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Nova lei de migração

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O Brasil pode contar em breve com uma nova lei de Migração. A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) aprovou nesta quinta-feira (6) proposta que define os direitos e os deveres do migrante e do visitante no Brasil; regula a entrada e a permanência de estrangeiros; e estabelece normas de proteção ao brasileiro no exterior . O texto (SCD 7/2016) segue agora com urgência para o Plenário do Senado.
O projeto estabelece, entre outros pontos, punição para o traficante de pessoas, ao tipificar como crime a ação de quem promove a entrada ilegal de estrangeiros em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro. A pena prevista é de reclusão de dois a cinco anos, além de multa.
A proposta concede ainda anistia na forma de residência permanente aos imigrantes que, se ingressados no Brasil até 6 de julho de 2016, façam o pedido até um ano após o início de vigência da lei, independentemente da situação migratória anterior.
Moradia
De acordo com a proposta, a moradia no Brasil é autorizada para os casos previstos de visto temporário e também para o aprovado em concurso; para beneficiário de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida; para quem tiver sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migratória; a quem já tiver possuído a nacionalidade brasileira e não desejar ou não reunir os requisitos para readquiri-la.
A medida determina que todo imigrante detentor de visto temporário ou de autorização de residência seja identificado por dados biográficos e biométricos.
A proposta prevê ainda exceções para os casos de repatriação, como pessoa em situação de refúgio ou apátrida e menores de 18 anos desacompanhados ou separados de suas famílias, além de repatriação para nação ou região que possa apresentar risco à vida, segurança ou integridade.
Tramitação
A Nova Lei de Migração foi proposta no Projeto de Lei do Senado (PLS 288/2013) para substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/1980) adotado durante o regime militar.
A proposta já havia sido aprovada em 2015 pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) em decisão terminativa e remetida à Câmara dos Deputados. Em dezembro de 2016, um substitutivo da Câmara (SCD 7/2016) ao texto original do senador licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) foi aprovado e retornou para a análise do Senado.
A residência poderá ser negada ainda se a pessoa interessada tiver sido expulsa do Brasil anteriormente, se tiver praticado ato de terrorismo ou estiver respondendo a crime passível de extradição, entre outros.
Alterações
Na CRE, o substitutivo foi relatado por Tasso Jereissati (PSDB-CE), que deu parecer favorável à matéria e apresentou algumas alterações. Na avaliação dele, “a estrutura da proposição parte da consagração do migrante como sujeito de direitos e de garantias, a considerar a mobilidade humana como um todo, o que significa contemplar o imigrante, o emigrante e o visitante”.
Entre as mudanças propostas por Tasso está a retirada de um inciso que inclui a proteção ao mercado de trabalho nacional.  Para o senador, “essa diretriz é dúbia”, pois o mercado de trabalho não deve ser fechado e a migração é um fator de seu desenvolvimento.
“Brasileiros que saem, estrangeiros que entram, remessas que vêm, investimentos que chegam, capacitação e forças de trabalho e de inovação que se complementam. Isso é impulsionar o mercado de trabalho, e não o protecionismo”, defende o relator.
O relatório também sugere suprimir “por vício de iniciativa” o artigo 117, que cria o Conselho Nacional de Migração, vinculado ao Ministério do Trabalho e que sucederia o Conselho Nacional de Imigração, previsto no Estatuto do Estrangeiro.
“Trata-se de um projeto de origem do Senado Federal, que não pode criar um órgão dessa natureza, já que encerra conteúdo sobre organização e funcionamento da administração federal e, por via de consequência, invade competência privativa da Presidência da República”, argumenta. No entanto, “nada impede que, ao regulamentar a futura lei, o Poder Executivo defina funções similares a certa autoridade migratória”, completa.
O relator também mantém partes do texto original que tratam da expulsão do migrante e que foram retiradas no substitutivo da Câmara. Dessa forma, caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, sua duração ou suspensão, e sobre a revogação de seus efeitos.
A expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento de pena ou a suspensão condicional do processo. E também determina que a vigência da medida observará a proporcionalidade em relação ao prazo total da pena cominada e nunca será superior ao dobro do seu tempo
O Senado aprovou nesta terça-feira (18) o projeto da nova Lei de Migração, que define os direitos e os deveres do migrante e do visitante no Brasil; regula a entrada e a permanência de estrangeiros; e estabelece normas de proteção ao brasileiro no exterior. O texto analisado pelos senadores foi um substitutivo (texto alternativo) apresentado pela Câmara dos Deputados ao projeto original do Senado (SCD 7/2016 ao PLS 288/2013). O projeto agora depende da sanção presidencial para virar lei
A proposição estabelece, entre outros pontos, punição para o traficante de pessoas, ao tipificar como crime a ação de quem promove a entrada ilegal de estrangeiros em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro. A pena prevista é de reclusão de dois a cinco anos, além de multa.
O texto também concede anistia na forma de residência permanente a alguns imigrantes. A regra é válida para imigrantes que entraram no Brasil até 6 de julho de 2016 e que fizerem o pedido até um ano após o início de vigência da lei, independente da situação migratória anterior.
Moradia
De acordo com o projeto, a moradia no Brasil é autorizada para os casos previstos de visto temporário e também para o aprovado em concurso; para beneficiário de refúgio, de asilo ou de proteção ao apátrida (sem pátria); para quem tiver sido vítima de tráfico de pessoas, de trabalho escravo ou de violação de direito agravada por sua condição migratória; a quem já tiver possuído a nacionalidade brasileira e não desejar ou não reunir os requisitos para readquiri-la. Todos terão que ser identificados por dados biográficos e biométricos.
O texto traz ainda exceções para os casos de repatriação, como pessoa em situação de refúgio ou apátrida e menores de 18 anos desacompanhados ou separados de suas famílias, além de repatriação para nação ou região que possa apresentar risco à vida, segurança ou integridade.
A residência poderá ser negada se a pessoa interessada tiver sido expulsa do Brasil anteriormente, se tiver praticado ato de terrorismo ou estiver respondendo a crime passível de extradição, entre outros.
Histórico
A nova Lei de Migração foi proposta no Projeto de Lei do Senado (PLS 288/2013), do senador licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), para substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/1980) adotado durante o regime militar. O texto já havia sido aprovado em 2015 no Senado e remetido à Câmara dos Deputados. Em dezembro de 2016, retornou para a análise do Senado.
Para o relator do texto, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), a antiga lei era defasada e enxergava o migrante como uma ameaça, alguém que somente seria aceito na sociedade se trouxesse vantagens econômicas, sem receber contrapartida pela contribuição ao desenvolvimento do Brasil.
Para Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o texto votado é moderno e mais adequado ao Brasil da atualidade.
— O que regia as regras de imigração no Brasil até então era o Estatuto do Estrangeiro, de 1980, uma legislação defasada, incompatível com a Constituição de 1998, e herdada da ditadura — criticou.
Polêmica
Durante a discussão em plenário, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) criticou o trecho do texto que garante aos povos indígenas e populações tradicionais o direito à livre circulação em terras tradicionalmente ocupadas, independentemente das fronteiras criadasdepois. Para Caiado, isso significa "escancarar as fronteiras" do Brasil e pode facilitar o tráfico de drogas, especialmente da Venezuela, da Colômbia e do Paraguai.
— Então, seria melhor se se dissesse: "Olha, a partir de hoje toda a polícia de fronteira está impedida de identificar quem quer que seja no Brasil". Porque o cidadão diz: "Eu sou indígena." Qual é a avaliação de se dizer se ele é indígena ou não? "Não, mas eu sou de uma população tradicional." Como é que o policial vai dizer se ele é ou não de uma população tradicional? — questionou.
Tasso afirmou que os direitos originários desses povos são garantidos pela Constituição e que o objetivo do artigo é garantir a circulação a povos que desconhecem as marcas de fronteira fixadas pelo homem branco. Esses povos, explicou, não podem sofrer constrangimento ao se mover para caçar ou pescar, por exemplo.
— O que o dispositivo quer garantir é que esse indígena autêntico não seja constrangido nem ameaçado por eventualmente ter transposto uma fronteira marcada pelo homem branco dentro de uma região que há séculos seus antepassados já habitam. Daí a imaginar que hordas de narcotraficantes, terroristas e guerrilheiros, travestidos de indígenas, possam se valer desse mero dispositivo para invadir o país, como se tem divulgado em certas redes sociais, há uma distância abissal — esclareceu.
Alterações
Entre as alterações feitas pelo relator no texto da Câmara dos Deputados, está a retirada de um inciso que inclui a proteção ao mercado de trabalho nacional.  Para o senador, “essa diretriz é dúbia”, pois o mercado de trabalho não deve ser fechado e a migração é um fator de seu desenvolvimento.
Também foram mantidas partes do texto original que tratam da expulsão do migrante e que foram retiradas no substitutivo da Câmara. Dessa forma, caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, sua duração ou suspensão, e sobre a revogação de seus efeitos.
Tasso Jereissati também decidiu manter o texto original do projeto, que proibia a deportação, repatriação ou expulsão de qualquer indivíduo para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou sua integridade pessoal fosse ameaçada. Na Câmara, esse trecho havia sido acrescido de uma proteção para pessoas que tivessem a liberdade ameaçada em virtude de raça, religião, nacionalidade e grupo social a que pertencem, que foi retirada pelo relator.
Muitos de nós temos histórias de imigrantes para contar. 
Esta é típica. Na última década do século 19, um italiano corpulento e forte como um urso cruzou o Atlântico com sua mulher, que fora viúva de um combatente em uma das guerras de formação da Itália, e seu jovem enteado, um típico calabrês daqueles tempos —pequeno, mirrado, sem estudo, mas com um bigode impecavelmente elegante. 
Depois de se instalarem em Rio Claro, que vivia o fim de seus anos de ouro do ciclo do café, padrasto e enteado farejaram uma oportunidade de negócio: preço da carne no Mato Grosso compensava o investimento e o risco para quem a trouxesse para o mercado de Rio Claro e a apresentasse, devidamente fatiada, para o consumo. A aposta foi bem-sucedida, demonstrando que estavam atendendo a uma necessidade dos consumidores no interior paulista e gerando renda para os produtores no longínquo Mato Grosso. 
Nossos açougueiros imigrantes trouxeram trabalho e inventividade e assim deram sua contribuição para o Brasil. O rapazinho calabrês se tornou um empresário bem-sucedido, dono de uma bela propriedade de esquina na praça da Matriz. Seus filhos, nascidos no Brasil, estudaram, trabalharam e formaram famílias tipicamente brasileiras. 
Mas o que é mais típico nesta história de imigrantes não é a adaptação ao país e o sucesso nos negócios. É a data em que estes imigrantes cruzaram o Atlântico. 
O auge da migração ao Brasil ocorreu durante o período entre a promulgação da Lei Áurea e a passagem de leis anti-imigração pelo Estado Novo de Getúlio Vargas. Se, em um primeiro momento, as restrições interromperam o fluxo de imigrantes, mais tarde nossa decadência econômica em relação aos países do sul da Europa acabou tornando o Brasil um destino menos atrativo para imigrantes de além-mar. 
De 1904 a 1945, foram quase 2,5 milhões de imigrantes a entrar no Brasil. De 1945 a 1972, foram menos de 900 mil imigrantes, para uma população brasileira bem maior. 
* 
Nos países ricos, há uma crescente oposição à chegada de novos imigrantes. Onde havia a porta aberta para os mais capazes e empreendedores de países mais pobres, agora há restrições e promessas de construção de muros. 
Para onde irão os programadores indianos ambiciosos em 2020? Seus predecessores criaram companhias no Vale do Silício americano e geraram empregos e riquezas nos Estados Unidos. 
Para onde irão os profissionais venezuelanos que são forçados a viver em penúria por um governo criminosamente incompetente? A classe média cubana que sofreu sob a ditadura de Fidel Castro foi gerar riqueza nos Estados Unidos e na Espanha. 
Os muros levantados pelos países ricos abrem uma oportunidade para o Brasil. Quem não gostaria de engrossar o nosso caldo de talento? Nosso país ainda é mais rico e oferece salários mais altos que a maior parte das economias asiáticas e boa parcela do leste europeu. 
Ainda temos muito a fazer para nos tornarmos atrativos: isso não vai acontecer enquanto nossas cidades estiverem entre as mais violentas do mundo. Mas, pelo menos, podemos nos mover em direção a esse objetivo fazendo nossa política de imigração mais liberal. 
Nesse sentido, é uma boa notícia a aprovação da nova Lei de Migração, que vem substituir a legislação he
rdada dos tempos da ditadura militar —pela qual o estrangeiro era tratado como um problema potencial de segurança pública. 
Apesar de alguns artigos polêmicos, como a permissão para que indígenas cruzem fronteiras livremente —o que, críticos da lei alertam, pode facilitar o tráfico de drogas—, foi aprovada com apoio de deputados da base e da oposição do governo. 
Mas o ponto mais importante da lei está na interpretação dos direitos e deveres do estrangeiro. Assim como estabelece deveres, a lei aufere ao estrangeiro regular o direito ao trabalho e o acesso a serviços públicos em igualdade com os brasileiros natos. Assim, desde que contribuam para a Previdência, não lhes será negado o direito à aposentadoria. Também não será negado a seus filhos o direito de acesso à educação ou saúde pública. 
Não vai haver uma explosão de migrantes tentando entrar no Brasil. Antes que isso aconteça temos outras lições de casa a fazer. Mas já estamos dando o primeiro passo. 
* 
A aprovação da lei foi o único avanço que tivemos na pauta dos Direitos Humanos desde que o presidente ilegítimo Michel Temer assumiu o Planalto. 
(Marcelo Camargo/Agência Brasil) 
A nova Lei de Migração trata o imigrante como um sujeito de direitos, e não como estrangeiro.
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Por Natália Araújo*
Um dos entulhos da ditadura militar brasileira está prestes a ir para a lata do lixo. No dia 18 de abril de 2017 o plenário do Senado aprovou o projeto que revoga o Estatuto do Estrangeiro e instaura a nova Lei de Migração.
A aprovação da lei foi o único avanço que tivemos na pauta dos Direitos Humanos desde que o presidente ilegítimo Michel Temer assumiu o Planalto. A mudança legislativa vem sendo pautada por setores da sociedade civil brasileira e por movimentos de imigrantes há pelo menos sete anos e foi fruto de uma ampla mobilização, que pressionou o poder Legislativo e contou com a importante atuação de organizações como a Conectas Direitos Humanos, CELS, ITTC, Missão Paz, SEFRAS e Cáritas Arquidiocesana de São Paulo.
O próximo passo do texto da nova lei é a sanção presidencial e Michel Temer pode vetar artigos. Ainda assim, a revogação do Estatuto do Estrangeiro já pode ser considerada um avanço em direção à proteção dosDireitos Humanos de imigrantes no Brasil.
Apesar de o texto não ser considerado ideal, a mudança já começa no título da lei. A palavra estrangeiro, em sua origem, significa estranho, que inspira repulsa e hostilidade. Assim era o tratamento dado aos imigrantes pelo Estatuto do Estrangeiro, de 1980, baseado no paradigma da segurança nacional, que considerava uma ameaça pessoas vindas de fora do país.
A nova Lei de Migração, por outro lado, trata o imigrante como um sujeito de direitos, e não como estrangeiro. Além disso, a legislação migratória finalmente adequa-se à Constituição Federal, que determina tratamento igualitário a brasileiros e às pessoas vindas de fora. Nesse sentido, a lei institui o repúdio à xenofobia, ao racismo e a outras formas de discriminação, além de garantir o acesso a políticas públicas.
Outro ponto que deve ser destacado é que a nova lei pauta-se pelo princípio da não criminalização da migração o que, na prática, significa garantir de acesso à assistência jurídica e ao devido processo legal.
Além disso, o imigrante terá direito irrestrito à reunião, desde que para fins pacíficos, e de associação, inclusive sindical. O Estatuto do Estrangeiro veta qualquer tipo de exercício de atividade política e garante o direito de associação somente para fins culturais, religiosos e desportivos.
O direito ao voto, porém, ainda não está garantido aos imigrantes, pois para isso é necessário modificar não apenas a legislação migratória atual, mas a Constituição Federal, que restringe o sufrágio a brasileiros natos e naturalizados e aos portugueses com, no mínimo, três anos de residência ininterrupta no Brasil. O direito ao voto é uma demanda histórica do movimento de imigrantes e existem campanhas permanentes com essa reivindicação, como a Campanha Aqui Vivo, Aqui Voto.
A nova lei institui a promoção da entrada regular e da regularização documental. Essas medidas constituem avanços, uma vez que é necessário oferecer condições concretas para que os imigrantes obtenham documentos, e não apenas exigir papéis de difícil obtenção. Ademais, será concedida residência a imigrantes que tenham entrado no território brasileiro antes de 6 de julho de 2016, independentemente de sua situação migratória.
Mesmo sob a vigência do Estatuto do Estrangeiro, o Estado brasileiro já promoveu, de forma pontual, anistias a imigrantes em situação irregular, mas o alcance dessas medidas foi baixo devido a dificuldades com processos burocráticos e ao fato de que muitas pessoas sequer sabiam da possibilidade de anistia. Então, quando a Lei de migração for aprovada, será necessário realizar um amplo trabalho para difundir essa informação.
Com a aprovação da nova lei, garante-se também a acolhida humanitária, que passa a ser um princípio da política migratória brasileira. Antes, esse tipo de acolhida se dava através da concessão do visto humanitário, criado pelo Ministério da Justiça e pelo Ministério de Relações Exteriores, em 2012, para receber haitianos que vinham para o Brasil fugindo das consequências do terremoto de 2010 e que, portanto, não se encaixavam no rol de situações que garantem o direito de refúgio. Em 2013, o visto humanitário foi estendido aos sírios, que, ao chegar no Brasil, podem entrar com pedido de refúgio.
É evidente que a sociedade civil obteve uma grande vitória com a aprovação da nova Lei de Migração, entretanto, precisaremos estar muito atentos, pois as reações contrárias já são evidentes.
No dia 26 de março, setores conservadores da sociedade realizaram uma manifestação a favor de pautas como a reforma da previdência e a reforma trabalhista; nessa manifestação também apareceram posicionamentos contra a Lei de Migração.
Além disso, nos dias que antecederam a votação do projeto no plenário, houve uma grande quantidade de votos contrários à aprovação da lei em uma consulta virtual realizada pelo Senado. Apesar de os números não serem vinculantes, senadores contrários citaram a enquete como parte de seus argumentos.
Ao longo dessas lutas, esbarramos em diversos obstáculos e fomos vendo, na prática, que a imagem do brasileiro como um sujeito acolhedor não passa de um mito. Destaca-se também que a aprovação da nova Lei de Migração não é uma benesse do governo de Michel Temer, nem do Poder Legislativo.
Há muitos anos os movimentos de imigrantes e de brasileiros que atuam nessa pauta vêm colocando a urgência da revogação do Estatuto do Estrangeiro e a necessidade de criação de uma nova lei, que trate os imigrantes pela viés dos Direitos Humanos e não pela chave da ameaça à soberania e à segurança nacionais.
Os desafios que temos pela frente são imensos. O próprio fato de estarmos na contramão das tendências internacionais é um desses desafios. Enquanto diversos países estão aprovando medidas restritivas e securitizando suas fronteiras, no Brasil acabamos de aprovar uma lei que avança na garantia de Direitos Humanos aos imigrantes.
É importante ressaltar que uma legislação migratória restritiva não impede as pessoas de cruzarem as fronteiras e não determina quantas pessoas deixarão de entrar no território, mas quantas permanecerão em situação irregular.
Outro desafio que teremos que enfrentar é o fato de que vários artigos da nova lei devem ser regulamentados para se tornarem eficazes. Isso significa que, uma vez que a nova Lei de Migração entre em vigência, ainda teremos uma longa batalha para que as regulamentações sejam aprovadas.
Para que haja força social para fazer frente a todas essas questões, é essencial que a sociedade civil tenha conhecimento sobre a nova Lei de Migrações, o que exige de cada um de nós, defensores dos direitos dos imigrantes, um trabalho constante de conscientização e de combate à xenofobia.
*Natália Araújo é mestranda do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI-USP) e pesquisa movimentos sociais inter e transnacionais. Desde 2011, faz parte do coletivo de extensão universitária Educar para o Mundo, que trabalha com educação popular em Direitos Humanos com imigrantes e refugiados na cidade de São Paulo. Convidada do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI.

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