valores e princípios ordenadores dessas relações; e finalmente, o 
cuidado e o abrigo oferecido aos moradores. 
Como a vida social tem início na morada, para os gregos é esse o locus de formação 
ética e de caráter das pessoas: nos valores, princípios, hábitos e tradições familiares. 
Aristóteles, filósofo grego que viveu no período IV a.C., foi um primeiros que pensou e 
discutiu a Ética. Ele lecionava em uma escola (Liceu) e em suas aulas questionava e analisava 
o agir humano. Para ele, a busca da felicidade era o bem maior que norteava todas as ações 
humanas. E é essa busca que confere singularidade ao ser humano e aquilo que o diferencia 
dos outros animais. 
Entretanto, a felicidade não é entendida da mesma forma por todas as pessoas. Cada 
pessoa responde de forma própria quando questionada sobre o que é “felicidade”. Mas, essa 
singularidade pode ser compartilhada por outros indivíduos com os quais convivemos. Para 
Aristóteles é na família, na escola, na religião, que aprendemos a identificar valores e 
princípios que nos trazem a felicidade, pois nos levam a agir visando ao bem. 
Nessa concepção, uma pessoa não nasce ética. Ela constrói sua ética durante a sua 
humanização (socialização). Sua estruturação ética ocorre juntamente com seu 
desenvolvimento por meio das relações que estabelece ao longo da vida. 
Segundo Aristóteles, as ideias não nascem conosco, elas se formam em nós, com base 
nas experiências que temos na vida. Elaboramos nossa visão de mundo a partir da forma que 
percebemos e sentimos a realidade. 
Construímos nosso conjunto de valores e princípios, que nortearão nossas escolhas e 
nossas condutas, a partir dos valores e princípios conhecidos e vividos na família, na escola, 
na igreja, na sociedade na qual somos criados. 
 
 
Por isso, a Ética é considerada um dos mecanismos de regulação social, pois à medida 
que partilhamos valores e princípios, bem como um ideal de felicidade, buscamos caminhos 
que nos levem a esses objetivos definidos socialmente, os quais facilitam uma convivência 
harmoniosa em sociedade. 
Segundo Morin (1998), a Ética nos permite definir nossa finalidade no mundo e “eleger 
nossas finalidades implica integrá-las profundamente em nossos espíritos e almas, jamais 
esquecê-las, jamais renunciar a elas, mesmo se perdermos a esperança de constatar sua 
realização”. 
Entretanto, nossas finalidades não nos são impostas, no sentido de que cada um terá 
que escolher por si mesmo os seus valores e ideais. A Ética implica opção individual, escolha 
ativa, adesão individual a valores, princípios e normas morais. 
Em Gallo (2003), encontra-se a seguinte afirmação: “é a escolha que define o caráter 
do ser humano”. Pois qualquer ação é um movimento deliberado decorrente de uma escolha. 
E as escolhas são feitas a partir da racionalidade. Segundo Aristotéles, o homem é capaz de 
planejar suas ações, a partir de escolhas e julgá-las, atribuindo-lhes valor. 
O exercício da liberdade é o exercício das escolhas. 
Mesmo a Ética sendo construída socialmente, só se transforma em prática, ou melhor, 
práxis (teoria + prática) a partir de decisões individuais. E cada um faz suas escolhas a partir 
de diferentes fatores, entre eles, como pensava Aristóteles: a sensação, a razão e o desejo. 
Para exemplificar de forma mais concreta, podemos apontar que no Brasil o aborto é 
considerado crime, com punição prevista no Código Penal Brasileiro (pena de detenção que 
pode variarentre 1 a 10 anos), com exceção de gravidez decorrente de estupro ou em casos 
de risco da vida materna. Apesar disto, a estimativa é de que aconteçam cerca de 1,4milhões 
de abortos por ano no Brasil (Guedes, 2003) 
Considerar o aborto um crime, baseia-se em uma questão Ética. Parte-se de um valor, 
o direito a vida, e de um princípio, que a vida começa na fecundação. Entretanto, não há 
evidências científicas que garantam que a vida começa na fecundação. Trata-se, portanto, de 
uma definição baseada em princípios religiosos que podem ser compartilhados ou não por 
todos os cidadãos brasileiros. E, mesmo quando compartilhados, pressupõe uma adesão 
individual. 
 
 
 
Considerando os valores envolvidos, é importante refletir: há a garantia 
do direito a vida do feto em uma gravidez não planejada e indesejada 
pela mãe, mas não há a mesma garantia para um feto em uma 
gravidez decorrente de um estupro. Há formas de valorar a vida em 
diferentes situações? 
 
Em algumas tribos indígenas brasileiras, bebês nascidos com alguma deficiência são 
abandonados na mata. Novamente, observamos valores construídos socialmente, a partir da 
necessidade, das experiências e das relações estabelecidas no convívio cotidiano. 
 
 
Ética do Cuidado 
Boff (2003) destaca na raiz etimológica da palavra Ética: o ethos que cuida. “Quando 
amamos, cuidamos e quando cuidamos, amamos”. O cuidado, o amor, a empatia, surgem 
das relações que se estabelecem na morada. A “casa” tem entre outras funções como proteger 
seus moradores. 
Considerando a morada não somente como a casa, mas a natureza que nos abriga, o 
grupo social a qual pertencemos, o país em que vivemos, a Ética nos chama a cuidar, para 
preservar. E o cuidado envolve zelo, compromisso e compaixão. Pressupõe o conhecimento e 
a aceitação do outro, a inclusão de todos na construção do bem comum, além do 
compartilhamento de responsabilidades. Representa, ainda, uma atitude de ocupação, de 
preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro (BOFF, 2008). 
Trazendo essa discussão para as práticas estabelecida nas profissões da área de saúde, 
a Ética do Cuidado é urgente, pois, ao escolher uma carreira ligada à Saúde, há que se ter 
claro a escolha pelo cuidado, isto é, a disponibilidade para ouvir e aceitar o outro, se 
comprometer e se responsabilizar por seus atos e consequências. 
 
 
Moral 
No senso comum, no saber popular, muitas vezes as palavras “Ética” e “Moral” são 
utilizadas como sinônimos. Entretanto, conceitualmente, são consideradas dimensões sociais 
 
 
diferentes. Pode-se dizer que “a ética é uma dimensão social constituída pela moral e pela 
capacidade humana de ser livre” (Barroco, 2003). Ética é princípio, Moral é conduta. 
O termo Moral vem do latim Moralis que quer dizer costumes (Barroco, 2003). E 
Moralis deriva da palavra grega Ethica ou Ethos, mas diferentemente do conceito proposto 
pelos gregos, incorpora apenas o sentido comunitário da atitude valorativa, ou seja, se traduz 
pelos costumes, valores e princípios, que socialmente organizados geralmente são se 
transformam em normas, incorporados às leis e passam a ser observados como códigos de 
valores ou de moral. Trata-se de regras de conduta estabelecidas e aceitas pelas comunidades. 
De forma geral, a Moral integra três questões importantes: costumes, normas e leis 
(Pereira, 2004). Para exemplificar temos: com a constatação de que a utilização do cinto de 
segurança pelos passageiros diminuía a mortalidade dos acidentes de trânsito, um costume de 
algumas pessoas (utilizar o cinto) se tornou uma norma, uma recomendação. Com o passar 
do tempo, o poder público brasileiro, assumindo que a utilização do cinto contribuía para o 
bem comum, tornou o seu uso obrigatório, transformando uma norma em lei. 
A Moral está intrinsecamente ligada à cultura, à história, à sociedade e à natureza 
humana, depende do contexto histórico e social em que é construída. Nasce das relações 
sociais e da forma com que são estabelecidas essas relações. E, de forma dialética, passa a ser 
um conjunto de valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações 
cotidianas. 
A Moral está fundamentada no coletivo e, portanto, explicita os valores das sociedades 
ou comunidades nas quais emerge. Está, ainda, relacionada com a época, religião, 
conhecimentos científicos e todos os fatores que interferem nas relações sociais. Por isso 
muda, adquire novos contornos e novas formas. Pode variar de sociedade para sociedade, 
entre comunidades da mesma sociedade e na mesma sociedade através do tempo. 
No Brasil, até o ano de 1977, o divórcio não era reconhecido pela legislação. Até 
então, o casamento era considerado indissolúvel (Constituição Federal Brasileira de 1934) e 
só se desfazia com a morte de um dos cônjuges. Os esposos separados eram discriminados, 
pois havia o receio de que poderiam influenciar outros casais. Acreditava-se que o divórcio 
desestabilizaria os lares brasileiros e a família, considerada a base da sociedade brasileira. Tais 
valores e comportamentos refletiam a moral da época, originada principalmente em tradições 
religiosas. Com a mudança da sociedade, mudou-se a lei. 
 
 
Aqui, é importante destacar que a Moral é um consenso social: implica na valorização 
de comportamentos e ações que se transformam em deveres e que acabam sendo 
incorporados no modo de ser dos indivíduos. Para que ela se legitime tem que haver uma 
concordância coletiva. Isso ocorre à medida que a Moral corresponda às expectativas e 
necessidades dos membros daquela sociedade. 
Nesta perspectiva estão os Códigos de Ética profissionais. Como veremos mais adiante, 
tratam-se na realidade de códigos de moral, pois a partir dos valores de cada categoria 
definem direitos e deveres dos profissionais envolvidos. 
 
 
Bioética 
Segundo Segre e Cohen (1995), “Bioética é parte da Ética, ramo da filosofia, que 
enfoca as questões referentes à vida humana (e, portanto, à saúde)”. Tendo a vida por estudo, 
trata também da morte. 
Para Fortes e Zoboli (2003), é ao mesmo tempo uma disciplina acadêmica e um 
movimento cultural, derivada do grande desenvolvimento técnico-científico ocorrido no século 
XX e todas as suas consequências sociais, políticas e culturais. 
Bioética deriva das palavras gregas Bios (vida) e Éthica, trazendo no seu bojo tanto o 
conceito de estudo das questões referentes à vida quanto ao de cuidado à vida. 
Segundo a Enciclopédia de Bioética (apud Pessini e Barchifontaine, 2007), Bioética 
pode ser definida como “o estudo sistemático das dimensões morais, incluindo visão, decisão 
e conduta e normas morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma 
variedade de metodologias éticas num contexto disciplinar”. 
O termo Bioética foi utilizado pela primeira vez por um oncologista americano, Van 
Rensselaer Potter, na década de 70. Em 1970, em uma palestra realizada na Universidade de 
Dakota do Sul, EUA, intitulada “Ponte para o futuro, um conceito de progresso humano”, 
Potter fez reflexões sobre o progresso da humanidade e que tipo de futuro estava sendo 
construído a partir do desenvolvimento científico e tecnológico, utilizando o novo termo. Em 
1971, publicou a obra que seria a referência inicial para essa nova ciência: Bioethics, bridge to 
the future. 
 
 
Nesse livro, Potter propõe a significação do termo Bioética como “forma de enfatizar os 
dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão 
desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos”. (POTTER, 1971). 
Segundo ele, a Bioética seria a ciência da sobrevivência humana, pois seu propósito 
era o de defender a dignidadehumana e a qualidade de vida. Entretanto, apesar do termo ter 
aparecido pela primeira vez na palestra e, depois, na publicação de Potter, as discussões que 
culminaram no nascimento dessa ciência tiveram início algum tempo antes. 
Alguns autores localizam a origem desse movimento na década de 60 nos Estados 
Unidos, com os acontecimentos relacionados com o início da hemodiálise. 
Segundo Pessini e Barchifontaine (2007), no início dos anos 60, um procedimento 
novo, a diálise, foi implantado. Entretanto, os equipamentos necessários eram muito caros e 
não havia recursos disponíveis para atender a todos que dele necessitavam. Em Seattle, foi 
criado um comitê, composto de pessoas leigas para definir critérios de inclusão / exclusão de 
pacientes com indicação clínica de hemodiálise. E a questão foi colocada: quais critérios e 
parâmetros seriam utilizados para a seleção? Idade? Sexo? Estado civil? Profissão? 
Não havia relatos de situação semelhante: decisões médicas, relacionadas à 
preservação ou não da vida, delegadas a leigos e analisadas caso a caso por um comitê. 
Mas, antes disto, outro fato também contribuiu para o aparecimento da Bioética. O 
estabelecimento do Tribunal de Nuremberg em 1945, para julgar os crimes nazistas ocorridos 
durante a Segunda Guerra Mundial, desvelou abusos terríveis, ocorridos em campos de 
concentração e praticados por médicos e cientistas, em nome do desenvolvimento da ciência 
e da medicina. 
Com o desenvolvimento da ciência, principalmente das Ciências Médicas e da Vida, 
outros questões apareceram (criação da bomba atômica, tragédia da Talidomida, técnicas de 
transplante de órgãos) e, com o passar do tempo, pesquisadores e o público em geral 
começaram a perceber a importância da criação de mecanismos de proteção à vida em 
relação aos avanços tecnológicos e em estudos científicos. 
Nessa perspectiva, a Bioética seria uma ponte entre a Ciência e a Humanidade. Uma 
possibilidade de integração de valores éticos, dos fatos biológicos, das novas descobertas 
tecnologias e das situações cotidianas. 
 
 
Para Silva e Caldas (2008), a Bioética abrange dois aspectos diferentes: situações 
persistentes e situações emergentes. 
Como situações persistentes destacam questões que estão presentes em toda a história 
da humanidade, tais como a equidade e a universalização dos serviços e ações de saúde, o 
aborto, a eutanásia, direitos humanos e todo e qualquer conhecimento ou desenvolvimento 
tecnológico referente a tais questões. 
E, como situações emergentes, reflexões e situações novas decorrentes do 
desenvolvimento das ciências, a saber: transplante de órgãos, clonagem, biossegurança, 
mapeamento genético, pesquisa com células tronco, prolongamento da vida, entre tantas 
outras. 
Potter acreditava que a Bioética integrava o trabalho dos humanistas e dos cientistas, 
cujos objetivos são respectivamente sabedoria e conhecimento. A sabedoria definida como o 
conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. 
A Bioética amadureceu e suas proposições podem ser encontradas em diferentes 
publicações e questões médicas. Entretanto, ficou associada, principalmente, aos assuntos 
médicos, e algumas vezes, confundida com a ética médica. Para Potter, a Bioética abrange 
questões mais amplas. Segundo ele, as reflexões sobre as ciências médicas são o núcleo dessa 
ciência, mas a realidade atual exige uma Bioética global, que discuta tanto a ética médica 
como a ética do meio ambiente e que se estenda para todas as ciências, além de que entenda 
o planeta como grandes sistemas biológicos entrelaçados. 
Para tanto, voltando ao conceito expresso no início da nossa apresentação, a Bioética é 
considerada uma ciência inter e transdisciplinar. Isso quer dizer que se apropria de 
ferramentas de diferentes naturezas para estudar e entender todos os aspectos relacionados às 
questões observadas anteriormente, tais como: aspectos culturais, políticos, psicológicos, 
educacionais, científicos, econômicos, legais, morais, sociais, biológicos, assistências, 
profissionais e espirituais. 
E, diferentemente de outras ciências, cuida das repercussões que os avanços científicos 
e tecnológicos terão não só no presente, mas também no futuro. Quais os impactos que 
determinadas práticas terão sobre as gerações futuras? Quais as modificações que trarão ao 
meio ambiente? 
 
 
Como qualquer Ciência, a Bioética precisa de uma metodologia para ser desenvolvida. 
Essa metodologia pode ser traduzida por alguns modelos de análise teórica, ou, segundo 
Pessini e Barchifontaine (2007) pelos seus paradigmas. Tais paradigmas se constituem em 
diferentes formas de sistematização e análise em Bioética. De acordo com Fortes e Zoboli 
(2003), os mais comuns são o do liberalismo, das virtudes, da casuística, o narrativo, do 
cuidar e o principialista. Mas, também dever ser citados: o fenomenológico, do direito natural, 
o contratualista e o antropológico personalista. 
 
 
Alguns Paradigmas da Bioética 
• Paradigma principialista: está entre os modelos de análise mais utilizados e divulgados 
e tem como referência a obra dos autores Tom Beuchamp e James Childres (Principles 
of biomedical ethics, 1ª edição em 1979). Utiliza-se de quatro princípios orientadores e 
referenciais para análise dos problemas biéticos. 
• Autonomia: capacidade do ser humano de decidir o que é “bom” ou sobre “seu bem-
estar”, a partir de seus valores, crenças, necessidades e expectativas; 
• Não-maleficiência: obrigação de não causar danos. Tais danos não se restringem 
apenas a aspectos físicos, tais como dor ou morte, mas engloba aspectos psíquicos, 
sociais e morais. Este conceito se origina das ciências médicas; 
• Beneficência: ação de fazer o bem, cuidar das pessoas, minorar os danos. Não se trata 
de caridade, mas de obrigação de não causar dano e maximizar os benefícios e 
minimizar os riscos. 
• Justiça: imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios. Distribuição social igual 
ou equitativa dos resultados, avanços e possíveis danos. 
 
É importante destacar que tais princípios não tem nenhuma relação hierárquica e não 
são absolutos, pois dependem do contexto em que a questão em análise está inserida, ou seja, 
a situação e suas circunstâncias é que define qual prevalece. 
• Paradigma libertário: neste modelo o valor central é o da autonomia do indivíduo. 
Baseado nos direitos humanos, este paradigma enfatiza a defesa dos direitos e 
 
 
propriedade das pessoas, incluindo o próprio corpo. Tal referência de análise considera 
fundamental o direito do indivíduo sobre o próprio corpo incluindo as decisões 
relacionadas à sua vida. 
• Paradigma das virtudes: a ênfase é na formação das pessoas, no caráter dos agentes. 
Seu foco é o indivíduo e não o ato. Um ato pode ser correto, mas não virtuoso. Mas 
para ser virtuoso, deve ser correto. E para ser virtuoso e correto deve ser corretamente 
motivado. Daí a importância da formação, da educação e da constituição do caráter: 
são instrumentos para a definição das ações e consequentemente para a prática do 
bem. Algumas virtudes fundamentais: respeitabilidade, não-malevolência, benevolência 
e justiça. 
• Paradigma casuístico: não possui um princípio orientador geral. A análise deve ser caso 
a caso num processo analógico, ou seja, cada caso deve ser examinado em suas 
características particulares considerando-se outros casos como comparação. O objetivo 
está em buscar o consenso social presente em casos anteriores. Para os casuísticos, os 
princípios são relevantes, mas não decisivos para a resolução de conflitos em situações 
concretas. Na verdade, consideram que a ética não deve partir de princípios, mas de 
situações concretas da vida prática.Este paradigma é considerado a base da ética 
clínica, pois auxilia na busca de caminhos para resolver questões ambíguas, limites, 
que despertam perplexidades morais. 
• Paradigma do cuidado: o foco são as relações. Valoriza não só os atos, as motivações e 
o caráter, mas principalmente as relações estabelecidas entre os diferentes agentes 
envolvidos. Constituem-se elementos chaves para sua compreensão: a consciência da 
conexão entre as pessoas buscando a co-responsabilização pelas decisões e ações, o 
entendimento que a moral nasce dessas conexões e de que a comunicação é a forma 
de solucionar de conflitos de modo não violento. Nesta perspectiva, a solução de 
conflitos passa pela inclusão de todos de forma cooperativa e não competitiva. 
Incorpora como elemento de análise características consideradas essencialmente 
femininas tais como a solicitude, o sentimento e a alteridade. 
• Paradigma narrativo: a experiência humana e os dilemas morais que a caracterizam se 
expressam por meio da cultura produzida que inclui a narrativa, ou seja, o contar e o 
ouvir histórias. Esse modelo considera a narrativa parte inseparável da vida. De fato, 
 
 
diferentes sociedades expressam seus valores e princípios por meio de mitos, lendas e 
histórias populares. Interpretar essas narrativas é uma forma de se compreender as 
necessidades, expectativas, hábitos e ferramentas das comunidades das quais 
emergiram. 
As semelhanças e diferenças encontradas entre os diferentes modelos utilizados pela 
Bioética ressaltam a complexidade do objeto de seu trabalho: a experiência humana e suas 
dimensões éticas e morais. Dificilmente apenas um dos modelos (ou paradigmas) consegue 
analisar, explicar e propor resoluções para tantas e díspares situações que envolvem a 
humanidade e a sua evolução científica e tecnológica. 
Isso é facilmente percebido no cotidiano das profissões da área de saúde. Como 
garantir os princípios bioéticos em situações limites, tais como a definição do momento da 
morte e doenças terminais? E em situações novas que surgem velozmente com o avanço das 
ciências médicas tais como o que fazer com o diagnóstico de doenças através de ultrassom, 
mapeamento genético e exames sanguíneos ainda durante a gravidez? Até que momento e 
condições deve ser prolongada a vida? E o direito dos indivíduos? Um médico pode se recusar 
a atender um paciente que por motivos religiosos tome a decisão de não se submeter a uma 
tecnologia disponível, como por exemplo, a transfusão de sangue? Em que situações um 
paciente pode ser submetido a um tratamento medicamentoso experimental? 
Atualmente, termos como acolhimento, humanização do atendimento à saúde, 
empoderamento do paciente, co-responsabilização, empatia, gerenciamento de risco, são 
cada vez mais utilizados e enfatizados na prática diária. Tais conceitos surgiram no contexto 
da Bioética. E essa constatação demonstra que todos os aqueles que se relacionam no âmbito 
da saúde, médicos, farmacêuticos, nutricionistas e tantos outros, são destinatários das 
preocupações e do discurso dessa nova ciência. 
 
 
 
 
 
 
 
LEITURA 
HENRIQUES RODRIGUES, R.D. Bioética em la formación del profisional farmacêutico. 
Rev. Cubana Farm., Ciudad de La Habana, v. 40, n.3, dic. 2006. Disponível em 
http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75152006000300010. 
Acesso em 12 fev. 2012 
 
 
 
 
 
FILME 
 
O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener) – EUA, 2005 . 
Direção: Fernando Meirelles 
 
 
 
 
Material Complementar 
 
 
 
 
 
 
 
 
BARROCO, l. Ética e sociedade. Brasília: CFESS, 2003. 
 
BOFF, L. Ética e moral: a busca dos fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2003. 
 
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2008. 
 
FORTES, PAC; ZOBOLI, ELCP (org). Bioética e Saúde Pública. São Paulo: Edições 
Loyola, 2003. 
 
GALLO, S. (coord.) Ética e cidadania: caminhos da filosofia. 11. ed. Campinas: Papirus, 
2003. 
 
PESSINI, L; BARCHIFONTAINE, C.P. Problemas atuais de bioética. 8 ed. São Paulo: 
Edições Loyola, 2007. 
 
Potter, V. R. Bioethics: Bridge to the future. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1971 
 
SEGRE, M; COHEN, C (org) Bioética. São Paulo: Edusp, 1995. 
 
SILVA, G.C.; CALDAS, C.P. Aspectos éticos da abordagem contemporânea do 
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Referências 
 
 
 
 
 
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