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ESCOLA TÉCNICA EGÍDIO JOSÉ DA SILVA PROF. SUANNE PONTES HIGIENE E PROFILAXIA PORTO SEGURO 2018 PROCESSO SAÚDE/DOENÇA E HISTÓRIA NATURAL Os conceitos de saúde e doença passaram por muitas variações no decorrer da História, sempre relacionados com os contextos vividos e a influência que cada época teve sobre a perspectiva do adoecimento e do estar saudável. Nessa perspectiva, foi se desenvolvendo um modelo de assistência à saúde voltado para a doença, para o tecnicismo e em que as relações são impessoais, baseadas apenas no contato breve e de certo modo superficial. Tomando por base uma revisão teórica da literatura a respeito dos conceitos de saúde e doença ao longo da História, nas perspectivas epidemiológica e antropológica, esse artigo apresenta a questão sanitária com enfoque na saúde. Em toda História, o processo saúde e doença foi evoluindo e se adequando às influencias sociais vigentes, refletindo costumes e ideias de médicos e teóricos de seu tempo. Na Antiguidade, surge com Galeno a ideia de saúde como equilíbrio entre as partes primárias do corpo, a crença de que as doenças seriam provocadas por elementos naturais ou sobrenaturais (influência da filosofia religiosa). Na medicina hindu e chinesa, o desequilíbrio do organismo e para os gregos os fatores externos causariam doenças (ideia de contágio). No medievo a doença retoma o caráter religioso, mas com as epidemias retorna-se temor do contágio (envenenamento das águas por leprosos, bruxarias, conjugação dos astros e outros). Era comum atribuir aos entes míticos a causa das doenças. Pouco se sabia a respeito da verdadeira etiologia das doenças, o que fazia com que as crenças e o misticismo fossem fundamentais para compreensão dos elementos originadores das doenças e o seu tratamento. No renascimento, estudos empíricos buscavam as matérias causadoras do contagio, surgindo a teoria miasmática. Essa teoria pode ser entendida como a influência dos odores venenosos que ao serem levados pelos ventos contaminavam o ar, hoje entende-se como uma teoria ultrapassada. A medicina social (séc.XVII ao XX), abriu espaço para prática médica individual e criou condições de salubridade adequadas a nova sociedade. Já a bacteriologia (séc.XIX) com as vacinas e produtos químicos para combater os agentes etiológicos das doença, também desenvolveu um trabalho mais especifico e menos generalizado, direcionado para uma patologia celular. Com o fortalecimento da biologia, a fisiologia, a bacteriologia e o desenvolvimento de pesquisas a medicina se torna uma ciência experimental. Na Idade Moderna há uma redução, objetividade , fragmentação do conhecimento do corpo, biologização da saúde e o equilíbrio orgânico, traduzindo os acontecimentos de formas abstratas aos enquadramentos, demonstráveis e calculáveis. Na contemporaneidade, saúde e doença no indivíduo como sistema vivo, passam a ser compreendidas nas suas relações de subjetividade, e não apenas nas dimensões biológicas. Os conceitos de normalidade e patologia ganham flexibilidade e passam a incorporar outras perspectivas a respeito das influencias que uma realidade social e histórica podem exercer sobre o processo saúde-doença. Agora, o que se pretende é observar os contextos vulneráveis e promover a saúde respaldando-se nos acontecimentos que afetam individual e coletivamente. Na epidemiologia o foco está nas causas das doenças, na dimensão biológica e reação favorável do organismo aos estímulos externos. As dimensões subjetivas do indivíduo (a psicopatológica e psicossomática) são desconsideradas por não terem precisão diagnóstica, garantida pelos componentes laboratoriais. Isso leva ao pensamento de que a doença fica reduzida ao dados fisiológicos, e o trabalho fica restrito ao reconhecimento da doença já instalada. Na ótica antropológica, a doença não se reduz a plano individual e biológico, voltando-se para saúde, condições de vida e incorporando também a visão dos usuários dos serviços de saúde. Assim, saúde e doença são construídas a partir de uma herança cultural e de uma história social, em que inúmeras variáveis podem interferir e comprometer o estado de normalidade do indivíduo. A influência cultural e social sempre se fez presente no conceito de saúde e doença no decorrer da História. Mas, apesar de toda precisão científica, não se pode reduzir o indivíduo a um organismo vivo biologicamente previsível, nem desconsiderar toda forma de influência externa (econômica, familiar, de hábitos e outras) que resulta da dinâmica entre o sujeito, o seu meio e o resultado das suas experiências. Tanto a prática dos profissionais da saúde, quanto a racionalidade científica precisam compreender e explicar a realidade, para conseguir desenvolver uma política de educação para saúde, principalmente em contextos mais vulneráveis. Não se trata apenas de como combater a doença, mas de promover uma prevenção. Enfim, hoje em dia as questões sobre saúde já não pertencem apenas ao domínio biomédico, apesar desse modelo ainda ser hegemônico e considerar certas práticas populares como irracionais, tem na interdisciplinariedade a possibilidade de se aproximar dos usuários, conhecer suas produções culturais e colaborar para que esses se tornem agentes transformadores da realidade. Isso torna-se viável com o auxílio da epidemiologia , antropologia, psicologia e demais ciências que dentro dos seus recortes, contribuem para o estudo e tratamento das doenças. Considero a leitura bastante significativa para que profissionais da saúde tenham um maior conhecimento sobre as muitas maneiras que a ideia de doença e saúde foi desenvolvida ao longo da historia, e como pode ser abordada em nossos dias. Para Psicologia da Saúde sua relevância também remete as formas de lidar com o adoecimento e a saúde em parceria com os demais saberes, promovendo saúde e não apenas combatendo a doença. NÍVEIS DE PREVENÇÃO DAS DOENÇAS PREVENÇÃO DE DOENÇAS O termo Prevenção está relacionado a medidas tomadas antes do surgimento ou agravamento de uma condição mórbida ou de um conjunto dessas (LEFEVRE, 2004). Portanto, prevenir também significa agir para que a doença manifeste-se de forma mais branda no indivíduo ou no ambiente coletivo. O movimento da medicina preventiva surgiu, entre o período de 1920 e 1950 na Inglaterra, EUA e Canadá, em um contexto de crítica à medicina curativa. Este movimento propôs uma mudança da prática médica através de reforma no ensino médico, buscando a formação de profissionais médicos com uma nova atitude nas relações com os órgãos de atenção à saúde; ressaltou a responsabilidade dos médicos com a promoção da saúde e a prevenção de doenças; introduziu a epidemiologia dos fatores de risco, privilegiando a estatística como critério científico de causalidade (CZERESNIA, 2003, p.04). Segundo Arouca (1975 apud CZERESNIA, 2003), o discurso da medicina preventiva emergiu em um campo formado por três vertentes: a Higiene, que surgiu no século XIX; a discussão dos custos da assistência médica; a redefinição das responsabilidades médicas que aparece no interior da educação médica. Prevenção primária: Nesse nível, encontram-se agrupadas as medidas ou ações especialmente destinadas ao período que antecede a ocorrência da doença. Dentre elas, destacam-se o saneamento básico, a vacinação e o controle de vetores, por exemplo. " Significa evitar a ocorrência de uma doença, eliminandofatores de risco ou tratamento de lesões precursoras. Ela é definida como promoção de saúde e as prevenção de enfermidades ou profilaxia. " Alunos Alguns Exemplos: 1. Uso de preservativos para evitar a infecção por DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) 2. Uso de Capacete pelo Motociclista. Uso de cinto de segurança, air-bag, capacetes e outros dispositivos de segurança para ciclistas e motociclistas. 3. Uso de luvas para manipular material biológico. 4. Controle de vetores, vacinas, como a vacina para poliomielite. 5. Ginástica Laboral e Exercício Físico para aqueles que nunca tiveram tendinite, diminuirá as possibilidades de que os mesmos desenvolvam a doença. Prevenção secundária: Incorpora uma série de medidas que visam a impedir a evolução de doenças já existentes e, em consequência, suas complicações. Os exames periódicos e o autoexame de mama, entre outros, são procedimentos de reconhecida eficácia para o diagnóstico precoce, que permite o início imediato do tratamento e evita, muitas vezes, o agravamento da enfermidade. "Prevenção secundária significa prevenção da evolução das enfermidades através da execução de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos." Alguns Exemplos: 1. Um paciente hipertenso, previamente diagnosticado, que tem monitoramento de profissionais de saúde, exercício físico orientado, dieta adequada, é livrado das situações de estresse do cotidiano, terá uma evolução muito lenta da patologia, diminuindo incrivelmente as possíveis complicações da doença. 2. Um paciente com infecção por HPV (papiloma vírus humano) no colo do útero com acompanhamento e orientação do ginecologista, pode evitar o câncer de colo de útero. 3. Um paciente com tendinite em fase aguda, inicial, com o tratamento fisioterapêutico correto, pode evitara piora que evolui para a diminuição dos movimentos do braço. 4. Um paciente com AIDS, fazendo uso correto da medicação diminui as possibilidades de complicações, melhora a qualidade de vida e garante maior sobre vida. Prevenção terciária: Esse último nível engloba ações voltadas à reabilitação do indivíduo após a cura ou o controle da doença, a fim de reajustá-lo a uma nova condição de vida. Fazem parte dessas medidas a fisioterapia, fisiatria, a terapia ocupacional e a colocação de próteses, por exemplo. Lida com a recuperação funcional de sequelas, que muitas vezes são irreversíveis. Enfim, as medidas preventivas à nossa disposição são inúmeras, e muitas delas devem ser incorporadas ao nosso estilo ou hábito de vida porque certamente contribuem para a manutenção de nossa qualidade de vida. "Após o controle da doença, as atividades que possam contribuir para a manutenção da nossa saúde. Um exemplo que vamos citar é sobre o trauma que já ocorreu, a sua gravidade também já está determinada. O que é necessário agora, é minorar ao máximo as consequências do que já aconteceu. E muito ajuda o que fica pelas nossas responsabilidades." Alunos Alguns Exemplos: 1. Um paciente hipertenso o qual não teve uma prevenção secundária efetiva no controle dessa doença de base, pode sofrer um agravamento da pressão. 2. Um paciente hipertenso, previamente diagnosticado, que tem monitoramento de profissionais de saúde, exercício físico orientado, dieta adequada, é livrado das situações de estresse do cotidiano, terá uma evolução muito lenta da patologia, diminuindo incrivelmente as possíveis complicações da doença. VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA Ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a distribuição populacional e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração, e avaliação das ações de saúde.” Almeida Filho & Rouquayrol, 1992. • Usos da epidemiologia: diagnóstico em saúde, vigilância epidemiológica; avaliação de programas e intervenções; pesquisas. Histórico: Antes da primeira metade da década de 60. “Observação sistemática e ativa de casos suspeitos ou confirmados de Doenças Transmissíveis”. Tratava-se da vigilância de pessoas, através de medidas de isolamento ou de quarentena. Eram ações aplicadas individualmente e não de forma coletiva. Após a primeira metade da década de 60, com a introdução das campanhas de Erradicação de doenças como a Varíola e Malária, foi organizada uma estrutura de vigilância tendo como objetivo a busca ativa de casos da doença, a fim de desencadear as ações destinadas a bloquear a transmissão. Que era desativada após o término do problema. Vigilância = vigiar= olhar= observar= conhecer. Em 1975, por recomendação da V Conferência Nacional de Saúde, foi instituído o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica - SNVE - Lei 6259/75. Em 1976, o Decreto 78.231 Regulamentou o SNVE - incorporando o conjunto de Doenças Transmissíveis, então consideradas de maior relevância sanitária do país. Tentava-se compatibilizar as diversas estratégias operacionais de intervenção desenvolvidas para controlar doenças específicas. INDICADORES DE SAUDE Conceito: Indicadores são medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde. Conceito de Indicadores: É uma tentativa de estabelecer medidas por meio de relações, portanto de expressões numéricas como forma de aproximação da realidade de um dado fenômeno, fato, evento ou condição. Uso dos indicadores de saúde A utilização de indicadores de saúde, como todas as medidas em epidemiologia, pressupõe sua comparação no: TEMPO ESPAÇO A construção de um indicador é um processo cuja complexidade pode variar desde a simples enumeração de eventos à construção de indicadores sintéticos. Os Indicadores podem ser: • Números absolutos • Razões • Proporções • Taxas/Coeficientes • Índices • Indicadores sintéticos SANEAMENTO BÁSICO Definição Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social. De outra forma, pode-se dizer que saneamento caracteriza o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar Salubridade Ambiental. A oferta do saneamento associa sistemas constituídos por uma infraestrutura física e uma estrutura educacional, legal e institucional, que abrange os seguintes serviços: - abastecimento de água às populações, com a qualidade compatível com a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de condições básicas de conforto; - coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e agrícola; - acondicionamento, coleta, transporte e/ou destino final dos resíduos sólidos (incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de serviços, industrial e pública); - coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações; - controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores, moluscos, etc.); - saneamento dos alimentos; - saneamento dos meios transportes; - saneamento e planejamento territorial; - saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação e de recreação e dos hospitais; e - controle da poluição ambiental – água, ar e solo, acústica e visual. É o estado de higidez (estado de saúdenormal) em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover o aperfeiçoamento de condições mesológicas (que diz respeito ao clima e/ou ambiente) favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-estar. – Meio ambiente A Lei nº 6.938, de 31/8/1981, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação no Brasil, define: Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Abordagem histórica A importância do saneamento e sua associação à saúde humana remonta às mais antigas culturas. O saneamento desenvolveu-se de acordo com a evolução das diversas civilizações, ora retrocedendo com a queda das mesmas, ora renascendo com o aparecimento de outras. Os poucos meios de comunicação do passado podem ser responsabilizados, em grande parte, pela descontinuidade da evolução dos processos de saneamento e retrocessos havidos. Conquistas alcançadas em épocas remotas ficaram esquecidas durante séculos porque não chegaram a fazer parte do saber do povo em geral, uma vez que seu conhecimento era privilégio de poucos homens de maior cultura. Por exemplo, foram encontradas ruínas de uma civilização na Índia que se desenvolveu a cerca de 4.000 anos, onde foram encontrados banheiros, redes de esgoto nas construções e drenagem nas ruas. O antigo testamento da Bíblia apresenta diversas abordagens vinculadas às práticas sanitárias do povo judeu como, por exemplo, o uso da água para limpeza de roupas sujas que favoreciam o aparecimento de doenças (escabiose). Desta forma os poços para abastecimento eram mantidos tampados, limpos e longe de possíveis fontes de poluição. Existem relatos do ano 2000 a.C., de tradições médicas, na Índia, recomendando que a água impura devia ser purificada pela fervura sobre um fogo, pelo aquecimento no sol, mergulhando um ferro em brasa dentro dela ou podia ainda ser purificada por filtração em areia ou cascalho, e então resfriada. Das práticas sanitárias coletivas mais marcantes na antigüidade destacam-se a construção de aquedutos, banhos públicos, termas e esgotos romanos, tendo como símbolo histórico a conhecida Cloaca Máxima de Roma. Havia em Roma nove aquedutos para abastecimento, com extensão que variavam de 16 a 80 km e seção transversal de 0,65 a 4,65 m2 . Alguns autores estimaram a capacidade total de todos estes aquedutos e chegaram a uma vazão de 221,9 m3 .d-1 2,57 m3 .s-1, suficiente hoje para abastecer uma cidade 4 de 600.000 habitantes, admitindo-se uma demanda per capta de aproximadamente 300 L.d-1 . Entretanto, a falta de difusão dos conhecimentos de saneamento levou os povos a um retrocesso, originando o pouco uso da água durante a Idade Média, quando o consumo per capita de certas cidades européias chegou a 1 L por habitante por dia. Nessa época, houve uma queda nas conquistas sanitárias e consequentemente sucessivas epidemias. O quadro característico desse período é o lançamento de dejetos na rua. Nessa ocasião, a construção de aquedutos pelos mouros, o reparo do aqueduto de Sevilha em 1235, a construção de aqueduto de Londres com o emprego de alvenaria e chumbo e, em 1183, o abastecimento inicial de água em Paris, são obras que podem ser citadas. Somente no século passado é que se começou a dispensar maior atenção à proteção da qualidade de água, desde sua captação até sua entrega ao consumidor. Essa preocupação se baseou nas descobertas que foram realizadas a partir de então, quando diversos cientistas mostraram que havia uma relação entre a água e a transmissão de muitas doenças causadas por agentes físicos, químicos e biológicos. Ainda nos dias de hoje, mesmo com os diversos meios de comunicação existentes, verifica-se a falta de divulgação desses conhecimentos. Em áreas rurais a população consome recursos para construir suas casas sem incluir as facilidades sanitárias indispensáveis, como poço protegido, fossa séptica, etc. Assim sendo, o processo saúde versus doença não deve ser entendido como uma questão puramente individual e sim como um problema coletivo. No Brasil, pesquisas realizadas no início dos anos 90 pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possibilitam uma visualização do quadro sanitário do país, evidenciando as condições precárias a que está exposta grande parte da população brasileira. Em 1991, o Brasil possuía uma população de 152,3 milhões de habitantes, sendo que 77% destes viviam em áreas urbanas e apenas 23% em áreas rurais. Do total da população brasileira, menos de 70% dos habitantes eram atendidos 5 por sistemas coletivos de abastecimento de água. Atualmente (2004), estatísticas do Ministério da Saúde revelam que cerca de 90% da população urbana brasileira é atendida com água potável. O déficit, ainda existente, está localizado, basicamente, nos bolsões de pobreza, ou seja, nas favelas, nas periferias das cidades, na zona rural e no interior. Problemas recorrentes nos sistemas são devidos ao não cumprimento dos padrões de potabilidade pela água distribuída e a ocorrência de intermitência no abastecimento, comprometendo a quantidade e a qualidade da água distribuída à população. Além disso, o índice de perda é muito elevado principalmente em função de vazamentos e desperdícios. Com relação ao esgotamento sanitário, os dados são ainda mais impressionantes, uma vez que, em 1995, apenas 30% da população brasileira era atendida por redes coletoras. Neste mesmo período, o volume de esgoto tratado era extremamente baixo, com apenas 8% dos municípios apresentando unidades de tratamento. Mesmo nessas situações, em geral as estações de tratamento atendiam apenas uma parcela da população, as eficiências eram reduzidas e problemas operacionais eram bastantes freqüentes. Estatísticas atuais (2004) do Ministério da Saúde apresentam um número da ordem de 60% da população sendo atendida por redes coletoras de esgoto. As deficiências na coleta e a disposição inadequada do lixo, que é lançado a céu aberto na maioria das cidades, caracterizavam, 1995, um outro grande problema ambiental e de saúde pública. Além disso, em geral no Brasil, carências graves podem ser verificadas na área de drenagem urbana, submetendo diversos municípios a periódicas enchentes e inundações, além de problemas na área de controle de vetores, os quais vem provocando a ocorrências frequentes de endemias como o dengue, a leptospirose e a leishmaniose. Saúde e saneamento Sanear quer dizer tornar são, sadio, saudável. Pode-se concluir, portanto, que Saneamento equivale a saúde. Entretanto, a saúde que o Saneamento proporciona difere daquela que se procura nos hospitais e nas chamadas casas de saúde. É que para esses estabelecimentos são encaminhadas as pessoas que já estão efetivamente doentes ou, no mínimo, presumem que estejam. Ao contrário, o Saneamento promove a saúde pública preventiva, reduzindo a necessidade de procura aos hospitais e postos de saúde, porque elimina a chance de contágio por diversas moléstias. Isto significa dizer que, onde há Saneamento, são maiores as possibilidades de uma vida mais saudável e os índices de mortalidade - principalmente infantil - permanecem nos mais baixos patamares. O conceito de Promoção de Saúde proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS),desde a Conferência de Ottawa, em 1986, é visto como o princípio orientador das ações de saúde em todo o mundo. Assim sendo, partese do pressuposto de que um dos mais importantes fatores determinantes da saúde são as condições ambientais. O conceito de saúde entendido como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não restringe ao problema sanitário ao âmbito das doenças. Hoje, além das ações de prevenção e assistência, considera-se cada vez mais importante atuar sobre os fatores determinantes da saúde. É este o propósito da promoção da saúde, que constitui o elemento principal da propostas da Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). A utilização do saneamento como instrumento de promoção da saúde pressupõe a superação dos entraves tecnológicos políticos e gerenciais que têm dificultado a extensão dos benefícios aos residentes em áreas rurais, municípios e localidades de pequeno porte. A maioria dos problemas sanitários que afetam a população mundial estão intrinsecamente relacionados com o meio ambiente. Um exemplo disso é a diarreia que, com mais de quatro bilhões de casos por ano, é uma das doenças que mais aflige a humanidade (causa de 30% das mortes de crianças com menos de um ano de idade). Entre as causas dessa doença destacam-se as condições inadequadas de saneamento. Mais de um bilhão dos habitantes da Terra não têm acesso a habitação segura e a serviços básicos, embora todo ser humano tenha direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. No Brasil as doenças resultantes da falta ou de um inadequado sistema de saneamento, especialmente em áreas pobres, têm agravado o quadro epidemiológico. Estudos do Banco Mundial (1993) estimam que o ambiente doméstico inadequado é responsável por quase 30% da ocorrência de doenças nos países em desenvolvimento. Estimativa do impacto da doença devido à precariedade do ambiente doméstico nos países em desenvolvimento. Principais doenças ligadas à Principais doenças ligadas à precariedade do ambiente doméstico Problema ambiental Tuberculose Superlotação Diarréia Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene Doenças tropicais Falta de saneamento, má disposição do lixo, foco de vetores de doenças na redondeza Verminoses Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene Infecções respiratórias Poluição do ar em recinto fechado, superlotado Doenças respiratórias crônicas Poluição do ar em recinto fechado Câncer do aparelho respiratório Poluição do ar em recinto fechado. Investir em saneamento é a única forma de se reverter o quadro existente. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 investido no setor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área de medicina curativa. Entretanto, é preciso que se veja o outro lado da moeda, pois o homem não pode ver a natureza como uma fonte inesgotável de recursos, que pode ser depredada em ritmo ascendente para bancar necessidades de consumo que poderiam ser atendidas de maneira racional, evitando a devastação da fauna, da flora, da água e de fontes preciosas de matérias-primas. Pode-se construir um mundo em que o homem aprenda a conviver com seu hábitat numa relação harmônica e equilibrada, que permita garantir alimentos a todos sem transformar as áreas agricultáveis em futuros desertos. Para isso, é necessário que se construa um novo modelo de desenvolvimento em que se harmonizem a melhoria da qualidade de vida das suas populações, a preservação do meio ambiente e a busca de soluções criativas para atender aos anseios de seus cidadãos de ter acesso a certos confortos da sociedade moderna.
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