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Professor: Ciro Gonçalves e Sá Fundamentos da Química Farmacêutica e aspectos históricos Química Farmacêutica Medicinal Química Medicinal Definição do subcomitê de Química Farmacêutica Medicinal e Desenvolvimento de Fármacos-IUPAC • Química Medicinal: disciplina que estuda os aspectos relacionados à DESCOBERTA ou invenção dos FÁRMACOS, os aspectos moleculares envolvidos em seu MECANISMO DE AÇÃO e aqueles que governam a absorção, distribuição, metabolismo, eliminação e toxicidade (ADMET), incluindo a compreensão da RELAÇÃO entre a ESTRUTURA química e a ATIVIDADE terapêutica (REA ou SAR) Aspectos Históricos • Povos antigos como Maias, Incas, Hindus e Chineses já conheciam preparações antimicrobianas eficazes. • O imperador chinês Shen Nung (2735 a.C.) elaborou um livro sobre ervas terapêuticas. • O papiro de Ebers (~1500 a.C.) recomenda a utilização de substâncias dos reinos animal, vegetal e mineral e alguns desses são hoje conhecidos pela sua atividade quimioterápica. Aspectos Históricos • Hipócrates (460-370 a.C.) recomendou o emprego de sais metálicos para algumas doenças, hoje atribuídas a organismos patogênicos. • Galeno (129-199 a.C.), o fundador da Farmácia, divulgou o uso de extratos vegetais para a cura de diversos males, emprestando o nome às formulações farmacêuticas, denominadas fórmulas galênicas. Aspectos Históricos • Na Idade Média, Paracelso (1493-1541), afirmou que o corpo humano era um grande laboratório químico e que poderia ser tratado pela administração de substâncias químicas. • Por volta do século XV, surge os primeiros embriões das farmacopéias, os herbários, reunindo o conhecimento acumulado sobre o uso dos remédios de origem vegetal. • No século XVI foram publicadas as primeiras farmacopéias. Aspectos Históricos • Paul Ehrlich (1854-1915), pai da quimioterapia moderna, deu um grande impulso à Química Farmacêutica, descobriu sobre a toxicidade seletiva de certos agentes químicos e a descoberta do "salvarsan" (1909) utilizado no tratamento da sífilis. • A expressão BALAS MÁGICAS foi criada por Paul Ehrlich, dando origem ao conceito de "receptores específicos" em Biologia. salvarsan Aspectos Históricos • Emil Fischer (1852-1919) ganhou o Prêmio Nobel de Química (1902) por seus trabalhos na determinação de estrutura e sínteses de açúcares e outras substâncias orgânicas. • Desenvolveu a teoria de CHAVE-FECHADURA, que dá uma explicação lógica para o modo de ação das “drogas”. Aspectos Históricos • Alexander Fleming, (1881-1955) descobriu a proteína antimicrobiana lisozima (1923) e da penicilina (1928), do fungo Penicillium notatum ganhando o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1945, juntamente com Howard Florey e Ernst Boris Chain. penicilina Aspectos Históricos • Daniel Bovet (1907-1992) descobriu o poder bactericida dos compostos de sulfanilamida. Descobriu o primeiro anti-histamínico (1942) e a mepiramina (1944) • Ganhou o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina (1957). sulfanilamida fenbenzamina Artegan® 1942 mepiramina Neo-Artegan® 1944 histamina Aspectos Históricos Etapas de Desenvolvimento de Fármacos http://www.farmacia.ufrj.br/lassbio/ Etapas de Desenvolvimento de Fármacos http://www.farmacia.ufrj.br/lassbio/ Fase farmacocinética Fase farmacodinâmica Propriedades biofarmacêuticas: Propriedades físico-químicas relevantes para o efeito biológico Solubilidade Lipofilicidade Polarizabilidade Grau de ionização Densidade eletrônica Propriedades Físico-Químicas: Importância para a atividade biológica Propriedades biofarmacêuticas: Propriedades físico-químicas relevantes para o efeito biológico Solubilidade Lipofilicidade Polarizabilidade Grau de ionização Densidade eletrônica Propriedades Físico-Químicas: Importância para a atividade biológica 1. Lipofilicidade Determina a capacidade de permear as membranas biológicas ABSORÇÃO Capacidade de atravessar as barreiras placentária e hematoencefálica (SNC) Determina a distribuição dos fármacos em diferentes tecidos, dependendo da composição majoritariamente aquosa ou lipídica dos mesmos Determina o direcionamento do fármaco para depuração renal ou hepática A lipofilicidade representa a afinidade de uma substância por um ambiente lipofílico! Qual a importância da lipofilicidade de um fármaco?! 1. Lipofilicidade Determina a capacidade de permear as membranas biológicas A lipofilicidade representa a afinidade de uma substância por um ambiente lipofílico! Qual a importância da lipofilicidade de um fármaco?! 1. Lipofilicidade: Coeficiente de partição A lipofilicidade é representada pelo valor do coeficiente de partição (P) e uma substância entre uma fase orgânica e uma fase aquosa 1. Lipofilicidade: Coeficiente de partição A lipofilicidade é representada pelo valor do coeficiente de partição (P) e uma substância entre uma fase orgânica e uma fase aquosa 1. Lipofilicidade: Coeficiente de partição Glicosídeos cardiotônicos: aumentam a capacidade de contração do músculo cardíaco, sendo utilizados na insuficiência cardíaca. Digoxina (R=OH) Digitoxina (R=H) Coeficiente de Partição P 81,5 96,5 Absorção GI 70-85 % 100 % t1/2 (h) 38 144 Coeficiente de partição: quanto maior, melhor?!! 1. Lipofilicidade: Coeficiente de partição A relação entre a atividade biológica e o valor do logaritmo do coeficiente de partição (logP) é representada pelo modelo parabólico bilinear: Balanço lipofilicidade X hidrofilicidade O coeficiente de partição demasiadamente alto inviabiliza a dissolução dos fármacos nos fluidos biológicos Sempre o logP ótimo será igual a 2? Nos fármacos os valores ótimos podem variar numa faixa de 2-4 1 Lipofilicidade: Constante de Hansch () A constante de lipofilicidade () de substituintes indica quanto um determinado substituinte ou átomo contribui para a lipofilicidade da molécula, e consequentemente, para seu coeficiente de partição! Grupo funcional alifático aromático H 0,00 C alcano 0,50 0,56 (Me) 1,02 (Et) Fenil 2,15 1,96 Haletos: F, Cl, Br, I -0,17; 0,39; 0,60; 1,00 0,14; 0,71; 0,86; 1,12 NO2 -0,85 -0,28 Amina 1ª,2ª, 3ª -1,19; -0,67; -0,30 -1,23; 0,47; 0,18 Amida -0,97 OH -1,12 -0,67 Éster -0,27 -0,64 Aldeído -0,65 Cetona -0,55 Ácido carboxílico -0,32 Sulfonamida -1,82 Para > 0 Composto substituído é mais lipofílico Para < 0 Composto substituído é mais hidrofílico A constante de lipofilicidade () de substituintes indica quanto um determinado substituinte ou átomo contribui para a lipofilicidade da molécula, e consequentemente, para seu coeficiente de partição! Para > 0 Composto substituído é mais lipofílico Para < 0 Composto substituído é mais hidrofílico 1 Lipofilicidade: Constante de Hansch () A constante de lipofilicidade () de substituintes permite o cálculo teórico do cLogP e a previsão aproximada da lipoficilicade dos compostos orgânicos. cLogP = Grupo funcional alifático aromático C alcano 0,50 0,56 (Me) 1,02 (Et) Fenil 2,15 1,96 Amida -0,97 OH -1,12 -0,67 Ácido carboxílico -0,32 1 Lipofilicidade: Constante de Hansch () 2. Lipofilicidade & escolha da aplicação clínica Antagonistas β-adrenérgicos Antiarrítmicos Anti-hipertensivos Alívio da angina Prevenção de infarto do miocárdio Aumento: Frequência cardíaca Força de contração Receptor β1 Propriedades farmacodinâmicas similares Empregos clínicos diferenciados, devido ao perfil farmacocinético distinto Fármaco Principal rota de depuração Propranololhepático Metoprolol hepático Pindolol Hepático e renal Atenolol Renal Nadolol Renal LogP 2. Lipofilicidade & escolha da aplicação clínica 3. Grau de Ionização O corpo humano é composto por 70-75% de água As soluções do fármaco no organismo são diluídas A teoria ácido-base mais apropriada para descrever o comportamento dos fármacos na biofase é a teoria de Brönsted-Lowry: A maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracas! As espécies neutras e ionizadas estão em equilíbrio em solução... O grau de ionização representa a proporção entre as espécies carregadas e neutras. 3.1. Grau de Ionização: Importância para a Fase farmacocinética Determinante para a solubilidade aquosa: Importante para a absorção A absorção de fármacos ácidos ou básicos por difusão passiva vai depender do grau de ionização, pois somente a forma neutra é capaz de permear as membranas biológicas Ligação às proteínas plasmáticas na etapa de distribuição: - Fármacos ácidos & Albumina - Fármacos básicos & alfa-1-glicoproteína ácida Na excreção, os fármacos e seus metabólitos ionizados são preferencialmente excretados na urina Interação iônica Íon-dipolo Cátion- 3.2. Grau de Ionização: Importância para a Fase farmacodinâmica 3.3. Grau de Ionização: Equação de Henderson-Hasselbalch Útil na predição do grau de ionização de um composto em determinado pH. pH: Estômago: 1-3 Plasma: 7,4 Intestino delgado: Urina: Duodeno: 5-7 Saudável 6-7 Jejuno e íleo: 7-8 Limites 4,5-9,0 Útil na predição do grau de ionização de um composto em determinado pH. pH: Estômago: 1-3 Plasma: 7,4 Intestino delgado: Urina: Duodeno: 5-7 Saudável 6-7 Jejuno e íleo: 7-8 Limites 4,5-9,0 3.3. Grau de Ionização: Equação de Henderson-Hasselbalch 3.4. Grau de Ionização: Grupos funcionais ácidos 3.5. Grau de Ionização: Grupos funcionais básicos 3.6. Grau de Ionização: Fármacos ácidos pH: Estômago: 1-3 Plasma: 7,4 Intestino delgado: Urina: Duodeno: 5-7 Saudável 6-7 Jejuno e íleo: 7-8 Limites 4,5-9,0 Absorção no estômago é importante para a sua biodisponibilidade É metabolizado à ácido salicílico, e eliminado na urina como salicilato pH da urina influencia a sua eliminação! OXICAM: Ácido ou básico? 3.6. Grau de Ionização Acidez é diretamente proporcional à estabilidade da base conjugada pKa = 6,3 3.6. Grau de Ionização pKa = 6,3 Ácido fraco Intestino delgado: duodeno (pH 5) Absorvido na forma não ionizada por transporte passivo! Plasma (pH 7,4) Ionizado: ligação à albumina Tecido inflamado (pH 5) Absorvido na forma não ionizada por transporte passivo! Tecido pH (%) Mucosa gástrica 1 0,0005 Mucosa intestinal 5 4,7 Plasma 7,4 92,6 Tecido inflamado 5 4,7 3.6. Grau de Ionização 3.6. Grau de Ionização: Fármacos básicos ANESTÉSICOS LOCAIS pKa ≈ 8-9 Bloqueiam de modo reversível a condução de impulsos nervosos ao longo dos axônios dos neurônios que utilizam canais de sódio com principal meio de geração de potenciais de ação. Onde ocorre a ionização? A forma catiônica é responsável pelo efeito anestésico A forma neutra deve estar presente em percentual aceitável para permitir a absorção, pois o anestésico deverá penetrar na bainha do nervo e na membrana axônica para exercer seu efeito Apresenta pouco efeito em tecidos infeccionados e inflamados (pH ≈ 5) Interação entre o substrato levodopa e a enzima dopa-descarboxilase 3.6. Grau de Ionização Interação entre o substrato levodopa e a enzima dopa-descarboxilase 3.6. Grau de Ionização 4. Solubilidade em água A solubilidade em água afeta diretamente a escolha da via de administração e a biodisponibilidade de um fármaco Para ser absorvido por via oral, o fármaco deve inicialmente se solubilizar nos fluidos gastrointestinais Fármacos devem apresentar solubilidade aceitável em fluidos biológicos para poderem ser absorvidos e distribuídos no organismo A solubilidade aquosa será função da natureza dos grupos funcionais: - Potencial de formação de ligações de hidrogênio; - Grau de ionização de grupamentos ácidos ou básicos. 4. Solubilidade em água: Otimização Métodos clássicos utilizados para otimizar a solubilidade em água: 1) Incorporação de grupos capazes de realizar ligações de hidrogênio ou passíveis de ionização Será obtido um novo composto capaz de reproduzir a atividade biológica do protótipo original 2) Formação de um sal a partir do fármaco neutro Melhora a solubilidade em água de fármacos ácidos ou básicos A estrutura do fármaco permanece inalterada O sal se dissociará em água, liberando os íons solvatados 1) Incorporação de grupos capazes de realizar ligações de hidrogênio ou passíveis de ionização Será obtido um novo composto capaz de reproduzir a atividade biológica do protótipo original Cerca de 95% permanece no intestino e apenas 5% são hidrolisados lentamente, gerando o sulfatiazol, que é mais facilmente absorvido por absorção passiva. O uso clínico é predominantemente a atividade antibacteriana no TGI. pKa arilsulfonamida = 6-7 pKa COOH = 5 pH intestinal: 5-8 4. Solubilidade em água: Otimização 2) Formação de um sal a partir do fármaco neutro Melhora a solubilidade em água de fármacos ácidos ou básicos A estrutura do fármaco permanece inalterada O sal se dissociará em água, liberando os íons solvatados Cloridrato de hidroxizina 4. Solubilidade em água: Otimização 2) Formação de um sal a partir do fármaco neutro Melhora a solubilidade em água de fármacos ácidos ou básicos A estrutura do fármaco permanece inalterada O sal se dissociará em água, liberando os íons solvatados Benzetacil® Benzilpenicilina benzatina 4. Solubilidade em água: Otimização IMPORTANTE: Nem todos os sais orgânicos são totalmente solúveis em água. A solubilidade depende de uma dissociação apropriada entre o cátion e o ânion em meio aquoso, viabilizando a solvatação. Sais altamente dissociáveis são formados por ácidos ou bases fortes Ácidos fortes HCl, H2SO4, HNO3, H3PO4 Bases fortes NaOH, KOH 4. Solubilidade em água: Otimização IMPORTANTE: Nem todos os sais orgânicos são totalmente solúveis em água. A solubilidade depende de uma dissociação apropriada entre o cátion e o ânion em meio aquoso, viabilizando a solvatação. Sais altamente dissociáveis são formados por ácidos ou bases fortes Ácidos fortes HCl, H2SO4, HNO3, H3PO4 Bases fortes NaOH, KOH 4. Solubilidade em água: Otimização 5. Importância das Propriedades Físico-químicas na ação dos fármacos: Propriedades fármaco-similares: Drug-like Propriedades “DRUG-LIKE” ou fármaco-similares: Propriedades físico-químicas que permitem a utilidade de uma molécula bioativa como FÁRMACO Moléculas pequenas para serem transportadas pelo corpo; Hidrofílicas para se dissolverem no sangue e fluidos biológicos; Lipofílicas para permearem as membranas biológicas; Conter grupamentos farmacofóricos para a interação com o alvo. 5.1. Regra dos 5 de Lipinski (1997) Propriedades “DRUG-LIKE” ou fármaco-similares: Válida para fármacos administrados por via oral; 90% dos fármacos oralmente ativos se adequam à regra; Auxilia as etapas iniciais de desenvolvimento de fármacos. Parâmetros Limites Peso molecular ≤ 500 cLogP ≤ 5 Grupos aceptores de lig. H ≤ 10 Grupos doadores de lig. H ≤ 5 Lipinski, C. A. et al.. Adv. Drug Delivery Rev. 46, 3, 2001.
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