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Capítulo 2 INTRODUÇÃO Todos os exercícios impõem aos músculos maior de-manda de energia. Quando os músculos são incapazes de atender essa demanda, a tarefa do exercício não pode ser realizada. Se a intensidade do exercício for alta, ou sua duração prolongada, o fornecimento da quantidade de energia adequada pode ser difícil. Tal disfunção ocasio-na a fadiga. Em atividades simples, como correr ou na-dar, a taxa de solicitação de energia constitui uma função da velocidade. Já o tempo durante o qual determinada velocidade pode ser mantida antes do surgimento do pro-cesso de fadiga é inversamente proporcional à velocida-de. Na maioria das situações esportivas, no entanto, a in-tensidade do exercício e, conseqüentemente, a demanda de energia, não é constante. Por exemplo, jogos como futebol ou tênis envolvem curtos períodos em que há esforço de alta intensidade intercalados com períodos va-riáveis de descanso ou de exercício de baixa intensidade. Mesmo em esportes como corrida e ciclismo, a demanda de energia varia de acordo com as mudanças no ritmo ou em outros fatores, entre eles resistência do vento ou topografia do percurso. Os músculos estão adaptados e podem ser treinados para atender às várias demandas da melhor forma possível. Em virtude do grande número de exigências a que estão submetidos, não é surpreen-dente a utilização de variadas estratégias para atender tais exigências. Combustíveis necessários para o músculo A energia possibilita as celulas musulares a realização do trbalho . Ela somente pode ser usada na forma de ATP . Todos os processos musculares que dependem de energia sao ativados pela energia lançada quando o ATP é convertido em ADP com a liberação de um grupo fosfato inorgânico (PO43-, P5); isso se aplica aos processos de bombeamento que mantêm os gradientes de íon nas membranas musculares e aos meca-nismos contráteis que fazem o músculo "se mover". Existe apenas uma pequena quantidade de ATP nas células musculares, cerca de 5 mmol/kg. Isso equivale a aproximadamente 3,4 g; portanto, nos 20 kg do sistema musculoesquelético de um homem jovem saudável há um total de 70 g de ATP. A maioria das atividades, no entanto, utilizam apenas uma parte do total da massa muscular, muito menos do que o disponível. Nunca acon-tece de o conteúdo de ATP do músculo cair para um valor abaixo de um terço. Mesmo se ele chegasse a zero, a quantidade de energia disponível seria muito pequena, suficiente apenas para um segundo de exercício de in-tensidade máxima. Já que o conteúdo é tão pequeno e precisa ser mantido, o ATP presente no músculo não pode ser considerado uma reserva de energia. Reservas de ATP suficientes para suportar o exercício por mais de uns poucos segundos imporiam uma carga de peso insupor-tável. O músculo realmente dispõe de uma segunda fon-te de energia prontamente disponível na forma de CP —(recline phosphate (fosfato de creatina), presente na célula muscular, em concentração aproximadamente três a qua-tro vezes maior do que a do ATP (Figura 2.1). Enquanto o conteúdo muscular de ATP é estritamente regulado, o de CP pode cair para quase zero após poucos segundos de exercício máximo. A ressíntese de ATP a partir do ADP por meio da transferência de um grupo fosfato do CP é catalisada pela enzima creatina quinase em uma reação extremamente rápida. Ess. mecanismos podem forne-cer energia muito rapidamente e, portanto, dar suporte à liberação de grande quantidade de energia. Sua capaci-dade. porém, é limitada — não é possível sustentar um nível alto por muito tempo (Tabela 2.1). Para exercícios mais prolongados, deve ser usado um combustível alternativo. 2 minutos para atingir seu valor máximo. A taxa máxima de fornecimento de energia do sistema aeróbio paru 0 exercício também é bastante baixa em relação às taxas dr demanda de energia em exercícios de alta intensidade (Tabela 2.21•Já a duração da atividade de intensidade má-xima é drasticamente limitada, pois a fadiga surge logo. Estudos sobre músculos de animais impedidos de reali-zar a ressíntese de ATP mostram que a quantidade do trabalho realizável é muito pequena — somente cerca de três contrações normais são possíveis sob asas condi-ções. No entanto, a atividade máxima da enrima creatina quinam, que transfere utn grupo fosfato do fosfato de creatina (CP) para o ADP, resultando na ressintese do ATP, é maior do que a ATPase que catalisa a quebra de ATP em ADP. Isso garante que o conteúdo de ATP do músculo permaneça alto desde que haja CP adequado disponível. Somente quando o conteúdo de CP cai para menos da metade do valor registrado no repouso, toma-se aparente a queda no nível dc ATP. Sc apenas algumas poucas contrações musculares estiverem envolvida, e a duração do exercício não for superior a um ou dois se-gundo, toda a energia exigida será fornecida por emas fontm. No período pós-exercício, o conteúdo de ATP e de CP nos músculos retorna ao nível normal dentro de poucos minutos. A energia utilizada para ressíntese deri-va do metabolismo oxidativo. Quando a duração do exercício é aumentada para uns poucos (5 a 10) segundo, observam-se quedas significa-tivas no conteúdo de C, de ATP dos músculos. Ante-riormente, pensava-se que nenhum lactato era produzi-do em exercícios cum duração inferior a 10 segundos, mas foi demonstrado que o sprimem uma distincia de 40 metros (em aproximadamente cinco segundos) causa grande aumento no conteúdo dc lactato dos músculos quadríceps. Nesse estudo, não foi registrada alteração no conteúdo de ATP dos músculos, mesmo quando a distancia da corrida em alta velocidade estendia-se por 100 in. O conteúdo de CP dos mtlsculos caiu significati-vamente após 40 m dc sprint, mas não continuou a cair quando a distincia foi aumentada, o que indica que a quebra de CP não contribuiu para o fornecimento de energia nesse estágio. Em uma tarefa cíclica máxima com duração de 30 segundo, a quebra de CP e a formação de lactato pela glicólise contribuem, quase na mesma medi-da, para a demanda total de energia durante os primeiros seis segundos do exercício. Somente cerca de 35% do conteúdo de CP dos Imiscui.. usados nos primeiros seis segundos do exercício: uma substancial contribui-ção posterior é feita ao longo d. próximos 24 segundo, durante os quais a potência da largada diminui progres-sivamente. O conteúdo de ATP dos músculos permane-ce praticamente inalterado após seis segundos, mas cai quase pela metade no final do período de 30 segundos. Grandes quantidades de glicogénio sio usadas, com re-duções de cerca de 16% do valor de repouso após seis segundos e 30% ap. 30 segundos. Essas descobertas sugerem que as principais demandas da reserva de glico-génio muscular são feitas durante sessões de treitumen-to que consistem em múltiplos sprints curtos. A taxa de fornecimento de energia por meio da glico-genólise normalmente não é limitada polo disponibilida-de de glicogénio no músculo. Mesmo no caso de exerci-cios máximos, grandes quantidades dc glicogénio permanecem nos músculos no momento Lia fadiga. No entanto, se forem executados sprints remidos, o conte, do de glicogénio dos museu!os será reduzido. Em parti-cular, as fibras musculares do Tipo Ilx, que tim alta ca-pacidade de redução da glicogenolise, podem perder a maior parte de seu glicogénio. Quando isso acontece, a habilidade de sprimfien seriamente prejudicada. Portan-to, antes do exerckio, é importante garantir que os mús-culos tenham reservas adequadas de glicogénio. Sc hou-ver previsão de realização de treinamento ou competi,. de alta intensidade em vátios dias consecutivos, a reposi-ção dessas reservas por meio da ingestão de alimentação rica em carboidratos é essencial para garantir o desem-penho ótimo. A necessidade dealta ingestão de CHO é bem aceita entre . atletas dc resisténcia, mas sprinters c jogadores geralmente não reconhecem que as reservas de glicogénio dos músculos podem ser substancialmen-te depletadas durante o treinamento e competições. Por isso, devem ser repostas. Sabe-se, de longa data, que a velocidade máxima al-cançada por um sprinter de elite com, a declinar no final da corrida de 100 m c em testes máximos no ciclocrOme-tro, o pico da poténcia de largada é observado em 1 a 3 segundos após o inicio do exerc.°. Agora, as razões desse fato tomaram-se evidentes. Na fase inicial de acckração, a maior pane da energia é derivada da quebra de CP; apuís uns poucos segundo, o conteúdo de CP do músculo cai até o ponto em que 3 Usa dc ressintese do ATP por esse mecanismo não pode sa sustentada. Ou ase imediatamente, durante o exercício, a taxa da glicólise aumenta drastica-mente, mas a taxa máxima de produção dentel, perma-nece menor do que a que pode ser alcançada pela transfe-rencia dos gnipos fosfates do CP (Tabelas 2.1 c 2.21• Na maioria dos jogos de campo, como o futebol, o padrão da atividade consiste em sprirm que não duram mais de poucos segundos (tipicamente 1 a 2 segundos), seguidos dc recuperação. Durante essas expio.es de alta intensidade, a maior parte da energia é fornecida pelo CP; nesse caso a glicólise contribui mais à medida que a distancia aumenta ou quando não há recupera-ção completa em relação ao sprinl anterior. A rcsráttesc do CP após o exercício costumava ser registrada como compl. dentro dc poucos minutos após o trabalho. A manipulação dos padrões de dieta e exercício pode fazer com que o conteúdo de glicogénio do fígado e do músculo varie enormemente. Além de suas reservas de glicogénio, o figado pode liberar a glicose produzida no processo de gliconcogénese, no qual a glicose é sinteti-zada a partir de outros substratos, como lactato e mino-ácidos c glicerol derivado dos triglicerídeos. Embora o processo seja relativamente dispendioso em termos de energia —12 moléculas de ATP são necessárias para cada molécula de glicose produzida —, a gliconeogénese pode ser responsável por mais da metade da glicose liberada pelo ligado em algumas situações c paniculasnente im-portante nos exercícios prolongados, no caso de reserva de glicogènio do ligado sofrer redução. O fornecimento dos precursores gliconcogénicos geralmente aumenta durante os exercícios e em casos de inanição. Eis duas das situações em que é necessário disponibilizar uma quantidade extra de carboidrato. Nem todo o lactato produzido pelas libras muscula-res ativas é usado pelo ligado para a gliconcogênese. Embora o músculo seja geralmente um produtor de lac-tato, ele também tem alta capacidade de oxidação dessa substãnda. As células musculares do coração são excep-cionalmente eficientes na tarefa de usar o lactato como combustível para fornecimento de energia, mas o siste-ma musculoesquelético, especialmente as fibras muscu-lares do Tipo I, também podem realizar essa função. Durante muitos exercícios, o lactato produzido por um músculo que esteja trabalhando com alta intensidade é absorvido e oxidado por ou. músculo. Isso também pode acontecer dentro de um mesmo músculo: o lactato liberado por uma fibra muscular pode ser absorvido e usado como combustível para oxidação por outra fibra dentro do mesmo músculo sem nunca chegar à corrente sangüínea. 1.° depende das características bioquímicas das fibras musculares, que determinam as capacidades relativas para produção e oxidação de lactas, e dos pa-drões de recrutamento das fibra. O significado da com-posição da fibra muscular para o desempenho no exercí-cio e para a utilização do substrato é explicado mais detalhadamente no Comentário do Especialista 2.1. O músculo também tem a capacidade de obter ener-gia a partir da oxidação da gordura em fossos de ácidos gr.. !NTes derivados de triglicerídeos: cada molécula de triglicerideo pode ser quebrada para liberar três molé-culas dc addos graos e uma de glicerol. O corpo arma-zena grand.quantidad. de niglieerídeos no tecido adi-poso e em volume muito menor, no interior das próprias células musculares. Mais uma vez. a grandeza dessas re-servas varia bastante entre os indivíduos, embora, ao con-trário das reservas de carboidrato do cor, elas não se-jam suscetíveis a grandes mudanças de curso prazo. Os ácidos graxos livres liberados do tecido adiposo são trans-portados paro o músculo no plasma e ligam-se à albumi-na. Dentro das células musculares, os ácidos graxos são oxidados em Bióxido de carbono c água. A taxa de pro-dução de energia por meio da oxidação da gordura, no entanto, é muito menor do que aquela que pode ser al-cançada pela oxidação dos carboidrat.. A quantidade de energia liberada por unidade de oxigénio consumida também é menor para a gordura (19,7 kl& 0,-114,9 kcal/ 1. 0,1) do que para o carboidrato (21,4 k111. 0,-.)5,35 kcall 0,1). Traduzida em termos de maratona, essa di-ferença pode ser altamente significativa. Um corredor dc 70 kg que complete a corrida cm aproximadamente 21.130min precisa de uma potência de cerca de 80 kl/min (20 kcal/min) durante todo o percurso. Se a oxidação do carboidrato (C110 — carbohydraie oxidariam) fornecer toda a energia necessária, o consumo de oxigénio será dc apro-ximadamente 3,74 IJmin. Por outro lado, um consumo de oxigênio da ordem de 4,06 Um in seria necessário caso a oxidação da gordura fornecesse toda a energia. Partin-do de uma suposta absorção máxima de oxigênio de 5 L/ mito, a oxidação C110 exigiria que o corredor utilizasse 75% de seu máximo, enquanto seriam necessários 81% se a gordura fosse o único combustível. A principal van-tagem do uso da gordura como combustível é a extrema eficiência de sua forma de armazenagem — ela é liberada aproximadamente em 38 lç(Ig (9 1.110; e o cuboidrato, em 16 0/g (4 kcal/g). Cada grama de CII0 armazenado também retém alguma água adicional em razão de seu efeito osmótico, o que provoca posterior diminuição da eficiência ou da"capacidade de compactação" do CHO como reserva energética. O guio energético de correr uma maratona é de aproximadamente 12.000 kl (3.000 kcal); se esse gasto for coberto apenas pela oxidação das gordura, a quantidade total de gordura necessária será de 320 g. Por outro lado, seriam necessárias 750 g de Cl 10 c água assodada adicional (algo em torno de 2 kg) caso a oxidação do CII0 fosse a única fonte dc energia. Deixando de lado considerações sobre o peso 3 ser car-regado, essa quantidade de Cl 10 excede a quantidade total normalmente armazenada no fígado c n. múscu-los. A capacidade total de armazenamento de gordura é extremamente grande. Na maioria das situações, a quan-tidade de energia armazenada na forma de gordura exce-de em muito a demanda de qualquer exercido (Tabela 2.3). Todos estes combustíveis são usados pelo músculo para produzir energia durante o exercício, mas a propor-ção na qual ele contribui para o total de energia gasta dependerá de diversos fatores incluindo a intensidade e a duração do exercício, o estado nutricional e as caracte-rísticas bioquímicas e fisiológicas d. indivíduo. Mais recentemente, porém, foi mostrado que o conteú-do de CP dos músculos somente retoma ao nível inicial 60 minutos após um exercício de alta intensidade, no qual a exaustão tenha sido alcançado após cerca de très mi-nutos. À for executado um segundo de sprút antes da recuperação dos níveis de CP, a velocidade c a duração podem sofrer redução. O retorno aos níveis anterior. de CP, durante a recuperação, não sofrerão atraso, caso o exeiríci o seja de baixa intensidade, embora isso aumente a demanda de energia total dos músculos. À medida que o exercício sc prolonga, contiibuição da glicélisepara a produção de energia também aumen-ta, levando a uma acumulação de lactato, como produto final, no músculo e no sangue. Em exercícios com dura-ção entre 10 segundos e 2 A 3 minutos, a gliálise anae-róbia é a fonte mais importante de enegia, Etn eventos ais) o metabolismo oxidativo tornn-se gradual-mente mais Importante (Tabela 2,4). Quando n duração do exercício excede 2 a 3 minutos, os processos aeróbios fornecem mais da metade da energia total exigida.. eventos mais curtos, a maior parte do combustível é tis, da na fonna do glicogênio dos músculos, mas a glicose derivada do sangue tomn-se mais importante à medida que a duração da atividade aumenta. No pl existente no músculo, o ácido kírie° fonnado pela glicdlise dissocia-se quase que completamente para fonnar o âion do lactato carregado negativamente e o próton (um fon de hidrogénio carregado positivamente, I I.). Alguns desses pnStons são armazenados no múscu-lo e outros deixam o músculo, mas se o exercício for su-ficientemente intenso e prolongado, acumulação de pátons faz com que o pl I intramuscular caia. Isso pode reduzir a taxa de produção de energia por meio da glieó-lise corno resultado da inibição da fosfofnuoquinase (PM( — phosphofrudokinase), uma das enzimas-chave, embora outras altera,. nos músculos estimulem a atividade da PFK. Tal ação também pode interferir mais diretamente no processo contrátil no interior do músculo. No entan-to, seja qual for o mecanismo envolsido, o resultado final é uina sensação subjetiva de fadiga c incapacidade de continuar o exercício. Um dos efeitos mais impressionantes treinamen-to de resistência é o aumento da taxa de realizaçáo do trabalho antes que ocorra acumulação significativa de lactato c À prótons nos músculos c no sangue. Uma velocidade de corrida que, em indivíduos não-treinados, resulte em alta taxa de glicólise anaeróbia com sua res-pectiva produção de lactato, em queda do pl 1 dos mús-culos e em fadiga pode ser atingida, por indivíduos uri-nados, com pouca ou nenhuma gliálise anaeróbia (Figura 2.2). ULTILIZAÇÃO DOS SUBSTRTOS EM EXERCÍCIOS PROLONGADOS Durante exercícios prolongados com veloddade cons-tante, o másculo depende quase inteiramente do meta-bolismo de oxidação para produzir energia. A exceção está nos primeiros minutos do exercício, quando o me-tabolismo anaeróbio contribui para a produção de ener-gia até um estado mais ou menos regular de consumo de oxigênio a ser atingido. Na situação competitiva, é claro, a intensidade do exercício raramente é constante, e o me-tabolismo anaeróbio pode ser exigido durante corridas prolongadas com pr.ença de explosões táticas durante o evento, subidas fortes ou sprints de chegada.. mui-tos jogos, a duração total do exercício gira em tomo de 90 minutos; a absorção de oxigênio normalmente sofre elevação durante esse período, mas a demanda imediata de energia para as pequenas explosões curtas silo atendi-das pelo metabolismo anaeróbio. O metabolismo oxidati-vo fornece energia para a ressíntese do AT, do CP e para a remoção do lactato durante os períodos de Reuperação. Fatores fisiológicos que afetam o metabolismo durante os exercícios A capacidade de executar exercícios e a resposta me-tabólica variam bastante de um indivíduo para outro. Muitos fatores contribuem para essas diferenças, parti-cularmente visíveis em atletas de elite. A chave de um sprint bem-sucedido é a habilidade de gerar alta potência de largada. Os velocistas de elite apresentam grande massa muscular e capacidade de produção de energia anaeró-bia altamente desenvolvida. Os músculos de atletas de resis0ncia não são desenvolvidos, mas têm grande capa-cidade de metabolismo aeróbio. Esses atletas também têm um sistema cardiovascular extremamente eficaz na tare-fa de fornecer oxigênio aos tnúsculos. A medição do con-sumo máximo de oxigênio (:10,máx.) mostra que os ve-locistas geralmente atingem valores pouco superimes aos alcançados por indivíduos não-treinados, enquanto o VO,nuix. de atletas de resistência pode chegar a duas vezes mais. A resposta fisiológica e bioquímica ao oca, ci o é determinada, em grande parte, pela fração do VO,máx. do indivíduo no exercício. Correr a uma velo-cidade que requer 100% de /02ntáx. de ut, indivíduo sedentário pode exigir menos de 50% do VO,Imix, de utn corredor de distancia. Nos esportes em que a técnica é imponantc, tais como natação ou esqui cross-coantry, as diferenças entre o competidor de elite e o novato são ainda mais marcantes. Se, por um lado, a fadiga ocorre poucos minutos após o inicio do exercício que exige 100% de VO2mOx., o exercício realizado com 50% do ,702miix. apresenta um nível razoavelmente confortável de esfor-ço, que pode ser prolongado por várias horas. A resposta metabólica ao exercido também é inflo enciada pelas características bioquímicas dos músculos que executam o trabalho. Embora o músculo geralmen-te seja considerado um tecido homogêneo, as fibras do sistema musculoesquelético podem ter diferentes pro-priedades bioquímicas c contráteis. As fibras muscula-r. do Tipo I etn geral sai chamadas de oxidativas ou de contração lenta, enquanto as do Tipo II, de glicolíti-cas ou de contração rápida (ver Comentário do Especia-lista 2.1). Apesar de parecerem mais úteis, as classifica-ções baseadas na velocidade de contração dos músculos ou nas atividades das enzimas podem, na verdade, indu-zir a erros. 'rodas as fibras do Tipo II tem capacidade gli-colftica relativamente alta, mas algumas delas, as do 'I'ipo lla, também têm capacidade oxidativa. Até mesmo pode ser maior do que a das fibras do Tipo I. As fibras do Tipo II, antigamente chamadas de fibras do Tipo Ilb, apresen-tam capacidade oxidativa baixa c unta alta capacidade gli-colítica. As fibras do Tipo I recebem bons suprimentos de sangue por causa do grande número de capilares ao redor de cada uma delas; também dispõem de alta capa-cidade , oxidar uma série de substratos, inclusive o glicogênio, a glicose do sangue, o lactato e as gorduras. As fibras musculams estão organizadas em unidades motoras. Todas as fibras de uma unidade motora perten-cem ao mesmo tipo e são servidas pelo mesmo nervo. Por essa ralo, são ativadas simultaneamente. O padrão de recrutamento da fibras musculares 0 determinado pelo esforço exigido e organizado de tal forma que as unidades motora compostas de fibras do Tipo I são re-crutadas primeiro. Somente as unidades motoras sufi-cientes para realizar a tarefa são ativadas. Em exercícios de baixa intensidade, isso pode ser alcançado pela ativa-ção de algumas fibras do Tipo 1, sem envolvimento das do Tipo Il. Para o caso de a tarefa exigir muita força, as fibras do Tipo II também são recrutadas (ver Comentá-rio do Especialista 2.1). Dessa forma, os padrões do tnetabolistno dos subs-tratos observado durante os exercícios podem ser expli-cados, em grande parte, pelas características bioquitnicas das fibras musculares e por seus padrões de recrutamen-to. As características bioquímicas das fibras musculares podem ser modificadas pelos padrões de uso ou desuso impostos sobre elas, mas as velocidades de contração são relativamente fixas. O trcinatnento de resistência tem o efeito de aumentar a capacidade de todos os tipos de fi-bras musculares para o metabolkmo oxidativo e pode levar as fibras do Tipo 11 de indivíduos bem-treinados a dotarem-se de uma capacidade cie oxidação maior do que as fibras do Tipo 1 de um indivíduo sedentário. Utilização de substratos em exercícios de alta intensidade Na transição do descanso para o exercício máximo, a taxa de movimentação de energia nos músculos exigidos pode ser mil vezes maior. O fomedtnento de oxigênio para os músculos que realizam o trabalho aumenta, betn lentamente, apenasno começo do exercido e leva de 1 a 2 minutos para atingir seu valor máximo. A taxa máxima de fornecimento de energia do sistema aeróbio paru 0 exercício também é bastante baixa em relação às taxas dr demanda de energia em exercícios de alta intensidade (Tabela 2.21•Já a duração da atividade de intensidade má-xima é drasticamente limitada, pois a fadiga surge logo. Estudos sobre músculos de animais impedidos de reali-zar a ressíntese de ATP mostram que a quantidade do trabalho realizável é muito pequena — somente cerca de três contrações normais são possíveis sob asas condi-ções. No entanto, a atividade máxima da enrima creatina quinam, que transfere utn grupo fosfato do fosfato de creatina (CP) para o ADP, resultando na ressintese do ATP, é maior do que a ATPase que catalisa a quebra de ATP em ADP. Isso garante que o conteúdo de ATP do músculo permaneça alto desde que haja CP adequado disponível. Somente quando o conteúdo de CP cai para menos da metade do valor registrado no repouso, toma-se aparente a queda no nível dc ATP. Sc apenas algumas poucas contrações musculares estiverem envolvida, e a duração do exercício não for superior a um ou dois se-gundo, toda a energia exigida será fornecida por emas fontm. No período pós-exercício, o conteúdo de ATP e de CP nos músculos retorna ao nível normal dentro de poucos minutos. A energia utilizada para ressíntese deri-va do metabolismo oxidativo. Quando a duração do exercício é aumentada para uns poucos (5 a 10) segundo, observam-se quedas significa-tivas no conteúdo de C, de ATP dos músculos. Ante-riormente, pensava-se que nenhum lactato era produzi-do em exercícios cum duração inferior a 10 segundos, mas foi demonstrado que o sprimem uma distincia de 40 metros (em aproximadamente cinco segundos) causa grande aumento no conteúdo dc lactato dos músculos quadríceps. Nesse estudo, não foi registrada alteração no conteúdo de ATP dos músculos, mesmo quando a distancia da corrida em alta velocidade estendia-se por 100 in. O conteúdo de CP dos mtlsculos caiu significati-vamente após 40 m dc sprint, mas não continuou a cair quando a distincia foi aumentada, o que indica que a quebra de CP não contribuiu para o fornecimento de energia nesse estágio. Em uma tarefa cíclica máxima com duração de 30 segundo, a quebra de CP e a formação de lactato pela glicólise contribuem, quase na mesma medi-da, para a demanda total de energia durante os primeiros seis segundos do exercício. Somente cerca de 35% do conteúdo de CP dos Imiscui.. usados nos primeiros seis segundos do exercício: uma substancial contribui-ção posterior é feita ao longo d. próximos 24 segundo, durante os quais a potência da largada diminui progres-sivamente. O conteúdo de ATP dos músculos permane-ce praticamente inalterado após seis segundos, mas cai quase pela metade no final do período de 30 segundos. Grandes quantidades de glicogénio sio usadas, com re-duções de cerca de 16% do valor de repouso após seis segundos e 30% ap. 30 segundos. Essas descobertas sugerem que as principais demandas da reserva de glico-génio muscular são feitas durante sessões de treitumen-to que consistem em múltiplos sprints curtos. A taxa de fornecimento de energia por meio da glico-genólise normalmente não é limitada polo disponibilida-de de glicogénio no músculo. Mesmo no caso de exerci-cios máximos, grandes quantidades dc glicogénio permanecem nos músculos no momento Lia fadiga. No entanto, se forem executados sprints remidos, o conte, do de glicogénio dos museu!os será reduzido. Em parti-cular, as fibras musculares do Tipo Ilx, que tim alta ca-pacidade de redução da glicogenolise, podem perder a maior parte de seu glicogénio. Quando isso acontece, a habilidade de sprimfien seriamente prejudicada. Portan-to, antes do exerckio, é importante garantir que os mús-culos tenham reservas adequadas de glicogénio. Sc hou-ver previsão de realização de treinamento ou competi,. de alta intensidade em vátios dias consecutivos, a reposi-ção dessas reservas por meio da ingestão de alimentação rica em carboidratos é essencial para garantir o desem-penho ótimo. A necessidade de alta ingestão de CHO é bem aceita entre . atletas dc resisténcia, mas sprinters c jogadores geralmente não reconhecem que as reservas de glicogénio dos músculos podem ser substancialmen-te depletadas durante o treinamento e competições. Por isso, devem ser repostas. Sabe-se, de longa data, que a velocidade máxima al-cançada por um sprinter de elite com, a declinar no final da corrida de 100 m c em testes máximos no ciclocrOme-tro, o pico da poténcia de largada é observado em 1 a 3 segundos após o inicio do exerc.°. Agora, as razões desse fato tomaram-se evidentes. Na fase inicial de acckração, a maior pane da energia é derivada da quebra de CP; apuís uns poucos segundo, o conteúdo de CP do músculo cai até o ponto em que 3 Usa dc ressintese do ATP por esse mecanismo não pode sa sustentada. Ou ase imediatamente, durante o exercício, a taxa da glicólise aumenta drastica-mente, mas a taxa máxima de produção dentel, perma-nece menor do que a que pode ser alcançada pela transfe-rencia dos gnipos fosfates do CP (Tabelas 2.1 c 2.21• Na maioria dos jogos de campo, como o futebol, o padrão da atividade consiste em sprirm que não duram mais de poucos segundos (tipicamente 1 a 2 segundos), seguidos dc recuperação. Durante essas expio.es de alta intensidade, a maior parte da energia é fornecida pelo CP; nesse caso a glicólise contribui mais à medida que a distancia aumenta ou quando não há recupera-ção completa em relação ao sprinl anterior. A rcsráttesc do CP após o exercício costumava ser registrada como compl. dentro dc poucos minutos após o trabalho. Mais recentemente, porém, foi mostrado que o conteú-do de CP dos músculos somente retoma ao nível inicial 60 minutos após um exercício de alta intensidade, no qual a exaustão tenha sido alcançado após cerca de très mi-nutos. À for executado um segundo de sprút antes da recuperação dos níveis de CP, a velocidade c a duração podem sofrer redução. O retorno aos níveis anterior. de CP, durante a recuperação, não sofrerão atraso, caso o exeiríci o seja de baixa intensidade, embora isso aumente a demanda de energia total dos músculos. À medida que o exercício sc prolonga, contiibuição da glicélise para a produção de energia também aumen-ta, levando a uma acumulação de lactato, como produto final, no músculo e no sangue. Em exercícios com dura-ção entre 10 segundos e 2 A 3 minutos, a gliálise anae-róbia é a fonte mais importante de enegia, Etn eventos ais) o metabolismo oxidativo tornn-se gradual-mente mais Importante (Tabela 2,4). Quando n duração do exercício excede 2 a 3 minutos, os processos aeróbios fornecem mais da metade da energia total exigida.. eventos mais curtos, a maior parte do combustível é tis, da na fonna do glicogênio dos músculos, mas a glicose derivada do sangue tomn-se mais importante à medida que a duração da atividade aumenta. No pl existente no músculo, o ácido kírie° fonnado pela glicdlise dissocia-se quase que completamente para fonnar o âion do lactato carregado negativamente e o próton (um fon de hidrogénio carregado positivamente, I I.). Alguns desses pnStons são armazenados no múscu-lo e outros deixam o músculo, mas se o exercício for su-ficientemente intenso e prolongado, acumulação de pátons faz com que o pl I intramuscular caia. Isso pode reduzir a taxa de produção de energia por meio da glieó-lise corno resultado da inibição da fosfofnuoquinase (PM( — phosphofrudokinase), uma das enzimas-chave, embora outras altera,. nos músculos estimulem a atividade da PFK. Tal ação também pode interferir mais diretamente no processo contrátil no interior do músculo. No entan-to, seja qualfor o mecanismo envolsido, o resultado final é uina sensação subjetiva de fadiga c incapacidade de continuar o exercício. Um dos efeitos mais impressionantes treinamen-to de resistência é o aumento da taxa de realizaçáo do trabalho antes que ocorra acumulação significativa de lactato c À prótons nos músculos c no sangue. Uma velocidade de corrida que, em indivíduos não-treinados, resulte em alta taxa de glicólise anaeróbia com sua res-pectiva produção de lactato, em queda do pl 1 dos mús-culos e em fadiga pode ser atingida, por indivíduos uri-nados, com pouca ou nenhuma gliálise anaeróbia (Figura 2.2). UTILIZAÇÃO DOS SUBSTRATOS EM EXERCICIOS PROLONGADOS Durante exercícios prolongados com veloddade cons-tante, o másculo depende quase inteiramente do meta-bolismo de oxidação para produzir energia. A exceção está nos primeiros minutos do exercício, quando o me-tabolismo anaeróbio contribui para a produção de ener-gia até um estado mais ou menos regular de consumo de oxigênio a ser atingido. Na situação competitiva, é claro, a intensidade do exercício raramente é constante, e o me-tabolismo anaeróbio pode ser exigido durante corridas prolongadas com pr.ença de explosões táticas durante o evento, subidas fortes ou sprints de chegada.. mui-tos jogos, a duração total do exercício gira em tomo de 90 minutos; a absorção de oxigênio normalmente sofre elevação durante esse período, mas a demanda imediata de energia para as pequenas explosões curtas silo atendi-das pelo metabolismo anaeróbio. O metabolismo oxidati-vo fornece energia para a ressíntese do AT, do CP e para a remoção do lactato durante os períodos de Reuperação.
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