Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Os grandes sistemas jurídicos contemporâneos Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas O que é um sistema jurídico? Existem vários tipos de direito no mundo. Cada país tem seu próprio direito. Contudo existem elementos comuns entre os direitos de diferentes lugares que permitem identificá-los como integrantes de uma mesma família, de um mesmo sistema. Ordenamentos jurídicos de um mesmo sistema partem dos mesmos pressupostos filosóficos e sociais, dos mesmos conceitos e técnicas, embora com adaptações às situações que lhe são particulares. Os países colonizados geralmente deram continuidade aos modelos de direito dos países colonizadores. Quais os grandes sistemas jurídicos contemporâneos ? Sistema romano-germânico O direito brasileiro se filia a este sistema. Nasceu na Europa e irradiou para as colônias e outras regiões como o Japão. Fala-se de um direito romano recuperado por volta do século XIII, pois até esta época o direito feudal era pouco sistematizado. O período do renascimento contribui muito para se voltar às origens romanas. O direito romano era razoavelmente ordenado, compilado, classificado, sistematizado e por isso muito afeito às necessidades de uma realidade que aos poucos se afastava da Igreja e exigia um direito capaz de unificar e ser concebido racionalmente. As universidades cumpriram um importante papel ao estudar este direito a partir do século XII. O direito local era ensinado mas de modo secundário até o século XVIII. O direito romano teve a virtude de unir os povos da Europa em praticamente um único modelo de direito. Com a necessidade de construir um novo direito, começa um movimento de adaptação dos costumes ao direito romano. O direito escrito, nessa fase, ainda não é um protagonista. É um direito fundado na razão. O direito natural moderno reforça essa ideia de um direito racional e o direito romano, como expressão máxima disso, assume um papel de destaque nas codificações de direitos privados do século XIX. Com isso entramos, no século XIX, na era da codificação. A partir daí, nesse modelo, a lei escrita, o direito positivo, tem um papel de destaque. A lei passa a ser a mais importante fonte do direito. Sistema Common Law Foi elaborado com base no direito costumeiro e hoje é sustentado por uma cultura de decisões judiciais, por precedentes. Inglaterra e EUA são os países mais caracterizados por esse modelo de direito, mas apresentam diferenças contundentes entre si. O nascimento desse direito deve-se à necessidade de unificar, na Inglaterra, um modelo de direito contra os costumes locais. Especialmente com a dinastia dos Tudors, em 1485, um direito de precedentes criado pela realeza vida unificar o direito na Inglaterra. Os Tribunais reais desempenham esse papel. A partir daí são as decisões judiciais que criam direito. Na Inglaterra Não existem códigos e nem Constituição escrita, mas há um número substancial de leis escritas. A lei, no entanto, deve ser encarada de modo diferente: só interessa e é eficaz no momento que é aplicada a um caso concreto. O estudo do direito é realizado predominantemente com base nos precedentes e a importância dos Juízes nesse sistema é muito grande. É um direito mais prático e menos teórico. Aprende-se o direito em casos e decisões concretas. O jurista é um prático. Nos EUA A partir do século XIX se confirmou esta tradição nos EUA, com exceção da Louisiana, convertido em Estado em 1812 e que manteve traços da tradição francesa. As diferenças com a Inglaterra são muitas. É importe lembrar que os EUA foram colônia da Inglaterra e por isso algumas categorias jurídicas baseadas no direito real nunca foram aceitas. Como nos EUA existe um federalismo de tipo praticamente puro, convivem conjuntamente um direito dos Estados e o direito federal. Cada estado conta com sua própria estrutura judiciária. O Tribunal do Júri, mesmo em matérias civis, é mais presente nesse país que na Inglaterra. Existem códigos escritos, mas sua importância sempre se dá na decisão de um caso prático. Existe Constituição escrita tem hierarquia superior e o papel da Corte suprema é realizar sua proteção. É nesse país que nasce, em 1803, o controle difuso de constitucionalidade no famoso caso Marbury vs. Madison. O estudo do direito é concentrado nos casos práticos, nos precedentes, nas decisões judiciais. Para garantir a unidade da Common Law em matérias constitucionais, tidas como fundamentais, as decisões da Corte Suprema tem caráter vinculante. Um exemplo é a inconstitucionalidade da lei de segregação racial, no caso. Brown vs. Board of Education, de 1954. Praticamente inexistente após a queda dos regimes comunistas (fim da União Soviética e a queda do muro de Berlim). O direito soviético teve início com a revolução russa de 1917 e se espalhou para outros ambientes e países com o mesmo perfil. Ocorre uma reformulação radical da ideia de propriedade, herança, lucros, tidas como instituições eminentemente capitalistas. O direito capitalista era visto como uma forma de opressão, por isso a sua alteração profunda era entendida como necessária para a consolidação do socialismo. Direito socialista Sistemas religiosos e filosóficos Com a crise no oriente médio e o aumento da imigração dos povos muçulmanos, o ocidente tem vivido mais de perto a cultura e a religiosidade desses povos, o que tem causado um conjunto de conflitos bem significativos. A Europa e os EUA, por exemplo, dizem não quererem mais multiculturalismo e estarem fartos da “loteria da diversidade”. O direito se confunde com a religião. Pecado e crime são praticamente a mesma coisa, e pena e penitência também não são instituições distintas. O Corão, a Sunnah e a Sharia são tidas como documentos fundamentais. Do mesmo modo que o direito islâmico, o direito hindu também tem uma relação forte com a religião. Na índia, contudo, ocorre uma substituição desse direito por um direito leigo, especialmente em razão da longa ocupação inglesa naquele país. O direito chinês tem uma caraterística existencial e filosófica bem distinta do direito ocidental. A necessidade de legislar é vista, tradicionalmente, com um mal em si mesmo, como a fraqueza das formas morais de organizar a sociedade. O sentimento de comunidade chinês tende a manter uma dimensão de hierárquica na família e entre as gerações. Litigar com pessoas desses grupos no judiciário é um sinal de fraqueza, de desonra, demonstração de fracasso, o reconhecimento de que os laços sociais e morais de respeito e autoridade não estão funcionando.
Compartilhar