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Bem de Família

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Direito de Família
· Bem de Família
 	A família vem passando por diversas transformações ao longo dos anos, com isso vem adquirindo um caráter mais afetivo do que meramente biológico. Isso aconteceu também porque, desde o advento da Constituição Federal de 1988, preza-se mais pela dignidade da pessoa, sendo ela um princípio norteador das demais normas jurídicas. Inserida na ideia de dignidade da pessoa, temos o que se pode chamar de “direito ao mínimo existencial”, ou seja, deve ser garantido a todos o mínimo necessário à sua sobrevivência digna. Assim, é possível uma reflexão acerca de quais bens seriam indispensáveis às necessidades básicas das pessoas. É aí que entra o conceito do “bem de família”.
	Pode ser conceituado como o imóvel utilizado como residência da entidade familiar, decorrente de casamento, união estável, entidade mono parenteral, ou entidade de outra origem, protegido por previsão legal específica. A impenhorabilidade é o elemento fundamental do instituto do Bem de Família, sendo o bem resguardado contra execução por dívidas (em regra). Na realidade jurídica nacional faz-se interpretação extensiva da proteção da moradia para atingir o imóvel onde reside pessoa solteira, separada ou viúva (Súmula 364 do STJ). Deve ser protegido, por ser um patrimônio mínimo necessário para se viver com dignidade e, por isso, não pode ser penhorado.
	O instituto do bem de família nasceu em nosso direito pelo Código Civil de 1916, que dele cuidava primeiro no Livro I “Das Pessoas”, depois foi transferido para o Livro II, intitulado “Dos Bens”. A constituição Federal de 1988 trouxe na redação de seu art. 5º, XXVI, a seguinte disposição: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”. Diplomas legais posteriores vieram também a tratar do bem de família, como a Lei n. 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos, arts. 260 a 265) e o Código de Processo Civil de 1973 (art. 1.218, VI).
	Posteriormente, adveio nova modalidade de bem de família, o chamado “Bem de Família Obrigatório”, imposto pelo próprio Estado como norma de ordem pública. Conforme o nome, o bem de família obrigatório decorre da lei, ou seja, independe da vontade das partes, e se forma pela imperatividade do texto legal. Esse instituto surgiu por meio da Lei nº 8.009/90, regulando o bem de família com o intuito de resguardar o imóvel que abriga o casal ou a entidade familiar, sobretudo aqueles que não têm ou informações suficientes para proteger juridicamente a sua moradia e de arcar com os custos de uma  instituição voluntariada.
	O Código Civil de 2002 trouxe o instituto do Bem de Família voluntário no livro de “Direito de Família” e trata da matéria nos artigos 1.711 a 1.722.
	Portanto, basicamente existem dois tipos de bem de família, o legal ou obrigatório, introduzido pela Lei Federal 8.009/90; e o voluntário ou convencional, que embora já existisse no Código Civil (CC) de 1916 e na Lei de Registros Públicos, Lei nº 6.015/73, foi no Código Civil de 2002 que encontrou sua praticidade e modernização em relação à Constituição Federal de 1988.
1. Bem de Família Obrigatório
	O Bem de família obrigatório esta disciplinado na Lei 8009/1990 que dispõe em seu artigo 1º:
“Art. 1°. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.”
	O bem de família legal protege o imóvel próprio do casal ou da entidade familiar, sendo este impenhorável, não respondendo por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam. A proteção ao bem de família decorrente da legislação é automática, não havendo necessidade de nenhum ato por parte do proprietário do imóvel, como nos ensina o professor Carlos Roberto Gonçalves: “[é] instituidor dessa modalidade o próprio Estado, que a impõe por norma de ordem pública em defesa do núcleo familiar, independe de ato constitutivo e, portanto, de registro no Registro de Imóveis.”
	Em regra, a impenhorabilidade somente pode ser reconhecida se o imóvel for utilizado para residência ou moradia permanente da entidade familiar, não sendo admitida a tese do simples domicílio, no entanto o requisito “morar no imóvel” foi mitigado pelo STJ, com a edição da súmula 486 que nos traz a seguinte redação:
"É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família."
	No caso de o imóvel ser alugado, a impenhorabilidade recai sobre os bens móveis que guarneçam a residência e sejam de propriedade do locatário (art. 1º, parágrafo único, da Lei 8.009/90). E sendo a pessoa solteira, viúvo, separado ou divorciado residindo solitário no imóvel, as jurisprudências têm admitido a impenhorabilidade de seu patrimônio familiar, como fica claro através da Súmula 364 editada pelo STJ:
“O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.”
	Ainda sobre esse diploma legal, importante invocarmos a Súmula n. 205 do STJ a qual prescreve que:
 “a Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência”.
2. Bem de Família Convencional
	Trata-se de modalidade subsidiária, pois a proteção do bem de família legal é automática, restando a tutela voluntária apenas para as hipóteses de instituição de tal bem por ato de vontade. O artigo nº 1.711 do CC traz a possibilidade de os cônjuges ou entidade familiar instituírem bem de família por escritura pública ou testamento, afetando-se parte do patrimônio à proteção da família.
“Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.”
	Como o testamento é um ato essencialmente revogável, cujos efeitos apenas se darão após a morte, é plenamente possível que o instituidor, antes da sua morte, mude de ideia sobre o bem de família. Ademais, haverá o testador de atender a legítima e não desrespeitar interesses de terceiros, a exemplo de credores
	Já a escritura pública de doação, perfeita e acabada, é irretratável, devendo o instituidor redobrar a sua atenção na referida manifestação de vontade. Por razões de ordem lógica, a instituição do bem de família demanda aceitação, não sendo imposta aos beneficiários.
	No sentido técnico, a oponibilidade deste bem de família, com a real percepção de sua impenhorabilidade, decorrerá do seu registro no respectivo cartório de imóveis (art. 1.714 do CC). Neste momento, o bem em destaque será gravado como de família, passando a possuir, perante todos, ou seja, com eficácia erga omnes, a especial característica de impenhorabilidade.
3. Exceções à impenhorabilidade
	Como vislumbrado, a impenhorabilidade do bem de família é uma proteção ao executado prevista tanto no Novo Código de Processo Civil, quanto na Lei 8.009/1990. Todavia, não se trata de mera arbitrariedade do legislativo. Pelo contrário, a proteção concedida é reflexo de previsões constitucionais.
	A impenhorabilidade do bem família não apenas respeita o direito a moradia, previstono artigo 6º da Constituição Federal. Ela também está em conformidade ao princípio da dignidade humana, previsto no inciso III do artigo 1º da Carta Maior. Não pode, portanto, a pretensão de ressarcimento econômico através do processo de execução se sobrepor às garantias da existência digna, para a qual importa o direito à moradia. Desse modo, restará protegido o bem familiar, ressalvadas as exceções previstas em lei.
· Obrigatório:
Os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos estão excluídos da impenhorabilidade. (art. 2º da Lei 8.009/90)
O artigo 3º da lei 8.009/90 fala que a impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza salvo se movido:
I – em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;
II – pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III – pelo credor de pensão alimentícia;
IV – para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
V – para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
VI – por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
VII – por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
· Convencional:
	Existem, também, algumas regras de exceção quanto ao bem de família convencional. Em primeiro lugar, como já mencionado, se o valor do bem for muito superior ao padrão médio, isto pode implicar em exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família. A lei, contudo, não traz expressa previsão dessa exceção. Menciona apenas que os móveis que integrem a residência serão impenhoráveis quando não superarem o padrão de vida médio (inciso II do artigo 833, Novo CPC).
	Em segundo lugar, a vaga de garagem com matrícula própria no registro de imóveis, como acontece em diversos prédios residenciais, não constitui bem de família, de acordo com a Súmula 449 do STJ.
	O artigo 5º Lei nº 8.009/1990 estabelece, também, que “para os efeitos de impenhorabilidade […] considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente”. O mesmo se aplica ao indivíduo solteiro, divorciado, em união estável ou viúvo que possua mais de um imóvel. Desse modo, os demais bens de sua propriedade poderão ser penhorados.
· Criação de uma hipótese com aplicação da lei
Caso: João X.Y.Z e Maria X.Y.Z são sócios de uma empresa que presta consultoria financeira para outras empresas. Ademais, João e Maria são cônjuges. Na oportunidade, a empresa ofertou o bem de família como garantia real, e este estava sendo executado. É possível que penhorem o bem de família legal dos sócios dessa empresa?
Solução: Sim, é possível, todavia, é uma exceção a regra. É possível penhorar imóvel bem de família nos casos em que ele for dado em garantia hipotecária de dívida contraída em favor de pessoa jurídica quando os únicos sócios da empresa devedora são proprietários do bem hipotecado, em virtude da presunção do benefício gerado aos integrantes da família, com base no inciso V, §3° da Lei 8.009/90 	que trata:
“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
[...]
V – para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;”
	O entendimento foi firmado em decisão unânime pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao negar recurso de um casal – únicos sócios da empresa executada e proprietários de um imóvel hipotecado – que pretendia o reconhecimento da impenhorabilidade do bem dado em garantia, sem ter sido apresentada prova de que os integrantes da família não foram beneficiados. O relator, ministro Luis Felipe Salomão, explicou que a impenhorabilidade do bem de família é instituída pela Lei 8.009/90 , que dispõe sobre o direito fundamental à moradia. Todavia, segundo o ministro, o artigo 3º da lei trata das exceções à regra geral, estabelecendo ser possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.
	
REFERÊNCIAS
[1] MORAES, Gabriela Barbosa de. BEM DE FAMÍLIA, publicado em 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/47892/bem-de-familia
[2] RAMOS, Ana Paula Corrêa. DIFERENÇAS ENTRE BEM DE FAMÍLIA LEGAL E CONVENCIONAL, publicado em 2016. Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1093983/2016/11/diferencas-entre-bem-de-familia-legal-e-convencional/
[3] ROQUE, Michelle. BEM DE FAMÍLIA LEGAL OU OBRIGATÓRIO, publicado em 2017. Disponível em: https://rok.jusbrasil.com.br/artigos/479809477/bem-de-familia-legal-ou-obrigatorio
[4] FIGUEIREDO, Renata Silva. BEM DE FAMÍLIA LEGAL OU OBRIGATÓRIO – LEI 8009/90, publicado em 2014. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8512/Bem-de-familia-legal-ou-obrigatorio-Lei-8009-90
[5] LEITÃO, Augusto. O QUE É BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL? – O DIREITO PARA TODOS, publicado em 2017. Disponível em: https://augustoleitaoadvocacia.jusbrasil.com.br/artigos/538609324/o-que-e-bem-de-familia-convencional-o-direito-para-todos
[6] OENNING, Alexandra. BEM DE FAMÍLIA CONVENCIONAL/VOLUNTÁRIO COMO FORMA DE PROTEÇÃO DE UM BEM RESIDENCIAL DETERMINADO, publicado em 2017. Disponível em: https://phmp.com.br/artigos/bem-de-familia-convencionalvoluntario-como-forma-de-protecao-de-um-bem-residencial-determinado/ 
[7] CHIANCA, Thiago. BEM DE FAMÍLIA E AS HIPÓTESES DE PENHORA E IMPENHORABILIDADE À LUZ DA LEGISLAÇÃO E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, publicado em 2017. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/61133/bem-de-familia-e-as-hipoteses-de-penhora-e-impenhorabilidade-a-luz-da-legislacao-e-do-superior-tribunal-de-justica

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