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19 Direitos Políticos

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DIREITOS POLÍTICOS
Definição
São direitos públicos subjetivos fundamentais conferidos aos cidadãos para participarem da vida política do Estado.
Através dos direitos políticos, os indivíduos adquirem o que o Georg Jellinek chama de status ativo, dentro daquela classificação quadripartida (status ativo, passivo, positivo e negativo), porque, através desses direitos, o cidadão interfere na vida política do Estado votando, sendo votado, participando de referendo, de plebiscito, de iniciativa popular.
Espécies
2.1) Direitos políticos positivos: São aqueles consubstanciados em normas que asseguram a participação do indivíduo no processo político e nos órgãos governamentais;
2.2) Direitos políticos negativos: São determinações constitucionais impositivas de privações ao direito de participar do processo político e dos órgãos governamentais.
Obs.: No caso dos direitos políticos negativos, embora se fale em “direitos”, são direitos em seu caráter objetivo e não no caráter subjetivo. Os direitos políticos negativos não conferem ao indivíduo uma determinada posição jurídica. Na verdade, impedem a participação no processo político em virtude de alguma restrição prevista no texto constitucional.
2.1) Direitos políticos positivos
2.1.1) Direito de sufrágio
Distinção: Sufrágio x voto x escrutínio;
No art. 60, § 4º, ao tratar das cláusulas pétreas, a CF menciona o voto direto, secreto, universal e periódico. No entanto, a rigor, tal dispositivo confunde voto, sufrágio e chamado escrutínio.
Sufrágio: É o direito político em si. É a essência do direito político.
Voto: É o exercício do direito de sufrágio. O indivíduo exerce o direito de sufrágio votando.
Escrutínio: É o modo como o exercício do voto se realiza.
Obs.: Nota-se que, a rigor, não é correto falar em voto secreto, até porque, se o voto fosse secreto, ninguém saberia em que a pessoa votou. O que é secreto é o escrutínio, isto é, o modo como se realiza o exercício do direito de voto.
- STF – ADI 4.543 MC: “A exigência legal do voto impresso no processo de votação, contendo número de identificação associado à assinatura digital do eleitor, vulnera o segredo do voto, garantia constitucional expressa.”.
Obs. 1: O voto impresso vulnera o segredo do voto, porque, ao imprimir o voto e identificar em quem a pessoa votou, isso permite que, por exemplo, a pessoa venda o seu voto e depois comprove que realmente votou no candidato que pagou pelo voto. Com o escrutínio secreto, sem essa identificação do voto impresso, o indivíduo pode até receber dinheiro para votar em alguém, mas a pessoa que pagou não terá ter certeza que, de fato, aquele indivíduo votou nela.
Obs. 2: Em 2015, foi promulgada lei na qual prevista a impressão do voto, mas seu acondicionamento em urna lacrada, de modo a evitar violação à liberdade de voto: Lei 13.165/2015, Art. 59-A. No processo de votação eletrônica, a urna imprimirá o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado. Parágrafo único. O processo de votação não será concluído até que o eleitor confirme a correspondência entre o teor de seu voto e o registro impresso e exibido pela urna eletrônica.
- Espécies de sufrágio:
I) restrito:
O sufrágio restrito é aquele que contém algum tipo de limitação ao exercício do direito de sufrágio, a qual não é meramente de caráter formal. Exigências de caráter meramente formal - como, por exemplo, idade mínima, alistamento eleitoral ou nacionalidade - não retiram a universalidade do sufrágio. O que faz com que o sufrágio seja restrito são determinadas limitações desarrazoadas, preconceituosas ou arbitrárias impostas a este direito.
I.1) Censitário:
 É aquele que exige uma determinada condição econômica do indivíduo para que ele possa participar do processo político. Tivemos um sufrágio restrito censitário consagrado no texto da Constituição Política
Imperial do Brasil de 1824:
- CPIB/1824, Art. 95. Todos os que podem ser Eleitores, abeis para serem nomeados Deputados. Exceptuam-se I. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida...
I.2) Capacitário: 
É aquele que exige uma determinada capacidade intelectual do indivíduo para que ele possa participar do processo político.
Ex.: O indivíduo tem que ter um curso superior para poder participar do processo político.
No Brasil, os analfabetos podem votar, mas não podem ser votados. Questiona-se: Isso significa que o sufrágio, no Brasil, é capacitário?
Resposta: Não. Os analfabetos não podem ser votados, porque eles não têm a capacidade técnica necessária para exercer um cargo eletivo. Uma pessoa que não sabe ler e escrever minimamente não tem como exercer um cargo no Executivo ou no Legislativo, já que essas funções exigem um conhecimento mínimo da língua portuguesa.
I.3) Em razão do gênero:
No Brasil, as mulheres só passaram a ter direito a voto a partir da década de 1930, com o Código Eleitoral da época e, depois, com a Constituição de 1934, que consagrou, em seu art. 108, o seguinte:
- CREUB/1934, Art. 108 - São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei.
Obs.: O curioso é que, antes, as Constituições não mencionavam nenhum tipo de restrição em relação às mulheres.
Elas não previam que só os homens podiam votar, eram silentes, pois sequer se cogitava da possibilidade de participação do gênero feminino.
II) Universal:
- CRFB/1988, Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III iniciativa popular.
- Regulamentação: Lei 9.709/98;
Plebiscito: Consulta prévia à mudança a ser adotada. Quando se faz um plebiscito, antes de a mudança ser aprovada, a população é consultada.
Referendo: A consulta à população é feita posteriormente à mudança adotada.
Iniciativa popular: É a iniciativa popular de leis.
2.1.2) Alistabilidade (capacidade eleitoral ativa)
A capacidade eleitoral ativa é o direito de votar.
- Características do voto:
Direto
Significa que, como regra, os representantes do povo (mandatários do Executivo e do Legislativo) são escolhidos diretamente. A Constituição prevê apenas duas exceções expressas:
Primeira: escolha de Governador de Território. Caso venha a ser criado algum território, o Governador não será eleito pela população. Quem o escolhe é o Presidente da República. Lembre-se que os territórios são autarquias territoriais pertencentes à União.
Segunda: Vacância do cargo de Presidente e Vice-Presidente da República. Se os dois cargos ficarem vagos, tanto o de Presidente quanto o de Vice-Presidente, dependendo do período em que o último desses cargos ficar vago, a eleição será indireta. Quando a dupla vacância ocorre no primeiro biênio, a eleição é direta. Quando ocorre no segundo biênio, a escolha é feita pelo Congresso Nacional (Art. 81, §1º, CF).
II) Igual para todos
Esta igualdade no valor do voto é inspirada no direito norte-americano, na expressão “one person, one vote”.
Obs.: A expressão “com valor igual para todos” é inspirada no direito norte-americano. Nos EUA, havia uma expressão, inicialmente utilizada, que era “one man, one vote” (cada homem, um voto, independentemente da condição econômica, da capacidade intelectual, independentemente de qualquer requisito preconceituoso ou arbitrário). Posteriormente, a Suprema Corte substituiu a expressão “one man, one vote” por “one person, one vote” (uma pessoa, um voto) para não soar discriminatório em relação às mulheres. (caso REYNOLDS VS. SIMS).
III) Periódico
A periodicidade das eleições implica na periodicidade do voto. Atualmente, no Brasil, as eleições são periodicamente realizadas de dois em dois anos. Primeiro, eleições para as esferas federal e estadual e, dois anos
depois, para a esfera municipal.
A periodicidade do voto é uma consequência da periodicidade das eleições, que, porsua vez, é uma concretização do princípio republicano, que tem, como uma de suas bases, a alternância do poder. A República pressupõe que haja alternância, de modo a evitar a perpetuação no poder.
IV) Livre
A liberdade do voto é assegurada pelo escrutínio secreto. Através do escrutínio secreto, é possível que se vote
livremente, sem qualquer tipo de pressão, sem a possibilidade de ter que comprovar em quem se votou. Por esta
razão, o STF, no julgamento da ADI 4.543 MC, entendeu ser inconstitucional a obrigatoriedade de impressão do voto com a identificação do eleitor.
V) Personalíssimo
Significa que apenas a própria pessoa pode votar. Não se pode votar através de procuração.
VI) Obrigatório
Em regra, o voto, no Brasil, é obrigatório. Para algumas pessoas, o voto é facultativo.
- CF, Art. 14, § 1º. O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
- Inalistáveis:
São pessoas que não podem se alistar como eleitores.
- estrangeiros e conscritos;
No caso do estrangeiro, é possível uma exceção, a qual foi estudada na matéria sobre direitos de nacionalidade.
Trata-se do caso dos portugueses equiparados aos brasileiros (“quase nacionalidade”). Se houver reciprocidade por parte de Portugal para com os brasileiros lá residentes, os portugueses podem, desde que sejam residentes no Brasil, alistar-se como eleitores, votar e até ser votados. (Art. 12, §1º, da CF).
Conscritos: são as pessoas que prestam serviço militar obrigatório geralmente quando completam 17/18 anos. A lei estende o conceito de conscrito a médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários que estejam prestando o serviço militar obrigatório.
- CF, Art. 14, § 2º. Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
- Lei 5.292/67, Art. 4º. Os concluintes dos cursos nos IEs destinados à formação de médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários que não tenham prestado o serviço militar inicial obrigatório no momento da convocação de sua classe, por adiamento ou dispensa de incorporação, deverão prestar o serviço militar no ano seguinte ao da conclusão do respectivo curso ou após a realização de programa de residência médica ou pós-graduação...(Redação dada pela Lei nº 12.336/2010)
Obs.: O dispositivo legal não se refere a profissionais concursados, mas sim a profissionais que estão prestando serviço militar obrigatório. O alistamento fica suspenso, temporariamente, enquanto eles estiverem prestando serviço militar obrigatório.
2.1.3) Elegibilidade (capacidade eleitoral passiva)
Trata-se do direito de ser votado.
- Plena cidadania: 35 anos;
35 anos é a idade mínima para que se possa ocupar o cargo de Presidente, Vice-Presidente e Senador da República, motivo pelo qual a plena cidadania é alcançada nesta idade.
- Inelegibilidades (LC 64/1990, alterada pela LC 135/2010) x condições de elegibilidade (Lei 4.737/1965 – Código Eleitoral);
As inelegibilidades estão contidas dentro dos direitos políticos negativos, já que elas importam em uma privação na participação do indivíduo na vida política do Estado. A CF prevê a possibilidade de criação de outras hipóteses por lei complementar. Não pode ser lei ordinária (LC 64/1990, alterada pela LC 135/2010).
Já as condições de elegibilidade são condições para que o indivíduo participe da vida política do Estado. Portanto, essas condições fazem parte dos direitos políticos positivos. A CF prevê que as condições de elegibilidade devem ser previstas “na forma da lei”. Como a CF dispõe apenas “lei”, significa que é uma lei ordinária (Lei 4.737/1965 - Código Eleitoral).
- CF, Art. 14, § 3º. São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
Obs.: A nacionalidade é um pressuposto para o exercício da cidadania em sentido estrito, ou seja, para o exercício dos direitos políticos. A pessoa só pode exercer direitos políticos no Brasil se tiver a nacionalidade brasileira, se for brasileiro nato ou brasileiro naturalizado. A única exceção a esta regra é o caso dos portugueses equiparados.
Havendo reciprocidade por parte de Portugal, embora não tenham a nacionalidade brasileira, os portugueses residentes no Brasil poderão se alistar e até ser elegíveis.
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
Obs.: Uma pessoa que não tenha adquirido os direitos políticos não pode se eleger (Ex.: menor de 16 anos ou pessoa que esteja com direitos políticos suspensos, seja em razão de uma condenação criminal, seja por ser um conscrito).
III - o alistamento eleitoral;
Obs.: No Brasil, a alistabilidade é requisito, pressuposto para a elegibilidade. O indivíduo só pode ser eleito se for alistável.
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
Obs.: O domicílio eleitoral não se confunde com o domicílio civil. A pessoa pode optar por um determinado domicílio eleitoral.
V - a filiação partidária;
Obs.: No Brasil, a pessoa só pode se candidatar a um cargo eletivo se estiver filiada a um determinado partido. Não se admite as chamadas candidaturas autônomas ou avulsas, como existe nos EUA, por exemplo, embora haja um projeto em tramitação no Congresso Nacional nesse sentido.
VI - a idade mínima de:
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) 18 anos para Vereador.
Obs.: Nota-se que os indivíduos que têm menos de 18 anos podem, a partir dos 16 anos, se alistar e votar, mas não podem ser votados para nenhum cargo, já que a idade mínima de elegibilidade é 18 anos.
Condições de elegibilidade
- Regra: Registro da candidatura;
Existe uma distinção entre as condições de elegibilidade em geral e a idade mínima. Em regra, as condições de elegibilidade têm que ser comprovadas no momento do registro da candidatura.
- Exceção: Idade mínima: data posse; exceção da exceção: quando fixada em 18 anos;
A idade mínima precisa ser comprovada não no registro da candidatura, mas sim na data da posse. A única que não é comprovada na data da posse (exceção da exceção) é quando fixada em 18 anos, ou seja, a idade mínima para o cargo de vereador. No caso do vereador, portanto, a idade mínima de 18 anos tem que ser comprovada na data limite para o pedido de registro da candidatura.
- Lei 9.504/97, Art. 11, § 2º. A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o pedido de registro.
2.2) Direitos políticos negativos
São aqueles direitos políticos que impedem a participação do indivíduo na vida política do Estado.
-Inelegibilidades; - Perda e suspensão.
2.2.1) Inelegibilidades;
I) Absoluta (CF, art. 14, § 4º);
Somente a própria Constituição pode prever. A única hipótese de inelegibilidade absoluta que existe no ordenamento jurídico atual é a prevista no art. 14, § 4º.
Esse tipo de inelegibilidade, geralmente, está relacionado a alguma condição pessoal e não com o cargo que a pessoa exerce ou pleiteia.
II) Relativas:
Podem ser previstas, não só pela Constituição, mas também por lei complementar (Art. 14, §9º).
Em geral, estão relacionadas a um determinado cargo, geralmente de Chefe do Poder Executivo.
II.1) cargos eletivos:
II.1.1) mesmo cargo (CF, art. 14, § 5º);
II.1.2) outro cargo (CF, art. 14, §6º);
II.2) cargos não eletivos:
-Militares (CF, art. 14, §8º);
- Juízes (CF, art. 95, p.ú., III);
- Membros do MP (CF, art. 128, §5º, II, e);
II.3) Em razão do parentesco (CF, art. 14, § 7º); (inelegibilidade reflexa)
II.4) Outras hipóteses (CF, art. 14, § 9º).
Inelegibilidade absoluta
- CF, Art. 14, § 4º. Sãoinelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
Obs.: Percebe-se que o dispositivo trata de características pessoais, ou seja, não tem nenhuma relação com o cargo que a pessoa ocupa ou ocupou.
Inelegibilidade relativa
- Cargos eletivos:
- Mesmo cargo:
- CF, Art. 14, § 5º. O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.
Obs.: sucedido x substituído: A sucessão é definitiva Ex.: A Dilma sofreu o impeachment e foi sucedida por Temer.
O Mário Covas faleceu quando era Governador de São Paulo, sendo sucedido por Geraldo Alckmin. O Aécio Neves renunciou ao Governo de Minas para se candidatar ao Senado, sendo sucedido por Antônio Anastasia. Já a substituição é apenas temporária. Ocorre quando a pessoa ocupa o cargo temporariamente em razão de um impedimento. Ex.: O Presidente da República viajou para o exterior, o Presidente da Câmara assume temporariamente a Presidência da República.
Atenção! Quando se fala em reeleição, é para o mesmo cargo e local. Ex.: Se é Prefeito de Campinas, a reeleição é para o mesmo cargo de Prefeito em Campinas; se é Governador em São Paulo, pode ser reeleito para o cargo de
Governador em São Paulo.
Questiona-se: Quando o Vice-Presidente substitui o Presidente, isso conta como sendo uma hipótese de eleição? É como se ele estivesse exercendo o mandato uma vez?
Resposta: Pelo texto constitucional, em uma interpretação literal, tanto a sucessão quanto a substituição, seriam computados para fins de reeleição. Essa questão é objeto de divergências. O TSE adota um entendimento e o STF outro. Embora o entendimento do TSE seja mais recente do que o do Supremo, em uma prova, recomenda-se adotar a jurisprudência do Supremo.
- TSE – Consulta 1.699-37/DF: “O Vice-Prefeito que assumir a chefia do Poder Executivo em decorrência do afastamento, ainda que temporário, do titular, seja por que razão for, somente poderá candidatar-se ao cargo de Prefeito para um único período subsequente.”
O Mário Covas era Governador do Estado de São Paulo. Ele foi eleito em 1994, tendo Geraldo Alckmin como Vice-Governador. Durante o primeiro mandato, o Covas, eventualmente, ficou afastado por motivo de doença e o
Alckmin o substituiu temporariamente. Em 1998, novamente a chapa Covas/Alckmin foi eleita. Durante o mandato, Covas faleceu de câncer e Alckmin assumiu, definitivamente, o cargo de Governador de São Paulo. Nas eleições seguintes, Alckmin foi candidato ao Governo de São Paulo e a chapa contrária impugnou sua candidatura, dizendo que ele não poderia se candidatar novamente, já que no mandato de 1994, embora Vice, ele substituiu o Governador, contando como sendo um primeiro mandato; em 1998, ele novamente foi eleito como Vice, mas assumiu com o falecimento do Covas, contando como sendo o segundo mandato. Assim, em 2002, ele não poderia se candidatar novamente, porque seria o terceiro mandato consecutivo, o que não é permitido.
O STF reiterou sua jurisprudência, decidindo que a simples substituição (como aconteceu no primeiro mandato de Vice do Geraldo Alckmin) não deve ser computada para fins de reeleição. Segue julgado:
- STF – RE 366.488/SP: “Vice-Governador eleito duas vezes para o cargo de Vice-Governador. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o Governador.
Possibilidade de reeleger-se ao cargo de Governador, porque o exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo. Inteligência do disposto no § 5.º do art. 14 da Constituição Federal”.
“Prefeito itinerante” ou “prefeito profissional”.
É uma figura caracterizada pela alteração do domicílio eleitoral com a finalidade de burlar a regra que permite apenas uma reeleição.
Ex.: O prefeito reeleito de uma determinada cidade não pode se candidatar, novamente, a um terceiro mandato consecutivo. No entanto, existem Municípios limítrofes nos quais a influência do prefeito ultrapassa os limites territoriais. O sujeito, nas eleições seguintes, que seria a terceira, como não pode se candidatar novamente no Município em que exerce o cargo, desincompatibiliza-se 6 meses antes (para concorrer a outros cargos o chefe do executivo tem que se desincompatibilizar 6 meses antes), muda seu domicílio eleitoral para o Município vizinho com o intuito de se candidatar à prefeito.
Questiona-se: Essa figura é compatível com a Constituição, já que ela veda apenas a reeleição?
Resposta: Embora a Constituição não trate especificamente desta hipótese, o STF entendeu que a figura do prefeito itinerante é incompatível com o princípio republicano. Segue julgado.
STF – RE 637.485/RJ: “[…] O instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez. Esse princípio impede a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que claramente é incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de temporariedade/alternância do exercício do poder. Portanto, ambos os princípios – continuidade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da mesma natureza em qualquer outro município da federação [...]. (2.1) o art. 14, § 5º, da Constituição, deve ser interpretado no sentido de que a proibição da segunda reeleição é absoluta e torna inelegível para determinado cargo de Chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu dois mandatos consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso;”
- Outro cargo:
Para o Chefe do Poder Executivo se candidatar a outro cargo, precisa se desincompatibilizar 6 meses antes.
- CF, Art. 14, § 6º. Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
Obs.: O Chefe do Executivo é quem controla a máquina administrativa. Se ele pudesse ficar no cargo até o final do mandato, teria a possibilidade de utilizá-lo para se promover. O objetivo é evitar que a pessoa utilize a máquina administrativa para conseguir se eleger.
- Cargos não eletivos:
- CF, Art. 14, § 8º. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
- CF, Art. 95, Parágrafo único. Aos juízes é vedado: III - dedicar-se à atividade político-partidária.
- CF, Art. 128, § 5º. Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: II - as seguintes vedações: e) exercer atividade político-partidária.
Obs.: O exercício de atividade político-partidária, como se pode intuir, é incompatível com o dever, no caso do juiz, de imparcialidade e neutralidade e, no caso do MP, de ser fiscal da lei. Tanto membros do MP quanto membros da
magistratura, que têm algum tipo de ligação político-partidária, de certa forma,acabam sendo influenciados de forma nociva.
- Em razão do parentesco (inelegibilidade reflexa):
A chamada inelegibilidade reflexa tem por objetivo evitar que um mesmo grupo familiar se perpetue no poder.
- CF, Art. 14, § 7º. São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Obs.: “no território de jurisdição do titular” significa que, dependendo do tipo de cargo, a restrição pode ser maior ou menor. Seguem exemplos:
Ex.: No caso do Presidente da República, o território de jurisdição do titular é todo o Estado brasileiro. Assim, o cônjuge e os parentes não podem se candidatar, no caso do Presidente da República, a nenhum cargo no Estado brasileiro, salvo se já titulares de mandato eletivo e candidatos à reeleição. Suponha que Paulo Bernardo – marido de Gleise hoffmann (Senadora) – seja eleito Presidente da República nas próximas eleições. Nada impede que, nas eleições seguintes, Gleise se candidate novamente ao cargo de senadora, porque, neste caso, ela estaria concorrendo à reeleição, ou seja, ela já era detentora de mandato eletivo antes. Contudo, ela não pode concorrer ao cargo de Deputada, ao cargo de Governadora etc., porque, neste caso, não seria reeleição, mas sim novo cargo.
Ex.: No caso de Governador de Estado, o cônjuge e os parentes não podem se candidatar a nenhum cargo no Estado correspondente. O pai de Roseana Sarney não podia, enquanto ela era Governadora do Maranhão, candidatar-se ao cargo de prefeito de município no Maranhão, a cargo de vereador de município no Maranhão, a cargo de deputado federal pelo Maranhão, a cargo de senador pelo Maranhão, ou seja, a nenhum cargo dentro do Estado do Maranhão. Contudo, ele podia se candidatar a cargo por outro Estado, como o de Senador pelo Amapá.
Ex.: No caso de Prefeito, o cônjuge e os parentes não podem se candidatar a nenhum cargo eletivo dentro do município correspondente, ou seja, não podem se candidatar ao cargo de vereador e nem ao cargo de prefeito.
Suponha-se que o prefeito tenha sido eleito e está no seu primeiro mandato. Nas eleições seguintes, ao invés de ele se candidatar novamente a prefeito, resolve se candidatar a um outro cargo, por exemplo, Presidente da
República. Ele poderia se candidatar a mais uma eleição para prefeito, já que ele exerceu apenas um mandato.
Contudo, ele renunciou 6 meses antes e decidiu se candidatar ao cargo de Presidente. Questiona-se: A esposa desse sujeito poderia se candidatar ao cargo de prefeita na eleição seguinte? Resposta: Neste caso, ela poderia, porque, primeiro, ele exerceu apenas 1 mandato e tinha direito à reeleição. Como ele tinha direito à reeleição, o cônjuge pode concorrer no lugar dele. Contudo, só será permitido se renunciar 6 meses antes.
Obs.: Esta inelegibilidade reflexa atinge aquele que está no poder. Assim, quando alguém deixa o cargo 6 meses antes do fim do mandato, a inexigibilidade reflexa passa a atingir aquele que o substituiu (Vice-Governador; Vice- Prefeito; Vice-Presidente, por exemplo).
- TSE - Acórdão 19.442/2001: O Cônjuge e os parentes do chefe do Executivo são elegíveis para o mesmo cargo do titular, quando este for reelegível e tiver se afastado definitivamente até seis meses antes do pleito;
- STF - Súmula Vinculante 18: “A dissolução da sociedade conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º art. 14 da CF”;
Obs.: O objetivo é evitar fraude por meio de dissoluções fictícias para propiciar eventuais candidaturas. A regra se aplica mesmo quando se prove que a dissolução não foi fictícia.
- STF – AC 3.298 MC-AgR/PB: “[...] 2. Há plausibilidade na alegação de que a morte de Prefeito, no curso do mandato (que passou a ser exercido pelo Vice-Prefeito), não acarreta a inelegibilidade do cônjuge, prevista no art.
14, § 7º, da Constituição Federal. Trata-se de situação diferente da que ocorre nos casos de dissolução da sociedade conjugal no curso do mandato, de que trata a Súmula Vinculante 18. 3. Agravo regimental improvido.”
Obs.: A decisão proferida na AC 3.298 MC – AgR/PB deixa claro que, segundo o STF, a Súmula Vinculante 18 atinge a dissolução da sociedade conjugal, mas não no caso de morte.
Embora a Constituição disponha sobre cônjuge e parentes consanguíneos ou afins, o escopo da norma constitucional é evitar que o mesmo grupo se perpetue no poder. Isso é levado em consideração no momento em que se interpreta a extensão dessas palavras. Por exemplo, a palavra cônjuge é interpretada em um sentido bem amplo, de modo a abranger companheiro, companheira, inclusive em uniões estáveis homoafetivas, casamentos religiosos, etc. Quando se fala em parentesco, abrange não apenas o consanguíneo e o afim. Pode ser, por exemplo, uma pessoa que foi adotada informalmente, mas que, aos olhos da comunidade, é como se fosse uma filha do prefeito ou da prefeita. Nesses casos, se houver aparência de grupo familiar, ocorre o impedimento previsto no artigo 14, § 7º. Seguem alguns precedentes:
- TSE - Consulta 845/DF: “É inelegível o irmão ou irmã daquele ou daquela que mantém união estável com o prefeito ou prefeita”;
- TSE - REspe 24.564/PA: “Os sujeitos de uma relação estável homossexual, à semelhança do que ocorre com os de relação estável, de concubinato e de casamento, submetem-se à regra de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal”;
- STF – RE 106.043: “Inelegibilidade da candidata eleita Vereadora, por ser casada religiosamente com o então titular do cargo de Prefeito.”
- STF - RE 158.314: “inelegível para o cargo de Prefeito de Município resultante de desmembramento territorial o irmão do atual chefe do Poder Executivo do Município-mãe”
- Outras hipóteses:
- CF, Art. 14, § 9o. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
Obs.: O art. 14, § 9º da CF é regulamentado pela Lei Complementar 64/1990. Em 2010, esta lei foi alterada pela Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa). Várias foram as inovações introduzidas pela Lei da Ficha limpa, dentre elas: a inelegibilidade de prefeitos e governadores, que antes era de 3 anos, passou a ser de 8 anos, que é o prazo previsto na Constituição para o Presidente da República; a representação, quando julgada procedente, torna inelegível também por 8 anos (antes era por apenas 3 anos); a lei prevê que decisão de órgão colegiado torna inelegível (antes precisava ser decisão judicial transitada em julgado); o rol de crimes em razão dos quais a pessoa pode ficar inelegível também foi ampliado; houve uma mudança em relação a membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo, que renunciarem ao mandato. Mesmo que renunciem, também ficam inelegíveis, a não ser que fique demonstrado que não houve fraude.
2.2.2) Perda e suspensão
Perda: a pessoa fica privada, definitivamente, dos direitos políticos.
Suspensão: a pessoa fica privada, temporariamente, dos direitos políticos.
A Constituição prevê, no artigo 15, que é vedada a cassação de direitos políticos. A cassação, que ocorria durante, por exemplo, a ditatura militar, é a retirada arbitrária dos direitos políticos em razão de uma perseguição política.
Além disso, no mesmo dispositivo, a CF prevê a possibilidade de perda ou suspensão:
- CF, Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidadecivil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
 V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Obs.: Nota-se que a CF não diferencia quais são os casos de perda e quais são os casos de suspensão.
Obs.(Inciso I): Como visto na aula passada, dentro dos direitos de nacionalidade, sobre a hipótese prevista no art. 12, § 4º, de perda da nacionalidade no caso de ação de cancelamento da naturalização, o indivíduo brasileiro naturalizado poderá ter a perda de sua naturalização decretada por ter praticado uma atividade nociva ao interesse nacional. Neste caso de cancelamento da naturalização, o indivíduo não pode readquirir a nacionalidade brasileira, a não ser que, dentro do prazo legal, ajuíze uma ação rescisória e a decisão seja desconstituída. Portanto, é uma hipótese em que ele perde, definitivamente, os direitos políticos, porque, uma vez cancelada a naturalização, ele não pode readquiri-la. Assim, a doutrina entende que se trata de uma hipótese de perda, ou seja, é uma privação definitiva dos direitos políticos.
Obs.:(Inciso II): Essa hipótese acabou perdendo um pouco o sentido. Ela era tratada como uma hipótese de suspensão, porque era temporária, mas o art. 3º do CC foi alterado pela lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), tendo sido expressamente revogadas duas hipóteses, uma de incapacidade civil absoluta dos que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil e nos casos dos que, mesmo temporariamente, não puderem exprimir sua vontade. Com a revogação dessas duas hipóteses, sobrou apenas os menores de 16 anos como absolutamente incapazes.
Obs.: (Inciso III): Nota-se que, neste caso, a suspensão subsiste até a extinção da punibilidade e não apenas enquanto a pessoa estiver presa. Enquanto durarem os efeitos da condenação criminal, mesmo que a pessoa esteja cumprindo pena em liberdade, os direitos políticos ficam suspensos.
Obs.: (Inciso IV): Esta hipótese é conhecida como escusa de consciência ou imperativo de consciência. O indivíduo não pode ser privado de direitos por motivos de convicções filosóficas, políticas ou religiosas, salvo se as invocar para se eximir de uma obrigação legal imposta a todos e se recusar a cumprir uma prestação alternativa fixada em lei. 
Ex.: Um indivíduo, por exemplo, por convicções filosóficas ou religiosas, pode se recusar a pegar em armas quando estiver servindo ao exército em tempos de paz, mas terá que cumprir uma prestação alternativa (serviços administrativos, assistenciais...). Se ele se recusa a cumprir a obrigação legal imposta a todos e também a cumprir a prestação alternativa, poderá sofrer uma sanção: suspensão ou a perda dos direitos políticos. Embora no direito eleitoral prevaleça o entendimento de que se trata de hipótese de suspensão, a maioria dos autores da doutrina constitucional sustenta que se trata de perda. O argumento que utilizam é no sentido de que, como não há um prazo predeterminado para a reaquisição dos direitos políticos, não seria hipótese de suspensão, mas sim de perda.
Em uma prova objetiva, esse tipo de questão não deveria ser cobrada.
Obs.: (Inciso V): A lei 8.429/92 enumera os atos de improbidade e as respectivas sanções. É necessário que haja sentença judicial reconhecendo a ocorrência da improbidade e suspendendo, expressamente, esses direitos políticos previstos na Constituição.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL
- CF, Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência;
- Eficácia diferida da lei eleitoral;
Quando uma lei modifica as regras do jogo eleitoral, entra em vigor na data da publicação, ou seja, imediatamente, mas a sua eficácia (aptidão para produzir efeitos) é diferida (adiada para o futuro). 
Ex.: Teremos eleições para 2018, 2020 e 2022. Qualquer mudança na legislação eleitoral, para ser aplicada a essas eleições, tem que ser feita com antecedência mínima de 1 ano. Para ser aplicada às eleições de 2018, a alteração tem que ser feita, no máximo, até outubro de 2017. Para serem aplicadas às eleições de 2020, as alterações têm que ser feitas, no máximo, até outubro de 2019 e assim sucessivamente. Se a mudança for feita no período de menos de 1 ano do pleito, ela não será aplicada às próximas eleições, mas somente às eleições seguintes.
- Escopo;
A finalidade do princípio da anterioridade eleitoral é impedir alterações casuísticas no processo eleitoral, capazes de afetar, de alguma forma, a igualdade entre os seus protagonistas, que são os candidatos e os eleitores. O objetivo é evitar que se mude as regras do jogo, às vésperas dele acontecer, para beneficiar determinadas pessoas que estão no poder. Evitar que se crie incertezas, insegurança jurídica, que o eleitor e os candidatos sejam surpreendidos.
- Garantia individual do cidadão eleitor;
Este dispositivo, embora não esteja elencado no art. 5º, foi considerado pelo STF como uma cláusula pétrea, por ser uma garantia individual do cidadão eleitor.
- Poderes condicionados pelo princípio.
Este princípio condiciona não só o Legislativo, quando da elaboração de lei, o Executivo, quando da regulamentação, o Poder Constituinte Derivado, quando da modificação da Constituição e também o Poder Judiciário, em especial, o TSE. Não se pode mudar a sua jurisprudência às vésperas de uma eleição, porque isso gera incerteza jurídica. Nesse sentido:
- STF – RE 637.485/RJ: “[...] Não se pode deixar de considerar o peculiar caráter normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência
eleitoral, portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos eleitorais, com sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores e candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais. A importância fundamental do princípio da segurança jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais está plasmada no princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O STF fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da igualdade de chances e (3) das minorias (RE 633.703). Em razão do caráter especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior
Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que implícita, que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do TSE. Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência (e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior.
Obs.: No RE 633.703, a que se fez referência no precedente acima transcrito, o STF adotou o entendimento no sentido de que o princípio da anterioridade eleitoral é cláusula pétrea expressa. O Supremo adotou esse entendimento, porque o Congresso Nacional, a fim de burlar o princípio da anterioridade eleitoral, mudou as regras do jogo através de Emenda.
Ex.: O STF e o TST proferiram decisões dizendo que a verticalização teria que ser respeitada, de forma que as coligações feitas no âmbito federal deveriam ser observadas no âmbito regional. O Congresso Nacional “correu” para tentar derrubar essa decisão antes das eleiçõesde 2006 e fez uma Emenda Constitucional. Contudo, o STF, ao analisar a ADI que tinha por objeto essa Emenda, decidiu que o art. 16 é cláusula pétrea por ser uma garantia individual do cidadão eleitor, devendo ser observada, também, pelo Poder Reformador. O STF decidiu que a Emenda era válida, mas só a partir de 2008.
- CF, Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional; => Verticalização (TSE Resolução 21.002/2002);
Obs.: Não se admite partidos de caráter regional ou apenas local. Segundo a legislação eleitoral, para ter caráter nacional, o partido deve estar presente em, pelo menos, 1/3 dos Estados da federação.
Obs.: Com base nesta exigência de caráter nacional, o TSE editou a Resolução 21.002/2002, criando a chamada regra da verticalização. O sentido adotado pelo TSE foi o de que, se os partidos têm que ter um caráter nacional, ao formarem uma coligação na esfera federal (na eleição para Presidente da República, por exemplo), eles não podem, no âmbito regional (na eleição para Governador e Deputado Estadual, por exemplo), fazer coligação com partidos diferentes.
Ex.: O PMDB e o PT fazem uma coligação na esfera federal para eleger o Presidente da República e, no âmbito do Estado do Maranhão, o PMDB faz uma coligação com o PSDB, por exemplo. Isso não é permitido.
No entanto, esse entendimento do TSE foi superado, posteriormente, pela Emenda Constitucional 52/2006 que pôs fim à verticalização.
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
- CF, Art. 17, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (EC 52/2006)
Obs.: O trecho grifado e em negrito do dispositivo transcrito acima foi introduzido pela EC 52/2006, que pôs fim à verticalização.
- CC, Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
[...] V - os partidos políticos.
- Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Obs.: Conclui-se que a existência legal do partido político começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro. A partir deste momento, o partido político adquire personalidade jurídica. Após adquirirem personalidade jurídica, os partidos políticos terão que registrar seus estatutos no TSE, conforme determina a CF e conforme prevê a própria lei 9.096/95. Seguem os dispositivos:
- CF, Art. 17, § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
- No mesmo sentido: Lei 9.096/95, Art. 7º. (reproduz o dispositivo constitucional).
Fidelidade partidária
- TSE – Consulta 1.398/DF;
- Partidos Políticos e coligações têm direito de preservar a vaga obtida pelo sistema proporcional nos casos de:
I) pedido de cancelamento de filiação partidária; ou,
II) transferência do candidato eleito para legenda diversa.
Obs.: O STF entendeu que a vaga, nestes casos, não é do candidato eleito, mas sim da coligação.
- Sem justa causa;
Em ambos os casos, tanto na hipótese de cancelamento da filiação partidária quanto no caso de transferência do candidato para legenda diversa, ele só perde a vaga para a coligação se isso ocorrer sem justa causa. Se houver justa causa, poderá se desligar e se transferir para outro sem perder a vaga.
- TSE - Resolução 22.610/2007, Art. 1º, § 1º. Considera-se justa causa:
I) incorporação ou fusão do partido;
II) criação de novo partido;
III) mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;
IV) grave discriminação pessoal.
- STF – MS 26.603/DF: “A prática da infidelidade partidária, cometida por detentores de mandato parlamentar, por implicar violação ao sistema proporcional, mutila o direito das minorias que atuam no âmbito social, privando-as de representatividade nos corpos legislativos, e ofende direitos essenciais notadamente o direito de oposição – que derivam dos fundamentos que dão suporte legitimador ao próprio Estado Democrático de Direito, tais como a soberania popular, a cidadania e o pluralismo político (CF, art. 1º, I, II e V). A repulsa jurisdicional à infidelidade partidária, além de prestigiar um valor eminentemente constitucional (CF, art. 17, § 1º, "in fine"), (a) preserva a legitimidade do processo eleitoral, (b) faz respeitar a vontade soberana do cidadão, (c) impede a deformação do modelo de representação popular, (d) assegura a finalidade do sistema eleitoral proporcional, (e) valoriza e fortalece as organizações partidárias e (f) confere primazia à fidelidade que o Deputado eleito deve observar em relação ao corpo eleitoral e ao próprio partido sob cuja legenda disputou as eleições.”
Obs.: No precedente acima, o STF corroborou o entendimento do TSE de que a fidelidade partidária deve ser observada, sob pena de a pessoa perder a vaga para o partido ou coligação.
- STF - Rcl 11.279/CE: “O Plenário deste Tribunal, na Sessão Plenária de 27/4/2011, por ocasião do julgamento dos Mandados de Segurança 30.260/DF e 30.272/MG, ambos de relatoria da Min. Cármen Lúcia, definiu que a vaga do titular do mandato parlamentar pertence a coligação e não aos partidos políticos, autorizando os Ministros o julgamento monocrático dos casos semelhantes.”
- STF – MS 27.938/DF: "EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. FIDELIDADE PARTIDÁRIA. TROCA DE PARTIDO. JUSTA CAUSA RECONHECIDA. POSTERIOR VACÂNCIA DO CARGO. MORTE DO PARLAMENTAR. SUCESSÃO. LEGITIMIDADE. O reconhecimento da justa causa para transferência de partido político afasta a perda do mandato eletivo por infidelidade partidária, mas não transfere ao novo partido o direito de sucessão à vaga.”
Obs.: No precedente acima, o parlamentar, por justa causa, solicitou a mudança de partido. Entendeu-se que havia, de fato, justa causa. Ele não iria perder o mandato. A vaga continuaria sendo dele. Contudo, ele faleceu. O
Supremo entendeu que esta vaga que restou não deveria ser do novo partido ao qual ele se filiou, porque, embora ele não tenha perdido a vaga por não ter havido infidelidade partidária, a vaga era da coligação pela qual ele foi eleito.
- STF – ADI 5.081/DF: “A perda do mandato em razão da mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.”
Obs.: No precedente acima, o STF decidiu que a fidelidade partidária não se aplica às eleições majoritárias (Presidente, Governador, Prefeito e Senador), mas apenas às eleições proporcionais. Nas eleições majoritárias, se o Presidente, Governador, Prefeito e Senador trocarem de partidos, eles continuam sendo titulares. Nota-se que o Supremo fez uma distinção entre eleições proporcionais e majoritárias, entendendo que, na eleição proporcional, a pessoa é eleita não só com os votos que ela recebe, mas também com os votos do partido e, às vezes, com os votos de outras pessoas do partido, sendo a vaga, portanto, da coligação e não dela. Já nas eleições majoritárias, os eleitores votam no candidato e não no partido. Assim, se o candidato eleito perder o cargo em razão de uma mudança do partido, a soberania popular será violada, já que a vaga passará para um outro partido, cujocandidato não foi eleito pela maioria.
- EC 91/2016, Art. 1º. É facultado ao detentor de mandato eletivo desligar-se do partido pelo qual foi eleito nos trinta dias seguintes à promulgação desta Emenda Constitucional, sem prejuízo do mandato, não sendo essa desfiliação considerada para fins de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e televisão.
Obs.: Casuisticamente, o Congresso Nacional editou um Emenda criando uma janela para que, no prazo de 30 dias, os parlamentares pudessem ir para o partido que bem entendessem, sem que houvesse a perda da vaga por infidelidade partidária.

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