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SISTEMA DE ENSINO DIREITO ELEITORAL Inelegibilidades I Livro Eletrônico 2 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Apresentação . ............................................................................................................................3 Inelegibilidades I . .......................................................................................................................4 1. Conceito de Inelegibilidade . ..................................................................................................4 2. Características Gerais . .........................................................................................................5 3. Inelegibilidades: Classificação..............................................................................................8 4. Inelegibilidades Constitucionais . ....................................................................................... 10 4.1. Inelegibilidade dos Inalistáveis . ...................................................................................... 10 4.2. Inelegibilidade dos Analfabetos . ..................................................................................... 11 4.3. Inelegibilidade para o Terceiro Mandato Consecutivo no Mesmo Cargo . .................. 15 4.4. Inelegibilidade Decorrente da Incompatibilidade com o Cargo Ocupado . .................22 4.5. Inelegibilidade Reflexa ou por Parentesco . ..................................................................23 5. Inelegibilidades Infraconstitucionais . .............................................................................. 28 5.1. A criação de Inelegibilidades e o Princípio da Anualidade . ........................................ 30 5.2. A Aplicação Retroativa da LC n. 135/2010 . ................................................................. 30 5.3. Vinculação das Hipóteses de Inelegibilidade ao Artigo 14, § 9º, da CF/88 . ..............32 5.4. Inelegibilidades da LC n. 64/90 . ....................................................................................33 Resumo ..................................................................................................................................... 41 Questões de Concurso . .......................................................................................................... 48 Gabarito . ................................................................................................................................. 60 Gabarito Comentado . .............................................................................................................. 61 Referências ............................................................................................................................. 86 *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 C U R SO S PA R A CO N C U R SO S divisão de custos ClIqUe PaRa InTeRaGiR Facebook Gmail Whatsapp https://bit.ly/2YPHtuM https://bit.ly/2Bn5D7P mailto:materialconcursosone@gmail.com?subject=Oi.%20Desejo%20informa%C3%A7%C3%B5es%20sobre 3 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL ApresentAção Querido(a) aluno(a), tudo bem? Na aula de hoje, trataremos das causas de inelegibilidades. Esse assunto está previsto na Constituição Federal e na Lei Complementar n. 64/1990, mais conhecida como Lei das Inelegibilidades. O tema inelegibilidades está diretamente relacionado aos direitos políticos, tendo em vista que sua incidência é fator impeditivo para o exercício do ius honorum, ou seja, do direito de o cidadão participar do pleito na condição de candidato. Noutro falar, a inelegibilidade é uma causa impeditiva para o exercício do direito à elegibilidade. Discutiu-se muito sobre as inelegibilidades no ano de 2010, em razão da edição da Lei Complementar n. 135/2010, também denominada de Lei da Ficha Limpa. Embora hoje já te- nhamos posições doutrinárias e jurisprudenciais mais assentadas sobre a matéria, ainda existem pontos controvertidos em debate nos tribunais. Na primeira parte da aula, vamos estudar o conceito de inelegibilidade, sua natureza jurí- dica, finalidade e classificação. Na segunda parte, estudaremos as hipóteses de inelegibilida- de constitucionais e infraconstitucionais até o art. 1º, I, d, da LC n. 64/90. Estamos diante de matéria na qual existem diversos pontos controvertidos, motivo pelo qual traremos à colação diversos julgados, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de deixá-lo preparado para enfrentar qualquer questão acerca dessa matéria. Está preparado (a)? Sem demoras, vamos lá! *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 4 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL INELEGIBILIDADES I 1. ConCeito de inelegibilidAde A elegibilidade é condição essencial para que o cidadão possa exercer sua capacidade eleitoral passiva - ius honorum -, ou seja, participar do pleito na condição de candidato. O vocábulo “elegibilidade” não se apresenta simplesmente como o oposto da expressão “inelegibilidade”, como poderia se pensar por uma interpretação puramente linguística. Para alcançar o status de elegível, o cidadão deve, cumulativamente, preencher as condi- ções de elegibilidade, tais como alistamento eleitoral, filiação partidária etc. Não incidir é uma das causas de inelegibilidade listadas no texto constitucional e em lei complementar. Noutro falar, Jorge, Liberato e Rodrigues (2017, p. 102) afirmam que Não basta preencher as condições de elegibilidade para se estar apto a disputar um cargo eletivo. É preciso que não incida sobre o indivíduo, no momento em que pretender registrar a sua candida- tura, uma série de causas, que levam à sua inelegibilidade. Em reforço à necessidade do preenchimento cumulativo das condições de elegibilidade e da não incidência das causas de inelegibilidade para que o cidadão possa concorrer a cargos públicos, o art. 11, § 10º, da Lei n. 9.504/1997 estabelece que: As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009) (Grifo nosso) Essas causas impeditivas, que se colocam ao lado das condições de elegibilidade e que devem ser evitadas pelos que pretendam concorrer a cargos públicos (fator negativo), são as chamadas causas de inelegibilidades. Na lição de José Jairo Gomes (2017, p. 193): Denomina-se inelegibilidade ou ilegibilidade o impedimento ao exercício da cidadania passiva, de maneira que o cidadão fica impossibilitado de ser escolhido para ocupar cargo político-eletivo. Em outros termos, trata-se de fator negativo, cuja presença obstrui ou subtrai a capacidade eleitoral passiva do nacional, tornando-o inapto para receber votos e, pois, exercer mandato representativo. Tal impedimento é provocado pela ocorrência de determinados fatos previstos na Constituição ou em lei complementar. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 5 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Anote, por fim, que a criação das inelegibilidades não é mero capricho do legislador. Na visão de Jorge, Liberato e Rodrigues (2017, p. 109), elas funcionam como Filtros para o exercício da capacidade eleitoral passiva, filtros esses que irão evitar ou prevenir que dentre aqueles que pretendam receber o mandato político existam sujeitosque não tenham condi- ções morais, probas e éticas para serem eleitos. 2. CArACterístiCAs gerAis As causas de inelegibilidades são estabelecidas na Constituição Federal ou em lei com- plementar, nos termos do art. 14, § 9º, da CF. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indi- reta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994) Diferentemente das condições de elegibilidade, as inelegibilidades não podem ser criadas por lei ordinária, lei delegada, medida provisória, decreto, resolução ou resolução do TSE (REspe n. 25107/SP, rel. Min. Gomes de Barros, DJ de 12.8.2005). No ponto, confira esse julgado do STF: O domicílio eleitoral na circunscrição e a filiação partidária, constituindo condições de elegibilidade (CF, art. 14, § 3º), revelam-se passíveis de válida disciplinação mediante simples lei ordinária. Os requisitos de elegibilidade não se confundem, no plano jurídico conceitual, com as hipóteses de inelegibilidade, cuja definição – além das situações já previstas diretamente pelo próprio texto constitucional (CF, art. 14, §§ 5º a 8º) – só pode derivar de norma inscrita em lei complementar (CF, art. 14, § 9º). (STF. ADI n. 1.063. Rel. Min. Celso de Mello). José Jairo Gomes (2017, p. 195-196) afirma que podem ser criadas causas de inelegibili- dade por tratado ou convenção sobre direitos humanos introduzidos no ordenamento jurídico pelo procedimento descrito no art. 5º, § 3º, da CF/88, porquanto tais normas se equiparam a emendas constitucionais. Por oportuno, transcrevo o dispositivo constitucional: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 6 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. No que concerne aos tratados que versem sobre direitos e garantias fundamentais, que não se enquadrem no âmbito dos direitos humanos, o eminente doutrinador consigna que, nos termos do art. 5, § 2º, da CF/88, a posição majoritária do STF tem acolhido esses diplo- mas com status supralegal – abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna -, de modo que também estão autorizados a criarem novas causas de inelegibilidade. De modo diverso, não podem criar causas de inelegibilidade aqueles tratados que não ver- sem direito ou garantia fundamental, por exemplo, um tratado comercial, por serem acolhidos pelo nosso ordenamento jurídico com status de lei ordinária. A incidência em uma das causas de inelegibilidade repercute tão somente na capacidade eleitoral passiva do cidadão, não o impedindo de exercer os demais direitos políticos, como o de votar, filiar-se a partido político, entre outros. Nesse sentido, confira este julgado do TSE: A inelegibilidade importa no impedimento temporário da capacidade eleitoral passiva do cidadão, que consiste na restrição de ser votado, não atingindo, portanto, os demais direitos políticos, como, por exemplo, votar e participar de partidos políticos. [...]” (AgR/AI n. 4.598, rel. Min. Fernando Neves, DJe de 13.8.2004). A ilicitude não é da essência do conceito de inelegibilidade, de modo que a restrição à ca- pacidade eleitoral passiva – ius honorum - pode advir de um fato jurídico lícito ou ilícito. Re- vela-se tão somente como efeito jurídico advindo de algum fato ou complexo de fato descrito na facttispecie (situação fática descrita) da norma eleitoral, como a que decorre da condição de analfabeto do cidadão. Nenhuma inelegibilidade pode ter caráter perpétuo. Por tolher direito o exercício de direito político – direito fundamental -, as inelegibilidades possuem termo inicial e final definidos, sob pena de incidirem em manifesta inconstitucionalidade. Destaque-se, ainda, que as inelegibilidades possuem caráter personalíssimo. Noutro fa- lar, à exceção das inelegibilidades reflexas previstas pelo próprio constituinte originário, as *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 7 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL demais incidem apenas sobre aqueles que possuem a condição exigida por lei – analfabe- tismo – ou praticaram os atos que as originaram, por exemplo, nos casos de abuso de poder apurado em AIJE, em que, uma vez julgada procedente a ação, a inelegibilidade incide sobre quem praticou o ato, mas não incide sobre quem dele se beneficiou, caso este não tenha conhecimento ou anuído com a prática ilícita. Nesse sentido, transcrevo o art. 18 da LC n. 64/1990, mas com a observação de que, se o vice tiver anuído ou participado, sobre ele tam- bém incidirá a inelegibilidade. Art. 18. A declaração de inelegibilidade do candidato à Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal e Prefeito Municipal não atingirá o candidato a Vice-Presidente, Vice- -Governador ou Vice-Prefeito, assim como a destes não atingirá aqueles. A jurisprudência é pacífica nesse sentido. Confira: 1. No decisum agravado, manteve-se cassação dos vencedores do pleito majoritário de Santa Luzia do Norte/AL em 2016, por prática de abuso de poder econômico e compra de votos, afastando-se apenas a inelegibilidade imposta ao Vice-Prefeito por falta de prova robusta quanto à sua participação ou anuência, o que ensejou agravo regimental da parte contrária no particular. 2. Nos termos do art. 22, XIV, da LC 64/90 e da jurisprudência desta Corte Superior, a sanção de inelegibilidade possui natureza personalíssima, descabendo aplicá-la ao mero beneficiário do ato abusivo. (REspe n. 364-24/AL, Min. rel. Jorge Mussi, DJe de 25.2.2019). Por fim, por se tratar de norma restritiva de direitos, no caso direitos fundamentais, as causas de inelegibilidade devem ser interpretadas restritivamente. Essa é a pacífica jurispru- dência do TSE. Confira: 3. As causas de inelegibilidade, por constituírem restrição à capacidade eleitoral pas- siva, devem ser interpretadas restritivamente, nos termos da jurisprudência desta Corte. 4. Na espécie, o agravado, candidato não eleito ao cargo de deputado estadual do Ceará nas Eleições 2018, enquanto coordenador–geral de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), teve contas rejeitadas pelo TCU relativas ao exercício finan- ceiro de 2008 a 2009. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 8 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL 5. Por não ser detentor de “cargo ou função pública”, requisito indispensável à incidência da inelegibilidade da alínea g, impõe–se manter deferido o registro de candidatura. (RO n. 060066041/CE, rel. Min. Jorge Mussi, PSESS de 13.11.2018). 3. inelegibilidAdes: ClAssifiCAção No que se refere à extensão da restrição do direito de ser votado, as inelegibilidades po- dem ser absolutas ou relativas: • Inelegibilidade absoluta – a inelegibilidade absoluta impede o cidadão de concorrer a qualquer cargo público eletivo. Enquanto persistir a situação geradora da inelegibilida- de, o cidadão estará impedido de exercer seu direito à elegibilidade. São exemplos de inelegibilidades absolutas: inalistabilidade e analfabetismo; • Inelegibilidade relativa – essas hipóteses de inelegibilidade impedem o cidadãode concorrer a determinados cargos eletivos. Isso quer dizer que a restrição advinda da inelegibilidade relativa não impede, por completo, o exercício do direito à elegibilidade. São exemplos de inelegibilidades relativas: a inelegibilidade para os mesmos cargos num terceiro mandato subsequente; a inelegibilidade decorrente da incompatibilidade; a inelegibi- lidade decorrente do parentesco. Em razão da extensão da restrição da capacidade eleitoral passiva, decorrente da inci- dência da inelegibilidade absoluta, defende-se que tais inelegibilidades somente podem ser previstas na própria Constituição Federal. Deveras, não se admite a instituição de novas inelegibilidades absolutas por meio de lei infraconstitucional. A esse respeito, veja a lição de Alexandre de Moraes (2016, p. 256), Minis- tro do Supremo Tribunal Federal: A inelegibilidade absoluta consiste em impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo. O indi- víduo que se encontrar em uma das situações descritas pela Constituição Federal, como de inele- gibilidade absoluta, não poderá concorrer à eleição alguma, ou seja, não poderá pleitear nenhum mandato eletivo. Refere-se, pois, a determinada característica da pessoa que pretende candidatar- -se, e não ao pleito ou mesmo cargo pretendido. A inelegibilidade absoluta é excepcional e somen- te pode ser estabelecida, taxativamente, pela própria Constituição Federal. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 9 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Quanto à abrangência, a inelegibilidade pode ser atual ou superveniente: • Inelegibilidade atual: é aquela que se encontra presente na ocasião em que o cidadão postula o registro de candidatura, pois, como sabemos: As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura (art. 11, § 10º, da Lei n. 9.504/1997); • Inelegibilidade superveniente: é aquela surgida entre a data do registro de candidatura e a eleição, por exemplo, a publicação, nesse período, de acórdão do TRE, que condenou o cidadão em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral, nos termos do art. 1º, I, d, da LC n. 64/90. Essa espécie de inelegibilidade pode ser levada a efeito no Recurso Contra Expedição de Diploma – RCED. Quanto à origem, classifica-se em inata ou cominada: • Inelegibilidade inata ou originária – é aquela que decorre do status ocupado pelo ci- dadão, independentemente de qualquer conduta, lícita ou ilícita, de sua parte ou de terceiros em seu proveito. Como exemplo característico, temos a inelegibilidade do analfabeto; • Inelegibilidade cominada ou inelegibilidade sanção – é aquela que decorre da prática de ilícitos e é decretada na própria decisão condenatória. Ocorre no caso de procedên- cia da Ação de Investigação Judicial Eleitoral, prevista no art. 22 da LC n. 64/90. Quanto ao modo de incidir, a inelegibilidade pode ser direta ou reflexa: • Inelegibilidade direta: é aquela que incide sobre o próprio autor do fato que a origina; • Inelegibilidade reflexa ou indireta: é aquela que incide sobre terceiros. Exemplo típico é o impedimento para concorrer às eleições na circunscrição dos parentes do chefe do executivo local. E, finalmente, a classificação quanto à fonte, que as dividem em constitucional e infra- constitucional: • Inelegibilidade constitucional: é aquela prevista diretamente no texto constitucional, tais como a inelegibilidade reflexa dos parentes do chefe do executivo; *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 10 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL • Inelegibilidade infraconstitucional: é aquela prevista em lei complementar, atualmente a LC n. 64/90. Aproveitando essa última classificação, vamos, didaticamente, dividir o estudo das inele- gibilidades em constitucionais e infraconstitucionais. 4. inelegibilidAdes ConstituCionAis A Constituição Federal enumera as seguintes hipóteses de inelegibilidade: • inalistabilidade; • analfabetismo; • terceiro mandato consecutivo para o mesmo cargo; • incompatibilidade com o cargo ocupado; • reflexa por parentesco. As inelegibilidades estabelecidas no art. 14, §§ 4º a 7º, da Constituição Federal serão es- tudadas no tópico seguinte. 4.1. inelegibilidAde dos inAlistáveis A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade está prevista no art. 14, § 4º, da CF/88 nos seguintes moldes: “Art. 14, § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos”. Nos termos do art. 14, § 2º, da CF/88, são inalistáveis os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Art. 14, § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Logo, pela dicção constitucional, incide a inelegibilidade sobre os estrangeiros, os cons- critos e os analfabetos. Trata-se de inelegibilidade absoluta. Assim, enquanto perdurar o status de inalistável, o indivíduo não poderá concorrer a qualquer cargo público. Não obstante à existência de previsão constitucional, a doutrina critica a ideia de que sobre os inalistáveis incide uma inelegibilidade. Segundo argumentam, esses indivíduos *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 11 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL não podem seque adquirir ou titularizar direitos políticos no Brasil. No outro vértice, a ine- legibilidade é uma causa impeditiva ao direito de ser votado, ou seja, daquele que, em tese, possui tais direitos. Assim, concluem não ser possível criar obstáculos ao exercício de tais direitos pelos inalistáveis, pois eles sequer os possuem. Asseveram tratar de uma previsão constitucional atécnica. Nesse sentido, José Jairo Gomes (2017, p. 207) consigna que: Impende registrar a falta de técnica da Constituição ao erigir o transcrito § 4º, pelo qual são ‘ine- legíveis os inalistáveis’. Inalistáveis são os estrangeiros e, durante o período de serviço militar obrigatório, os conscritos (CF, art. 14, § 2º). É assente que o alistamento eleitoral condiciona a própria cidadania. Enquanto o inalistável não apresenta capacidade eleitoral ativa nem passiva, o inelegível encontra-se privado da segunda. Assim, a tautológica dicção constitucional afirma ser inelegível aquele que, por ser inalistável, já não o seria de qualquer forma. Em relação aos analfabetos, vamos estudá-los em tópico próprio a seguir. 4.2. inelegibilidAde dos AnAlfAbetos Esta é a previsão contida no art. 14, § 4º, da CF/88, in verbis: “Art. 14. Omissis. § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos”. Pelo texto constitucional, o analfabeto não pode exercer a capacidade eleitoral passiva – ius honorum -, ou seja, não pode ser candidato. Entretanto, friso, a ele é facultado o exercício da capacidade eleitoral ativa – ius sufragii -, pois a CF/88 deixou ao seu arbítrio o alistamento e, uma vez alistado, o exercício do voto. Acerca da justificativa de tal restrição, Branco, Carvalhedo e Kalkmann (2017, p. 71) con- signam que: A restrição ao exercício de mandatos eletivos por analfabetos justifica-se em razão da necessida- de de conhecimento linguístico básico para bem gerir a coisa pública, visto que o Estado se organi- za em uma estrutura burocratizada. Assim, o candidato deverá ser capaz de exercer pessoalmente e com autonomia o mandato para o qual foi escolhido A grande discussão sobre esse tema repousa no conceito de analfabetismo para fins elei- torais. Para alguns, analfabeto é aquele que não sabe ler ou escrever, ou seja, que não domina noções básicas do idioma nacional, emface de uma exigência mínima de compreensão da escrita. É aquele, segundo esse entendimento, que nem sequer sabe escrever o próprio nome. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 12 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Para outros, o conceito de analfabetismo é mais abrangente e alcança os analfabetos funcionais ou os semialfabetizados, ou seja, aqueles que – mesmo sabendo escrever o nome e compreendendo algumas palavras – não possuem a capacidade, por exemplo, de ler, com- preender ou redigir um texto. Nessa acepção, seriam inelegíveis aqueles com severa dificul- dade de leitura e expressão escrita. Na visão de José Jairo Gomes (2017, p. 207-208), analfabeto é: Quem não domina um sistema escrito de linguagem, carecendo dos conhecimentos necessários para ler e escrever um texto simples em seu próprio idioma. Assim, a noção de analfabetismo prende-se ao domínio da escrita e da compreensão de textos, ainda que singelos. Por outro lado, o domínio de tal sistema em algum grau justifica o status de alfabetizado – ou, pelo menos, de semialfabetizado. A orientação da jurisprudência do TSE é no sentido de que candidatos semialfabetizados – que ao menos leiam e escrevam seus nomes ou algumas palavras e disponham de um dis- cernimento mínimo – podem ter o pedido de registro de candidatura deferido. A esse respeito, veja o seguinte julgado do TSE: Inelegibilidade. Analfabetismo. 1. A jurisprudência do Tribunal é pacífica no sentido de que as restrições que geram as inelegibilidades são de legalidade estrita, vedada a interpretação extensiva. 2. Essa orientação aplica-se, inclusive, quanto à configuração da inelegibilidade do art. 14, § 4º, da Constituição Federal, devendo ser exigido apenas que o candidato saiba ler e escrever, minimamente, de modo que se possa evidenciar eventual incapacidade abso- luta de incompreensão e expressão da língua. 3. Não é possível impor restrição de elegibilidade, por meio da utilização de critérios rigo- rosos para a aferição de alfabetismo. [...]” (AgR/REspe n. 4248-39/SE, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe de 4.9.2012). Essa concepção branda do conceito de analfabetismo está em consonância com o en- tendimento de que as causas de inelegibilidade, dentre as quais se inclui o analfabetismo previsto no art. 14, § 4º, da CF/1988, devem ser interpretadas restritivamente. A título de exemplo, o TSE admitiu a comprovação de alfabetização de candidato com deficiência visual por meio de declaração de escolaridade de próprio punho, firmada na presença *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 13 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL de servidor da Justiça Eleitoral. Acrescento que, por óbvio, não se exigiu do deficiente visual a formação em braile. Confira o julgado: 6. A aferição da alfabetização deve ser feita com o menor rigor possível. Sempre que o candidato possuir capacidade mínima de escrita e leitura, ainda que de forma rudimen- tar, não poderá ser considerado analfabeto para fins de incidência da inelegibilidade em questão. Precedentes. 8. No caso, o candidato, com deficiência visual adquirida, comprovou sua alfabetização por meio de declaração de escolaridade de próprio punho, firmada na presença de ser- vidor da Justiça Eleitoral. Ficou demonstrado, portanto, que possui capacidade mínima de leitura e escrita. 9. Não há que se exigir alfabetização em braille de candidato deficiente visual para fins de participação no pleito. Para promover o acesso das pessoas com deficiência aos cargos eletivos, deve–se aceitar e facilitar todos os meios, formas e formatos acessí- veis de comunicação, à escolha das pessoas com deficiência. (RO n. 0602475-18/SP, rel. Min. Luís Roberto Barroso, PSESS de 18.9.2018). Na linha da jurisprudência do TSE, a comprovação da condição de alfabetizado, a ser realizada nos autos do processo de registro de candidatura, deve ser feita, inicialmente, pela apresentação de comprovante escolar. Havendo dúvida acerca da veracidade do documento, o cidadão pode firmar declaração de próprio punho, na presença do juiz ou servidor da Justiça Eleitoral (REspe n. 36-91/ SE, rel. Min. Luiz Fux, DJe 2.6.2017). Neste caso, destaco, a declaração deve ser assinada na presença do juiz ou servidor da Justiça Eleitoral, sob pena de se tornar inservível para comprovação da condição de alfabetizado (REspe n. 81-53/PE, rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 23.10.2012). Esgotados os demais meios de prova e permanecendo ainda dúvida a respeito da con- dição de alfabetizado, o juiz eleitoral pode, se assim concordar o candidato, submetê-lo ao chamado “teste de alfabetização”. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 14 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Acerca desse meio hábil de prova, temos que não há padronização na forma de realização do teste. Aliás, recentemente, essa proposta foi rejeitada pelo TSE sob o fundamento, entre outros, de que: A própria realidade multifacetada da sociedade brasileira desaconselha que o analfa- betismo seja avaliado por critérios rígidos, abstratos e estanques (PA n. 513-71/GO, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 13.6.2018); O comparecimento do candidato para realizar o teste não é obrigatório, pois ele não está obrigado a produzir prova contra si. (REspe n. 2349-56/SP, rel. Min. Henrique Neves da Silva, PSESS de 23.9.2014). Deve ser feito em ambiente reservado que não exponha o candidato à situação vexató- ria, como, por exemplo, a realização de teste coletivo em ambiente público e de caráter solene (REspe n. 1088-31/PB, rel. Min. Gomes de Barros, PSESS de 17.8.2004). O essen- cial para a validade do teste e não trazer constrangimento para o candidato, razão pela qual ainda que o teste não seja coletivo, se houver o constrangimento do candidato, será considerado ilegítimo (AgR/REspe n. 24.343/BA, rel. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 11.10.2004). Ainda sobre os meios de prova, a jurisprudência do TSE firmou-se no sentido de ser, por si só, insuficiente para provar a condição de alfabetizado o exercício de mandato eletivo, nos termos da Súmula 15 do TSE. Súmula 15 do TSE O exercício de mandato eletivo não é circunstância capaz, por si só, de comprovar a con- dição de alfabetizado do candidato. De modo diverso, o TSE entende que a CNH gera presunção da condição de alfabetizado do candidato, tendo, inclusive, sumulado a matéria. Confira: Súmula 55 do TSE A Carteira Nacional de Habilitação gera a presunção da escolaridade necessária ao defe- rimento do registro de candidatura. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 15 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Branco, Carvalhedo e Kalkmann explicam que isso ocorre em razão das habilidades de ler e escrever serem requisitos para a obtenção da habilitação para conduzir veículo, conforme art. 140, II, do Código de Trânsito Brasileiro. 4.3. inelegibilidAde pArA o terCeiro MAndAto ConseCutivo no MesMo CArgo Em 1997, a EC n. 16 modificou a redação do art. 14, § 5º, da CF/88, e criou o instituto da reeleição no Brasil. Pela importância do dispositivo constitucional, transcrevo-o: Art. 14, § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefei- tos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 16, de 1997) Ao estabelecer a possibilidade de reeleiçãopara apenas um único período subsequente, o novo texto constitucional fixou, por uma interpretação lógica, a regra impeditiva do exercício do terceiro mandato no mesmo cargo para o chefe do Poder Executivo e seu vice. O artigo constitucional, adianto, não previu a necessidade de desincompatibilização/re- núncia dos ocupantes de cargos do Poder Executivo para concorrer à reeleição. 4.3.1. Reeleição: Justificativas O texto original do art. 14, § 5º, da CF/88, não previa a possibilidade de reeleição para os chefes do Poder Executivo. Ao contrário, em consonância com a ideia de temporalidade dos mandatos e a necessidade de alternância do titular da chefia do Poder Executivo, como consequência da adoção forma republicana de governar, afirmava expressamente que esses mandatários eram inelegíveis para os cargos ocupados no período subsequente. Todavia, sob o argumento de que o período de quatro anos era insuficiente para garantir a finalização de projetos relevantes para o país, o que acarretava, diante da possibilidade de mudanças abruptas na orientação ideológica do Governo, descontinuidade na Administração e enormes prejuízos financeiros e sociais para a população, o Congresso Nacional promulgou, em 1997, a EC n. 16, que alterou a redação do art. 14, § 5º, do texto constitucional. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 16 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL A nova redação do dispositivo constitucional, vigente até hoje, autoriza expressamente a possibilidade de reeleição dos chefes do Poder Executivo, mas, atendendo ao princípio repu- blicano, que impede a perpetuação no poder, apenas para um único período subsequente, nas três esferas de poder: municipal, estadual e federal. Nessa compreensão, a jurisprudência do TSE fixou entendimento de que o instituto da re- eleição veio para homenagear a continuidade administrativa e, restrito pelo texto constitucio- nal a um único período subsequente, atendeu também ao princípio republicano da alternância de poder. Confira: O instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa na condução do Executivo, razão pela qual a reeleição é permitida por apenas uma única vez. Portanto, ambos os princípios - continuidade administrativa e republicanismo - condicionam a interpretação e a aplicação teleológica do art. 14, § 5º, da Constituição. A reeleição, como condição de elegibilidade, somente estará presente nas hipóteses em que esses princípios forem igualmente contemplados e concretizados. Não se verificando as hipóteses de incidência desses princípios, fica proibida a reeleição. (REspe n. 109-75/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 14.12.2016). 4.3.2. Reeleição: Configuração A vedação ao terceiro mandato sucessivo, imposta pelo art. 14, § 5º, da CF/88, alcança, além dos titulares dos cargos, quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos. Os termos sucessão e substituição se distanciam conceitualmente. Para fins de incidên- cia da inelegibilidade do art. 14, § 5º, da CF/88, o TSE entende que na substituição ocorre o exercício temporário em decorrência de impedimento do titular, enquanto na sucessão a as- sunção é definitiva em virtude da vacância do cargo de titular. Assim: A sucessão tem contornos de definitividade e pressupõe a titularização do mandato pelo vice (único sucessor legal do titular), razão pela qual a sucessão qualifica-se como *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 17 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL exercício de um primeiro mandato, sendo facultado ao sucessor pleitear apenas uma nova eleição, seja qual for o período da sucessão (REspe n. 109-75/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 14.12.2016). Já a substituição tem sempre caráter transitório e pressupõe justamente o retorno do titular. Nesses casos, o TSE passou a entender que: O vice que não substituiu o titular dentro dos seis meses anteriores ao pleito poderá concorrer ao cargo deste, sendo-lhe facultada, ainda, a reeleição, por um único período (Cta n. 1.058/DF, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, julgada em 1º.6.2004). De outro modo, aquele que substituiu o titular nos seis meses antes da eleição, poderá candidatar-se, uma única vez, para o cargo ocupado, sendo certo que, por ficção jurídica, considera-se aquela substituição como se eleição fosse (REspe n. 109-75/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 14.12.2016). Situação bastante ilustrativa da diferenciação entre a substituição interina e sucessão definitiva ocorre nos casos de dupla vacância em que o presidente da Câmara assume in- terinamente o mandato de prefeito e, posteriormente, nas eleições suplementares, é eleito, assumindo definitivamente o cargo. Nesse caso, somente a assunção ao cargo decorrente da eleição suplementar – mandato tampão - é computada para fins de reeleição. Nesse sentido: O Presidente da Câmara dos Vereadores que desempenhara temporariamente o cargo de Prefeito em decorrência da vacância dos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito e que fora eleito, em eleições suplementares (“mandato-tampão”), à chefia do Poder Executivo municipal poderá concorrer ao mesmo cargo na eleição subsequente, porquanto a inte- rinidade do cargo não encerra primeiro mandato para fins de exame da inelegibilidade por motivo de reeleição, ante a exegese teleológica e sistemática do art. 14, § 5º, da Constituição da República. (Cta n. 125-37/DF, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 10.9.2015) Em um apanhado geral da jurisprudência, verifica-se que o exercício de mandato para fins de incidência do art. 14, § 5º, da CF/88 (reeleição), resta configurado independentemente de: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 18 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL • Cassação do mandato pela Justiça Eleitoral (REspe n. 23.404/PB); • Renúncia do cargo (Cta n. 994/DF). De igual modo, fica configurado o exercício de mandato para aquele que: • Sucedeu o titular no curso do mandato em caráter definitivo, notadamente nos casos de mandato tampão (Cta n. 23048/DF); • Substituiu ou sucedeu o titular nos últimos seis meses antes do pleito (REspe n. 109-75/MG). A contrário da regra que assenta a configuração de um mandato para aquele que subs- tituiu o chefe do Poder Executivo nos últimos seis meses antes do pleito, pode-se afirmar que, se essa substituição, de caráter transitório, ocorrer antes desse prazo fatal, não ficará configurado o desempenho de mandato autônomo para fins de reeleição. Essa é a pacífica jurisprudência do TSE: Consoante o disposto no art. 14, § 5º, da CF/88 e o entendimento do TSE e do STF acerca da matéria, eventual substituição do chefe do Poder Executivo pelo respectivo vice ocor- rida no curso do mandato e fora do período de seis meses anteriores ao pleito não con- figura o desempenho de mandato autônomo do cargo de prefeito. (REspe n. 70-55/BA, rel. Min. Nancy Andrighi, PSESS de 11.12.2012) 4.3.3. Alcance da Vedação ao Terceiro Mandato: Cargos do Poder Executivo O art. 14, § 5º da CF/88, que proíbe o detentor de mandato eletivo concorrer ao mesmo cargo por três mandatos consecutivos, aplica-se somente aos chefes do Poder Executivo. Essa norma constitucional proibitiva não alcança os membros do Poder Legislativo, razão pela qual os deputados federais, estaduais e distritais, os senadores e vereadores podem se reeleger por vários mandatos consecutivos. 4.3.4. Alcance da Vedação ao Terceiro Mandato: Mesmo Cargo e Períodos SucessivosA expressa autorização da reeleição para um único mandato subsequente conduz, por ób- vio, a conclusão de que não é possível concorrer a um terceiro mandato para o mesmo cargo, *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 19 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL incluindo nessa proibição tanto o chefe do Poder Executivo quanto o seu vice, ainda que este tenha exercido o mandato com prefeitos diferentes. Nesse sentido, a jurisprudência do TSE: Ao ocupante de dois mandatos consecutivos de vice-prefeito é vedado candidatar-se ao mesmo cargo no pleito seguinte, sob pena de restar configurado o exercício de três mandatos sucessivos. Tal vedação persiste ainda que, em cada um dos mandatos, o referido vice tenha exer- cido o cargo com prefeitos de diferentes chapas. (Cta n. 1557/DF, rel. Min. Felix Fischer, DJe de 15.4.2008). Obs.: � sublinho que a CF/88 impede apenas que haja o exercício de mais de dois mandatos consecutivos, mas não o exercício de vários mandatos intercalados. Ademais, a proibição é apenas para o mesmo cargo, conforme pacífica jurisprudência do TSE. Confira: 1. É vedado ao vice-prefeito reeleito se candidatar ao mesmo cargo, sob pena de restar configurado o exercício de três mandatos sucessivos. 2. Vice-prefeito reeleito pode se candidatar ao cargo de prefeito nas eleições seguintes ao segundo mandato. (Cta n. 1469/DF, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJ de 10.12.2007). Contudo, essa regra guarda uma exceção. No caso de o titular da chefia do Executivo já ter exercido dois mandatos sucessivos, fica vedada sua candidatura ao cargo de vice na eleição subsequente, uma vez que, na linha sucessória, poderia ocupar novamente a chefia do executivo (Cta n. 768/DF, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 19.7.2002). 4.3.5. Alcance da Vedação ao Terceiro Mandato: Parentes do Titular do Cargo Ao término do primeiro mandato, não há qualquer empecilho para que o próprio mandatá- rio concorra à reeleição. Também não há óbice que seu cônjuge ou parente consanguíneo ou *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 20 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL afim, até o segundo grau, suceda-o no cargo; mas, nesse caso, como veremos, o titular deve renunciar ao cargo antes dos seis meses da eleição. Não obstante, interpretando conjuntamente o art. 14, §§ 5º e 7º, da CF/88, é forçoso con- cluir que, ao término do segundo mandato consecutivo, nem o mandatário, nem seu cônjuge ou parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau, poderão, no pleito imediatamente subsequente, concorrer ao cargo por ele ocupado. Com efeito, a CF/1988 adota o princípio republicano e, consequentemente, impede a per- petuação de grupos familiares no poder e a patrimonialização ou privatização de cargos pú- blicos eletivos. Nessa esteira, veja o seguinte julgado do TSE: 1. O art. 14, §§ 5º e 7º, da Lei Fundamental, segundo a sua ratio essendi, destina-se a evitar que haja a perpetuação ad infinitum de uma mesma pessoa ou de um grupo fami- liar na chefia do Poder Executivo, de ordem a chancelar um (odioso) continuísmo fami- liar na gestão da coisa pública, amesquinhando diretamente o apanágio republicano de periodicidade ou temporariedade dos mandatos político-eletivos. 2. Os §§ 5º e 7º do art. 14 da CRFB/88, compõem a mesma equação legislativa, de vez que interligados umbilicalmente pela teleologia subjacente, de maneira que se faz necessária uma interpretação sistemática das disposições contidas nos §§ 5º e 7º do art. 14 da Constituição da República, no afã de (i) afastar a inelegibilidade do cônjuge e dos parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau, de Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal e de Prefeito, para o mesmo cargo, quando o titular for reelegível e (ii) estender para o cônjuge e os parentes con- sanguíneos ou afins, até o segundo grau, dos ocupantes dos cargos ora ventilados, a vedação do exercício de terceiro mandato consecutivo nos mesmos cargos dos titulares. (Cta n. 11726/DF, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 12.9.2016). 4.3.6. Prefeito Itinerante A expressão “prefeito itinerante” ou “prefeito profissional” é de origem jurisprudencial. O art. 14, § 5º, da CF/88 estabelece apenas que é vedado ao titular do mandato reeleito se candidatar para um terceiro mandato no mesmo cargo. Ao analisar o alcance desse disposi- tivo no RE n. 637485, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 01.08.2012, o STF, sob o regime da reper- cussão geral, firmou o entendimento de que sua escorreita interpretação torna inelegível para *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 21 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL o cargo de chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu dois mandatos consecutivos em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso. Assevera a Suprema Corte que essa interpretação seria necessária, à luz do princípio re- publicano, para impedir a perpetuação de uma mesma pessoa no poder, criando a figura do “prefeito itinerante”. No caso de prefeito, a vedação alcançaria municípios do próprio estado ou mesmo aqueles localizados em outro ente da Federação. Confira, no que interessa, a ementa do leading case: O instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpreta- ção e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez. O art. 14, § 5º, da Constituição, deve ser interpretado no sentido de que a proibição da segunda reeleição é absoluta e torna inelegível para determinado cargo de Chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu dois mandatos consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso. (RE n. 637485/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 20.5.2013) Essa vedação, contudo, não incide sobre o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do titular em segundo mandato, que queiram se candidatar em município diverso, ainda que seja próximo e nele o titular exerça influência política. É o que assentou o TSE ao apreciar, recentemente, o REspe n. 19257/AL. Confira, no que interessa, a ementa do julgado: A hipótese de inelegibilidade denominada “prefeito itinerante” ou “prefeito profissional”, reconhecida pelo STF (RE n. 637.485/RJ) e por esta Corte Superior, a partir da interpre- tação do ad. 14, § 5º, da CF, não fulmina o pedido de registro de candidatura do primeiro agravado, colateral em segundo grau do prefeito reeleito do Município de Nossa Senhora do Socorro/SE, cidade limítrofe com São Cristóvão/SE, pois a inelegibilidade reflexa ou em razão de parentesco prevista no ad. 14, § 70, da CF é restrita ao “território de jurisdi- ção do titular”. (REspe n. 22071/SE, rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 19.4.2017). *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 22 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Alerto, todavia, que o TSE, nesse mesmo julgado, reafirmou o entendimento fixado na Cta n. 1811-06/DF, no sentido de que a tese restritiva do “prefeito itinerante” se aplica ao côn- juge e parentes de prefeito reeleito, desde que se candidatem em município resultante de desmembramento, incorporação ou fusão realizada na legislatura imediatamente anteriorao pleito. Confira: Na linha da jurisprudência desta Corte Superior, cônjuge e parentes de prefeito reeleito são elegíveis em outra circunscrição eleitoral, ainda que em município vizinho, desde que este não resulte de desmembramento, incorporação ou fusão realizada na legisla- tura imediatamente anterior ao pleito. (REspe n. 22071/SE, rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 19.4.2017) 4.4. inelegibilidAde deCorrente dA inCoMpAtibilidAde CoM o CArgo oCupAdo Como já afirmamos, o art. 14, § 5º, da CF/88, com redação dada pela EC n. 16 de 1997, não previu a necessidade de desincompatibilização/renúncia dos ocupantes de cargos do Poder Executivo para concorrer à reeleição. De outro modo, quando os chefes do Poder Executivo desejarem se candidatar a cargo diverso do que ocupam, devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. É o que afirma o art. 14, § 6º, da CF/88: Art. 14, § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Es- tado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. Embora pareça desarrazoada que a renúncia seja exigida para concorrer a cargos diversos e desnecessária para concorrer ao cargo ocupado, o STF já decidiu pela constitucionalidade da norma. Confira: A EC 16/1997 não alterou a norma do § 6º do art. 14 da Constituição. Na aplicação do § 5º do art. 14 da Lei Maior, na redação atual, não cabe, entretanto, estender o disposto *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 23 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL no § 6º do mesmo artigo, que cuida de hipótese distinta. A exegese conferida ao § 5º do art. 14 da Constituição, na redação da EC 16/1997, ao não exigir desincompatibiliza- ção do titular para concorrer à reeleição, não ofende o art. 60, § 4º, IV, da Constituição, como pretende a inicial, com expressa referência ao art. 5º, § 2º, da Lei Maior. Não são invocáveis, na espécie, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, da isonomia ou do pluripartidarismo, para criar, por via exegética, cláusula restritiva da elegibilidade prevista no § 5º do art. 14 da Constituição, na redação da EC 16/1997, com a exigência de renúncia seis meses antes do pleito, não adotada pelo constituinte derivado. (ADI 1.805-MC, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 14/11/2003). Essa exigência de renunciar ao mandato até seis meses antes do pleito para concorrer a cargo diverso não alcança os que exerçam o cargo de vice, desde que estes não tenham subs- tituído o titular do mandato nos últimos seis meses anteriores ao pleito, consoante dispõe o art. 1º, § 2º, da LC n. 64/1990. No mesmo sentido, posiciona-se a jurisprudência do TSE. Confira: Ademais, a teor do art. 1º, § 2º, da LC 64/90, “o Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular”. (REspe n. 78-66/MA, rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 31.10.2017). Contudo, se o vice se tornar titular do mandato e desejar ser eleito para outro cargo, inclusive para o próprio cargo que ocupava – o de vice -, deverá renunciar ao mandato que ocupa até seis meses antes do pleito, para afastar a inelegibilidade (Cta n. 1179/DF, rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 13.3.2006). Por fim, recentemente, o TSE decidiu que esse prazo de renúncia pode ser mitigado no cenário excepcional em que ocorrem as eleições suplementares (RO n. 86-33/TO, rel. Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, PSESS de 29.5.2018). 4.5. inelegibilidAde reflexA ou por pArentesCo O art. 14, § 7º, da CF/88 estabelece que: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 24 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Art. 14, § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consan- guíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição O dispositivo constitucional traz à lume a chamada inelegibilidade reflexa ou por paren- tesco, cujo objetivo, segundo Jorge, Liberato e Rodrigues (2017, p. 122), visa: (i) evitar que o chefe do executivo beneficie seus parentes e seu cônjuge ou companheiro, usando a máquina administrativa em favor destes, em agressão frontal à democracia, e (ii) impedir que grupos familiares se perpetuem no poder. Pelo texto constitucional, são inelegíveis para os cargos de chefe do Poder Executivo (Pre- feito, Governador e Presidente da República), bem como para qualquer outro cargo eletivo no território de jurisdição do titular do mandato, os parentes consanguíneos ou afins em linhas reta ou colateral, até o segundo grau ou adoção, mais especificamente: • Cônjuge; • Parentes consanguíneos – pai, mãe, filhos, irmãos, avós, netos; • Parentes afins, ou seja, originados de vínculo matrimonial – sogro, genro, nora, cunha- do, sogro-avô, sogra-avó, genro-neto, nora-neta; Tendo como parâmetro a jurisdição do titular para aferir o alcance da vedação constitu- cional, os parentes do prefeito são inelegíveis no município em que este é o titular do manda- to, os do Governador, no respectivo estado da Federação que governa e os do Presidente, em todo país, conforme já decidiu o TSE. Confira: O art. 14, § 7º, da CR, abarca a hipótese de candidatura ao cargo de Vereador, quando o candidato é parente (cônjuge e parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção) do Presidente da República. (REspe n. 29730/SP, rel. Min. Félix Fischer, PSESS de 18.9.2008). No mesmo sentido: Eleições 2012. Registro de candidatura. Recurso Especial. Inelegibilidade. Art. 14, § 7º, da Constituição Federal. Governador. Filha. Candidata. Vereador. Indeferimento. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 25 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL - Se o município estiver em área de jurisdição do governador, incide a causa de inelegibi- lidade do § 7º do art. 14 da Constituição Federal. (REspe n. 63220/RS, rel. Min. Henrique Neves da Silva, DJe de 22.3.2013). Destaco que o TSE já assentou que os afins dos cônjuges não são afins entre si. Assim, a título de exemplo, é possível concunhado de prefeito, ainda que este não tenha se desincom- patibilizado nos seis meses anteriores ao pleito, ser candidato à chefia do Poder Executivo (Cta n. 1561/DF, rel. Min. Caputo Bastos, DJ de 15.5.2008). Branco, Carvalhedo e Kalkmann (2017, p. 37) nos lembram que essa inelegibilidade é ex- tensível aos que vivem em união estável ou em concubinato: A jurisprudência do TSE é uníssona em considerar a inelegibilidade extensível aos companheiros, àqueles que vivem em convivência marital de união estável, notadamente ante seu conhecimento como entidade familiar pela Constituição Federal (art. 226, § 3º) e pelo Código Civil (art. 1,723, § 1º). O entendimento se aplica ainda ao concubinato (art. 1.727 do Código Civil) e às uniões homo- afetivas, considerando os fins da norma. Nos termos da Súmula Vinculante n. 18, a dissolução desse vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade do art. 14, § 7º, da CF/88. Confira: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal. Por essa jurisprudência consolidada, impede-seque ex-cônjuges de chefes do Poder Exe- cutivo possam participar do pleito imediatamente posterior quando a ruptura do vínculo pa- rental se desfaça no curso do mandato. Esse entendimento jurisprudencial foi adotado para evitar que eventuais simulações de extinção de vínculos matrimoniais ou decorrentes de uniões estáveis sejam levadas a efeito com a única finalidade de afastar a aplicação da inelegibilidade reflexa. Não obstante seja essa a regra, o STF decidiu, no RE n. 758461, que, se a dissolução do vínculo conjugal ocorrer em decorrência da morte de um dos cônjuges, não incide sobre o sobrevivente a inelegibilidade por parentesco. Confira: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 26 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL O que orientou a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a preocupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade conjugal seja utilizada como mecanismo de burla à norma da inelegibilidade reflexa prevista no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula a extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges. (RE n. 758461/PB, rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 29.10.2014). Em julgado recente, o TSE afirmou que, ocorrendo a morte do chefe do Poder Executivo, ainda que em segundo mandato, não há falar sequer em terceiro mandato, caso o cônjuge se lance candidato, pois este fato evidencia o rompimento do continuísmo do grupo familiar no poder. Confira: ELEIÇÕES 2016. AGRAVOS INTERNOS. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. DEFERIDO. CARGO. PREFEITO. ART. 14, §§ 5º E 7º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CANDIDATA CÔNJUGE DE PREFEITO REELEITO FALECIDO NO CURSO DO SEGUNDO MANDATO. DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL POR MORTE AFASTA INCIDÊNCIA DA INELEGIBILIDADE REFLEXA SOBRE O CÔNJUGE SUPÉRSTITE. ENTEN- DIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (RE N. 758461/PB). INELEGIBILIDADE NÃO INCIDENTE. AGRAVOS DESPROVIDOS. a) extrai-se da moldura fática do aresto regional que o cônjuge da candidata Recorrida desempenhou mandato de prefeito do Município de Santana do Manhuaçu/MG referente ao quadriênio 2009-2012 e se sagrou reeleito em 2012, assumindo seu segundo man- dato na chefia do Poder Executivo Municipal de 2013 a 16.2.2015, data em que faleceu; b) à luz da orientação jurisprudencial da Suprema Corte, entendo que, no caso concreto, não incide sobre a candidata a inelegibilidade prevista no art. 14, §§ 5º e 7º, da Consti- tuição da República, uma vez que a dissolução do seu vínculo conjugal com o mandatá- rio do Executivo municipal deu-se em virtude do falecimento deste, no curso do segundo mandato, cerca de mais de um ano e meio antes do pleito eleitoral de 2016, fato este que evidencia o rompimento do continuísmo do grupo familiar no poder; (REspe n. 177-20/ MG, rel. Min. Luiz Fux, DJe de 2.2.2018). A inelegibilidade reflexa alcança também sujeitos de uma relação homossexual, como já decidiu pelo TSE. Nesse sentido: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 27 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Os sujeitos de uma relação homossexual, à semelhança do que ocorre com os de relação estável, de concubinato e de casamento, submetem-se à regra de inelegibilidade pre- vista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal. (REspe n. 24564, rel. Min. Gilmar Mendes, PSESS de 1º.10.2004). A análise dos requisitos para incidência da inelegibilidade por parentesco é objetiva. As- sim, descabe a justificativa de notória inimizade entre os parentes com o fito de afastá-la. Nesse sentido: - A norma do art. 14, § 7º, da Constituição Federal, que versa hipótese de inelegibili- dade por parentesco, alcança, além do cônjuge, os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do titular do cargo e daquele que o tenha substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. - A alegação de notória inimizade pessoal e política não afasta a causa da inelegibili- dade em questão, decorrente, in casu, de parentesco de segundo grau por afinidade. O preceito constitucional em tela deve ser aplicado mediante exame estritamente objetivo dos casos concretos. (RO n. 592/MA, rel. Min. Barros Monteiro, PSESS de 25.9.2002). De igual modo, a jurisprudência do TSE já fixou entendimento de que a inelegibilidade do § 7º do art. 14 da CF/88 não alcança parente de vice que não tenha substituído o titular nos últimos seis meses do curso do mandato (AgR/REspe n 31-61/PE, rel. Dias Toffoli, PSESS de 13.12.2012). De forma expressa na parte final do dispositivo constitucional, a norma também afasta do seu campo de incidência situações em que o cônjuge ou parente seja titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Essa situação é bastante interessante e merece uma hipótese didática: Exemplo: imagine, por hipótese, que nas eleições 2012, Maria, cônjuge de José, tenha sido eleita vereadora no Município Campina Grande/PB no Estado da Paraíba. Em 2014, José, seu cônjuge, foi eleito Governador do Estado. Em 2016, Maria, mesmo sendo esposa do atual Governador, apresenta sua candidatura à reeleição ao cargo de vereadora – mesmo cargo *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 28 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL - no Município Campina Grande/PB. Pela regra geral, Maria estaria inelegível, pois a circuns- crição do cargo exercido por seu marido, Governador, alcança todo o Estado. Porém, consi- derando que Maria está pleiteando sua reeleição, o juiz eleitoral deve deferir seu registro de candidatura, com base na exceção contida na parte final do art. 14, § 7º, da CF/88. Para finalizar esta matéria, podemos afirmar que, se o cônjuge ou parente da chefia do executivo no primeiro mandato desejar se lançar candidato a qualquer cargo na circunscri- ção, inclusive ao chefe do executivo, será necessário que o titular do mandato (chefe do Poder Executivo) renuncie ao cargo antes dos seis meses da eleição, sob pena de incidir sobre o candidato a inelegibilidade reflexa ou por parentesco, prevista no art. 14, § 7º, da CF/88. Essa regra também se aplica para os parentes do vice que tenha substituído o titular nos últimos seis meses do mandato. Confira um precedente: Aplicação da inelegibilidade constitucional reflexa ainda que o mandatário seja reele- gível. O cunhado de prefeito é inelegível ao cargo de vereador, na mesma circunscrição, salvo se o titular se afastar do cargo 6 (seis) meses antes do pleito. Precedentes. (REspe n. 142-42/MG, rel. Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJe de 12.8.2019). Se o titular da chefia do Poder Executivo estiver no segundo mandato, a renúncia do titular do mandato antes dos seis meses da eleição não produzirá efeito algum, caso os parentes queiram se candidatar ao cargo por ele ocupado, pois, se permitido, estaria caracterizado o terceiro mandato, o que é vedado pelo art. 14, § 5º, da CF/88. Nesta situação, caso queiram se candidatar a outros cargos, a renúncia do titular do mandato continua obrigatória. Com isso, finalizamos o estudo das inelegibilidades constitucionais. Agora, vamos come- çar a estudar as inelegibilidades de natureza infraconstitucionais, instituídas por lei comple- mentar mediante autorização do art. 14, § 9º, da CF/88. Vamos lá! 5. inelegibilidAdes infrAConstituCionAis A criação de inelegibilidades infraconstitucionais está autorizada pelo art. 14, § 9º, da CF/88, que transcrevemos: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 29 de89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Art. 14, § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na adminis- tração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994) A autorização constitucional se dirige especificamente à edição de lei complementar, não sendo permitido a criação de inelegibilidades, como já dissemos nesta aula, por lei ordinária, lei delegada, medida provisória, decreto, resolução ou resolução do TSE (REspe n. 25107/SP, rel. Min. Gomes de Barros, DJ de 12.8.2005). Antes da edição da lei complementar regulamentadora do art. 14, § 9º, da CF/88, o TSE se deparou com questionamentos acerca da sua auto aplicabilidade. Na análise da questão, o Tribunal decidiu tratar-se de norma de eficácia limitada, a exigir, portanto, lei específica para produzir seus efeitos – Súmula 13 do TSE -, razão pela qual, nos lembra Branco, Carvalhedo e Kalkmann (2017, p. 64): Definiu que os registros de candidatura, à época, somente poderiam ser indeferidos com funda- mento nas hipóteses expressamente previstas em lei complementar como causa de inelegibilida- de, não se admitindo a análise judicial da vida pregressa do candidato para considerá-lo inelegível enquanto não editada lei sobre a matéria. Esse entendimento foi confirmado pelo STF na ADPF 144, na qual se decidiu ser inviável negar o registro de candidatura com fundamento na vida pregressa do candidato, sem que houvesse o trânsito em julgado, na Justiça Comum, das acusações a ele imputadas. Não obstante já existisse a Lei Complementar n. 64/90 – Lei das Inelegibilidades -, esse diploma normativo, por ser anterior à Emenda à Constituição n. 4 de Revisão, não cuidava da proteção dos princípios instituídos no art. 14, § 9º, da CF/88. Somente com a edição da LC n. 135/2010, mais conhecida como Lei da Ficha Limpa, que alterou profundamente o LC n. 64/90, o artigo constitucional foi regulamentado, passando a incluir hipóteses de inelegibilidade especificamente dirigidas a proteger os bens jurídicos nele versados. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 30 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL 5.1. A CriAção de inelegibilidAdes e o prinCípio dA AnuAlidAde O princípio da anualidade eleitoral, hospedado no art. 16 da CF/88, prevê que qualquer lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Com a edição da LC n. 135, de 4.6.2010, criando hipóteses de inelegibilidade, o STF foi instado a se manifestar sobre a incidência da nova legislação às eleições de 2010, uma vez que tinha sido editada dentro do ano eleitoral. Contrariando diversas decisões do TSE, a Corte Suprema decidiu que a criação de hipóteses de inelegibilidade altera o processo eleitoral e determinou a não aplicação do normativo às eleições daquele ano, com base na vedação do princípio da anualidade, previsto no art. 16 da CF/88. Confira o leading case: A LC 135/2010 interferiu numa fase específica do processo eleitoral, qualificada na jurisprudência como a fase pré-eleitoral, que se inicia com a escolha e a apresentação das candidaturas pelos partidos políticos e vai até o registro das candidaturas na Jus- tiça Eleitoral. Essa fase não pode ser delimitada temporalmente entre os dias 10 e 30 de junho (atualmente, entre os dias 20 de julho a 5 de agosto), no qual ocorrem as con- venções partidárias, pois o processo político de escolha de candidaturas é muito mais complexo e tem início com a própria filiação partidária do candidato, em outubro do ano anterior. A fase pré-eleitoral de que trata a jurisprudência desta Corte não coincide com as datas de realização das convenções partidárias. Ela começa muito antes, com a pró- pria filiação partidária e a fixação de domicílio eleitoral dos candidatos, assim como o registro dos partidos no Tribunal Superior Eleitoral. A competição eleitoral se inicia exa- tamente um ano antes da data das eleições e, nesse interregno, o art. 16 da Constitui- ção exige que qualquer modificação nas regras do jogo não terá eficácia imediata para o pleito em curso. (RE n. 633703/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 17.11.2011). 5.2. A ApliCAção retroAtivA dA lC n. 135/2010 A Lei da “Ficha Limpa” é compatível com a Constituição e pode ser aplicada a atos e fatos ocorridos anteriormente à edição da LC 135/2010. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 31 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Essa foi a conclusão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar, de forma conjun- ta, procedente pedido formulado em duas ações declaratórias – ADC n. 29 e n. 30 – e impro- cedente o pedido da ADI n. 4578. Pela importância do julgado, peço permissão para descrever, com base da ementa do julgado, os principais fundamentos do acórdão: • A elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complemen- tar n. 135/10 com a consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retro- atividade vedada pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição, cuja redação prevê que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; • Não é violado pela Lei Complementar n. 135/10 o princípio constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pressuposto de sua aplicabilidade concernente na existência de consenso básico, que tenha inserido na consciência jurídica geral a extensão da presunção de inocência para o âmbito eleitoral; • O direito político passivo (ius honorum) é possível de ser restringido pela lei nas hipó- teses que, in casu, não podem ser consideradas arbitrárias, porquanto se adequam à exigência constitucional da razoabilidade, revelando elevadíssima carga de reprovabili- dade social, sob os enfoques da violação à moralidade ou denotativos de improbidade, de abuso de poder econômico ou de poder político; • O princípio da proporcionalidade resta prestigiado pela Lei Complementar n. 135/10, na medida em que: (i) atende aos fins moralizadores a que se destina; (ii) estabelece re- quisitos qualificados de inelegibilidade e (iii) impõe sacrifício à liberdade individual de candidatar-se a cargo público eletivo que não supera os benefícios socialmente dese- jados em termos de moralidade e probidade para o exercício de referido munus público; • A Lei Complementar n. 135/10 também não fere o núcleo essencial dos direitos políti- cos, na medida em que estabelece restrições temporárias aos direitos políticos passi- vos, sem prejuízo das situações políticas ativas; • O cognominado desacordo moral razoável impõe o prestígio da manifestação legítima do legislador democraticamente eleito acerca do conceito jurídico indeterminado de vida pregressa, constante do art. 14, § 9º, da Constituição Federal. Aqui ressalto que desacordo moral razoável tem origem na ausência de consenso sobre uma questão polêmica cujos argumentos contrapostos decorrem de uma conclusão racional; *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 32 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL• Ausência de inconstitucionalidade na cumulação entre a inelegibilidade e a suspensão de direitos políticos. 5.3. vinCulAção dAs Hipóteses de inelegibilidAde Ao Artigo 14, § 9º, dA Cf/88 Embora a instituição de novas hipóteses de inelegibilidades possa ser obra do legislador, ele não pode criá-las ao seu bel prazer. Em sua gênese, ele deve observar os exatos ditames do disposto no art. 14, § 9º, da CF/88, cuja redação remete à vinculação das novas hipóteses ao desiderato de proteger: [...] a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregres- sa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econô- mico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Em suma, as causas infraconstitucionais de inelegibilidade apontam para a proteção dos seguintes princípios constitucionais: • Princípio da probidade administrativa – Princípio previsto no art. 37, caput, da CF, cujo teor impõe ao administrador vincular sua atuação nos exatos ditames da moral e da ética administrativa, sobretudo por estar sob sua batuta a res pública. Em homenagem a esse princípio constitucional, o legislador capitulou, como hipótese de inelegibilidade, a desaprovação das contas do gestor público, nos termos do art. 1º, inc. I, alínea ‘g’, da Lei Complementar n. 64/1990; • Princípio da moralidade para o exercício de mandato eletivo, considerada a vida pre- gressa – Na linha defendida por esse princípio, o exercício de cargo público exige do cidadão: lisura, moralidade, responsabilidade, honestidade em suas relações privadas e com o Poder Público. Esses requisitos são levados a efeito no registro de candidatura por meio de certidões de diversos órgãos públicos, inclusive da própria Justiça Eleitoral. • Logo, se o candidato tiver “ficha limpa”, poderá, não existindo outro empecilho, partici- par do pleito; se, por sua vez, o candidato for “ficha suja”, dele estará excluído. Exemplo bastante ilustrativo de norma afeta a essa matéria, revela-se no disposto no art. 1º, I, e, da LC n. 64/1990, cuja redação assenta a inelegibilidade: *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 33 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL [...] para qualquer cargo daqueles que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes nela previstos. • Princípio da normalidade e legitimidade das eleições – As eleições devem refletir a vontade popular, e os instrumentos que possam manipular a vontade do eleitor devem ser coibidos. Como prática violadora da normalidade e da legitimidade das eleições, tem-se o abuso de poder econômico e abuso no exercício de cargo, emprego ou função pública, também denominado de abuso de poder político. A esse respeito, o legislador previu, no art. 1º, I, d, da LC n. 64/90, a inelegibilidade daqueles que: [...] tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes. Apresentados os aspectos gerais sobre as inelegibilidades infraconstitucionais, vamos agora estudar, com detalhes, cada uma das inelegibilidades da LC n. 64/90. 5.4. inelegibilidAdes dA lC n. 64/90 Antes de iniciarmos o estudo detalhado de cada uma das inelegibilidades da LC n. 64/90, cumpre informar que as inelegibilidades dispostas no art. 1º, alíneas a até q, são de natureza absoluta, ou seja, impedem o candidato de concorrer a qualquer cargo, seja municipal, esta- dual, federal ou presidencial. Feita essa observação, vamos a elas! 5.4.1. Inelegibilidades dos Inalistáveis e dos Analfabetos - Alínea a O art. 1º, inciso I, alínea a, da LC n. 64/1990 repete a disposição contida no art. 14, § 4º, da Constituição Federal. Esta é a disposição referida: “ Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: a) os inalistáveis e os analfabetos; ”. Trata-se da inelegibilidade dos inalistáveis e analfabetos já analisada no tópico “Inele- gibilidades Constitucionais”, motivo pelo qual não vamos aqui renovar o estudo. Caso ainda tenha dúvida neste ponto, releia o tópico mencionado. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 34 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL 5.4.2. Inelegibilidade Decorrente da Perda de Mandato de Membros do Po- der Legislativo - Alínea b O art. 1º, inciso I, alínea b, da LC n. 64/1990, dispõe: Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargos: b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de man- dato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura. O art. 55 da CF/88 estabelece que: Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; Pelo inciso I do artigo 55 da CF/88, a inelegibilidade é aplicável aos membros do Poder Legislativo Federal que infringirem qualquer das proibições estabelecidas no art. 54 da CF/88, que transcrevo (aqui não adianta, tem que decorar): Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: I – desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o con- trato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades constantes da alínea anterior; II – desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contra- to com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso I, “a”; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, “a”; d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo. Pela segunda hipótese – inciso II -, a inelegibilidade decorre da perda do cargo por infrin- gência do decoro parlamentar. *** https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 35 de 89https://www.facebook.com/groups/2095402907430691 Weslei Machado e Marco Carvalhedo Inelegibilidades I DIREITO ELEITORAL Ressalto que essa inelegibilidade alcança os vereadores e deputados estaduais cassados por infringência a dispositivos equivalentes sobre perda de mandato nas Constituições Esta- duais e Leis Orgânicas dos municípios e do Distrito Federal. Nesse sentido: Direto do STF ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDI- DATURA AO CARGO DE VEREADOR. INDEFERIMENTO PELA CORTE REGIONAL, POR INCI- DÊNCIA DA CAUSA DE INELEGIBILIDADE PREVISTA NA ALÍNEA “B” DO INCISO I DO ART. 1º DA LC 64/90. ATOS DE IMPROBIDADE E OFENSA À DIGNIDADE E AO DECORO PARLA- MENTARES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 3. Não socorre o recorrente o argumento
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