Buscar

ADPF 153 Bruno

Prévia do material em texto

ADPF 153 – Lei de anistia para crimes cometidos no período da ditadura militar
Trata-se de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental que tem como objetivo questionar a validade da lei de anistia e sua compatibilidade com a CF88, a qual tem como relator o MIN. Eros Grau do Superior Tribunal Federal
RELATÓRIO
 O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB propõe arguição de descumprimento de preceito fundamental objetivando a declaração de não-recebimento, pela Constituição do Brasil de 1988, do disposto § 1° do artigo 1° da Lei n. 6.683, de 19 de dezembro de 1979. A concessão da anistia a todos que, em determinado período, cometeram crimes políticos estender-se-ia, segundo esse preceito, aos crimes conexos --- crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.
2. Eis os textos que serão utilizados para as considerações:
“Lei n. 6683, de 19° de dezembro de 1979
Art. 1° - É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram, crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta de fundações vinculadas ao poder Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares.
§ 1° - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política.”
3. O arguente alega ser notória a controvérsia constitucional a propósito do âmbito de aplicação da “Lei de Anistia”, Sustenta que “se trata de saber se houve ou não anistia nos agentes públicos responsáveis, entre outros crimes, pela prática de homicídio, desaparecimento forçado, abuso de autoridade, lesões corporais, estupro e atentado violento ao pudor contra opositores políticos ao regime militar” [fl. 04]
4. Afirma ainda que a controvérsia constitucional sobre a lei federal está consubstanciada na divergência de entendimentos, notadamente do Ministério da Justiça e do Ministério da Defesa, no que toca à aplicação da lei de que se cuida. Caberia ao poder Judiciário por fim ao debate.
5. Daí o cabimento da ADPF, instrumento hábil a definir, com eficácia geral, se a lei federal guarda conformidade com a ordem constitucional vigente.
6. Acrescenta não ser possível, consoante o texto da Constituição do Brasil, considerar válida a interpretação segundo a qual a Lei n. 6.683 anistiaria vários agentes públicos responsáveis, entre outras violências, pela prática de homicídios, desaparecimentos forcados, abuso de autoridade, lesões corporais, estupro e atentado violento ao pudor. Sustenta que essa interpretação violaria frontalmente diversos preceitos fundamentais.
8. Por fim, alega que os atos de violação da dignidade humana não se legitimam com a reparação pecuniária [Leis ns. 9.140 e 10.559] concedida às vitimas ou aos seus familiares, vez que os responsáveis por atos violentos, ou aqueles que comandarem esses atos, restariam “imunes a toda punição e até mesmo encobertos pelo anonimato”
9. Requer que esta Corte, dando interpretação conforme à Constituição, declare que a anistia concedida pela Lei n. 6.683/79 aos crimes políticos ou conexos não se estende aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão, contra opositores políticos, durante o regime militar.
 
VOTOS
O Relator do Processo MIN EROS GRAU, fez uma minuciosa reconstituição histórica e política das circunstâncias que levaram à edição da Lei da Anistia e ressaltou que não cabe ao Poder Judiciário rever o acordo político que, na transição do regime militar para a democracia, resultou na anistia de todos aqueles que cometeram crimes políticos e conexos a eles no Brasil entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979.
O MIN RICARDO LEWANDOWSKI, Motiva seu voto apresentando o entendimento da Suprema Corte quando à distinção entre os crimes políticos e crimes comuns, construído ao longo dos julgamentos relativos às extradições. Após sua argumentação, votou no sentido de procedência parcial da presente ação para dar interpretação conforme ao § 10 do art. 10 da Lei 6683/79, de modo que se entenda que os agentes do Estado não estão abrangidos pela anistia contemplada no referido dispositivo legal, devendo o juiz ou tribunal, realizar uma abordagem caso a caso mediante a adoção dos critérios da preponderância e da atrocidade dos meios, nos moldes da jurisprudência desta Suprema Corte
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não restam dúvidas que o objeto da ADPF 153 é extremamente polêmico e doloroso, tendo em vista o período político que o Brasil vivia à época da edição da Lei n. 6.683, de 28 de agosto de 1979. A ditadura é considerada um dos períodos mais sombrios que o Brasil já passou, diante da ocorrência das diversas situações afrontadoras aos direitos humanos. Relevante frisar que, independente da posição tomada (favorável ou contrária a Arguição), todos os Ministros foram unânimes em repudiarem todas as modalidades de crimes comuns que aconteciam constantemente à época, tais sejam torturas, homicídios, sequestros, desaparecimento de pessoas, lesões corporais graves, dentre outros.

Continue navegando