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Gerativismo e Sociolinguística

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Aula 6
O Gerativismo: A Faculdade da Linguagem
Olá! Depois de estudar as dicotomias de Ferdinand de Saussure, precursor do Estruturalismo, vamos conhecer outra corrente de estudos da Linguística: o Gerativismo. 
Assim como o Estruturalismo, a Teoria Gerativa concebe a língua como uma estrutura, mas a vê como uma estrutura mental, inata. Os aspectos biológicos que envolvem a linguagem passam a ser o foco da investigação.
Gerativismo: A corrente da Linguística que teve início no final da década de 50, a partir das pesquisas de Noam Chomsky, também é conhecida como Linguística Gerativa, Teoria Gerativa, ou ainda Gramática Gerativa. Essa corrente tem como nome principal o linguista Noam Chomsky.
Os gerativistas buscaram descrever e explicar, abstratamente, o que é e como funciona a linguagem humana. Por isso, propuseram-se a elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática.
Devido à sua formação (matemática, psicologia, filosofia e linguística), Chomsky, no Gerativismo, parte do pressuposto de que é possível descrever, algebricamente, a língua humana, a partir de esquemas abstratos.
Por isso, pode-se dizer que a base filosófica da teoria é o RACIONALISMO, que vê no pensamento, na razão, a fonte principal do conhecimento humano.
Os racionalistas defendem a ideia de que a fonte principal do conhecimento humano é a mente, uma vez que os seres humanos recebem um número de faculdades específicas, cujo papel fundamental é permitir a aquisição do conhecimento. Vale ressaltar que, no Empirismo, tal método matemático não é aceito e a experiência é o ponto de partida do conhecimento.
Gerativismo: a faculdade da linguagem 
A partir da década de 50, Chomsky inaugura uma nova fase nos estudos da linguagem que, até então, seguiam uma tradição behaviorista.
Segundo Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata, está inscrita no DNA do ser humano. Por isso, na situação apresentada no início da aula, o macaco, ainda que seja criado apenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata. 
Pelo fato de ser uma capacidade humana inata, ou seja, de fazer parte da constituição cerebral de todos os seres humanos sem patologias, as línguas devem apresentar características universais.
Confira através da imagem como os gerativistas conhecem o cérebro.
Os gerativistas adotam uma visão modularista da mente/cérebro.
Na abordagem modularista, mente/cérebro são entendidos como um sistema complexo, com uma estrutura altamente diferenciada e com “faculdades” separadas, como, por exemplo, a faculdade da linguagem e a faculdade dos conceitos.
Segundo Chomsky, da mesma maneira como sistemas complexos ou “órgãos do corpo” – como o córtex visual e o sistema circulatório – têm suas propriedades exclusivas e são estudados separadamente, com suas teorias próprias, também os diferentes sistemas cognitivos ou “faculdades” da mente – como a faculdade da visão e a faculdade da linguagem – devem ser estudadas separadamente. (cf. Chomsky, N.,1986) Knowledge of language: its nature, origin and use. New York: Praeger.)
Aula 7: O Gerativismo: A Aquisição da Linguagem
Então, vamos entender como se dá a aquisição da linguagem?
O processo de aquisição da linguagem é algo muito interessante.
Mas o que é desempenho?
Nem tudo são flores: as criticas do gerativismo
Aula 8
A sociolinguística: a variação e mudanças na língua.
A questão é: A Língua Portuguesa é utilizada da mesma maneira por todos os seus falantes nativos? Quais diferenças podem ser observadas?
A Sociolinguística é uma corrente da Linguística que tem como objeto de estudo a língua.
Definição de Língua para a Sociolinguística
“Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação.”
Como a Sociolinguística começou?
Todos nós vivemos em uma sociedade e já sabemos que isso só é possível porque dominamos o mesmo sistema linguístico. Nós somos “linguistas natos” (embora muitas pessoas não tenham ainda parado para pensar nisso), pois somos capazes de tecer algumas considerações sobre o nosso sistema linguístico com muita propriedade.
Fenômenos inerentes às línguas do mundo: variação e mudança linguísticas.
Exemplo 1: Conseguimos distinguir enunciados que não fazem parte da nossa língua (“The book is on the table.”),
Exemplo 2: dentificar sentenças que não foram bem-estruturadas (“Menino o vi eu.”), reconhecer diferentes pronúncias (“m/é/nino”, “m/ê/nino”, “m/i/nino”) etc.
O mais interessante é que tudo isso independe do nosso nível de escolarização. Indivíduos com pouquíssima ou nenhuma escolarização são capazes de perceber quando duas pessoas são “estrangeiras” ao ouvi-las conversar, o que mostra seu reconhecimento do que faz ou não parte da língua que fala.
Assim, a nossa atuação como “linguistas” nos possibilita perceber que a Língua Portuguesa não é falada da mesma maneira por todos os indivíduos, em todas as regiões do Brasil.  
Também sabemos que o modo como a nossa língua é utilizada hoje não é igual ao modo como era utilizada no século passado.
Mas... Por quê? 
A língua é essencialmente dinâmica. Segundo a Sociolinguística, devemos entender que variação e mudança linguísticas são fenômenos inerentes às línguas.
No entanto, essa percepção não faz parte da maioria dos indivíduos. É comum ouvirmos algumas pessoas comentarem que “a nossa língua está piorando”, “a nossa língua está sendo deturpada” etc.
Há pessoas que dizem que os brasileiros são muito criativos e gostam de “inventar” novas formas linguísticas.
Ainda há aqueles que dizem que os brasileiros são preguiçosos e, por isso, mudam o modo como as palavras são pronunciadas.
Todavia, é preciso ter em mente que a variação e a mudança não são fenômenos exclusivos da Língua Portuguesa. Todos os sistemas linguísticos apresentam esses dois fenômenos. Clique aqui e veja um exemplo.
É importante destacar que toda mudança pressupõe variação, mas a existência de formas em variação não implica a ocorrência de mudança. Vamos ilustrar e você compreenderá melhor...
Ilustraremos usando o pronome “você”.
“Sabemos que o “você” vem do pronome de tratamento Vossa Mercê. 
A trajetória de mudança pode ser assim descrita: 
 Vossa Mercê > vosmecê > vossauncê > suncê > você > cê.
Você acha que toda essa mudança aconteceu do dia para a noite?
No processo de variação linguística, podemos perceber que algumas variantes são mais aceitas que outras. Além disso, é preciso considerar as variáveis linguísticas e extralinguísticas relevantes para descrever o fenômeno que se está estudando. Mas, afinal, o que é variante linguística? E variável?
O objetivo da Sociolinguística é estudar a língua em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Utilizam-se, portanto, como ponto de partida, os dados obtidos da fala de indivíduos que pertencem a uma comunidade linguística (ou comunidade de fala).
COMUNIDADE LINGUÍSTICA
“Um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. Em outras palavras, uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir por pessoas que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacionam, por meio de redes comunicativas diversas, e que orientam seu comportamento verbal por um mesmo conjunto de regras. (...) A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza sociolinguística, podemos selecionar e descrever comunidades de fala como a cidade de New York ou a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou o povo ianomâmi, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, as comunidades dos pescadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, da ilha de Marajó, dos estudantes de Direito, dos rappers etc.”
Conjunto de variantes linguísticas
O conjunto de variantes linguísticas é denominado “grupo de fatores” ou “variável linguística”.Podemos ter variáveis linguísticas e extralinguísticas. As primeiras referem-se às motivações linguísticas para que certa variante seja utilizada (por exemplo, verbos que motivem o uso de “a gente” em lugar de “nós”). Pode-se dizer que são as motivações internas à língua (fatores fonológicos, morfológicos, sintáticos etc.). As segundas referem-se a aspectos relacionados ao indivíduo que produziu a variante, tais como: sexo, idade, escolaridade, classe social a que pertence, grau de formalidade da situação comunicativa, região em que vive etc.
Veja como representar uma variável e uma variante, tendo como base a questão da concordância, fenômeno em variação no Português Brasileiro.
Quando a variável indica o fenômeno em variação, ela aparece entre parênteses angulares (<>). Assim, no caso da marcação de plural do sintagma nominal, em Língua Portuguesa, a variável seria <s>. No entanto, as formas linguísticas em variação são representadas por colchetes ([ ]). No caso da marcação de plural do sintagma nominal, as variantes são [s] e [Ø]) (as casas amarelas/as casa amarela).
Tipos de variação linguística: geográfica (ou diatópica), social (ou diastrática) e de registro (ou diafásica).
Com a Sociolinguística, foi possível estabelecer alguns tipos de variação linguística. Destacaremos aqui três tipos básicos:
Variação geográfica (ou diatópica) – está relacionada a diferenças linguísticas que ocorrem em função do espaço físico. Veja exemplos de variações geográficas:
Exemplos: 
Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE)
Veja, em (I), um trecho da edição brasileira do livro "O Diário de um Mago“, de Paulo Coelho e, em (II), da tradução portuguesa.
(I) "Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e me estendeu. Enquanto eu bebia, perguntei quem era o cigano. (....)
- Você não está me respondendo. Vocês dois se olharam como velhos conhecidos. E eu tenho a impressão de que conheço ele também (....)"
 (II) "Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e estendeu-ma. Enquanto bebia, perguntei quem era o cigano. (....)
- Não estás a responder-me. Ambos se olharam como velhos conhecidos. E tenho a impressão de que também o conheço (....)"
b) Variação social (ou diastrática) – são as variações percebidas entre grupos socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de escolarização, classe social. Veja um exemplo de variação social:
trecho de Paulo Mendes Campos ilustra a questão da variação em função da idade dos indivíduos:
 "Outro dia um senhor de cinquenta anos me falava da mãe dele mais ou menos assim: - Se há alguém que eu adoro neste mundo é minha mãezinha. Ela vai fazer 73 anos no dias 19 de maio. Está forte, graças a Deus, e muito lúcida. Há 41 anos que está viúva, papai, coitado, faleceu muito moço...(...) Deu-se que no mesmo dia encontrei um rapaz de 18 anos, que contou mais ou menos assim: - Velha bacaninha é a minha. Quando ela está meio adernada, mais prá lá do que prá cá, ela ainda me dá uma broncazinha. Bronca de mãe não pega, meu chapa. Eu manjo ela todinha: lá em casa só tem bronca quando ela encheu a cara demais. A velha toma prá valer!..."
Variação de registro (ou diafásica) – observa-se, neste tipo de variação, o grau de formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a fala, o e-mail, o jornal etc.). Veja um exemplo de variação:
Exemplo: Leia a transcrição de um trecho da fala do ator Plínio Marcos ao dirigir-se aos detentos da Casa de Detenção de São Paulo, para ensinar formas de prevenção contra a AIDS.
“Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandragem! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô!  Te liga aí:  AIDS é uma praga que rói até os mais forte, e rói devagarinho.  Deixa o corpo sem defesa contra a doença.  Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselina.  Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus.  Pegou AIDS, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua:  AIDS pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu?  Pelo esperma e pelo sangue.
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca!  Não é porque tu tá na tranca que virou anjo.  Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim!  Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê prá ninguém nesse negócio de AIDS.  Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha!”
Aula 9 - A Sociolinguística: a relação entre língua e sociedade
A relação entre língua e sociedade.
Voltando à atividade proposta no início da aula, todos nós conseguimos entender o que as personagens queriam dizer. Reconhecemos que, apesar de a sentença ter sido escrita de uma forma – segundo os padrões normativos – tivemos diferentes modos de produção oral.  
Produziram os elementos linguísticos na mesma ordem (sujeito + verbo);
utilizaram os fonemas da Língua Portuguesa;
usaram os mesmos itens lexicais (menino, roupa);
A análise do modo como a sentença foi produzida nos possibilita perceber que há aspectos em comum (a supressão do –r do infinitivo - “buscá”) e aspectos distintos (variação na pronúncia da palavra “menino”; concordância verbal - “os meninos foram”/ “os menino foi”) - na produção oral das personagens.
Sabemos que a comunicação é fundamental para a vida em sociedade e, por isso, precisamos compartilhar o mesmo código, ou seja, a mesma língua.
Desse modo, reconhecemos que há variedades de uso da língua. No entanto, analisando essas variedades, percebemos que há muitos elementos gramaticais e lexicais que são comuns a elas. Por isso, todos os indivíduos que compartilham a mesma língua conseguem se entender muitíssimo bem.
Como a Sociolinguística preocupa-se em investigar a relação entre língua e sociedade, a análise da fala de um indivíduo permite-nos identificá-lo. Assim, diferenciamos cada comunidade e refletimos sobre a inserção do indivíduo em diferentes grupamentos, estratos sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.
“O indivíduo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa comunidade uma série de experiências e atividades. Daí resultam várias semelhanças entre o modo como ele fala a língua e o modo dos outros indivíduos. Nas comunidades organizam-se grupamentos de indivíduos constituídos por traços comuns, a exemplo de religião, lazeres, trabalho, faixa etária, escolaridade, profissão e sexo. Dependendo do número de traços que as pessoas compartilham, e da intensidade da convivência, podem constituir-se subcomunidades linguísticas, a exemplo dos jornalistas, professores, profissionais da informática, pregadores e estudantes.”
O sociolinguista busca demonstrar que a variação é sistemática e previsível. 
A pesquisa sociolinguística tem como objeto de estudo o uso da língua falada em situações naturais de comunicação. É realizada a partir de gravações de um número determinado de informantes com características específicas. Para se investigar a variação e a mudança, dados de língua escrita também podem ser utilizados. As análises têm como ponto de partida os dados estatísticos obtidos na língua falada. A pesquisa pode ser feita em tempo real (o linguista observa o fenômeno em duas ou mais épocas, a partir da comparação de entrevistas atuais com entrevistas antigas, por exemplo, para verificar se duas formas estão em variação ou se são um caso de mudança) ou em tempo aparente (o linguista grava amostras de informantes de diferentes faixas etárias para observar se uma forma ocorre mais na fala de crianças e jovens do que na de adultos e idosos). É a língua falada em situações reais de comunicação. Busca-se, a partir da análise da fala espontânea, descrever e explicar o modo como o falante faz uso da língua.
A noção de erro para a Sociolinguística e a questão do preconceito linguístico
Por que não há erro nos diferentes modos de produzir a sentença “Os meninos foram buscar a roupa correndo”?
Para a Sociolinguística, não há erro, mas sim diferenças que são passíveis de serem explicadas pela teoria linguística.O que acontece, geralmente, é um comportamento de intolerância linguística que leva à rejeição certas variedades de uso da língua. Deve-se observar que um item pode considerado ‘errado’ pelas regras de gramática normativa, mas não pelas regras do grupo ao qual o falante pertence.
Vejamos um trecho da transcrição da entrevista oral do informante Francisco, que faz parte do corpus do Grupo de Estudos Discurso e Gramática. Nela, o entrevistador pergunta ao informante o modo de fazer a massa de pão, e ele responde:
 “bota a massa na masseira... eh... tanto... não... tanto que bota... bota... duas lata na masseira... eh... quatr/ eh... duzentas gramas de (     ) que é uma química que tem... bota... eh...  fermento... aí bota a masseira pra bater... no:: normal dela e depois bota ela/ aumenta ela... (sem ter) limite... pra ela bater... pra aprontar a massa... depois da massa (     ) passa na... na modeladora... depois da::/ depois passa na divisora... aí bota em cima da mesa e separa... os pedaços de cima da mesa...”
No trecho apresentado, percebemos algumas formas que vão de encontro aos usos prescritos pelo padrão:
Deve-se levar em consideração que o papel dos gramáticos é descrever regras de funcionamento da língua, tendo como base a norma-padrão, um modelo ideal de língua que deve ser ensinado e aprendido na escola e utilizado pelos falantes cultos, ou seja, aqueles indivíduos com alto nível de escolarização. Usos como os apresentados na transcrição, embora não sejam estabelecidos pela norma-padrão, são comuns em outras variedades de uso da língua, rotuladas como “impróprias”, “inadequadas”, “erradas”. 
Assim, surgem as distinções entre variedade padrão versus variedade não-padrão, variantes de prestígio versus variantes estigmatizadas. Por razões que não são linguísticas, algumas variedades de uso da língua acabam adquirindo certo prestígio, enquanto outras, não.
Por que existe o preconceito linguístico?
De um modo geral, há na sociedade várias formas de preconceito: em relação ao sexo, à raça, à opção sexual etc. Pode-se dizer que o preconceito linguístico é apenas um desses tipos. O estigma que certas variedades de uso da língua adquirem não tem relação com fatores linguísticos, mas sim extralinguísticos, tais como desprestígio social, econômico, cultural, político, entre outros. Assim, julga-se o indivíduo pelo modo como utiliza a língua sem levar em conta outros fatores como seu nível de escolarização, a classe social à qual pertence etc.
Para a Sociolinguística, o preconceito linguístico não possui embasamento científico já que, segundo pesquisas, cada época determina o que considera como forma padrão, ou seja, as línguas mudam e a definição de ‘certo’ também. Podemos destacar, como exemplos, as formas “dereito”, “despois”, “premeiramente”, encontradas no texto de Pero Vaz de Caminha (1500), que faziam parte do português padrão daquela época.
Agora que já sabemos que, no que se refere à língua, não há usos melhores ou piores, feios ou bonitos, vamos conhecer alguns fenômenos linguísticos em variação no Português do Brasil?
Eliminação das marcas de plural redundantes (os livros novos/os livro novo). 
Assimilação: transformação do –ndo em –no (consertando > consertano). 
Retomada do objeto direto anafórico (Você viu a Cláudia? Sim, eu a vi. Sim, eu vi ela. Sim, eu vi.).
Redução do ditongo OU (roupa > rôpa).
Rotacismo: troca do “l” pelo “r” (Cráudia, Framengo, pranta).
Por fim...
 Devemos entender que um indivíduo com pouca ou nenhuma escolarização não pode apresentar o mesmo desempenho linguístico de um indivíduo com ensino superior. Um indivíduo altamente escolarizado passou por anos de escolarização e pôde ter acesso à norma-padrão, diferentemente do primeiro indivíduo.
Devemos entender que não podemos estabelecer julgamentos de valor, pois as diferenças linguísticas existem. Assim, não há variante boa ou má, dialeto superior ou inferior, língua rica ou língua pobre.
Aula 10 - O Funcionalismo: pressupostos teóricos básicos
Um breve histórico do Funcionalismo
O Funcionalismo surge como um movimento da corrente estruturalista. Muitos autores (Cunha, 2009; Cunha, Oliveira & Martelotta, 2003) o atribuem aos linguistas do Círculo Linguístico de Praga (CLP).
Para conhecer mais sobre o Círculo Linguístico de Praga, inicie  a leitura da seção 7.3 do capítulo “Algumas escolas e movimentos modernos” do livro customizado. Fundado em 1926, o CLP apresentava as primeiras análises de cunho funcionalista, pois, para eles, a língua era um “sistema funcional” e, por isso, deveria ser usada para um determinado fim. As ideias dos funcionalistas de Praga foram fundamentais para os trabalhos de orientação funcionalista que surgiram posteriormente.
Os linguistas de Praga focalizavam as funções associadas à organização interna do sistema linguístico (como na fonologia). Os modelos funcionalistas mais recentes ocupam-se em investigar “as funções que a linguagem pode desempenhar nas situações comunicativas, dando maior ou menor peso aos aspectos cognitivos relacionados à comunicação.” (CUNHA, 2009, p. 159)
Na década de 1970, surge na Costa Oeste dos Estados Unidos, como uma reação à linguística formalista, realizada pelos estruturalistas e pelos gerativistas, o Funcionalismo norte-americano:
“É por volta de 1975 que as análises linguísticas explicitamente classificadas como funcionalistas começam a proliferar na literatura norte-americana. Essa corrente surge como reação às impropriedades constatadas nos estudos de cunho estritamente formal, ou seja, nas pesquisas estruturalistas e gerativistas. Os funcionalistas norte-americanos advogam que uma dada estrutura da língua não pode ser proveitosamente estudada, descrita ou explicada sem referência à sua função comunicativa [...]” (CUNHA, 2009, p.163).
 Deixa-se de lado a ideia de que a linguagem é a forma de expressão do pensamento, já que os funcionalistas a concebem como instrumento de interação social.
Segundo os funcionalistas, é preciso investigar a motivação para os fatos da língua, ou seja, explicar as regularidades observadas no uso interativo dela, um vez que é concebida como uma estrutura maleável, adaptativa.
Assim, estuda-se a língua em situação real de comunicação, verificando o modo como os usuários da língua se comunicam eficientemente. Esses usuários são vistos como os responsáveis pelo estado e forma da língua.
Para os funcionalistas, em um contexto comunicativo real, não há dois modos distintos de dizer exatamente a mesma coisa. Por isso, deve-se ter a função como ponto de partida, em um estudo linguístico.
No desafio proposto no início da aula, reconhecemos a importância do contexto de uso. Se observássemos apenas o caráter sintático, não conseguiríamos entender por que um indivíduo utilizaria “Você é bonita.” ou “Bonita é você.”. Percebemos que o segundo enunciado só poderia ter sido produzido em um contexto de “réplica”. Por isso, segundo o Funcionalismo, não podemos ignorar o contexto, pois como no caso apresentado, a organização sintática do enunciado é motivada pelo contexto discursivo no qual ela ocorre. 
 Alguns princípios e categorias centrais do Funcionalismo são: informatividade, iconicidade, marcação, transitividade e plano discursivo e gramaticalização. Nesta aula, vamos conhecer o princípio de iconicidade e o processo de gramaticalização.
O princípio de iconicidade.
 Os funcionalistas definem iconicidade como a correlação natural entre forma e função, ou seja, entre a expressão (código linguístico) e seu conteúdo. Dwight Bolinger, um dos precursores do Funcionalismo norte-americano, propôs a versão original do princípio de iconicidade, segundo a qual há uma única forma linguística para expressar uma ideia. 
 Essa versão inicial do princípio foi reformulada devido aos estudos sobre os processos de variação e mudança linguísticas que apontam a existência de uma forma desempenhando várias funções.
O sufixo –inho:
(a) indica tamanho diminuto;
Ex.: O menino perdeu seu carrinho azul.
(b) marca afetividade;Ex.: Minha mãezinha querida!
(c) expressa valor pejorativo;
Ex.: Aquela coisinha já chegou?
(d) estabelece valor de superlativo.
Ex.: Ele fez a prova devagarinho.
Veja abaixo uma  função com várias formas:
Recursos para codificar a impessoalização do agente da ação verbal
(a) verbo na terceira pessoa do plural;
Ex.: Fizeram um bolo para o lanche.
(b) partícula se apassivadora;
Ex.: Fez-se um bolo para o lanche.
(c) voz passiva;
Ex.: Um bolo foi feito para o lanche.
(d) pronome indefinido;
Ex.: Alguém fez um bolo para o lanche.
(e) pronome de terceira pessoa do plural sem referente explícito.
Ex.: Eles fizeram um bolo para o lanche.
Com a reformulação da versão inicial do princípio de iconicidade, os funcionalistas propuseram três subprincípios que se relacionam à quantidade de informação, ao grau de integração entre os constituintes da expressão e do conteúdo e à ordenação sequencial dos segmentos. Clique nas abas e veja exemplos da atuação dos subprincípios.
Subprincípio da quantidade: quanto maior for a quantidade de informação, maior a quantidade de forma.
Ex.: palavras derivadas, por veicularem mais informações semânticas e/ou gramaticais, tendem a ser maiores que as palavras primitivas de que se originaram: belo>beleza>embelezar>embelezamento.¹
Subprincípio da integração: o conteúdo que está mais próximo mentalmente coloca-se próximo sintaticamente.
Ex.: A menina não queria ficar ali. (não é nítida a distinção de eventos diferentes; o sujeito de querer é o mesmo de ficar. Comparando com “Ana ordenou: fique aqui.”, percebem-se dois eventos separados.)
Subprincípio da ordenação linear: refere-se à ordenação dos elementos na sentença. Segundo esse princípio, a ordenação dos elementos na oração tende a espelhar a sequência temporal em que os eventos descritos ocorreram.
Ex.: “Vim, vi, venci.” (tradução de uma frase famosa proferida pelo imperador romano Júlio César - a distribuição das palavras na oração corresponde à ordem em que os eventos aconteceram.)
O processo de gramaticalização.
Para os funcionalistas, o processo de gramaticalização é um processo de regularização do uso da língua. Assim, itens que fazem parte do léxico e construções sintáticas passam a ser utilizados com novas funções gramaticais.
O processo de gramaticalização ocorre devido às necessidades de comunicação não satisfeitas pelas formas existentes no sistema linguístico e à existência de conteúdos cognitivos para os quais não existem designações linguísticas adequadas (HEINE et al.,1991, p. 19-30).  
De modo geral, pode-se perceber um desgaste fonético da forma, que perde expressividade. Ao analisar alguns processos de gramaticalização, é possível identificar que a forma deixa de fazer referência a algo do mundo real para assumir funções de caráter gramatical.
Vamos finalizar a nossa aula abordando os “marcadores discursivos”? 
Avance e não perca tempo.
O papel dos marcadores discursivos.
Vocês já devem ter percebido que as pessoas, em contextos de fala espontânea, não se preocupam com as normas...
A transcrição de fala espontânea usam uma série de elementos, tais como “né?”, “sabe?”, 
“entende?”, “tipo assim”. Pois é, a visão tradicional costuma rotular esses elementos como “vícios de 
linguagem”. No entanto, o Funcionalismo, já que busca no contexto discursivo a motivação para os fatos da língua, afirma que esses elementos, chamados “marcadores discursivos”, são usados para reorganizar a linearidade das informações no nível do discurso, quando essa linearidade é momentaneamente perdida por diversos motivos, como insegurança ou falhas de memória.

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