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Bem de Familia
1. Evolução do conceito de Bem de Família
A ideia de que toda pessoa tem direito à moradia surge com a Constituição Federal de 1988 e torna-se um direito fundamental social visando a proteção a dignidade da pessoa humana, previsto no art. 6° da Carta Magna.
É certo que o Código Civil de 1.916 tratava do bem de família em seu Livro II intitulado “Dos Bens”, mas somente a Constituição Federal trouxe diplomas como a redação de seu art. 5º, XXVI: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”.
Durante muito tempo a doutrina e jurisprudência aplicaram o beneficio do bem de família somente aos núcleos formados por um vínculo matrimonial entre homem e mulher, em razão da tutela concedida à familia formada pelo casamento, em detrimento de outras entidades familiares.
Atualmente não há mais esse tipo de discriminação. O bem de família, independentemente de sua nomenclatura, é uma medida protetiva de moradia, sendo aplicada como proteção a dignidade da pessoa humana.
Nesse sentido, a jurisprudência evoluiu aplicando o instituto a toda e qualquer pessoa, seja sozinha, ou qualquer tipo de entidade familiar, como os núcleos mosaico, monoparentais e homoafetivos.
De encontro a essa perspectiva, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 364 com a seguinte redação: “o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas”.
Diante de toda essa ideia de evolução, o bem de Família consiste no conjunto de bens que servem de proteção à pessoa ou à família, incluindo o imóvel com suas acessões, bem como os móveis que o guarnecem, e que não pode ser penhorado.
2. Bem de Família Legal e Bem de Família Convencional
O bem de família foi disciplinado em 1990, pela Lei 8.009 e posteriormente no Código Civil de 2002 nos artigos 1.711 a 1.722. A origem da proteção do bem de família diverge da Lei 8.009/90 para o Código Civil de 2002, dividindo-se em bem de família legal e bem de família convencional, conforme demonstrado ao longo do trabalho.
2.1 Bem de Família Legal
O Bem de família legal está disciplinado na Lei 8.009/90 que dispõe em seu artigo 1º:
“O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.”
Com relação ao parágrafo único do artigo 1°da Lei 8.009/90, compreendem o acervo que constitui o bem de família legal: o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados”.
Com relação aos bens móveis, excluem-se os veículos, as obras de arte e os adornos suntuosos.
É possivel perceber que segundo a Lei 8.009/90, a instituição do bem de família decorre de lei, portanto se torna automática. Se o imóvel servir de moradia se torna impenhorável. 
No entanto, vale ressaltar que seu artigo 5° estabelece algumas restrições para aplicabilidade da medida protetiva, como é possivel visualizar com a transcrição do referido artigo: “Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.
Além disso, o legislador preocupou em proteger apenas o sustento da pessoa, como principio da dignidade da pessoa humana, de forma que está amparado pela lei, somente o imóvel de menor valor, com a exceção de que a pessoa instituiu outro bem para esse fim – um bem de maior valor, conforme disposto no parágrafo único do artigo 5° da lei mencionada anteriormente.
2.2 Bem de Família Convencional
No sistema do Código Civil (CC), a instituição do bem de família depende de escritura pública oudoação e testamento em que sejam destinados bens, desde que não ultrapassem um terço do patrimônio liquido do instituidor à época, para a constituição do bem de família, conforme dispõe o artigo 1.711 do CC.
Compreendem o acervo em que se consubstancia o bem de família convencional: prédio residencial ou urbano, com as respctivas pertenças e acessórios, desde que se destinem ao domicílio familiar, bem como valores mobiliários cuja renda seja aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família, de acordo com o que reza do artigo 1.712 do CC.
Impende destacar que o Código não menciona expressamente os bens móveisque guarnacem a casa, devendo considerar automaticamente incluidos no acervo, ressalvados os previstos no artigo 2° da Lei 8.099/90.
Dessa forma, cabe a instituição do bem de família convencional aos cônjuges (ou companheiros) ou a entidade familiar, devendo-se compreender, pela expressão, qualquer membro da família que resida no imóvel. Admite-sde, também, a hipótese de o bem de família ser instituido por um terceiro, no ato da doação do imóvel à família, ou em testamento.
Uma caracteristica importante a ser ressaltada é que a instituição do bem de família é ato voluntário do instituidor, ou instituidores e dispensa a outorga do cônjuge ou companheiro. Isso porque não há prejuízo ao patrimônio deste, há apenas uma proteção extra, uma benesse. Já para desafetar aquele bem, ou seja, para cessar a proteção, o outro cônjuge deve consentir.
No entanto, quando diz respeito a instituição do bem por doação ou testamento é necessária a aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
Quanto aos valores mobiliários, reza o caput do artigo 1.713 do CC: 
“Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à época de sua instituição.”
Ademais, esses valores além de devidamente individualizados edevem constar no respectivo livro de registros, em razão de se tratar de títulos nominativos. Admite-se que a administração dos valores seja confiada a uma instituição financeira, e que se determine a forma de pagamento da renda respectiva aos beneficiários.
Além disso, conforme disposto no artigo 1.714 do CC, O bem de família, seja instituido pelos conjuges ou por terceiro, somente se constitui com o registro de seu título no Registro de Imóveis, para dar publicidade ao ato.
3. Impenhorabilidade do Bem de Família
3.1 Impenhorabilidade no Código Civil e Lei nº 8.009/90
Por natureza, o bem de família goza de impenhorabilidade, ou seja, não pode ser penhorado por dívidas posteriores à instituição.
O artigo 1.715 do Código Civil apresenta uma proteção ao Bem de Família, mas, logo em seguida, enumera exceções a medida protetiva objetivando evitar fraudes. São duas as ressalvas que tiram a proteção da impenhorabilidade do imóvel, quais sejam:
a) Despesas Condominiais – São obrigações Propter Rem – É aquela obrigação que acompanha a coisa mesmo se esta for vendida, doada, herdada, etc. Assim, quem estiver devendo para determinado condomínio poderá ter o imóvel penhorado em execução sim, sem qualquer óbice.
b) Tributos Referentes ao Próprio Imóvel – Mesmo após haver instituído o bem de família poderá este ser penhorado pela prefeitura pelo não pagamento de IPTU, sem problema algum, devendo eventual saldo ser apurado e manter-se a proteção do bem de família sobre a parte restante.
O parágrafo único do mesmo artigo determina que se houver a penhora, em um dos casos acima mencionados, o saldo remanescente deve ser aplicado em outro prédio, que servirá de bem de família, ou em titulos da dívida púbica, para o sustento da família, reservando-se ao juiz a possibilidade de lhe dar outra destinação, se motivos relevantes o aconselharem.
No que diz respeito a duração da impenhorabilidade, é necessário cuidado para aplicar o disposto noartigo 1.716 do Código, pois, na verdade, o bem de família se mantém como tal enquanto servir de moradia à família ou a apenas um membro dela remanescente. Ademais, o beneficio se aplica também as pessoas viúvas e separadas. Logo, a impenhorabilidade somente se extingue pela morte de todos que residam no bem ou pela maioridade dos filhos, desde que não queiram manter a moradia no imóvel.
A Lei  8.009/90 traz também a definição de bem de família em seu artigo 1º, e brevemente faz referência a impenhorabilidade do bem de família, conforme citado acima. Além desse diploma legal, o artigo 3º da referida lei dispõe mais precisamente sobre o instituto da impenhorabilidade, bem como as exceções aplicadas a esta medida protetiva, a saber:
“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato.
Esse inciso regulamenta quando há um financiamento destinado à construção do imóvel, bem como acréscimos constituídos em função do contrato, podendo ocorrer a penhora daquele imóvel. O financiamento do imóvel ocorre para facilitar a aquisição da residência familiar e, assim, o indivíduo tem a compromisso de honrar suas obrigações.
III - pelo credor de pensão alimentícia;
Aplicado nos casos onde o pai deixa de pagar a pensão alimentícia aos seus filhos, pois deve-se ter uma proteção maior aos interesses dos filhos, tendo em vista, sua condição peculiar como pessoas em desenvolvimento.
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
Pode ocorrer, ainda, a penhora do bem de família quando houver dívidas tributárias relativas ao próprio imóvel. Compreendem-se não só impostos, mas também taxas públicas, como despesas condominiais, pois a dívida, mais diretamente no caso das despesas condominiais, há que se ter em mente que a dívida tida em juízo reverteu em proveito o bem imóvel.
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
Se o imóvel for oferecido como garantia de uma dívida, o devedor também pode perdê-lo. A hipótese elencada nesse inciso serve para guardar segurança nos negócios jurídicos, como relação ao princípio da boa-fé. Entende-se que por essa garantia ter sido oferecida pela entidade familiar, o financiamento se reverteu para a família. Por ser alienável, o bem de família pode ser colocado como hipoteca voluntariamente e, portanto, não se pode alegar impenhorabilidade quando o credor hipotecário vier a executar a dívida.  
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
Quando o imóvel foi adquirido com dinheiro constituído por prática criminosa. A partir desse inciso, tem-se a ideia de afastar a má-fé e o enriquecimento ilícito. 
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
O fiador, em contrato de aluguel, quando assegura o pagamento do inquilino e o mesmo inadimplir com sua obrigação, o bem de família do fiador pode ser penhorado. Entende-se que tem por finalidade resguardar a moradia. Portanto, a fiança oferecida pelo terceiro não se dá em benefício da família. Se o indivíduo aceita ser fiador, o proprietário renunciaria em relação ao credor, a impenhorabilidade do bem de família.
3.2 Impenhorabilidade no Código de Processo Civil
Esse instituto surgiu para assegurar a impenhorabilidade do bem de família do devedor, entretanto com o advento do CPC/2015, a impenhorabilidade do bem que era absoluta, se tornou relativa. Isso quer dizer que, apesar de ampla proteção que o instituto garante ao devedor, é necessário garantir que ele cumpra com as obrigações que contrai, ou seja, é uma maneira de garantir a satisfação do credor, impedindo que este se prejudique quando o devedor, de má fé, garante o bem de família para adimplir a dívida, sabendo que este não lhe pode ser retirado, o que poderia gerar fraude.
A Lei 8.009/90, bem como o Código Civil a impenhorabilidade do bem de família, entretanto, o CPC/2015 ao retirar a palavra “absolutamente” do artigo 833 deu abertura para que o credor pudesse se necessário, saldar a dívida pelo bem de família do devedor.
Entende-se que a impenhorabilidade do bem de família é uma regra, e sua penhora é uma exceção que deve ser abordada com cuidado, visto que poderia ferir o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Apesar da penhora do bem ser necessário para se garantir o direito do credor de readquirir os valores que lhe são devidos, existem limites para tal ato, esses limites perduram para que a dignidade do devedor seja conservada.
Para o bem de família voluntário foi estabelecido à impossibilidade de ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido e existente, sob pena de ferir o princípio da responsabilidade patrimonial. Bem como se determinado bem de menor importância for suficiente para saldar a dívida, deve-se preservar o patrimônio de maior valor a fim de se evitar fraude.
Outros requisitos formais para edificar o bem de família é a instrumentalização pública, que deverá ser solene, independente do valor do imóvel. Além dos requisitos previstos e conhecidos para a criação do instrumento público, é necessária a descrição do limite do valor do imóvel e sua efetiva moradia.
Com isso, entende-se que tratando de matéria de ordem pública, a impenhorabilidade do bem de família pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e não se submete à preclusão.

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