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Capa 1. INTRODUÇÃO A biodiversidade do nosso planeta é ordenada em níveis hierárquicos de organização da vida. No âmbito das comunidades, diferentes populações que habitam um mesmo ambiente interagem entre si de várias formas, impactando direta e indiretamente o número de indivíduos que as compõe. As relações estabelecidas entre as populações (ou entre membros das populações) podem ser classificadas de acordo com a origem dos entes envolvidos na interação, podendo a relação ser intra ou interespecífica; as interações também podem ser classificadas de acordo com os efeitos que elas têm sobre os envolvidos, havendo relações de natureza harmoniosa, nas quais há benefício mútuo (ou é neutra para um dos componentes), sejam elas obrigatórias ou não para a existência daqueles que interagem, e relações de natureza desarmoniosa, nas quais há prejuízo decorrente da interação para um ou ambos os agentes. Tendo em vista possibilitar a observação de alguns exemplos dessas interações, foi realizada uma visita ao cerrado do município de Mogi-Guaçu (SP), bioma que detém uma flora e fauna muito diversa e que ocupa grande parte do território brasileiro. O cerrado é um tipo de savana caracterizado por uma paisagem com vegetação relativamente baixa, retorcida e esparsa, podendo haver fragmentos de formação florestal de vegetação mais alta e arbórea denominada cerradão, onde predominaram nossas observações. A cobertura arbórea é alta o suficiente para permitir que a luz penetre nos estratos mais baixos, onde se encontram arbustos e plantas de hábito herbáceo. Este tipo de fisionomia florestal abriga uma diversidade de artrópodes, os quais estabelecem muitas interações com as plantas e entre si. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo Nosso estudo foi realizado Núcleo de Pesquisa Reserva Biológica de Mogi Guaçu, que faz parte da antiga Fazenda Campininha, localizada no distrito de Martinho Prado Junior, no município de Mogi Guaçu, no estado de São Paulo, nas coordenadas geográficas 22º18’S e 47º11’W. Este núcleo apresenta uma área de 47 hectares e está inserida no bioma Cerrado, com vegetação variando do cerradão ao campo, incluindo matas ciliares. O clima da região é mesotérmico, com duas estações bem definidas, sendo um inverno seco, de abril a setembro, e um verão quente, de outubro a março. A precipitação média anual é de 1335mm e a temperatura média é de 20,5°C. A Reserva é dividida em seis setores: três deles destinados à pesquisa não perturbatória, dois à pesquisa perturbatória e o último às atividades de ensino. O Núcleo de Pesquisa tem uma altitude média de 600m, com topografia relativamente plana. Metodologia Nosso estudo foi realizado em outubro de 2015, sendo conduzido nas trilhas SPNP-1 e SPNP-2. Fizemos uma varredura em toda a borda da trilha, adentrando mais especificamente em alguns de seus pontos. Buscamos por interações interespecíficas em folhas, caules e troncos de plantas, na serrapilheira e no solo. Os casos de interações interespecíficas envolvendo plantas, como o caso das galhas e da protocooperação entre aranhas e plantas, como será descrito ao longo deste estudo, foram registrados em fotografias e, na ausência de animais, algumas amostras foram recolhidas para uma análise mais detalhada. Na presença de animais, como no caso de predatismo, foi feito apenas registro fotográfico, visando a não-perturbação dos organismos. Observamos este caso por alguns minutos, afim de verificar quais seriam as ações do suposto predador e da suposta presa. Figura 1. Imagens das interações aranha-planta observadas. As setas apontam para as aranhas. Hipótese: interação de protocooperação entre aranhas e plantas. Observamos, durante a atividade de campo, duas formas de interação entre aranhas e plantas. No caso 1, representado pelas imagens a e b da figura 1, encontramos uma aranha abrigada entre duas folhas jovens de uma planta. No segundo caso, representado pelas imagens c e d da figura 1, observamos folhas que se apresentavam modificadas pela ação de aranhas que usavam sua teia para formar um tubo usando o limbo foliar, onde elas se abrigavam. Acreditamos que ambos os casos constituem relações de protocooperação, em que ao usar a planta como abrigo, a aranha pode se proteger de predadores e esperar por possíveis presas que possam aparecer na planta. E ao se alimentar de insetos herbívoros que poderiam causar danos às plantas, as aranhas apresentam uma forma de defesa à planta, constituindo assim, uma relação em que os dois indivíduos envolvidos se beneficiam, mas não existe dependência entre eles, ou seja, ambos conseguem sobreviver na ausência do outro. Proposta de experimentação: o método para testar a hipótese proposta acima se baseia principalmente em observação. Para saber se a aranha se beneficia ao se abrigar nas plantas e se estas se beneficiam dela por abriga-la, proporíamos o experimento que segue. No campo, criaríamos situações em que as aranhas (anestesiadas por éter) seriam colocadas nas posições observadas de abrigo e, para contrastar, outras seriam colocadas no chão. A taxa de predação destes animais seria analisada estatisticamente para saber se são significativamente diferentes. Caso as aranhas sejam de fato mais predadas quando estabelecidas no solo, podemos concluir que o abrigo, de fato, constitui um benefício. Ainda para testar o beneficiamento das aranhas, observaríamos no campo, o desempenho de aranhas abrigadas e desabrigadas na conquista de presas. Para isso, acompanharíamos por uma hora cada animal de um total de pelo menos 20 indivíduos (da mesma espécie e tamanho próximos), 10 abrigados e 10 desabrigados. A taxa de predação destes animais também seria submetida a análises estatísticas para medir a significância dos dados obtidos. Se estas análises não fossem suficientes para uma conclusão segura, poderíamos realizar experimentos em laboratório, simulando as mesmas situações de abrigo e desabrigo e observando o desempenho destes animais em ambiente isolado e com menor interferência. Para analisar o benefício da planta na interação faríamos um experimento que se basearia na observação e contagem de ataques de herbívoros a plantas que possuem as aranhas abrigadas e que não as possuem. Para diminuir o número de variáveis o experimento seria desenvolvido em laboratório com plantas de mesma espécie, tamanho aproximado, e subemtidas às mesmas espécies e número de herbívoros. Dois grupos de plantas seriam criados, um com plantas que abrigam aranhas (da mesma espécie) e outro com plantas que não as abrigam. As relações seriam monitoradas e ao fim do período de 7 dias as taxas de herbivoria das plantas seriam medidas a partir do aferimento da área foliar das plantas de cada grupo além da contagem do número de herbívoros sobreviventes. Caso a análise estatística destes dados se apresentassem significativos, poderíamos concluir que a interação de fato beneficia as plantas. Caso todosos experimentos propostos acima gerassem resultados positivos poderíamos inferir que a interação é de fato de protocooperação. ____________________________________________________________________________ b. Galhas em folhas Figura 2. Imagens a, b, c e d registrando as observações de galhas em folhas em campo. Hipótese: Foi observada a presença de galhas em folhas, que acreditamos se tratar de uma relação de parasitismo entre artrópodes em estágio larval e as plantas, em cujas folhas as larvas completam seu desenvolvimento, mais especificamente no mesofilo. A relação pode ser notada a partir da observação de aspectos anômalos nos limbos de algumas plantas no interior da mata, tais como protuberâncias cônicas circundadas por clorose, formadas pela hipertrofia e hiperplasia dos tecidos do órgão afetado (Figura x). Caso a interação se trate de uma relação de parasitismo, a planta deverá sofrer algum tipo de prejuízo em função do benefício da larva que nela se desenvolve e a interação deve ser obrigatória e específica para que a larva complete sua metamorfose. Proposta de experimentação: Para verificar a especificidade e a relação de dependência da suposta interação de parasitismo entre inseto e planta, seria adequado verificar se há oviposição e desenvolvimento dos insetos nas plantas com as folhas removidas das mesmas espécies observadas em campo. Paralelamente, pela relação proposta ser benéfica para o inseto e desfavorável para a planta, o desenvolvimento da larva deveria ser acompanhado em uma planta inicialmente saudável (não-infectada) no ambiente natural, acompanhando progressivamente a taxa fotossintética de uma folha hospedeira comparada à de uma folha de uma planta saudável, de modo a atestar se há redução da fotossíntese pelo parasitismo. Este acompanhamento deveria ser realizado em intervalos regulares até a eventual eclosão do inseto já desenvolvido, evento que também deve ser verificado para nos certificarmos do sucesso do parasita. ____________________________________________________________________________ c.Camuflagem Figura 1- Interações de camuflagem entre insetos e folhas, representadas pelas imagens a,b,c e d. Hipótese: Acreditamos que a estratégia observada na figura 3 pelo nosso grupo é a camuflagem, que consiste em uma técnica que apresenta uma forte interação entre o habitat e o indivíduo que se camufla, sendo que essa interação depende de que a coloração, textura, formato e ornamentação do animal se assemelhe ao ambiente frequentado por ele. A camuflagem funciona de modo a evitar a detecção por parte do predador, sendo que a potencial presa deve parecer-se com uma porção qualquer do plano de fundo em que se encontra. Não apenas a presa, mas também os predadores podem utilizar dessa estratégia como meio de captura de suas presas, pois ao passar despercebido pela paisagem pode atacar facilmente, sem que seja notado. Em campo foi observado esta relação em animais da ordem Orthoptera, tais como o grilo (imagem a e b) e a esperança (imagem c e d). Os insetos desta ordem, de acordo com a literatura consultada, geralmente apresentam a camuflagem bastante desenvolvida, assim como outros mecanismos de defesa, como o mimetismo. Devido ao hábito herbívoro e/ou insetívoro, a camuflagem os auxilia a se manterem escondidos enquanto predam uma presa (geralmente afídeos) ou se alimentam. A espécie de grilo observada apresenta coloração marrom, assim como a camada de folhas secas presentes na serrapilheira encontrada na floresta. A sua coloração era de extrema semelhança com das folhas, tanto que ele só foi devidamente percebido quando chegamos perto e ele saltou. A espécie de esperança apresentava coloração verde e se confundia sobre uma folha verde de uma pequena planta de hábito herbáceo na margem da trilha. Sua coloração se assemelhava muito com o verde da folha, e além dessa característica, ele apresentava ornamentações que lembravam as nervuras das folhas. Proposta de experimentação: Como foi descrito, a camuflagem é inteiramente dependente do plano de fundo no qual o animal se encontra. Sendo assim, um dos possíveis experimentos para testar a ocorrência dessa estratégia seria trocar os animais dos lugares onde geralmente se encontram. Desta forma, o experimento se basearia em analisar os animais em um ambiente 1 que seria apropriado para a camuflagem e em um ambiente 2 que não seria apropriado (coloração muito distinta). As observações devem ser feitas levando em consideração quantidade de presas e escape de predadores nos dois ambientes. É esperado que no ambiente 1 que apresenta a mesmo padrão de coloração, que os insetos apresentassem maior proteção e aquisição de presas. ____________________________________________________________________________ d. Predatismo Figura 4. Artrópode da ordem Hemiptera, indicado pela seta branca, e artrópode da ordem Hymenoptera, indicado pela seta vermelha. Hipótese: Inseto da ordem Hymenoptera é predado por Hemiptera Durante nosso estudo de campo flagramos uma situação em que um artrópode da ordem Hymenoptera, indicado pelas setas vermelhas, encontra-se subjugado por um Hemiptera, indicado pelas setas brancas na Figura 4. Este segundo foi visto com sua probóscide inserida no corpo do primeiro, aparentemente morto, no momento de nossa observação, o que nos leva a crer que tal situação trata-se de um caso de predatismo. Se este realmente for um caso de predatismo, podemos dizer que o hemíptero é um importante agente no controle populacional de himenópteros, visto que esta é sua fonte de alimento. Desta forma, os himenópteros são sempre prejudicados nesta interação, porém, por outro lado, uma drástica redução na população destas presas pode levar à consequente diminuição da população de hemípteros, se não houver outras presas no local. Proposta de experimentação: Para verificar se este é um caso de predatismo ou apenas um caso de competição intraespecífica, em que a espécie mais fraca é subjugada, analisaríamos, primeiramente, se há sobreposição dos nichos destas duas espécies. Caso haja, podemos inferir que ocorre uma disputa por recursos semelhantes, levando a quadros de competição por interferência, gerando duelos, em que o mais apto sai vitorioso e elimina o indivíduo oponente, ou, no nosso caso, em que o hemíptero elimina o himenóptero Se não for constatada sobreposição de nichos, realizaremos um monitoramento de outros espécimes de Hemiptera a fim de averiguarmos se o predatismo é uma prática comum destes artrópodes e se eles predam preferencialmente himenópteros ou se ocorre a captura de presas de outras ordens. _________________________________________________________________________ _ e. Epifitismo Figura 5. (a) Indivíduo do gênero Philodendron, indicado pela seta, sobre uma árvore. (b) Seta indicando suasraízes. (c) Seta indicando conexão com o solo. Hipótese: Philodendron é hemiepífita de árvores. Hemiepífitas são plantas que crescem sobre outras, utilizando-as exclusivamente como suporte, mantendo conexão com o solo por meio de raízes e até mesmo pelo seu rizoma (Raunkiaer). O hemiepifitismo, assim como o epifitismo, é bastante comum em florestas de mata densa, onde a luz proveniente do Sol não consegue penetrar inteiramente até o solo, dificultando a fotossíntese de plantas de pequeno porte. Observamos durante uma de nossas trilhas um espécime do gênero Philodendron sobre uma árvore (a). A planta estava em um ambiente com iluminação relativamente reduzida, devido às copas das árvores mais altas e ainda possuia “conexão” com o solo (c), por isso suspeitamos se tratar de uma interação de hemiepifitismo. E por ser um hemiepifitismo, não há dano algum à planta suporte, sendo uma relação apenas benéfica para o filodendro. Proposta de experimentação: Para de fato verificar se ocorre a relação de hemiepifitismo, seria necessário observar Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/9743/formas-de-vida#ixzz3rIytDitK Raunkier (1934) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-69842015000300006&lng=en &nrm=iso&tlng=en http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062004000400026 http://plantsinaction.science.uq.edu.au/edition1/?q=content/15-4-3-epiphytes http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4470510/ http://aob.oxfordjournals.org/content/early/2013/04/14/aob.mct085.full.pdf ______________________________________________________________________ f. Interação? - Borboletas
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