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As relações de poder na tribo Acicairacs atualizado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. 
Departamento de Ciências Sociais – Antropologia I 
 
O Saber e as Relações de Poder nas Tribos dos Acicairacs da América do Sul.* 
 
Há mais de dois milênios, entre os Acicairacs da América do Sul, o saber era 
passado de geração em geração. Os pequenos, recebiam o nome de Senorens, e recebiam 
sua formação tribal na Casa da Servidão do Saber. Esta Casa era reservada a alguns grupos 
mais privilegiados, por pertencerem a hierarquia, por sorte dos deuses ou por que 
conviveram com grupos locais, que conhecem um pouco mais sobre o Livro Sagrado do 
Saber. 
Alguns iluminados Seronens, logo após o nascimento, eram levados por 
responsáveis a estes espaços e ficavam ali boa parte do dia, sobre a orientação de 
Especialistas do Saber, que os iniciavam nos rituais rudimentares da alimentação, 
vestuário, amamentação e da escrita dos primeiros hieróglifos da complexa língua mãe. 
A hierarquia de funcionamento do local era bem verticalizada, com papéis claros e bem 
definidos para todos os membros. 
A função de Chefe Local, o maior cargo da escala de hierarquia, era de comando e 
de guardiã da ordem, dos bons costumes e do funcionamento de toda a Casa. O 
Especialista era o detentor do conhecimento e fazia parte de um grupo especial dentro da 
tribo e seu cargo era resguardado por uma série de normas e regras consideradas sagradas 
na tribo e por isso, enquanto estava no exercício de sua função, tinha certa independência 
em relação a Chefe Local. Os cuidadores tinham uma função de dar banho, trocar as 
roupas e ver o estado de saúde dos Seronens. Por fim, os zeladores tinham a 
responsabilidade de limpar e cuidar dos espaços antes e depois das atividades de 
aprendizagem na Casa da Servidão do Saber. 
O custeio do espaço era mantido pelos membros adultos da tribo, os Acicairacs, 
tutores dos Senorens, com de dotes, presentes, oferendas e sacrifícios e, por meio de festas 
e cerimônias, organizada pela Chefe Local, e com a contribuição dos tutores, que traziam 
comidas, bebidas e presentes, para serem trocados e/ou vendidos com outras tribos. 
Os tutores eram lembrados de adquirir penduricalhos, imagens, e escritos de 
especialistas de tribos com conhecimentos considerados mais elevados, que traziam 
histórias e discursos de grandes líderes, que serviam de exemplo para as futuras gerações e 
outras coisas mais que a Chefe Local insistia em pedir aos tutores que adquirissem, com o 
argumento de que a Casa precisava de manutenção. 
O acesso de Mercadores aos espaços da Casa era permitido pela Chefe local, para 
apresentar aos Senorens objetos mágicos, que os envolviam por meio de feitiços. Uma vez 
sonhando a embalo da magia, os senorens convenciam os adultos da necessidade de 
adquirir os objetos, devido a beleza e fascínio que traziam. Para cada bem adquirido, a 
Chefe Local ficava com a décima parte do valor arrecadado, que servia para pagamento das 
suas atividades pessoais diárias e para realizar as festas e cerimônias que justificavam o seu 
controle sobre os membros da tribo e a sua manutenção no poder por mais tempo. 
Em determinado momento, sem alardear muito, o Chefe Supremo, detentor de 
todo poder, chegava às Casas da Servidão do Saber, com os presentes que eram ofertados 
aos tutores e aos Senorens. Eram Roupas especiais, que traziam no peito o símbolo do 
poder soberano e tinham as cores especiais que identificavam o poder soberano do Chefe 
Supremo. Elas serviam para distinguir os Senorens que frequentavam a Casa, dos outros, 
os Sodiulcxe que ficavam de fora da Casa. 
O dia da chegada do Chefe Supremo era marcado por uma grande festa e por 
cerimônias com danças, músicas e comidas típicas, custeadas pelos próprios tutores. Era o 
momento em que os tutores paravam suas atividades e iam à casa cumprimentar o Chefe 
Supremo. Todos ficavam felizes, abraçavam e queriam que seus filhos fizessem reverência 
ao grande líder supremo. 
Para os que não tinham acesso a Casa da Servidão do Saber, poderiam se dirigir a 
um Grupo de Especialistas, que conheciam o Livro do Saber Supremo que dizia que todos 
tinham que ter acesso a Casa da servidão do Saber. Este grupo tinha o poder de obrigar a 
Chefe Local a receber mais um Senoren na Casa, mesmo se não tivesse mais vagas. Caso 
não Conseguissem, restava aos tutores aguardarem a desistência de algum membro com 
filiação a Casa, fato que raramente acontecia. 
Este espaço era conhecido como Casa da Servidão do Saber, pois tinha o intuito 
de permitir que os Senorens, filhos dos membros das tribos de classe menos abastada, 
ficassem ali enquanto seus tutores exerciam papeis de servidão, trabalhando para 
manutenção do poder das classes mais elevadas da tribo. 
No espaço da Casa da Servidão do Saber os Senorens eram preparados para 
aceitarem a sua condição e viveram felizes, junto com os seus tutores, dentro desta 
hierarquia tribal dos Acicairacs da América do Sul. Sempre respeitando as regras e 
aceitando com bom grado todas as dádivas ofertadas e o modo de vida na tribo. E assim a 
vida ia passando e o saber conservando a hierarquia e o poder centralizador entre os 
Acicairacs. 
*Texto elaborado a partir de uma pesquisa de antropologia em escritos sobre os povos pré-colombianos nos 
arquivos da biblioteca central da UFES – ES. Serpaul Brangio– Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFES.

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