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TX 6 Criminologia e Psicologia Jurídica

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Compreendendo a Criminologia sob o olhar da Psicologia 
Jurídica 
Understanding the Criminology under the look of Legal Psychology 
 
 
Dariane Viegas Baierfuss 
Roberta Lopes Rodrigues 
Tanara Richter Pires 
 
RESUMO: 
É a criminologia uma ciência humana e social que estuda o homem criminoso dentro das 
variantes que o condicionaram a cometer um crime, a criminalidade de regiões 
específicas considerando a periculosidade dos agentes do crime, bem como também, as 
possibilidades de prevenir crimes junto a sociedade. Neste sentido este artigo busca a 
compreensão dos meandros do referido tema bem como as conseqüências dele 
adjacentes sob enfoque da Psicologia. 
 
Palavras-chave: Crimes.Criminologia.Violência. Psicologia. 
 
ABSTRACT: 
A science is the criminology social human being and who inside studies the criminal man 
of the variants had conditioned that it to commit a crime, crime of specific regions 
considering the danger of the agents of the crime, as well as also, the possibilities to 
prevent crimes next to society. In this direction this article searchs the understanding of the 
meandros of the related subject as well as the adjacent consequences of it. 
 
Word-keys: Crimes.Criminologia.Violence. 
 
 
m se tratando da Criminologia, 
a prevenção se estabelece em 
duas fases: a pré-delinqüência, onde se 
trabalha com políticas públicas que 
evitem que os fatores criminógenos se 
estabeleçam, e pós-delinqüência, na 
qual se busca prevenir a reincidência por 
mecanismos sociais e jurídicos.1 
 
A criminologia enquanto ciência 
se beneficia da psicologia e da 
 
1 FARIAS, Junior João, Manual de Criminologia. 
4.ed .Juruá:São Paulo,2008. pág 13 
psiquiatria, sempre observando aspectos 
importantes como certos fatores 
criminógenos que estariam agindo no 
sujeito no momento da ação do crime, 
que o meio onde o sujeito vive pode ser 
base para uma predisposição ao crime e 
que o caráter do ser humano estaria 
intimamente ligado ao fato deste cometer 
crimes, não apenas sua vontade.2 
 
Desde a antiguidade, por volta do 
século XIX, o crime já foi dito heresia, 
 
2 iden, pág14 
EEEE
onde foram estabelecidos tribunais de 
inquisição, onde milhares de pessoas 
foram julgadas e queimadas vivas. Além 
disso, em caso de prisão, estas eram 
calabouços subterrâneos, com intuito 
deste sofrimento levar o suposto 
delinqüente ao que chamavam de 
ascese, ao entendimento superior de que 
tinha expiado sua culpa, valendo 
ressaltar que foi só na época da 
Revolução Francesa que se passou a ter 
punição através de pena de prisão, ainda 
que as atrocidades tenham sido abolidas 
somente com o advento do primeiro 
Código Penal Francês em 1791.3 
 
Quando se fala da Lei de 
Execuções Penais, surge a idéia da 
prevenção do crime e a recuperação do 
criminoso4, e inclusive seria ressuscitar a 
criminologia etiológica5 da Escola 
 
3 iden, pág 15 
4 CARVALHO, Salo (2001) Pena e garantias: 
Uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli no 
Brasil. Rio de janeiro: Lumem Juris.p.152 et seq 
5 A criminologia etiológica estabelece um novo 
sistema de idéias que legitima o novo controle 
penal exigido pelo Estado intervencionista. É o 
início do processo que culmina no nascimento de 
um novo inquisitorialismo, fruto não mais da 
confusão entre direito e moral, mas sim entre 
direito e natureza onde o paradigma causal-
etiológico, possuía três versões – biológica, 
psicológica e social – a partir de uma concepção 
determinista da sociedade e busca a explicação da 
criminalidade na ‘diversidade’ ou anomalia dos 
comportamentos criminalizados. BARATTA, 
Alessandro.Criminologia Crítica e Crítica do 
Direito Penal. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Revan: 
Instituto Carioca de Criminologia, 2002.p.39 et 
seq 
Positivista, a qual possui como principais 
nomes Lombroso, Ferri e Garófalo. 
 
O positivismo criminológico 
desponta com a Escola Positiva Italiana 
e como crítica á Criminologia Clássica e 
seu método abstrato e dedutivo em 
contraposição ao método empírico-
dedutivo dos positivistas. Assim, o 
positivismo propunha o esquema causal-
explicativo como modelo de ciência. Para 
os representantes do positivismo o delito 
é concebido como um fato real e 
histórico, onde sua nocividade deriva não 
apenas de mera contradição com a lei. 
Não se poderia imaginar estudar o crime 
no positivismo, sem analisar a realidade 
social do delinqüente e também as 
causas do crime como fenômeno para 
combatê-lo de forma eficaz através de 
prevenções que condigam com a 
realidade da sociedade. No positivismo, 
a prioridade de estudo é o delinqüente, 
isto é, a concepção do criminoso como 
subtipo humano.6 
 
A diretriz antropológica do 
positivismo foi representada por 
LOMBROSO, o qual destinguia seis tipos 
de delinqüentes: o nato, o louco moral, o 
 
 
6 GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; 
GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – 4 ed. rev., 
atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002 – p. 189 - 190. 
epilético, o louco, o ocasional e o 
passional. A teoria lombrosiana da 
criminalidade destacava o delinqüente 
nato, o qual seria marcado por uma série 
de estigmas que o identificavam e que 
inclusive poderiam, segundo o autor, ser 
transmitidas hereditariamente. Sua tese 
foi muito criticada exatamente quanto ao 
significado dado aos estigmas, que 
segundo o autor seriam degenerativos, 
porém se poderia encontrar em alguns 
indivíduos não delinqüentes aqueles 
traços que segundo LOMBROSO 
caracterizavam um criminoso nato.7 
 
Por outro lado, FERRI, representa 
a diretriz sociológica do positivismo, e 
trazendo uma nova visão da teoria de 
LOMBROSO, visto que seu estudo não 
tinha tantos aspectos orgânicos, mas sim 
sociais, como os que ocorrem com o 
homem em sociedade cogitando o 
fenômeno social da criminalidade.8 
 
O delito segundo FERRI não é 
produto de nenhuma patologia individual 
e sim um resultado de diversos fatores 
tais como: individuais, físicos e sociais. 
Segundo o autor, a criminalidade poderia 
ser medida como qualquer outro 
fenômeno social, se chegando a ponto 
 
7 Ibid. , p. 194. 
8 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de 
Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá, 2008 – p. 
51 et seq 
de podermos antecipar com exatidão o 
número de delitos que aconteceriam em 
uma sociedade num dado momento.9 
 
E num terceiro momento, 
GARÓFALO, sustentou o positivismo 
moderado, porém por sua moderação e 
equilíbrio, mesmo preservando as 
premissas do método empírico, se 
distanciou da antropologia de 
LOMBROSO e do socialismo de FERRI. 
Sua principal contribuição para o estudo 
do crime é embasada na filosofia do 
castigo, dos fins da pena e a 
fundamentação desta, bem como 
também, medidas de prevenção de 
repressão da criminalidade, partindo da 
premissa de uma determinação 
moderada que contrastava com o rigor 
penal, que segundo o autor, seria 
necessário para a eficiência da defesa 
da ordem da sociedade. Para 
GARÓFALO, o delinqüente que não se 
adapta a sociedade e ás exigências de 
convivência desta, deve ser eliminado, 
isto é expulso. 10 
 
Voltando à visão de LOMBROSO, 
haveria uma evolução às avessas 
retornando à selvageria, onde todos os 
 
9 GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, Antonio; 
GOMES, Luiz Flávio. – 4 ed. rev., atual.e ampl. 
– São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 p., 194 
et seq. 
10 Ibid, p. 198 - 200. 
tipos de ilegalidades seriam 
manifestações desse suposto retrocesso 
evolutivo que seria transmitido 
hereditariamente e por esse motivo tal 
indivíduo deveria ser expulso da 
sociedade. Neste sentindo, o que em 
verdade se estabelecia era um tipo de 
seleção cultural, fazendo vigorar uma 
sociedade onde havia dois tipos de 
indivíduos: aqueles que pela evolução se 
tornaram selvagens e estavam 
predispostos a cometer crimes e os ditos 
normais, que eram produtos de uma bem 
sucedida evolução, os quais, por óbvio, 
controlavam os primeiros que eram 
menos favorecidos.11 
 
Já analisadas as diretrizes 
etiológicas, vale ressaltar que a 
psicologia em sua abordagem criminal 
analisa os fatores que determinaram o 
sujeito ter praticado um crime em função 
de ações comandadas por seu 
psiquismo. A psicologia criminal busca 
compreender o estado mental destes 
sujeitos quando do crime, uma vez que, 
tais fatos ocasionam modificações não 
apenas na psique do agente, mas 
também na sociedade como um todo. 
Sob este viés, a contribuição da 
psicologia junto a criminologia perpassa 
por estudos do estado mental que possa 
 
11 RAUTER, Cristina. Criminologia e 
Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 
59 
ter gerado no sujeito a intenção de um 
fato criminoso, desvendando algum tipo 
de caráter criminoso que este sujeito 
possa apresentar, com base principal na 
psicopatologia.12 
 
Considerando o condão etiológico 
e também a influência do movimento 
eurocentrista, em relação ao Brasil se 
pode dizer que há influências de 
preceitos da chamada Nova Defesa 
Social13, com fulcro nas interpretações 
de Franz von Liszt e Marc Ancel14, os 
quais buscam a prevenção da sociedade 
 
12 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de 
Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá, 2008 –p. 
63 
13 Depois da Segunda Guerra Mundial, reagindo 
ao sistema unicamente retributivo, surge a escola 
do Neodefensivismo Social, liderada por Marc 
Ancel, na França e por Filippo Grammatica, na 
Itália, que segundo seus postulados não visa punir 
a culpa do agente criminoso, apenas punir a 
sociedade das ações delituosas. Essa concepção 
rechaça a idéia de um direito penal repressivo, que 
deve ser substituído por sistemas preventivos e 
intervenções educativas e reeducativas, 
postulando não uma pena para cada delito, mas 
uma medida para cada pessoa. 
14“O específico desta Escola (movimento, 
conforme M. Ancel) é o modo de articular 
referida defesa da sociedade mediante a oportuna 
ação coordenada do Direito Penal, da 
Criminologia e da Ciência Penitenciária, sobre as 
bases científicas e humanitárias, ao mesmo tempo, 
e a nova imagem do homem delinqüente, realista, 
porém digna, da que parte. De acordo com M. 
Ancel, a meta desejada não deve ser o castiga do 
delinqüente, senão a proteção eficaz da sociedade 
por meio de estratégias não necessariamente 
penais...” GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, 
Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – 4 
ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002, op. Cit. p. 206-207 
sob o viés da periculosidade.15 Neste 
sentido, trata-se do Direito Penal do 
autor de natureza mecânica impessoal, 
onde o delito é signo de uma falha de um 
pequeno mecanismo que irá acarretar 
um estado de periculosidade para um 
mecanismo maior, havendo a 
necessidade de reparar ou neutralizar as 
“peças defeituosas”. Assim, o sujeito que 
cometeu um crime se encontra em 
inferioridade mecânica com conseqüente 
demonstração de um estado perigoso o 
que demonstra o desequilíbrio no 
aspecto da dignidade humana do 
condenado.16 
 
Interessante ressaltar que os 
olhares criminológicos passam a se 
voltar para os costumes do povo 
brasileiro, onde as festas populares 
como o carnaval e a miscigenação 
seriam traduzidos numa incapacidade de 
controle moral, assim como também, 
algumas tendências à indolência ao 
trabalho. Percebe-se também uma 
tendência ao racismo, onde certos 
autores acreditam que as tendências 
criminógenos se acentuam conforme são 
 
15 F. Von Liszt, propugnou a concepção finalista 
da pena (não meramente retributiva) influenciado 
pelo pensamento evolucionista. Ibid., p. 205-206 
16 ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. 
Direito Penal Brasileiro. Primeiro volume - 
Teoria Geral do Direito Penal. RJ: Revan. 2003. 
p.131-135 
acentuadas as características negras 
num indivíduo.17 
 
De fato a sociedade trata a 
ressocialização do criminoso de forma 
ansiogênica, pois se fosse possível curar 
o sujeito das anomalias que ele 
apresenta por ter cometido crimes, 
estaríamos todos a salvo. Se trata da 
genética aplicada a criminologia, com a 
falaciosa pretensão de alterar a 
personalidade humana em função das 
regras do Estado de Direito. Valendo 
lembrar que, a criminologia 
contemporânea já não acolhe a idéia de 
transformar um sujeito criminoso em um 
que não o seja. 18 
 
Percebe-se então que o estudo 
da criminologia tem evoluído desde o 
entendimento do crime como um fator 
natural que compõe a sociedade tendo o 
sujeito praticante do crime como uma 
anomalia a ser retirada da sociedade, 
para uma postura bem mais 
questionadora buscando entender a 
complexidade dos fatores que envolvem 
a criminologia, bem como o crime, dentro 
de uma sociedade.19 
 
17 RAUTER, Cristina. Criminologia e 
Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 
94 
18 CABETTE, Eduardo L. S. Criminologia 
Genética – Perspectivas e Perigos. Juruá: Curitiba. 
2007. pág.48 
19 iden, pág.113 
Interessante ressaltar a relação 
entre as punições severas inquisitórias e 
o posterior surgimento da legislação 
estabelecendo as condenações por pena 
de prisão, pois se torna claro a questão 
de que impor todo aquele sofrimento ao 
condenado, principalmente em lugar 
públicos, abriria precedente para o 
aparecimento do sentimento de piedade 
de uma sociedade inteira, transformando 
o supliciado em alguém digno de glória e 
na ode vergonha. Desta forma, se 
passou a ter julgamentos públicos, pois 
esta vergonha a justiça fazia questão de 
impor ao réu, porém quanto à execução 
da condenação, o poder judiciário 
percebeu que não mais deseja ter a 
responsabilidade, fazendo questão de 
confiar a tarefa a outrem e de preferência 
em sigilo. Portanto, passa a ser 
estabelecido um mecanismo curioso 
entre a justiça e a pena que ela mesmo 
impõe, pois esta punição cada vez mais 
passa a ser realizada de forma 
administrativa, desonerando assim a 
justiça.20 
 
Em última análise, não se pode 
negar a evidente relação da criminologia 
com o poder estatal, uma vez que, busca 
ser base científica ao aparelhamento do 
Estado, pois o poder deste se manifesta 
 
20 FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir: 
Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes, 1987. 
pág.14 
em formas de controle eivado de 
sutileza, como é o caso da 
psiquiatrização, algo que em primeira 
vista não é violento. Neste sentido a 
criminologia atua em nome da “defesa 
social”, ainda que por momentos se 
acredite ser ela a base para a cura do 
criminoso – como se isso fosse 
possível.21 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARATTA, Alessandro. (2002). 
Criminologia Crítica e Crítica do Direito 
Penal. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Revan: 
Instituto Carioca de Criminologia, 
 
CARVALHO,Salo (2001) Pena e 
garantias: Uma leitura do garantismo de 
Luigi Ferrajoli no Brasil. Rio de janeiro: 
Lumem Júris 
 
FARIAS JÚNIOR, João.(2008). Manual 
de Criminologia – 2ª tir – Curitiba: Juruá. 
 
FOUCALT, Michel.(1987). Vigiar e Punir: 
Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes. 
 
GARCÍA – PABLOS DE MOLINA, 
Antonio; GOMES, Luiz Flávio. (2002). 
Criminologia – 4 ed. rev., atual. e ampl. 
– São Paulo: Revista dos Tribunais. 
 
RAUTER, Cristina (2003). Criminologia e 
Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan. 
 
ZAFFARONI, E. Raúl; BATISTA, Nilo. 
(2003).Direito Penal Brasileiro. Teoria 
Geral do Direito Penal .Primeiro volume -
RJ:Rev
 
21 RAUTER, Cristina. Criminologia e 
Subjetividade. Rio de Janeiro:Revan, 2003. pág. 
72-73

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