Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 1 CAPÍTULO 05 – O CRIME DE GENOCÍDIO E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 1. O surgimento do genocídio como crime internacional Antes de estudarmos o Tribunal Penal Internacional, vamos entender como surgiu um tratado internacional, no âmbito da ONU, para combater o genocídio. Na sequência, falaremos de importantes tribunais internacionais, criticados por serem considerados “de exceção”, e, enfim, trataremos do Tribunal Penal Internacional. Os horrores da 2ª Guerra e o grande número de vítimas do nazismo, provocaram enorme impacto na ONU, logo no seu nascimento. O Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, que julgou os criminosos de guerra nazistas em 1945, definiu como crimes contra a humanidade, em seu art. 6.º, alínea c, os seguintes atos: “o assassínio, o extermínio, a redução à condição de escravo, a deportação e todo ato desumano, cometido contra a população civil antes ou depois da guerra, bem como as perseguições por motivos políticos e religiosos, quando tais atos ou perseguições, constituindo ou não uma violação do direito interno do país em que foram perpetrados, tenham sido cometidos em consequência de todo e qualquer crime sujeito à competência do tribunal, ou conexo com esse crime.” O termo genocídio foi usado pela primeira vez pelo jurista Rafat Lemkin, em 1944, nos EUA, no lançamento de uma campanha para esclarecer a opinião pública acerca do massacre dos judeus. A ONU passou a utilizá-lo em 1946, ao aprovar a Resolução 96 (I) datada de 11 de dezembro, assim redigida: MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 2 “O genocídio é a negação do direito à existência de grupos humanos inteiros, assim como o homicídio é a denegação do direito à vida de indivíduos humanos. Essa denegação do direito à existência choca a consciência da humanidade, provoca grandes perdas humanas sob a forma de contribuições culturais ou de outra espécie, feitas por esses grupos humanos, contrariando a lei moral, bem como o espírito e os objetivos das Nações Unidas.” Assim, para combater este crime tão grave contra o Direito Internacional, a ONU aprova seu primeiro tratado de proteção de direitos humanos, adotado em 09 de dezembro de 1948. Em 26 de novembro de 1968, através da Resolução n. 2391 (XXIII), a Assembleia Geral da ONU aprovou a Convenção sobre a imprescritibilidade dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade, declarando que os crimes contra a humanidade incluem o genocídio, os atos de apartheid, ainda que não sejam definidos como crimes pela legislação interna do país onde ocorreram. Essa Convenção entrou em vigor, no cenário internacional, em 11 de novembro de 1970. Já em 1998, a Conferência Diplomática de Plenipotenciários das Nações Unidas, reunida em Roma, adotou o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, com competência para julgar crimes de guerra, genocídio, contra a humanidade e de agressão. A partir de então, temos uma diferenciação entre crime de genocídio e crimes contra a humanidade. 2. A Convenção de Combate ao Genocídio O art. 2.º da Convenção de 1948 entende por genocídio: "qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como : a) Assassinato de membros do grupo; b) Dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) Submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) Transferência forçada de menores do grupo para outro." (É muito comum que as bancas perguntem sobre o significado do crime de genocídio!) Ademais, serão punidos, segundo a Convenção: genocídio; conluio para cometer o genocídio; incitação direta e pública a cometer o genocídio; tentativa de genocídio; cumplicidade no genocídio (art. 3.º da Convenção). As vítimas são grupos nacionais, étnicos, raciais ou religiosos, sendo que esses qualificativos acabem por restringir, de forma indevida, a punibilidade dos atos de extermínio em massa. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 3 No século XX, tivemos muitos massacres de populações civis, por razões puramente políticas, que não se encaixam nessa definição de genocídio. Podemos mencionar como exemplos a ocorrida na Indonésia em 1965 (extermínio de cerca de meio milhão de pessoas, membros do Partido Comunista Indonésio, pelo General Suharto) e no Camboja entre 1975 e 1977 (política de ruralização do grupo armado Khmer Vermelho, que tomou o poder na guerra civil em 1975, provocando a morte de cerca de 1.200.000 pessoas, o que representava um quarto da população total). Esse problema só seria corrigido com o Estatuto de Roma, em 1998, que tipificou o ataque generalizado contra qualquer população civil como crime contra a humanidade. O texto da Convenção considera o genocídio como crime autônomo, não ligado necessariamente a uma situação de guerra, externa ou civil (art. 1.º). Segundo a Convenção de 1948, serão punidos governantes, funcionários públicos ou particulares que praticarem o crime de genocídio, por tribunais competentes do Estado em cujo território o ato foi cometido ou pela corte penal internacional competente com relação aos Estados que reconhecerem a sua jurisdição. O que foi considerado o ponto fraco desse tratado? O genocídio é crime coletivo, praticado sob a égide de governos ou Estados criminosos. Em regra, os Tribunais desses Estados não gozam da autonomia e liberdade suficientes para julgar o crime de forma imparcial. Além disso, os Estados partes dessa Convenção nunca reconheceram a competência de um tribunal internacional para julgar crimes de genocídio. O artigo 8.º do texto prevê a possibilidade de os Estados contratantes solicitarem aos órgãos competentes da ONU, que adotem medidas para prevenir ou reprimir atos de genocídio. Mas, nem todos os Estados-membros da ONU são partes da Convenção, e mesmo os que são, nem sempre recorrem à ONU. Assim, a Convenção já trazia a necessidade de criação de um tribunal penal internacional permanente, competente para julgar crimes como o de genocídio. O texto foi elaborado conforme uma técnica tradicional, mas que não é adequada para a proteção de direitos humanos. Seu artigo 14 estabelece um prazo de vigência, renovável por períodos sucessivos, e admite que os Estados partes denunciem o tratado. O artigo 15 prevê até que a Convenção pode deixar de vigorar em função do número de denúncias recebidas. Essas previsões não se conformam ao princípio da irrevogabilidade que vigora em matéria de proteção de direitos humanos. O reconhecimento e vigência de tais direitos independe de previsão legal. No caso do genocídio, a MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 4 própria ONU já reconheceu que a sua punibilidade faz parte do costume internacional vinculante, ou seja, do ius cogens. Assim, é claro que a denúncia da Convenção pelos Estados partes não poderia significar que, a partir de então, os Estadosestariam livres para praticar o genocídio. Portanto, são inócuas tais previsões. Por tudo isso, foi aprovado, em 1998, o Estatuto de Roma, corrigindo tais problemas e criando, de forma permanente, o Tribunal Penal Internacional, que estudaremos na sequência. Vejamos o texto da Convenção de 1948. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A REPRESSÃO DO CRIME DE GENOCÍDIO (1948) UNTS N. 277. ASSINADA EM PARIS, EM 9.12.1948. APROVADA PELO DECRETO LEGISLATIVO N. 2, DE 11.4.1951. RATIFICADA PELO BRASIL EM 4.9.1951. PROMULGADA PELO DECRETO N. 30.822, DE 6.5.1952. PUBLICADA NO DO DE 9.5.1952. APROVADA E ABERTA À ASSINATURA E RATIFICAÇÃO OU ADESÃO PELA RESOLUÇÃO N. 260 A (III), DA ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1948. As Partes Contratantes Considerando que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em sua Resolução n. 96 (I). de 11 de dezembro de 1946, declarou que o genocídio é um crime contra o Direito Internacional, contrário ao espírito e aos fins das Nações Unidas e que o mundo civilizado condena. Reconhecendo que em todos os períodos da história o genocídio causou grandes perdas à humanidade. Convencidas de que, para libertar a humanidade de flagelo tão odioso, a cooperação internacional é necessária. Convêm o seguinte: Artigo 1º As partes - contratantes confirmam que o genocídio, quer cometido em tempo de paz, quer em tempo de guerra, é um crime contra o Direito Internacional, o qual elas se comprometem a prevenir e a punir. Artigo 2º Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: a) Assassinato de membros do grupo. b) Dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo. c) Submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial. d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo. e) Transferência forçada de menores do grupo para outro. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 5 Artigo 3º Serão punidos os seguintes atos: a) O genocídio. b) O conluio para cometer o genocídio. c) A incitação direta e pública a cometer o genocídio. d) A tentativa de genocídio. e) A cumplicidade no genocídio. Artigo4º As pessoas que tiverem cometido o genocídio ou qualquer dos outros atos enumerados do "artigo3º" serão, sejam governantes, funcionários ou particulares. Artigo 5º As Partes - contratantes assumem o compromisso de tomar, de acordo com as respectivas Constituições, as medias legislativas necessárias a assegurar a aplicação das disposições da presente Convenção e, sobretudo, a estabelecer sanções penais eficazes aplicáveis às pessoas culpadas de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no "artigo3º". Artigo 6º As pessoas acusadas de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no "artigo3º" serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido ou pela corte penal internacional competente com relação às Partes - contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição. Artigo 7º O genocídio e os outros atos enumerados no "artigo3º" não serão considerados crimes políticos para efeitos de extradição. As Partes - contratantes se comprometem, em tal caso, a conceder a extradição de acordo com sua legislação e com os tratados em vigor. Artigo 8º Qualquer Parte - contratante pode recorrer aos órgãos competentes das Nações Unidas, a fim de que estes tomem, de acordo com a Carta das Nações Unidas, as medidas que julguem necessárias para a prevenção e a repressão dos atos de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no "artigo 3º". Artigo 9º As controvérsias entre as Partes - contratantes relativas à interpretação, aplicação ou execução da presente Convenção, bem como as referentes à responsabilidade de um Estado em matéria de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no artigo III, serão submetidos à Corte Internacional de Justiça, a pedido de uma das Partes na controvérsia. [...] 3. O Tribunal Penal Internacional A ideia de instituir uma cidadania mundial, em que todas as pessoas tenham direitos e deveres em relação à humanidade, exige a fixação de regras de MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 6 responsabilidade penal internacional, para sancionar atos que causem lesão à dignidade humana. Com esse intuito, surgiu o projeto de um Tribunal Penal Internacional. Logo após a Primeira Guerra Mundial, em 1920, o Secretário-Geral da Sociedade das Nações trouxe uma proposta de criação de um tribunal penal, mas, a Assembleia Geral da Organização não o aceitou. O jurista francês Henri Donnedieu de Vabres, que foi juiz do Tribunal de Nuremberg, apresentou, em maio de 1947, proposta de criação de tribunal penal internacional. A Assembleia Geral da ONU aprovou a ideia em 09 de dezembro de 1948, encarregando a Comissão de Direitos Humanos de estudar o projeto. A Comissão conclui o relatório em 1950, entendendo que a criação do tribunal era possível e desejável. Dois comitês constituídos pela Assembleia Geral da ONU apresentaram projetos de estatuto para o tribunal, entre 1951 e 1953. Entretanto, com o advento da Guerra Fria, os trabalhos ficam suspensos até 1989, quando a Comissão de Direitos Humanos, a pedido da Assembleia Geral, volta a trabalhar no assunto. Quais importantes tribunais são considerados precedentes históricos do TPI? Como precedentes históricos do Tribunal Penal Internacional (TPI), temos o Tribunal de Nuremberg (já mencionado anteriormente) e o Tribunal de Tóquio, e, mais recentemente, os Tribunais ad hoc da Bósnia e da Ruanda, constituídos por resolução do Conselho de Segurança da ONU, em 1993 (Resolução S/RES/808) e 1994 (Resolução S/RES/955), respectivamente, com fundamento na Carta da ONU. Em 11 de dezembro de 1995, a Assembleia Geral cria um comitê preparatório para redigir o projeto definitivo do estatuto do tribunal, que seria apresentado a uma conferência diplomática de plenipotenciários. A partir de 1996, é formada uma coligação de mais de 880 organizações não-governamentais para pressionar a criação de um tribunal independente, imparcial e eficaz. Em março-abril de 1998, na última reunião do comitê, concluiu a redação final do projeto, que foi submetido à Conferência Diplomática, reunida em Roma, no início do mês de junho. O Estatuto do Tribunal Penal Internacional, conhecido como Estatuto ou Conferência de Roma, foi aprovado, por 120 Estados, em 17 de julho de 1998, contra apenas sete votos (China, Estados Unidos, Iêmen, Iraque, Israel, Líbia e Quatar) e 21 abstenções. O Estatuto entra em vigor em 01 de julho de 2002, com 65 ratificações (o tratado exigia o mínimo de 60, em seu artigo 126). Atualmente, 123 Estados ratificaram tal tratado. Não foram admitidas reservas MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 7 ao texto do Estatuto de Roma. (ATENÇÃO! Informação questionada em provas!) Estados Unidos e Israel decidiram assinar o tratado em 31 de dezembro de 2000. Todavia, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e as operações de guerra no Afeganistão e Palestina, os EUA, em 06 de maio de 2002, notificaramo Secretário-Geral da ONU que não estavam mais obrigados pela adesão dada ao tratado. Em 28 de agosto de 2002, Israel, da mesma forma, também se desligou do Estatuto. O Brasil ratificou o Estatuto de Roma em 20 de junho de 2002, e o tratado entrou em vigor para nós através do Decreto n. 4388/2002. Após mais de 10 anos de funcionamento do Tribunal, como ressalta Comparato, não temos um balanço positivo. “Ao todo, foram abertos apenas vinte processos penais, sendo que todos eles diziam respeito a crimes cometidos por autoridades africanas; o que levou o presidente interino da União Africana, o etíope Hailemarian Desalegn, a declarar em maio de 2013 que se tratava de uma corte incumbida de fazer uma “caça racial”. Recentemente, em 01/04/2015, a Palestina aderiu ao TPI. Em 27 de Outubro de 2017, o Burundi deixou de fazer parte do Estatuto. 3.1 Jurisdição do Tribunal Penal Internacional A responsabilidade do TPI é subsidiária, complementar. Ou seja, a responsabilidade primária para punir os crimes é do Estado. O TPI só entra em ação se houver incapacidade ou omissão do sistema judicial interno (princípios da complementaridade e da cooperação). O TPI tem a vantagem de limitar a seletividade política existente nos julgamentos anteriores, além de acabar com os tribunais de exceção, já que é um tribunal permanente e independente (ATENÇÃO! O TPI, apesar de fazer parte do Sistema Global de Proteção de Direitos Humanos, não é um órgão da ONU. Não devemos confundi-lo com a Corte Internacional de Justiça, da ONU). Surge para complementar os tribunais nacionais com o objetivo de acabar com a impunidade para os mais graves crimes internacionais. Cada Estado, como regra geral, ao se tornar parte no Estatuto, aceita de pleno direito a jurisdição do Tribunal (art. 12, I). Ademais, um Estado que não seja parte no Estatuto pode aceitar a jurisdição do Tribunal (art. 12, 3). O Tribunal só poderá exercer sua jurisdição, caso o Estado em cujo território tenha sido cometido o crime, ou o Estado de que seja nacional a pessoa acusada de cometê-lo, seja parte no Estatuto, ou tenha a ele aderido (art. 12, 2). Entretanto, de forma extraordinária, pode o Conselho de Segurança da ONU tomar a iniciativa de pedir ao Procurador que abra um inquérito sobre a ocorrência de fato definido como crime pelo Estatuto. Neste caso, não existe qualquer restrição à jurisdição do TPI. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 8 Considerando o aspecto temporal, o TPI só pode julgar os crimes cometidos após a entrada em vigor do Estatuto. Quanto aos Estados que aderiram após a entrada em vigor, o TPI só terá jurisdição em relação a crimes cometidos após a vigência do Estatuto relativamente a esses Estados, salvo se eles consentirem com a jurisdição retroativa do TPI (art. 11). Uma decisão de mérito do TPI faz coisa julgada, não só em relação ao próprio Tribunal, mas também perante qualquer tribunal de Estados que são partes no Estatuto (art. 20, 1 e 2). Por outro lado, a decisão de mérito do Poder Judiciário de Estado-parte no tratado, sobre crimes de sua competência, faz coisa julgada em relação ao TPI, a menos que o processo naquele Estado-parte: “a) tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal por crimes de competência do Tribunal; b) não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça” (art. 20, 3). (Também já foi questionado em provas) 3.2 Crimes de competência do TPI Os crimes de competência do TPI estão previstos no artigo 5.º do TPI. São eles: crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crime de agressão. Alguns crimes de repercussão internacional ficaram de fora, como o terrorismo (já previsto em várias convenções internacionais) e o tráfico de entorpecentes. Ressalte-se, entretanto, que em uma revisão do Estatuto, outros crimes podem ser acrescentados. O artigo 6.º define o crime de genocídio, da mesma forma que a Convenção contra o Genocídio, de 1948. No artigo 25, quanto ao genocídio, trata de atos de incitação, direta e pública, a cometer o crime. No artigo 7.º, são definidas dez modalidades de crimes contra a humanidade, além de trazer a seguinte previsão “outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental (letra k). Assim, o rol é exemplificativo, podendo ser ampliado pela Assembleia dos Estados-partes. Não se exige que os crimes descritos no artigo sejam praticados em conflito armado para configurarem crime contra a humanidade. Entretanto, é necessário que sejam cometidos “no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque”. O ataque é sistemático, quando organizado e executado segundo um plano previamente estabelecido. O artigo 7.º, 2, b, traz a definição de extermínio, que se difere de genocídio, no qual a vítima é um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. A vítima aqui é a MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 9 população civil, sem qualquer qualificação, e os atos criminosos consistem na sujeição das vítimas a condições que podem causar a destruição de uma parte da população. Merece destaque a inclusão do desaparecimento forçado como um crime contra a humanidade. Vários textos internacionais condenam essa prática, empregado por governos militares na América Latina, exigindo o estabelecimento de sanções penais contra os responsáveis. Cabe ainda ressaltar que na definição do crime de deportação ou transferência forçada de uma população, previsto no art. 7.º, 2, d, não se exige que o deslocamento populacional seja feito para fora do território nacional. A definição de tortura, no art. 7.º, 2, e, é mais completa que a da Convenção das Nações Unidas, de 1984, pois, a exemplo da legislação brasileira, não exige que o ato criminoso seja praticado por instigação ou com a aquiescência de um agente público ou outra pessoa no exercício de funções públicas. Apreciável também a caracterização ampla de crimes sexuais (art. 7.º, 1, g), com previsão, por exemplo, da gravidez à força, muito comum durante conflitos armados. Os crimes de guerra são definidos no artigo 8.º. em várias modalidades, todos sujeitos à uma condição geral: devem ser “cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política, ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crime” (art. 8.º, 1). A definição do crime de agressão foi postergada para uma etapa posterior, por meio de emenda ou processo de revisão. Em 2010, na Conferência de Revisão do Estatuto, em Kampala, Uganda, o crime foi definido através de uma emenda, incluída no estatuto como art. 8 bis. Comparato noticia que tal emenda entrou em vigor em 8 de maio de 2012. Entretanto, foi com a Resolução n. 05, de 14 de dezembro de 2017, que os países decidiram ativar a jurisdição do TPI para julgar crimes de agressão a partir de 17 de julho de 2018, data em que o Estatuto completou 20 anos de existência. (Obs.: Cuidado com a pegadinha! O TPI não julga crimes de terrorismo, como se afirma em algumas questões de prova). Podem propor denúncias os Estados-partes, o Conselho de Segurança da ONUe a Promotoria (de ofício). ATENÇÃO! Em razão dos desastres ambientais que temos vivenciado há algum tempo, surgiram inúmeras manifestações favoráveis à criação de um crime internacional MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 10 por violação das normas de proteção ambiental, que seria chamado de ecocídio. Muitos sites noticiaram que o Tribunal Penal Internacional teria decidido, no final de 2016, reconhecer o ecocídio como crime contra a humanidade. O termo designa a destruição em larga escala do meio ambiente. O novo delito, de âmbito mundial, vem ganhando adeptos na seara do Direito Penal Internacional e entre advogados e especialistas interessados em criminalizar as agressões contra o meio ambiente. Assim, de acordo com o novo dispositivo, em caso de ecocídio comprovado, as vítimas teriam a possibilidade de entrar com um recurso internacional para obrigar os autores do crime, sejam empresas ou chefes de Estado e autoridades, a pagar por danos morais ou econômicos. A responsabilidade direta e penas de prisão poderiam ser emitidas, no caso de países signatários do TPI, mas a sentença que caracteriza o ecocídio deveria ser votada por, no mínimo, um terço dos seus membros. Entretanto, apesar de louvável, a notícia deve ser lida com muito cuidado. Sylvia Steiner, brasileira, juíza do TPI de 2003 a 2016 (seu mandato foi prorrogado porque foi em 2016 que ela concluiu o julgamento de um caso), entende que o ecocídio não foi reconhecido como crime pelo TPI. Em respeito ao princípio da anterioridade penal, não pode haver a criação de um tipo penal pela Procuradoria do TPI. Segundo Steiner, o que pode acontecer é que a violação das normas ambientais, pelas suas características, pelos meios e modos como for praticada, possa se encaixar na descrição de um dos crimes já previstos pelo TPI. Assim, conclui a jurista: “quaisquer iniciativas tendentes a criminalizar violações às regras de proteção ao meio ambiente, perante o Tribunal Penal Internacional, são legalmente inapropriadas, e embora possam causar grande impacto midiático não têm, a nosso ver, nenhuma consistência jurídica. Por outro lado, o desmonte das estruturas de proteção ambiental em nosso país, os discursos de incentivo ao desmatamento descontrolado, o descaso pela proteção do ecossistema de nossas florestas, rios e mar, com certeza merecem a atenção dos juristas para eventuais iniciativas juridicamente viáveis, inclusive perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão das Nações Unidas, e demais sedes internacionais. Mas, quanto ao Tribunal Penal Internacional, que vigore em toda sua plenitude o princípio da legalidade dos delitos.” Assim, devemos aguardar o desenrolar dos fatos e alguma manifestação do TPI. Mas, por hora, me parece bastante temerário afirmar que houve a criação ou reconhecimento do crime de ecocídio pelo TPI. Por esse motivo, penso que as bancas não irão cobrar tal questão em uma prova objetiva. Fiquemos atentos ao tema. Não confiem em qualquer artigo que lerem na internet. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 11 ATENÇÃO! Em 2019, e também em 2021, tivemos notícias de denúncias apresentadas no TPI, contra o Presidente Jair Bolsonaro, por crimes contra a humanidade e incitação ao genocídio contra os povos indígenas. Não encontrei nada formalizado no site do TPI. Apenas a informação, na mídia, de que tais denúncias estariam passando por uma investigação prévia. Não foram, portanto, formalmente aceitas, até o momento. 3.3 Responsabilidade criminal A responsabilidade criminal no TPI é delimitada por princípios consagradas pelas leis, doutrina e jurisprudência de vários países. A interpretação dos princípios deve se adequar à atuação do TPI, que ocorre em escala supranacional. O primeiro princípio, resguardado nos artigos 22 e 23, é o da anterioridade da norma penal em relação aos atos a serem julgados como criminosos. Acrescenta o Estatuto, em homenagem ao princípio da irretroatividade, que, “ninguém será responsável pela prática, antes da entrada em vigor do Estatuto, de atos nele definidos como criminosos” (art. 24). O Estatuto também veda ao intérprete ampliar o campo de aplicação da norma, por meio de analogia, com crime semelhante ou aproximado. Em seu artigo 22, 2, além de proibir a analogia na interpretação das normas definidoras de crime, consagra também a regra do in dubio pro reo. Comparato observa que “a aplicação dessas regras de garantia de direitos individuais, no campo da criminalidade internacional, deve ser feita sem excessos de formalismo. Os atos criminosos, cujos efeitos, pela sua própria natureza, extrapolam as fronteiras estatais, têm em si mesmos uma configuração multifária, além de se transformarem rapidamente em sua estrutura interna, por força da evolução tecnológica. Tudo se passa, nessa matéria, de forma semelhante às doenças infecciosas causadas por agentes virais, suscetíveis de mutação genética”. Assim, os princípios gerais de direito também devem ser considerados como fontes legais. As normas devem ser interpretadas de forma ampliativa para evitar que o sistema penal, em pouco tempo, se torne obsoleto. Os sujeitos ativos dos crimes só podem ser pessoas naturais, estando a maioridade penal fixada em 18 anos (arts. 25 e 26). Comparato critica essa previsão, entendendo que também deveria ser possível a responsabilização criminal dos Estados. Por outro lado, louvável a previsão do artigo 27, segundo o qual, “as imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de uma MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 12 pessoa, nos termos do direito interno ou do direito internacional, não deverão obstar a que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa.” Assim, é irrelevante a função exercida pelo autor do crime. Não há que se falar em imunidade no âmbito do TPI. Conforme expresso no art. 29, os crimes de competência do TPI não estão sujeitos à prescrição. Determina o art. 30 que os crimes de competência do Tribunal serão sempre dolosos, sendo que o dolo pode ser direto ou eventual. As causas de exclusão da responsabilidade criminal estão previstas no art. 31 do Estatuto, que não distingue, quanto ao regime jurídico, causas de inimputabilidade e causas justificativas ou excludentes de ilicitude. O art. 33, por exemplo, no parágrafo 1.º, prevê que, será considerado penalmente responsável, aquele que tiver agido em cumprimento de decisão emanada de um Governo, ou de um superior hierárquico, a menos que, cumulativamente: “a) estivesse obrigado por lei a obedecer a decisões emanadas do Governo ou superior hierárquico em questão; b) não tivesse conhecimento de que a decisão era ilegal; c) a decisão não fosse manifestamente ilegal”. 3.4 Composição do TPI MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 13 É composto por 18 juízes (sendo que a Presidência tem a faculdade de propor a ampliação desse número), com mandato de 9 anos, não sendo admitida, em regra, a recondução. O cargo de juiz é provido mediante proposta de um Estado-partee deliberação da Assembleia dos Estados-partes, convocada para esse fim. Os candidatos ao cargo de juiz devem ter conhecimento e fluência em pelo menos uma das duas línguas de trabalho do TPI, que são o inglês e o francês. Também devem possuir conhecimento e experiência em direito penal, direito processual penal e direito internacional, em especial, direitos humanos e direito humanitário. Conforme o art. 36, 7, o TPI não poderá ter mais de um juiz nacional do mesmo Estado-parte, e se a pessoal tiver mais de uma nacionalidade, será considerada nacional do Estado onde exerce habitualmente os seus direitos civis e políticos. Na seleção dos juízes, deve-se buscar a representação dos principais sistemas jurídicos do mundo e uma representação geográfica equitativa, além de uma justa representação de juízes de ambos os sexos (art. 36, 8). Como órgão de acusação, temos o Gabinete do Procurador, composto por um Procurador e um ou mais Procuradores-Adjuntos, todos eleitos pela Assembleia dos Estados-partes (art. 42, 1 e 2). Não se exige deles conhecimento em direito penal e direito internacional, mas apenas conhecimento em processo penal. Assim, possui como órgãos: a Presidência; as Câmaras; a Promotoria (autônoma); e a Secretaria. Fica sediado na Haia, Holanda. 3.5 Inquérito e procedimento criminal A condução do inquérito é de responsabilidade do Procurador e a instrução criminal compete aos juízes do TPI. Temos no Estatuto uma ampla proteção dos direitos do indiciado no inquérito (art. 55) e do acusado no processo criminal (art. 67). Nem o indiciado nem o acuso podem ser obrigados a depor contra si mesmos, ou a se declararem culpados. O art. 66 resguarda o princípio de presunção de inocência e confere ao Procurador a incumbência da prova da culpa. O TPI somente poderá condenar se não houver nenhuma dúvida razoável de que o acusado é culpado. Os arts. 58 e 59 regulam a detenção ou prisão preventiva do indiciado ou acusado, inclusive no Estado em que se encontra, durante o inquérito ou o processo de instrução. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 14 O processo é dividido em duas fases: de instrução e de julgamento. Finalizada a instrução, o juiz profere uma sentença de pronúncia ou impronúncia do acusado (art. 61). Existe uma preocupação especial, na fase de julgamento, com a hipótese de confissão do acusado (art. 65). O Estatuto também prevê, de forma minuciosa, o dever de proteção às vítimas e às testemunhas durante o processo (art. 68). No artigo 72, busca-se o equilíbrio entre a proteção de interesses nacionais e as exigências de um processo justo, quando se alega que uma informação afeta a segurança nacional de um Estado. As sentenças de mérito proferidas pelo TPI podem ser objeto de recurso ou de revisão, que serão processados perante o mesmo tribunal (arts. 81 e 84). 3.6 Penas aplicáveis As penas estão previstas no art. 77, que estabelece como pena máxima de prisão a de 30 anos, admitindo, excepcionalmente a prisão perpétua, se justificada pela extrema gravidade do crime e pelas circunstâncias pessoais do condenado. (Atenção! Não tem previsão de pena de morte! Aparece como pegadinha nas questões). O TPI também pode aplicar a pena de multa e condenar o réu à perda dos bens obtidos com o crime praticado. Combina a justiça retributiva com a justiça reparatória ao aplicar sanções de natureza penal e civil, determinando a reparação das vítimas e seus familiares. Para tanto, foi determinada a criação de um Fundo de indenização das vítimas (art. 79). Representa um grande avanço na proteção dos direitos humanos ao combater a impunidade de crimes graves contra a humanidade (princípio do universalismo). O princípio de não ingerência foi substituído pelo direito à ingerência, já que, existe quase um dever de intervenção perante graves e sistemáticas violações de direitos humanos. Artigo 102 Termos Usados Para os fins do presente Estatuto: a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente Estatuto. b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno. Quanto à vedação à proibição de penas de caráter perpétuo, constante do art. 5.º, XLVII, b, da Constituição de 1988, devemos relembrar que o Estatuto do TPI não admite reservas. Assim, a vedação apenas teria que ser analisada em MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 15 um eventual caso concreto e poderia ser resolvida a partir de uma interpretação pro homine. Passemos aos principais artigos do Estatuto. DECRETO Nº 4.388, DE 25 DE SETEMBRO DE 2002 Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, Considerando que o Congresso Nacional aprovou o texto do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, por meio do Decreto Legislativo no 112, de 6 de junho de 2002; Considerando que o mencionado Ato Internacional entrou em vigor internacional em 1o de julho de 2002, e passou a vigorar, para o Brasil, em 1o de setembro de 2002, nos termos de seu art. 126; DECRETA: Art. 1o O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém. Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do referido Acordo, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 25 de setembro de 2002; 181o da Independência e 114o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Luiz Augusto Soint-Brisson de Araújo Castro Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.9.2002 Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional Preâmbulo Os Estados Partes no presente Estatuto. Conscientes de que todos os povos estão unidos por laços comuns e de que suas culturas foram construídas sobre uma herança que partilham, e preocupados com o fato deste delicado mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer instante, Tendo presente que, no decurso deste século, milhões de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a consciência da humanidade, Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade, Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto, não devem ficar impunes e que a sua repressão deve ser efetivamente assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da cooperação internacional, http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/dec%204.388-2002?OpenDocument MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 16 Decididos a por fim à impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a prevenção de tais crimes, Relembrando que é dever de cada Estado exercer a respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por crimesinternacionais, Reafirmando os Objetivos e Princípios consignados na Carta das Nações Unidas e, em particular, que todos os Estados se devem abster de recorrer à ameaça ou ao uso da força, contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou de atuar por qualquer outra forma incompatível com os Objetivos das Nações Unidas, Salientando, a este propósito, que nada no presente Estatuto deverá ser entendido como autorizando qualquer Estado Parte a intervir em um conflito armado ou nos assuntos internos de qualquer Estado, Determinados em perseguir este objetivo e no interesse das gerações presentes e vindouras, a criar um Tribunal Penal Internacional com caráter permanente e independente, no âmbito do sistema das Nações Unidas, e com jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que afetem a comunidade internacional no seu conjunto, Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado pelo presente Estatuto, será complementar às jurisdições penais nacionais, Decididos a garantir o respeito duradouro pela efetivação da justiça internacional, Convieram no seguinte: Capítulo I Criação do Tribunal Artigo 1o O Tribunal É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto. Artigo 2o Relação do Tribunal com as Nações Unidas A relação entre o Tribunal e as Nações Unidas será estabelecida através de um acordo a ser aprovado pela Assembleia dos Estados Partes no presente Estatuto e, em seguida, concluído pelo Presidente do Tribunal em nome deste. Artigo 3o Sede do Tribunal 1. A sede do Tribunal será na Haia, Países Baixos ("o Estado anfitrião"). 2. O Tribunal estabelecerá um acordo de sede com o Estado anfitrião, a ser aprovado pela Assembleia dos Estados Partes e em seguida concluído pelo Presidente do Tribunal em nome deste. 3. Sempre que entender conveniente, o Tribunal poderá funcionar em outro local, nos termos do presente Estatuto. Artigo 4o MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 17 Regime Jurídico e Poderes do Tribunal 1. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos. 2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do presente Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outro Estado. Capítulo II Competência, Admissibilidade e Direito Aplicável Artigo 5o Crimes da Competência do Tribunal 1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes: a) O crime de genocídio; b) Crimes contra a humanidade; c) Crimes de guerra; d) O crime de agressão. 2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas. Artigo 6o Crime de Genocídio Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: a) Homicídio de membros do grupo; b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial; d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo. Artigo 7o Crimes contra a Humanidade 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque: a) Homicídio; b) Extermínio; c) Escravidão; d) Deportação ou transferência forçada de uma população; MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 18 e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional; f) Tortura; g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal; i) Desaparecimento forçado de pessoas; j) Crime de apartheid; k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental. 2. Para efeitos do parágrafo 1o: a) Por "ataque contra uma população civil" entende-se qualquer conduta que envolva a prática múltipla de atos referidos no parágrafo 1o contra uma população civil, de acordo com a política de um Estado ou de uma organização de praticar esses atos ou tendo em vista a prossecução dessa política; b) O "extermínio" compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população; c) Por "escravidão" entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças; d) Por "deportação ou transferência à força de uma população" entende-se o deslocamento forçado de pessoas, através da expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido no direito internacional; e) Por "tortura" entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas; f) Por "gravidez à força" entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição étnica de uma população ou de cometer outras violações graves do direito internacional. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpretada como afetando as disposições de direito interno relativas à gravidez; MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG –Todos os cargos 19 g) Por "perseguição'' entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do direito internacional, por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa; h) Por "crime de apartheid" entende-se qualquer ato desumano análogo aos referidos no parágrafo 1°, praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime; i) Por "desaparecimento forçado de pessoas" entende-se a detenção, a prisão ou o sequestro de pessoas por um Estado ou uma organização política ou com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a reconhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação ou localização dessas pessoas, com o propósito de lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de tempo. 3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo "gênero" abrange os sexos masculino e feminino, dentro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado. Artigo 8o Crimes de Guerra 1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes. 2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra": a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de agosto de 1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente: i) Homicídio doloso; ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas; iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde; iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária; v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de uma potência inimiga; vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial; vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade; viii) Tomada de reféns; b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos: i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades; ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja, bens que não sejam objetivos militares; MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 20 iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos armados; iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem militar global concreta e direta que se previa; v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares; vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo mais meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido; vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a morte ou ferimentos graves; viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro ou para fora desse território; ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde; xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigo; xii) Declarar que não será dado quartel; xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou apreensões sejam imperativamente determinadas pelas necessidades da guerra; xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga; xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra; xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto; xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas; xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo; MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 21 xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre totalmente o interior ou possui incisões; xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais armas, projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e estejam incluídos em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos artigos 121 e 123; xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes; xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f) do parágrafo 2o do artigo 7o, esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua também um desrespeito grave às Convenções de Genebra; xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações militares; xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra, privando-ados bens indispensáveis à sua sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra; xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as violações graves do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam, cometidos contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto armas e os que tenham ficado impedidos de continuar a combater devido a doença, lesões, prisão ou qualquer outro motivo: i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio sob todas as suas formas, as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura; ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes; iii) A tomada de reféns; iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento prévio por um tribunal regularmente constituído e que ofereça todas as garantias judiciais geralmente reconhecidas como indispensáveis. d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 22 e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter internacional, no quadro do direito internacional, a saber qualquer um dos seguintes atos: i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades; ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, bem como ao pessoal que esteja usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional; iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito à proteção conferida pelo direito internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis; iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares; v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado de assalto; vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f do parágrafo 2o do artigo 7o; esterilização à força ou qualquer outra forma de violência sexual que constitua uma violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra; vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou em grupos, ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades; viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o conflito, salvo se assim o exigirem a segurança dos civis em questão ou razões militares imperiosas; ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante; x) Declarar que não será dado quartel; xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a morte ou ponham seriamente a sua saúde em perigo; xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra assim o exijam; f) A alínea e) do parágrafo 2o do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se aplicará a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que tenham lugar no território de um Estado, quando exista um conflito armado prolongado entre as autoridades governamentais e grupos armados organizados ou entre estes grupos. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 23 3. O disposto nas alíneas c) e) do parágrafo 2o, em nada afetará a responsabilidade que incumbe a todo o Governo de manter e de restabelecer a ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade territorial do Estado por qualquer meio legítimo. Artigo 8.º bis Crime de agressão (está em português de Portugal) 1 - Para efeitos do presente Estatuto, entende-se por 'crime de agressão', o planeamento, a preparação, o desencadeamento ou a execução por uma pessoa que se encontre em posição de controlar ou conduzir de forma efetiva a ação política ou militar de um Estado de um ato de agressão que, pelo seu carácter, pela sua gravidade e dimensão, constitui uma violação manifesta da Carta das Nações Unidas. 2 - Para efeitos do n.º 1, entende-se por 'ato de agressão', o uso da força armada por um Estado contra a soberania, integridade territorial ou independência política de outro Estado, ou de qualquer outra forma incompatível com a Carta das Nações Unidas. Independentemente da existência ou não de uma declaração de guerra, em conformidade com a Resolução n.º 3314 (XXIX) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 14 de dezembro de 1974, qualquer um dos seguintes atos deverá ser considerado um ato de agressão: a) A invasão do território de um Estado ou o ataque contra o mesmo pelas forças armadas de outro Estado, ou qualquer ocupação militar, ainda que temporária, decorrente dessa invasão ou desse ataque, ou a anexação pelo uso da força do território, no todo ou em parte, de um outro Estado; b) O bombardeamento do território de um Estado pelas forças armadas de outro Estado, ou o uso de quaisquer armas por um Estado contra o território de outro Estado; c) O bloqueio dos portos ou das costas de um Estado pelas forças armadas de outro Estado; d) O ataque pelas forças armadas de um Estado contra as forças terrestres, navais ou aéreas, ou contra a marinha mercante e a aviação civil de outro Estado; e) A utilização das forças armadas de um Estado, que se encontram no território de outro Estado com o consentimento do Estado receptor, em violação das condições previstas no acordo, ou qualquer prolongamento da sua presença naquele território após o termo desse mesmo acordo; f) O facto de um Estado permitir que o seu território por ele posto à disposição de um outro Estado, seja por este utilizado para perpetrar um ato de agressão contra um Estado terceiro; g) O envio por um Estado, ou em seu nome, de bandos ou de grupos armados, de forças irregulares ou de mercenários que pratiquem contra um outro Estado atos de força armada de gravidade equiparável à dos atos acima enumerados, ou que participem substancialmente nesses atos. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG –Todos os cargos 24 Revisão Trago aqui perguntas importantes, que você deve saber responder, para te guiar na revisão do conteúdo. O ideal é que você consiga responder sem consultar o texto, ainda que de forma resumida e objetiva, ok? 1. Segundo a Convenção da ONU, de 1948, em que consiste o genocídio? 2. O que foi considerado o ponto fraco dessa Convenção da ONU, de 1948? 3. Quais tribunais são precedentes históricos importantes do TPI? 4. Quando entrou em vigor o Estatuto do Tribunal Penal Internacional? Quando o Brasil o ratificou? O texto admite reservas? 5. Em que consistem os princípios da complementaridade e da cooperação no TPI? 6. O TPI faz parte da ONU? Explique. 7. Quais são os crimes de competência do TPI? 8. Quem pode propor denúncias perante o TPI? 9. Quem pode ser julgado pelo TPI? 10. Qual a composição do TPI? Qual a duração do mandato? Se admite recondução? 11. Quais são as penas admitidas pelo TPI? 12. Qual a diferença entre entrega e extradição, segundo o Estatuto de Roma? Revisões 1.ª 4.ª 2.ª 5.ª 3.ª 6.ª Questões para treinar 1. (2018/VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia) Segundo o Estatuto de Roma, o Tribunal Penal Internacional exercerá a sua jurisdição em relação aos crimes nele previstos por iniciativa a) de denúncia da Interpol, de solicitação de órgãos de direitos humanos da ONU ou da Comissão Interamericana ou Europeia de Direitos Humanos. b) de denúncia do próprio Estado-Parte ou do Conselho de Segurança da ONU e por meio de inquérito do Procurador do Tribunal. c) de denúncia da Interpol ou do próprio Estado-Parte e de decisão ex ofício de qualquer juiz do Tribunal. d) de solicitação de qualquer órgão do Poder Judiciário do Estado-Parte, de denúncia de qualquer cidadão do Estado-Parte e de decisão ex ofício de qualquer juiz do Tribunal. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 25 e) de denúncia de qualquer pessoa, de entidades não-governamentais ligadas à defesa dos direitos humanos e por meio de inquérito do Procurador. 2. (2018/VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia) No tocante ao Tribunal Penal Internacional, considerando o disposto, expressamente, no Estatuto de Roma, o Tribunal terá competência para julgar a) a tortura, o racismo, o terrorismo e os crimes contra a humanidade. b) a tortura coletiva, o extermínio em massa, o tráfico de pessoas e os crimes de guerra. c) os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade, o terrorismo e os crimes hediondos. d) o genocídio, os crimes contra a humanidade, a tortura e o tráfico internacional de entorpecentes. e) o genocídio, os crimes contra a humanidade, os crimes de guerra e os crimes de agressão. 3. (2011/CESPE/TRF - 3ª REGIÃO/Juiz federal) No que se refere ao Tribunal Penal Internacional, assinale a opção correta. a) De acordo com o Estatuto de Roma, esse tribunal tem competência expressa para julgar o terrorismo como crime contra a humanidade. b) As línguas de trabalho, nesse tribunal, são o inglês e o francês. c) Trata-se de organismo especializado da ONU. d) De acordo com o que prevê o Estatuto de Roma, esse tribunal pode decidir pela pena de morte em casos graves. e) Essa corte começou a funcionar em 1998, com a conclusão do Estatuto de Roma. 4. (VUNESP/2018 – Escrivão da Polícia Civil de SP) A Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo, praticada com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal, é considerada pelo Estatuto de Roma como a) crime de guerra. b) crime de agressão. c) crime contra a humanidade. d) apartheid. e) genocídio. 5. (2014/VUNESP/PC-SP/Delegado de Polícia) Segundo o Estatuto de Roma, a competência do Tribunal Penal Internacional restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do referido Estatuto, portanto, o Tribunal terá competência para julgar, entre outros, os seguintes crimes: a) hediondos e crimes de terrorismo. b) de guerra e crimes de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. c) infanticídio e crimes contra a humanidade. d) de agressão e crimes contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. e) genocídio e crimes de guerra. MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 26 6. (2019/FCC/DPE-AM/Analista Jurídico de Defensoria) Segundo dispõe expressamente o Estatuto de Roma, o Tribunal Penal Internacional terá competência para julgar algumas categorias gerais de crimes cujo conteúdo é detalhado ao longo do documento. Dentre essas categorias mais gerais, encontram-se a) o tráfico internacional de drogas e de pessoas e os crimes contra o sistema financeiro internacional. b) os crimes de guerra e o crime de genocídio. c) o bioterrorismo e os crimes contra o patrimônio genético da humanidade. d) crimes contra a segurança mundial e posse ou uso de armas de destruição em massa. e) os crimes de holocausto e de apartheid etnocultural. 7. (2012/PC-SP/Delegado de Polícia) As penas que poderão ser fixadas pelo Tribunal Penal Internacional (Estatuto de Roma, 1998)são a) expatriação, prisão até 30 anos ou perpétua e perda dos produtos, bens e haveres provenientes do crime. b) prisão, no mínimo de 3 anos e, no máximo, perpétua, multa, ou perda de produtos e bens provenientes do crime, ainda que de forma indireta. c) advertência, prisão, de 3 anos a 30 anos e a perda dos produtos, bens e haveres provenientes do crime. d) prisão até 30 anos ou perpétua, multa e perda dos produtos, bens e haveres provenientes do crime. e) expatriação, prisão de 3 a 30 anos ou perpétua e perda dos produtos, bens e haveres decorrentes do crime. Questão anulada porque faltou o EXCETO, no enunciado. (2011/FUMARC/PC-MG/Escrivão de Polícia Civil) A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio foi o primeiro tratado internacional de direitos humanos aprovado no âmbito da ONU como consequência das atrocidades perpetradas ao longo da Segunda Guerra Mundial, particularmente, o genocídio, que resultou na morte de seis milhões de judeus. A Convenção afirma ser o genocídio um crime que viola o Direito Internacional que pode ser caracterizado por qualquer um dos atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como a) dano grave à integridade física de membros do grupo. b) medidas que impedem o nascimento no seio do grupo. c) assassinato de indivíduo que lidera grupo nacional. d) transferência forçada de crianças de um grupo para outro. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fcc https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-am https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/pc-sp https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fumarc https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/pc-mg MENTORIA DIREITOS HUMANOS Polícia Civil MG – Todos os cargos 27 GABARITO 1. B 5. E 2. E 6. B 3. B 7. D 4. E
Compartilhar