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Anamnese e intervenção de um dependente químico

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Universidade Estácio de Sá
2018.1
Código de Ética do Psicólogo
Este trabalho foi realizado de acordo com os seguintes princípios fundamentais do código de ética do psicólogo.
I – O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do seu humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal do Direitos Humanos.
II- O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Art 1º 
j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com estes, salvo impedimento por motivo relevante.
Art 9º
É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que se tenha acesso no exercício profissional.
Anamnese de um dependente químico
O paciente J.L é dependente de álcool, maconha, cocaína e nicotina, é do sexo masculino, 38 anos, ensino médio completo, natural do Rio de Janeiro, casado, tem 1 filho de 5 anos, que é criado pelos pais dele. 
Além da dependência química, está apresentando um quadro de tuberculose, mas a história da doença gira em torno dos mais de 20 anos de vícios em drogas lícitas e ilícitas, mas de forma mais intensa nos últimos 10 anos e não consegue abandonar, sendo assim a cada dia sua saúde tem sido comprometida, bem como de todos a sua volta, devido se tratar de uma doença contagiosa. 
Foi diagnosticado com tuberculose pelo médico do trabalho durante um exame periódico, que é realizado anualmente. Através do raio-x o médico detectou a doença e recomendou procurar um especialista para fazer o exame de escarro e ser tratado adequadamente. Apesar de ter noção da gravidade da doença, demonstra-se completamente alheio ao tratamento, só foi a consulta com a pneumologista porque a irmã agendou, mas mesmo assim faltou 2 vezes, alegando não ter tempo, foi preciso muita insistência e paciência. A esposa dele acompanhou a consulta e foi orientada a também realizar um raio-x, devido ao risco de contágio. A médica pediu alguns exames para dar continuidade ao tratamento, já se passaram 2 semanas e ainda não foram realizados.
Atualmente, ingere aproximadamente 700ml de álcool, fuma um maço de cigarro de tabaco e dois de maconha, além dos “tecos” de cocaína diariamente. Bebe, fuma ou cheira a maior parte do dia, aborrecendo-se quando não pode consumir, pois segundo ele, assim consegue energia para trabalhar ou relaxar, sem as drogas ele se sente ansioso, irritado e impaciente.
J.L teve uma infância aparentemente normal, foi criado na zona oeste do Rio, no bairro de Realengo. Sofreu uma forte influência, pois morava dentro do problema, sempre teve acesso fácil as drogas em seu local de moradia, então não conseguiu esconder por muito tempo da família e vizinhos. 
O pai tem uma postura rígida e séria, pouca conversa, autoritarismo, abraços só em dias festivos. Além disso trabalhava em escala 6x1, vivia para o trabalho e o tempo em casa era pra descansar, seu foco era a provisão das necessidades básicas, sem muito envolvimento com a família, ou seja, “não queria esquentar a cabeça”, deixando a cargo da mãe. Hoje o pai está aposentando e mantém a mesma postura de não enfrentamento. A mãe sofre de pressão alta e é muito ansiosa, nunca trabalhou fora de casa, fazia apenas alguns trabalhos informais. Sempre viveu em função da família, porém muito permissiva, pouca autoridade, sem monitoramento das atividades e companhias do filho em plena adolescência. Os pais se mostram omissos ao quadro da doença. Existe silêncio e uma grande dificuldade em falar de sentimentos nesta família.
Tem também uma irmã mais velha (39 anos), cuja relação na infância era muito próxima até ele iniciar no mundo das drogas, brincavam juntos e eram muito amorosos um com o outro, até que J.L adotou um perfil mais agressivo, ausente e frio. A irmã por sua vez se distanciou e recorreu a religião e os estudos para encontrar conforto em seu sofrimento familiar, além disso é estudante de Psicologia.
A esposa se mostra preocupada, mas cansada por não ver esforço dele em se tratar, ela fuma cigarro e bebe também. J.L é um “pseudomarido”, um “pseudoprovedor”, ou seja, vive sua pseudo diferenciação nas áreas mais importantes de sua vida. Apesar de ter idade de adulto, vive como um adolescente, condição esta facilitada tanto pela forma como a família trata seu problema quanto por sua vivência na dependência. 
J.L nunca se envolveu com crimes e nem praticou roubos dentro de casa ou na rua para manter seus vícios, mas a mãe sempre forneceu dinheiro para comprar cigarros e bebida.
Ele concluiu o Ensino Médio com muito custo, talvez até devido a rigidez do pai. Custou a engrenar no mercado de trabalho, aos 18 anos sobrou no Exército e ficou bastante decepcionado na época. Passou por vários empregos e na maioria foi demitido durante o período de experiência, porque brigou ou xingou alguém ou por faltas sem justificativas. Atualmente trabalha como motorista dos caminhões de lixo da prefeitura. 
Apesar dele trabalhar, seu dinheiro nunca foi investido em proveito próprio ou da família, como por exemplo: alimentos, roupas novas, cursos, lazer e etc..., tudo que recebe vai para os vícios. 
Introdução
Droga é qualquer substância que tem a capacidade de atuar sobre um ou mais sistemas do organismo, produzindo alterações em seu funcionamento.
O consumo de drogas está cada vez mais frequente em nossa sociedade, gerando um problema de saúde pública devido as consequências associadas ao uso abusivo.
A adolescência é um período de transição física e comportamental, é uma fase bastante vulnerável às drogas, tais como influência do grupo de amigos, busca pelo novo, curiosidade, fuga das dificuldades, contradição dos valores estabelecidos pelos familiares entre outros. Em meio a esses conflitos que surgem as drogas como possibilidade de transpor os problemas, sendo assim, o jovem passa a utilizar as drogas não pelo prazer antes oferecido, mas sim pelo desprazer de ficar sem ela.
Estudo de caso
No caso do domínio familiar, aspectos como fortes vínculos familiares, a qualidade dos mesmos, o relacionamento positivo, o estabelecimento de regras e limites claros e coerentes, o monitoramento e a supervisão, o apoio, a negociação e a comunicação, convencionalismo e equilíbrio são considerados como fatores que protegem o adolescente do uso de drogas (Schenker & Minayo, 2003; Toscano Jr., 2001b), uma vez que quanto mais fortes forem tais fatores, menor será, por exemplo, a influência do grupo de usuários sobre o indivíduo (Toscano Jr., 2001b). 
Por outro lado, entre os principais fatores familiares de risco identificados em diversas pesquisas destacam-se: problemas de relacionamento entre pais e filhos, relações afetivas precárias e ausência de regras e normas claras dentro do contexto familiar (limites), uso de drogas pelos pais, irmãos ou parentes próximos, situações de conflitos permanentes, dificuldades de comunicação e a falta de acompanhamento e monitoramento constante dos filhos por parte dos pais, além da falta de apoio e de orientação (Toscano Jr., 2001b), bem como a atmosfera da casa e a falta de qualidade das relações familiares (Nurco & Lerner, 1996).
A dependência química não apareceu de repente na vida de J.L, começou de forma recreativa entre os amigos, até chegar no desejo poderoso de consumir a droga e à dificuldade de controlar seu consumo, gerando alterações comportamentais, cognitivas e fisiológicas. Inicialmente existia uma falsa ideia que tudo ia bem, mas a dependência trouxe precedentes da infância e adolescência, devido a falta de imposição de limites e monitoramento das atividades e companhias. Além disso sofreu uma forte influência, pois moravadentro do problema, sempre teve acesso fácil as drogas em seu local de moradia.
O primeiro movimento realizado em direção às drogas ocorreu na adolescência, entre seus 14 e 16 anos, justamente um período especialmente crítico na vida de um adolescente. 
Além da tuberculose e dependência química, J.L tem problemas renais e gastrointestinais, pois é conhecida a relação entre o uso de álcool e drogas e uma vasta gama de complicações clínicas, como doenças cardíacas, hepáticas, renais, respiratórias, gastrointestinais e neurológicas. 
Nunca fez uso de remédios controlados, mas está com uma consulta agendada com um psiquiatra em junho/18, para o alívio de transtornos do pensamento e do comportamento.
A irmã de J.L deixou de lado as mágoas do passado e assumiu a posição de liderança frente ao caso. Começou receitando alguns medicamentos fitoterápicos e florais¹, levou-o a um ritual indígena do chá ayahuasca², que é bastante recomendado em casos de depressão e dependência química. Ele chegou a responder positivamente, ficando uma semana sem consumir substância psicoativa, mas após esse breve período retornou o uso normalmente. Ela planeja a internação e a interdição, visto que ele já perdeu completamente o controle de sua vida.
J.L nunca antes teve uma intervenção familiar, faltou estrutura, comunicação e apoio em acompanhar o caso mais de perto, inclusive já sofreu alguns acidentes de carro por andar alcoolizado. 
Sem metas de crescimento profissional e pessoal, JL, cada vez mais frustrado, se droga com mais vigor e desespero. Acaba por se colocar em uma condição que deixa sua família diante de um trágico dilema: suportá-lo assim, ou deixá-lo, com o risco de perdê-lo para sempre.
De forma inconsciente J.L vem buscando sua autodestruição, e por isso, é um doente, pois quer destruir os maiores bens que possui: a vida, família e liberdade.
Análise dos processos cognitivos 
Consciência: O paciente apresenta-se consciente. 
Atenção: O paciente apresenta-se atento. 
Orientação: O paciente apresenta-se orientado de acordo com o lugar, pessoa e tempo. 
Pensamento: O paciente exibe pensamentos e ideias organizados. 
Percepção: O paciente não apresenta perturbações da percepção. 
Linguagem: O paciente apresenta padrão de linguagem normal. 
Memória: O paciente não apresenta uma boa memória de curto prazo, esquece palavras, começa um assunto e depois não lembra do que estava falando, esquece de compromissos. Mas tem uma excelente memória de longo prazo, lembra com detalhes de situações ocorridas na infância.
Afeto: Paciente encontra-se com estado afetivo normal, mas demonstra muita frieza em alguns aspectos.
Coordenação motora: Não apresenta alterações na coordenação motora.
Intervenção
Dentre os problemas identificados, J.L apresenta um relacionamento familiar conturbado, influência negativa de amigos, falta de interesse e assiduidade nos tratamentos. 
Além disso, se faz necessário outras medidas para uma intervenção mais eficaz. 
Promover uma melhor interação familiar;
Mudança no padrão comportamental de todos;
Favorecer inserção familiar e social; 
Encaminhar para acompanhamento psicológico;
Estimular o interesse pelo tratamento, assiduidade e participação nas atividades de grupo;
Estimular relações interpessoais saudáveis. 
Explicar as complicações da interação entre os medicamentos (da tuberculose) e o álcool.
Considerações finais
Através deste estudo de caso foi possível conhecer um pouco mais sobre a dependência de drogas. Apesar de a dependência de substâncias psicoativas ser um problema crescente em nossa sociedade e difícil de ser controlado, através de uma boa assistência integral aos dependentes e da implementação de estratégias de educação em saúde com relação a esse grave problema de saúde pública muito prevalente principalmente entre os jovens e adolescentes, esse quadro pode ser modificado ou pelo menos amenizado. Isso vai depender da forma como o indivíduo e a sua família, bem como a sociedade em geral lidam com o problema, além do grau de conscientização de toda população, bem como da atuação dos profissionais de saúde. A escuta atenta, o respeito, a interação, a confiança e o vínculo são elementos que precisam ser utilizados na prestação de uma boa assistência. E com este trabalho, aprendi a valorizar ainda mais todos esses aspectos e, assim, poderei aplicá-los na minha futura prática profissional.
“A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada.”
Mark Twain
Referência bibliográfica:
Kessler, F., Faller, S., Souza-Formigoni, M. L. O. D., Cruz, M. S., Brasiliano, S., Stolf, A. R., & Pechansky, F. (2010). Avaliação multidimensional do usuário de drogas e a Escala de Gravidade de Dependência. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
Pratta, E. M. M., & Santos, M. D. (2006). Reflexões sobre as relações entre drogadição, adolescência e família: um estudo bibliográfico. Estudos de Psicologia, 11(3), 315-322.
Lima, I. S., Paliarin, M. M., Zaleski, E. G. F., & Arantes, S. L. (2008). História oral de vida de adolescentes dependentes químicos, internados no setor de psiquiatria do hospital regional de Mato Grosso do Sul para tratamento de desintoxicação. SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas, 4(1), 00-00.
Schenker, M., & Minayo, M. C. D. S. (2004). A importância da família no tratamento do uso abusivo de drogas: uma revisão da literatura. Cadernos de Saúde Pública, 20, 649-659.
Goulart, S. L. (2004). Contrastes e continuidades em uma tradição Amazonica: as regiões da Ayahuasca.
Junior, V. F. V., Pinto, A. C., & Maciel, M. A. M. (2005). Plantas medicinais: cura segura. Química nova, 28(3), 519-528.
_________________________________
¹ A utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade.
² Ayahuasca é um termo quíchua, cuja etimologia é dada por Luís Eduardo Luna como: Aya – persona, alma, espíritu muerto; Wasca – cuerda, enradadera, parra, liana. A denominação, segundo este antropólogo, é uma das mais usadas para designar tanto a bebida quanto uma das plantas que a compõem: o cipó Banisteriopsis caapi. (Luna 1986, pp. 73-4). Pode-se traduzir literalmente ayahuasca para o português, portanto, como “corda dos espíritos” ou “corda dos mortos” e ainda como “cipó (liana) dos espíritos ou dos mortos”. Alguns dicionários on-line colocam, também, que ayahuasca é um neologismo quíchua, surgido na segunda metade do século XIX. Em todos os grupos religiosos, combina-se o cipó B. caapi com as folhas de outra espécie vegetal, a Psychotria viridis, a qual contém o princípio ativo DMT (N-dimetiltriptamina). O cipó e as folhas, juntos, são cozidos e fervidos, seguindo-se um processo ritual complexo. O resultado final é um chá considerado sagrado, o qual será consumido nas cerimônias das linhas religiosas do Santo Daime, da Barquinha e da UDV, constituindo-se no seu principal elemento ritual e simbólico.

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