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Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia Anatomia interna do coração e circulação do sangue Disciplina de Morfologia Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 2 Câmaras cardíacas O coração consiste, funcionalmente, em duas bombas separadas por um septo (Fig. 3.62A). A bomba direita recebe sangue desoxigenado do corpo e o envia para os pulmões. A bomba esquerda recebe o sangue oxigenado proveniente dos pulmões e o envia para o corpo. Cada bomba consiste em um átrio e um ventrículo, separados por uma valva. FIG. 3.62 A. O coração possui duas bombas. B. Imagem de ressonância magnética do tórax médio mostrando as quatro câmaras e os septos. Os átrios, de paredes finas, recebem o sangue que chega ao coração, enquanto os ventrículos, de paredes relativamente espessas, bombeiam o sangue para fora do coração. É necessária uma força para bombear o sangue através do corpo maior do que para os pulmões; por essa razão, a parede muscular do ventrículo esquerdo é mais espessa do que a parede do ventrículo direito. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 3 Os septos interatrial, interventricular e atrioventricular separam as quatro câmaras do coração (Fig. 3.62B). A anatomia interna de cada câmara é crucial para sua função. Átrio direito Na posição anatômica, a margem direita do coração é formada pelo átrio direito. Essa câmara também contribui para a porção direita da face esternocostal do coração. O sangue que retorna ao átrio direito entra através de um de três vasos. São eles: as veias cavas superior e inferior, que, juntas, trazem o sangue do corpo para o coração; e o seio coronário, que traz de volta o sangue das próprias paredes do coração. A veia cava superior entra na porção posterossuperior do átrio direito, e a veia cava inferior e o seio coronariano entram na porção posteroinferior do átrio direito. Do átrio direito, o sangue passa para o ventrículo direito através do óstio atrioventricular direito. Essa abertura está voltada anterior e medialmente e é fechada durante a contração ventricular pela valva atrioventricular direita (valva tricúspide). O interior do átrio direito é dividido em dois espaços contínuos. Externamente, essa separação é indicada por um sulco vertical raso (o sulco terminal do coração), que se estende do lado direito da abertura da veia cava superior ao lado direito da abertura da veia cava inferior. Internamente, essa divisão é indicada pela crista terminal (Fig. 3.63), que é uma crista muscular lisa que começa no teto do átrio imediatamente em frente ao óstio da veia cava superior e se estende inferiormente pela parede lateral até a margem anterior da veia cava inferior. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 4 FIG. 3.63 Vista interna do átrio direito. O espaço posterior à crista terminal é o seio das veias cavas, que deriva embriologicamente do corno direito do seio venoso. Esse componente do átrio direito possui paredes finas e lisas, e ambas as veias cavas desembocam nesse espaço. O espaço anterior à crista terminal, incluindo a aurícula direita, algumas vezes é denominado átrio propriamente dito. Essa terminologia é baseada em sua origem a partir do átrio embriológico primitivo. Suas paredes são cobertas por cristas chamadas de músculos pectíneos, que se espalham a partir da crista como “dentes de um pente”. Essas cristas também são encontradas na aurícula direita, que é uma bolsa muscular cônica, em forma de orelha, que se sobrepõe externamente à parte ascendente da aorta. Uma estrutura adicional no átrio direito é o óstio do seio coronário, que recebe o sangue da maioria das veias cardíacas e se abre medialmente Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 5 ao óstio da veia cava inferior. Associadas a essas aberturas, existem pequenas pregas de tecido derivadas da válvula do seio venoso embrionário (a válvula do seio coronário e a válvula da veia cava inferior, respectivamente). Durante o desenvolvimento, a válvula da veia cava inferior ajuda na entrada direta do sangue oxigenado, através do forame oval até o átrio direito. Separando o átrio direito do átrio esquerdo está o septo interatrial, que se volta anteriormente e para a direita, porque o átrio esquerdo se situa posteriormente e para a esquerda em relação ao átrio direito. Uma depressão fica claramente visível no septo imediatamente acima do óstio da veia cava inferior. É a fossa oval, com sua margem proeminente, o limbo da fossa oval. A fossa oval marca o local do forame oval embrionário, que é uma parte importante da circulação fetal. O forame oval permite que o sangue oxigenado que entra no coração através da veia cava inferior passe diretamente ao átrio esquerdo e, portanto, se desvie dos pulmões que não são funcionais antes do nascimento. Finalmente, numerosas pequenas aberturas — as aberturas das veias cardíacas mínimas (os forames das veias mínimas) — estão espalhadas ao longo das paredes do átrio direito. São pequenas veias que drenam o miocárdio diretamente para o átrio direito. Ventrículo direito Na posição anatômica, o ventrículo direito forma a maior parte da superfície anterior do coração e uma parte da superfície diafragmática. O átrio direito está localizado à direita do ventrículo direito, o qual está localizado em frente e à esquerda do orifício atrioventricular direito. O sangue que entra no ventrículo direito vindo do átrio direito, portanto, move-se na horizontal e para frente. A via de saída do ventrículo direito, o qual leva ao tronco pulmonar, é o cone arterial. Essa área tem paredes lisas e deriva do bulbo cardíaco embrionário. As paredes da porção de entrada do ventrículo direito possuem diversas estruturas musculares irregulares denominadas trabéculas cárneas (Fig. 3.64). A maior parte destas estruturas estão fixadas às paredes ventriculares em todo seu comprimento, formando cristas, ou fixadas em ambas as extremidades, formando pontes. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 6 FIG. 3.64 Vista interna do ventrículo direito. Algumas das trabéculas cárneas (músculos papilares) possuem apenas uma extremidade fixada à superfície ventricular, enquanto a outra extremidade funciona como ponto de fixação para cordões fibrosos tendíneos (cordas tendíneas), que se conectam às extremidades livres das cúspides da valva tricúspide. Existem três músculos papilares no ventrículo direito. Recebem seus nomes conforme seus pontos de origem na superfície da parede ventricular e são músculos papilares anterior, posterior e septal: O músculo papilar anterior é o maior e mais constante músculo papilar, sendo originado na parede anterior do ventrículo. O músculo papilar posterior pode consistir de uma, duas ou três estruturas, com algumas cordas tendíneas originadas diretamente da parede ventricular. O músculo papilar septal é o mais inconstante, sendo menor ou inexistente, com cordas tendíneas originadas diretamente na parede septal. Uma única trabécula especializada, a trabécula septomarginal (banda moderadora), forma uma ponte entre a porção inferior do septo interventricular e a base do músculo papilar anterior. A trabécula Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 7 septomarginal transporta parte do sistema de condução do coração, o feixe direito do feixe atrioventricular, até a parede anterior do ventrículo direito. Valva atrioventricular direita O óstio atrioventricular direito é fechado durante a contração ventricular pela valva tricúspide(valva atrioventricular direita), assim chamada porque, geralmente, é formada por três válvulas ou “cúspides” (Fig. 3.64). A base da cada válvula é presa ao anel fibroso que circunda o óstio atrioventricular. Esse anel fibroso ajuda a manter a forma da abertura. As válvulas são contínuas entre si, perto de suas bases nos pontos denominados comissuras. O nome das três válvulas anterior, septal e posterior é baseado em suas posições em relação à parede do ventrículo direito. As margens livres das válvulas fixam-se às cordas tendíneas, que se originam das extremidades dos músculos papilares. Durante o enchimento do ventrículo direito, a valva atrioventricular direita fica aberta, e as três válvulas da valva projetam-se para o ventrículo direito. Sem a presença de um mecanismo compensatório quando a musculatura ventricular se contrai, as válvulas da valva seriam forçadas para cima com o fluxo de sangue, e o sangue voltaria para o átrio direito. No entanto, a contração dos músculos papilares fixados às válvulas, através das cordas tendíneas, impede que as válvulas sejam invertidas para dentro do átrio direito. Simplificando, os músculos papilares e as cordas tendíneas associadas mantêm as valvas fechadas durante as alterações bruscas do tamanho ventricular que ocorrem no decorrer da contração. Além disso, cordas tendíneas de dois músculos papilares fixam a cada cúspide. Isso ajuda a prevenir a separação das válvulas durante a contração ventricular. O fechamento correto da valva atrioventricular direita causa a saída do sangue do ventrículo direito e sua movimentação para o tronco pulmonar. A necrose do músculo papilar, consequente ao infarto do miocárdio (ataque cardíaco), pode resultar em prolapso da valva associada. Valva do tronco pulmonar No ápice do cone arterial, o trato de saída do ventrículo direito, a abertura para o tronco pulmonar, é fechado pela valva do tronco pulmonar (Fig. 3.64), que Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 8 consiste em três válvulas semilunares com margens livres se projetando superiormente em direção à luz do tronco pulmonar. A margem superior livre de cada válvula tem uma porção média espessada, o nódulo da valva semilunar, e uma porção lateral fina, a lúnula da válvula semilunar (Fig. 3.65). FIG. 3.65 Vista posterior da valva pulmonar. As válvulas recebem os nomes de válvulas semilunares esquerda, direita e anterior em relação a suas posições fetais antes que a rotação dos tratos de saída dos ventrículos esteja completa. Cada válvula constitui um seio em forma de bolso (Fig. 3.65) — uma dilatação na parede da parte inicial do tronco pulmonar. Depois da contração ventricular, o retorno do sangue enche esses seios pulmonares e força as válvulas a se fecharem. Isso impede que o sangue do tronco pulmonar retorne para o ventrículo direito. Átrio esquerdo O átrio esquerdo forma a maior parte da base ou face posterior do coração. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 9 Como o átrio direito, o átrio esquerdo é derivado embriologicamente de duas estruturas: A metade posterior, ou porção de entrada, recebe as quatro veias pulmonares (Fig. 3.66). Possui paredes lisas e derivadas das partes proximais das veias pulmonares, que são incorporadas ao átrio esquerdo durante o desenvolvimento. FIG. 3.66 Átrio esquerdo. A. Vista interna. B. Imagem axial de tomografia computadorizada mostrando as veias pulmonares entrando no átrio esquerdo. A metade anterior é contínua com a aurícula esquerda. Contém músculos pectíneos e deriva do átrio primitivo embrionário. Diferentemente da crista Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 10 terminal no átrio direito, nenhuma estrutura distinta separa os dois componentes no átrio esquerdo. O septo interatrial faz parte da parede anterior do átrio esquerdo. A fina área de depressão no septo é a válvula do forame oval e está oposta ao assoalho da fossa oval no átrio direito. Durante o desenvolvimento, a válvula do forame oval impede o sangue de passar do átrio esquerdo para o átrio direito. Essa válvula pode não estar completamente fechada em alguns adultos, deixando uma comunicação entre o átrio direito e o átrio esquerdo. Ventrículo esquerdo O ventrículo esquerdo situa-se anteriormente ao átrio esquerdo. Contribui para as faces esternocostal, diafragmática e pulmonar esquerda do coração e forma o ápice do coração. O sangue entra no ventrículo através do óstio atrioventricular esquerdo e flui em uma direção anterior até o ápice do pulmão. A própria câmara é cônica, mais longa do que o ventrículo direito, e tem uma camada mais espessa de miocárdio. O trato de saída (o vestíbulo da aorta) é posterior ao cone arterial do ventrículo direito, tem paredes lisas e é derivado do bulbo cardíaco embrionário. As trabéculas cárneas no ventrículo esquerdo são finas e delicadas em comparação com aquelas do ventrículo direito. O aspecto geral das trabéculas com cristas musculares e pontes é similar ao do ventrículo direito (Fig. 3.67). Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 11 FIG. 3.67 Vista interna do ventrículo esquerdo. Os músculos papilares, juntamente com as cordas tendíneas, também são observados, e sua estrutura é como a descrita anteriormente no ventrículo direito. Dois músculos papilares, o músculo papilar anterior e posterior, são, geralmente, encontrados no ventrículo esquerdo e são maiores do que aqueles do ventrículo direito. Na posição anatômica, o ventrículo esquerdo está um pouco posterior ao ventrículo direito. O septo interventricular, portanto, forma a parede anterior e uma parte da parede do lado direito do ventrículo esquerdo. O septo é descrito como tendo duas partes: uma parte muscular; e uma parte membranácea. A parte muscular é espessa e forma a maior parte do septo, enquanto a parte membranácea é a parte fina e superior do septo. Uma terceira parte do septo pode ser considerada uma parte atrioventricular devido à sua posição acima da válvula septal da valva atrioventricular direita. Essa localização superior coloca essa parte do septo entre o ventrículo esquerdo e o átrio direito. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 12 Valva atrioventricular esquerda (mitral) O óstio atrioventricular esquerdo abre-se na região posterior direita da parte superior do ventrículo esquerdo. Durante a contração muscular, ele se fecha pela valva atrioventricular esquerda (mitral), que também é chamada de bicúspide porque possui duas cúspides, as válvulas anterior e posterior (Fig. 3.67). As bases das válvulas ficam presas a um anel fibroso em torno da abertura, e as válvulas são contínuas entre si nas comissuras. A ação coordenada dos músculos papilares e das cordas tendíneas é como a descrita no ventrículo direito. Valva da aorta O vestíbulo da aorta, ou via de saída do ventrículo esquerdo, é contínuo superiormente com a parte ascendente da aorta. A abertura do ventrículo esquerdo para a aorta é fechada pela valva da aorta. Essa valva tem estrutura semelhante à da valva do tronco pulmonar. Consiste em três válvulas semilunares, com margem livre de cada uma se projetando superiormente para a luz da parte ascendente da aorta (Fig. 3.68). FIG. 3.68 Vista anterior da valva da aorta. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 13 Entre as válvulas semilunares e a parede da parte ascendente da aorta existem seios em forma de bolso — os seios direito, esquerdo e posterior da aorta. As artérias coronárias direitae esquerda originam-se dos seios da aorta direito e esquerdo, respectivamente. Em função disso, o seio posterior da aorta e a válvula são algumas vezes chamados de seio e válvula não coronarianos. O funcionamento da válvula da aorta é similar ao da válvula pulmonar com um importante processo adicional: à medida que o sangue retrai-se após a contração ventricular e preenche os seios da aorta, ele é automaticamente forçado em direção as artérias coronárias, pois esses vasos originam-se dos seios direito e esquerdo da aorta. Circulações: Pulmonar e Sistêmica Tendo em vista que o coração é um órgão quadricavitário (formado por dois átrios e dois ventrículos), o sangue em seu interior apresenta diferenças na pressão de oxigênio e dióxido de carbono. As cavidades cardíacas do lado direito (átrio e ventrículo direitos) contém sangue com alta concentração de dióxido de carbono (venoso), enquanto que, as cavidades cardíacas do lado esquerdo (átrio e ventrículo esquerdos) contém sangue com alta concentração oxigênio (arterial). Desta forma, os átrios estão separados pelo septo interatrial e os ventrículos pelo septo interventricular. O sistema valvar cardíaco impede refluxos, promovendo a circulação no sentido fisiológico. Os átrios impulsionam o sangue para os ventrículos e, estes para o corpo. O ventrículo direito ejeta o sangue para os pulmões, através do tronco pulmonar (que se divide em duas artérias pulmonares). O ventrículo esquerdo ejeta o sangue para o corpo todo, por meio da aorta. O sangue retorna para o coração nos átrios. O átrio direito recebe sangue proveniente de todos os tecidos, por meio das veias cavas superior e inferior. O átrio esquerdo recebe o sangue dos pulmões pelas veias pulmonares. Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 14 A circulação pulmonar (=pequena) tem como finalidade a oxigenação do sangue. O sangue venoso está na cavidade ventricular direita. No momento da sístole, o ventrículo direito (ínicio da circulação pulmonar) ejeta o sangue que ganha o tronco pulmonar, passando pelas artérias pulmonares e os capilares dos pulmões (nesse local ocorre a troca gasosa, oxigenação do sangue, denominada de hematose). O sangue flui dos capilares para as veias pulmonares, transportanto o sangue para o átrio esquerdo (término da circulação pulmonar) (figura 3.62A). A circulação sistêmica (=corpórea) tem como objetivo levar oxigênio e diversos nutrientes para todos os tecidos. Desta forma, o sangue encontra-se oxigenado, no interior do ventrículo esquerdo. Durante a sístole ventricular, o sangue é ejetado do ventrículo esquerdo (início da circulação sistêmica) para a aorta (e seus vários ramos distribuem o sangue oxigenado para os tecidos). Nos tecidos ocorre o processo de difusão e, o sangue arterial torna-se venoso. O sangue venoso flui pelas pequenas veias, até a formação das duas veias cavas superior e inferior. Ambas veias cavas desembocam no átrio direito (término da circulação sistêmica) (figura 3.62A). Circulação porto-hepática Todo o material absorvido nos intestinos (com exceção dos lipídios transportados pela via linfática) chegam ao fígado por meio da veia porta. Graças a essa característica, o fígado se encontra em uma posição privilegiada para metabolizar e acumular nutrientes, e neutralizar e eliminar substâncias tóxicas. Para que esse processo ocorra o sangue dos órgãos do sistema digestório e outras vísceras abdominais são desviadas para o fígado antes de voltar para o coração. O desvio da circulação para o fígado é denominada de circulação porto-hepática. A veia hepática é formada pela junção das veias esplênica e veia mesentérica superior. A veia porta transporta o sangue com material de absorção para o fígado metabolizar (figura abaixo) Sistema Circulatório Disciplina de Morfologia 15 Após o sangue passar pelo fígado ele é levado para a veia cava inferior, que posterioremente, transporta o sangue para o átrio direito do coração. Desta forma, a circulação porto-hepática está associada a circulação sistêmica. Referências: Drake, R.L.; Fogl, A.W.; Mitchell, A.W.M. Gray’s Anatomia Clínica para Estudantes. 3 ed. Elsevier, 2015. http://www.hepcentro.com.br/anatomia.htm
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