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Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
1 
 
ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A 
BREVÍSSIMA RELAÇÃO DA 
DESTRUIÇÃO DAS ÍNDIAS DE FREI 
BARTOLOMEU DE LAS CASAS 
na ocasião da recente publicação da 
tradução para o português dos 
Tratados 
 
Jorge Luis Gutiérrez1 
(Mackenzie) 
 
 
América não foi descoberta, América foi inventada... 
Edmundo O´Gorman 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Em 2010 foi publicada em São Paulo, pela editora Paulus, a tradução 
para o português duma das obras mais importantes do frade espanhol 
Bartolomeu de Las Casas: Os tratados2. Esta obra composta por oito de seus 
escritos foi publicada pela primeira vez em Sevilha entre agosto de 1552 e 
janeiro de 1553. Sete destes escritos estavam em espanhol e um em Latim. 
Foram publicados novamente em espanhol em 1965 , juntamente com uma 
edição fac-símile da obra de 1552, com o título Tratados de Fray Bartolomé de 
Las Casas. Um destes tratados é a Brevíssima Relação sobre a Destruição das 
Índias. Tema que trata o presente artigo, como uma contribuição para a 
 
1
 Professor de filosofia da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia São Bento. Doutor e 
mestre em lógica e filosofia da Ciência (Mackenzie). Autor do livro Aristóteles em Valladolid (Editora 
Mackenzie, 2007). 
2
 Para uma resenha desta obra: GUTIÉRREZ, Jorge Luis. Revista Dominicana de Teologia, ano VI, 2010, Nº 
11, Junho /Dezembro. ISSN 1980-1963, p. 134-137. O título com o qual foi publicada esta obra em 
português é: Frei Bartolomeu de Las Casas. Liberdade e Justiça para os Povos da América — Oito 
Tratados Impressos em Sevilha em 1552. Coleção: Frei Bartolomeu de Las Casas – Obras Completas, 
Editora: Paulus.2010. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
2 
compreensão deste texto e para e assinalar a importância de contar agora com 
uma boa tradução para o português do Brasil. Para isto queremos relembrar 
alguns aspectos históricos dessa obra de Las Casas. Logo apresentaremos 
duas obras escritas após a edição em 1552 da Brevíssima Relação da 
Destruição das Índias: a Istoria Sumaria de Bartolomé de La Peña e a Apologia 
e Discursos... de Bernardo Vargas Machuca. Nos parece importante analisar 
estas obras porque elas têm permanecido praticamente desconhecidas, pois a 
última reedição foi feita a mais de 120 anos (1879), sendo essa a única 
reedição após sua publicação. Sua importância está no fato de que a Istoria 
Sumaria traz um elemento ausente na Brevíssima Relação de Las Casas: 
alguns nomes dos que haviam cometido crimes. E a Apologia e Discursos... de 
Bernardo Vargas Machuca porque permite apreciar uma das reações literária 
ao texto de Las Casas. Concluiremos analisando as traduções feitas no Brasil 
dessa obra e constatando as sérias deficiências que elas tem. Para finalizar 
realçando a importância de constar com uma boa tradução desta obra no 
Brasil. Enfatizamos ―tradução desta obra no Brasil‖ porque em Portugal 
(Lisboa) foi publicada pela editora Antígona em 1990 uma tradução feita por 
Julio Henriques, que é uma tradução cuidadosa, com um excelente prefácio e 
um posfácio de igual qualidade3. 
 
A BREVÍSSIMA RELAÇÃO DA DESTRUIÇÃO DAS ÍNDIAS: ASPECTOS 
GERAIS 
 
 No ano de 1542 Frei Bartolomé de Las Casas leu ante a Junta de 
Valladolid, o que chegaria a ser o seu livro mais polêmico e que maior número 
de edições e traduções receberia: a Brevísima Relación de la Destrucción de las 
Indias. Esta obra foi escrita em espanhol e é anterior, em relação a sua 
redação, à controvérsia de Las Casas contra Sepúlveda em Valladolid4 (1550), 
mas é posterior na sua publicação (1552). 
 Não sabemos com certeza quando Las Casas começou a escrever este 
tratado, mas deve ter sido um ou dois anos após seu regresso definitivo à 
Espanha (1540). O texto foi terminado em 8 de dezembro de 1542 e foi 
publicado pela primeira vez no ano 1552 sob o título: 
 
3
 LAS CASAS, Bartolomé, Brevíssima Relação da Destruição das Índias.Lisboa: Antígona.1990 
4
 Para esta controvérsia, conferir: GUTIERREZ, Jorge Luis. Aristóteles em Valladolid. São Paulo: Editora 
Mackenzie. 2007. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
3 
 BREVISSIMA RELACIÓN DE LA DESTRUYCION DE LAS INDIAS: COLEGIADA 
POR EL OBISPO DON FRAY BARTOLOME DE LAS CASAS Ó CASSAUS, DE LA 
ORDEN DE SANCTO DOMINGO – AÑO DE 1552. 
Esta primeira edição tem na capa, juntamente com o título, um escudo de 
armas imperiais austríacas, rodeado de uma orla quadrangular ricamente 
adornada segundo os costumes da época. Foi impressa na cidade de Sevilha, 
na imprensa de Sebastian Trujillo, como parte dos Tratados.5 Um exemplar 
da edição de 1552 se encontra na Biblioteca do Palácio de Madrid. 
 Esta obra é um relato constrangedor. Um testemunho aterrador sobre a 
conquista. Uma antologia de horrores, na qual nos é descrito um mundo de 
pesadelos: atrozes estatísticas sobre o número de índios mortos e a crueldade 
dos conquistadores. Ela possivelmente foi escrita, e talvez por isso é breve, 
para ser lida por um pequeno grupo da corte, talvez o príncipe Felipe e seus 
conselheiros mais próximos, e foi publicada dez anos depois, devido à 
indiferença das autoridades para com a situação dos índios. Sua publicação 
foi o último recurso para pressionar as autoridades, transformando-se, apesar 
do próprio Las Casas, numa poderosa arma propagandista contra a Espanha. 
Foi traduzida desde cedo a várias línguas européias, e até hoje é a obra mais 
conhecida e polêmica do frade. Para dar uma idéia do teor dessa obra citamos 
um pequeno parágrafo: 
 
―Protesto em boa consciência perante Deus que acredito e tenho como 
certo que os prejuízos e as perdas são enormes, com a destruição e 
arrasamento de vilas, massacres e matanças, com as crueldades 
horríveis e odiosas, com as violências, iniqüidades e latrocínios; todas 
essas cousas foram cometidas entre essas gentes e nesses países e se 
cometem ainda todos os dias nesses lugares; declaro pois que todas as 
cousas que referi, tal como pude explicá-las o mais perto possível da 
verdade, não são nem a milésima parte do que foi feito e do que se faz 
hoje, seja quanto à qualidade, seja quanto à quantidade.‖ (Bartolomé 
de Las Casas, Brevíssima Relação da Destruição das Índias) 
 
 
 
5
 Publicados modernamente com o título Tratados de Fray Bartolomé de Las Casas. Prólogos de Lewis 
Hanke y Manuel Giménez Fernández, transcripción de Juan Bueno y traducciones de Agustín Millares 
Carlo y Rafael Moreno. México, Fondo de Cultura Económica. 1965. Em portugues 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
4 
AS PRIMEIRAS TRADUÇÕES 
 
 Logo que foi publicada a Brevíssima Relação começaram a ser feitas 
novas edições e traduções para vários idiomas. Destas se destacam as 
seguintes:6 
a) Historie des insolences cruantes et tiranies exercées por les Espagnols ex 
Indes occidentales, que on dit le Nouveau Monde. Traduitdu Castillan, por 
Jacques de Migrodde, Antuerpie Francisci de Ravelenghein, 1578. (Desta 
obra há também uma edição de 1582, feita em Paris por Teller, e otra de 
1597 feita em Francfort, por Viadrum). 
b) Historia o brevisima relatione della distruttione dell Indie Occidentali de D. 
Bartolomeo delle Case o Cassaus. Conforme al suo vero originale 
Spagnnolo, qi a estampato in Siviglia. Con la traduttione in Italiano de 
Francisco Bersavita. Venetia. Marco Ginammi,MDCXVI. 
c) Las obras del obispo d. Fray Bartolomé de Las Casas ó Casaus, Obispo que 
fue de la civdad Real de Chiapa en las Indias, de la Ordem de Santo 
Domingo. Impresso en Sevilla en casa de Sebastian Trujillo, año de 1552. Y 
ahora nuevamente en Barcelona en casa de Antonio Lacaballeria – Año de 
1646. 
d) HISTORIE DES INDIES OCCIDENTALES. OV L`ON RECONNOIT la bonté de 
ces pais, & de leurs peuple; & les cruantez Tyranniques des Efpagnols. 
Décrite premierement en langue caftillane par Dom BARTHELEMY DE LAS 
CASAS, de l`ordre de S. Dominique, Euefque de Chappa; depuis fidellement 
traduite em François. A LYON, Chez IEAN CAFFIN, & F. PLAIGNARD, en rüe 
Merciere, au Nom de Iesus. M. DC. XLII. Avec Appobation, Permifsion. 
e) La decouvert – des – indies occidentales – par les espagnols – Escrite por don 
Baltazar de Las – Casas Eueque de Chiapas – Dedié á Monseigneur la 
Comte – de Toulouse – Escudo – á Paris – Chez André Pralard, rüe Saint – 
Jacques, á l´Occasion. – M.DC. XCVII – Avec privilege du Roi. 
f) Temos também informações de uma edição feita em Puebla (México) em 1821 
e outra em Ciudad de México em 1822. Esta última edição tem um discurso 
preliminar de Frei Servando Teresa de Mier. 
g) Tudo indica que a primeira versão em inglês foi: Bartolomew de Las Casas: 
Short Report on the Destrution of the Indies, 1546. In: Bartolomew de Las 
 
6
 FABIÉ, María Fabié. Vida y Escritos de Fray Bartolomé de Las Casas. Madrid, Imprenta de Miguel 
Ginesta. 1879. Tomo I, p. 295. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
5 
Casas, His Life, Apostate, and Writing. New York, G.P. Putnam´s song, 
1909. 
h) A primeira tradução da Brevíssima Relação no Brasil, salvo engano, foi feita 
em São Paulo em 1944 Esta tradução foi publicada sob o título História 
Geral das Índias pela editora Cultura, com tradução de Heraldo Barbuy. A 
segunda, embora seja praticamente uma reedição dessa tradução, foi feita 
em Porto Alegre em 1984, sob o título O Paraíso Destruído, (Porto Alegre, 
L&PM Editores Ltda, 1985). O estudo introdutório da obra foi escrito por 
Eduardo Bueno. É praticamente uma copia da edição de 1944, com 
algumas variantes. O texto não foi revisto nem corrigido e as variantes só 
pioram o texto. Sobre esta obra falaremos mais adiante. 
 
AS PRIMEIRAS REIMPRESSÔES 
 
 A partir do começo do século XIX a Brevísima Relación começou a ser 
novamente publicada, e desde então várias reedições foram feitas: 
a) Llorente, Juan Antonio. Colección de las Obras del Venerable Obispo de 
Chiapas, don Bartolomé de Las Casas. Paris: 1822, Tomo I, p. 95-198 
b) FABIE, Antonio María. Vida y Escritos de Don Fray Bartolomé de Las 
Casas, Obispo de Chiapa.Imprenta de Miguel Cinesta, Madrid: 1879, Tomo 
II, p. 211-291. 
c) RAVIGNANI, Emílio. Colección de Tratados (de Bartolomé de Las Casas) 
1552-1553. Buenos Aires: 1924. 
d) HANKE, Lewis y GIMÉNEZ FERNÁNDEZ, Manuel. Bartolomé de Las 
Casas. 1474. Bibliografía crítica y cuerpo de materiales para el estudio de su 
vida, escritos, actuación y polémicas que suscitaron durante cuatro siglos. 
Santiago de Chile: 1954, Nº 368. 
 
e) TUDELA BUENO, Juan Péres. Biblioteca de Autores Españoles desde la 
formación del lenguaje hasta nuestros días. Obras Escogidas de Fray 
Bartolomé de Las Casas, V, Opúsculos, Cartas y Memoriales. Madrid: 
1958, p. 134-181. 
 
 
 
 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
6 
A ISTORIA SUMARIA DO PADRE BARTOLOMÉ DE LA PEÑA 
 
Na obra de Antonio María Fabié (1879), imediatamente após a 
Brevíssima Relação se encontra um obra que leva por título: ISTORIA 
SUMARIA Y RELACIÓN BREVÍSIMA Y VERDADERA DE LO QUE VIÓ Y 
ESCRIBIÓ EL REBERENDO PADRE FRAY BARTOLOMÉ DE LA PEÑA DE LA 
ÓRDEN DE LOS PREDICADORES, DE LA LAMENTABLE Y LASTIMOSA 
DESTRUCCUÓN DE LAS INDIAS, ISLAS Y TIERRA FIRME DEL MAR DEL 
NORTE. AÑO DE M.D.XL.y IIX. 
 Esta obra, que não é citada por Edmundo O´Gorman7 em sua 
Bibliografia de Las Casas, é atribuída por Fabié a Las Casas. O motivo para 
isto é que o texto é quase o mesmo, embora com múltiplas variantes, que não 
chegam a alterar o pensamento nem a estrutura fundamental da obra. A 
Istoria Sumaria não contem o Argumento, nem o Prólogo dirigido ao príncipe 
Dom Felipe. A Istoria Sumaria é iniciada com um Phohemial. O manuscrito 
deste texto se encontra na Biblioteca do Palácio de Madrid. 
 A Istoria Sumaria contem 15 capítulos a mais que a Brevísima Relación. 
Estes capítulos falam dos roubos, crimes e chacinas feitas pelo capitão 
Sebastian de Belalcazar. Fabié é da opinião que estes capítulos foram 
acrescentados à obra de Las Casas por uma mão desconhecida. O fundamento 
para esta afirmação é que na Brevísima Relación Bartolomé de Las Casas pelo 
geral não fala os nomes das pessoas que cometeram os crimes, sendo que na 
Istoria Sumaria, nos últimos quinze capítulos, Balalcazar é citado inúmeras 
vezes. 
 Em termos gerais podemos afirmar que a Istoria Sumaria é uma nova 
redação da Brevíssima Relação, com muitos erros evidentes: erra os nomes 
das regiões, dos caciques, dos povos. A esta nova redação foram acrescentados 
os últimos quinze capítulos. Fabié atribuiu os erros ao copista que, segundo 
ele, devia ser uma pessoa de poucas letras e desconhecedor dos assuntos do 
Novo Mundo. 
 
 
 
 
7
 LAS CASAS, Bartolomé. Apologética Historia Sumaria. Edición preparada por Edmundo O´Gorman, con 
un estudio preliminar apéndices y un índice de materias. Instituto de Investigaciones Históricas. 
Universidad Nacional Autónoma de México. 1967. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
7 
BERNARDO DE VARGAS MACHUCA: CONTRA A BREVÍSSIMA RELAÇÃO 
 
Muitos escritores têm se manifestado contra Las Casas, alguns foram 
contemporâneos dele como Juan Guinés de Sepúlveda, outros modernos como 
Ramón Menéndez Pidal8. Nesta parte de nosso trabalho nos ocuparemos de 
Dom Bernardo de Vargas Machuca que em 1612 escreveu a: 
 
―APOLOGÍAS Y DISCURSOS DE LAS CONQUISTAS 
OCCIDENTALES POR DON BERNARDO DE VARGAS 
MACHUCA, GOBERNADOR Y CAPITAN GENERAL DE LA ISLA 
MARGARITA, EN CONTROVERSIA DEL TRATADO 
DESTRUICION DE LAS INDIAS ESCRITO POR DON FRAY 
BARTOLOMÉ DE LAS CASAS, OBISPO DE CHIAPA EN EL AÑO 
DE 1552, DIRIGIDO AL EXCMO. SEÑOR DON JUAN DE 
MENDOZA Y LUNA, MARQUÉS DE MONTES CLAROS Y 
MARQUÉS DE CASTIL DE BAYUELA, SEÑOR DE LAS VILLAS 
DE LA HIGUERA DE LAS DUEÑAS, EL COLMENAR, EL 
CARDOSO, EL VADO Y VALCONTE, VIREY LUGARTENIENTE 
DEL REY NUESTRO SEÑOR, SU GOVERNADOR Y CAPITAN 
GENERAL DE LOS REINOS Y PROVINCIAS DEL PIRÚ, TIERRA 
FIRME Y CHILE, ETC.‖9 
 
A obra de Vargas Machuca começa com um prefácio intitulado DIRECCION, 
datado na Ilha de Margarita, em 10 de Agosto de 1612. Nele explica o 
propósito da obra: defender as conquistas e a honra da Espanha, que segundo 
ele tinha sido maculada pela obra de Las Casas. Seguidamente vem mais um 
prefácio intitulado Al Lector no qual volta a expressar a sua intenção de 
defender a ―verdade‖ ante as mentiras ditas por Casas, que difamam os 
ylustres varones e ynsignes nombres que participaram da conquista, e explica 
as razões de porquê se viu obrigado a ―hacer semejante discurso en defensa 
del hecho de las conquistas y reputación de la nación espanhola‖. Vargas 
Machuca afirma que é seu dever de soldado defender as conquistas e se coloca 
na linha de argumentação de Juam Ginés de Sepúlveda, ao qual faz referência8
 PIDAL, Ramón Menendez. El Padre Las Casas. Su Doble Personalidad. Madrid. Espasa Calpe. 1963. 
9
 Idem, p. 30. FABIÈ, Vida..., p. 220. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
8 
explicitamente.10 Também faz menção da sua experiência e conhecimento dos 
territórios ocupados, e que escreve ―en propia defensa‖ e contra os que 
―desprecian la mucha cristiandad de España‖. 
 Apos estes dois prefácios vem quatro poemas escritos por quatro frades 
da ordem dos pregadores exaltando a fama, valor, coragem e glória de 
Bernardo de Vargas Machuca.11 Idem, p. 416-417. São quatro poemas, como 
exemplo citaremos o primeiro deles que é de autoria de Frei Pedro de Umaña, 
da ordem dos Pregadores. 
 
Bernardo en el valor, en ciencia Apolo, 
Ciceron elegante, agudo Escoto; 
Éuclides español, Séneca docto, 
Nuevo Platon en nuestro mundo solo. 
 
Tu fama que delvno al otro Polo 
Publica tu virtud, al más rremoto 
Me traxo á verte y á cunprir un bocto 
Sobre los hombros del furioso Eolo. 
 
El voto fué ser tuio eternamente, 
Y agora que e mirado tu sujecto 
Y el fructo de tu yngenio peregrino, 
Prometo publicar de xente en xente 
Tu nobleza, valor y ser perfecto, 
Con que aspirando vas á lo diuino. 
 
 Depois dos poemas vem a ―EPÍSTOLA Y PARECER DEL LICENCIADO 
ZOYL DIEZ FLORES, Fiscal en la Real audiencia de Panamá, del Reyno de 
Tierra Firme, al gobernador Don Bernardo de Vargas Machuca, en que 
―aprueva la controversia en favor del hecho de las conquistas occidentales por 
la parte afirmativa, y reprueva la negativa según y como en él se contiene‖. 
 Logo começa o livro propriamente dito. Em primeiro lugar vem a 
EXORTACION, que leva por título ―DISCURSOS APOLÓXICOS, en controversia 
del tratado que escriuió Don Frai Bartolomé de Las Casas, obispo de Chiapa, 
año de 1552, yntitulado destruicion de las Índias, reprovando el hecho dellas, 
á cuya defensa se opone el autor‖, (12 páginas na edição de Fabié). O capítulo 
que vem á continuação leva por título ―PROSIGUE EL APOLOGÍA PRIMERA, 
declarando más los cargos que el Obispo haze á los conquistadores, y con 
satisfactorio descargo se rresponde á ellos‖, (17 páginas na edição de Fabié). 
Em seguida vem ―DISCURSO Y APOLOGÍA SEGUNDA, descargo satisfacion 
 
10
 Idem, p. 110-111. FABIÉ, Vida..., p. 287. 
11
 Idem, p. 111. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
9 
que se pretende hacer al hecho de las conquistas del reyno de Nueba España‖, 
(10 páginas na edição de Fabié). Logo vem ―DISCURSO E APOLOGÍA 
TERCERA, descargo y satisfacion que se pretende hacer de las conquistas del 
reyno del Pirú‖ (páginas 473-485 na edição de Fabié). A quarta apologia leva 
por título ―DISCURSO E APOLOGÍA CUARTA, descargo y satisffacion que se 
pretende hacer de las conquistas y pacificaciones del reyno de Chile, (páginas 
485-498 na edição de Fabié). E a última apologia leva por título ―DISCURSO Y 
APOLOGÍA QUINTA, descargo y satisffacion que se pretende en las conquistas 
del nuebo reyno de Granada‖, (páginas 499-517 na edição de Fabié). 
 São as duas primeiras apologias as que se ocupam principalmente da 
―Brevíssima Relação‖. Os argumentos de Vargas Machuca contra Las Casas 
são de vários tipos. Em alguns casos o acusa de não conhecer a geografia da 
região, assim por exemplo, quando Las Casas diz que desde a Flórida até o rio 
de La Plata há 10.000 léguas, Vargas Machuca, depois de fazer vários cálculos 
(próprios à sua profissão de cartógrafo) diz que não podem haver mais de 
2800. Em outros casos acusa a Las Casas de dizer mentiras, assim por 
exemplo, quando Las Casas diz que as terras do Novo Mundo estavam cheias 
como ―colmena de abejas‖ Vargas Machuca diz que isto é mentira porque 
estas terras estão quase desertas, e que não podem ser habitadas porque são 
terras cheias de doenças, epidemias e que as pessoas morrem facilmente 
nestes lugares. Em outro caso Vargas Machuca manifesta uma opinião de tipo 
moral-filosófica completamente diferente à de Las Casas, assim por exemplo, 
quando Las Casas afirma que os índios foram dotados por Deus de quase 
todas as virtudes, Vargas Machuca diz que estes não tem nenhuma virtude.12 
 Também a obra de Vargas Machuca é rica em acusações contra os 
índios. Vejamos alguns exemplos. 
a) Os acusa de comer carne humana, de atacar os povoados dos 
conquistadores, de queimar igrejas, inclusive os acusa de serem dados 
a beber as cinzas dos espanhóis queimados misturadas com uma 
bebida alcoólica chamada chicha.13 
 
12
 Idem, p. 429. “digo que él los haze dueños de todas virtudes y yo falto dellas, y es lenguaje general en 
todas las Indias entre gente especulativa, que quando el yndio se bee libre y sin temor, no tiene ninguna 
virtud, y quando se halla opreso y temetoso hace muetras de tenellas todas juntas; esto lo deue de 
caussar que yo he ttratado siempre con yndios libres y sin temor ansí en paz como en guerra, por cuyas 
causa los e hallado faltos de todo género de virtud...” 
13
 Idem p. 112. 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
10 
b) Acusa os índios de assassinos por afogar suas filhas para que estas 
quando crescessem não tivessem que servir nem ir ―a las doctrinas‖ dos 
espanhóis. Também justificaria os espanhóis que tomaram as mulheres 
dos índios dizendo que estes viviam na imoralidade (com mais de uma 
mulher e às vezes com parentes próximos) e que não tinha nada de 
mau tirar uma mulher de quem tem trinta, uma não lhe faria falta e 
nem o notaria. Diz que é um ato de justiça tirar as mulheres dos índios, 
e que foram as próprias índias que solicitavam os espanhóis 
sexualmente. 
c) Vargas Machuca justifica que os espanhóis pegassem as colheitas e 
outros bens dos índios dizendo que é lei natural que em tempos de 
necessidade todos os bens teriam que ser comuns a todos e que aquele 
que está em extrema necessidade poderia aproveitar-se dos bens 
alheios como próprios. Os espanhóis encontrando-se num lugar tão 
longe da sua terra e num lugar estranho e carente de mantimentos, 
teriam direito e seria justo que se apropriassem dos bens dos índios 
para seu proveito. 
d) Justifica a queima de índios dizendo que estas foram acidentais. Cita o 
exemplo de um missionário que, fazendo uso de um recurso 
pedagógico, amarrou dois índios a um mastro e prendeu fogo para que 
de perto eles sentissem o que era o calor do purgatório. Mas veio um 
vento e espalhou o fogo queimando vivos os dois índios. 
e) Também diria que não foi verdade o que Las Casas disse acerca de que 
os castigos que os espanhóis impuseram aos índios foi por crueldade. 
Diria que Las Casas não distinguiu entre o que foi punição por ―rigor e 
crueldade‖ e o que foi ―corrección fraterna‖. E inclusive afirma que tais 
castigos não aconteceram e que foram os próprios índios que se feriam 
dando golpes em seus narizes para depois irem até as autoridades para 
denunciar os espanhóis que os tinham a cargo, e assim ganhariam a 
indenização a que tinham direito. Cita o caso de um índio que numa 
ocasião se fez de morto para assim enganar os espanhóis e acha certo o 
exemplar castigo que recebeu este índio. 
f) Também cita o caso de uma índia que se enforcou para não servir a um 
espanhol, e diria que os espanhóis não podem ser culpados pela 
decisão de uma índia em se enforcar (ela era livre para o fazer se 
 
 Nº 1 – 2º semestre de 2010 – Ano 1 - Centro de Ciências e Humanidades - Mackenzie 
11 
quisesse) e que os espanhóis não podiam ser culpadospelos suicídios 
dos índios, pois esta é uma decisão pessoal de cada indivíduo. 
g) Outra acusação que faz contra os índios é que eram egoístas e que não 
davam nada a não ser pela força. Pelo que estava plenamente 
justificada as ações dos espanhóis, pois se não entendessem pela razão, 
teriam que entender pela força. Os acusava de beber sangue em 
abundância, de festins canibalescos onde a carne humana era comida 
de maneira costumeira e abundante. Justificaria o uso de cachorros 
adestrados dizendo que sem estes não seria possível dominar a seres 
tão bestiais e cruéis. 
h) E finalmente repetiria os velhos argumentos em favor da guerra justa, 
da legitimidade das conquistas, da expansão do cristianismo pela força 
etc. Todos estes argumentos tinham sido rebatidos por Las Casas na 
controvérsia com Sepúlveda em 1550, em Valladolid. 
i) Vargas Machuca dedicou o último capítulo contra os índios do Chile e 
afirmou que estes eram os mais selvagens, cruéis e desumanos de 
todos os habitantes do Novo Mundo, pelo que toda guerra contra eles 
era justa. 
 
AVALIAÇÃO DA OBRA DE BERNARDO VARGAS MACHUCA 
 
 Os argumentos que Vargas Machuca colocou em favor da guerra justa e 
da escravidão dos índios, tinham sido debatidos e derrubados por Las Casas 
na controvérsia de Valladolid. Ele não colocou nenhum argumento novo, se 
limitou a repetir os velhos argumentos defendidos por Sepúlveda. Também a 
maioria dos argumentos em favor da legitimidade das conquistas tinham sido 
derrotados. Lembremos que até a própria palavra ―conquista‖ foi proibida por 
uma determinação real em 1573.14 
 Vargas Machuca não respondeu às situações concretas que Las Casas 
denunciou, mas justificou outras acusações, que não foram as de Las Casas, 
e traz outras situações que, também não foram as que o frade denunciou na 
Brevíssima Relação. 
 
 
A TRADUÇÃO DE SÃO PAULO, DE 1944 
 
14
 Idem, p. 91, cf. tm. p. 44. 
 
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12 
 
 A primeira tradução da Brevíssima Relação no Brasil foi publicada sob o 
título História Geral das Índias pelas edições cultura em São Paulo no ano 
1944. Foi traduzida por Heraldo Barbuy 
Esta obra começa com um prefácio intitulado Frei B. de Las Casas, que 
está em idioma espanhol, consistente em fragmentos da obra de Carlos 
Gutiérrez Fray Bartolomé de Las Casas, sus tiempos y su apostolado (Madrid, 
1878). 
 Esta obra não tem qualquer referência sobre que texto foi usado para a 
tradução, nem por que se usa um título que certamente não corresponde ao 
que Las Casas titulou sua obra. O leitor é surpreendido com um fac-símile, na 
primeira página, da edição francesa de 1642. Assim, podemos supor que este 
foi o texto usado para a tradução. Pelo que a edição em português não teria 
sido traduzida do espanhol, mas do francês. Após o último capítulo novamente 
somos surpreendidos com uma ―Nota do tradutor Francês‖ (p. 129) 
 O conteúdo da obra também é surpreendente. Sob o título ―História 
Geral das Índias‖ 15 estão incluídos, além da Brevíssima Relação, fragmentos 
de várias outras obras de Las Casas. Sem em nenhum lugar explicar que se 
trata de fragmentos de várias obras. O leitor que não está familiarizado com os 
escritos de Las Casas facilmente pensa que se trata de um texto escrito dessa 
maneira por Las Casas.16 Temos conseguido localizar a origenm dos 
fragmentos, que listamos a continuaçõa: 
 
a) Da página 7 a 127 esta a tradução da Brevíssima Relação, embora o 
texto não tenha nenhuma referencia a esta obra, nem diz em aparte 
alguma que se trata da tradução do texto publicado em 1552 por Las 
Casas. 
b) Na página 129 há uma nota do tradutor francês. Supomos que trata-se 
do tradutor francês da obra de 1642. 
 
15
 Com este título aparece em alguns manuscritos antigos (Archivo de Indias.- Patronato.- Estante 2, 
cajón 5)a obra que hoje conhecemos como “Historia de Indias”. Este título na edição em português da 
Brevísima Relación foi certamente um ero do tradutor (ou editor) desta obra para o português. Cf. 
FABIE, Vida..., “Juicio de la HistóriaGeneral de las Indias”. Omo I, p. 354-402. Cf. tm. Idem. Tomo II, p. 55 
e 130. 
16
 Para uma lista dos textos e sua identificação conferir: GUTIERREZ, Jorge Luis Rodriguez. 
 
A Favor das 
Nações Indígenas, um estudo dos memoriais de Frei Bartolomé de Las Casas de 1516 e 1518 e da 
Brevísima Relação da Destruição das Índias. Tese de Mestrado.
 
UMESP
, 1988.
 Apêndice I. Item 3.3.1. 
 
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13 
c) Nas páginas 131 a 132 se encontra um texto de Frei Bartolomé de Las 
Casas. Este texto não tem nenhumna referencia acerca de que texto se 
trata. Mediante um trabalho de pesquisa e de comparação com as obras 
de Las Casas descubrimos que se trata do prólogo de uma obra escrita 
por Las Casas 1542 e publicada em 1552. O título dessa obra é: ―Entre 
los remedios que fray Bartolomé de Las Casas, obispo de la Ciudad Real 
de Chiapa, referió por mandado del Emperador, rey nuestro señor, en 
los ayuntamientos que mandó hacer su majestad, de prelados y 
letrados y personas grandes de Valladolid el año de mil y quinientos y 
cuarenta y dos, para reformación de las Indias. El octavo en orden es el 
siguiente. Sevilla, Jácome‖. 
d) Entre as páginas 133 e 158 estão contidas algumas das razões que Las 
Casas explicava no seu oitavo remedio 17. Comentario: o oitavo remedio 
de Las Casa constava de vinte razões, no texto em Português só 
aparecem doze, falta a primeira e da décima quarta à vigésima razão. O 
texto não explica o porquê desta seleção. Em português só foram 
colocados pequenos trechos das razões do texto de Las Casas, são 
resumos. 
e) Nas páginas 161 e 162 está contido um ―Extrato do protesto do bispo e 
autor Fr. Bartolomé de Las Casas‖. Comentario: não nos foi possivel 
identificar a que texto de Las Casas se está referindo. 
 
A EDIÇÂO DE PORTO ALEGRE DE 1984 
 
 Esta obra foi editada sob o título O Paraíso Destruído, (Porto Alegre, 
L&PM Editores Ltda, 1985). O estudo introdutório da obra foi escrito por 
Eduardo Bueno. É praticamente uma cópia da edição de 1944, com algumas 
variantes. Porém, o texto não foi revisto nem corrigido e as variantes só pioram o 
texto. 
 Na página 14 Eduardo Bueno afirma que esta obra foi publicada pela 
primeira vez no Brasil em 1944, em cuidadosa tradução de Heraldo Barbuy. 
Devemos repetir que a tradução de Heraldo Barbuy não foi feita do original 
espanhol, mas da tradução francesa. Ou seja, a tradução para o português é 
uma tradução de uma tradução. Assim, seria uma cuidadosa tradução do 
 
17
 Fray Bartolomé de Las Casas. MEMORIAL DE REMEDIOS PARA LAS INDIAS (1516). PEREZ DE TUDELA. 
Opúsculos, p. 5 ss. 
 
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14 
francês, que passou para o português todos os erros e a carga ideológica, 
como veremos nos itens seguintes, da tradução francesa. Analisaremos 
principalmente os dois primeiros capítulos, porém o dito aqui vale 
praticamente para todo o livro. 
a. Na tradução para o português há algumas palavras que foram 
mudadas ou suprimidas por razões ideológicas. Assim, por exemplo, 
cada vez que o texto em espanhol tem a palavra Cristiano o texto em 
português (que como afirmamos anteriormente é uma tradução da 
edição francesa de 1642) muda paraespanhóis e cada vez que o texto 
em espanhol tem cristianos españoles o português só tem espanhóis. 
Este tipo de mudança da edição francesa, e que passou para o 
português, tem sua origem no fato de que a edição francesa de 1642 foi 
feita com claras intenções de fazer uma propaganda antiespanhola. 
b. O texto em português tem várias palavras que não são traduzidas, 
mas mudadas por outra, ou simplesmente traduzidas erradamente: 
 A palavra espanhola tierra é traduzida por pais. 
 A palavra espanhola colmena de gente é traduzida por formigueiro de 
formigas. 
 A palavra espanhola golpe é traduzida por abismo. 
 A palavra espanhola felicísima é traduzida por muito fértil. 
 A frase espanhola un buen espia é traduzida por um bom cristão. 
 A palavra espanhola asolar é traduzida por extirpar. 
 A palavra espanhola bondad é traduzida por bondade natural. 
 A frase do espanhol felices y graciosas é traduzida por fêrtil. 
 A frase do espanhol tiernas en complicion é traduzida por sua 
compleição é pequena. 
c. Na tradução para o português algumas partes foram traduzidas de 
uma maneira tão errada que simplesmente chegam a ser engraçadas. 
Um exemplo: 
- O texto espanhol diz: Y cuando mucho, duermen en unas como redes 
colgadas que en lengua de la Isla Española llaman hamaca. 
- A tradução para o português de 1944: E mesmo os que têm melhor, 
dormen sôbre uma rêde prêsa pelos quatro cantos e que na língua da 
Ilha Espanhola se chama hamaças. 
- A edição de 1985 (da qual Eduardo Bueno afirma que é uma 
cuidadosa tradução): E mesmo os que têm mulher, dormem sobre uma 
 
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15 
rede... 
 Qualquer pessoa que conheça um pouco de espanhol só pode dar 
risada com este tipo de tradução, pois trocar melhor por mulher é, no 
mínimo, cômico. 
d. Na tradução para o português faltam alguns trechos do texto 
espanhol. Assim, por exemplo, nos dois primeiros capítulos falta o 
seguinte: 
 en lo que hasta el año de cuarenta y uno se ha descubierto. 
 su comida es tal, que la de los Santos Padres en el desierto no parece 
haber sido más estrecha ni ménos deleitosa ni pobre. 
 son eso mismo de limpios y desocupados. 
e. O texto em português tem partes que não se encontram no 
espanhol. Assim, por exemplo, no capítulo 1, foi acrescentado: e quem 
todavia foram antes tão povoados quanto possível. 
f. Na tradução para o português foram reduzidos alguns trechos do 
espanhol. Assim. por exemplo, o texto do espanhol y que menos poseen 
ni quieren poseer de bienes temporales, ficou no português: que possue 
poucos bens temporais. E texto do espanhol: destruirlas por las 
extrañas y nuevas y varias y nunca otras tales vistas ni leidas maneras 
de crueldad, ficou no português: destruir esse povo por estranhas 
crueldades. 
 
1. Na edição de 1984 o título que tinha a edição de 1944 é mudado, para o 
título certo: ―Brevíssima Relação da Destruição de Índias‖. E novamente 
esta edição contêm fragmentos de outras obras de Las Casas. O fac-
símile e o prólogo do tradutor francês, contidos na edição de 1944, foram 
tirados. Com isto se perde uma informação importante, pois agora o 
leitor não tem nenhuma pista para saber de onde é que foi feita a 
tradução. E a impressão que fica pelo prólogo de Eduardo Bueno é que 
esta tradução foi feita do espanhol. O leitor não especializado não tem 
como saber que é uma tradução do francês. 
2. Esta edição contêm o subtítulo ―O Paraíso Destruído‖, e vem acrescida de 
ilustrações, notas, bibliografia, cronologia da vida de Las Casas e da 
conquista. Lamentavelmente estes apêndices trazem alguns erros sérios. 
Vejamos: 
 
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16 
a. Na página 17, Eduardo Bueno confunde a Apologética Historia 
Sumaria. com a Historia de las Indias. Pois é nesta segunda obra 
que Las Casas fala das viagens de Colombo, e que descreve os 
acontecimentos que vão de 1492 até 1520. Também as datas de 
inicio e conclusão da obra são as da Historia de las Indias e não, 
como afirma Eduardo Bueno, da Apologética Historia Sumaria. 
b. Na página 21 se afirma que a Brevíssima Relação começou a ser 
escrita em 1521. Isto não é possível pois nesta data Las Casas não 
tinha entrado ainda na ordem dos dominicanos. O erro de Eduardo 
Bueno é de 20 anos, pois esta obra não começou a ser escrita antes 
de 1540. 
c. Na página 27 se afirma: ―....Foi o fracasso de seu projeto de 
colonização pacífica, em Cumaná, na Venezuela, onde ele tentou 
substituir conquistadores e colonos por camponeses recrutados na 
Espanha. Quando o projeto fracassou — bloqueado pela burocracia 
e pela falta de verbas. Las Casas indignou-se‖. Frente a esta 
afirmação podemos comentar que este projeto não fracassou por 
causa do bloqueio da burocracia ou pela falta de verbas. É verdade 
que num primeiro momento a burocracia da corte tentou deter o 
projeto de Las Casas, mas ele, tendo o apoio dos pregadores da 
corte, dos conselheiros flamengos e do próprio rei, conseguiu vencer 
com vantagens a burocracia, inclusive o rei lhe permitiu, quando o 
Conselho das Índias não lhe era favorável, nomear um novo 
conselho com pessoas de sua confiança. A burocracia não foi-lhe 
desfavorável, mas foi precisamente através dessa burocracia que 
Las Casas conseguiu o apoio para seu plano. No que se refere às 
verbas podemos afirmar que se bem estas não foram ilimitadas, 
foram suficientes para financiar o plano. Nas Capitulaciones 
assinadas das por Las Casas e o rei, pode-se ver que ele teve 
recursos financeiros suficientes para que este não fosse um motivo 
para o fracasso. Quando em Santo Domingo foi vítima de um 
complô burocrático que terminou com o afundamento de seu navio, 
novamente Las Casas conseguiu tornar as circunstâncias a seu 
favor e assinar um contrato com os membros da Audiência de Santo 
Domingo. Com isto conseguiu que a frota de Ovando, que tinha 
servido para a caça e guerra contra os Índios, fosse colocada a sua 
 
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17 
disposição, com recursos e mantimentos. O plano de Las Casas 
fracassou por causa dos espanhóis que formavam parte da 
expedição: os camponeses se dedicaram a pilhagem, saque e roubo; 
o homem de confiança de Las Casas, um tal Soto, na ausência de 
Las Casas, roubou seus navios e se dedicou ao roubo e a escravidão 
dos Índios para a colheita de pérolas; e o motivo mais importante foi 
que a costa de Cumaná era assediada pelos moradores espanhóis 
da ilha de Cubaçua, que roubavam os Índios e os prendiam para 
escravizá-los, ou trocavam vinho por ouro ou mulheres. Com isto o 
plano não podia dar certo. Las Casas foi a Santo Domingo para 
conseguir da Audiência que detivesse as ações dos de Cubaçua. Foi 
durante esta ausência que os Índios, não podendo suportar mais os 
crimes dos de Cubaçua nem os de Soto, atacaram a missão de Las 
Casas, destruindo-a. Com isto o plano fracassou definitivamente. É 
só após estes acontecimentos que Las Casas ficará com problemas 
financeiros, pois tudo o que tinha conseguido para seu plano, que 
não era pouco, foi roubado ou destruído pelos Índios. Por outro lado 
deve ser considerado que o plano de Las Casas, além de ser um 
projeto missionário, era um projeto econômico, com o qual a Coroa, 
como aos membros da Audiência de Santo Domingo e o próprio Las 
Casas pensavam obter abundantes lucros. Foi precisamente pela 
possibilidade destes lucros que o plano teve o apoio das 
autoridades, e em especial, depois que o navio de Las Casas foi 
afundado,da Audiência de Santo Domingo. Quando o plano 
fracassou, além de ser um fracasso missionário e evagelístico foi 
também um grande fracasso econômico. Considerando isto, 
também nos parece com pouco fundamento a afirmação feita na 
página 20 por Eduardo Bueno, citando a Pierre Chaunu, de que 
―mesmo como um homem de negócio, jamais fracassou‖. Isto não é 
verdadeiro pois quando Las Casas tentava levar adiante seus planos 
no período de 1515 a 1520, ainda era um homem de negócios e 
fracassou. Só abandonaria esta pratica, definitiva e radicalmente no 
ano de 1523 com a sua entrada para o mosteiro de Santo Domingo, 
na Ilha Espanhola. 
d. Na página 144, na Cronologia Biográfica de Bartolome de Las Casas, 
se lê: ―1515: (...) em julho, na cidade de Santo Domingo, em 
 
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18 
Espanhola, ingressa na, ordem dos Dominicanos‖. Certamente isto 
e um erro, pois Las Casas só ingressou na Ordem dos Dominicanos 
no ano 1523, depois do fracasso de Cumaná. 
e. Também não é verdadeira a afirmação de que Francisco de Vitória 
foi o Juiz da Controvérsia entre Las Casas é Sepúlveda, em 
Valladolid em 1550, simplesmente porque Vitória tinha morrido 
dois anos antes da controvérsia. É mais um erro. 
 
Para finalizar, diremos que a edição de 1984 é um pouco menor em 
conteúdo que a de 1944: falta o conteúdo das páginas 163 a 179. E nenhuma 
das duas tem o ―Argumento‖ e o ―Prólogo‖ escrito por Las Casas no original 
espanhol dos Tratados. 
 
A TRADUÇÃO DE 2010 EM SÃO PAULO 
 
Recentemente, em 2010, os Tratados de Frei Bartolomeu de Las Casas foram 
publicados pela Editora Paulus18 em tradução para o Português. O título da 
obra em português é diferente do título do original, mas embora diferente é 
apropriado considerando o conteúdo do livro: ―Liberdade e justiça para os 
povos da América, oito Tratados impressos em Sevilha em 1552‖. Esta edição 
em português teve a coordenação geral, introduções e notas de Frei Carlos 
Josaphat, um dos principais estudiosos no Brasil da obra e vida de 
Bartolomeu de Las Casas. Finalmente os Tratados de Bartolomeu de Las 
Casas tem uma tradução bem feita e cuidadosa para o português do Brasil. 
Parabéns para a Editora Paulos e para o incansável trabalho de Frei Carlos 
Josaphat. 
 
 
 
18
 Conferir nota de rodapé Nº 2.

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