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especies de direitos reais

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Espécies de Direitos Reais
Os direitos reais são enumerados no art. 1.225 do Código Civil: propriedade, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador do imóvel, penhor, hipoteca, anticrese, con- cessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito real de uso.A propriedade é direito real completo. Os demais resultam de direitos reais sobre coisas alheias. O penhor, a hipoteca e a anticrese são chamados de direitos reais de garantia, e os demais, de direitos reais de gozo ou fruição.
A concessão de uso especial para fins de moradia e a concessão de direito real de uso foram incluídas no rol dos direitos reais do citado art. 1.225 do Código Civil pelo art. 10 da Lei n. 11.481, de 31 de maio de 2007, que prevê medidas voltadas à organização fundiária de interesse social em imóveis da União.A primeira está assegurada pelo art. 183, § 1o, da Constituição Federal.A referida Lei n. 11.481/2007, por conseguinte, previu como direito real a concessão de uso especial, com a finalidade de operacionalizar o direito social de moradia e o de concessão de uso especial para fins de moradia.Trata-se de instituto que constitui decorrência da política urbana prevista na Carta Magna. A concessão de direito real de uso dá-se por ato administrativo vinculado ao poder público, sobre imóvel de propriedade da União Federal, ato que deverá ser levado ao registro imobiliário para que o direito real se constitua plenamente. Aplicam-se-lhe as regras do uso e do usufruto dos arts. 1.412 e 1.423 do Código Civil, naquilo que for compatível.
Obviamente, o objeto do direito real abarca não só as coisas corpóreas, como também as incorpóreas, desde que ambas as espécies sejam suscetíveis de ter um valor. As coisas que, embora necessárias e úteis, não se adaptam a uma medida de valor, como o ar, a luz e o mar, não se reputam coisas no sentido do Código Civil de 1916 e do novo Código.
As controvérsias se fazem sentir quanto às coisas incorpóreas. No caso dos direitos reais, podem se manifestar no usufruto e no penhor. É possível o usufruto sobre um determinado direito, ou sobre um crédito, ou uma importância em dinheiro, cujo proveito envolverá os rendimentos da quantia monetária. O penhor, outrossim, realiza-se também sobre títulos de crédito, com a denominação de caução. De modo que o objeto do direito real será um direito pessoal, que é incorpóreo. Assim expõe Manuel Antonio Laquis, inspirado no francês Ginissar:
La noción de propiedad comprende, de este modo, tanto las cosas corporales como las incorporales, y si a ella se agrega la concepción, que admite Ginossar, de que el patrimonio está constituido por um conjunto de derechos que se ejerce tanto sobre los objetos concretos como sobre los abstractos, el patrimonio quedaría integrado por dos grandes clases de derechos: los derechos corporales y los derechos incorporales. Aquellos consistirían, como en el pasado, en la propiedad de bienes concretos, muebles o inmuebles; éstos, en la propiedad de créditos, que permiten a sus propietarios, llamados acreedores, exigir de una persona determinada, llamada deudor, una prestación positiva de hacer, o negativa de no hacer.
As produções do espírito também são objeto do direito real enquanto integram a propriedade. O próprio Código Civil de 1916, omitindo-se o novo Código, desta maneira se referia relativamente à propriedade literária, científica e artística. As produções da mente constituem bens estimáveis economicamente, como também sob outros prismas. Os inventos, as criações culturais em qualquer setor, e mesmo as ideias integram o campo dos direitos reais, por constituírem bens apreciáveis, enquanto englobados no âmbito da propriedade.
E tudo que repercute um valor econômico, representando uma conquista da pessoa, ou uma aquisição, em que se manifesta em um poder de submissão, como o fundo de comércio, ou a clientela, o emprego, é incluído na categoria dos direitos reais, sofrendo a regulação das normas que tratam da propriedade. Não fosse desta maneira, tais emanações do espírito ou produções humanas não ensejariam direitos e obrigações de seus titulares.
Aquisição dos Direitos Reais
No direito brasileiro o contrato, por si só, não basta para a transferência do domínio. Por ele criam-se apenas obrigações e direitos (CC, art. 481). O domínio, porém, só se adquire pela tradição, se for coisa móvel (art. 1.226), e pelo registro do título, se for imóvel (art. 1.227). Desse modo, enquanto o contrato que institui uma hipoteca ou uma servidão não estiver registrado no Cartório de Registro de Imóveis, existirá entre as partes apenas um vínculo obrigacional. O direito real, com todas as suas características, somente surgirá após aquele registro.
Os direitos reais continuarão incidindo sobre os imóveis, ainda que estes sejam alienados, enquanto não se extinguirem por alguma causa legal. Os adquirentes serão donos de coisa sobre a qual recai um direito real pertencente a outrem.
Constituição dos Direitos Reais e a Escritura Pública
Constituem-se os direitos reais sobre imóveis pelo contrato, em geral na forma de escritura pública, inserido no Registro de Imóveis. Os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais de imóveis de valor inferior a cinquenta mil cruzeiros em junho de 1983 dispensavam a escritura pública. É o que ressaltava o art. 134, inc. II, do Código Civil de 1916, na redação vinda com a Lei nº 7.104, de 1983, sendo que o valor acima de cinquenta mil cruzeiros deveria ser corrigido desde janeiro de 1984, a teor do § 6º do mencionado art. 134.
Com o Código Civil introduzido pela Lei nº 10.406, ficou simplificada a matéria, colocando-se como limite para a exigência os atos que envolvem a constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais em valor acima do correspondente a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País, segundo o art. 108: “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo vigente no País”.
Citam-se alguns casos de desnecessidade da escritura pública:
– para os contratos hipotecários que integram o Sistema Financeiro da Habitação, para a aquisição da moradia própria, inspirados na Lei nº 4.380/1964, art. 61, § 5º;
–para os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão de direitos relativos a imóveis, loteados ou não, urbanos ou rurais, segundo o art. 22 do Decreto--Lei nº 58, de 1937, e art. 26 da Lei nº 6.766, de 1979;
–para as cédulas pignoratícias e hipotecárias permitidas pelo Código Civil, e as de crédito reguladas por leis especiais, como a habitacional (Decreto-Lei nº 70, de 1966), a rural (Decreto-Lei nº 167, de 1967), a industrial (Decreto-Lei nº 413, de 1969), a comercial (Lei nº 6.840, de 1980, e a de exportação (Lei nº 6.313, de 1975).
Estas formas contratuais se materializam por instrumento particular, que será levado a registro imobiliário.
A propriedade fiduciária exige o registro do contrato, público ou particular, no Registro de Títulos e Documentos, por determinação do § 1º do art. 1.361 do Código Civil de 2002: “Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro”.
Doutrinava Walter Ceneviva, ao tempo do Código de 1916, que “os atos notariais incluem, obrigatoriamente, os referidos nos nºsI e II do art. 134 do CC, a saber: os pactos antenupciais, as adoções, os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis(...). A nova lei (Lei nº 7.433, de 18.12.1985) também inclui as procurações por instrumento público, arenúncia à herança, a instituição do bem de família, os testamentos públicos, o reconhecimento de filhos ilegítimos não lançados no próprio assento de nascimento, a instituição de fundação, a emancipação por escritura”.15 O Código Civil indica a necessidade da escritura pública quando trata de matérias que a impõem.
A escritura pública, em consonância com o art. 134 e seus parágrafos do Código Civil de 1916, na redação dada pela Lei nº 6.952, de 6.11.1981, e pela Lei nº 7.433/1985, deveria preencher os seguintes requisitos:
a)data e lugar de sua realização;
b)reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato;
c)qualificação completa das partes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do cônjuge e filiação;
d)manifestação da vontade das partes e dos intervenientes;
e)declaração de ter sido lida às partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram;
f)assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião, encarregado do ato.
Eis os requisitos vindos com o Código Civil de 2002, § 1º, do art. 215:
a)data e local de sua realização;
b)reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;
c)nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação;
d)manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;
e)referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato;
f)declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram;
g)assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato.
Na impossibilidade de assinatura de um dos comparecentes, permite-se que alguém assine por ele, a seu rogo, segundo ordenava o § 2º do art. 134 do Código Civil de 1916 e impõe o § 2º do art. 215 do vigente Código, este assim redigido: “Se algum comparecente não puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo”.
Ainda, não conhecendo o tabelião os contratantes, ou um deles, impõe-se a identificação por documento, ou, na sua falta, é obrigatória a participação no ato de pelo menos duas testemunhas que conheçam e atestem a identidade do contratante naquela instituição, na forma do que vinha no § 5º do art.  134  do  Código Civil de 1916 e consta do § 5º do art. 215 do Código em vigor.
Mas, na ordem da Lei nº 7.433, art. 1º, sempre é necessário a apresentação de um documento de identidade.
Quanto às testemunhas, seriam indispensáveis se o requisito viesse posto como condição para a validade do ato jurídico, o que acontecia nas Ordenações Filipinas (Livro I, Título LXXVII, § 6º). Não mais vige norma expressa a respeito desde a Lei nº 6.952, de 1981, que alterou o art. 134 do Código Civil de 1916. O § 5º do art. 215 do Código de 2002, determina a presença de testemunhas se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se por documento.
A inteligência de que não há mais a imposição do testemunho instrumentário, ausente norma expressa a respeito, parte da consideração de que a nova disciplina nasceu da evolução do pensamento sobre a matéria, desaparecidas as circunstâncias e condições que haviam levado ao estabelecimento do requisito, outrora razoáveis, mas presentemente de simples importância simbólica.
Admite-se, todavia, o testemunho instrumentário facultativo, a critério dos figurantes do ato.
Redige-se a escritura no idioma nacional (art. 134, § 3º, do Código Civil de 1916, e art. 215, § 3º, do Código atual), devendo o tabelião designar tradutor ou, se não houver na localidade, pessoa capaz, se algum dos contratantes não souber a língua nacional, e se ele, tabelião, não entender o idioma em que a parte se expressa (art. 134, § 4º, do Código Civil de 1916, e art. 215, § 4º, do Código atual).
Consoante o Decreto nº 93.240, de 9.09.1986, art. 1º, serão apresentados, ainda: documentos de identificação das partes e das demais pessoas que comparecerem na escritura pública, quando julgados indispensáveis pelo tabelião; o comprovante do pagamento do imposto sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos, quando incidente sobre o ato, ressalvadas as hipóteses em que a lei autorize a efetivação do pagamento após a sua lavratura; as certidões fiscais em relação aos imóveis urbanos, quanto aos tributos que neles incidam, e em relação aos imóveis rurais, compreendendo o Certificado de Cadastro emitido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA; o recibo ou comprovante de quitação do último imposto territorial rural lançado, ou, quando o prazo para o seu pagamento ainda, não tenha vencido, o recibo ou prova do pagamento do imposto territorial rural correspondente ao exercício imediatamente anterior; as certidões de ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e a de ônus reais, expedidas pelo registro de imóveis competente, cujo prazo de validade, para este fim, será de trinta dias.
A apresentação de certidões de ações reais e pessoais reipersecutórias não eximirá o outorgante da obrigação de declarar na escritura pública, sob pena de responsabilidade civil e penal, a existência de outras ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e de outros ônus reais incidentes sobre o mesmo (§ 3º do art. 1º do Decreto nº 93.240/1986).
Fica o tabelião desobrigado de manter, em cartório, o original ou cópias autenticadas das certidões fiscais e concernentes a ônus, desde que transcreva na escritura pública os elementos necessários à sua identificação, devendo, neste caso, as certidões acompanharem o translado da escritura (art. 2º do Decreto nº 93.240/1986).
Não significa tal faculdade a dispensa em examinar os citados documentos, sob pena de responsabilidade funcional, o que importa a exigência de sua apresentação.
De acordo, ainda, com a Lei nº 7.433, consignará o tabelião a apresentação de documento comprobatório do pagamento do Imposto de Transmissão inter vivos e, se o exigir o adquirente, de certidões negativas relativas a ônus reais do imóvel. Acrescenta seu art. 2º que “ficam dispensadas, na escritura pública de imóveis urbanos, sua descrição e caracterização, desde que constem, estes elementos, da certidão do Cartório de Registro de Imóveis”. Consta do § 1º: “Na hipótese prevista neste artigo, o instrumento consignará exclusivamente o número do registro ou matrícula do Registro de Imóveis, sua completa localização, logradouro, número, bairro cidade, Estado e os documentos e certidões constantes do § 2º do art. 1º desta Lei”, que são os relativos ao imposto e ônus fiscais.
Lembra Walter Ceneviva, quanto ao art. 2º da Lei nº 7.433: “O art. 2º é elogiável na parte que simplifica as escrituras. A dispensa poderia estender-se a imóveis rurais quando a matrícula destes os caracterizasse devidamente, por levantamento geodésico, pelo Registro Torrens ou em consequência de retificação, confirmadas parcialmente, procedida em juízo, na forma do art. 213 da Lei dos Registros Públicos.
A dispensa, porém, não exclui a possibilidade de que a parte reclame que a descrição do imóvel conte no documento notarial. Quando haja necessidade de atualização dos confrontantes, p. ex., ela é imprescindível. O mesmo se diga de aquisições antigas que, sem alterarem a caracterização do imóvel, tornem necessário o aperfeiçoamento descritivo. Nessas hipóteses, continua a ser aplicado o § 2º do art. 225 da Lei dos Registros Públicos, que considera irregular, para efeito de matrícula, aquela que não coincida com o assentamento anterior”.
Adquirem-se os direitos reais, ainda, pelo testamento e o usucapião, além de outros meios, como se assinalará em capítulo à parte.
Todas as formas acima são causas de aquisição. Esta é um efeito daquelas, edenomina-se, no dizer de Orlando Gomes, relação causal ou básica. Assim, a aquisição da propriedade é efeito da compra e venda. O contrato é a relação jurídica básica ou causa do direito de propriedade adquirido sobre a coisa vendida. No fato de usufruto adquirido por testamento, a relação causal é justamente o testamento. Efeito é o usufruto.
A relação causal ou básica é de fundamental importância para determinar a validade do efeito, ou seja, da aquisição. Por outras palavras, a eficácia do direito real depende da existência e validade de sua relação causal. Se é nula a escritura pública, a aquisição do direito real não vale. A compra e venda sem validade não torna legítima a aquisição da propriedade. De uma transação eivada de vício, ou de ineficácia, por não ser capaz o transmitente, ou não ter o domínio do bem, não surge a eficácia do domínio, ou a validade da aquisição. Não será o adquirente proprietário.
Diversa é a orientação que vem do direito alemão, onde se prescinde da validade da relação causal. Os defeitos da escritura pública, ou dos meios de aquisição, não trazem influência na propriedade que o adquirente recebeu. Anota Orlando Gomes: “Desse modo, se a inviabilidade do contrato de compra e venda vem a se declarar quando a propriedade da coisa vendida já foi transmitida ao comprador, pela transcrição, a aquisição da propriedade é válida, em princípio; o direito real se constitui a despeito da nulidade de sua causa; em suma, o vício do título não acarreta a invalidade do modo de aquisição”.18
É o sistema conhecido como o “princípio da abstração da causa”, cuja aplicação impõe uma perfeita publicidade registrária, como foi implantado na Alemanha, especialmente no que pertine ao cadastramento dos imóveis.
Neste modo de concepção, há dois negócios jurídicos: o primeiro, relativamente à escritura pública, ou modo de aquisição em si; o segundo, quanto ao acordo de vontades. A invalidade daquele não torna nula a venda em si, ou o acordo de vontades.
Não encontrou eco em nosso Direito este sistema, assim como nos ordenamentos inspirados no Direito romano.
Obrigações mistas nos Direitos Reais
Há certas obrigações que nascem com a constituição dos direitos reais, atribuindo-se o cumprimento a seus titulares. Ou seja, o direito real se faz acompanhar da faculdade de reclamar uma prestação pessoal, cuja satisfação é imposta ao respectivo titular do mesmo. Exemplo típico encontra-se no direito real de propriedade, em que o titular é chamado a concorrer para as despesas de construção e conservação dos tapumes divisórios. Nas servidões, quando o proprietário do prédio serviente se obriga a fazer obras destinadas à conservação e uso da servidão, o mesmo fenômeno ocorre. Na constituição de renda sobre um imóvel, ao dono do prédio incumbe o pagamento da renda no caso de transmissão inter vivos ou causa mortis. Na situação dos condôminos, quanto à contribuição para a conservação da coisa comum.
De modo que, segundo nota Marco Aurélio S. Viana, algumas vezes o direito real é acompanhado das faculdades de reclamar uma prestação pessoal, impondo ao seu titular a satisfação. Assim, ao lado da faculdade de não ser molestado, posiciona-se outra que lhe adere, que se manifesta no direito de se exigir prestação específica: é a prestação propter rem.
Tais obrigações são vinculadas à coisa. Não interessa a transmissão. Acompanham o bem, pois originadas do imóvel. Conhecidas, também, como obrigações ob rem, ou propter rem, apresentam-se como obrigações reais, constituindo o direito real in faciendo, posto que ao seu titular cumpre, por tal condição ou qualidade, satisfazer uma prestação determinada. É ele devedor da prestação, a qual acompanha a coisa, incorporando-se nela.
A natureza de tal obrigação envolve aspectos dos direitos reais e aspectos dos direitos pessoais. Como se observou, há uma obrigação pessoal, dirigida a satisfazer um direito derivado do próprio bem. Este misto de direito real e pessoal resulta do enlace do dever atribuído ao titular do domínio com a prestação que a própria coisa oferece ao terceiro.
Todavia, há os que lhe dão o caráter de pessoalidade, em face de ser a relação jurídica uma prestação pessoal. Outra corrente inclina-se pelo aspecto da realidade que resulta o fato de ser alguém titular de um direito real.
O que importa, no entanto, é a existência de obrigações positivas derivadas da titularidade de alguns direitos reais, ao lado das obrigações a todos imposta de respeitar o direito real alheio, que se estabelece mais como norma de conduta, em obediência ao efeito erga omnes, que lhe é inerente.
Direitos Reais Plenos e Direitos Reais Limitados
De modo geral, propriedade é plena em favor do titular respectivo, que aproveita todos os direitos inerentes. É o que se depreendia do art. 524 do Código Civil anterior, ao garantir ao proprietário “o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente o possua”. O art. 1.228 do atual Código, em redação um pouco diferente, retrata a mesma ideia: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. Ainda, pelo art. 527 do Código Civil revogado, o domínio “presume-se exclusivo e ilimitado, até prova em contrário”. Pelo art. 1.231 do Código atual: “A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário”.
É o que vem a se inserir no significado de jus in re propria, que é a propriedade envolvendo todos os seus direitos elementares. Daí conceituar-se a propriedade como a soma de todos os direitos possíveis em favor do proprietário sobre a coisa. Os direitos em questão são os da posse, do uso, do gozo e da livre disposição.
Previa o art. 525 do Código introduzido pela Lei nº 3.071, de 1916, também a propriedade limitada, quando preceituava que, “é plena a propriedade, quando todos os seus direitos elementares se acham reunidos no do proprietário; limitada, quando tem ônus real, ou é resolúvel”. Não insere o Código de 2002 dispositivo equivalente. Entretanto, é desnecessária a previsão, já que ressalta a obviedade da limitação se incidem encargos, ou se prevista a possibilidade de resolução, como no usufruto e na compra e venda com pacto de retrovenda.
Depreende-se que a propriedade limitada decorre da atribuição a terceiros de alguns poderes incidentes sobre a coisa. Esta espécie se enquadra no jus in re aliena. Os direitos assim considerados resultam da decomposição dos diversos poderes jurídicos que se contém no direito de propriedade, como esclarece Orlando Gomes. O proprietário desmembra ou retira um dos poderes e o transfere ou passa para outra pessoa, podendo ser o de dispor, ou o de usar, ou de gozar da coisa. Assim procedendo, há a formação de um direito real na coisa alheia, que vem a denominar-se direito real limitado.
O destaque de um dos direitos poderá incidir no de usar, ou no de usar e gozar, formando, então, o direito real de uso e o direito real de usufruto.
Como observa Darcy Bessone, “a própria lei coloca, assim, ao lado da propriedade plena, a propriedade limitada, que resulta no destaque de uma ou mais faculdades da propriedade para serem atribuídas a terceiros: os titulares dos direitos reais sobre coisas alheias. A propriedade resolúvel (...) é a que se subordina a eventos futuros e incertos, cuja verificação determinará a resolução do condomínio”.22
Direitos Reais sobre coisas alheias
A propriedade em sua plenitude contém diversos componentes a saber: o uso, o usufruto, etc; esses elementos que a integram podem ou não estar reunidos nas mãos do proprietário, porque o Direito os considera como suscetíveis de se constituírem em objeto próprio, destacável, portanto, a hipótese em que conferem a um terceiro que não proprietário o Direito específico sobre essa parte destacável.
a) Servidão – O imóvel que suporta a servidão chama-se serviente. O outro, beneficiado, é dominante. Constituem restrições que um prédio suporta para uso e utilidadede outro prédio, pertencente a proprietário diferente. As servidões, como direitos reais, acompanham os prédios quando são alienados.
b) Usufruto – É o direito de desfrutar temporariamente de um bem alheio como se dele fosse proprietário, sem alterar-lhe a substância. Usufrutuário é aquele ao qual é conferido o usufruto. Nu-proprietário é aquele que confere o usufruto. Consiste na possibilidade de retirar da coisa as vantagens que ela oferece e produz. Sua duração pode ser vitalícia ou temporária.
c) Uso – É o direito de servir-se da coisa na medida das necessidades próprias e da família, sem dela retirar as vantagens. Difere do usufruto, já que o usufrutuário retira das coisas todas as utilidades que ela pode produzir e o usuário não.
d) Habitação – É um uso limitado, porque referente apenas a um prédio de habitação. Consiste no direito de se servir da casa residencial com sua família. É a faculdade de residir ou abrigar-se em um determinado prédio. Tem por traço característico a gratuidade. Tem por característica própria: o uso da casa tem de ser limitado à moradia do titular e de sua família. Não pode este servir-se dela para o estabelecimento de um fundo de comércio, ou de sua indústria; não pode alugá-la, nem emprestá-la; ou serve-se dela para a sua própria residência e de sua família ou desaparece o direito real.
e) Hipoteca – É o direito real de garantia, ou seja, é a vinculação de um bem para responder com o seu valor por uma dívida. Recai sobre os bens imóveis.
f) Penhor – É a garantia real sobre bens móveis que ficarão em poder do credor, salvo nos casos especiais de penhor rural.
g) Alienação Fiduciária – É uma forma de garantia consistente na revenda, pelo adquirente ao alienante, e no mesmo ato da compra, da coisa adquirida, ficando apenas com a sua posse. Após complementação do pagamento, dar-se-á a transferência da propriedade. É bastante utilizada nos contratos de financiamento para aquisição de automóveis.

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