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Resenha do método de Kant

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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Docente: Luiz Cláudio L. F. Gonçalves
Discente: Fernando Gonçalves de Souza Neto 
Disciplina: Introdução à Filosofia
Curso: Letras Modernas
 Resenha 
KANT, Immanuel. Introdução. In:______(Org.). Prolegómenos a toda a metafísica futura. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 11-22.
 No capítulo “Introdução” do livro Prolegómenos a toda a metafísica futura, Immanuel Kant começa afirmando que o uso dos prolegómenos tem por objetivo a busca pela invenção da ciência, e que não deve ser usado para a manutenção do conhecimento científico instaurado. Ou seja, o conhecimento científico deve ser renovado, questionado e buscado, deixando de lado a estagnação. Dessa forma, Kant questiona alguns conceitos da metafísica enquanto ciência – se ela é possível –, e levanta a possibilidade de uma renovação completa do conceito de metafísica. Ele ainda afirma que essa renovação só será alcançada se certas condições, por ele levantada, forem seguidas.
 É clara a querela entre antigos e modernos no capítulo introdutório. Kant se posiciona no lado querelante moderno ao descontruir e questionar os conceitos científicos defendidos pelos historiadores filosóficos (aqueles que usam unicamente o conhecimento do passado, e não vislumbram o novo; os antigos). O autor acredita que o leitor que compactue com sua tese, irá questionar o conhecimento cientifico que possuíra, e buscará essa nova concepção de metafísica, uma vez que o interesse da razão universal levará à reformulação da metafísica. Kant ainda alerta para as dificuldades que o leitor encontrará, e que mesmo que as oposições e resistências dos antigos sejam muitas, em algum momento o nascimento da metafísica acontecerá.
 Segundo Kant, um dos principais responsáveis por ter lhe incitado uma nova visão em seus estudos e investigações no campo da filosofia especulativa, foi David Hume. De acordo com Kant, Hume não trouxe nenhum esclarecimento para o assunto metafísica, contudo os seus ataques à essa “ciência” foram responsáveis por desencadear todos os questionamentos e investigações acerca desse assunto. Hume usa do conceito de causa e efeito para apontar certas incoerências. Ele questiona como seria possível a razão explicar que uma coisa pode partir de outra coisa; de que se algo existe, necessariamente outra coisa deva existir. Para Kant, Hume consegue provar a insuficiência do conceito de metafísica da época, ao afirmar que a razão não seria suficiente para sustentar essa conexão da existência das coisas, e que seus conceitos e conhecimentos seriam produtos da imaginação e de experiências. Eis que surge a ideia de imaginação transbordante, um indivíduo acredita que algo será de determinada forma por ter vivenciado algo parecido anteriormente.
 O autor defende que apesar de alguns problemas na conclusão de Hume (a presa seria um deles), o real motivo que impediu que as suas ideias fossem levadas à frente, e consequentemente a metafísica problematizada, foi a falta de intelectuais que compartilhassem dos questionamentos de Hume. Era muito mais fácil contestar as ideias de Hume e apelar para o senso comum como saída, do que se aprofundar no que foi proposto por ele, e assim contribuir para a reformulação dos conceitos.
 Kant se apresenta como aquele que decidiu se aprofundar nas ideias de Hume. Em um primeiro momento, ele busca complementar os estudos de Hume e solucionar o que ele chama de problema humiano. Ao concluir essa primeira etapa, Kant se vê pronto para buscar o que a metafísica necessitava para ser constituída como sistema com um plano certo. Para ele, o que faltava para formalizar a metafísica, era determinar o campo universal da razão pura, tanto em suas limitações quanto em seu teor.
 Durante suas constatações, Kant enfrentou os mesmos problemas que Hume. A “Crítica da Razão Pura” não se interessaria por compreender os estudos de Kant, por entender que sua tese seria complexa e obscura (o mesmo que acontecera com Hume). Por sua vez, Kant alerta o leitor que a Crítica usa sempre do hábito de buscar conhecimentos passados, e readaptá-los para usar como argumentos, coisa que não levaria a lugar algum. E que o caminho correto seria o uso dos seus prolegómenos, uma vez que eles conduziriam a descoberta de uma nova ciência. Mais uma vez, fica claro a presença da querela no discurso de Kant.
 Por fim, Kant conversa com o leitor, afirmando que é inconcebível o ato de querer ser o que ele chama de “gênio criador”, alguém que se propõe a tentar explicar as coisas sem embasamento racional, e ao mesmo tempo, censurar aqueles que buscam respostas às convenções. De forma mais direta, Kant instaura o seu método analítico, que segundo ele, será o responsável para auxiliar na busca do discernimento da metafísica. E ainda, lança uma indireta contra os que insistirem na obscuridade do método: que procurem estudar uma área além da metafísica.
De forma geral, o capítulo introdutório da obra de Kant consegue deixar clara a sua mensagem. O modo como o autor dialoga, explicando o seu posicionamento quanto as formas de entendimento da ciência e suas pretensões para com a metafísica, permite que o leitor deslinde algo que outrora estava obscuro com Hume (ou como Kant afirma, “incompleto”), e que ele consiga se desprender dos métodos antigos, buscando assim os conhecimentos científicos, como a nova concepção de metafísica por meio de seus prolegómenos.

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