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I. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Segundo o art. 315, há crime na conduta de dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. A pena é de detenção, de 1 a 3 meses, ou multa. Trata-se de IMPO. O sujeito dá à verba ou renda pública aplicação diversa da prevista em lei. Veja, é necessário consultar uma outra lei para aferir se houve o crime. Trata-se de uma norma penal em branco. a) Sujeitos do crime Sujeito ativo deve ser funcionário público, mas não qualquer um. Deve ser um funcionário público que tenha poder de administração da verba e da renda pública: Presidente da República, Governador de Estado, Prefeito, etc. Segundo o Supremo, Secretária de Estado que desvia verbas de convênio federal que tinha destinação específica e as utiliza para pagamento da folha de servidores não pratica o crime de peculato (art. 312 do CP), mas sim o delito de emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315) (Inf. 813). b) Ação penal É incondicionada. II. Concussão Segundo o art. 316, constitui crime a conduta de exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. A pena é de reclusão, de 2 a 8 anos, e multa. a) Sujeitos do crime Sujeito ativo deve ser funcionário público, mas também aquele indivíduo que ainda não está no exercício da função. Sujeito passivo é a administração pública, mas também o particular que sofreu o constrangimento. Pergunta: A vantagem deverá ser patrimonial, ou poderá ser de outra natureza, como a sexual? Há entendimento para os dois lados. Samer entende que a vantagem poderá ser de qualquer natureza, pois não se está a tratar de crimes contra o patrimônio, e sim crimes contra a administração. Dessa forma, mesmo que a vantagem seja sexual, já haverá mácula à imagem e à credibilidade da administração, bem jurídico tutelado pelo tipo penal. Pergunta: De quem é a competência para julgar crime de concussão praticado pelo médico do SUS? O entendimento dos Tribunais Superiores, no que toca ao crime de concussão de médico vinculado ao SUS, é de competência da Justiça Estadual. Pergunta: Haverá o crime de concussão quando a vantagem indevida é exigida para a própria administração pública? A lei não faz essa distinção, motivo pelo qual da mesma forma haverá o crime. Isso porque, se a vantagem é indevida, não cabe essa exigência, ainda que essa vantagem beneficie a administração, razão pela qual haverá o tipo penal. Pergunta: É preciso que o sujeito consiga a vantagem que ele exige? Não é necessário que o indivíduo consiga a vantagem para cometer o delito, bastando que faça a exigência. Trata-se, portanto, de um crime formal. Segundo o STJ, no crime de concussão, a situação de flagrante delito configura- se no momento da exigência da vantagem indevida (crime formal). A entrega da vantagem indevida é mero exaurimento do crime (Inf. 564). b) Ação penal É incondicionada. III. Excesso de exação Segundo o §1º do art. 316, haverá o crime de excesso de exação se o funcionário exigir tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. A pena é de reclusão, de 3 a 8 anos, e multa. Observe que no tocante à segunda conduta, “exigir tributo ou contribuição social devido, empregando na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza”, é necessário verificar se a lei autoriza ou não. Dessa forma, há aqui uma norma penal em branco. O §2º estabelece que, se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos, a pena será de reclusão, de 2 a 12 anos, e multa. Veja, se o funcionário cobrou tributo que era indevido, mas, ao invés de recolher aos cofres públicos, ele desviou para si ou para outrem, motivo pelo qual será de 2 a 12 anos. a) Sujeitos do crime Só o funcionário público poderá praticar o crime. É crime próprio. Sujeito passivo é a administração pública. b) Consumação No momento em que há a cobrança ilícita, ou quando devido o tributo, é empregada a cobrança de maneira irregular. c) Ação penal É incondicionada. IV. Corrupção passiva Segundo o art. 317, constitui crime a conduta de solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. O agente poderá praticar o crime por 3 condutas diferentes: Solicitar vantagem indevida Receber vantagem indevida Aceitar promessa de vantagem indevida A pena será de reclusão, de 2 a 12 anos, e multa. Segundo o §1º, a pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário: Retarda qualquer ato de ofício Deixa de praticar qualquer ato de ofício Pratica ato de ofício infringindo dever funcional Veja, o §2º vai dizer que, se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem, a pena será de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. Trata-se do crime de corrupção passiva privilegiada. Trata-se de IMPO, cabendo transação e suspensão condicional do processo. a) Sujeitos do crime Sujeito ativo deve ser funcionário público, mas também aquele indivíduo que ainda não está no exercício da função. Sujeito passivo é a administração pública e a pessoa que será constrangida com a solicitação. Atente-se que o indivíduo que paga a vantagem solicitada pelo funcionário público não comete o crime de corrupção ativa. Por outro lado, o indivíduo que promete pagar vantagem ao funcionário público, que a aceita receber, cometerá o crime de corrupção ativa, pois se trata de exceção pluralista à teoria monista. O particular cometerá o crime de corrupção ativa e o funcionário o crime de corrupção passiva. Em relação à vantagem que o funcionário público irá receber, Nelson Hungria entende que deverá ser patrimonial. Todavia, Fragoso, Mirabete, Damásio, Sanches e Samer entendem que qualquer espécie de vantagem já justifica a incidência do tipo penal. Essa corrupção passiva é classificada como: Corrupção imprópria: ocorre quando visa a prática de um ato legítimo. Ex.: funcionário aceita a vantagem para fazer o ato mais rápido. Em outras palavras, o agente faz o certo, mas de forma mais célere, ou de forma a beneficiar o indivíduo que pagou a vantagem. Corrupção própria: ocorre quando o agente recebe vantagem para a prática de um ato injusto. Ex.: receber vantagem para aprovar projeto ambiental lesivo ao meio ambiente. b) Consumação O crime de corrupção passiva se consuma no momento em que há solicitação da vantagem, ou no momento em que o sujeito recebe a vantagem ou ainda quando ele promete aceitar a vantagem. Na modalidade de: “aceitar” e “prometer aceitar” haverá um crime formal. Todavia, na modalidade “receber”, haverá um crime material. Não haverá corrupção passiva, quando a solicitação feita pelo agente público é impossível de ser atendida pelo particular (extraneus). c) Ação penal É incondicionada. V. Facilitação de contrabando ou descaminho Aqui também há uma exceção pluralista à teoria monista, pois o sujeito que facilita o contrabando ou descaminho não responde pelo descaminhoou pelo contrabando, mas sim pelo art. 318 do CP. Segundo o art. 318, haverá crime na conduta de facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho. A pena é de reclusão, de 3 a 8 anos, e multa. a) Sujeitos do crime É o funcionário público que tenha por dever a prática de impedir o crime de contrabando ou descaminho. Veja, o sujeito viola o seu dever funcional e facilita a prática de contrabando ou descaminho. Todavia, se o agente público não tinha o dever de impedir o contrabando ou descaminho, mas ele facilita de alguma forma o crime, então responderá pelo contrabando ou descaminho, na condição de partícipe. O sujeito passivo é o Estado. b) Consumação O delito se consuma com a efetiva facilitação do descaminho ou do contrabando. Veja, não importa se o descaminho ou contrabando se completou, bastando que o sujeito tenha facilitado o contrabando ou facilitado o descaminho. c) Ação penal A ação penal é pública incondicionada. VI. Prevaricação Segundo o art. 319, é crime de prevaricação a conduta de retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa. É IMPO, cabendo transação e suspensão condicional do processos. Trata-se de um crime funcional próprio, pois se desaparecer a elementar funcionário público, o delito se transforma num indiferente penal. “Indevidamente” é elemento normativo do tipo, exigindo análise pelo magistrado. a) Sujeitos do crime É sujeito ativo o funcionário público (crime próprio). É necessário que o funcionário público tenha a autorização para a prática do ato, pois, se o ato não era da competência do funcionário público, não é possível considerar que houve violação a um dever funcional. O sujeito passivo é o Estado (administração). b) Voluntariedade A conduta é praticada dolosamente. Veja, o especial fim de agir reside na expressão “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. Dessa forma, é indispensável que haja esse dolo específico para configurar o crime. c) Consumação A consumação se dá com a prática de qualquer um dos núcleos do tipo: “retardar, indevidamente, ato de ofício”, “deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício” ou “praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei”. Trata-se de crime formal. É dispensado que haja a satisfação do interesse pessoal visado pelo servidor. d) Ação penal É incondicionada. VII. Prevaricação imprópria Segundo o art. 319-A, constitui prevaricação imprópria a conduta de deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano. É IMPO. A doutrina diz que este dispositivo viola o princípio da proporcionalidade, por se tratar de pena muito branda em relação à gravidade do delito. Veja, trata-se de crime omissivo próprio. a) Sujeitos do crime O sujeito ativo só poderá ser Diretor de Penitenciária ou o agente público, cujas funções sejam de evitar o acesso do preso a esses aparelhos de comunicação: diretor da penitenciária, carcereiro, policial militar, etc. Pergunta: O preso que é surpreendido com aparelho celular comete o crime? Em tese, seria uma falta grave, conforme art. 50, VII, da LEP. b) Consumação O crime se consuma no momento em que há a omissão do dever. É dispensável que o preso faça o efetivo exercício do aparelho de comunicação. A partir do momento em que se deixa de impedir o acesso do preso a esse aparelho, ele comete o crime. c) Ação penal É incondicionada. VIII. Condescendência criminosa Diz o art. 320 que haverá crime na conduta de deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente. A pena é de detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa. É IMPO. Veja, o agente deixa de responsabilizar o subordinado por conta de uma infração, ou deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade, caso não tenha competência para aplicar a punição. a) Sujeitos do crime Só poderá praticar o funcionário público (crime próprio) hierarquicamente superior ao servidor infrator. O sujeito passivo é o Estado. Se o superior se omite por um sentimento diverso do de indulgência, poderá haver outro crime, como o de prevaricação. Ação penal É incondicionada.
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