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CuidadosTecnicosPsicodiagnóstico Hutz 2017.1

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CUIDADOS TÉCNICOS NO INÍCIO DO
PSICODIAGNÓSTICO
Bruna Gomes Mônego
psicodiagnóstico é um processo que deve ser planejado passo a passo, mas,
quando estamos iniciando a vida profissional, não sabemos exatamente como é
o primeiro passo. Existem diferentes opiniões e posturas, e você tem liberdade
para fazer suas escolhas e construir o profissional que ​deseja ser. Neste capítulo,
procuro trazer um ​pouco da minha visão, da minha prática e alguns assuntos ou dicas a
que gostaria de ter tido ​acesso quando iniciei meu trabalho. Espero que ele possa servir
como um guia para acompanhá-lo nessa incrível jornada do psicodiagnóstico. Não
pretendo fornecer um manual de regras rígidas, mas entendo que a flexibilidade
necessária para o trabalho do psicólogo é adquirida com o amadurecimento
profissional e pessoal.
Apresento este capítulo em duas seções. A primeira corresponde ao contato
telefônico, à marcação da primeira entrevista e ao contrato. A segunda abordará a
empatia e a relação terapêutica, considerando características do profissional e do
paciente.
COMO TUDO COMEÇA
O contato telefônico
Se você vai começar seu estágio ou trabalhar em uma clínica, é preciso saber que
geralmente é o paciente quem vai procurar o serviço. Ele terá um acolhimento ou uma
triagem e, em seguida, você pegará seus dados para entrar em ​contato e marcar a
primeira entrevista. Ou seja, um pouco do trabalho foi adiantado e você já tem
informações para se preparar melhor. Caso vá atender em seu próprio consultório, você
mesmo coletará os primeiros dados e, se não tiver uma secretária, o paciente fará o
contato diretamente com você.
Ele irá contatá-lo porque, provavelmente, recebeu seu nome como indicação. Você
receberá uma ligação de um número desconhecido e, ansiosamente, pensará: “Será que
é um paciente?”. Se essa ansiedade for muito grande, você não ouvirá nada do que a
pessoa do outro lado da linha falará. Portanto, mantenha sempre um papel e uma caneta
à mão. Pergunte e ​anote o nome da pessoa que será avaliada e sua idade, solicite uma
descrição genérica do problema e marque o horário. Caso não tenha uma agenda em
mãos, diga que ligará depois para confirmar a data. Não há problema algum nisso.
Inclusive, se não puder falar no momento, diga que retornará a ligação, mas nunca deixe
de anotar o nome da pessoa e o número do telefone. Mais tarde, você poderá esquecer
essas informações, vindo a se perder na lista de registros. É importante manter a calma
durante esse primeiro contato telefônico, pois o indivíduo já está formando uma opinião
sobre a sua competência ou capacidade de estabelecer confiança.
Promova uma conversa em que você ​possa demonstrar ser atencioso e acolhedor.
Pode per​guntar sobre a demanda da avaliação: “Você poderia me adiantar alguma
informação sobre o motivo da avaliação?” e “Quem a está solicitando?”. Caso obtenha
esses dados por telefone, você terá como se preparar um pouco melhor, não sendo,
assim, pego de surpresa na consulta. Além disso, se for uma demanda com a qual não
trabalha, informe isso imediatamente ao indivíduo e, se possível, indique outro
profissional ou instituição que possa ajudá-lo.
Ao marcar a primeira sessão, solicite que o indivíduo leve documentos e materiais
que você julgue necessários, como o encaminhamento do solicitante, resultados de
exames, e laudos médicos e psicológicos. Quando a ligação é feita pelo responsável da
criança para a qual se solicitou uma avaliação, você pode sugerir que ambos os
responsáveis legais (p. ex., pai e mãe) compareçam e orientá-los a ir para a ​sessão sem
a criança. Essa solicitação é feita por ser comum as famílias terem segredos ou ​-
opiniões que não são expressas na frente da criança, ou, ​ainda, assuntos de conteúdo
mais íntimo do casal. En​tretanto, muitas vezes o responsável a leva por não ter com
quem deixá-la. Nessas situações, você poderá avaliar se ela tem idade suficiente para
ficar na sala de espera com a secretária (caso disponha de uma), ou se entrará no
consultório junto com o responsá​vel. Se ela ficar de fora, divida o tempo entre os
responsá​veis e a criança, de modo a não deixá-la com a impressão de estar sendo
excluída, afinal, ela é o cerne da avaliação. Caso a criança tenha de acompanhar toda a
sessão, introduza-a na conversa. Quando fizer o contrato com o responsável, explique
tudo a ela também. Em qualquer idade, a criança sabe quando está sendo ​incluída e
valorizada. Olhe para ela, pergunte diretamente a ela, mostre-se interessado no que tem
a dizer. Provavelmente você será capaz de observar aspectos da relação entre o
responsável e a criança, como o estímulo e a valorização dada às opiniões infantis.
No caso de adolescentes, você levará em conta a idade e a demanda, mas, em
geral, é interessante que o primeiro atendimento seja conduzido com o próprio
adolescente, pois se trata de uma etapa do desenvolvimento humano que busca
identidade e autonomia. Esse posicionamento do psicólogo favorece uma relação de
confiança, na medida em que o jovem percebe que o profissional o vê como alguém
capaz de falar de si mesmo e de suas necessidades.
Ele chegou ao consultório...
Bom, seu paciente chegou e você vai buscá-lo na sala de espera. Cumprimente-o e
apresente-se. O contato físico (abraço, aperto de mão, beijo na face) nesse momento,
assim como na despedida, vai depender de como você se sente mais à vonta​de, mas não
se esqueça de observar a reação do paciente. Tente deixá-lo à vontade também.
Pacientes com traços paranoides, por exemplo, não costumam gostar de ser tocados.
Depois disso, você vai guiá-lo até o consultório. Se esse trajeto for um pouco longo,
pergunte se foi fácil achar o local, se conseguiu estacionar, como está o clima na rua ou
outras questões impessoais, mas ​nunca indague sobre a queixa. Os assuntos referentes à
problemática do indivíduo devem ser sempre abordados dentro do consultório, que é o
local apropriado para isso, e porque você quer que toda a sua atenção esteja voltada às
respostas, procurando preservar a confidencialidade das informações.
Ouça-o! Esteja presente de corpo e mente. Prepare-se bem para esse momento e
tenha em mente as perguntas que precisa fazer, mas não esqueça de ouvir as respostas.
Psicólogos iniciantes tendem a se preocupar demasiadamente com obrigações e regras.
Isso prejudica a relação terapêutica, assunto que será abordado mais adiante (Meyer &
Vermes, 2001). Nem todo psicólogo iniciante experimenta um nível de ansiedade capaz
de interferir em sua atenção – o que é ótimo. Conseguir lidar tranquilamente com
situações novas é muito bom. Contudo, tanto o excesso de ansiedade quanto o de
autoconfiança são capazes de “ensurdecer” o profissional.
Ao receber um indivíduo que fez muitas avaliações, consultou diversos
profissionais e queixa-se que ninguém soube avaliá-lo ou ajudá-lo, não é raro que o
psicólogo experimente uma sensa​ção de desafio e pensamentos do tipo “Eu vou
conseguir!”, “Nenhum ​profissional se dedicou a ele como eu farei” ou, ainda, sofra uma
intensa ansiedade e tenha pensamentos como “Se eu não conseguir, serei um ​fracasso”,
“Eu não sou bom o suficiente para isso”, “Se eu falhar, ele ficará ainda mais
desapontado”. Embora os pensamentos sejam sobre o desempenho do próprio
psicólogo, a questão a ser refletida se refere ao indivíduo. Ou seja, será que ninguém
soube avaliá-lo de fato ou é ele que não aceita o que lhe foi dito ou a ajuda que lhe foi
oferecida? Se, de acordo com ele, há tantos profissionais incompetentes, será que
algum lhe parecerá capaz? O que ele realmente está buscando? Esses questionamentos
feitos por ​parte do psicólogo trarão uma visão mais clara do caso.
Um exemplo desse tipo de situação é quando os pais não aceitam determinado
diagnóstico dado ao filho, ou não concordam que a dinâmica familiar ou que as práticas
parentais utilizadas estão influenciando negativamente a criança. Quando você se
depararcom situações semelhantes, reflita sobre a real necessidade de nova avaliação
e se ela trará informações que ainda não foram investigadas (considere, também, a
reaplicação de instrumentos psicológicos). Talvez o mais indicado seja uma orienta​ção
aos pais em vez de submeter novamente a criança a uma fatigante avaliação,
fortalecendo, assim, o pensamento de que ela tem um problema tão grave que ninguém
será capaz de ajudá-la.
Marcar e receber o indivíduo na ​primeira sessão após o contato telefônico não ​-
significa que a avaliação será realizada. Você considera​rá pelo menos três pontos: o
esclarecimento da demanda; a real necessidade da avaliação; e sua competência para
realizá-la. Para o primei​ro ponto, tenha em mente que “. . . o ​avaliador pode se
encontrar com o avaliando ou com ou​tras pessoas antes da avaliação formal a fim de
esclarecer aspectos da razão para o encaminha​mento” (Cohen, Swerdlik, & Sturman,
2014, p. 4). Para o segundo ponto, entenda que existem demandas que podem ser
encaminhadas diretamen​te para a psicoterapia, por exemplo. Sobre o terceiro, é
fundamental lembrarmos do Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho
Federal de Psicologia [CFP], 2005), que aponta que o psicólogo deve “. . . assumir
responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado
pessoal, teórica e tecnicamente”. Claro que o psicólogo iniciante tem uma competência
ainda limitada, mas ele estudará e fará supervisão. Outro ​aspecto que pode ser
abordado aqui é quando determinada demanda não faz parte do seu campo de atuação.
Restringir seu repertório de trabalho é uma escolha.
Certa vez, um pai me ligou porque ​buscava um psicodiagnóstico para a filha de 4
anos. Por telefone, não entendi exatamente o que ele queria e marquei uma consulta de
esclarecimento. A pergunta que ele queria responder era: “Ela terá esquizofrenia no
futuro?”. Havia história fa​miliar positiva para o transtorno, e ele ​estava muito
preocupado. Eu o ouvi atentamente, en​tendi o que queria, mas informei que não
conseguiria dar essa resposta. Informei saber que esse tipo de avaliação existia em
outros países, mas que eu não tinha formação adequada para essa prática e não
conhecia nenhum profissional geograficamente próximo que a fizesse. Esclareci que
minha avaliação apresentaria o estado emocional e/ou cognitivo atual da menina, mas
que, por seu relato, eu não percebia necessidade para isso (ela também estava em
psicoterapia). De qualquer forma, orientei-o a respeito dos fatores de proteção, do
ambiente saudável e do manejo parental. Não seria apropriado realizar uma avaliação
sobre como ela estava naquele momento, sabendo que a expectativa do pai era outra.
O contrato
Passado o momento da recepção do indivíduo e do entendimento da demanda, é de
extrema importância esclarecer o que é um psicodiagnóstico, visto que a imensa
maioria das pessoas que procuram esse serviço não sabe bem como funciona esse
processo e quais são seus direitos. Mantê-las sem esse conhecimento reforça ideias
irreais, idealizadas ou preconceituosas sobre o processo. Essa explicação já introduz o
contrato.
Para versar sobre o contrato, vamos retomar o Código de Ética Profissional do
Psicólogo (CFP, 2005) como princípio fundamental: “. . . o psicólogo contribuirá para
promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento
da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão” e tem como
responsabilidade “. . . Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psico​ló​-
gicos, informações concernentes ao ​trabalho a ser realizado e ao seu objetivo
profissional”. Tendo isso em mente, começo explicitando que o psicodiagnóstico é um
processo avaliativo e informo ao avaliando, ou aos seus responsáveis, que:
Trata-se de um processo de investigação, cujo objetivo é responder à pergunta do
encaminhamento
Não inclui o tratamento
Há benefícios para o caso em questão (reconhecer as dificuldades para adequar o
mane​jo parental e/ou escolar; reconhecer as potencialidades para planejar
reabilitações e fortalecê-las; identificar o diagnóstico ​para escolher o melhor
tratamento; entre ​tantos outros)
As indicações terapêuticas serão dadas ao final do processo
O processo possui uma estimativa de duração (devendo-se explicitar o número de
sessões e o tempo de cada uma)
Com o conhecimento do paciente, entrarei em contato com quem eu julgar
necessário, como, por exemplo, familiares, instituições, médicos e outros
profissionais que o atendam – tal contato pode ser telefônico ou presencial
De acordo com o tipo de resposta fornecida pela avaliação e com suas limitações,
pode-se estabelecer alguns prognósticos ou causas explicativas de alguns
problemas
Durante o processo, o paciente tem direito a documentos (declaração) que
justifiquem faltas ao trabalho, caso seja necessário
Farei uma ou mais entrevistas devolutivas ao final do processo, juntamente com
duas cópias do laudo, sendo uma para ele e outra para o profissional da saúde que
o encaminhou
No caso de encaminhamento de escolas ou instituições que não são da área da
saúde, providenciarei um atestado. Explicarei, resumidamente, a diferença entre
esses documentos (os documentos serão abordados no Cap. 14).
Esclareça sobre o sigilo. Quanto mais o paciente parecer desconfortável com a ​-
situação de avaliação, mais interessante será ​conversar sobre quais informações serão
repassadas e quem terá acesso a elas. Adolescentes, por exemplo, tendem a ser mais
desconfiados, pois costu​mam classificar o psicólogo como um agente dos pais. A
questão prioritária desse aspecto é esclarecer que, como se trata de uma avaliação,
você escreverá sobre o paciente e provavelmente falará com o profissional que o
encaminhou (e/ou responsáveis), mas sempre com o cuidado de comunicar apenas o
necessário para ajudá-lo. Nunca garanta guardar todos os segredos do paciente. O
trabalho do avaliador é responder a alguma pergunta feita e permitir que o paciente
receba ajuda profissional sempre que necessário.
O Código de Ética Profissional (CFP, 2005) aponta que, no contato com
profissionais não psicólogos, deverão ser compartilhadas “so​mente informações
relevantes para qualifi​car o ​serviço prestado, resguardando o ​caráter confidencial das
comunicações, assinalando a responsabili​da​de, de quem as receber, de preservar o
sigilo”. Entre outras orientações, o International Test Comission (ITC, 2003) ​sugere que
se explique aos in​teressados os níveis de confidencialidade antes de iniciar a avaliação
e que se solicite as autorizações antes da ​divulgação dos resultados. É sempre difícil
dar orientações genéricas sobre o sigilo, pois dependerá da demanda de cada caso.
Assim, recomenda-se a discussão em supervisão ou com algum ​colega mais experiente.
Além do conteúdo relatado pelo paciente, também há o material decorrente da
avaliação, como testes e protocolos de registro que deverão ser armazenados conforme
a Resolução nº 001/2009 do CFP (2009).
Informe ao paciente que vias de contato ele pode usar com você para, por
exemplo, desmarcar o atendimento. Pode ser telefone, e-mail, aplicativos como o
WhatsApp, redes sociais, entre outros. A cada dia, há mais alternativas de contato. No
entanto, o que é comum e ​prático para algumas pessoas, pode não ser ​confortável para
outras. Lembre-se que você deve estar atento aos canais de comunicação que disponi​bi​-
lizar e tenha grande cuidado com falhas na comunicação, comuns em meios eletrônicos.
O mais seguro continua sendo a ligação telefônica. Destaco que não me refiro ao
atendimento on-line (informações sobre essa prática devem ser consultadas e
adquiridas com o CFP).
Explique, também, que você anotará informações durante a avaliação. Nunca tive
pacientes que se opuseram a essa prática, mas é importante deixar o paciente à vontade.
Eu costumo dizer que não posso confiar na minha ​memória, queas anotações facilitam a
redação posterior do laudo e que ele poderá olhá-las caso sinta-se desconfortável.
Cuidados extras devem ser tomados com anotações oriundas de aplicações de
instrumentos projetivos.
Estabeleça algumas normas sobre faltas e atra​sos e comunique-as ao paciente.
Serviços-escola e clínicas costumam ter regras, como o desligamento do paciente após
2 ou 3 faltas sem aviso prévio; tanto o atraso quanto a ​falta podem implicar custo extra
para o paciente, além de estender por mais tempo o processo de avaliação.
Tenha um cadastro de seus pacientes, com in​formações como nome completo,
endereço, es​colaridade, profissão, contatos telefônicos e e-mail. Você mesmo pode
preencher esse cadastro ou entregá-lo para que o paciente o faça enquanto espera a
sessão. Pode-se, ainda, acrescentar dados de saúde geral e de tratamentos ou
avaliações anteriores, assim como o controle dos honorários. Existem softwares de
gestão que podem ser utilizados, ou pode-se, ainda, manter um arquivo físico; acima de
tudo, é importante que as informações sejam mantidas em local seguro e que sejam
feitas cópias de segurança (backup) a fim de não perdê-las.
Psicólogos, assim como muitos outros profissionais da saúde, são carentes de
conhecimen​tos de gestão, em especial gestão financeira. Para que as finanças também
sejam saudáveis, é preciso tratar o consultório como uma ​empresa. Os temas
“dinheiro”, “valor” e “preço” são pouco discutidos durante a formação do psicólogo,
gerando falta de preparo para essa atividade. Muitos alunos e colegas queixam-se de
não saber cobrar e de ficar constrangidos ao fazê-lo, mas essa é uma prática necessária
e será abordada com mais detalhes neste capítulo.
Um dos motivos que vejo para termos tantas dificuldades para cobrar, além da
falta de treinamento na graduação, é que não sabemos bem qual é o nosso produto. O
que nós vende​mos? Você já pensou nisso? Eu acredito que vendemos nosso
conhecimento em saúde. Mas como estabelecer um valor para isso?
Há muitos itens a serem considerados no preço a ser cobrado que são mais
concretos do que o conhecimento. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE, 2015?),
Calcular corretamente os preços é essencial para a saúde financeira dos
negócios. O preço é quanto o seu produto ou serviço vale para o consumidor.
Para o seu negócio, o preço ideal de venda é aquele que cobre os custos do
produto ou serviço e ainda proporciona o lucro desejado pela empresa.
No preço, você precisa considerar os custos com: aluguel da sala, luz,
condomínio, limpeza, telefone, internet, anuidade do Conselho Regional de Psicologia,
anuidade do Sindicato dos Psicólogos (opcional), assessoria contábil e impostos
(imposto predial territorial urbano, imposto sobre serviços de qualquer natureza,
imposto de renda). Além disso, há os custos de materiais como testes e brinquedos, que
serão usados com diversos pacientes, e os que irão variar de acordo com o caso
avaliado: ​contato com instituições ou profissionais (telefone, gasolina, tempo); horas de
supervisão; aquisição de protocolos de registro de respostas; horas trabalhadas no
levantamento, correção e interpretação dos testes; horas trabalhadas na redação dos
documentos e entrevistas devolutivas. Além de tudo isso, há o nosso conhecimento
técnico a ser empregado durante o processo.
A inadimplência é um problema muito co​mum em nossa profissão e de difícil
solução. A possibilidade de não receber pelo trabalho feito também deve ser
considerada tanto no valor quanto na forma de pagamento/recebimento. Defina os
prazos de pagamento de forma que ele seja feito antes do fim do psicodiagnóstico.
Alguns psicólogos trabalham com contratos por escrito. É uma prática interessante, que
pode ser adotada com o suporte de um advogado.
O profissional escolhe a forma como cobrará pelo serviço. Assim, você pode dar
o valor da avaliação completa, com uma estimativa de tempo do processo, ou cobrar
por sessão. Na segunda opção, é importante que se tenha maior precisão sobre quantas
sessões serão necessárias para que o paciente possa se organizar financeiramente.
Deve-se ter clareza de que, em qualquer das alternativas, o tempo da sessão
propriamente dita é somente uma parte de tudo o que deve compor o preço.
É comum as pessoas perguntarem o preço do psicodiagnóstico ao telefone, na
primeira ligação. Pode ser difícil dar um valor preciso sem conhecer bem a demanda,
mas você poderá informar um preço médio, dizer que precisará de mais informações
sobre a demanda e/ou marcar uma sessão para esclarecimento da demanda e
estipulação do valor.
Para finalizar, considero de extrema im​​por​tância apontar alguns aspectos éticos
en​volvidos na cobrança dos honorários. ​Nossa profissão tem algumas diferenças em
relação ao restante do mercado. Não podemos fazer promoções, nem reproduções não
autorizadas dos testes. Tampouco podemos ​desqualificar o processo a fim de reduzir o
valor financeiro do psicodiagnóstico. O trabalho deve ser sempre competente, coerente
e confiável, assim como assegura nosso Código de Ética Profissional (CFP, 2005):
Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a
justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou
beneficiário; b) Estipulará o valor de acordo com as características da
atividade e o comunicará ao usuário ou beneficiário antes do início do
trabalho a ser realizado; c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos
independentemente do valor acordado.
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