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Rondonópolis 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DÉBORA DE SOUSA GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVENTUAL PENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA 
Rondonópolis 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVENTUAL PENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdade Anhanguera, como requisito parcial para a 
obtenção do título de graduado em Direito. 
 
Orientador: 
 
DÉBORA DE SOUSA GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOUSA GOMES, Débora. Eventual Penhorabilidade do Bem de Família. 2017. 
Número total de folhas, 23. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em 
Direito - Anhanguera, Rondonópolis, 2017. 
RESUMO 
No trabalho sub examine, tem-se como foco principal analisar as hipóteses de 
penhorabilidade do bem de família à luz da Lei 8009/90. Além disso, por intermédio 
dos objetivos específicos, busca-se demonstrar as controvérsias acerca da 
impenhorabilidade do bem de família; avaliar as jurisprudências e doutrinas 
relacionadas ao tema, bem como os parâmetros adotados quando da delimitação do 
que é essencial ou supérfluo em penhora de bens do devedor, assim como delinear 
os parâmetros utilizados por tribunais no momento da análise quanto à eventual 
admissão de penhorabilidade do bem de família. Nesse introito, a pesquisa 
apresenta o seguinte questionamento: O bem de família poderá ser eventualmente 
objeto de penhora? Busca-se compreender e/ou esclarecer as hipóteses de 
penhorabilidade do bem de família, bem como analisar os institutos, 
jurisprudências e doutrinas divergentes que regem o tema em questão. A 
esse propósito, faz-se mister a regulamentação de eventual lei que regule a matéria 
com maior clareza, já que o tema ainda sugere debates e discussões doutrinárias 
acerca da constitucionalidade das possíveis hipóteses de penhora do bem de 
família. Destarte, a pesquisa revelou que com a eventual regulamentação de lei 
específica que trate do tema de forma mais clara, ter-se-ia uma redução 
considerável da problemática em torno da hipótese de penhorabilidade do bem de 
família. 
Palavras-chave: Penhorabilidade; Bem de Família; Constituição Federal. 
 
 
 
 
 
 
 
SOUSA GOMES, Débora. Eventual Penhorabilidade do Bem de Família. 2017. 
Número total de folhas, 23. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em 
Direito - Anhanguera, Rondonópolis, 2017. 
ABSTRACT 
In the sub examine work, it has been the main focus analyze the hypotheses family 
and the penhorabilidade the light of the Law 8009/90. In addition, through specific 
objectives, we seek to demonstrate the controversies about the family and the 
unseizability; assess the jurisprudence and doctrines related to the theme, as well as 
the parameters adopted when the definition of what is essential or superfluous in the 
debtor's assets from seizure, as well as outline the parameters used by courts in the 
analysis as to whether penhorabilidade intake of good family's. In this introito, the 
research presents the following question: A good family may possibly attachment 
object? We seek to understand and / or clarify the chances of family and the 
penhorabilidade and analyze the institutions, case law and divergent doctrines 
governing the issue at hand. In this regard, it is mister regulation of any law 
governing the matter more clearly, as the theme suggests further debates and 
doctrinal discussions about the constitutionality of possible family and the attachment 
of hypotheses. Thus, the survey revealed that with the possible regulation of specific 
law that addresses the issue more clearly, would have a considerable reduction of 
the problems surrounding the hypothesis of family and the penhorabilidade. 
Key-words: Unseizability; and family; federal constitution. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6 
2. O BEM DE FAMÍLIA BRASILEIRO ..................................................................... 7 
2.1 BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL ........................................................................... 9 
2.2 BEM DE FAMÍLIA LEGAL ....................................................................................... 10 
3. APREENSÃO JUDICIAL DE BENS .................................................................. 12 
4. BENS DE FAMÍLIA IMPENHORÁVEIS ............................................................. 14 
5. DEBATES ACERCA DE EVENTUAL INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 
8009/90 ..................................................................................................................... 19 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 22 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23 
 
 
6 
1. INTRODUÇÃO 
O presente trabalho vem demonstrar que a Lei 8.009/90 tem como finalidade 
o bem-estar da família e não proteger o devedor, o qual será esclarecido através do 
entendimento de doutrinadores e jurisprudências relacionas ao assunto. 
Tendo por objetivo identificar as possíveis hipóteses de penhorabilidade do 
bem de família, demonstrando as controvérsias acerca da impenhorabilidade do bem 
de família, com o fito de avaliar as jurisprudências e doutrinas relacionadas ao tema, 
bem como os parâmetros adotados quando da delimitação do que é essencial ou 
supérfluo na penhora de bens do devedor, bem como delinear os parâmetros 
utilizados por tribunais no momento da análise quanto à eventual admissão de 
penhorabilidade do bem de família. 
A construção deste Trabalho de Conclusão de Curso se deu por meio de 
pesquisa documental. Já o método de abordagem, foi o dedutivo. A técnica de 
pesquisa foi por intermédio de documentação indireta, com levantamento 
bibliográfico, análises doutrinárias e normativas. 
No vertente trabalho, será tratado o bem de família no direito brasileiro, 
esclarecendo a distinção entre bem de família voluntário e não voluntário, além de 
fazer um breve relato da evolução histórica. 
Ademais, serão abordadas jurisprudências acerca do tema, dando ênfase 
aos apontamentos sobre a eventual inconstitucionalidade da Lei nº 8.009/90, e a 
imprescindibilidade de regulamentação de legislação clara que ponha fim a esta 
discussão, tendo em vista que ela auxiliará na resolução de litígios que por via 
judicial tradicional se arrastariam durante anos. 
Por fim, manifesta se faz a necessidade de informar que o assunto aqui 
tratado não será exaurido, devido a sua extensão e complexidade, sendo 
imprescindível a continuidade da discussão acerca do assunto por eventuais 
estudos acadêmicos, buscando soluções efetivas aos conflitos gerados por 
omissão legal. 
 
7 
2. BEM DE FAMÍLIA BRASILEIRO 
Inicialmente o Código Civil tratava do bem de família no Livro das Pessoas. 
Nos anos de 1915 houve uma alteração, passando a ser tratado no Livro dos Bens. 
Nesse sentido, necessário se faz mencionar o discurso do então Senador 
Justiniano Serpa transcrito pelo ilustre Coelho (1924, p. 594), “in verbis”: 
Esta figura jurídica, introduzida, por emenda do Senado, no corpo do projeto 
do Código Civil, está evidentemente, mal colocada no capítulo das pessoas 
jurídicas, terminando por evidenciar que não há, realmente, um terceiro 
caminho. Ou o instituto entra no direito de família, como o direito de 
alimentos, como a tutela e todas as instituiçõesgarantidoras e protetoras da 
família, ou será uma forma do direito das coisas. Na parte geral, entre as 
pessoas jurídicas, será, no meu sentir, um desvio de classificação tão 
manifesto quanto o que, na gramática denominasse sujeito a um predicado, 
ou, em história natural, pusesse a borboleta na classe dos pássaros. 
Nesse diapasão, impende destacar o entendimento do ínclito Clóvis 
Beviláqua (1956, p. 248), que aduz, “verbis”: 
A colocação do instituto na parte geral foi, com boas razões, censurada por 
Justiniano de Serpa. Atendendo à sua crítica, foram os artigos referentes ao 
bem de família deslocados, do Livro I (Das Pessoas) para o Livro II (Dos 
Bens). Era, realmente, absurdo tratar dessa espécie jurídica no livro 
consagrado às pessoas e fez bem a Comissão em corrigir o defeito 
apontado. Mas, para obedecer em tudo aos reclamos da classificação 
jurídica, segundo o plano adotado pelo código, por cuja pureza se batia o 
egrépio deputado pelo Pará, deverá ter a Comissão transposto os arts. 70 a 
73 para a Parte Especial, pois se trata de uma relação jurídica de caráter 
particular e não de um elemento de direito, nem de um preceito de caráter 
geral. Na Parte Especial, o seu posto mais conveniente seria no Direito de 
Família aplicado. Todavia, não estaria mal no Direito das Coisas. 
Não obstante, vale ressaltar que o Direito de Família oferece melhor 
condições para tratar do bem de família, já que referido instituto merece tratamento e 
proteção especial. Isto porque este instituto guarda relação com a existência do ser 
humano, ao menos uma existência digna. Além disso, é dever do Estado proteger 
juridicamente o bem de família. 
A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o entendimento do eminente 
Azevedo (1999, p 94) que assevera, “ipsis litteris”: o bem de família é um meio de 
garantir um asilo à família, tornando-se o imóvel onde a mesma se instala domicílio 
impenhorável e inalienável, enquanto forem vivos os cônjuges e até que os filhos 
completem maioridade. 
 
8 
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do 
renomado Antônio Chaves (2008, p.34), que preleciona, “ad litteram”: 
Um patrimônio separado, constituído por bem imóvel isento de execução, 
por dívida posterior à sua situação pelos cônjuges, por um deles ou por 
terceiros, vedada a sua alienação ou alteração de seu destino, que é o de 
garantir, obedecidos os requisitos, limites e formalidades da lei, a 
estabilidade e o centro do lar, durante a vida de cada um daqueles e dos 
seus filhos, enquanto menores. 
Nos respeitáveis dizeres da eminente Maria Helena Diniz (2012, p. 220), 
bem de família “é um prédio ou parcela do patrimônio que os cônjuges, ou entidade 
familiar, destinam para abrigo e domicílio desta, com a cláusula de ficar isento da 
execução por dívidas futuras”. 
Ainda, ao tecer comentários sobre artigo 1.711 do Código Civil, a autora 
preleciona que: 
Somente pessoas casadas conviventes ou integrante-chefe da família 
monoparental poderão constituir bem de família. A sua instituição competirá, 
por exemplo, ao marido e à mulher, tendo-se em vista que, em certas 
hipóteses, um deles poderá estar na chefia, se for viúvo ou se assumiu a 
direção da família sozinho, ante o fato de o outro estar preso, ter sido 
declarado ausente ou ter sofrido processo de interdição. Logo, pessoa 
solteira, sem prole, mesmo que viva em concubinato, tutor ou curador ou 
avô não poderão instituir bem de família. Mas há decisão entendendo que 
solteiro ou dois irmãos solteiros que residam no mesmo imóvel têm direito 
de instituir bem de família, pois o solteiro pode constituir família e os irmãos 
podem ser tidos como entidade familiar. ( DINIZ, 2012, p. 222). 
Nos respeitáveis dizeres do eminente Caio Mario da Silva (2009, p.595), 
bem de família é “uma forma da afetação de bens a um destino especial que é ser a 
residência da família, e, enquanto for, é impenhorável por dívidas posteriores à sua 
constituição, salvo as provenientes de impostos devidos pelo próprio prédio”. 
Por fim, da leitura da Lei 8.009/90, tem-se que o bem de família é todo 
imóvel residencial, urbano ou rural, próprio do casal ou da entidade familiar, bem 
como os móveis da residência que sejam impenhoráveis por lei. No que diz respeito 
ao objeto do bem de família, tem-se como este o imóvel, urbano ou rural, utilizado 
para moradia da família, pouco importando a forma de constituição. 
 
 
9 
2.1 Bem de Família Convencional 
Trata-se de instituto disciplinado por Código Civil, decorrente da vontade dos 
cônjuges, companheiros ou terceiros. 
Consoante a inteligência do artigo 1.711 do Código Civil, “podem os 
cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar 
parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse 
um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras 
sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial”. Grifei. 
“Ex vi” do disposto na literalidade do artigo 1.714 do mesmo diploma legal, “o 
bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo 
registro de seu título no Registro de Imóveis”. Grifei. 
Ademais, segundo o comando inserto no artigo 1.715, “o bem de família é 
isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem 
de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio”. 
É de todo oportuno gizar as palavras do ilustre CREDIE (2010, p. 7), ao qual 
assevera que “a criação do bem de família voluntário ou facultativo, se deu pelas 
ideias privatistas da época, influenciado pelo pensamento jurídico liberal-
individualismo dos séculos XIX e XX”. 
Por outro lado, Azevedo (2010, p. 94) entende que “o bem de família 
voluntário, móvel ou imóvel, nasce pela vontade do instituidor, pela própria vontade 
individual, nos moldes preestabelecidos na lei”. 
Vale ressaltar que a instituição de bem de família voluntário pressupõe a 
propriedade do bem, destinação do bem e solvabilidade do instituidor. 
Por fim, “comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família 
nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos interessados, 
extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos 
o instituidor e o Ministério Público” (artigo 1.722 do CC), bem como com a morte de 
ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela. 
 
10
2.2 Bem de Família Legal 
Trata-se de instituto cuja constituição independe da vontade do proprietário 
do bem, conforme se depreende do alcance do artigo 1º da Lei 8.009/90. Vejamos: 
Art. 1° O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é 
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, 
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou 
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas 
hipóteses previstas nesta lei. 
Parágrafo único: A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se 
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza 
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que 
guarnecem a casa, desde que quitados. 
Observa-se que a lei buscou proteger o lar e família, com intuito de garantir 
a existência, protegendo o imóvel e os móveis que guarnecem a casa. 
Diferentemente do que ocorre com o bem de família voluntário, a validade da 
instituição do bem de família involuntário não prescinde de registro. 
Ademais, não há que se falar na limitação de 1/3 estabelecida para o bem 
de família voluntário no artigo 1.711 do CC. Este aspecto diferencia os dois 
institutos. 
A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o entendimento da eminente 
Tatiane Sander (2008, p. 01) queassevera, “ipsis litteris”: “O bem de família 
involuntário emana da Lei 8009/90 regulamentado em oito artigos. Por isso, o 
instituidor do bem de família involuntário é o próprio Estado porque resulta de ordem 
pública”. 
A ratificar o acima expendido, insta transcreve o art. 5°, parágrafo único da 
Lei 8.009/90. Vejamos: 
Art, 5° Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, 
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela 
entidade familiar para moradia permanente. 
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor 
de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá 
sobre o de menor valor, salvo se ouro tiver sido registrado, para esse fim, no 
Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. 
 
 
11
Com muita propriedade, o douto Santiago (2004, p.01) traça as seguintes 
explanações sobre o assunto: 
A Lei 8009/90 não menciona a forma de extinção do bem de família 
involuntário, como não há efeito da inalienabilidade, entende-se que ele 
cessa automaticamente quando cessar a moradia permanente no imóvel 
instituído. Se o caso em questão, à época da penhora não se encontrarem 
presentes os requisitos exigidos pela lei, o bem será penhorado, do 
contrário não. 
Por derradeiro, como visto anteriormente, o instituidor do bem de família 
involuntário é o próprio Estado, já que a instituição é automática e tem como objeto 
imóvel, imóveis próprios e quitados da entidade familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12
3. APREENSÃO JUDICIAL DE BENS 
Nos respeitáveis dizeres do eminente Pontes de Miranda (2002, p. 193), “a 
penhora não é penhor, nem arresto, nem uma das medidas cautelares. O que nela 
há é expropriação da eficácia do poder de dispor que não há no arresto”. 
Sobre tal aspecto, merece ser trazido à baila o excelente magistério de 
Liebman, que em sua visão “a penhora é o ato pelo qual o órgão judiciário submete 
a seu poder imediato determinados bens do executado, fixando sobre eles a 
destinação de servirem à satisfação do direito do exequente”. 
Segundo o comando inserto no artigo 834 do Novo Código de Processo 
Civil, “podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e os rendimentos dos 
bens inalienáveis”. Trata-se dos bens relativamente impenhoráveis, hipótese em que 
se admite a constrição de outros bens eventualmente penhoráveis, apenas diante da 
ausência de outros bens penhoráveis. 
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do 
renomado Junior, que preleciona, “ad litteram”: 
As imagens e os objetos do culto religioso são bens, de ordinário, 
absolutamente impenhoráveis, em homenagem ao sentimento piedoso da 
coletividade. Tendo em vista, porém, principalmente as coleções de arte, 
permite o Código que esses objetos possam ser penhorados, desde que 
sejam de grande valor e não disponha o devedor de outros bens para 
garantir a execução (JUNIOR, 1994, P. 196). 
Conforme se depreende do alcance artigo 847 do Novo Código de Processo 
Civil, “o executado pode, no prazo de 10 (dez) dias contado da intimação da 
penhora, requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove que lhe 
será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente”. 
Não obstante, conforme § 1º do mesmo diploma lega o juiz só autorizará a 
substituição se o executado: 
I - Comprovar as respectivas matrículas e os registros por certidão do 
correspondente ofício, quanto aos bens imóveis; 
II - descrever os bens móveis, com todas as suas propriedades e 
características, bem como o estado deles e o lugar onde se encontram; 
III - descrever os semoventes, com indicação de espécie, de número, de 
marca ou sinal e do local onde se encontram; 
 
13
IV - identificar os créditos, indicando quem seja o devedor, qual a origem da 
dívida, o título que a representa e a data do vencimento; e 
V - atribuir, em qualquer caso, valor aos bens indicados à penhora, além de 
especificar os ônus e os encargos a que estejam sujeitos. 
Em suma, o que se observa no dia a dia é que há diversas peculiaridades 
envolvendo o bem de família, dentre os quais se destaca o fato de que na maioria 
das vezes o devedor age de má fé. Isto porque, por exemplo, há situações em que o 
devedor adquire um bem de maior valor aquisitivo e elege este com sendo sua 
residência, consequentemente sendo este impenhorável, já que passa a ser 
considerado bem de família. 
Na prática existem várias situações envolvendo a penhora do bem de 
família. Nota-se que por muitas vezes o devedor age de má fé, pois adquire um bem 
valioso como uma casa de luxo, por exemplo, para fixar residência e no momento da 
penhora, alega ser bem de família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14
4. BENS DE FAMÍLIA IMPENHORÁVEIS 
O debate em torno da penhorabilidade do bem de família é de certo modo 
antigo, mas que ainda suscita discussões doutrinárias e jurisprudências acerca de 
uma solução do tema. Ademais, observa-se uma preocupação de diversos 
doutrinadores em torno do tema, sobretudo após a reforma do Código Civil em 2002. 
Dito isto, observa-se que parte minoritária da doutrina que discorre sobre o 
tema, ainda entende que a impenhorabilidade do bem de família do fiador é matéria 
inconstitucional, já que violaria o princípio da isonomia e o princípio da dignidade 
humana. 
Consoante a dicção do artigo 833 do Novo Código de Processo Civil, são 
impenhoráveis: 
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à 
execução; 
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a 
residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem 
as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; 
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, 
salvo se de elevado valor; 
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, 
os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, 
bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas 
ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador 
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o; 
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou 
outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do 
executado; 
VI - o seguro de vida; 
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas 
forem penhoradas; 
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que 
trabalhada pela família; 
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação 
compulsória em educação, saúde ou assistência social; 
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 
(quarenta) salários-mínimos; 
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, 
nos termos da lei; 
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime 
de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. 
§ 1o A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao 
próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição. 
§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de 
penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de 
sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) 
salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 
528, § 8o, e no art. 529, § 3o. 
 
15
§ 3o Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os 
equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a 
pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais 
bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia 
a negócio jurídico ouquando respondam por dívida de natureza alimentar, 
trabalhista ou previdenciária. 
No dizer sempre expressivo do preclaro de João Roberto Parizatto (1998, p. 
17) “alienáveis são os bens que, em virtude de restrição imposta ao direito de 
propriedade, não podem ser vendidos ou cedidos”. 
Conforme se depreende do alcance da Súmula 364 do STJ, “o conceito de 
impenhorabilidade do bem de família abrange também o imóvel pertencente a 
pessoas solteiras, separadas e viúvas”. 
É necessário não perder de vista a posição que a jurisprudência pátria vem 
assumindo diante da matéria, “sub examine”, conforme se depreende da ementa 
abaixo transcrita: 
A interpretação teológica do art. 1° (da Lei n. 8.009/90) revela que a norma 
não se limita ao resguardo da família, seu escopo definitivo é a proteção de 
um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se assim, 
ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o 
indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão. Incluía a 
moradia como direito social, tem-se como impenhorável o imóvel residencial 
da pessoa solteira, tal como assegurado na Lei n. 8.009/90. (Resp. 403314 
– STJ – Rel. Min. Barros Monteiro – 4ª Turma). 
Esta ideia traduz uma maior proteção ao bem de família. 
Sobre os bens impenhoráveis, insta transcrever os artigos 1º, 2º, 3º, 4º e 5º 
da Lei nº 8.009/90. Vejamos: 
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é 
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, 
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou 
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas 
hipóteses previstas nesta lei. 
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se 
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza 
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que 
guarnecem a casa, desde que quitados. 
Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de 
arte e adornos suntuosos. 
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se 
aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de 
propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo. 
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução 
civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: 
 
16
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à 
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos 
constituídos em função do respectivo contrato; 
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o 
bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou 
conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; 
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições 
devidas em função do imóvel familiar; 
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real 
pelo casal ou pela entidade familiar; 
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de 
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento 
de bens. 
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de 
locação. 
Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se 
insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência 
familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. 
§ 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a 
impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, 
liberando a mais valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese. 
§ 2º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a 
impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos 
bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área 
limitada como pequena propriedade rural. 
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, 
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela 
entidade familiar para moradia permanente. 
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor 
de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá 
sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, 
no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil. 
Conforme o artigo 1º, assegura que o imóvel residencial da entidade familiar 
não respondera por nenhuma dívida, bem como os móveis em seu interior. 
Vale ressaltar que a lei tem por objeto o princípio generalizado das 
habitações familiares, seja da mais simples à mais luxuosa. Quanto maior for 
evidente a riqueza e a ostensiva for, menos se justifica a necessidade do 
inadimplemento. 
Como nos mostra o artigo 2º excluem-se da impenhorabilidade os veículos 
de transporte, obras de arte e adornos suntuosos. 
Já o artigo 3º vem nos falar acerca das sete exceções à impenhorabilidade. 
No artigo 4º vemos a diferença na intenção ao legislar e o que de fato 
resultou. Haja visto que são situações distintas. 
 
17
Conforme ressalta o artigo 5º, se o devedor possuir vários imóveis 
residenciais utilizados pela família, recaí a impenhorabilidade sobre o de menor 
valor. 
 
Nesse raciocínio, o festejado Czajkowski (1998, p.98) preleciona, de modo 
esclarecedor, no sentido de que: 
O critério de fazer incidir o benefício da impenhorabilidade sobre o imóvel de 
menor valor é suscetível de críticas, especialmente se ele levar em conta a 
circunstância de plena solvência do devedor. A aplicação deste preceito não 
deverá ser pelo seu rigor textual, mas sim deverá levar em conta as 
circunstâncias de cada caso evitando, quando possível, a desnecessária 
mudança de moradia da família quando, por exemplo, pela expropriação de 
outros imóveis que não aquele que a família ocupa, já seja possível a 
satisfação dos créditos (CZAJKOWSKI, 1998, p.98). 
Sobre o cancelamento das penhoras realizadas, o renomado Czajkowski 
assevera que: 
Os termos da lei são equivocados e mesmo absurdos, pois, cancelar as 
execuções em curso, implica atingir o próprio crédito em cobrança e 
negativa a exercício regular de direito do credor. Quanto menos o texto, 
assim como está, afronta a garantia do art. 5°, XXXV da CF/88, pela qual a 
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a 
direito. Afortunadamente, no pormenor, os tribunais desde a primeira hora 
acharam por bem entender o dispositivo como querendo referir-se ao 
cancelamento das penhoras, possibilitando ao credor continuar na 
execução sobre outros bens penhoráveis acaso existentes no patrimônio do 
devedor (CZAJKOWSKI, 1998, p.98). 
Em abono dessa disposição doutrinária, a jurisprudência majoritária 
começou a aplicar o benefício da impenhorabilidade imediatamente nas ações em 
trâmite. Em outros casos ainda aplicou de modo retroativo referido benefício. Toda e 
qualquer constrição que incidisse sobre o bem de família previsto no texto legal, fora 
cancelada. 
Há dois argumentos que corroboram a tese de não aplicabilidade da Lei 
8.009/90 em processos que ainda não foram julgados, mas que já existiam penhoras 
quando do momento do surgimento da “novatio legis”. Vejamos: 
a) Trata-se do direito processual adquirido, aquele previsto no artigo 6º da 
Lei de Introdução ao Código Civil. Todavia, o direito adquirido aqui 
 
18
tratado diz respeito ao direito de executar determinado bem para 
eventual satisfação do crédito, e não sob a penhora já realizada. Isto 
porque o Estado, por meio do poder judiciário, já teria afetado o 
pagamento do crédito exequente; 
b) Por outro lado, não há que se falar em direito adquirido no que concerne 
à expropriação,já que a expropriação é feita pelo Estado, e não pelo 
credor. 
Não obstante, a impenhorabilidade tratada na Lei 8.009/90 se destina ao 
indivíduo enquanto pessoa física e, respectivamente, à sua família. Isto porque 
apesar de gozarem de personalidade jurídica e patrimônio próprio, “pessoa jurídica” 
não fixa residência ou constitui família. 
Em sentido oposto dessa disposição doutrinária, mister se fazer trazer à 
colação o entendimento do respeitável Czajkowski: 
A inaplicabilidade da Lei 8.009/90 às pessoas jurídicas, todavia, precisa ser 
entendida no sentido prático e não no sentido formalista. Firma individual, 
por exemplo, só é pessoa jurídica para efeito de imposto de renda; para o 
direito civil não é. A impenhorabilidade pode incidir, atendidos os requisitos 
legais (CZAJKOWSKI, 1998, p.60). 
Em suma, há que se ponderar a aplicação da Lei 8.009/90 até mesmo em 
microempresas. Isto pelo motivo de haver pequenas empresas em que os sócios 
são integrantes da família. Nota-se, neste caso, que o lugar das instalações da 
empresa, em regra, é o mesmo da moradia. Há aqui uma confusão entre o local da 
empresa e o da moradia, devendo este gozar da impenhorabilidade legal. 
 
 
19
5. DEBATES ACERCA DE EVENTUAL INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI 
Nº 8.009/90 
É justificável a controvérsia no que diz respeito à constitucionalidade da Lei 
8.009/90, já que estamos diante de lei que causou efeitos sociais, bem como 
considerável impacto nas relações jurídicas negociais. 
Neste sentido, é de todo oportuno gizar as palavras do ilustre Czajkowski 
sobre o tema ora analisado: 
A lei não visou proteger a má-fé. Procurou sim, em última instância proteger 
a família do devedor e, por esta via, a própria pessoa do devedor, 
garantindo as condições mínimas de sobrevivência digna, a salvo das 
execuções por dívidas, avolumadas, em grande porte, não pela voracidade 
consumista do devedor, mas pelos tormentos e desacertos de uma 
economia cronicamente conturbada como é a do nosso país 
(CZAJKOWSKI, 1998, p.23). 
Em consonância com os dizeres do douto Autor, há que se notar o 
posicionamento do Jorge Miranda, em total corroboração ao acima expendido, que 
preconiza: 
A valor ação ética da Lei 8.009/90 por si só não representa afronta a 
princípios constitucionais genéricos e de conceitos abertos, como é o caso 
da proteção à dignidade humana (art°, III), à construção de uma sociedade 
livre, justa e solidária, e à garantia do desenvolvimento nacional (MIRANDA, 
1995, p. 274). 
Destarte, o debate acerca da inconstitucionalidade da lei 8.009/90 comporta 
outras avaliações. Com efeito, o art. 789 do Novo Código de Processo Civil 
preleciona que “o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros 
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. 
Trata-se de relativização. 
A esse propósito, vale mencionar o venerando acórdão exarado pelo 
Tribunal Regional Federal da 3ª Região de cuja dicção depreende-se a rigidez dos 
argumentos ora apresentados: 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS À 
PENHORA E À EXECUÇÃO. LEI 8.009/90. INCONSTITUCIONALIDADE 
FORMAL. MP. REQUISITOS DE URGÊNCIA. IMPENHORABILIDADE. 1. 
Não é inconstitucional a MP 143/90, que foi convertida na Lei 8.009/90, pois 
o requisito de urgência restou avaliado pelo Presidente da República, 
confirmado pelo Congresso Nacional, sem impugnação consistente em sede 
 
20
judicial, capaz de elidir a presunção de constitucionalidade do ato (TRF, 3ª 
R., Ap.259051). 
. 
Vale ressaltar que a jurisprudência vem apenas para solidificar o 
entendimento já estabelecido em lei, no qual o imóvel residencial efetivamente 
ocupado pela entidade familiar, não pode ser objeto de penhora, mas não o exime o 
devedor de suas obrigações. 
 Nesse rumo, é de todo oportuno trazer à baila o entendimento do preclaro 
mestre Czajkowski (1998, p. 27), que obtempera, “verbo ad verbum”: 
A inconstitucionalidade integral da lei não deve ser a melhor conclusão. 
Mesmo tendo em conta a técnica deplorável com que foi feita, não é 
possível afirmar que criou uma impenhorabilidade geral do patrimônio do 
devedor. Estabeleceu de forma atabalhoada um benefício bastante amplo, 
mas que, na essência, há o patrimônio do devedor ao pagamento coativo 
das dívidas. Nesta ótica, a impenhorabilidade instituída pela lei continua 
sendo exceção, e não regra.[...] 
[...] há mais uma razão extremamente simples que contraria o argumento da 
inconstitucionalidade. A impenhorabilidade da Lei 8.009/90 é instituto 
essencialmente semelhante à impenhorabilidade voluntária do bem de 
família, regulada nos arts. 70 e 73 do Código Civil Brasileiro. Ora, se lei 
preexistente, cuja constitucionalidade não é posta em dúvida, permite por 
convenção das partes a formação de uma situação jurídica, uma nova lei 
que imponha a mesma situação, independente de manifestação de vontade, 
em benefício dos que de outro modo teriam condições de emiti-la, não 
poderá ser inconstitucional (CZAJKOWSKI, 1998, p. 27). 
A Lei 8.009/90 é só mais uma limitação da responsabilidade patrimonial do 
devedor referente a um Estatuto Processual já existente, o qual regula a 
inalienabilidade de bens, onde ela não exclui a obrigação do devedor apenas 
resguarda certos bens em algumas condições. 
Mediante o exposto não a razões que caracteriza como inconstitucional 
integralmente a Lei 8.009/90, embora existam argumentos que recomenda cautela à 
sua aplicação. 
À guisa de corroboração, necessário se faz trazer à baila o entendimento 
dos eminentes professores Gagliano e Pamploma Filho (2003, p. 289) 
À luz do Direito Civil Constitucional pois não há outra forma de pensar 
modernamente o Direito Civil, parece-nos forçoso concluir que este 
dispositivo de lei viola o princípio da isso nomia insculpido no art. 5° da CF, 
uma vez que trata de forma desigual locatário e fiador, embora as 
obrigações de ambos tenham a mesma causa jurídica: o contrato de 
locação (GAGLIANO E PAMPLOMA FILHO, 2003, p. 289). 
 
21
“Ex positis”, desponta cristalina a prova de que não há argumentos sólidos 
que justifiquem a declaração de inconstitucionalidade da Lei 8.009/90, apesar de 
que juristas recomendem cautela quando da sua aplicação. 
 
22
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nota-se que o tema aqui discutido ainda gera muita polêmica, ou seja, não 
há ainda uma construção doutrinária sólida capaz de direcionar determinados 
enfrentamentos da matéria; seja no campo acadêmico, seja no campo 
jurisprudencial. Por outro lado, observa-se que a Lei 8.009/90 é de certo modo falha, 
já que deixa lacunas para interpretações equivocadas, não obstante, a fraudes. 
Ademais, observa-se que o Próprio STF e o STJ ainda não adotaram 
posicionamento uníssono sobre o tema. Isto porque a penhora do bem de família 
também gera debates acerca a inconstitucionalidade diante de tal possibilidade de 
relativização do mandamento legal. Não obstante, há duras críticas por parte de 
alguns doutrinadores no que diz respeito à possibilidade de penhora do bem de 
família. 
Diferentemente do que alguns autores entendem, a Lei 8009/90 tem como 
objetivo a defesa do bem de família, e não a proteção do devedor. Neste sentido, 
busca garantir o bem-estar da família, diante de sua importância na sociedade. 
Todavia, a própria lei traz em seu bojo algumas exceções, evitando, ainda que de 
forma frágil, que o devedor aja de má-fé. 
É de se concluir, destarte, que o assunto ora apresentado deve ser discutido 
e estudado de forma muito mais abrangente. É preciso ponderar a possibilidade de 
penhora de determinados bens; mesmos os de família. Isto porque em muitos casos 
há uma escusa dolosa do devedor em não pagar a dívida. 
Desse modo, inexorável a conclusão de que a Lei 8009/90 é constitucional, 
apesar de que em alguns pontos suavalidade seja questionável. 
 
 
 
 
 
23
REFERÊNCIAS 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm#art2044. Acesso em 
03/05/2014. 
BRASIL. Lei n. 8.009/90 de 29 de março de 1990. Dispõe sobre a 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8009.htm. Acesso em 30/09/2016. 
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1924. 
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Lei 8.009/90. Curitiba: Juruá, 1998. 
DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, Vol.5 - 27 - ed. São Paulo, 
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GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Curso de Direito Civil. São 
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MIRANDA, Pontes de: Comentários ao Código de Processo Civil. 2ª ed. Rio de 
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2ª ed. Revista e atualizada. Rio de Janeiro: Forense, 2016. 
LIEBMAN, Enrico Tullio. Execução e ação executiva. Estudos sobre o processo 
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SANDER, Tatiane. Do Bem de Família. Disponível em: 
http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=706. Acesso em: 
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SANTIAGO, Mariana Ribeiro. Bem de Família. Disponível em: 
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24
TRF, 3ª R., Ap.259051, rel. Carlos Muta, p. 10.03.2004. Disponível em: 
www.trf.gov.br/consultas/jurisprudencia. Acesso em: 30/09/2016.

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