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MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 1 ANÁLISE DE DANOS DE COLHEITA DE MADEIRA EM FLORESTA TROPICAL ÚMIDA SOB REGIME DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA OCIDENTAL Alberto Carlos Martins Pinto ÍNDICE Página RESUMO ......................................................................................... 3 1. INTRODUÇÃO............................................................................ 4 1.1. Importância do estudo ............................................................... 4 1.2. Objetivos................................................................................... 5 2. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................... 5 2.1. Floresta Amazônica................................................................... 5 2.2. Manejo florestal sustentável...................................................... 7 2.3. Impactos ambientais do manejo florestal sustentável................ 10 2.3.1. Principais impactos ambientais da colheita de madeira.......... 12 2.3.1.1. Efeitos sobre o solo ....................................................... 13 2.3.1.2. Efeitos sobre a vegetação .............................................. 14 2.3.1.3. Efeitos do corte de madeiras e da extração das toras...... 16 2.3.1.4. Efeitos dos sistemas silviculturais ................................. 19 2.3.1.5. Efeitos sobre a fauna silvestre ....................................... 23 3. MATERIAL E MÉTODOS........................................................... 24 3.1. Caracterização da área de estudo............................................... 24 3.2. Amostragem e coleta dos dados ................................................ 26 3.2.1. Nível I de abordagem ....................................................... 27 3.2.2. Nível II de abordagem...................................................... 29 3.2.3. Nível III de abordagem..................................................... 29 3.2.4. Nível IV de abordagem .................................................... 29 3.3. Classificação das espécies por grupos de uso............................ 29 3.4. Análise estrutural da floresta..................................................... 30 3.4.1. Composição florística....................................................... 30 3.4.2. Parâmetros fitossociológicos ............................................ 32 3.4.2.1. Estrutura horizontal .................................................... 32 3.4.2.2. Estrutura vertical ........................................................ 33 3.4.2.2.1. Posição sociológica ............................................ 33 3.4.2.2.2. Regeneração natural ........................................... 34 MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 2 Página 3.4.3. Estrutura paramétrica ....................................................... 35 3.4.3.1. Distribuição diamétrica .............................................. 36 3.4.3.2. Distribuição da área basal........................................... 36 3.4.3.3 Distribuição volumétrica ............................................. 36 3.5. Análise estatística...................................................................... 36 3.6. Planejamento da colheita de madeira ........................................ 36 3.6.1. Inventário pré-colheita ..................................................... 37 3.6.2. Corte florestal .................................................................. 37 3.6.3. Trilhas de arraste .............................................................. 38 3.6.4. Arraste ............................................................................. 38 3.6.5. Transporte - carregamento da balsa .................................. 38 3.6.6. Máquinas e equipamentos utilizados na colheita florestal. 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................... 39 4.1. Composição florística ............................................................... 39 4.1.1. Diversidade de espécies.................................................... 42 4.2. Estrutura horizontal................................................................... 45 4.3. Estrutura vertical ....................................................................... 48 4.3.1. Posição sociológica .......................................................... 48 4.3.2. Regeneração natural ......................................................... 53 4.4. Danos causados pela colheita florestal às árvores remanes- centes ........................................................................................ 56 4.4.1. Qualidade de fuste............................................................ 56 4.4.2. Danos à vegetação adulta ................................................. 60 4.4.3. Estrutura dos diâmetros, da área basal e do volume .......... 68 5. RESUMO E CONCLUSÕES........................................................ 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................... 74 APÊNDICE ...................................................................................... 82 MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 3 RESUMO O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a intensi- dade de danos decorrentes da colheita florestal na composição florística e estrutura de duas áreas de Floresta Amazônica. Para isso, comparou-se, em termos florísticos e estruturais, um trecho de floresta primária não-explorada (FPNE) e um trecho de floresta primária explorada (FPE). O experimento foi conduzido em uma área localizada no município de Manicoré, Estado do Amazonas, com aproximadamente 204 ha na FPNE e 202 ha na FPE. Realizou-se o inventário utilizando o método de amostragem aleatória, em ambas as áreas. As amostragens foram executadas em quatro níveis de abordagens. No nível I foram instaladas cinco parcelas de 100 m x 100 m (1 ha), em que foram avaliados os indivíduos com DAP ≥ 15 cm. No nível II, as parcelas do nível I foram subdivididas sistematicamente em subparcelas de 10 m x 10 m (100 m2), sendo amostradas aleatoriamente somente cinco destas por parcela do nível I, totalizando 2.500 m2, em que foram avaliados todos os indivíduos (varejões) entre 5,0 ≤ DAP < 15 cm. No nível III, cada subparcela do nível II foi subdividida em subparcelas de 5 m x 5 m (25 m2), totalizando 625 m2, em que foram avaliados todos os indivíduos (varas) entre 2,5 ≤ DAP < 5 cm. Para determinação do estoque de regeneração (nível IV), foram avaliados todos os indivíduos (mudas) com DAP < 2,5 cm até altura ht ≥ 0,3 m; cada subparcela do nível III foi subdividida em subparcelas de 2,5 m x 2,5 m (6,25 m2), sendo amostrada uma subparcela de 6,25 m2 em cada subparcela de 25 m2, totalizando 156,25 m2. Foram avaliados a composição florística (composição de espécies), a estrutura fitossociológica (estruturas horizontal e vertical), os danos à vegetação adulta e a estrutura paramétrica (distribuição diamétrica, área basal e volume). Com base nos resultados obtidos, verificou-se que a floresta explorada apresenta maior riqueza de espécies que a floresta não-explorada. A colheita seletiva de madeira não modificou a compo- sição florística da floresta e não afetou a composição florística dos grupos de uso; as diferenças em composição florística ocorreram apenas em se tratando de números de famílias. A colheita seletiva de madeira alterou a estrutura horizontal da floresta apenas no nível I de abordagem (DAP ≥ 15 cm), em termos de número de árvores/ha (densidade absoluta - DA), área basal (dominância absoluta - DoA) e volume (Vol). A estrutura vertical da floresta foi afetada no nível I de abordagem, no estrato 2 (8,02 m ≤h < 22,03) e, no nível II de abordagem, no estrato 1 (h < 8,02 m). Na regeneração natural, espécies de interesse comercial, como Nectandra rubra (louro-vermelho) e Protium sp. (cedrinho), apresentaram regeneração nula, podendo ser elimina- das da área por meio da colheita seletiva. Não ocorreram danos significativos nas árvores com DAP ≥ 5 cm. As modificações nas estruturas de diâmetro, área basal e volume da floresta explorada foram mais evidentes nas maiores classes de distribuição diamétrica, principalmente, das espécies comerciais. Apesar da redução de DA, DoA e Vol na floresta explorada, os danos oriundos da colheita florestal na área em questão foram baixos, quando comparados aos de outras áreas de colheita seletiva na região. MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 4 1. INTRODUÇÃO 1.1. Importância do estudo Nos últimos anos, a Floresta Amazônica tem merecido atenção especial por parte das comunidades nacional e internacional, pelo fato de essa formação florestal conter a maior biodiversidade do planeta. A despeito disso, seus recursos madeireiros e não-madeireiros que apresentam elevado potencial de matérias-primas e de bens e serviços para a sociedade estão sendo explorados de forma tradicional, concentrando a colheita florestal somente na extração de produtos madeireiros, caracterizados pela máxima retirada de madeira por unidade de área, das espécies de melhor valor econômico. Essa forma de colheita promove danos na floresta, que são fáceis de serem relacionados, como degradação genética do patrimônio florestal, danos irreparáveis nas árvores remanescentes e estragos nas classes responsáveis pela recomposição florestal. O método tradicional de colheita florestal sem planejamento realizado de maneira intensa e seletiva tem transformado florestas de grande densidade populacional, com grande volume de madeira de alto valor comercial, em florestas degradadas, de baixo valor comercial e de difícil recuperação. A derrubada de árvores praticada na Amazônia é considerada 80% ilegal (GREENPEACE, 1999). Na maior parte dos casos, os planos de manejo flo- restal não são seguidos, e sim usados meramente para satisfazer requerimentos legais; além disso, grande parte da extração considerada “legal” é altamente destrutiva, já que emprega tecnologias de processamento inadequadas, acarre- tando enorme desperdício. Em média, apenas 1/3 da madeira extraída é trans- formada em produtos finais (UHL et al., 1996). Nesse tipo de colheita, não existe nenhuma preocupação com sua capacidade de regeneração e, muito menos, com os danos que esta esteja tra- zendo à vegetação remanescente responsável pela regeneração e pelas produ- ções futuras, uma vez que não são considerados os princípios do manejo florestal sustentável para garantir a sustentabilidade da produção florestal. O manejo florestal sustentável contribui para a manutenção e utiliza- ção de maneira adequada da cobertura florestal e favorece o desenvolvimento de técnicas de análises quantitativas nas decisões sobre composição, estrutura e localização de uma floresta, de maneira que esta forneça benefícios ambien- tais, econômicos e sociais, na quantidade e na qualidade necessária, mantendo a diversidade e garantindo a sustentabilidade da floresta. Além do mais, o manejo pode conciliar a colheita dos produtos florestais com a conservação da biodiversidade da floresta, garantindo, assim, uma fonte de recursos de igual tamanho para as próximas gerações. Uma colheita florestal planejada e executada com rigorosos critérios técnicos não só causa baixo impacto ambiental nos meios físico, biótico e antrópico, como também proporciona significativa redução nos custos totais da colheita de madeira; por conseguinte, contribui para a sustentabilidade MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 5 ambiental, econômica e social do plano de manejo florestal. Entretanto, a colheita de madeira com base nas recomendações de um plano de manejo sustentável, por si só, não garante a sustentabilidade da floresta explorada. Torna-se importante também conhecer a composição florística, a estrutura da floresta e a intensidade com que os danos da colheita de madeira estão ocorrendo nos diversos estratos responsáveis pela sustentabilidade da floresta, sendo componentes essenciais quando se pretende adotar técnicas e métodos de corte e transporte e estabelecer planos de corte tecnicamente mais adequa- dos, no sentido de conservar a biodiversidade da floresta e torná-la auto- sustentável. 1.2. Objetivos Um plano de manejo sustentável visa maximizar a produção florestal e minimizar os danos no remanescente responsável pela sustentação produtiva, estrutural, funcional e genética da floresta explorada. Identificar, qualificar e quantificar a intensidade com que estes danos ocorrem, nos estratos florestais e nas diversas etapas de colheita florestal, é de suma importância para garantir a sustentabilidade da floresta, podendo inviabilizar tanto técnica como economicamente um plano de manejo florestal sustentável. Pelo fato de a área de estudo (do plano de manejo já em andamento) apresentar floresta primária não-explorada e floresta primária explorada, planejou-se executar a amostragem em áreas independentes. Dessa forma, especificamente, procurou-se: - Caracterizar a composição florística e a estrutura da floresta primária não- explorada e da floresta primária explorada, respectivamente, para a produção sustentável de madeira de maneira sustentada, mantendo-se a diversidade florística e faunística e conservando seu potencial de uso múltiplo. - Qualificar e quantificar os danos na floresta primária não-explorada e da floresta primária explorada, em se tratando de volume, área basal e número de indivíduos por grupo de espécies e classes diamétricas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Floresta Amazônica A Floresta Amazônica, ecossistema complexo, constituído por povoa- mentos florestais nativos, apresenta grande diversidade de espécies de diferentes classes de tamanho, idades e, sobretudo, indivíduos e espécies vegetais com distintas características ecofisiológicas (SOUZA et al., 1998). Este autor acrescenta, ainda, que essa diversidade é a grande responsável pela MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 6 exuberância, sustentação e produção que a grande maioria dessas florestas apresenta, a despeito dos solos pobres que normalmente lhes dão suporte. A Amazônia apresenta mais de 3.000.000 km2 de floresta equatorial (JARDIM, 1995), sendo caracterizada por possuir recursos florestais imensos, abrigando um terço das florestas tropicais do mundo (VERÍSSIMO e AMARAL, 1996). A região amazônica produz 75% da madeira em tora do Brasil. As exportações ainda são modestas (em torno de 4% do comércio global de madeiras tropicais), mas devem crescer com a exaustão das florestas asiáticas. A previsão é de que antes do ano 2010 a Amazônia seja o principal centro mundial de produção de madeiras tropicais (AMARAL et al., 1998). As estimativas de estoques mais modestos indicam um valor de 60 bilhões de metros cúbicos de madeira em tora de valor comercial, o que coloca a região como detentora da maior reserva de madeira tropical do mundo. Além do valor madeireiro, a floresta tem riquezas muito mais amplas, como óleos, resinas, frutas, fibras e plantas de valor medicinal. A Amazônia contém ainda aproximadamente um terço das espécies de animais, plantas e microrganismos existentes. Mais do que tudo isso, existem os serviços que a floresta presta para o equilíbrio do clima regional e global, especialmente através da manu- tenção dos ciclos hidrológicos e de retenção de carbono (VERÍSSIMO e AMARAL, 1996). Diante dessa enormidade de recursos naturais, o Estado do Pará é, delonge, o estado que mais explora madeira no Brasil. Qualquer unidade de medida mostra que a indústria madeireira paraense é uma das atividades mais importantes, gerando 13% do PIB do estado, e emprega milhares de pessoas, direta e indiretamente, sendo, também, um dos principais agentes de trans- formação no Pará (BARROS e VERÍSSIMO, 1996). Por outro lado, o Estado do Amazonas é o maior do País, com aproximadamente 1,5 milhão de km2, possuindo, assim, enorme porção dos recursos florestais da Amazônia (HUMMEL, 1997). Entretanto, é o estado que tem a menor taxa anual de desmatamento da região (HIGUCHI et al., 1998). Estes autores comentam ainda que, segundo dados do Inpe (1998) até o ano de 1996, 11,9% da Amazônia já estava desmatada, enquanto no Estado do Amazonas a taxa acumulada de desmatamento era de apenas 1,8%. Para HUMMEL (1997), esse fato se deve muito mais à dificuldade de acesso, devido à falta de estradas, que a uma política florestal definida e com objetivos claros de conservação dos recursos naturais renováveis. Apesar disso, a área remanescente do estado coberta por floresta primária ainda é de mais de 150 milhões de hectares. No entanto, é preciso estar atento ao fato de que a abundância, em si, nem sempre foi uma boa referência para o adequado aproveitamento dos recursos florestais, e a sociedade, em geral, tem sido pouco eficiente para antecipar a escassez (LANLY, 1995). Portanto, a Amazônia é um dos maiores desafios para a ciência flores- tal, no que concerne ao seu aproveitamento em bases sustentáveis. O uso desses recursos naturais é imprescindível para a melhoria da qualidade de vida do povo que deles depende. No entanto, é fundamental que tal uso seja condi- MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 7 cionado à auto-sustentabilidade, o que implica um planejamento, a médio e longo prazo, por meio de um zoneamento agroeco1ógico, que definirá os possíveis e melhores usos para cada área (JARDIM, 1995). 2.2. Manejo florestal sustentável O marco inicial do manejo florestal sustentável ocorreu para atender as necessidades humanas, e, inicialmente, nada mais era do que simples normas de regulação de colheita de florestas e de espécies vegetais ameaçadas de extinção (DAVIS, 1966). Historicamente, o marco referencial da aplicação do manejo florestal sustentável vem da segunda metade do século XIX, quando áreas extensivas de teca (Tectona grandis) na Índia, Burma e Indonésia foram submetidas a manejo (JONKERS 1987), e os trabalhos pioneiros que visavam o manejo sustentável das florestas tropicais datam de 1906, na Índia (SOUZA e JARDIM, 1993). Segundo estes autores, com base em Baurr (1964), embora tenham surgido na Índia, foi na Malásia que os sistemas silviculturais aplicáveis no manejo florestal sustentável tiveram suas raízes edificadas, sobretudo no período de 1910 a 1920, em que os tratamentos silviculturais, aplicados numa floresta de 49.000 acres, forneceram as bases para concepção do Sistema Malaio Uniforme (SMU), e a partir deste conceberam-se os demais sistemas uniformes. Ainda de acordo com SOUZA e JARDIM (1993), no período de 1939 a 1945, iniciaram-se as operações silviculturais na Nigéria, sob o nome de Sistema Tropical de Cobertura (STC), que também foi introduzido, de forma modificada, em Ghana, em 1945. Em 1939, um sistema silvicultural também denominado STC foi introduzido em Trinidad e Tobago. As experiências em Trinidad e Tobago levaram à adoção do sistema de seleção, em Porto Rico, em 1943. Embora trabalhos de FAO (1989a) e FAO (1989b) mencionem que o manejo florestal nas Filipinas data de antes do século XV, na década de 50 é que foi desenvolvido o Sistema Filipino de Exploração Seletiva. No Suriname, foi adotado, em 1965, um sistema de manejo policíclico, em detrimento dos sistemas monocíclicos, isto é, SMU e STC, o qual já foi experimentado com insucesso. Em resumo, com as experiências adquiridas ao longo dos anos, o SMU e o STC evoluíram e foram aplicados, com modificações, no manejo de florestas tropicais da Ásia, África e América (GRAAF, 1986; JONKERS, 1987; FAO, 1989a; FAO, 1989b; HENDRISON, 1989; SILVA, 1989; SOUZA e JARDIM, 1993). Na Floresta Amazônica, o marco científico para tornar as florestas naturais mais produtivas, sob o ponto de vista madeireiro, remonta à década de 50, quando, por solicitação do governo brasileiro, alguns peritos da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) deram início às primeiras pesquisas silviculturais. Após um período de semiparalisação nos anos 60, por problemas de ordem institucional, a pesquisa voltaria a ter conti- MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 8 nuidade a partir da metade da década de 70, tendo sido ampliada por outras instituições governamentais (YARED, 1996). A possibilidade de utilização das florestas tropicais ganhou nova dimensão a partir do advento da idéia de que o crescimento econômico e a conservação ambiental podem e devem ser compatíveis (desenvolvimento sustentável), a qual foi lançada em 1980 no debate público sobre a estratégia de conservação do mundo (MAINI, 1992). Este fato viria a ser realçado por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvi- mento (ECO-92), realizada no Rio de Janeiro, em que o papel das florestas na conservação da biodiversidade e na estabilidade do clima foi bastante enfatizado. Na concepção atual, o manejo das florestas tropicais objetiva, predo- minantemente, a produção de madeira com fins industriais, produtos não- madeireiros e valores universais, como a manutenção da biodiversidade (FERREIRA, 1997). As experiências e as práticas de manejo sustentável de florestas tropicais, desenvolvidas desde a sua concepção, em 1900, até o presente, demonstraram, com seus sucessos e insucessos, que o manejo de florestas nativas tropicais só é eficiente quando aplicado num processo contínuo, visan- do estimular os processos de dinâmica de sucessão natural e de crescimento e produção florestal, preferencialmente das espécies de valor comercial (SOUZA et al., 1998). Já existem, em alguns países, resultados da prática do manejo que podem ser considerados satisfatórios, como na Malásia, com as florestas de dipterocarpáceas (THANG, 1987); no entanto, em outros países, observa-se que essa atividade em escala comercial é preocupante, como na floresta africana da Nigéria (LOWE, 1978), devido ao baixo índice de regene- ração natural das espécies de interesse comercial. Para WHITMORE (1990), o manejo florestal sustentável depende dos processos de regeneração natural para ser compatível com a manutenção de grande parte da diversidade biológi- ca, porém não necessariamente com a preservação de todas as espécies. Para SOUZA et al. (1998), o manejo florestal sustentável das florestas tropicais, para produção econômica de produtos madeireiros e não-madei- reiros, é a garantia de sua conservação. As experiências e as práticas de manejo sustentável das florestas tropicais demonstraram, apesar da viabilidade técnica, econômica, social e ecológica dos planos de manejo sustentável, que há diversos obstáculos ou restrições ao manejo das florestas tropicais (FONTAINE, 1986/4; WYATT- SMITH, 1987). Apesar da obrigatoriedade de apresentação dos planos de manejo sustentável, a simples colheita seletiva de madeira é a atividade que predo- mina, ou seja, a atividade de manejo como um sistema de uso da terra não conseguiu auferir, ainda ao longo dos anos, a devida expressão prática nos países tropicais (YARED e SOUZA, 1993). Além disso, a legislação vigente não tem sido eficaz para firmar a atividade florestal na Amazônia (NASCIMENTO, 1992), sendo a colheita MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 9 seletiva de madeira ainda uma atividadeprevalecente e responsável pelo abastecimento da maioria das indústrias. Para UHL et al. (1996) e AMARAL et al. (1998), saber como manejar as florestas é importante, mas deve-se combinar esse conhecimento com: regulamentos que especifiquem onde a colheita de madeira deve ser permitida ou proibida, realizando-se um zoneamento florestal, que permitiria diferenciar as áreas com vocação florestal daquelas que deveriam ser mantidas fora do alcance da colheita de madeira; e legislação florestal efetiva, ou seja, uma política florestal coerente para a região que incentive o manejo. Na Amazônia, as práticas de colheita de madeira podem ser caracteri- zadas como “garimpagem florestal”. Inicialmente, os madeireiros entram na floresta para retirar apenas as espécies de alto valor. Em seguida, em intervalos cada vez menores, eles retornam à mesma área para retirar o restante das árvores de valor econômico. O resultado é uma floresta com grandes clareiras e dúzias de árvores danificadas. A dinâmica da colheita não-manejada favorece a ocupação desordenada da região. Nas áreas de fronteira, são os madeireiros que constroem e mantêm estradas de acesso às florestas, o que geralmente conduz à colonização espontânea por pequenos agricultores e, em alguns casos, invasão de unidades de conservação e terras indígenas. Nas áreas destinadas à atividade florestal, a colheita de madeira deve ser feita de forma manejada. A adoção do manejo possibilita a manutenção da estrutura e composição de espé- cies da floresta, enquanto gera benefícios sociais e econômicos (AMARAL et al., 1998). AMARAL et al. (1998) afirmam que as principais razões para manejar a floresta são: • Continuidade da produção - a adoção do manejo garante a produção de madeira na área indefinidamente e requer a metade do tempo necessário na colheita não-manejada. • Rentabilidade - os benefícios econômicos do manejo superam os custos. Estes benefícios decorrem do aumento da produtividade do trabalho e da redução dos desperdícios de madeira. • Segurança de trabalho - as técnicas de manejo diminuem drastica- mente os riscos de acidentes de trabalho. • Respeito à lei – o manejo florestal é obrigatório por lei. As empresas que não fazem manejo estão sujeitas a diversas penas. Embora a ação fiscali- zadora tenha sido pouca efetiva até o momento, é certo que essa situação vai mudar. Recentemente, têm aumentado as pressões da sociedade para que as leis ambientais e florestais sejam cumpridas. • Oportunidades de mercado - as empresas que adotam um bom manejo são fortes candidatas a obter um “selo verde”. Como a certificação é uma exi- gência cada vez maior dos compradores de madeira, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, as empresas que tiverem um selo verde, provando a autenticidade da origem manejada de sua madeira, poderão ter maiores facilidades de comercialização no mercado internacional. MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 10 • Conservação florestal - o manejo da floresta garante a cobertura florestal da área, retém a maior parte da diversidade vegetal original e pode ter pequeno impacto sobre a fauna, se comparado à colheita não-manejada. • Serviços ambientais - as florestas manejadas prestam serviços para o equilíbrio do clima regional e global, especialmente por meio da manutenção do ciclo hidrológico e da retenção de carbono. É importante destacar que em poucos países o manejo sustentável é uma questão pertinente como no Brasil, pois a Amazônia é a maior extensão de floresta tropical do mundo, com a mais rica biodiversidade da Terra. Como o desmatamento convencional causa danos profundos à floresta, fazendo perder a sua resiliência, com o uso de métodos e técnicas de manejo florestal sustentável, madeireiros e proprietários de terra podem conservar a floresta e melhorar a qualidade geral das operações de colheita. Cabe ressaltar que, se as tendências atuais de consumo continuarem, o Brasil deverá tornar- se um dos maiores fornecedores de madeira tropical no mercado internacional. Assim, a fim de que práticas responsáveis para com o meio ambiente sejam implementadas, será necessário atender aos critérios e indicadores de manejo florestal sustentável da Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO), para que todo o comércio de madeira tropical passe a ser produzido a partir de florestas de manejo sustentável (CATERPILLAR, 19--). 2.3. Impactos ambientais do manejo florestal sustentável Para a maioria dos pesquisadores florestais, é consenso que o uso florestal racional, com rendimento sustentável, é a forma de utilização mais adequada e menos danosa que se pode dar às florestas, principalmente quando comparado com as frentes de expansão agrícola ou com a mineração, pois implica nunca desnudar o solo, mantendo-se sempre uma cobertura vegetal, que é denominada estoque em crescimento ou capital florestal (JARDIM, 1995). Do ponto de vista legal, a preocupação do setor público em disciplinar o uso dos recursos florestais amazônicos manifestou-se formalmente por ocasião da criação do Código Florestal Brasileiro (Lei Federal no 4.771, de 15/09/65). Por esse instrumento, em seu artigo 150, ficou estabelecida a proibição de exploração, sob forma empírica, das florestas primitivas da bacia amazônica, sendo somente possível a sua utilização em observância a planos técnicos de condução e manejo. Complementarmente, as normas e portarias originadas do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e, posteriormente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA viriam a perfazer o conjunto legal das exigên- cias a serem cumpridas pelas indústrias consumidoras de madeira, no que diz respeito à reposição florestal (YARED, 1996). Segundo este autor, a exemplo de outros segmentos econômicos, mais recentemente, as atividades que envolvem o uso dos recursos florestais passaram também a se enquadrar na Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal no 6.938, de 31/08/81) e na MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 11 Resolução no 001, de 23/01/86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), a qual definiu as normas e estabeleceu as responsabilidades, as diretrizes gerais e os critérios básicos para a utilização e a implementação da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), em seu artigo 20, inciso XIV, que trata especificamente da colheita econômica de madeira ou de lenha. COELHO (1999) comenta ainda que se deve acrescentar a essas leis a promulgação da nova Constituição Brasileira, que traz no seu conteúdo um dispositivo específico sobre o meio ambiente, no qual alguns pontos merecem destaque: • O novo papel do Estado Brasileiro na área florestal. A competência para preservar e conservar as florestas, a fauna e a flora torna-se comum à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios (art. 23). • Competência para legislar concorrentemente com a União, os Esta- dos e o Distrito Federal sobre florestas, caça, pesca, fauna, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (art. 24). • A questão florestal é inserida no seu contexto no capítulo sobre meio ambiente (art. 225). • Conceituação dos principais biomas do país: Floresta Amazônica, Mata Atlântica e Pantanal Mato-grossense como patrimônios nacionais sub- metidos a um regime jurídico especial, cuja colheita só poderá ser realizada mediante técnicas de manejo florestal sustentável (art. 225). Atualmente, o plano de manejo florestal sustentável é um instrumento previsto no artigo 15 do Código Florestal, no art. 1o do Decreto 1.282/94 e no artigo 1o da Portaria no 048/95. Para poder realizar a extração de madeira, o usuário deve ter em mãos a competente Autorização para Exploração, expedi-da em modelo próprio do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão oficial responsável pelo controle dos projetos de manejo florestal. Os órgãos estaduais realizam o licenciamento ambiental, quando das exigências de Estudo Prévio de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EPIA/RIMA) para Planos de Manejo Florestal com áreas superiores a 2.000 ha (HUMMEL, 1997). Em caso de desrespeito a essas leis, decretos e portarias, o usuário poderá ser enquadrado na mais recente lei contra crimes ambientais, Lei no 9.605, editada em fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (COELHO, 1999). Vale acrescentar que o bom manejo da floresta, para obtenção de produtos madeireiros, conforme HUMMEL (1997), necessita de colheita de baixo impacto, aplicação de tratamentos silviculturais e monitoramento. Para sistemas de produção voltados prioritariamente para a produção de madeira, essas práticas podem ser traduzidas, com algumas adaptações, em face das diferentes tipologias florestais, nas seguintes operações: inventário diagnóstico e planejamento de longo prazo da área total, incluindo talhonamento e áreas de preservação permanente; inventário pré-exploratório (100%), com o mapeamento das árvores a serem extraídas; definição do sistema silvicultural, MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 12 incluindo intensidade da colheita e tratamentos pré e pós-exploratórios; planejamento de corte, incluindo direcionamento da derrubada e localização de estradas e pátios; treinamento de operadores; e monitoramento de longo prazo. Segundo FERREIRA (1997), a maioria das florestas tropicais explo- radas não é adequadamente manejada, já que, para um manejo sustentável efetivo, existe a necessidade de desenvolvimento de sistemas de manejo ade- quado a essas florestas. Assim, torna-se necessária a adequação de técnicas de colheita, viabilizadas econômica e ecologicamente, mantendo-se a diversidade, a estrutura e o estoque mínimo necessário ao longo do tempo de recomposição de uma floresta em produção (VENTURA e RAMBELLI, 1996). Para SOUZA et al. (1998), apesar de a aplicação das técnicas de manejo sustentável envolver atividades de colheita e de tratamentos silviculturais, não se pode afirmar que o manejo é uma atividade modificadora do meio ambiente. Isto, porque, entre outros argumentos, o manejo deve contemplar: a colheita racional e econômica de produtos madeireiros; a conservação da biodiversidade e a garantia de renovação das florestas; o manejo ecológico das espécies e dos ecossistemas locais, assegurando um meio ambiente ecologica- mente equilibrado; e o fato de a colheita de produtos madeireiros só poder ser feita mediante plano de manejo aprovado nos órgãos ambientais competentes, através de corte seletivo, posto que é proibido o corte raso. Por ocasião da execução da colheita florestal e da aplicação dos tratamentos silviculturais, mesmo que sejam criteriosamente planejados e executados, ocorrem impactos de diferentes naturezas, intensidades e duração no meio físico (ar, solo e água) e no meio biótico (floresta remanescente e fauna), que precisam ser avaliados e eliminados ou potencializados (SOUZA et al., 1998). Os autores acrescentam que os possíveis impactos do manejo sobre os meios biótico e físico são: diminuição da cobertura florestal; danos causados às árvores remanescentes e mudas; alteração da composição florística e estrutura das florestas; exportação de fitomassa e nutrientes; efeitos sobre a fauna silvestre; efeitos sobre o solo e os recursos hídricos; e aumento dos riscos de incêndios. Contudo, o grau destes impactos no meio ambiente depende do sistema de colheita e dos tratos silviculturais adotados (YARED e SOUZA, 1993). 2.3.1. Principais impactos ambientais da colheita de madeira Um sistema de manejo envolve atividades relacionadas com os pro- cessos de colheita da madeira e com os tratos silviculturais empregados no sentido de garantir as safras futuras. Estas atividades podem causar, de várias formas, impacto sobre os meios físico, biótico e antrópico (YARED, 1996). O impacto da colheita florestal inicia-se com a construção das estradas florestais e do pátio de estocagem. Cada operação pode afetar vários compo- nentes do ecossistema, como vegetação, fauna, solo, água e ar (MARTINS, 1995). MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 13 Autores como BRUENIG (1986); JOHNS (1988); WOODS (1989) e HENDRISON (1989) afirmam que as operações de derrubada das árvores, de arraste das toras, de manuseio nos pátios de estocagem e de transporte de toras podem afetar um ou vários componentes do ecossistema, como a diversi- dade de espécies, a fauna, a composição florística e o solo. 2.3.1.1. Efeitos sobre o solo Segundo KEILEN (1992), os danos ao solo podem ser entendidos como alterações deletérias na estrutura deste, causadas por influência mecâ- nica. O grau de deformação é determinado, basicamente, pelo tipo de solo, pelo conteúdo de água e pela força que atua sobre ele. YARED (1996) afirma que os impactos no solo em áreas de manejo provêm das operações de colheita florestal, como a construção de estradas e pátios e o arraste de toras. A magnitude e a extensão do impacto da colheita florestal sobre o solo dependem, em grande parte, da composição e da estru- tura do solo, dos processos biológicos que nele ocorrem e da tecnologia de colheita utilizada, e um dos maiores problemas com o solo em áreas de manejo é a sua compactação. Para SCOPEL et al. (1992), a compactação envolve rearranjo e aproximação maior das partículas sólidas do solo e, em conseqüência, aumento na densidade deste. A tendência de uso, cada vez maior, de máquinas e equipamentos especializados para o arraste de toras, visando aumentar a eficiência da colheita da madeira, tem despertado maior atenção para os problemas de impacto sobre o solo (HENDRISON, 1989). Segundo BARROS e NOVAIS (1990), durante as operações de colheita florestal alguns distúrbios do solo são comuns. Com o impacto no solo das árvores abatidas inicia-se a compactação, podendo ter continuidade nas opera- ções subseqüentes da colheita florestal, uma vez consideradas as atividades que empregam maquinarias. Nessa mesma linha, HENDRISON (1989) relata que, na atividade de remoção das árvores até a estrada ou o pátio de estoca- gem, para posterior transporte são usados skidders ou tratores de esteira, e, nessas operações, o solo e a vegetação também são afetados. Dessa forma, o uso de maquinários móveis e pesados na extração de madeira induz à ocorrência de processos físicos e mecânicos no solo florestal. Os efeitos visíveis são sulcos ou trilhas formados por pneus, tratores de esteira e trans- porte de carga. Em uma floresta pluvial do Suriname foram detectados efeitos de compactação do solo pelo uso do skidder na colheita florestal. Os maiores danos ocorreram nas trilhas principais, com abertura de sulcos de até 34 cm de profundidade e redução da condutividade hidráulica nos horizontes superiores (HENDRISON, 1989). Em outro trabalho realizado no leste de Kalimantan, Indonésia, a extração de 11 árvores por hectare deixou 30% da superfície do solo descoberta e compactada, com reduzida taxa de infiltração de água e aumento na vazão. Sob as trilhas de arraste, que corresponderam a 30% da área explorada, a taxa MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 14 de infiltração foi mais de sete vezes inferior à de florestas não-perturbadas (0,63 cm3/m e 4,62 cm3/m, respectivamente) (MATHER, 1990). A realização da operação de arraste na estação chuvosa pode acentuar o problema, como constatado na floresta tropical do Equador e conformeresultados encontrados no Suriname (HENDRISON, 1989). Com a compactação do solo resultante da utilização de máquinas pesa- das e equipamentos específicos para a colheita florestal, verifica-se também a erosão, que é a conseqüência da menor capacidade de infiltração de água no perfil do terreno, com conseqüente diminuição da capacidade produtiva do sítio, esta última advinda da menor retenção de água no solo (SILVA, 1994). Este autor acrescenta, também, que os processos erosivos verificam-se mais acentuadamente nas áreas abertas por atividades antrópicas, sendo o seu principal efeito a remoção da camada superficial do solo. Com isso, têm-se o empobrecimento do sítio (lavagem da camada superficial), o assoreamento dos canais de drenagem, a contaminação dos cursos d'água pelo carreamento de biocidas, os impactos visuais etc. Segundo REIS et al. (1993), os danos ao solo provenientes da erosão ocorrem devido à remoção da cobertura vegetal, expondo o solo às intem- péries e à compactação, que diminuem a capacidade de infiltração da água no solo, aumentando o escoamento superficial. A diminuição da produtividade de florestas naturais manejadas não tem sido registrada na literatura, uma vez que a maioria das áreas sob manejo nem sequer chegou ao segundo ciclo de corte ou rotação. Entretanto, a mini- mização de impactos no solo é de fundamental importância, por ser este o componente do ecossistema responsável pela manutenção da produtividade (YARED, 1996). A magnitude e a extensão do impacto da colheita florestal sobre o solo dependem, em grande parte, da textura e estrutura do solo, dos processos biológicos que nele ocorrem e da tecnologia de colheita utilizada (YARED e SOUZA, 1993). 2.3.1.2. Efeitos sobre a vegetação Os principais efeitos causados à vegetação pelas atividades de colheita florestal, de acordo com MARTINS (1995), referem-se aos ocasionados às árvores remanescentes e plântulas, à alteração da composição florística e à exportação de biomassa e nutrientes. Além destes fatores, REIS et al. (1993) e SILVA (1994) consideram que as atividades de colheita também são responsáveis pela fragmentação florestal. Nos últimos anos, a colheita seletiva de madeira, seguindo o modelo tradicional, tem sido reportada na literatura como a principal causadora de diminuição da variabilidade genética das populações e, mesmo, da extinção de algumas espécies (MAYDELL, 1991; WEIDELT, 1991). Entretanto, esses danos podem ocorrer tanto na colheita tradicional quanto na utilizada em um sistema de manejo, pois ambos são de caráter seletivo, em razão das peculia- MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 15 ridades do mercado madeireiro para o uso de apenas algumas espécies. Como conseqüência, ocorre diminuição no número de árvores do estoque da popula- ção de algumas espécies (YARED, 1996). Além disso, pode ocorrer seleção genética negativa em determinadas espécies, já que os melhores indivíduos são extraídos (MARTINS, comunicação pessoal). Segundo HENDRISON (1989), a derrubada de árvores, o arraste e a construção de estradas e trilhas são operações da colheita florestal que redu- zem, em primeira instância, a área de cobertura florestal. A dimensão da área aberta por essas atividades dependerá, sobretudo, da intensidade de colheita, do seu planejamento e da sua organização. Como a proporção de áreas abertas está diretamente relacionada à intensidade de colheita, quanto maior for a área aberta, maiores serão também a perda de árvores e mudas do povoamento e a diminuição do estoque em crescimento (YARED, 1996). HENDRISON (1989) constatou, em trabalho realizado no Suriname, que a colheita planejada, comparada à convencional, reduziu em mais de 50% a abertura na área do povoamento, para um mesmo volume estimado. No Brasil, as atividades de colheita seletiva ainda predominam em relação às de colheita planejada. HIGUCHI e VIEIRA (1990), analisando uma área localizada ao norte de Manaus, observaram que a extração, realizada com trator de esteira, de apenas 1,7% das árvores no local eliminou ou danificou 26% do total de indivíduos. Das remanescentes, 12% perderam suas copas, 11% foram arrancadas pelos tratores e 3,1% apresentaram danos na casca, freqüentemente fatais, demonstrando que os danos causados à floresta residual podem ser considerados altos. Outro aspecto que pode estar associado à atividade de colheita florestal, por causar diferentes graus de abertura no dossel, diz respeito a possíveis mudanças na composição florística (YARED, 1996). Alterações na composição florística e na estrutura de florestas tropicais decorrentes da abertura de clareiras naturais ou antrópicas têm sido ampla- mente analisadas e discutidas, estando as principais mudanças relacionadas à substituição de espécies de diferentes grupos sucessionais (BROKAW, 1985; DENSLOW, 1987; UHL et al., 1988; TABARELLI e MANTOVANI, 1997; WEBB, 1998; MARTINS, 1999). Em relação a esse aspecto, os trabalhos de TABARELLI e MANTOVANI (1997) e MARTINS (1999) procuraram avaliar a influência do tamanho das clareiras na colonização por espécies de categorias sucessionais distintas. Apesar de um pequeno grupo de espécies pioneiras estar associado a grandes clareiras, nos dois estudos não foi observada estreita partição de nichos de regeneração pelas espécies arbustivo-arbóreas e sim a resiliência das respectivas florestas estudadas, manifestada na ocupação por espécies secun- dárias, principalmente pequenas clareiras. SOUZA et al. (1998) confirmam essas mudanças, pois os efeitos na composição florística do povoamento estão relacionados com a intensidade de colheita de estoque de cada espécie, com o tamanho da clareira aberta e com o sistema silvicultural adotado. As principais implicações são: possíveis mudan- MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 16 ças na composição florística, extinção de espécies e perda da variabilidade genética das populações (YARED e SOUZA, 1993). CARVALHO (1992) verificou que, na Floresta Nacional do Tapajós, em uma área de colheita experimental, houve diminuição na diversidade de espécies logo após a colheita, mas esta aumentou alguns anos depois, tornan- do-se maior que a da área testemunha. Este autor observou, também, que houve pouca alteração na composição florística. Tais resultados sugerem que a entrada de espécies pioneiras na área de estudo e a manutenção das espécies já existentes podem ter contribuído para o aumento da diversidade. Resta saber qual será o comportamento da floresta em um prazo mais longo. Os impactos da colheita florestal sobre a composição florística podem ser minimizados a partir do estabelecimento de critérios de seleção de árvores a serem retiradas pela colheita florestal ou mantidas na área de manejo, com base nos conhecimentos da estrutura da população de cada espécie, nos meca- nismos de reprodução e no padrão de dispersão. É presumível que a colheita não cause maiores problemas para as espécies que estejam bem representadas nas diferentes classes diamétricas e bem distribuídas no povoamento. Como cautela, é necessário deixar matrizes para as espécies que só aparecem nas classes superiores de diâmetro e que têm dificuldade de se regenerar (YARED, 1996). Segundo MARTINS (1995), a fim de garantir a sustentabilidade da floresta para produção de madeira, é necessário verificar a existência de estoque suficiente de regeneração das espécies de interesse comercial ou de potencial futuro, uma vez que dessa regeneração dependerão os cortes subseqüentes. Portanto, os danos causados pela colheita florestal devem ser cuidadosamente investigados, para detectar seus efeitos sobre a floresta remanescente, na tentativa de eliminá-los ou reduzi-los ao mínimo, evitando prejuízos às produções futuras. Dessa forma, oplanejamento da colheita florestal tem sido reportado como importante ferramenta no sentido de minimizar os impactos sobre o povoamento florestal remanescente. No entanto, o planejamento da colheita para evitar ou minimizar danos ao povoamento remanescente é mais desenvol- vido nos países temperados que nos tropicais. A grande preocupação é que a redução na densidade do povoamento e os danos às árvores remanescentes tenham reflexos econômicos. Alguns tipos de injúrias, por exemplo, podem conduzir à infestação de fungos e ao ataque de pragas, resultando em declínio na qualidade da madeira (SOUZA et al., 1998). 2.3.1.3. Efeitos do corte de madeiras e da extração das toras O efeito da operação de corte sobre uma floresta pode ser comparado ao de uma grande tempestade, visto que são formadas grandes clareiras, as quais variam no tamanho e na forma. As mudanças nas condições microcli- máticas devido às clareiras formadas estimulam a regeneração de grande variedade de espécies. A maior parte da vegetação recentemente formada é MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 17 destruída e decomposta juntamente com os resíduos das árvores mortas, contribuindo com a ciclagem dos nutrientes e estimulando o desenvolvimento do estoque remanescente, tanto dentro como fora das clareiras (JONKERS, 1987). A operação de corte é muito importante para manter a qualidade dos fustes e reduzir custos da colheita, além do fato de se procurar manter a floresta remanescente para futuras colheitas (SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA - SUDAM, 1978). SOUZA et al. (1998) afirmam que os danos causados pelo corte estão diretamente correlacionados com o sistema silvicultural adotado. Segundo este autor, o corte é uma operação que compreende o abate, desgalhamento, traça- mento (se for o caso) e destopamento das árvores. Antecedendo o corte das árvores, recomenda-se o corte de cipós daquelas que serão colhidas. TANG (1987) acrescenta ainda que a presença de cipós lenhosos entre as copas das árvores também aumenta os danos de corte, porque eles ficam unidos, dificultando a precisão de derruba. Atendendo a essa recomendação técnica, a operação do corte torna-se mais segura, pois diminui-se o índice de risco de acidentes para a equipe de corte e para a estrutura remanescente da floresta (SOUZA et al., 1998). Contudo, sua eliminação antes da época da colheita, sem dúvida, minimizará os danos, como também aumentará os custos opera- cionais. Além disso, é necessário que esta operação anteceda a estação chuvosa (TANG, 1987). A execução da derrubada deve merecer atenção específica, tendo uma orientação de queda de forma que reduza os danos sobre o povoamento remanescente e facilite a extração das toras. O abate direcionado das árvores propicia aumento no rendimento da operação de arraste. Como esta tem muita influência na extração, principalmente quanto à distância e ao custo de arraste, a forma de derrubada recomendada é a denominada “espinha de peixe”. O método mais adequado de corte é o semimecanizado, através do uso de motosserra. Esta máquina é de fácil aquisição e, além do baixo custo, apresen- ta alto rendimento (SOUZA et al., 1998). AMARAL et al. (1998) destacam que as técnicas de corte de árvores aplicadas na colheita de madeira sob regime de manejo sustentável buscam evitar erros, como o corte acima da altura ideal e o destopo abaixo do ponto recomendado. Esses erros causam desperdícios excessivos de madeira, danos desnecessários à floresta e maior incidência de acidentes de trabalho. O corte das árvores na colheita manejada também considera o direcionamento de queda das árvores, a fim de proteger a regeneração de árvores de valor comer- cial e facilitar o arraste das toras. AMARAL et al. (1998) relatam que, atualmente, para extrair as toras do local de derrubada das árvores até os pátios de estocagem, utilizam-se as mais variadas máquinas, desde tração animal, passando por tratores agrícolas e de esteira, até o trator florestal arrastador (skidder). Na Amazônia, a utilização de máquinas pesadas para derrubada e remoção de árvores é uma das práticas mais destrutivas da fertilidade natural. Além de estas máquinas removerem grande parte dos nutrientes disponíveis, MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 18 promove a compactação do solo, pois a extração consiste na retirada da madeira de dentro do povoamento florestal até a margem da estrada e, ou, até o pátio de estocagem intermediário (SOUZA et al., 1998). Quanto aos danos de extração, é fácil verificar que antes do uso de equipamentos mecânicos as toras eram convertidas, por meio de serras manuais, no local ou extraídas na forma de toras, por tração animal ou humana, e levadas para um ponto central (tombador ou pátio de espera). A colheita era feita de forma extensiva e seletiva, e os danos ao sítio e à vegeta- ção natural eram mínimos (LOBÃO, 1990). O autor relata também que, nos últimos anos, a mecanização mudou drasticamente as operações de colheita florestal, especialmente com o uso de equipamentos pesados. Isto tem se acen- tuado mais ainda com a substituição do trator de pneus pelo de esteira, pois o processo de compactação do solo é maior, além de ocorrerem maiores danos à vegetação. Em termos silviculturais, os tratores com pneus são menos preju- diciais ao solo e à regeneração natural, devido ao seu vão livre (MACHADO, 1984). A extração das toras não tem equivalência natural, ou seja, esta ativi- dade não se assemelha a nenhum acontecimento natural, uma vez que promove a destruição e remoção de parte substancial de fitomassa. Quando equipamen- tos pesados são empregados para retirada das toras, mais árvores, palmeiras e arbustos são destruídos e o solo é compactado, principalmente nas florestas onde estes são mais úmidos. Próximo dos tocos das árvores cortadas e onde ocorrem as manobras das máquinas, a vegetação é parcial ou totalmente destruída (JONKERS, 1987). MACHADO (1984) comenta que no planejamento da extração meca- nizada também devem-se considerar alguns pontos relevantes para se obter o máximo rendimento de cada operação, priorizando aqueles que causem meno- res danos ao solo. A suspensão de uma das extremidades da tora pelo skidder diminui o atrito das toras com o solo e, conseqüentemente, o dano causado principalmente pela retirada da camada superficial. Além disso, deve-se sele- cionar, adequadamente, o tipo de pneu e sua pressão, bem como reduzir o coeficiente de rolamento e o coeficiente de aderência ao solo. Para AMARAL et al. (1998), em uma operação de extração de toras realizada de forma manejada, a equipe de arraste utiliza-se de um mapa de planejamento com as demarcações na floresta, para localizar as árvores, derru- bá-las e arrastá-las. Esses procedimentos, associados ao uso de máquinas adequadas, resultam em aumento de 60% na produtividade, redução expressi- va dos danos ecológicos à floresta e diminuição dos acidentes de trabalho. Outra operação importante é aquela em que, depois da extração, a ma- deira é armazenada em pátios temporários, ou seja, fica à espera do transporte definitivo para a unidade beneficiadora. Na maioria das vezes, o transporte utilizado é o rodoviário, com caminhões que suportam grande capacidade de carga, mas, dependendo da região, podem-se utilizar a via hidroviária, ferroviária, dutoviária e aeroviária (utilizada na Escandinávia) (SOUZA et al., 1998). De acordo com esses autores, na Amazônia o transporte hidroviário é um dos meios de transporte de madeira mais antigo, e, quando empregado MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 19 racionalmente, é muito econômico, além de possuir condições adequadas de navegação. Neste caso, há duas modalidades de transporte fluvial: a primeirapor livre flutuação e a segunda por embarcações. Nas várzeas amazônicas, o transporte fluvial pode ser feito por canoas ou pequenos barcos. As jangadas de toras preparadas pelos extratores da várzea podem ser apenas pequenos grupos de seis a dez toras, amarradas ao lado de uma canoa a remo e conduzidas até pequenas serrarias na redondeza da região. Por outro lado, as jangadas podem ser grandes, com 960 m3 de madeira em média, o que equivale a 1.000 toras, guiadas por um barco de madeira de 10 a 20 toneladas, que percorre centenas de quilômetros até uma serraria. Esses pequenos barcos podem rebocar jangadas deste tamanho pois, quando carregados, só navegam a favor da maré. No estuário, a cada seis horas, a maré muda de direção e as jangadas param e esperam a maré conve- niente. No rio Amazonas, a extração acontece sempre a montante da serraria, portanto, a jangada precisa apenas descer o rio junto com a correnteza (BARROS e UHL, 1996). É importante destacar que o transporte através da livre flutuação depende da densidade da madeira, pois existem madeiras que são mais densas que a água e afundam, enquanto outras afundam à medida que absorvem água (SOUZA et al., 1998). As madeiras de terra firme são geralmente de alta densidade e, portan- to, não flutuam e não podem ser levadas em jangadas. A forma mais comum de transporte de madeira em tora na Amazônia Oriental é o transporte rodo- viário, porém esta operação é considerada de alto custo. Já as florestas localizadas no baixo Amazonas, próximo aos cursos d’água, permitem que a madeira seja transportada por balsas, na via fluvial. Estas embarcações levam, em média, 270 m3 de toras (BARROS e UHL, 1996). As toras são colocadas em balsas ou flutuadores e transportadas a grandes distâncias, podendo ser usadas tanto para madeiras leves quanto para pesadas (SOUZA et al., 1998). Na Amazônia, o transporte fluvial de madeiras, seja da várzea ou da terra firme, é mais barato que o rodoviário. Em outras palavras, isso significa que nessa região uma indústria que usa transporte fluvial pode se abastecer de madeira de áreas mais distantes do que as que usam caminhões, mantendo o mesmo custo (BARROS e UHL, 1996). 2.3.1.4. Efeitos dos sistemas silviculturais Um sistema silvicultural pode ser definido como um processo pelo qual uma floresta é tratada, removida e substituída por outra, produzindo madeira (FLOR, 1985); ou, ainda, é um conjunto de regras e ações necessárias para conduzir a floresta a uma nova colheita, incluindo, principalmente, os tratos silviculturais (YARED, 1996; SOUZA et al., 1998). Um sistema silvicultural abrange todas as operações culturais que são feitas a uma floresta no decorrer de sua vida. As operações têm por objetivo diminuir os danos da intervenção, garantir o sucesso na regeneração das espé- cies desejadas, fazer o tratamento adequado das árvores e conservar o solo. Dessa forma, um sistema silvicultural está correlacionado com as espécies MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 20 vegetais, com o meio físico e com os objetivos do manejo florestal (TAYLOR, 1969). Os sistemas silviculturais tropicais evoluíram bastante nos últimos 75 anos, e os principais são os seguintes: os que se baseiam na regeneração natural: sistema de seleção, sistema uniforme malaio, sistema de cobertura nos trópicos e sistema de cobertura irregular; e os que se baseiam na regeneração artificial: sistema de corte raso, com plantio de espécies exóticas ou nativas, e sistema de enriquecimento (SOUZA et al., 1998). Os sistemas silviculturais que têm por base a regeneração são proces- sos de transformação ou "domesticação" da floresta, levando a uma maior homogeneização da composição florística, que passa a ter predominância de espécies de interesse comercial (LAMPRECHT, 1990). Segundo este autor, nas florestas tropicais, os sistemas silviculturais desenvolvidos com base na regeneração natural são classificados em sistemas monocíclicos e policíclicos. Os sistemas monocíclicos, ou seja, de um ciclo de corte único, longo, objetivando a colheita comercial de uma ou poucas espécies, comuns nas florestas européias temperadas e nas florestas subtropicais e tropicais da Índia, Ásia e África, predominaram nestes países durante muitas décadas. No entan- to, o aumento do número de espécies na pauta de comercialização fez com que as rígidas prescrições dos sistemas monocíclicos se tornassem obsoletas e ineficientes, dando origem a prescrições mais flexíveis baseadas nas condições locais, favorecendo um maior número de espécies. Essas mudanças deram origem aos sistemas policíclicos, que, na verdade, são oriundos da evolução natural do sistema monocíclico, através da sua adaptação às exigências do mercado consumidor e da preocupação de explorar e manter os recursos florestais renováveis (FLOR, 1984; JONKERS, 1987; SCHMIDT, 1987/2; TANG, 1987; SOUZA, 1989). A diferença básica entre o sistema policíclico e o sistema monocíclico está no sistema de regeneração. No policíclico, a regeneração natural avançada, ou já estabelecida, é retida para produzir árvores comercializáveis em ciclos de corte sucessivos, enquanto no monocíclico o crescimento já acumulado nesta regeneração não é considerado; neste caso, o sistema depende quase que completamente da nova safra de regeneração obtida em decorrência da aplica- ção do sistema para produzir uma nova floresta eqüiânea, que estará pronta para colheita numa longa rotação. No sistema monocíclico, o termo rotação substitui o ciclo de corte (SOUZA e JARDIM, 1993). Considerando os princípios que norteiam os sistemas silviculturais, é de se esperar maiores alterações na estrutura do povoamento quando são adotados os sistemas uniformes (monocíclicos), pelo menos nas fases iniciais de implantação. Nestes, todo o estoque de madeira comercial é abatido em uma só operação, e as árvores residuais são eliminadas pelas técnicas de anelamento e envenenamento. O objetivo é criar uma floresta eqüiânea, a partir da regeneração natural, para colheita em rotações definidas. No entanto, menores impactos devem ser esperados nos sistemas policíclicos, que mantêm a característica de floresta multiânea, posto que as operações são aplicadas, periodicamente, a apenas parte dos indivíduos. Já os sistemas que envolvem a MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 21 regeneração artificial apresentam comportamento similar ao dos sistemas uniformes (YARED, 1996). Entretanto, os vários sistemas silviculturais aplicáveis ao manejo da floresta tropical que objetivam o rendimento sustentável ainda exigem conhe- cimentos básicos sobre a dinâmica de crescimento e a recomposição da floresta para que possam ser aplicados com sucesso, de maneira que assegurem a contínua satisfação das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras (FERREIRA, 1997), uma vez que um dos objetivos do manejo florestal é garantir a continuidade da produção madeireira através do estímulo à regeneração natural nas clareiras e da proteção do estoque de árvores remanescentes (DAP entre 10 e 45 cm). Para isso, devem-se conservar árvores porta-sementes na floresta e utilizar técnicas para reduzir os danos ecológicos da colheita florestal. NO entanto, é possível que, em algumas clareiras, a regeneração natural pós-colheita seja escassa. Neste caso, é necessário fazer o plantio de mudas para garantir a regeneração. Além disso, as árvores remanes- centes podem estar em condições desfavoráveis ao crescimento (por exemplo, sombreadas por árvores sem valor comercial). O crescimento destas árvores pode ser aumentado com a aplicação dos tratamentos silviculturais (AMARAL et al., 1998). O crescimento das árvores de valor comercial depende do nível de competição por nutrientes, água e luz com as árvores sem valorcomercial. Os tratamentos silviculturais são aplicados para reduzir ou eliminar essa compe- tição, favorecendo o aumento do crescimento das árvores (AMARAL et al., 1998). A abertura do dossel da floresta, seja pela colheita comercial, seja através de tratamentos silviculturais, propicia, principalmente, maior quanti- dade de luz para germinação de sementes, desenvolvimento da regeneração preexistente, crescimento e produção das árvores do estoque em crescimento. Todavia, são beneficiadas tanto as espécies arbóreas de valor comercial quanto as sem valor comercial, como a população de espécies invasoras (cipós, bambuzóides, etc.). Entretanto, para estimular a dinâmica de sucessão e o crescimento e a produção das espécies comerciais, aplicam-se refinamentos ou desbastes, que reduzem a participação das espécies e dos indivíduos inde- sejáveis, aumentando a participação das espécies comerciais. Dessa forma, consegue-se estruturar a floresta para produção sustentável (SOUZA, 1997). Entre os tratamentos silviculturais que podem ser aplicados no manejo sustentável das florestas tropicais, para facilitar o crescimento de mudas e árvores novas, segundo SOUZA e LEITE (1993), estão: • Corte de cipós, arbustos e árvores de pequeno porte indesejáveis - nos trópicos encontra-se a maior diversidade de cipós, e sua alta incidência pode deformar o fuste das árvores, prejudicando a qualidade da madeira, pro- vocar danos ao povoamento durante a operação de abate das árvores e causar a morte de plantas jovens (YARED, 1996). As espécies de cipós, por apresen- tarem mecanismos altamente desenvolvidos, são difíceis de serem controladas em uma área de manejo, sendo, assim, motivo de preocupação constante em florestas tropicais. Os cipós também são importantes na dinâmica da floresta, como fonte de alimento para fauna, etc. Detectar sua presença e adotar medi- MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 22 das para seu controle são atividades imprescindíveis ao manejo de florestas tropicais, visto que os cipós podem interferir de forma negativa na segurança, nos custos, nos danos e nos tratamentos silviculturais (LOBÃO, 1993). • Refinamento e liberação - o primeiro passo a ser executado no planejamento das prescrições dos refinamentos e da liberação é a elaboração das listas das espécies a serem favorecidas (espécies desejáveis) e removidas (espécies indesejáveis) (FLOR, 1985). LAMPRECHT (1990) afirma que o refinamento consiste na eliminação de indivíduos arbóreos com características indesejáveis; já a liberação consiste no favorecimento de indivíduos desejá- veis, ou seja, segundo este autor, com base em Pitt (1969), o refinamento é aplicado de maneira uniforme na floresta, ao passo que a liberação é aplicada apenas em volta da árvore desejável. Para aplicação desses tratamentos, as árvores tortuosas, as senescentes, as ocadas e podres, as mortas e as severamente danificadas, mesmo que per- tençam a espécies desejáveis, são os indivíduos indesejáveis, considerados espécies sem valor comercial. Todavia, quando determinadas árvores apresen- tam outros valores, como valor cênico, abrigo, proteção e habitat de fauna, suporte para outras espécies vegetais, e quando pertencerem a espécies raras e, ou, ameaçadas de extinção, elas devem ser mantidas, para cumprirem suas funções ecológicas (SOUZA,1997). SOUZA (1997) relata que os refinamentos podem ser executados de duas formas: através do abate de árvores; e através do anelamento e, ou, envenenamento com arboricidas. AMARAL et al. (1998) confirmam a execução do refinamento para caracterizar a eliminação das árvores sem valor e para promover o crescimento das árvores de valor comercial, através de um corte (derrubada), para o caso de árvores pequenas (DAP menor que 15 cm), ou anelamento (retirada de uma faixa da casca do tronco da árvore), para árvores médias (DAP entre 15 e 45 cm) e grandes (DAP maior que 45 cm). Segundo estes autores, o anelamento é o método mais utilizado para eliminar lentamente as árvores sem valor comercial. Essa técnica é mais vantajosa que o corte, uma vez que a árvore morre lentamente, reduzindo de maneira significativa os danos típicos de queda de uma árvore na floresta. Os autores citam que existem dois tipos de anela- mento: 1) anelamento simples - usando um machadinho, retira-se uma faixa de 10 cm de largura da casca do tronco (na altura do DAP da árvore). Para garantir a eliminação, faz-se um pequeno corte na base do tronco anelado; e 2) anelamento especial - usa-se o mesmo procedimento do anelamento simples, porém adiciona-se “óleo queimado” (óleo lubrificante usado) combinado ou não com herbicida. A aplicação deste tipo de anelamento no projeto de manejo florestal do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA tem obtido 80% de eficiência. Após a retirada da casca, as árvores morrem entre um e dois anos, conforme a espécie e o tipo de anelamento. O anelamento com “óleo queimado” resulta em morte mais rápida. Para usar o anelamento especial, é necessário evitar contaminação na floresta, treinando o pessoal e usando equipamentos adequados. O anelamento deve ser feito preferencialmente na MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 23 estação seca, pois nesse período as árvores estão menos vigorosas, por causa da escassez de água, o que as torna mais vulneráveis ao anelamento. • Plantio de enriquecimento - tem como objetivo melhorar a compo- sição florística do povoamento florestal, através da introdução de espécies de interesse ambiental, comercial e social (SOUZA, 1997). Este autor destaca que o plantio de enriquecimento é aplicado em florestas onde a regeneração natural de determinadas espécies arbóreas é inexistente ou deficiente; em florestas pobres, em espécies comerciais; em florestas ricas, em espécies comerciais, mas que não se regeneram adequadamente; em florestas onde se pretende intro- duzir novas espécies de valor ecológico e, ou, econômico; ou em áreas onde se deseja elevar a diversidade de espécies e regular a composição florística, principalmente quando se trata de espécies com inadequada distribuição diamétrica, regeneração deficitária, baixa densidade e ameaçadas de extinção. AMARAL et al. (1998) afirmam que o plantio de enriquecimento também pode ser aplicado em clareiras abertas pela colheita florestal, utilizando a técnica da semeadura, ou seja, plantio direto no solo ou através de mudas (preparadas em viveiros ou coletadas na floresta). Ainda de acordo com estes autores, há recomendações para o plantio em clareiras, que são as seguintes: plantar três a quatro mudas para cada árvore extraída; fazer o plantio no início da estação chuvosa; utilizar a parte central da clareira, excluindo apenas cerca de 5 metros, das bordas, para que as mudas se beneficiem da maior quantidade de luz; e plantar as espécies que ocorrem na própria floresta, pois estas já estão adaptadas ao terreno. Em relação ao enriquecimento de floresta juvenil, os mesmos autores destacam que o plantio de enriquecimento com espécies de valor comercial é recomendado para as manchas ou eco- unidades de floresta juvenil (dominadas por árvores com DAP entre 5 e 15 cm), onde a densidade de espécies de valor comercial é baixa (por exemplo: ocupando menos de 30% da área). Em um experimento realizado pela Fundação Floresta Tropical, testou-se uma técnica específica de plantio para esses locais, que consiste em: a) preparar a área derrubando a vegetação existente no povoamento juvenil (em geral, inferior a 1 hectare) com um trator de esteira, sendo este procedimento o mesmo adotado para a abertura de pátios, porém evitando-se raspar o solo; e b) plantar mudas de árvores de valor comercial seguindo as instruções adotadas para o plantio em clareiras. 2.3.1.5. Efeitos sobre a fauna silvestreOs efeitos do manejo da floresta tropical sobre a sua fauna não têm sido amplamente estudados, e a maioria das informações hoje disponíveis refere-se aos vertebrados (mamíferos, frugívoros e folívoros). Um fator comum a todos os biomas é a falta de inventários faunísticos sistemáticos. Essa lacuna dificulta o planejamento de programas de recuperação de comunidades faunísticas, além de impossibilitar a análise precisa dos possíveis impactos de projetos de manejo florestal sustentável (SOUZA et al., 1998). MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 24 A Floresta Amazônica apresenta-se com o ecossistema de maior diversidade biológica do mundo. A fauna da região amazônica encontra-se em estágio relativamente bom de conservação, em razão do baixo nível de ocupa- ção humana da região (SOUZA et al., 1998). Apesar de a colheita florestal ser de caráter seletivo, a permanência de áreas de florestas não-perturbadas garante, em parte, a manutenção de nichos e a representatividade das diferentes espécies animais na comunidade vegetal (JOHNS, 1986). Segundo alguns autores (WHITMORE, 1984; KEMP e CHAI, 1993), a manutenção de porções intactas da floresta, em virtude do caráter seletivo da colheita florestal, é importante como refúgio para algumas espécies com maior mobilidade e como fonte para recolonização de espécies que foram expulsas da área. Para LIRA FILHO et al. (1991), a colheita florestal pode provocar danos e eliminar alguns animais, porém o mais provável é a destruição de habitats fundamentais, como áreas de nidificação, alimentação e cria. Entre- tanto, de acordo com SOUZA et al. (1998), a diminuição de área coberta por floresta é temporária, pois as clareiras são colonizadas e fechadas pela regeneração natural. Além disso, a abertura de clareiras deve proporcionar o estabelecimento de espécies atrativas da fauna, como Cecropia spp. A dinâmica desse processo pode minimizar efeitos adversos e, provavelmente, assegurar os aspectos de qualidade do suprimento alimentar. Ademais, muitos vertebrados podem apresentar, também, a flexibilidade de ajustar sua dieta a uma nova situação (JOHNS, 1986). 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Caracterização da área de estudo A área de estudo localiza-se na Região Norte do Brasil, na parte sul do Estado do Amazonas, município de Manicoré (Figura 1), entre as coordenadas geográficas 5o 50’ de latitude sul e 61o 18’ 30” de longitude oeste de Greenwich. A altitude do local é de 50 m. Dista, da capital do estado, 333 km em linha reta, 421 km por via fluvial e 427 km por via terrestre (OTTO e BELTRÃO, 1996). Segundo a classificação de Köppen, o clima predominante pertence ao grupo A (clima tropical chuvoso), do tipo Af, constantemente úmido, corres- pondente ao clima de florestas tropicais úmidas com elevada pluviosidade, que é uma das características marcantes da região. O período chuvoso geral- mente inicia-se em outubro, atingindo maiores índices pluviométricos nos meses de janeiro, fevereiro e março. A temperatura média do mês mais frio sempre é superior a 18 oC, limite abaixo do qual não se desenvolvem determi- nadas plantas tropicais. As temperaturas médias anuais apresentam variações limitadas pelas isotermas de 24 e 26 oC. A umidade relativa é bastante elevada, variando de 85 a 90%. Tanto a temperatura como a precipitação apresentam um mínimo de variação anual e mantêm-se em um nível relativamente MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 25 elevado. A amplitude anual das temperaturas médias mensais não ultrapassa 5oC (RADAM, 1978). Manaus •••• !!!! Manicoré AMAZONAS 61o 18’ 30’’ O 5o 50’ S N BRASIL MUNICÍPIO DE MANICORÉ SEDE Figura 1 - Localização geográfica da área de estudo, no município de Manicoré, Estado do Amazonas. MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 26 O relevo predominante na área é plano a suavemente ondulado, não apresentando restrições ao uso de motomecanização. A cobertura vegetal da área, segundo o IBGE (1993), está inserida na “Região da Floresta Ombrófila Densa”. Esta região é composta de duas subregiões: subregião aluvial da Amazônia, caracterizada pela ocorrência de espécies florestais de grande porte, como arurá-branco (Osteophloenum platyspermum (A.DC.) Warb.), cupiúba (Goupia glabra (Gmel.) Aubl.), ipê-amarelo (Tabebuia spp.), itaúba (Mezilaurus itauba (Meissn.) Taubert ex Mez.), muirapiranga (Brosimum paraense Huber), piquiarana (Caryocar glabrum (Aubl.) Pers.), sucupira (Diplotropis martiusii Benth.) etc.; e subregião dos Baixos Platôs da Amazônia, cuja cobertura vegetal tem composição bastante heterogênea. Apresenta bom potencial madeireiro, destacando-se espécies como angelim-pedra (Dinizia excelsa Ducke), arurá-branco (Osteophloenum platyspermum (A.DC.) Warb.), muirapiranga (Brosimum paraense Huber), etc. (SÉRIE DE ESTUDOS MUNICIPAIS, 1995). Ainda com base na SÉRIE DE ESTUDOS MUNICIPAIS (1995), os tipos de solo que ocorrem na área são: Latossolo Amarelo Álico, Podzólico Vermelho-Amarelo Álico, Glei Pouco Húmico Álico, Laterita Hidromórfica Álica de Elevação e Solos Aluviais Distróficos. São solos fortemente ácidos e pobres em bases, exigindo, assim, práticas de correção e fertilização quando destinados à agricultura, baseando-se em dados experimentais, com a finalidade de serem obtidos rendimentos econômicos. 3.2. Amostragem e coleta dos dados Como a área de estudo encontrava-se em plena atividade de manejo florestal, planejou-se executar o inventário florestal por amostragem aleatória, com parcelas fixas, em áreas independentes, de projetos de manejo executados pela GETHAL AMAZONAS S/A - Indústria de Madeira Compensada. Assim, foi selecionada uma área de floresta primária não-explorada (204 ha), denomi- nada Democracia, e uma área de floresta primária explorada (202 ha), denomi- nada Mataurá, ambas de terra firme. Os estudos iniciaram-se em maio de 1999. O acesso às florestas foi feito por via fluvial, através do rio Madeira, o que, de acordo com o deslocamento horário realizado por embarcação de pe- queno porte (voadeira), indica que a floresta primária não-explorada está a cerca de duas horas da cidade de Manicoré, e a floresta primária explorada, a quatro horas desta. As amostragens foram executadas em quatro níveis de abordagem (Figura 2), de acordo com a metodologia recomendada por SILVA e LOPES (1984). MANEJO FLORESTAL – DEF/UFV Prof. Agostinho Lopes de Souza 27 3.2.1. Nível I de abordagem No nível I de abordagem foram instaladas cinco parcelas de 100 m x 100 m (1 ha), e em cada uma delas foram avaliados todos os indivíduos com DAP ≥ 15 cm, identificando, mensurando e avaliando, conforme o caso, as seguintes características: a) Nome científico e nome vulgar regional das espécies. b) Circunferência à altura do peito (CAP), em cm. c) Alturas total e comercial, em metros. d) Classe de qualidade de fuste (QF). Quanto à classe de fuste, foram feitas as seguintes avaliações, com base nos critérios recomendados por AMARAL et al. (1998): Qualidade do Fuste Aproveitamento (%) Fator de Aproveitamento 1. Bom 80 – 100 0,9 2. Regular 50 – 79 0,7 3. Inferior < 50 0,3 e) Os danos, em geral, foram avaliados, segundo SILVA e LOPES (1984) e SOUZA et al. (1998), da seguinte forma: • Posição de Danos (PD) - nenhum dano evidente; - danos ao tronco; - danos à copa; - danos ao tronco e à copa; e - árvore morta. • Causas de Danos (CD) à floresta primária não-explorada - nenhum dano evidente; - devido a ventos, tempestades (queda de galhos ou árvores); - devido à flora e à fauna (cipós, insetos, etc.); e - árvore morta. • Causas de Danos (CD) à floresta primária explorada - nenhum dano evidente; - exploração
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