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ESCOLA SEM PARTIDO: ENTENDA A POLÊMICA
Uma educação apartidária, sem doutrinação e livre de ideologias. Esses são os princípios defendidos no projeto Escola sem Partido (EsP), que tem despertado profunda polêmica entre pais, professores e estudantes. O Senado chegou a abrir uma consulta pública para saber a opinião da população sobre a proposta.
O que está em jogo é o modelo de educação escolar em vigência no Brasil. Afinal, o Escola sem Partido garante a imparcialidade ideológica na educação pública ou cria uma lei da mordaça para os professores?  Vamos entender o que exatamente propõe esse projeto e quais as divergências existentes.
O QUE PROPÕE O ESCOLA SEM PARTIDO?
O projeto de lei 867/2015, em tramitação na Câmara (há também o PL 193/2016, do Senado), é um pacote que ressaltaria princípios e deveres que os professores devem observar na sala de aula. Os princípios mencionados são:
Neutralidade do Estado em questões políticas, ideológicas e religiosas;
Pluralismo de ideias no ambiente acadêmico;
Liberdade de aprender e ensinar;
Liberdade de consciência e de crença;
Reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado;
Educação e informação aos estudantes sobre seus direitos de liberdade de consciência e de crença;
Direito dos pais a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções.
Os deveres que o projeto impõe aos professores são:
Não se aproveitar da audiência cativa dos alunos para promover interesses, opiniões ou preferências ideológicas, políticas, morais, religiosas
Não fazer propaganda político-partidária em sala de aula
Não incitar os alunos a participarem de passeatas e manifestações
Apresentar de forma justa diferentes teorias, pontos de vista acerca de questões políticas
Respeitar os direitos dos pais dos alunos a que seus filhos recebam a educação moral e religiosa que esteja de acordo com suas próprias convicções
Além disso, o projeto ainda determina que a escola pública não interfira em questões relacionadas à orientação sexual dos alunos e menciona explicitamente que a teoria/ideologia de gênero não deve ser ensinada em sala de aula.
AS REGRAS VALERIAM PARA QUAIS ESCOLAS?
A intenção do Escola sem Partido é aplicar suas diretrizes para escolas públicas do Brasil todo. Para alcançar isso, há também projetos de lei tramitando em assembleias legislativas estaduais e em câmaras municipais – no estado de Alagoas, por exemplo, o projeto de lei já foi aprovado.
As escolas particulares com concepções morais, religiosas e ideológicas próprias também são mencionadas no projeto. Elas teriam de apresentar aos pais material informativo sobre os princípios da instituição e os temas abordados por seus professores.
QUAIS AS ALEGAÇÕES DO MOVIMENTO ESCOLA SEM PARTIDO?
O Escola sem Partido parte da acusação de que há recorrente doutrinação ideológica de esquerda nas escolas brasileiras. No programa Sala Debate, da TV Futura, Miguel Nagib, um dos criadores do Escola sem Partido, afirmou que o sistema educacional público brasileiro foi aparelhado por grupos que favorecem determinadas correntes políticas, ideológicas e partidárias.
“O que faz a proposta [do Escola sem Partido] é levar a Constituição Federal para dentro da sala de aula […] nosso projeto não cria para o professor nenhuma obrigação que já não exista hoje”, afirmou Nagib.
No site institucional do Escola sem Partido, são encontrados outros argumentos que justificariam a implementação do projeto. O grupo afirma que hoje em dia muitos professores cometem “abuso da liberdade de ensinar”.
E O QUE DIZEM OS CRÍTICOS AO ESCOLA SEM PARTIDO?
O Escola sem Partido tem recebido forte reação negativa de professores e instituições. Vamos ver alguns exemplos.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal encaminhou ao Congresso Nacional nota técnica em que afirma que o programa Escola sem Partido é inconstitucional. Os argumentos do MPF são:
O professor é colocado sob constante vigilância: o MPF acusa o EsP como uma forma de patrulha ideológica. Os professores ficariam submetidos a uma constante pressão de não manifestarem opiniões.
O projeto nega a possibilidade de ampla aprendizagem: o MPF afirma que, uma vez que os professores não estarão mais confortáveis para lecionarem sobre certos assuntos, o próprio processo de aprendizagem fica prejudicado.
A educação escolar é confundida com aquela fornecida pelos pais.
Contraria o princípio do Estado Laico: acusa-se o Escola sem Partido de partir de concepções religiosas e morais específicas.
Impede o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.
Nega a liberdade de cátedra: define-se liberdade de cátedra como “a liberdade de aprender, ensinar e divulgar o pensamento, a arte e o saber […] tem como finalidade a garantia do pluralismo de ideias”.
Em resumo: para os que são contrários a ele, o projeto Escola sem Partido instituiria uma espécie de lei da mordaça, tornando bastante tortuoso o exercício do magistério. Por estarem sujeitos a julgamentos sobre que seria ou não ideológico, provavelmente muitos deixariam de ministrar conhecimentos relevantes, prejudicando o próprio desenvolvimento intelectual dos alunos.
PRINCIPAIS QUESTÕES EM DEBATE
Separamos alguns dos pontos que mais geram divergências no projeto Escola sem Partido, para entender quais argumentos cada lado sustenta.
Existe educação neutra?
Para o Escola sem Partido: a educação deve ser plural (o uso do termo neutralidade tem sido revisto pelo grupo), no sentido de que os professores devem guardar suas posições pessoais para si e trazer diferentes teorias com equilíbrio.
Isso é especialmente importante em relação a questões de cunho político, religioso e moral, que costumam gerar polarização de pensamento.
Para contrários ao Escola sem Partido: a educação jamais é neutra. Ela sempre parte de um objetivo, escolhido dentre muitos outros possíveis, pelos agentes que constroem o sistema educacional (Estado, famílias, escolas, sociedade, etc).
O professor também não é um agente neutro: ele também possui suas próprias concepções morais e ideológicas. Por isso, não existe algo como uma educação neutra, isenta de valores.
Gênero e sexualidade devem ser discutidos em sala de aula? 
Para o Escola sem Partido: não, isso é uma questão de prerrogativa das famílias dos alunos, e não da escola. A questão da sexualidade é de foro privado, envolve convicções religiosas e por isso não pode ser guiada pela escola, especialmente se esta adota a chamada teoria de gênero. Por isso, o anteprojeto do Escola sem Partido proíbe explicitamente que as escolas públicas lecionem sobre o tema.
Para contrários ao Escola sem Partido: sim, é preciso haver liberdade para que professores discutam questões de gênero e sexualidade com seus alunos. Essa é uma discussão indispensável na atualidade, pois preconceitos como homofobia, transfobia e machismo continuam a se perpetuar, causando danos no cotidiano de boa parte da população. E a perpetuação desses problemas se deve principalmente à falta de informação e reflexão sobre o assunto.
Conflito entre liberdade de cátedra e liberdade de consciência e crença
Para o Escola sem Partido: os professores possuem liberdade de ensinar, mas essa liberdade não permite abusos. Além disso, para Miguel Nagib, não existe propriamente liberdade de expressão para um professor dentro da sala de aula, afinal isso permitiria que um professor de matemática ensinasse história aos seus alunos, por exemplo.
A doutrinação de alunos e a propaganda de partidos políticos por parte dos professores são práticas intoleráveis e, no entanto, recorrentes no Brasil, acusam os entusiastas do EsP.
Para contrários ao Escola sem Partido: o professor deve ter liberdade de cátedra. O Escola sem Partido cria grande insegurança nesse sentido, uma vez que os professores correm grande risco de ser denunciados como doutrinadores. A tendência é que assuntos controversos, com alto grau de polarizaçãosejam evitados pelos professores, mesmo que sua discussão seja importante para a formação dos alunos.
Relação aluno-professor 
Para o Escola sem Partido: os alunos são audiência cativa do professor – ou seja, são obrigados a ouvi-lo dentro da sala enquanto durar sua aula. Por ser uma autoridade, os alunos estão sob a influência do professor, de suas considerações e tendem a aceitá-las como verdade, sem condições de criar pontos de vista autônomos.
Para contrários ao Escola sem Partido: os alunos não são tábula rasa: eles possuem pontos de vista e bagagem cultural próprios, construídos previamente, fora da sala de aula. A educação não é um processo vertical, em que o conhecimento se transfere apenas do professor para o aluno, e sim horizontalmente entre ambos.
E você, o que acha do projeto Escola sem Partido? Quais seriam seus efeitos no nosso sistema educacional? Deixe sua opinião na pesquisa abaixo. 
Publicado em 3 de agosto de 2016.

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