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Resenha de Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem de Oracy Nogueira Por Vinicius Becker de Souza Este texto expõe a inovação proposta por Nogueira a teoria das relações raciais no Brasil. Até então, o discurso hegemônico em nosso país era de que não havia preconceito de cor, muito pelo contrário, a sociedade brasileira buscava a integração do e a defesa das minorias negra e indígena. O argumento de nosso autor começa diferenciando a colonização europeia no Brasil e nos Estados Unidos. Pois foi a expansão da civilização europeia que gerou os problemas mais sérios de relações inter-raciais – que se dão, de uma maneira genérica, entre brancos e não-brancos. O regime de plantation aplicado a produção agrícola na América foi responsável por hierarquizar as relações sociais entre senhores e escravos, traçando uma linha de cor que proporcionou o surgimento de sociedades multirraciais. A concentração fundiária em poucas mãos foi elemento fundamental para caracterizar nossa sociedade tal como a vemos hoje. E os estereótipos que os brancos europeus tinham dos não-brancos se cristalizou na cultura nacional. È a partir deste pano de fundo que o autor irá diferenciar os dois tipos de preconceito, sendo que ambos são igualmente prejudiciais ao negro, afetando sua mobilidade social e dificultando a integração. O autor contesta a opinião generalizada em seu tempo de que não havia preconceito de cor no Brasil. Para isso, Nogueira constrói dois tipos ideais de preconceito, baseado em dois exemplos de situações de interação racial: o preconceito de marca (associado ao Brasil) e o preconceito de origem (associado aos Estados Unidos). Sendo tipos ideais na concepção weberiana, são casos extremos, dos quais a realidade se aproxima mais a um ou a outro polo. Onde existe o preconceito de marca, há uma preterição do indivíduo de cor negra, que sempre se vê em desvantagem quando existe um branco nas mesmas condições. É uma forma de discriminar a aparência racial, do ponto de vista estético, mas que permite que aconteça relações pessoais entre os indivíduos. Por isso seu discurso é o da assimilação, através da miscigenação (“branqueamento”). A cultura nacional se sobrepõe a raça, favorecendo aquelas minorias que buscam integração com a sociedade, o que leva os brancos a controlarem seu comportamento e os negros a reagirem somente quando diretamente atingidos por um ato racista – e de maneira individual. Quando há grande concentração de negros em uma mesma região o preconceito se atenua. E o que se torna mais evidente é o preconceito de classe, o que transforma a luta do negro em uma luta de classes. Já onde existe o preconceito de origem a situação se inverte. A exclusão do negro é incondicional, pois acredita-se que as características negativas da raça são hereditárias, transmitidas “pelo sangue”, o que gera um ódio intergrupal – portanto muito mais emocional. São impostos tabus e sanções negativas nas relações interpessoais, que não permitem a relação entre brancos e não-brancos. No entanto, as minorias que se mantém endogâmicas e etnocêntricas são mais respeitadas. É o grupo dominado que tem que controlar seu comportamento em público, sofrendo qrave retaliação caso não haja segundo certos critérios. Assim o indivíduo tem uma consciência contínua do preconceito que sofre, gerando uma reação coletiva ao mesmo. O preconceito se agrava nas regiões e situações em que há uma maioria negra. Ou seja, os grupos estão rigidamente separados, como se fossem “castas” - sendo o negro uma minoria nacional coesa que atua em conjunto. Nogueira conclui que o preconceito racial é constituinte do ethos, do modo de ser institucionalizado pela sociedade – enquanto disposição desfavorável aos indivíduos estigmatizados pela cor de sua pele e que pertencem a esta mesma sociedade. O autor tem o mérito de ser o primeiro a sistematizar o conteúdo disperso sobre um tema em um modelo, criando uma terminologia específica, e permitindo um maior aprofundamento no estudo das relações raciais no Brasil.
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