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(para ler) Regras de Tóquio como princípios norteadores de alternativas ao cárcere (IBCCRIM)

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	Regras de Tóquio como princípios norteadores de alternativas ao cárcere
	
	
		As opiniões expressas nos artigos publicados responsabilizam apenas seus autores e não representam, necessariamente, a opinião deste Instituto
	
	
	André Abreu de Oliveira
	André Abreu de Oliveira
Mestrando em Segurança Pública, Justiça e Cidadania pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); Pós-Graduado lato sensu em Ciências Criminais pelo JusPodivm; Pós-Graduado lato sensu em Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar pela Universidade Cândido Mendes e Sócio do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).
	
	
		SUMÁRIO: 
 
 1. Introdução – 2. O cárcere como pena – 3. Regras de Tóquio: normas orientadoras de alternativas ao cárcere – 4. Conclusões – 5. Referências Bibliográficas
 
RESUMO
 
A prisão, empregada inicialmente como detenção provisória para os condenados às penas então existentes, passou depois a funcionar como castigo propriamente dito. Atualmente, essa espécie de pena, com algumas poucas exceções, consiste na mais gravosa das punições formais, trazendo várias consequências para o condenado. Apesar disso, tem-se aumentado consideravelmente a quantidade de encarcerados nos vários países do mundo. Dessa maneira, buscam-se alternativas ao uso do cárcere como pena, ao menos na tentativa de efetivamente se diminuir a sua incidência no sistema penal. Assim, este breve ensaio analisa especificamente as denominadas Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade, que logo depois ficaram conhecidas como Regras de Tóquio, as quais têm a finalidade de nortear a utilização de penas alternativas à prisão, com o intuito de se restringir ao máximo esta última.
 
 Palavras-chave: Cárcere. Penas Alternativas. Prisão. Regras de Tóquio. 
 
1 INTRODUÇÃO
 
Depois de utilizada primeiramente com o fim de guarda provisória dos condenados a penas como execução pública e açoite, a prisão passou a funcionar como castigo propriamente dito. Entretanto, cerca de dois séculos depois dessa mudança na destinação do cárcere, ficam cada vez mais evidentes os efeitos extremamente negativos desse instituto na vida do indivíduo que a ele é submetido. Além do mais, as experiências passadas e atuais demonstram a inutilidade da prisão como mecanismo de ressocialização de quem cumpre essa espécie de pena. Ao revés, ficam claros os danos sociais advindos da vida no cárcere, tornando muito mais difícil a reinserção dessa pessoa na sociedade após o cumprimento da pena.
 
 Por tudo isso, enquanto ainda não se concebe a sua extinção por completo, tem-se buscado alternativas ao instituto da prisão, com a tentativa de implementação de outras espécies de pena, menos gravosas ao condenado. Nesse contexto, foram elaboradas, no âmbito das Nações Unidas, as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade, mais tarde conhecidas como Regras de Tóquio. Essas regras surgiram justamente com o objetivo de se estabelecerem alternativas à prisão, trazendo parâmetros para utilização desses mecanismos.
 
 Desse modo, com base na literatura especializada, serão analisadas inicialmente as mudanças ocorridas na natureza da prisão, até a sua consolidação como pena em si mesma. Após isto, serão examinadas as implicações negativas do cárcere na vida do condenado a essa espécie de pena, evidenciando-se que suas consequências ultrapassam a privação da liberdade. Ainda, será vista a expansão mundial, inclusive no Brasil, no uso do cárcere, apesar de todas as mazelas decorrentes dessa espécie de pena. 
 
 Em seguida, serão observados, após um breve histórico de seu surgimento, a estrutura geral, os objetivos e as disposições das Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade. Serão apresentados, ainda que brevemente, cada uma das seções que compõem essas regras internacionais, tudo isso na tentativa de se evidenciar a relevância dessas normas na orientação do estabelecimento de penas e medidas alternativas ao cárcere.   
 
2 O CÁRCERE COMO PENA
 
Em um primeiro momento, a prisão não tinha o caráter de pena em si mesma, consistindo tão somente em uma espécie de guarda provisória dos condenados até o instante da execução das penas então previstas. Desse modo, o indivíduo que era condenado, por exemplo, à morte ou ao suplício, enquanto aguardava a imposição de tais castigos, era aprisionado, permanecendo sob a custódia do Estado. Somente por volta do século XVIII, já na Idade Moderna, é que se dá o surgimento da pena de encarceramento[1].
 
 Antes disso, a utilização do cárcere é confirmada ocasionalmente algumas vezes na história da sociedade, como no caso do povo hebreu. Na Bíblia, por exemplo, somente no livro de Esdras a prisão aparece pela primeira vez como pena propriamente dita. De qualquer modo, os criminalistas só reconheceram a prisão como pena em si no século XVIII, quando a prisão era perpétua ou quando a pena de morte tinha sido comutada por ela, ou, mais precisamente, quando havia sido precedida por uma instrução judicial[2].
 
 Uma questão interessante é levantada por Mereu, ao chamar atenção para o fato de, no século XVIII, Cesare Beccaria, embora apresentado pelos historiadores como “humanitário”, tenha defendido a pena de prisão perpétua, demonstrando ser esta mais eficaz que a de morte[3]. E não é outra a conclusão que chegamos ao analisar o seguinte trecho da obra de Beccaria[4], senão vejamos:
 
Para que uma pena seja justa, só deve ter aqueles graus de intensidade que bastem para dissuadir os homens dos delitos; ora, não há ninguém que, refletindo a respeito, possa escolher a perda total e perpétua da própria liberdade, por mais vantajoso que um delito possa ser; assim, a intensidade da pena de escravidão perpétua, substituindo a pena de morte, contém o que basta para dissuadir o espírito mais determinado.
 
De qualquer maneira, a função inicial do cárcere, de custódia provisória, ainda permanece na maioria dos países na contemporaneidade, ao lado de sua finalidade mais recente, de castigo definitivo. Em geral, o indivíduo é encarcerado provisoriamente, durante o transcorrer do processo criminal, para ao final, se condenado, cumprir a pena de prisão mesma, agora já como castigo imposto. Em outros casos, naqueles países onde ainda se mantêm a pena de morte, como os Estados Unidos em alguns dos seus estados, o condenado aguarda a execução desse castigo no cárcere, de forma semelhante ao que acontecia em tempos remotos.
 
 Quanto aos motivos que levaram a mencionada modificação na natureza do cárcere, de encarceramento provisório a pena de prisão, são apresentados os mais diversos argumentos pelos autores que tratam do tema. Para Wacquant, por exemplo, no início da institucionalização do cárcere na América, isto em meados do século XIX, esse instituto era instrumento utilizado para controlar principalmente as populações compostas por pobres e imigrantes europeus recém-chegados ao Novo Mundo[5]. Todavia, como não se pretende aqui aprofundar as causas que originaram tais alterações na natureza da prisão, esse último argumento é trazido apenas de forma ilustrativa.
 
 Porém, o aspecto relevante de tudo isso diz respeito às drásticas consequências que a prisão traz para a vida do condenado, indo muito além da privação da liberdade, como a princípio poderia parecer. Ao se conhecer o sistema carcerário, fica evidente que só formalmente a sua
atuação restringe-se à privação da liberdade, afetando, na prática, outros bens jurídicos de extremo valor, tais como a vida, a integridade física e a liberdade sexual. Isto porque são cada vez mais frequentes no atual sistema prisional as ocorrências de homicídios, atentados violentos ao pudor, agressões e diversos outros crimes entre os que ali convivem[6].
 
 Acerca desses efeitos danosos do cárcere, Sykes, a partir de um estudo realizado em uma prisão de segurança máxima no estado de Nova Jersey, estabeleceu cinco espécies de privações advindas da vida na prisão[7]. São elas: a privação da liberdade, a privação da autonomia, a privação da segurança, a privação de bens e serviços e a privação das relações heterossexuais. A essas privações ele denominou de “dores da prisão”.
 
 Apesar de tudo isso, não obstante sejam cada vez mais visíveis esses aspectos negativos do encarceramento, a quantidade de condenados a esse tipo de pena aumenta consideravelmente na atualidade em todo mundo. No Brasil, por exemplo, tomando-se como referência o mês de dezembro de 2010, a população no sistema penitenciário era de 496.251 indivíduos[8]. Nesses números estão incluídos tanto os presos definitivos, aqueles que já se encontram cumprindo pena de prisão propriamente dita após sentença condenatória transitada em julgado, quanto os presos provisórios nos presídios e carceragens de delegacias policiais, aqueles que ainda aguardam julgamento, permanecendo à disposição da justiça.
 
 Essa imensa quantidade de encarcerados faz com que o Brasil detenha atualmente a quarta posição entre os países com maior população carcerária no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Rússia[9]. No entanto, depois de se ter atingido tamanha inflação carcerária, embora ainda não se pretenda a completa supressão da prisão como pena, salvo em algumas propostas abolicionistas[10], tem-se procurado alternativas ao seu emprego. Nesse sentido é que foram concebidas as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade, ou simplesmente Regras de Tóquio, como será observado a seguir.
 
 3 REGRAS DE TÓQUIO: NORMAS ORIENTADORAS DE ALTERNATIVAS AO CÁRCERE[11]
 
Como visto até aqui, é fato que existe uma utilização em massa da pena de prisão na maioria dos países no mundo, assim como são certos os efeitos danosos dessa espécie de sanção, não se prestando a ressocialização do condenado. Diante dessa realidade mundial, a Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução 45/110, em 14 de dezembro de 1990, em sua 68ª Sessão Plenária, adotou as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade. Nessa mesma ocasião, a Assembleia aprovou a recomendação do Comitê de Prevenção e Controle do Delito, no sentido de essas normas passarem a ser conhecidas como Regras de Tóquio. Além disso, houve, ainda, a solicitação ao Secretário Geral para que fossem tomadas as providências necessárias para elaboração dos comentários das Regras de Tóquio, devendo estes ser apresentados ao Comitê, o que foi feito.
 
 Estruturalmente, as Regras de Tóquio estão divididas em oito seções, sendo que, em seus comentários, são interpretadas cada uma dessas partes, tendo sido elaborado, ainda, um capítulo introdutório. Nessa introdução dos comentários, é ressaltado que se utilizou o termo corrente de “não privativas de liberdade” ou “alternativas” para denominar as sanções e medidas que não impliquem privação de liberdade. Logo após, chama-se atenção de que isso não deve significar que a pena de prisão seja a principal sanção penal e as penas alternativas sejam secundárias ou de menor relevância. Muito pelo contrário, faz questão de deixar claro que, devido aos problemas relacionados à pena de prisão, alguns destes já colocados anteriormente neste breve ensaio, tem havido um interesse mundial em se buscar outros meios para auxiliar os delinquentes, sem recorrer ao cárcere.
 
 Desse modo, a primeira seção trata dos Princípios Gerais, sendo subdividida em “Objetivos fundamentais”, “Campo de aplicação das medidas não privativas de liberdade”, “Garantias legais” e “Cláusula de proteção”, cada um desses títulos compostos por algumas regras. Nessa parte, é descrita a própria filosofia das Regras de Tóquio, com seus princípios e valores que as orientam. Na primeira regra, inserida nos “Objetivos fundamentais”, constam dois desses objetivos, o de promover, por meio do seu conjunto de princípios, a utilização de medidas não privativas de liberdade, e o de assegurar as garantias mínimas para os indivíduos submetidos a medidas substitutivas da prisão.
 
 Em relação ao primeiro, conforme destaca Gomes, apesar de haver uma diferença substancial entre “penas” e “medidas” alternativas, fica claro que as Regras de Tóquio, ao estimularem a aplicação de medidas não privativas de liberdade, na verdade, referem-se a ambas as espécies[12]. Quanto ao último objetivo, há uma preocupação com as garantias mesmo nesses tipos de pena, pois, apesar de não privarem a liberdade, acabam restringindo outros direitos do condenado, sendo também exigíveis limites em sua aplicação. O terceiro e quarto objetivos fundamentais, dispostos na segunda regra, relacionam-se à participação comunitária tanto na administração da Justiça Penal quanto, e especialmente, no tratamento do delinquente. Acerca dessa nova participação da comunidade nos assuntos criminais, Garland[13] destaca:
 
Na maior parte dos dois últimos séculos, as instituições estatais da justiça criminal dominaram a área, tratando o crime como problema a ser administrado através do policiamento, acusação e punição dos indivíduos que violassem a lei. Hoje, testemunhamos o movimento que busca o engajamento dos cidadãos, das comunidades e das empresas, que opera com um conceito mais amplo de controle do crime e que utiliza técnicas e estratégias bastante diferentes das adotadas pelas agências da justiça criminal tradicional.   
 
A terceira regra objetiva a adaptação das Regras de Tóquio como um todo às condições políticas, econômicas, sociais e culturais de cada país, assim como aos propósitos e objetivos de cada sistema de Justiça Penal. Na quarta regra, tem-se por objetivo fundamental o equilíbrio, quando da aplicação das regras em geral, dos direitos dos criminosos, os direitos das vítimas e o interesse da sociedade na segurança pública e na prevenção do crime. A quinta regra, a última das que compõem os objetivos fundamentais das Regras de Tóquio, reforça o compromisso de se aumentar a implementação de medidas alternativas, trazendo expressamente o intuito de se reduzir a pena de prisão. Além disso, dispõe que as medidas alternativas devem estar em consonância com os direitos humanos, com as exigências da justiça social e com as necessidades de reabilitação do criminoso.
 
 Ainda na primeira seção, mais especificamente em sua parte denominada “Campo de aplicação das medidas não privativas de liberdade”, há uma regra que prega a incidência do princípio da insignificância como norma que deve pautar as medidas alternativas. Essa norma principiológica, em linhas gerais, implica na menor interferência possível por parte do direito penal como mecanismo de regulação da sociedade. Nessa mesma subdivisão, existe outra regra intimamente ligada à anterior, aduzindo que as medidas não privativas de liberdade devem fazer parte do movimento em favor da despenalização e da descriminalização. Na despenalização, o comportamento ainda seria tipificado como delito, porém não havendo pena prevista de prisão, enquanto que na descriminalização, a conduta deixaria de ser crime. Nesse ponto, o Brasil tem agido bastante timidamente, demorando décadas para descriminalizar ou despenalizar condutas nitidamente insignificantes, isto quando o faz. No caso do porte de drogas para consumo, por exemplo, crime desde 1976, só houve sua despenalização no ano de 2006, através da Lei nº. 11.343/2006, que ficou conhecida como Nova Lei de Drogas.
 
 Por sua vez, a segunda seção
das Regras de Tóquio dispõe acerca da Fase Anterior ao Julgamento, subdividindo-se em “Medidas aplicáveis antes do julgamento” e “A prisão preventiva como último recurso”. Essa seção versa sobre as medidas não privativas de liberdade aplicáveis na fase anterior ao trânsito julgado da decisão judicial, com a finalidade de afastar a incidência da chamada prisão preventiva, que tem lugar mesmo sem haver condenação. Uma das regras prescritas nessa parte, conforme lembra Gomes, enfatiza o princípio da humanidade mesmo nas medidas alternativas não privativas de liberdade. Isto porque, como já visto antes, essas medidas também acabam por limitar direitos e garantias, se bem que de forma muito menos gravosa que a prisão[14].  Aqui, vale destacar ainda que, recentemente, por meio da Lei nº. 12.403, de 4 de maio de 2011, a qual alterou o Código de Processo Penal, o Brasil inegavelmente atuou conforme essas normas, ao estabelecer diversas medidas cautelares, não privativas de liberdade, relativas à fase anterior ao julgamento do réu. Para Lopes Junior, o que motivou a edição dessa nova lei foi justamente o fato de o sistema carcerário brasileiro estar em colapso, com imensa quantidade de presos, sendo que, quase metade deles, presos provisórios[15]. Mas, de qualquer forma, antes dessa alteração legislativa praticamente não existiam alternativas à prisão provisória, o que também é destacado pelo referido autor.
 
 A terceira seção discorre sobre a Fase de Processo e Sentença, dividida em “Relatórios de investigação social” e “Disposições relativas à sentença”. Nessa parte é apresentado um rol exemplificativo de algumas medidas não privativas de liberdade que podem ser adotadas pelos Estados-membros. Ressalte-se que algumas dessas penas alternativas já foram incluídas no sistema penal brasileiro, por meio da Lei nº. 9.714, de 25 de novembro de 1998, que alterou o Código Penal, além de terem previsão também em algumas leis penais especiais.
 
 Já a quarta seção refere-se à Fase Posterior à Sentença, composta pelas “Disposições aplicáveis na fase posterior à sentença”. Ou seja, traz disposições de alternativas não privativas de liberdade aplicáveis à fase de execução da pena, já no cumprimento da pena de prisão. No caso do Brasil, já existem alguns dos institutos ali elencados, como, por exemplo, as saídas temporárias, a remissão da pena e o indulto.
 
 A quinta seção diz respeito à Execução das Medidas Não Privativas de Liberdade, dividindo-se em “Regime de vigilância”, “Duração”, “Condições”, “Processo de tratamento” e “Disciplina e não observância de condições”. Desse modo, é regulado o cumprimento propriamente dito das penas e medidas alternativas, pautando-se sempre no estímulo do senso de responsabilidade e na reintegração social do delinquente.
 
 Por seu turno, a sexta seção trata do Pessoal, sendo subdividida em “Recrutamento” e “Formação Profissional”. A implantação de penas e medidas alternativas requer um pessoal qualificado, com uma preparação específica para execução dessa espécie de pena. O Estado da Bahia, por exemplo, mantém uma vara especializada no cumprimento das penas e medidas alternativas, a Vara das Execuções de Penas e Medidas Alternativas, embora ainda seja a única no estado.[16]
 
 A sétima seção dispõe sobre os Voluntários e Outros Recursos Comunitários, subdividida em “Participação da comunidade”, “Compreensão e cooperação da comunidade” e “Voluntários”. Como visto anteriormente, o terceiro e quarto objetivos fundamentais das Regras de Tóquio, incluídos logo na segunda regra, já conclama a participação comunitária na aplicação das medidas não privativas de liberdade. Porém, nesta seção, há um maior detalhamento acerca dessas ações comunitárias.
 
 Enfim, a oitava seção faz referência à Pesquisa, Planejamento, Formulação e Avaliação de Políticas, dividindo-se em “Pesquisa e planejamento”, “Formulação de política e elaboração de programas”, “Vínculos com entidades e atividades conexas” e “Cooperação internacional”. As regras constantes dessa seção, além das outras temáticas indicadas nos títulos acima, tratam da implementação de políticas e programas relacionados às medidas não privativas de liberdade. Recentemente, foi criada no Brasil, por meio da Portaria do Ministério da Justiça nº. 2.594, de 24 de novembro de 2011, a Estratégia Nacional de Alternativas Penais – ENAPE, “com o objetivo de fomentar a política e a criação de estruturas de acompanhamento à execução das alternativas penais nos Estados e Municípios”, conforme previsto em seu art. 1º.[17]
 
 De outro lado, quanto à eficácia jurídica das Regras de Tóquio, vale lembrar que elas não constituem um tratado ou convenção internacional. Logo, como destaca Gomes, não possuem força de lei nem contêm obrigações legais, o que não retira seu valor interpretativo no que diz respeito às penas e medidas alternativas[18]. Dessa maneira, o fato de não consistirem tratado ou convenção não retira o mérito das Regras de Tóquio, pois sua finalidade é exatamente a de apresentarem diretrizes internacionais para o estabelecimento de medidas alternativas ao cárcere. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Inicialmente, o uso da prisão deu-se como instrumento de detenção provisória dos condenados enquanto aguardavam a imposição das penas existentes, tais como a pena capital ou os castigos físicos. Tempos depois, por volta do século XVIII, o cárcere transforma-se em pena propriamente dita, quando não de forma perpétua, com tempo variável conforme o delito. Porém, ao lado do seu caráter atual de pena, o cárcere, mesmo hoje, funciona também como custódia provisória, geralmente enquanto se aguarda a execução da própria pena de prisão, ou, nos países que ainda a prescrevem, da pena de morte.
 
 Ademais, a pena de prisão traz vários efeitos negativos e drásticos para a vida do condenado, não se restringindo a privação da liberdade do indivíduo. Suas consequências vão muito além, atingindo, na prática, outros bens jurídicos de grande valor, tais como a própria vida, a integridade física e a liberdade sexual do apenado. Entretanto, embora bastante visíveis essas características indesejáveis do cárcere, recorre-se cada vez mais a esse tipo de pena, figurando o Brasil como o quarto país com o maior número de encarcerados no mundo.
 
 Em contrapartida, diante da dimensão que atingiu o problema carcerário, passou-se a discutir alternativas ao encarceramento como pena, sendo aprovadas então as Regras Mínimas das Nações Unidas sobre Medidas Não Privativas de Liberdade, depois denominadas Regras de Tóquio. Essas regras foram propostas para nortear o estabelecimento de alternativas à prisão, objetivando ainda estimular os países na ampliação desses mecanismos, tendo em vista os danosos efeitos do cárcere, cada vez mais evidentes na atualidade.
 
 Em suma, o que se propôs aqui foi exatamente evidenciar a importância desse conjunto de normas como princípios norteadores de penas e medidas alternativas ao cárcere, através de uma breve análise. Conquanto não detenham força de lei, já que não são tratado ou convenção internacional, isto não retira seu mérito, pois possuem nítido valor principiológico e interpretativo no tocante às penas e medidas alternativas à prisão. No caso do Brasil, especificamente, embora tenham havidos progressos no campo das penas e medidas não privativas de liberdade, notadamente após o advento da Lei nº. 9.714/98, ainda há uma predominância da pena de prisão, em detrimento de outras alternativas ao cárcere. Do mesmo modo, ainda há uma grande resistência em se despenalizar ou descriminalizar condutas claramente insignificantes à luz do direito penal.   
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução Lucia Guidicini, Alessandro Berti Contessa; revisão Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Clássicos) 
 
BIANCHINI, Alice et al. Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. Coordenação Luiz Flávio Gomes e Ivan
Luís Marques. São Paulo: RT, 2011. 
 
DURKHEIM, Emile. Dos leyes de la evolución penal. Caderno CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 635-652, Set./Dez. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792009000300014&lng=pt&nrm=iso Aceso em: 21 set. 2011.
 
GARLAND, David.  A Cultura do Controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de janeiro: Revan, 2008. (Coleção pensamento criminológico)
 
GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo: RT, 1999. (Coleção temas atuais de direito criminal, v. 1)
 
HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão. Tradução Maria Lúcia Karam. Niterói: Luam, 1993.
 
LOPES JUNIOR, Aury. O novo regime jurídico da prisão processual, liberdade provisória e medidas cautelares diversas: Lei 12.403/2011. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 
 
MAIA, Clarissa Nunes et al. (Org.). História das prisões no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
 
MEREU, Italo. A morte como pena: ensaio sobre a violência legal. Tradução Cristina Sarteschi; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Justiça e direito)
 
OLIVEIRA, André Abreu de. Direito penal mínimo e sua aplicação no atual Estado brasileiro. A Tarde, Coluna Judiciárias, Salvador, p. 6, 27 jul. 2006.
 
REGRAS DE TÓQUIO. Tradução Damásio E. de Jesus. São Paulo: Paloma, 1998.
 
SYKES, G. M. The society of captives: a study of a maximum prison. New Jersey: Princeton University Press, 1999.
 
WACQUANT, Loic. As Prisões da miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
 
 [1] MAIA, Clarissa Nunes et al. (Org.). História das prisões no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. 
 
 [2] DURKHEIM, Emile. Dos leyes de la evolución penal. Caderno CRH, Salvador, v. 22, n. 57, p. 635-652, Set./Dez. 2009.
 
 
 [3] MEREU, Italo. A morte como pena: ensaio sobre a violência legal. Tradução Cristina Sarteschi; revisão da tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
 
 
 [4] BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução Lucia Guidicini, Alessandro Berti Contessa; revisão Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 97.
 
 
 [5] WACQUANT, Loic. As Prisões da miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
 
 
 [6] OLIVEIRA, André Abreu de. Direito penal mínimo e sua aplicação no atual Estado brasileiro. A Tarde, Coluna Judiciárias, Salvador, p. 6, 27 jul. 2006.
 
 
 [7] SYKES, G. M. The society of captives: a study of a maximum prison. New Jersey: Princeton University Press, 1999. 
 
 
 [8] Consoante dados obtidos no Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen do Departamento Penitenciário Nacional/ Ministério da Justiça. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/
 MJD574E9CEITEMID364AC56ADE924046B46C6B9CC447B586PTBRIE.htm Acesso em: 9 dez. 11.
 
 
 [9] BIANCHINI, Alice et al. Prisão e medidas cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. Coordenação Luiz Flávio Gomes e Ivan Luís Marques. São Paulo: RT, 2011. 
 
 
 [10] Cf. HULSMAN, Louk; CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas perdidas: o sistema penal em questão. Tradução Maria Lúcia Karam. Niterói: Luam, 1993. 
 
 
 [11] Na elaboração deste capítulo, foi utilizada preponderantemente a tradução das Regras de Tóquio realizada por Damásio E. de Jesus.   
 
 
 [12] GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo: RT, 1999.
 
 
 [13] GARLAND, David.  A Cultura do Controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de janeiro: Revan, 2008, pp. 63-64.
 
 
 [14] GOMES, Luiz Flávio. Op. cit.
 
 
 [15] LOPES JUNIOR, Aury. O novo regime jurídico da prisão processual, liberdade provisória e medidas cautelares diversas: Lei 12.403/2011. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 
 
 
 [16] Fonte: Tribunal de Justiça da Bahia. Disponível em: http://www5.tj.ba.gov.br/index.php Acesso em: 10 dez. 11.
 
 
 [17] Fonte: Ministério da Justiça. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/ Acesso em: 10 dez. 11.
 
 
 [18] GOMES, Luiz Flávio. Op. cit.
 
	
	
	
		OLIVEIRA, André Abreu de. "Regras de Tóquio como princípios norteadores de alternativas ao cárcere". Disponível em: (http://www.ibccrim.org.br)
	
		
	
	
				
				
		
		
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