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Compreendendo a Criminologia sob o olhar da Psicologia Jurídica Understanding the Criminology under the look of Legal Psychology Dariane Viegas Baierfuss Roberta Lopes Rodrigues Tanara Richter Pires RESUMO: É a criminologia uma ciência humana e social que estuda o homem criminoso dentro das variantes que o condicionaram a cometer um crime, a criminalidade de regiões específicas considerando a periculosidade dos agentes do crime, bem como também, as possibilidades de prevenir crimes junto a sociedade. Neste sentido este artigo busca a compreensão dos meandros do referido tema bem como as conseqüências dele adjacentes sob enfoque da Psicologia. Palavras-chave: Crimes.Criminologia.Violência. Psicologia. ABSTRACT: A science is the criminology social human being and who inside studies the criminal man of the variants had conditioned that it to commit a crime, crime of specific regions considering the danger of the agents of the crime, as well as also, the possibilities to prevent crimes next to society. In this direction this article searchs the understanding of the meandros of the related subject as well as the adjacent consequences of it. Word-keys: Crimes.Criminologia.Violence. m se tratando da Criminologia, a prevenção se estabelece em duas fases: a pré-delinqüência, onde se trabalha com políticas públicas que evitem que os fatores criminógenos se estabeleçam, e pós-delinqüência, na qual se busca prevenir a reincidência por mecanismos sociais e jurídicos.1 A criminologia enquanto ciência se beneficia da psicologia e da 1 FARIAS, Junior João, Manual de Criminologia. 4.ed .Juruá:São Paulo,2008. pág 13 psiquiatria, sempre observando aspectos importantes como certos fatores criminógenos que estariam agindo no sujeito no momento da ação do crime, que o meio onde o sujeito vive pode ser base para uma predisposição ao crime e que o caráter do ser humano estaria intimamente ligado ao fato deste cometer crimes, não apenas sua vontade.2 Desde a antiguidade, por volta do século XIX, o crime já foi dito heresia, 2 iden, pág14 EEEE onde foram estabelecidos tribunais de inquisição, onde milhares de pessoas foram julgadas e queimadas vivas. Além disso, em caso de prisão, estas eram calabouços subterrâneos, com intuito deste sofrimento levar o suposto delinqüente ao que chamavam de ascese, ao entendimento superior de que tinha expiado sua culpa, valendo ressaltar que foi só na época da Revolução Francesa que se passou a ter punição através de pena de prisão, ainda que as atrocidades tenham sido abolidas somente com o advento do primeiro Código Penal Francês em 1791.3 Quando se fala da Lei de Execuções Penais, surge a idéia da prevenção do crime e a recuperação do criminoso4, e inclusive seria ressuscitar a criminologia etiológica5 da Escola 3 iden, pág 15 4 CARVALHO, Salo (2001) Pena e garantias: Uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil. Rio de janeiro: Lumem Juris.p.152 et seq 5 A criminologia etiológica estabelece um novo sistema de idéias que legitima o novo controle penal exigido pelo Estado intervencionista. É o início do processo que culmina no nascimento de um novo inquisitorialismo, fruto não mais da confusão entre direito e moral, mas sim entre direito e natureza onde o paradigma causal- etiológico, possuía três versões – biológica, psicológica e social – a partir de uma concepção determinista da sociedade e busca a explicação da criminalidade na ‘diversidade’ ou anomalia dos comportamentos criminalizados. BARATTA, Alessandro.Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002.p.39 et seq Positivista, a qual possui como principais nomes Lombroso, Ferri e Garófalo. O positivismo criminológico desponta com a Escola Positiva Italiana e como crítica á Criminologia Clássica e seu método abstrato e dedutivo em contraposição ao método empírico- dedutivo dos positivistas. Assim, o positivismo propunha o esquema causal- explicativo como modelo de ciência. Para os representantes do positivismo o delito é concebido como um fato real e histórico, onde sua nocividade deriva não apenas de mera contradição com a lei. Não se poderia imaginar estudar o crime no positivismo, sem analisar a realidade social do delinqüente e também as causas do crime como fenômeno para combatê-lo de forma eficaz através de prevenções que condigam com a realidade da sociedade. No positivismo, a prioridade de estudo é o delinqüente, isto é, a concepção do criminoso como subtipo humano.6 A diretriz antropológica do positivismo foi representada por LOMBROSO, o qual destinguia seis tipos de delinqüentes: o nato, o louco moral, o 6 GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – 4 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 – p. 189 - 190. epilético, o louco, o ocasional e o passional. A teoria lombrosiana da criminalidade destacava o delinqüente nato, o qual seria marcado por uma série de estigmas que o identificavam e que inclusive poderiam, segundo o autor, ser transmitidas hereditariamente. Sua tese foi muito criticada exatamente quanto ao significado dado aos estigmas, que segundo o autor seriam degenerativos, porém se poderia encontrar em alguns indivíduos não delinqüentes aqueles traços que segundo LOMBROSO caracterizavam um criminoso nato.7 Por outro lado, FERRI, representa a diretriz sociológica do positivismo, e trazendo uma nova visão da teoria de LOMBROSO, visto que seu estudo não tinha tantos aspectos orgânicos, mas sim sociais, como os que ocorrem com o homem em sociedade cogitando o fenômeno social da criminalidade.8 O delito segundo FERRI não é produto de nenhuma patologia individual e sim um resultado de diversos fatores tais como: individuais, físicos e sociais. Segundo o autor, a criminalidade poderia ser medida como qualquer outro fenômeno social, se chegando a ponto 7 Ibid. , p. 194. 8 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá, 2008 – p. 51 et seq de podermos antecipar com exatidão o número de delitos que aconteceriam em uma sociedade num dado momento.9 E num terceiro momento, GARÓFALO, sustentou o positivismo moderado, porém por sua moderação e equilíbrio, mesmo preservando as premissas do método empírico, se distanciou da antropologia de LOMBROSO e do socialismo de FERRI. Sua principal contribuição para o estudo do crime é embasada na filosofia do castigo, dos fins da pena e a fundamentação desta, bem como também, medidas de prevenção de repressão da criminalidade, partindo da premissa de uma determinação moderada que contrastava com o rigor penal, que segundo o autor, seria necessário para a eficiência da defesa da ordem da sociedade. Para GARÓFALO, o delinqüente que não se adapta a sociedade e ás exigências de convivência desta, deve ser eliminado, isto é expulso. 10 Voltando à visão de LOMBROSO, haveria uma evolução às avessas retornando à selvageria, onde todos os 9 GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. – 4 ed. rev., atual.e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 p., 194 et seq. 10 Ibid, p. 198 - 200. tipos de ilegalidades seriam manifestações desse suposto retrocesso evolutivo que seria transmitido hereditariamente e por esse motivo tal indivíduo deveria ser expulso da sociedade. Neste sentindo, o que em verdade se estabelecia era um tipo de seleção cultural, fazendo vigorar uma sociedade onde havia dois tipos de indivíduos: aqueles que pela evolução se tornaram selvagens e estavam predispostos a cometer crimes e os ditos normais, que eram produtos de uma bem sucedida evolução, os quais, por óbvio, controlavam os primeiros que eram menos favorecidos.11 Já analisadas as diretrizes etiológicas, vale ressaltar que a psicologia em sua abordagem criminal analisa os fatores que determinaram o sujeito ter praticado um crime em função de ações comandadas por seu psiquismo. A psicologia criminal busca compreender o estado mental destes sujeitos quando do crime, uma vez que, tais fatos ocasionam modificações não apenas na psique do agente, mas também na sociedade como um todo. Sob este viés, a contribuição da psicologia junto a criminologia perpassa por estudos do estado mental que possa 11 RAUTER, Cristina. Criminologia e Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 59 ter gerado no sujeito a intenção de um fato criminoso, desvendando algum tipo de caráter criminoso que este sujeito possa apresentar, com base principal na psicopatologia.12 Considerando o condão etiológico e também a influência do movimento eurocentrista, em relação ao Brasil se pode dizer que há influências de preceitos da chamada Nova Defesa Social13, com fulcro nas interpretações de Franz von Liszt e Marc Ancel14, os quais buscam a prevenção da sociedade 12 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá, 2008 –p. 63 13 Depois da Segunda Guerra Mundial, reagindo ao sistema unicamente retributivo, surge a escola do Neodefensivismo Social, liderada por Marc Ancel, na França e por Filippo Grammatica, na Itália, que segundo seus postulados não visa punir a culpa do agente criminoso, apenas punir a sociedade das ações delituosas. Essa concepção rechaça a idéia de um direito penal repressivo, que deve ser substituído por sistemas preventivos e intervenções educativas e reeducativas, postulando não uma pena para cada delito, mas uma medida para cada pessoa. 14“O específico desta Escola (movimento, conforme M. Ancel) é o modo de articular referida defesa da sociedade mediante a oportuna ação coordenada do Direito Penal, da Criminologia e da Ciência Penitenciária, sobre as bases científicas e humanitárias, ao mesmo tempo, e a nova imagem do homem delinqüente, realista, porém digna, da que parte. De acordo com M. Ancel, a meta desejada não deve ser o castiga do delinqüente, senão a proteção eficaz da sociedade por meio de estratégias não necessariamente penais...” GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – 4 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, op. Cit. p. 206-207 sob o viés da periculosidade.15 Neste sentido, trata-se do Direito Penal do autor de natureza mecânica impessoal, onde o delito é signo de uma falha de um pequeno mecanismo que irá acarretar um estado de periculosidade para um mecanismo maior, havendo a necessidade de reparar ou neutralizar as “peças defeituosas”. Assim, o sujeito que cometeu um crime se encontra em inferioridade mecânica com conseqüente demonstração de um estado perigoso o que demonstra o desequilíbrio no aspecto da dignidade humana do condenado.16 Interessante ressaltar que os olhares criminológicos passam a se voltar para os costumes do povo brasileiro, onde as festas populares como o carnaval e a miscigenação seriam traduzidos numa incapacidade de controle moral, assim como também, algumas tendências à indolência ao trabalho. Percebe-se também uma tendência ao racismo, onde certos autores acreditam que as tendências criminógenos se acentuam conforme são 15 F. Von Liszt, propugnou a concepção finalista da pena (não meramente retributiva) influenciado pelo pensamento evolucionista. Ibid., p. 205-206 16 ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. Direito Penal Brasileiro. Primeiro volume - Teoria Geral do Direito Penal. RJ: Revan. 2003. p.131-135 acentuadas as características negras num indivíduo.17 De fato a sociedade trata a ressocialização do criminoso de forma ansiogênica, pois se fosse possível curar o sujeito das anomalias que ele apresenta por ter cometido crimes, estaríamos todos a salvo. Se trata da genética aplicada a criminologia, com a falaciosa pretensão de alterar a personalidade humana em função das regras do Estado de Direito. Valendo lembrar que, a criminologia contemporânea já não acolhe a idéia de transformar um sujeito criminoso em um que não o seja. 18 Percebe-se então que o estudo da criminologia tem evoluído desde o entendimento do crime como um fator natural que compõe a sociedade tendo o sujeito praticante do crime como uma anomalia a ser retirada da sociedade, para uma postura bem mais questionadora buscando entender a complexidade dos fatores que envolvem a criminologia, bem como o crime, dentro de uma sociedade.19 17 RAUTER, Cristina. Criminologia e Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 94 18 CABETTE, Eduardo L. S. Criminologia Genética – Perspectivas e Perigos. Juruá: Curitiba. 2007. pág.48 19 iden, pág.113 Interessante ressaltar a relação entre as punições severas inquisitórias e o posterior surgimento da legislação estabelecendo as condenações por pena de prisão, pois se torna claro a questão de que impor todo aquele sofrimento ao condenado, principalmente em lugar públicos, abriria precedente para o aparecimento do sentimento de piedade de uma sociedade inteira, transformando o supliciado em alguém digno de glória e na ode vergonha. Desta forma, se passou a ter julgamentos públicos, pois esta vergonha a justiça fazia questão de impor ao réu, porém quanto à execução da condenação, o poder judiciário percebeu que não mais deseja ter a responsabilidade, fazendo questão de confiar a tarefa a outrem e de preferência em sigilo. Portanto, passa a ser estabelecido um mecanismo curioso entre a justiça e a pena que ela mesmo impõe, pois esta punição cada vez mais passa a ser realizada de forma administrativa, desonerando assim a justiça.20 Em última análise, não se pode negar a evidente relação da criminologia com o poder estatal, uma vez que, busca ser base científica ao aparelhamento do Estado, pois o poder deste se manifesta 20 FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes, 1987. pág.14 em formas de controle eivado de sutileza, como é o caso da psiquiatrização, algo que em primeira vista não é violento. Neste sentido a criminologia atua em nome da “defesa social”, ainda que por momentos se acredite ser ela a base para a cura do criminoso – como se isso fosse possível.21 REFERÊNCIAS BARATTA, Alessandro. (2002). Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, CARVALHO,Salo (2001) Pena e garantias: Uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil. Rio de janeiro: Lumem Júris FARIAS JÚNIOR, João.(2008). Manual de Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá. FOUCALT, Michel.(1987). Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes. GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. (2002). Criminologia – 4 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais. RAUTER, Cristina (2003). Criminologia e Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan. ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. (2003).Direito Penal Brasileiro. Teoria Geral do Direito Penal .Primeiro volume - RJ:Rev 21 RAUTER, Cristina. Criminologia e Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 72-73