Buscar

Aula 1 - Introdução ao Direito Eleitoral

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CPVI – Aula 1					25
Introdução ao Direito Eleitoral
	Legislação para Prova
· LC 64/90 (Lei das Inelegibilidades),
· Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos), 
· Lei 9.504/97 (Lei das Eleições[footnoteRef:1]) [1: Até a promulgação da Lei 9.504/97 prevalecia, no Brasil, o casuísmo, com a edição de leis específicas para cada eleição, criadas de acordo com os interesses daqueles que se encontravam no poder, e não o respeito a uma lei geral para todas as eleições. A referida lei estabeleceu normas gerais aplicáveis a todas eleições, permitindo o desenvolvimento de uma doutrina eleitoral e consolidação de uma jurisprudência.] 
· Código Eleitoral (Lei 4.737/65).
1) Introdução:
- Conceitos de Direito Eleitoral:
· Fávila Ribeiro: “Ramo do Direito que dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental”.
· Joel José Cândido: “Ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos políticos e as eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do Estado”.
· Marcos Ramayana: “É um ramo do Direito Público que disciplina as capacidades de votar e de ser votado, as regras sobre as eleições e o voto”. 
- Pode-se dizer, também, que o Direito Eleitoral forma um microssistema jurídico, composto de normas de caráter material e processual, de naturezas civil, administrativa e criminal.
	Questão: Um Senador foi eleito (senador = mandato de 8 anos), firmou um contrato com o seu Suplente no Registro de Títulos e Documentos, compactuando que ficaria 4 anos no mandato e, após, o Suplente assumiria. Mas o Senador, passado esse prazo, não saiu do mandato. O Suplente ingressou na Justiça pedindo o cumprimento do que fora acordado.
Resposta: Não pode haver acordo sobre o sistema eleitoral, pois haveria quebra da própria vontade popular. Esse acordo não tem validade, pois existem normas de ordem pública que tutelam a soberania popular. É pedido juridicamente impossível, carência de ação (no NCPC é improcedência). Já no mérito, poderia se alegar que as eleições encontram-se fora do comércio, e que vivemos em um Estado Democrático de Direito.
- Objeto: O objeto do Direito Eleitoral é a normatização de todo o chamado “processo eleitoral”, que se inicia com o alistamento do eleitor e a consequente distribuições do corpo eleitoral e se encerra com a diplomação dos eleitos. Neste ínterim, estão compreendidos atos relativos à organização das eleições, registro de candidatos, campanha eleitoral, votação, apuração e proclamação dos resultados.
- Objetivo: O Direito Eleitoral tem como objetivo a garantia da normalidade (consonância do resultado apurado nas urnas com a vontade soberana expressa pelo eleitorado) e da legitimidade (reconhecimento de um resultado justo, de acordo com a vontade soberana do eleitor) do procedimento eleitoral (que abrange as eleições e as consultas populares – plebiscito e referendo).
- Competência Legislativa: A competência privativa para legislar sobre Direito Eleitoral é da União, conforme art. 22, I, CRFB.
Obs.: Poder Regulamentar da Justiça Eleitoral: Dentre as peculiaridades da Justiça Eleitoral, a exemplo da própria configuração dos seus órgãos jurisdicionais, de natureza híbrida e sem quadro próprio de carreira, uma sempre se destacou, por ser alvo de muita polêmica: falamos do poder regulamentar, instituído pelo Código Eleitoral e reafirmado na Lei n°. 9.504/97, a partir do qual o legislador concedeu ao próprio Poder Judiciário, e não ao Executivo, como tradicionalmente ocorre, a prerrogativa de densificar o conteúdo das normas gerais e abstratas produzidas pelo Poder Legislativo.
Muito embora as limitações ao poder regulamentar exercido pelo Executivo, em matérias gerais, sejam razoavelmente evidenciadas pela doutrina e pela jurisprudência, no âmbito da matéria eleitoral tais limites sempre foram polemizados, a partir do questionamento, sempre presente, acerca da possibilidade ou não, de criação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, de resoluções desvinculadas da lei, geradoras de sanções e restrições de direitos distintas daquelas previstas nas normas jurídicas produzidas pelo Poder Legislativo. 
Neste diapasão, assim dispunha o artigo 105 da Lei n°. 9.504/97, até o mês de setembro de 2009, quando foi publicada a recente reforma eleitoral: “Até o dia 05 de março do ano da eleição, o TSE expedirá todas as instruções necessárias à execução desta leio, ouvidos previamente, em audiência pública, os delegados dos partidos participantes do pleito”.
Com a nova redação do citado artigo 105, estabelecida pela Lei n°. 12.034/09, buscou o legislador esclarecer quais seriam, então, os limites do referido poder normativo da Justiça Eleitoral, encerrando a antiga polêmica. Dessa forma, dispõe o novo dispositivo legal: “Art. 105. Até o dia 05 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos”.
Como se observa, deixou claro, o legislador, que o poder regulamentar da Justiça Eleitoral é limitado, não podendo estabelecer restrições a direitos sem embasamento legal.
1.1) Princípios:
· Princípio da Lisura das Eleições (art. 23, LC 64/90): Tal princípio, respaldado na busca da verdade real, possibilita que o juiz produza provas de ofício, no processo eleitoral, a fim de formar seu convencimento.
Obs.: Porém, segundo a Súmula 18 do TSE, “Conquanto investido de poder de polícia, não tem legitimidade o juiz eleitoral para, de ofício, instaurar procedimento com a finalidade de impor multa pela veiculação de propaganda eleitoral em desacordo com a Lei 9.504/97”.
· Princípio do Aproveitamento do Voto (art. 176 e 224 CE): O juiz deverá abster-se de pronunciar nulidades sem prejuízo (in dubio pro voto), de forma a valorizar a legitimidade da soberania popular.
- Assim, em uma eleição proporcional, o voto dado a candidato inexistente, mas que permite a identificação do partido, deve ser validado como voto de legenda. 
- Ademais, segundo o TSE (AC 665), para os fins do art. 224, CE, a validade da votação, na eleição majoritária, não é aferida sobre o total de votos apurados, mas leva em consideração tão somente o percentual de votos dados aos candidatos desse pleito, excluindo-se, portanto, os votos brancos e nulos, por expressa disposição do art. 77, §2º, CRFB. Neste sentido, não se somam aos votos nulos derivados da manifestação apolítica dos eleitores aqueles nulos em decorrência do indeferimento do registro de candidatos, de modo que a validade da votação seja aferida tendo em conta apenas os votos atribuídos efetivamente a candidatos e não sobre o total de votos apurados. Em outras palavras, o art. 224, CE, não se aplica quando, voluntariamente, mais da metade dos eleitores decidirem anular o voto ou votar em branco, preservando, assim, a validade da eleição, mas apenas quando a nulidade dos votos do candidato mais votado, com maioria absoluta, ocorrer após o pleito. Empossar o segundo colocado, nesta hipótese, seria privilegiar a vontade da minoria em detrimento da maioria.
· Princípio da Celeridade (art. 97-A, Lei 9.504/97): A garantia da legitimidade do exercício da soberania popular depende da celeridade da Justiça Eleitoral, uma vez que o processo eleitoral, como um todo, ocorre em menos de 6 meses, contados do registro das candidaturas até a diplomação. Assim, os prazos recursais, no processo eleitoral, são exíguos. Assim, o art. 97-A, Lei 9.504, determina que considera-se duração razoável do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo o período máximo de 1 (um) ano, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral.
- Nota-se que o legislador buscou evitar quepolíticos eleitos irregularmente possam continuar a exercer mandato eletivo por tempo demasiado, enquanto aguardo decisão transitada em julgado que acarrete a perda do mandato.
· Princípio da Anualidade / Anterioridade (art. 16, CRFB): De acordo com o art. 16, CRFB, a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data da sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 ano da data da sua vigência, estabelecendo o princípio da anualidade eleitoral, que busca preservar a segurança jurídica, evitando-se que as normas eleitorais sejam modificados faltando menos de 1 ano e 1 dia para as eleições, prejudicando o equilíbrio da disputa, com a mudança das regras do jogo. Ressalte-se que o princípio da anualidade não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às eleições que se realizem até um ano da data de sua vigência.
- Há divergência sobre o que seria “processo eleitoral” tratado no dispositivo. Sobre o tema, o STF, na ADI 354, ao analisar a alteração dos art. 176 e 177, CE, entendeu que tal matéria não envolve o “processo eleitoral”. Quanto à vigência da Lei da Ficha Limpa, apesar de o TSE ter entendido que a aplicação imediata da nova lei feria o princípio da anualidade, o STF (RE 631.102[footnoteRef:2] e 633.703 – Informativo 620/STF) determinou o afastamento da incidência da LC 135/2010 às eleições ocorridas em 2010 e as anteriores, bem como para os mandatos em curso, sob pena de violar o art. 16, CRFB, assegurando a anterioridade eleitoral e a garantia do devido processo legal eleitoral, e preservando a segurança jurídica. Afirma-se que a aplicação do art. 16, como direito fundamental, caracteriza-se como verdadeira cláusula pétrea (Ver quadro no final do item 4.3.a). [2: Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de modo que o mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.] 
- Assim, o entendimento que prevalece no STF e TSE é de que tal princípio visa evitar a desigualdade e a deformidade nas eleições. Na visão dos tribunais, só haveria comprometimento do princípio da anualidade quando viesse a ocorrer o rompimento de igualdade de participação de partidos e candidatos no processo eleitoral, afetando a normalidade das eleições. As normas que tenham caráter meramente instrumental, auxiliares do processo, que não venham a causar desequilíbrio nas eleições, não são abrangidas pelo princípio.
Obs.: Segundo o STF (ADI 4.298 e 4.309 – Informativo 562/STF), lei definindo regras para a hipótese de eleição indireta não deve observar o art. 16, já que não se trata de lei materialmente eleitoral, mas de matéria político-administrativa que demandaria típica decisão do poder geral de autogoverno.
· Princípio Moralidade Eleitoral (art. 14, §9º, CRFB): Questiona-se se tal dispositivo teria ou não auto-aplicabilidade, de modo a se permitir, na análise da vida pregressa do candidato, o indeferimento do registro de candidatura de quem esteja respondendo a processos criminais sem que tenha havido trânsito em julgado, ou de indignos e imorais. No TSE, prevalece o entendimento de que a vida pregressa do candidato só pode ser considerada para efeito de inelegibilidade quando lei complementar assim estabelecer – norma de eficácia limitada, por demandar lei complementar sobre a matéria para produzir seus plenos efeitos (não havendo trânsito em julgado ou lei complementar prevendo caso de inelegibilidade, deverá prevalecer o princípio da presunção de inocência). Nesse sentido, foi editada a Súmula 13 do TSE, dispondo que não é auto-aplicável o § 9º, art. 14, CRFB.
- Assim, segundo o TSE, ficou definido que o registro de candidatura somente pode ser indeferido com fundamento nas hipóteses expressamente previstas em lei complementar como causas de inelegibilidade, não se admitindo a análise judicial da vida pregressa do candidato para considerá-lo inelegível enquanto não editada lei sobre a matéria.
- Não obstante a garantia da presunção de não culpabilidade, a norma do art. 14, §9º, CRFB, autoriza restringir o direito fundamental à elegibilidade, em reverência aos postulados da moralidade e da probidade administrativa. Com base nisso, foi editada LC 135 (Lei da Ficha Limpa), incluindo hipótese de inelegibilidade sem o trânsito em julgado da condenação.
· Princípio da Imediaticidade do Sufrágio (art. 14, caput, CRFB): O voto deve resultar imediatamente da vontade do eleito, sem intermediários.
· Princípio da Igualdade: Com base neste princípio, o STF (ADI 4.650) entendeu que os dispositivos legais que autorizam as contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são inconstitucionais (as contribuições de pessoas físicas são válidas), pois são incompatíveis com o regime democrática e com a cidadania, já que a participação de pessoas jurídicas apenas encarece o processo eleitoral, sem oferecer, como contrapartida, a melhora e o aperfeiçoamento do debate. Esse aumento dos custos de campanhas não é acompanhado do aprimoramento do processo político, com a veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos. Assim, a excessiva participação do poder econômico no processo político desequilibra a competição eleitoral e viola a igualdade política entre candidatos.
- Assim, o STF declarou inconstitucionais:
· O art. 23, §1º, I e II; o art. 24; e o art. 81, “caput” e § 1º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), que tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas, no ponto em que cuidam de doações por pessoas jurídicas.
· O art. 31; o art. 38, III; o art. 39, “caput” e § 5º, da Lei nº 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos), que regulam a forma e os limites em que serão efetivadas as doações aos partidos políticos, também exclusivamente no que diz respeito às doações feitas por pessoas jurídicas.
2) Democracia:
- A democracia é condição basilar para a existência material do Direito Eleitoral. Fora da democracia podem, até mesmo, existir normas eleitorais regendo eleições, plebiscitos e referendos, mas não persiste o objetivo maior desse ramo do Direito que é, como já ressaltado, a garantia da normalidade e da legitimidade do exercício do poder de sufrágio popular (poder inerente ao povo de tomar decisões, determinando prioridades e ações no âmbito público).
- Conceito de Democracia:
· Abraham Lincoln: “É o governo do povo, pelo povo e para o povo”. O governo do povo representa a soberania popular (quem titulariza o poder é o povo). O governo pelo povo traduz a representação popular (nem sempre o poder será exercido pelo, podendo ser executado pelos seus representados). O governo para o povo traduz o objeto finalístico da democracia, que é a proteção dos direitos fundamentais. 
	Governo do Povo
	Governo para o Povo
	Governo pelo Povo
	Soberania Popular
	Objeto Finalístico
	Representação Popular
	Soberania popular significa que este é titularizado sempre pelo povo.
	A democracia se destinará à proteção dos direitos fundamentais.
	Nesses caso o exercício do poder político nem sempre será exercido pelo povo, podendo ser executado pelos seus representantes.
· Robert Dahl: “Regime político fundamentado na ampla participação popular, na igualdade política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo”.
- O autor indica 5 critérios fundamentais para a caracterização de um regime democrático: 1) Participação efetiva de todos os membros da comunidade, que devem ter oportunidades iguais e efetivas para expressar suas opiniões; 2) A igualdade de voto, seguindo a lógica de que todas as pessoas devem ter o mesmo valor e importância em um processo democrático; 3) O entendimento esclarecido, a partir do qual a consciência cidadã deverá ser despertada; 4) O controle do programa de planejamento, segundo o qual os membros da comunidade devem ter a oportunidade de decidir as prioridades políticas e ter acesso, de forma transparente, a informações acerca do orçamento público; 5) A inclusão de adultos, fundamentada na concepção desufrágio universal, de forma a evitar exclusões despropositadas de pessoas do processo político.
- Portanto, a partir dos 5 critérios de Robert Dahl, pode-se compreender a democracia como “um regime político, fundamentado na ampla participação popular, na igualdade política, na transparência e no desenvolvimento do espírito crítico do povo.
· Giovanni Sartori: “A democracia não deve ser vista como um conceito formal e estático. O ideal democrático não define a realidade democrática e vice-versa, uma democracia legítima não é, não pode ser, igual a uma democracia ideal”. Assim, para o autor, criticando a visão estática de Robert Dahl, a democracia deve ser estudada como um processo, em constante evolução e aprimoramento, para o qual todos devem contribuir, em busca do respeito à diversidade, às particularidades individuais, às minorias, à liberdade de opinião, sexual e de crença e a igualdade. 
- Portanto, o pressuposto de que o indivíduo singular, como pessoa moral e racional, é o melhor juiz do seu próprio interesse, é o grande trunfo do regime político democrático.
- Espécies:
1. Democracia Direta: Caracteriza-se pelo exercício do poder popular sem a presença de intermediários, ou seja, o povo exerce por si só o poder, sem intermediários, sem representantes (Ex.: Democracia de Atenas – apenas homens livres).
2. Democracia Indireta / Representativa: Marcado pela pouca atuação efetiva do povo no poder, uma vez que a este cabe apenas escolher, através do exercício do sufrágio, seus representantes políticos, de forma periódica. Assim, o povo, soberano, elege representantes, outorgando-lhes poderes, para que, em nome deles e para o povo, governem o país (Ex.: Se desenvolveu na Revolução Francesa, relacionada aos interesses elitistas da nova classe dominante de distanciar o povo do exercício do poder – ideologia de dominação em favor da classe burguesa).
3. Democracia Semidireta / Participativa: Modelo dominante no mundo contemporâneo, caracterizado pela preservação da representação política, aliada a meios de participação direta do povo no exercício do poder soberano do Estado. É, portanto, um sistema híbrido, sendo uma democracia representativa, com peculiaridades e atributos da democracia direta. Assim, o povo exerce a soberania popular, não só elegendo representantes políticos[footnoteRef:3], mas também participando de forma direta da vida política do Estado, através de institutos da democracia participativa (plebiscito, referendo e iniciativa popular de lei). [3: No Brasil o povo escolhe seus representantes por eleição, em uma democracia partidária (não se admite candidato que não seja filiado a partido político). Porém, não se admite que o militar tenha filiação partidária. Assim, a filiação partidária, enquanto condição de elegibilidade, para o militar é mitigada. O militar terá o registro da candidatura sem filiação partidária num primeiro momento, mas tem que ter um atestado de um partido de que depois de eleito irá para a inatividade (art. 14, §8º, I e II, CRFB).] 
- Este foi o modelo adotado pela CRFB (art. 1º, § único, e art. 14), na qual prevê a participação popular no poder por intermédio de um processo, de modo que o exercício da soberania se instrumentaliza por meio do plebiscito, referendo, iniciativa popular, e ação popular, ente outros.
Obs.: As formas de participação direta do povo que estão no art. 14, CRFB não são as únicas. Portanto, o rol do art.14 não é taxativo. Existem ao longo do texto constitucional outras formas de participação direta, como a Ação Popular (art. 5º, LXXIII, CRFB), Iniciativa popular de leis no âmbito municipal e estadual (art. 29, XIII; e art. 27, §4º, CRFB); Audiência Pública[footnoteRef:4] (art. 58, §2º, II, CRFB), e Participação do Povo na Administração Pública (art. 37, §3º, CRFB). [4: Esta não vincula o órgão ou o poder que a realizou.] 
3) Institutos da Democracia Participativa:
- Inicialmente, o art. 1º, § único, CRFB, distingue a titularidade de exercício do poder. O titular do poder é o povo. Porém, como regra, o exercício desse poder dá-se através dos seus representantes. Porém, além de desempenhar o poder de maneira indireta (Democracia Representativa), o povo também o realiza diretamente (Democracia Direta), concretizando a soberania popular, conforme os incisos do art. 14, CRFB, regulamentado pelo art. 1º, da Lei 9.709/98, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular. Esses meios são chamados de Institutos da Democracia Participativa.
- Plebiscito e Referendo (art. 14, I e II, CRFB): De acordo com o art. 2º, caput, Lei 9.709/98, formas de consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.
- O Plebiscito é uma consulta prévia, devendo ser convocado com anterioridade ao ato legislativo ou administrativo (que, caso seja aprovado o plebiscito, será posteriormente discutido pelo Poder Legislativo), cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido (art. 2º, §1º, lei 9.709/98). Neste sentido fica o governante condicionado ao que for deliberado pelo povo (Ex.: Art. 2º, ADCT – escolha da forma e sistema de governo[footnoteRef:5]). Convocado o plebiscito, o projeto legislativo ou medida administrativa não efetivada, cujas matérias constituam objeto da consulta popular, terá sustada sua tramitação, até que o resultado das urnas seja proclamado (ar.t 9º, Lei 9.709/98). [5: No referido plebiscito o voto seguiu a regra da obrigatoriedade, conforme art. 3º da Lei 8.6245/1993] 
- O Referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição (art. 2º, §2º, Lei 9.709/98), ou seja, há uma consulta posterior sobre determinado ato governamental, para ratificá-lo (concedendo-lhe eficácia – condição suspensiva) ou para retirar-lhe eficácia (condição resolutiva). Portanto, primeiro se tem o ato legislativo ou administrativo, para, só então, submetê-lo à apreciação do povo (Ex.: Referendo previsto art. 35, §1º, da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), organizado pelo TSE, na qual previa a manifestação do eleitorado sobre a manutenção ou rejeição da proibição da comercialização de armas de fogo e munição em todo o território nacional). A convocação deverá ser no prazo de 30 dias do ato a ser consultado (art. 11, Lei 9.709).
- Em ambas hipóteses o voto também será obrigatório, com base no art. 14, §1º, CRFB. Será considerado aprovado ou rejeitado por voto da maioria simples (art. 10, Lei 9.709).
- De acordo com o art. 3º da Lei 9.709/98, nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do art. 18, §3º, CRFB, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legislativo, por proposta de 1/3, no mínimo, dos membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional. Assim, a competência de autorizar referendo e convocar plebiscito, conforme art. 49, XV, CRFB, é exclusiva do Congresso Nacional, que se materializará por meio de decreto legislativo. Após, o presidente do Congresso Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos limites de sua circunscrição, fixar a data da consulta popular, tornar pública cédula respectiva, expedir instruções para a realização da consulta, dentre outros atos (art. 8º, Lei 9.709).
- Discute-se sobre a possibilidade do resultado de plebiscito ou referendo ser modificado por lei ou emenda à Constituição. De acordo com Lenza, tal lei seria flagrantemente inconstitucional, uma vez que houve manifestação da vontade popular, que passa a ser vinculante. Assim, considera-se que haveria violação ao art. 1º, § único, da CRFB. Neste sentido, pode-se concluir que a democracia direta prevalece sobre a democracia representativa, de modo que a única forma de modificar a vontade popular seria mediante nova consulta.
- Iniciativa Popular (art. 14, III, CRFB): Trata-se de tema que é disciplinado no art. 13 da Lei 9.709/97, que, em âmbito federal, significa a possibilidadede apresentação de projeto (o povo não tem a capacidade de legislar diretamente) à Câmara dos Deputados (a tramitação se inicia na Câmara), subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos 5 Estados com não menos de 0,3% de eleitores de cada um deles, conforme dispõe o art. 61, §2º, CRFB.
- De acordo com o art. 13, §1º e §2º, Lei 9.709, o projeto de lei deverá circunscrever-se a um só assunto, e não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados providenciar a correção de eventuais impropriedades.
	Recall e Veto Popular
- Tratam-se de institutos de democracia semidireta, que não foram adotados pela CRFB/88.
- O Recall, que possui origem nos EUA, é um mecanismo de revogação popular do mandato eletivo (Ex.: não cumprimento de promessa de campanha). José Afonso da Silva denomina de revogação popular, definindo-o como um “instituto de natureza política, pelo qual os eleitores, pela via eleitoral, podem revocar mandatos populares”.
- O Veto Popular é o instrumento pelo qual o povo poderia vetar projetos de lei, podendo arquivá-los, mesmo contra a vontade do parlamento. Teria efeito sobre os projetos de lei tramitando no Congresso.
4) Conceitos Básicos:
- Soberania Popular: Conforme Uadi Lammêgo Bulos, é a qualidade máxima do poder extraída da soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de escolher os seus representantes no governo por meio de sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário.
- Nacionalidade: É o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações.
Obs.: Tanto os brasileiros natos, como os naturalizados, deverão, nos termos da lei, exercer direitos políticos (sufrágio). Assim, a aquisição da capacidade política (alistamento) é obrigatória inclusive para os brasileiros naturalizados (desde que não se amolde no rol do art. 14, §1º, II, CRFB). Vale destacar que, segundo o art. 12, §2º, CRFB, a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo os previstos na Constituição (Ex.: Art. 12, §3º).
- Cidadania: Tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania – todo cidadão é um nacional, mas nem todo nacional é um cidadão), caracterizando como a titularidade de direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão, portanto, é o nacional que goza de direitos políticos, e possui o direito de votar (jus sufragi) e de ser votado (jus honorum). Com a aquisição da Capacidade Política do indivíduo, torna-se cidadão.
- Segundo Fávila Ribeiro, a Capacidade Política é a “aptidão pública reconhecida, pela ordem jurídica, ao indivíduo para integrar o poder de sufrágio nacional, adquirindo a cidadania e ficando habilitado a exercê-la”.
- Alistamento: É procedimento administrativo eleitoral, pelo qual se qualificam e se inscrevem os eleitores, ou seja, se habilita, perante a Justiça Eleitoral, como eleitor e sujeito de direitos políticos, conquistando a capacidade eleitoral ativa. Considera-se a primeira etapa do processo eleitoral. É com este ato que se adquire a capacidade eleitoral ativa, e é um pressuposto da própria cidadania (José Jairo Gomes). A base legal do alistamento eleitoral é o art. 42 a 81 do CE, Lei 7.444/85, e Res. TSE nº 21.538/03. As modalidades de alistamento eleitoral são: Obrigatório, Facultativo, Inalistabilidade.
Obs.: Aquele que está no gozo dos direitos políticos, no Brasil, habilita-se, com o alistamento eleitoral, a participar de eleições e consultas populares, promover ação popular, ingressar com projeto de iniciativa popular de lei, ser nomeado para cargos públicos, etc.
- Sufrágio: Para Paulo Bonavides, o sufrágio é o “poder que se reconhece a certo número de pessoas (corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública”. É uma manifestação da soberania popular. É o direito político em si considerado (segundo muitos autores, o poder de sufrágio traduz o direito político). É o direito de participação da vida política de uma nação. É o direito de votar e ser votado. Trata-se da capacidade eleitoral ativa (direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade) e capacidade eleitoral passiva[footnoteRef:6] (direito de ser votado, elegibilidade). [6: O jus sufragi é o direito de votar (que depende de alistabilidade), e o jus honorum é o direito de ser eleito (que pressupõe elegibilidade)] 
- Em uma democracia participativa, como a brasileira, o poder de sufrágio é exercido através do voto, instrumento de materialização do sufrágio manifestado nas eleições e nas consultas populares, bem como por outros meios de participação direta do povo na formação da vontade política do Estado, como a iniciativa popular de lei.
- Voto: É o ato por meio do qual se exercita o sufrágio (instrumento do sufrágio). De acordo com Alexandre de Moraes, o voto possui natureza de direito público subjetivo, possuindo também função política e social de soberania popular na democracia representativa. Ademais, para muitos se caracteriza como um dever.
- Vale destacar que o Sufrágio é um direito abstrato, já o Voto é um direito concreto. O Sufrágio é o poder inerente ao povo de participar da gerência da vida pública. O Voto é o exercício do sufrágio, ou seja, instrumento para a materialização deste poder.
- Escrutínio: É o modo, maneira, forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto), ou seja, o seu procedimento.
4.1) Espécies de Sufrágio:
- Sufrágio Universal: Caracteriza-se pela concessão genérica da cidadania, sem qualquer tipo de discriminação, salvo certas limitações, desde que razoáveis e proporcionais, como a vedação a que uma criança vote. No Brasil, de acordo com o art. 14, caput, CRFB, o Sufrágio é Universal.
-Objetivamente, diz-se que todo sufrágio tem alguma espécie de restrição, não existindo sociedade que defira o exercício pleno do poder de sufrágio a todos os seus cidadãos. Porém, isso, por si só, não pode-nos levar a concluir que todo sufrágio é restrito, pois a distinção entre sufrágio universal e restrito não advém do fato de existirem restrições ao exercício do poder democrático, mas a razoabilidade, ou não, de tais restrições (Ex.: Restrição para que menores de 16 anos não possam votar – é uma restrição razoável, e, portanto, não retira o caráter universal do sufrágio no Brasil) (Ex.: Impedir mulher de exercer o sufrágio – Não é razoável, e, se presente, torna o sufrágio restrito).
- Sufrágio Restrito: Caracteriza-se pela concessão restrita da cidadania a determinados grupos sociais. Existem as seguintes formas de sufrágio restrito:
- Sufrágio Plural: Um mesmo indivíduo tem o poder de exercer, mais de uma vez, o direito ao voto em um determinado processo eleitoral, fazendo com que o seu poder de sufrágio seja mais do que o de outros cidadãos.
- Sufrágio Singular: Prevalece a lógica de Rousseau, segundo a qual, na democracia, cada homem deve corresponder a um único voto. No Brasil, de acordo com o art. 14, caput, CRFB, o Sufrágio é Singular.
4.2) Direito Político Positivo (Direito de Sufrágio):
- Um dos núcleos dos direitos políticos é o direito de sufrágio, que se divide, como visto, em capacidade eleitoral passiva e ativa.
- A capacidade eleitoral passiva (elegibilidade), que nada mais é que a possibilidade de eleger-se, concorrendo a um mandato eletivo, apenas se torna absoluto caso preencha todas as condições de elegibilidade para o cargo ao qual se candidata e, ainda, não incidir em nenhum dos impedimentos constitucionalmente previstos (direitos políticos negativos). As condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, §3º (ler[footnoteRef:7] - cai em prova). Em relação à idade mínima, de acordo com a Res. 22.156/TSE, esta é verificada por referência a data da posse (salvo quando fixada em 18 anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o pedido de registro – art. 11, §2º, Lei 9.504). [7: Vale notar queo estrangeiro naturalizado pode candidatar-se ao Senado Federal ou Deputado Federal, apenas não podendo ser eleito presidente daquelas Casas (art. 12, §3º, II e III).] 
- Na capacidade eleitoral ativa, o exercício do sufrágio se dá, dentre outras formas, pelo voto, que pressupõe alistamento eleitoral (título eleitoral[footnoteRef:8]), nacionalidade brasileira, idade mínima de 16 anos, e não ser conscrito[footnoteRef:9] durante o serviço militar obrigatório, conforme art. 14, §1º e §2º. [8: Conforme o STF decidiu em medida cautelar na ADI 4.467, não há necessidade de dupla identificação do eleitor, por ferir a proporcionalidade e razoabilidade. Assim, basta apresentar documento oficial com foto para exercício da capacidade eleitoral ativa. O mérito se encontra pendente.] [9: São aqueles que estão prestando serviço militar obrigatório.] 
- Obrigatoriedade de Voto: De acordo com o art. 14, §1º, I, CRFB, o voto é obrigatório para os maiores de 18 e menores de 70 anos. Fora de tal faixa, o voto é facultativo. 
- Voto do deficiente físico: De acordo com o art. 1º e § único da Resolução 21.920/2004, o voto é obrigatório para o deficiente físico, porém não estará sujeita a sanção a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao alistamento e ao exercício do voto. Assim, o deficiente, a priori, é obrigado a votar, mas pode pedir a dispensa, desde que fundamentada. Na visão de Gilmar Mendes, o voto para o deficiente deve ser facultativo.
- Características do Voto: O voto é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e com valor igual para todos. Vale lembrar que o constituinte originário elevou à categoria de cláusula pétrea tais características, conforme art. 60, §4º, II.
Obs.1: O voto indireto, no entanto, é possível excepcionalmente, em caso de vacância concomitante dos cargos de prefeito e vice-prefeito ou governador e vice-governador, ou ainda presidente e vice-presidente da República, nos últimos dois anos de mandato, casos em que a Constituição determina a realização de eleições indiretas para os cargos vagos, a fim de que sejam completados os mandatos vagos (art. 81, §1º, CRFB).
Obs.2: A obrigatoriedade do voto não é cláusula pétrea no Brasil.
· Direto: O cidadão vota diretamente no candidato, sem qualquer intermediário. Para José Afonso da Silva, tal regra é absoluta e não possui exceções. Contudo, para Alexandre de Moraes e Lenza, excepcionalmente, é possível eleição indireta no Brasil, conforme art. 81, §1º (vagar os cargos de Presidente e Vice nos últimos 2 anos do mandato), na qual a eleição para ambos os cargos será feita pelo Congresso Nacional.
· Secreto: Não se dá publicidade da opção do eleitor, mantendo-se absoluto sigilo[footnoteRef:10]. O sigilo do voto é garantido, no Brasil, através da inviolabilidade do emprego de urnas que assegurem a inviolabilidade do sufrágio (art. 61, lei 9.504/97), bem como pelo isolamento do eleitor em cabine indevassável. [10: De acordo com o STF (ADI 1.057-MC), as deliberações parlamentares devem pautar-se pelo princípio da publicidade, a traduzir dogma do regime constitucional democrático. Neste sentido, o art. 14, CRFB, tem por destinatário específico e exclusivo o eleitor comum, no exercício das prerrogativas inerentes ao satus activae civitatis, não se aplicando tal norma de garantia ao membro do Poder Legislativo nos procedimentos de votação parlamentar. Neste, prevalece o postulado da deliberação ostensiva ou aberta.] 
· Universal: Seu exercício não está ligado a nenhuma condição discriminatória (Sufrágio Universal), como aquelas de ordem econômica (ter ou não certa renda - censitário), intelectual (ser ou não alfabetizado – capacitário), etc. O voto no Brasil, portanto, não é restrito.
· Periódico: A democracia representativa prevê e exige mandatos por prazo determinado. Tal garantia está prevista no art. 60, §4º, de modo que a democracia representativa exige a existência de mandatos com prazo determinado.
· Livre: A escolhe pode dar-se por um ou outro candidato, podendo também anular ou votar em branco. A obrigatoriedade está em comparecer às urnas apenas (e tal característica não é inerente a todos os eleitores – art. 14, §1º, II, CRFB). Neste sentido, fala-se em “obrigatoriedade de formal comparecimento” (Alexandre de Moraes).
· Personalidade / Personalíssimo: É vedada a votação por procurador, de modo que o voto deve ser exercido pessoalmente pelo cidadão.
· Igualitário: Decorre do princípio one mano ne vote, de forma que o voto deve ter valor igual para todos (Sufrágio Singular).
4.3) Direitos Políticos Negativos:
- Trata-se de formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como o impedindo de eleger um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou ser eleito (capacidade eleitoral passiva). Neste ponto, abordaremos as inelegibilidades, a perda e a suspensão dos direitos políticos.
4.3.a) Inelegibilidades:
	Distinção de Conceitos
· Elegibilidade: É a capacidade eleitoral passiva, consistente na possibilidade de o cidadão pleitear determinados mandatos políticos, mediante eleição popular.
· Condições de Elegibilidade: São requisitos positivos a serem preenchidos por aquele que pretende concorrer a cargos públicos eletivos. São verdadeiras condições de registrabilidade, ou seja, pressupostos ao registro de candidatura, cuja ausência acarretará a inexistência do direito a registrar (Adriano Soares da Costa). Estão, em grande parte, descritas no art. 14, §3º, CRFB.
· Causas de Inelegibilidade: Para Adriano Soares da Costa (minoritário), trata-se da “outra face da moeda em relação às condições de elegibilidade”. Porém, prevalece o entendimento (STF e TSE – Teoria Clássica) de que não se confundem, sendo estes impedimentos que, se não afastados por quem preencha os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam concorrer às eleições, ou, se supervenientes ao registro, servem de fundamento à impugnação de sua diplomação, se eleito. Assim, segundo esta visão, para que alguém seja eleito, precisa preencher pressupostos (requisito positivo – Condições de Elegibilidade) e não incidir em impedimentos (requisito negativo – Causas de Inelegibilidade).
- Seguindo o entendimento do STF (Teoria Clássica), portanto, a hipótese do art. 1º, I, g, LC 64/90, por exemplo, não é uma condição de elegibilidade, pois não está prevista na CRFB (art. 14, §3º), mas sim uma hipótese de inelegibilidade.
- As causas de inelegibilidade só implicam restrições à capacidade eleitoral passiva (concorrer às eleições).
- As situações de inelegibilidade, além das previstas diretamente da constituição (art. 14, §4º ao §8º, CRFB), só podem derivar de norma inscrita em lei complementar (art. 14. §9º).
- Para Adriano Soares da Costa (minoritário), como as causas de inelegibilidade são apenas um outro lado da moeda das condições de elegibilidade, as causas de elegibilidade previstas no art. 14, §3º, CRFB, exigiriam lei complementar para regulamentar o dispositivo (art. 14, §9º, CRFB), o que transformaria o art. 9º da Lei 9.504 em inconstitucional.
- Porém, para o entendimento dominante no STF e TSE (Teoria Clássica), embora o art. 9º, Lei 9.504/97 seja tratado por uma lei ordinária, coaduna-se com a CRFB, uma vez que, segundo a referida teoria, trata o citado dispositivo legal de condições de elegibilidade, previstas no art. 14, §3º, CRFB, e não de hipóteses de inelegibilidade, previstas no art. 14, §9º.
	Perguntas da Prova Oral do MPSP sobre Elegibilidade
O que é condição de elegibilidade? – Está relacionado com a capacidade eleitoral passiva, e não se confunde com as “causas de inelegibilidade”. 
Segundo os seguidores da chamada "Teoria Clássica", doutrina majoritária no estudo das condições de elegibilidade e das causas de inelegibilidade, tem elegibilidade aquele que reúne as condições fixadas na lei (aspecto positivo) e não incorre nas causas de inelegibilidade (aspectonegativo). Neste sentido, comunga Edson de Resende Castro (2008, p. 146-148), para quem "elegibilidade é a capacidade eleitoral passiva, consistente na possibilidade de o cidadão pleitear determinados mandatos políticos, mediante eleição popular. (. .. ) Condições de elegibilidade são requisitos positivos a serem preenchidos por aquele que pretende concorrer a cargos públicos eletivos". 
Assim, prevalece, na doutrina nacional, a concepção clássica, que entende que os pressupostos de elegibilidade são requisitos que se devem preencher para que se possa concorrer às eleições. ( ... ) Já as inelegibilidades são impedimentos que, se não afastados por quem preencha os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam concorrer a eleições, ou - se supervenientes ao registro ou se de natureza constitucional - servem de fundamento à impugnação de sua diplomação, se eleito. Portanto, para que alguém possa ser eleito precisa preencher pressupostos (requisito positivo) e não incidir em impedimentos (requisito negativo). 
Onde estão previstas? – As condições de elegibilidade são exigências constitucionais (art. 14, §3º, CRFB), que podem ser especificadas na forma da lei. Não se confunde com as causas de inelegibilidade, que, conforme art. 14, §9º, CRFB, é possível que Lei Complementar estabeleça outros casos de inelegibilidade além dos previstos na CRFB (art. 14, §4º e §7º, CRFB), como exemplo a LC 64/90.
	Assim, a doutrina afirma que as condições de elegibilidade infraconstitucionais podem encher o conceito daquelas condições de elegibilidade constitucionais. O conceito de domicílio eleitoral, por exemplo, é estipulado por norma do Código Eleitoral de 1965, que foi recepcionada pela atual Carta. A mudança dos elementos que componham o conceito de domicílio eleitoral pode ser feita por lei ordinária, nada obstante sem desvirtuar significações mínimas assumidas pela Constituição e presentes na comunidade do discurso. O mesmo ocorre com o conceito de filiação partidária, que já foi por homologação da Justiça Eleitoral e passou a ser ato interno do partido político, apenas noticiado à Justiça Eleitoral nas datas determinadas por lei. O prazo mínimo para um e outra é legal: cumpre a lei fixar as condições de elegibilidade, não podendo haver delegação para outro instrumento, muito menos para atos negociais.
Quais as condições previstas na CRFB? - Seguindo a Teoria Clássica, abraçada pelo Supremo Tribunal Federal, podemos apontar as seguintes condições de elegibilidade, previstas no artigo 14, § 3° da Constituição Federal de 1988: 1) a nacionalidade brasileira; 2) o pleno exercício dos direitos políticos; 3) o alistamento eleitoral; 4) o domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação partidária; 5) e a idade mínima de 35 anos para presidente, vice-presidente da república e senador, 30 anos para governador e vice-governador de estado e do Distrito Federal, 21 anos para deputado federal, deputado estadual ou distrital, prefeito, vice-prefeito e juiz de paz; e dezoito anos para vereador.
Natureza do Rol – São condições de registrabilidade em rol taxativo, que podem ser especificadas por lei.
- São as circunstâncias (constitucionais ou legais) quem impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva (eleger-se). Não deve ser confundido com a inalistabilidade (impede o exercício da capacidade eleitoral ativa) e a incompatibilidade (já eleito, impede-se o exercício do mandato).
- De acordo com o art. 14, §9º, as inelegibilidades protegem a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerando a vida pregressa do candidato e a normalidade e legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
	Classificação das Inelegibilidades
As inelegibilidades decorrem, na maioria das vezes, da prática de atos ilícitos. Estas são as chamadas inelegibilidades sanção / cominadas. Estas se subdividem em:
· Simples: Quando válidas para uma única eleição, sem repercussão em futuros pleitos;
· Potenciadas: Quando tornam inelegível o eleitor para eleições futuras;
Existem situações, entretanto, em que a inelegibilidade não é resultante da prática de atos ilícitos, mas sim previstas para preservar o equilíbrio, normalidade e legitimidade nas disputas eleitorais e a moralidade administrativa (Ex.: Causas de inelegibilidade decorrentes de parentesco ou exercício de determinados cargos). Estas são denominadas inelegibilidades inatas.
- As causas de inelegibilidade estão previstas no §4º ao §8º do art. 14, normas estas que independem de regulamentação infraconstitucional (normas de eficácia plena e imediata), e em lei complementar, que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade, conforme §9º. As inelegibilidades se dividem em absolutas e relativas:
- Inelegibilidade Absoluta: Trata-se de impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo, taxativamente previsto na CRFB. Trata-se das hipóteses previstas no art. 14, §4º, abordando os inalistáveis[footnoteRef:11] (previstos no §2º - estrangeiros[footnoteRef:12], conscritos) e os analfabetos (este tem direito a se alistar, podendo votar, mas não possui capacidade eleitoral passiva) (Sobre o caso “Tiririca” – ver pág. 233 do Livro – Justiça Eleitoral admite como elegível o “analfabeto funcional” – Ver Súmulas 15 e 55, TSE). [11: Vale lembrar que o alistamento eleitoral é indiscutível condição de elegibilidade (art. 14, §3º, III, CRFB).] [12: Conforme José Afonso da Silva, os estrangeiros não adquirem direitos políticos, que só são atribuídos a brasileiros natos e naturalizados. Não são, portanto, alistáveis eleitores, nem podem votar ou serem votados (art. 14, §2º).] 
Obs.: A doutrina ainda insere os menores de 16 anos (ressaltando que, em ano eleitoral, menores de 15 anos de idade podem se alistar eleitores, desde que, na data da eleição já tenham completado 16 anos), e aqueles que tiveram seus direitos políticos perdidos ou suspensos (art. 15, CRFB) no rol dos inalistáveis.
- Inelegibilidade Relativa: Trata-se de impedimento eleitoral para algum cargo eletivo ou mandato, em decorrência de situação prevista na CRFB ou Lei Complementar. Mas podem eleger para outros cargos sobre os quais não recaia inelegibilidade. Trata-se das hipóteses em decorrência da função exercida, parentesco, ser militar, outras situações previstas em lei complementar (art. 14, §9º).
Obs.: As inelegibilidades constitucionais podem ser arguidas mesmo após o prazo para o ajuizamento da AIRC (art. 3º, LC 64), ao contrário das inelegibilidades infraconstitucionais.
- Inelegibilidade relativa em razão da função exercida (motivos funcionais) para um terceiro mandato sucessivo (art. 14, §5º): Os chefes do poder executivo e quem os houver sucedida ou substituído no curso do mandato não pode ser reeleito para um terceiro mandato sucessivo[footnoteRef:13]. A regra trazida pela EC 16/67 permite a reeleição por um único período subsequente. Contudo, se permite que, após o intervalo de uma legislatura, se candidate para um terceiro mandato não sucessivo. [13: Pode ser eleito para um terceiro mandato, desde que não seja sucessivo.] 
Obs.: Atualmente, o entendimento do TSE é no sentido de que o vice-presidente, o vice-governador e o vice-prefeito não podem exercer tais cargos por 3 vezes consecutivas (Res. 22.529/07/TSE).
- De acordo com a Res. n. 20.889/01/TSE, sobre o questionamento se os vices podem ser candidatos à sucessão do titular reeleito (este não pode mais ser candidato a um terceiro mandato sucessivo), abordando a lógica do art. 14, §5º[footnoteRef:14], ficou determinou que o Vice, tendo ou não sido reeleito, se SUCEDE o titular, poderá candidatar-se à reeleição por UM período subsequente. No entanto, para candidatar-se a cargo diverso, deverá observar o art. 1º, §2º, da LC 64/90. Tal entendimento foi mantido pelo STF no RE 366.488. [14: O art. 79, CRFB, estabelece a diferença de sucessão (caso de vacância) para substituição (caso de impedimento).]Substituição X Sucessão
CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. VICE-GOVERNADOR ELEITO DUAS VEZES CONSECUTIVAS: EXERCÍCIO DO CARGO DE GOVERNADOR POR SUCESSÃO DO TITULAR: REELEIÇÃO: POSSIBILIDADE. CF, art. 14, § 5º. I. - Vice-governador eleito duas vezes para o cargo de vice-governador. No segundo mandato de vice, SUCEDEU o titular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice, teria SUBSTITUÍDO o governador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de governador, porque o exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente quando SUCEDEU o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo. II. - Inteligência do disposto no § 5º do art. 14 da Constituição Federal. III. - RE conhecidos e improvidos. (STF - RE: 366488 SP , Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 04/10/2005, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 28-10-2005 PP-00061 EMENT VOL-02211-03 PP-00440 LEXSTF v. 27, n. 324, 2005, p. 237-245 RB v. 18, n. 506, 2006, p. 51)
Obs.: No entendimento do STF, a redação do art. 14, §5º, foi infeliz ao se referir “quem houver sucedido ou substituído”, de modo que o exercício da titularidade do cargo somente se dá pela eleição ou sucessão. O texto constitucional não proíbe a candidatura daquele que tenha substituído precariamente o titular do cargo.
	
- Prefeito Itinerante / Prefeito Profissional: Trata-se de hipótese em que prefeito reeleito para um mesmo Município, na medida em que inelegível para 3º mandato consecutivo, transfere seu domicílio eleitoral para município diverso, buscando afastar a inelegibilidade do art. 14, §5º, CRFB. Durante muito tempo o TSE (RESPE 32.507) admitia tal situação[footnoteRef:15], porém mudou seu entendimento em 2008, passando a não mais admitir essa situação, por configurar fraude mediante a faculdade de transferir-se domicílio eleitoral, de modo a ilidir a incidência do art. 14, §5º, CRFB, para perpetuar-se no poder e se apoderar de unidades federadas para a formação de clãs políticos. Nota-se evidente desvio de finalidade do direito à fixação do domicílio eleitoral. [15: Com algumas limitações, como no caso de município limítrofe, microrregião eleitoral única ou resultante de desmembramento, incorporação ou fusão.] 
- O STF (RE 637.485[footnoteRef:16]) manteve tal entendimento, não admitindo o terceiro mandato consecutivo, mesmo na hipótese de municípios distintos. Neste sentido, assentou-se que a inelegibilidade atinge cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso. Tal decisão buscou fundamento no princípio republicano, no sentido de respeito à temporariedade e alternância no exercício do poder. [16: O STF modulou os efeitos da decisão, aplicando-a apenas prospectivamente, a partir de 2012.] 
- Contudo, é possível que o prefeito, observando a desincompatibilização de 6 meses antes de novo pleito, saia a candidato a outros cargos (Governador, Presidente, Deputado, Vereador), na forma do art. 14, §6º, apenas sendo vedado para Prefeito, ainda que de outro município.
- Inelegibilidade relativa em razão da função para concorrer a outros cargos: De acordo com o art. 14, §6º, os Chefes do Executivo, para concorrer a outro cargo, devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes do pleito. Trata-se do instrumento de desincompatibilização.
- Destaque-se que, para concorrer ao mesmo cargo (reeleição), não é necessário aos titulares de mandatos executivos renunciarem aos seus mandatos respectivos. Entretanto, se o titular do mandato executivo desejar se candidatar a outro cargo, deverá renunciar ao seu mandato, seis meses antes do pleito. Ademais, segundo o TSE (Res. 21.053/02) não basta que o chefe do Poder Executivo se licenceie do seu cargo, seis meses antes do pleito, querendo concorrer a outro cargo, para, após, se for indicado em convenção de seu partido, converter esta licença em renúncia.
- A desincompatibilização pode ser definida como o afastamento de cargo, emprego ou função, pública ou privada, exercido por cidadão brasileiro, de forma provisória ou definitiva, com o intuito de disputar mandato eletivo, de forma a afastar a inelegibilidade (incompatibilidade). Em alguns casos, é usada para que seja evitada a inelegibilidade reflexa de parentes.
- O STF (ADI 1.805-MC/DF) entende que a desincompatibilização deve dar-se somente para a candidatura a outros cargos, diversos, diferentes. Para a reeleição, os Chefes do Executivo não precisam, portanto, renunciar 6 meses antes do pleito.
- Em relação aos Vices, a mencionada regra de desincompatibilização não incide, na medida em que não são mencionados no art. 14, §6º, a não ser que tenham, nos 6 meses anteriores ao pleito, sucedido ou substituído os titulares. Portanto, os “vices” não estão abrangidos pela previsão do art. 14, §6º, CRFB, de modo que estes não precisam renunciar, bastando que, nos 6 meses anteriores ao pleito, não assumam, seja em sucessão ou substituição, o cargo do titular (art. 1º, §2º, LC 64/90). (Como exemplo histórico da possibilidade de vice ser candidato a outro cargo sem renunciar ao seu mandato, temos a eleição do vice-presidente da república Marco Maciel para o Senado Federal, nas eleições 2002. Naquela oportunidade, Marco Maciel continuou a exercer o mandato de vice-presidente da república durante o período eleitoral, evitando, entretanto, substituir o titular do cargo, Fernando Henrique Cardoso, no período de seis meses anteriores ao pleito. Passada a eleição, e já eleito senador, Marco Maciel, ainda vice-presidente da república, voltou a estar habilitado a substituir o então presidente FHC, conforme prevê a Constituição Federal).
- Os membros do poder Legislativo não estão obrigados a desincompatibilizar-se dos seus cargos, mesmo que para disputar outros.
- Inelegibilidade relativa em razão do parentesco (Inelegibilidade reflexa): De acordo com o art. 14, §7º, CRFB, são inelegíveis, no território da circunscrição do titular, o cônjuge (se estende à União Estável, inclusive união homoafetiva – TSE – coma ressalva de que o mero namoro não se enquadra nessa hipótese) e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção dos Chefes do Executivo ou quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição (Ex: O filho não pode ser vereador no município em que seu pai é prefeito e está no mandato - art. 14, §7º, da CRFB). Tal limitação se dá dentro da circunscrição (território) que o chefe do poder executivo exerce o mandato (pode ser vereador ou prefeito de outro município). 
- De acordo com a Súmula Vinculante 18, pacificou o STF que a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não fasta tal inelegibilidade.
- Segundo o STF (RE 543.117), tal regra deve ser interpretada de maneira a dar eficácia e efetividade aos postulados republicanos e democráticos da Constituição, evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de familiares no poder. De acordo com o STF (Informativo 283), o tratamento dispensado ao titular do cargo deve ser o mesmo adotado relativamente aos parentes, ou seja, sendo reelegível o titular, e renunciando 6 meses antes do pleito, permite-se a candidatura de seus parentes ao mesmo cargo (Súmula 6 do TSE). Ademais, afirmou-se que parentes podem concorrer na eleição, desde que o titular do cargo tenha o direito à reeleição e não concorra na disputa (são elegíveis para o mesmo cargo do titular, quando este for reelegível e tiver se desincompatibilizado 6 meses antes do pleito – TSE).
- Súmula 6 do TSE: São inelegíveis para o cargo de Chefe do Executivo o cônjuge e os parentes, indicados no § 7º do art. 14 da Constituição Federal, do titular do mandato, salvo se este, reelegível, tenha falecido, renunciado ou se afastado definitivamente do cargo até seis meses antes do pleito.
- Súmula 12 do TSE: São inelegíveis, no município desmembrado, e ainda não instalado, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do prefeito do município-mãe, ou de quem o tenhasubstituído, dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo.
- Assim sendo, o prefeito, o governador e o presidente que estiverem no 1º mandato podem ser reeleitos (cargos do poder legislativo não possuem limitação ao número de reeleições). Todavia, eles podem renunciar ao mandato 6 meses antes da eleição e, com isso, permitir que o cônjuge e os parentes possam concorrer na mesma circunscrição eleitoral (Municípios, Estado, etc.). Mas se estiver no 2º mandato, ainda que renuncie 6 meses antes da eleição, não será permitido que seu parente se candidate. Trata-se de uma exceção permitida pela jurisprudência do TSE, que se baseia em uma interpretação sistemática entre o art. 14 §5º e o §7º, CRFB.
- No caso de governador, irá gerar impedimento para todos os cargos dentro do estado, menos o de presidente e vice-presidente da república (Deputado Federal e Senador são eleitos por um estado - Se torna Senador eleito pelo Estado do Rio e Deputado Federal do RJ). Mas haverá possibilidade se candidatar a qualquer cargo dentro de outro estado.
- Parentes do prefeito, entretanto, podem ser candidatos a deputados no mesmo estado, sem que tal fato gere inelegibilidade reflexa, uma vez que o território de jurisdição do prefeito (o município) é menor do que a circunscrição das eleições para deputado estadual ou federal (todo o estado). Assim, por exemplo, o filho do prefeito de um município no interior do Paraná pode ser candidato a deputado estadual, federal, senador ou mesmo governador daquele estado, mesmo que não seja titular de mandato eletivo e esteja concorrendo à reeleição. O mesmo, entretanto, não ocorre se parente até o segundo grau do governador de um estado queira concorrer, no mesmo estado, a vereador ou prefeito de qualquer um dos municípios, ou mesmo deputado estadual, federal ou senador. Como a jurisdição do governador é todo o estado, ficam impedidos seus parentes até o segundo grau, bem como o seu cônjuge, de concorrer a mandatos eletivos no referido estado, salvo se já titulares de mandato eletivo e candidatos à reeleição.
- O território de jurisdição do presidente da república é todo o país. 
	Caso Garotinho e Rosinha: Se meu pai estiver no 1º mandato de prefeito, e se afastar 6 meses antes, eu posso concorrer para prefeito. Esta renúncia favorece o parente, desde que seja no 1º mandato (porém não afasta as causas de ineligibilidade, apenas é instrumento de desincompatibilização). Porém, se eu for eleito (depois de o meu pai ter renunciado 6 meses antes do fim de seu 1º mandato), não poderei me recandidatar, pois já estarei no 2º mandado naquela relação familiar (é como se eu estivesse substituindo a recandidatura de meu pai). Note-se que, não afasta a ineligibilidade, pois se meu pai já estiver no 2º mandato, não adiantará ele renunciar 6 meses antes, pois de qualquer forma eu não poderei me candidatar.
- Militares: De acordo com o art. 14, §8º, o militar alistável é elegível, sendo que, se tiver menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade, e se tiver mais, será agregado pela autoridade superior (afastado temporariamente), e se eleito passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
- De acordo com a interpretação do STF (RE 279.469), o termo “afastar-se” deve ser entendido como definitivo, de modo que deve ser excluído do serviço ativo mediante demissão ou licenciamente ex officio, e o consequente desligamento da organização a que estiver vinculado.
- Em que pese a regra do art. 142, §3º, V, CRFB, como só existe candidatura a cargo eletivo no Brasil mediante partidos políticos, o militar deverá se filiar a partido para concorrer nas eleições. O prazo de filiação partidária de 6 meses da eleição (art. 9º, Lei 9.504/97), contudo, não será exigido, bastando o pedido de registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária (Res. 20.993/TSE) (porém, a condição de elegibilidade referente ao domicílio eleitoral 1 ano antes do pleito (atualmente 6 meses), na respectiva circunscrição, se aplica aos militares). Portanto, o militar deverá participar da convenção e, se escolhido candidato, filiar-se a partido político, a fim de concorrer.
- Inelegibilidades previstas em lei complementar: Trata-se de permissão prevista no art. 14, §9º, para que lei complementar estabeleça outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação. Ademais, por se tratar de restrições a direitos fundamentais, somente novas inelegibilidades relativas podem ser definidas, já que as absolutas só se justificam quando estabelecidas pela CRFB[footnoteRef:17]. Neste sentido foi criada a LC 64/90, que recebeu alterações da LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa). [17: Para Pedro Lenza, ademais, apenas pode ser fixada pelo constituinte originário, sob pena de se ferir direito e garantias individuais (art. 60, §4º, IV).] 
- Segundo o STF (ADI 1.063-MC), os requisitos de elegibilidade (domicílio eleitoral, filiação partidária, etc.) podem ser disciplinados mediante lei ordinária, posto que não se confundem, no plano jurídico-conceitual, com as hipóteses de inelegibilidade, que só podem derivas de norma inscrita em lei complementar. Assim, para o STF, dispensa-se lei complementar, por exemplo, para os casos de regular as sanções de cassação do registro ou do diploma em decorrência de captação de sufrágio (art. 41-A, Lei 9.504/97) não constituem novas hipóteses de inelegibilidade (ADI 3.592); e previsão de proibição de comparecimento a inauguração de obra 3 meses antes do pleito (art. 77 da Lei 9.504) (ADI 3.305).
	
Lei da Ficha Limpa
Em 2010, foi aprovada a LC 135/2010, que teve como objetivo alterar a LC 64/90, incluindo novas hipóteses de inelegibilidade para proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato. A LC 135/2010 ficou conhecida como “Lei da Ficha Limpa”.
Ampliação do prazo de inelegibilidade para as condenações por abuso de poder
Uma das alterações promovidas pela Lei da Ficha Limpa foi que ela ampliou, de 3 para 8 anos, o prazo de inelegibilidade para os casos em que o político é condenado por abuso de poder econômico ou político (art. 1º, I, d, LC 64; art. 22, XIV, LC 64).
Desse modo, antes da Lei da Ficha Limpa, o político condenado por abuso de poder teria que ficar 3 anos sem disputar novas eleições. Com a mudança, ele passou a ter que ficar 8 anos inelegível.
A Lei da Ficha Limpa somente foi aplicada a partir das eleições de 2010
A Lei da Ficha Limpa foi promulgada em 4 de junho de 2010. Como entrou em vigor menos de 1 ano antes das eleições gerais de 2010, o STF entendeu que ela não poderia ser aplicada naquele pleito por força do que dispõe o art. 16 da CF/88.
Imagine agora a seguinte situação adaptada:
João concorreu ao cargo de Vereador e foi condenado, nos autos de representação eleitoral por abuso de poder econômico e compra de votos por fatos ocorridos em 2004. Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou que João ficasse inelegível por 3 anos.
O processo transitou em julgado em 2004 e João cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme havia sido determinado. Nas eleições de 2008, já livre da inelegibilidade, ele concorreu e foi eleito para o cargo de Vereador. Ele conseguiu concorrer porque já havia passado o prazo de 3 anos (2004 + 3 = 2007).
Nas eleições de 2012, ele tentou concorrer novamente ao mandato de Vereador, mas seu registro foi indeferido sob o argumento de que entrou em vigor a Lei da Ficha Limpa e que aquela sua condenação (que já transitou em julgado e que ele já cumpriu) aumentou de 3 para 8 anos. Assim, segundo a nova redação do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90, ele teria que ficar inelegível de 2004 até 2012 (2004 + 8 = 2012).
Resumindo:
· Em 2004, João praticou abuso de poder econômico e foi condenado a uma inelegibilidade de 3 anos, conforme previa a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90.
· Esse processo transitou em julgado e, em 2007, João terminou de cumpriro prazo de inelegibilidade para o qual foi condenado.
· Em 2010, a Lei da Ficha Limpa (2010) aumentou a punição prevista no art. 1º, I, “d”, da LC 64/90 de 3 para 8 anos.
· A Justiça Eleitoral entendeu que, mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após o fato praticado por João, este novo diploma deveria ser aplicado ao caso concreto. Logo, a inelegibilidade de João, que era de 3 anos (e que acabou em 2007), subiria para 8 anos (e a proibição permaneceria para as eleições de 2012).
A pergunta que se faz é a seguinte: esse aumento trazido pela Lei da Ficha Limpa já se aplica para a situação de João mesmo que o fato tendo ocorrido antes da vigência da nova Lei?
SIM. O STF entendeu que é possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo já tenha transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político haver transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, imposta por força de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da inelegibilidade constante da alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a ser de 8 anos.
Resumo dos argumentos expostos pelo STF:
· Por entender que a Lei da Ficha Limpa buscou proteger a probidade e moralidade administrativa, tratando-se de verdadeiro “Estatuto da Moralidade do Processo Eleitoral” (Joaquim Barbosa), o STF, tem o dever de afastar interpretações que enfraqueçam os propósitos republicanos e moralizadores da referida lei;
· As hipóteses de inelegibilidade não possuem caráter de sanção, mas sim de um critério de exclusão para pleitos futuros. Como exemplo, cita-se o caso do art. 14, § 4º da CF/88, que prevê a inelegibilidade dos analfabetos. Ora, o objetivo do legislador constituinte não foi o de punir os analfabetos, não se podendo, portanto, dizer que se trata de uma sanção. As inelegibilidades são, portanto, requisito negativos de adequação do indivíduo ao regime jurídico do processo eleitoral. Logo, as hipóteses de inelegibilidade previstas na LC 64/90 não possuem caráter sancionatório ou punitivo, mesmo no caso descrito no art. 22, XIV.
A lei possui, em regra, retroatividade mínima. O Poder Constituinte originário pode estabelecer a retroatividade máxima, no entanto, isso não é permitido ao legislador infranconstitucional, salvo algumas exceções, como é o caso da lei penal mais favorável ao réu.
Voltando ao caso concreto.
· Segundo o STF, como a inelegibilidade do art. 22, XIV, da LC 64/90 não se constitui em sanção, a ampliação do prazo nele previsto (de 3 para 8 anos) pela Lei da Ficha Limpa não representa ofensa à retroatividade máxima. Para o STF, aplicar a Lei da Ficha Limpa para fatos ocorridos antes da sua vigência não configura uma autêntica (uma verdadeira) retroatividade. Isso é aquilo que se pode chamar de retroatividade inautêntica (ou retrospectividade), por estabelecer limitação prospectiva ao ius honorum (Direito de concorrer a cargos eletivos). A retroatividade autêntica é vedada pela CF. O texto constitucional não proíbe, contudo, a retrospectividade. A retrospectividade é parecida, mas não idêntica à retroatividade mínima. Explica-se: trata-se, tão-somente, de imposição de um novo requisito negativo para a que o cidadão possa candidatar-se a cargo eletivo, que não se confunde com agravamento de pena ou com bis in idem.
· Retroatividade mínima: A nova lei altera as consequências jurídicas de fatos ocorridos antes da sua edição.
· Retrospectividade: A nova lei atribui novos efeitos jurídicos, a partir de sua edição, a fatos ocorridos anteriormente.
· Não houve violação à coisa julgada, pois a imposição do prazo de inelegibilidade configura uma relação jurídica continuativa, para a qual a coisa julgada opera sob a cláusula rebus sic standibus.
Em consequência disso, verificado o exaurimento do prazo de 3 anos, previsto na redação originária do art. 22, XIV, por decisão transitada em julgado, é perfeitamente possível que o legislador infraconstitucional proceda ao aumento dos prazos, o que impõe que o agente da conduta abusiva fique inelegível por mais 5 anos, totalizando os 8 anos, sem que isso implique ofensa à coisa julgada, que se mantém incólume.
	Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010)
- Inicialmente, destaque-se que o art. 14, §9º, CRFB declarou a possibilidade de previsão de inelegibilidade decorrente de lei complementar “...a fim de proteger a probidade administrativa, a modalidade para exercício de mandato considerada a vida pregressa do candidato...”. Neste sentido, a LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) modificou a LC 64/90 para trazer novas hipóteses de inelegibilidade.
- A LC 135/2010 passou a definir com mais precisão o conceito de “vida pregressa do candidato”, passando a dar maior peso a eventual “ficha suja”.
- Antes de tal modificação, para que se caracterizasse hipótese de inelegibilidade era necessário que houvesse sentença negativa transitada em julgado (O STF considerava constitucional tal regra).
- Com a mudança, passou-se a prever hipótese de inelegibilidade não somente no caso de decisão transitada em julgado por praticado, como também em razão de decisão proferida, na hipótese dos crimes elencados, por órgão colegiado, mesmo que ainda não tenha ocorrido o trânsito em julgado (art. 1º, I, e, LC 64/90). De igual modo houve previsão em relação à decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, em decorrência de algumas atitudes vedadas.
- Contudo, a referida alteração gerou 2 discussões:
1) Era possível aplicar as alterações à eleição de 2010? – Alguns candidatos alegavam que iria ferir o princípio da anualidade eleitoral[footnoteRef:18] (art. 16, CRFB), de modo que a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na data de sua aplicação, mas apenas se aplica à eleição que ocorra em depois de 1 ano da data de sua vigência. [18: Ressalte-se que o princípio da anualidade não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às eleições que se realizem até um ano da data de sua vigência.] 
Alguns doutrinadores e o TSE afirmavam que tal lei não se caracterizava como processo eleitoral, mas como norma eleitoral material, que não influenciava o processo eleitoral, por não romper a igualdade de participação dos partidos e candidatos, não ensejar alteração motivada por propósito casuístico, não afetar a normalidade das eleições, nem perturbar o pleito.
Contudo, o STF (RE 631.102[footnoteRef:19] e 633.703 – Informativo 620/STF) determinou o afastamento da incidência da LC 135/2010 às eleições ocorridas em 2010 e as anteriores, bem como para os mandatos em curso, sob pena de violar o art. 16, CRFB, assegurando a anterioridade eleitoral e a garantia do devido processo legal eleitoral. Afirma-se que a aplicação do art. 16, como direito fundamental, caracteriza-se como verdadeira cláusula pétrea (garantia fundamental do cidadão-eleitor, cidadão-candidato e dos partidos políticos, oponível ao constituinte derivado – Gilmar Mendes; além disso, afirmou que a referida lei interferiu na fase pré-eleitoral do processo eleitoral). [19: Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de modo que o mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.] 
2) Constitucionalidade Material da Lei: O STF (ADCs 29 e 30; e ADI 4.578) considerou constitucional a referida lei, reconhecendo a observância da moralidade e probidade no tocante à vida pregressa bem como a interpretação conforme a Constituição do art. 1º, I, e, LC 64/90. Afirmou-se também que não houve violação à presunção de inocência (art. 5º, LVII, CRFB), nem à vedação ao retrocesso. 
Ademais a doutrina cita consagração do princípio da precaução e do Estado Democrático de Direito e da República. Outros doutrinadores falam em flexibilização do princípio da presunçãode inocência em face do princípio da moralidade eleitoral (ponderação de interesses).
4.3.b) Privação dos Direitos Políticos (Perda e Suspensão):
- Além das hipóteses que restringem a elegibilidade do cidadão, tornando-o inelegível, absoluta ou relativamente, também existem hipóteses que privam o cidadão dos direitos políticos de votar e ser votado (perda da cidadania política, conforme José Afonso da Silva), tanto definitivamente (perda) como de modo temporário (suspensão). Porém, em nenhuma hipótese, conforme art. 15, CRFB, é permitida a cassação de direitos políticos.
- Perda dos Direitos Políticos:
- Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (art. 15, I): Em decorrência do cancelamento da naturalização, o indivíduo voltará à condição de estrangeiro, não podendo mais se alistar como eleitor (art. 14, §2º) nem se eleger, uma vez que deixa de ostentar a nacionalidade brasileira (art. 14, §3º, I).
- Perda da nacionalidade brasileira em virtude de aquisição de outra (art. 12, §4º, II): Embora não esteja previsto no art. 15, por interpretação sistemática esta é mais uma hipótese constitucionalmente prevista de perda dos direitos políticos (por passar a ser estrangeiro[footnoteRef:20]), uma vez que a nacionalidade brasileira é pressuposto para a aquisição de direitos políticos. [20: Vale lembrar que os estrangeiros e conscritos são inalistáveis e o alistamento eleitoral é condição de elegibilidade (art. 14, §3º, III).] 
- Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (art. 15, IV): O art. 5º, VIII, estabelece que, como regra, ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (escusa de consciência). No entanto, se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta (serviço militar obrigatório – art. 143) e recursar-se a cumprir a prestação alternativa, fixada em lei, terá como sanção a declaração da perda de seus direitos políticos.
- Para muitos autores de Direito Eleitoral, essa é uma hipótese de suspensão e não de perda de direitos políticos, conforme art. 4º, §2º, Lei 8.239/91 (neste sentido foi o posicionamento da prova do TJ-RR). Contudo, na visão de José Afonso da Silva, será hipótese de perda, pois a pessoa apenas irá readquirir os direitos políticos se prestar o serviço alternativo, não sendo o vício suprimido por decurso de prazo.
- Suspensão dos Direitos Políticos:
- Incapacidade civil absoluta (art. 15, II): Casos de interdição. De acordo com Pontes de Miranda, nos casos em que as enfermidades são incuráveis (causando uma incapacidade absoluta fixa e imutável), nestes casos haverá a perda dos direitos políticos, e não a suspensão. No entanto, em uma prova, deve-se responder sempre que a incapacidade absoluta é causa de suspensão.
	Índios
- O estatuto do índio (lei 6.001/74), em seu art. 4º, prevê 3 tipos de índios:
· Índio não integrado: É hipótese de absolutamente incapaz, protegido pela FUNAE, não votando e nem sendo votado.
· Índio semi-integrado: A princípio vota e pode ser votado, não tendo impedimento. Isto, pois o impedimento que poderia ter seria do art. 5º, II, do CE (não se exprime em língua nacional). Porém o TSE entendeu que o art. 5º, II, é uma discriminação, limitando o sufrágio (sendo que o sufrágio não é restrito, mas universal). Assim sendo, o TSE considerou o art. 5º, II, não recepcionado pela Constituição[footnoteRef:21], permitindo ao índio tirar o título, mesmo que ele não saiba o idioma nacional. [21: Da mesma forma o art. 5º, I, do CE, também é inconstitucional, considerando-se que não foi recepcionado pela CRFB.] 
· Índio integrado: Ele vota e é votado, e é considerado brasileiro nato.
- Condenação criminal transitada em julgado (art. 15, III): Os direitos políticos ficam suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal regra abrange crimes (culposos e dolosos) e contravenções (TSE – AC. 13.027). Sobre a matéria, o STF manifestou-se no sentido de ser autoaplicável o art. 15, inciso III, da Constituição Federal, não dependendo, portanto, de atuação do legislador ordinário para sua imediata incidência (RMS 22.470 AgR/SP).
Note-se que a suspensão dos direitos políticos não precisa ser mencionada na decisão, por se tratar de consequência automática da condenação transitada em julgado, e não de uma pena acessória.
Ressalte-se, no entanto, que a norma constitucional não distinguiu a aplicação da pena de suspensão dos direitos políticos em relação ao tipo de crime cometido, alcançando, portanto, os delitos dolosos, culposos (ainda que de menor potencial ofensivo) e as contravenções penais, independentemente do tipo de penalidade aplicada.
Obs.: O STF entendeu que é aplicável a suspensão dos direitos políticos de condenado a pena privativa de liberdade quando substituída por pena restritiva de direitos.
Obs.2: Embora a condenação criminal sem trânsito em julgado não gere suspensão de direitos políticos, pode gerar inelegibilidade, conforme LC 135/10 (Ficha Limpa).
Obs.3: Para o TSE, nas hipóteses de sursis (suspensão condicional da pena), por continuar a existir condenação criminal com trânsito em julgado, mantém-se a suspensão dos direitos políticos do condenado. Já na hipótese de suspensão condicional do processo e transação penal, por não haver condenação criminal transitada em julgado, o réu preserva seus direitos políticos.
Assim, enquanto persistirem as sanções penais que lhe forem impostas, o condenado estará com seus direitos políticos suspensos, inclusive no curso de livramento condicional, suspensão condicional da pena (sursis penal – art. 77 do Código Penal) e prisão domiciliar. Também permanecerá a suspensão dos direitos políticos ainda que em curso ação de revisão criminal.
Por outro lado, se houver transação penal, suspensão condicional do processo (sursis processual – art. 89 da Lei nº 9.099/1995) ou composição civil dos danos, não incidirá o art. 15, inciso III, da Constituição Federal, uma vez que nesses casos inexiste a condenação criminal.
Obs.4: Segundo a Súm. 9 do TSE, “a suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos”.
A Constituição Federal determina a suspensão dos direitos políticos enquanto durarem os “efeitos da condenação”, não estando aí incluídos, segundo o entendimento consolidado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seus efeitos penais secundários, a exemplo do previsto no art. 91, inciso I, do Código Penal (obrigação de indenizar o dano causado à vítima). Tampouco a reabilitação pode ser considerada como requisito para reaquisição dos direitos políticos, sob pena de se prorrogar injustificadamente a restrição ao exercício de um direito fundamental do cidadão.
- Improbidade Administrativa nos termos do art. 37, §4º (art. 15, V): Além da perda da função pública, os atos de improbidade administrativa importam em suspensão dos direitos políticos. A declaração de improbidade terá de ser via processo judicial, não podendo ser através de mero processo administrativo. Ao contrário do que ocorre nas hipóteses de condenação criminal, esta suspensão não é efeito imediato da condenação, devendo expressamente constar da decisão para que ocorra, conforme prevê o art. 20, Lei 8.429/92.
- Exercício assegurado pela cláusula de reciprocidade (art. 12, §1º): De acordo com o art. 17.3 do Decreto 3.927/2001, o gozo dos direitos políticos em Portugal (por brasileiro) importará na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Brasil.
- Art. 55, II, e §1º, c/c art. 1o, I, b, da LC 64/90: Procedimento do Deputado ou Senador declarado incompatível com o decoro parlamentar – inelegibilidade por 8 anos, nos termos do art. 1º, b, da LC 64/90.
- Reaquisição dos Direitos Políticos Perdidos ou Suspensos: Perdido o direito político na hipótese de do art. 15, I, a reaquisição só se dará através de ação rescisória. Se a hipótese de perda for a causa do art. 15, IV, a requisição se dará quando

Continue navegando