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História da Pena Teorias da Pena Idade moderna e as “Escolas” • Durante o período moderno desenvolveu-se uma recaptulação e um estudo sobre a pena e porque punir. • A partir do olhar da Escola clássica que foi feito o estudo sobre o desenvolvido em períodos anteriores ao moderno. • Esse olhar é basicamente centrado em discursos evolutivos da história a pena que são orientados em volta a sistemas punitivos: ilimitados (vingança privada), limitados (vingança pública), restritos (humanização) e racionais (científicos). Período primitivo • Antes da formação das chamadas “civilizações”: • Período anterior a 6.000 a.C.: Os estudos apontam que pelo forte sentimento místico sobre a orientação do mundo, as leis eram orientadas por “tabus” e sob a proteção de um ente divino identificados como “totens”. Toda forma de violação a vida social do grupo ou ofensa aos rituais estabelecidos para o totem eram vistos como a violação a um tabu, o que exigia uma “vingança coletiva”. Era preciso punir o indivíduo para se reestabelecer a paz social e a harmonia com o totem. Desse modo, as penas comuns aplicadas pelo grupo eram a da perda da paz e a vingança do sangue. • Posteriormente os grupos e clãs teriam crescido e dividido, momento em que a vingança se tornou mais complexa apesar de manter a natureza de aplicação pela coletividade. O surgimento de poderes centrais trouxe a perspectiva de realização de composição (obrigação indenizatória no lugar da perda da paz ou vingança do sangue). Antiguidade • Primeiras civilizações – 6.000 a.C. • Os estudos dizem que a organização dos grupos cresceu e passou a ser ditada por um poder soberano, caracterizando a formação das civilizações. Nesse período surge a concepção da Lei do talião – castigo tal qual – que se disseminou em várias civilizações, tais como os babilônicos (código de Hammurabi), caldeus, assírios (região da Mesopotâmia), os hebreus, os romanos (lei de XII tábuas) e os indianos (código de Manu da Índia). • Grécia • Os gregos seguiam em grande parte a mesma concepção de vingança privada (exercida pelo ofendido) ou composição sob a regência de um poder soberano. Os crimes eram concebidos como de ordem privada ou pública, sendo que nesses casos a vingança era coletiva. A principal contribuição dos gregos teria sido a laicização da pena. Antiguidade • Roma - Lei das XII Tábuas • Lei do Talião – “olho por olho, dente por dente” • Laicização da pena, vingança privada. • O Pater-familiae possuía um poder ilimitado exercido pelo pater de cada família. Havia dois seguimentos: jus publicium (crimina) e jus civile (delicta). Quando cometia crimes de ordem civile o poder de de julgar era do pater familiae e quando era publicium geravam persecuções públicas decididas pela polis. O direito romano passou a se tornar concretamente público com a Lex Valeria de 509 a.C. Que exigia a confirmação popular das sentenças. Assim, a pena assumia uma função retributiva e de prevenção a novas condutas. Outro fator relevante foi o desenvolvimento da distinção entre dolo e culpa e imputabilidade e inimputabilidade. Antiguidade • Povos Germânicos – direito consuetudinário. • Os povos germanos tiveram, ao menos, duas fases delineadas quanto à forma de punição: a dos primeiros reinos e a da época franca. • Nos primeiros reinos não havia integração e uniformidade estatal, de modo que a punição era exercida em busca de uma ordem de paz de modo individual. A atuação do coletivo era de entrega do agressor à vítima ou à sua família para exercício da vingança de sangue. Os delitos contra a comunidade em geral geravam a perda da paz (banimento). Com o passar do tempo, ainda nesta fase, foi desenvolvida a possibilidade de composição, ou seja, de compensação pelo prejuízo sofrido. • Na fase do governo franco houve uma conformação de leis conhecidas como leges barbarorum (época da conversão ao cristianismo). Nessa fase a repreensão deixou de ser de caráter de costume popular e passou a ser de repreensão ao crime pelo poder estatal, mas sempre dentro de uma máxima consuetudinária de que “o fato julga o homem”. De todo modo, vale destacar que as penas corpóreas eram aplicadas aos servos, enquanto os homens livres tinham o benefício da composição com penas pecuniárias. Idade Média • Direito canônico • Em termos penais o direito canônico iniciou-se com livros penitenciais que eram consultados pelos confessores. Após muitas críticas em consílios quanto aos usos dados as orientações dos livros foi formulado o código de direito canônico em 1983 pelo Papa João Paulo II. • A Igreja católica desenvolveu nesse período Tribunais próprios que possuíam competência em razão da pessoa (clérico) ou da matéria (pecado). Um problema recorrente era a definição de quando o delito teria de ser julgado pelos tribunais da Igreja ou do Rei, em razão do tênue liame para distinção da competência. A Igreja em si não aplicava a pena de morte, somente os tribunais do Rei, ao menos até a constituição dos Tribunais do Santo Ofício (inquisição) a partir de 1215. • Nesse período predominava um castigo sobre o corpo em razão do poder expiatório da pena corporal (Agostinho) e pela justiça da reparação do delito cometido e para repreensão da coletividade (Tomás de Aquino). Idade Média • Direito penal comum • Ainda na Idade Média vivenciou-se um período em que o direito canônico e estatutário centraram-se em unificar concepções romanas, germânicas e dos Estados nacionais em formação por intermédio dos estudos dos glosadores e pós-glosadores. • Com base na Escolástica desenvolveram uma concepção de função de intimidação da coletividade e retribuição do mal causado pelo condenado. • As penas desse período foram marcadas por serem executadas em praça pública e com extrema crueldade, ao ponto de ser referido como o “período dos bárbaros de toga” ou “período das trevas”. Foi neste momento que vivenciou-se a pena na forma de suplício (castigo corpóreo para expiação da alma). Suplícios • Jaucourt: Pena corporal dolorosa, mais ou menos atroz; um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade. • [Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a c i n z a s , e s u a s c i n z a s l a n ç a d a s a o vento” (FOUCAULT, 2004, p. 9). Questão Ainda temos sociedades orientadas dessa forma. Por que punir e quando punir seria uma questão temporal ou cultural? Idade Moderna • Período humanitário – Iluminismo – Século das Luzes (XVIII) • Com o advento do iluminismo a pena sofreu duas repercussões que trouxeram limites aos suplícios: o racionalismo cartesiano e o empirismo inglês. • A necessidade de uma ação humana sempre orientada pela razão suscitou o questionamento da função das penas. Assim, por influência de vários autores iluministas, Cesare Bonesana (Beccaria) compilou o pensamento que marcou o período do direito penal moderno: legalidade penal, necessidade das incriminações e utilidade da pena (utilitarismo). • A pena passa a consistir em uma prevençãogeral em detrimento da coação psicológica. O grande marco é a inversão da pena do castigo sobre o corpo para o “castigo sobre o corpo como meio”, dentro das expressões de Foucault. Ocorre que na Idade das Trevas havia a predominância da punição sobre o corpo do indivíduo, sendo que agora as restrições físicas passam a ser um meio de se alcançar o psicológico. Nesse período desenvolveu-se várias escolas denominadas de clássica, positiva, o movimento da defesa social e a criminologia crítica. Direito penal no Brasil • Período colonial: • A colônia foi um período marcado pela aplicação das legislações portuguesas, de modo que se aplicou as penas vigentes na Idade Média. Inicialmente tivemos as ordenações afonsinas de 1446, depois as ordenações manuelinas de 1521. Estas foram substituídas pela compilação de Duarte Nunes Leão em 1569 (determinação do Rei D. Sebastião). De sua parte, a legislação canônica vigente provinha do Concílio de Trento de 1563 já com uma competência e poderes da Igreja expandidos. • De fato, as ordenações afonsinas e manuelinas nunca chegaram a serem aplicadas. A prática de um sistema punitivo doméstico e semelhante a uma estrutura feudal das capitanias era muito forte. Havia, assim, um forte poder local escravagista que resistia a aplicação das normas portuguesas. • Ainda tivemos as ordenações filipinas de 1603 conhecidas pelas suas incongruências e severidade. Foram ratificadas como código filipino em 1643 por D. João IV e em 1823 por D. Pedro I. • As ordenações filipinas de 1603 representaram uma primeira tentativa real de centralizar o poder punitivo e diminuir o poder de punição doméstico instaurado. Ela trouxe a primeira instalação de tribunais. • A santa inquisição nunca chegou a formar um Tribunal no Brasil, entretanto, possuía sua influência no sistema punitivo que se tentava e aplicava a pena de degredo para o Brasil. Direito penal no Brasil • Império: • Por determinação da constituição de 1824, em 1830 foi sancionado o código penal imperial que trazia concepções de Betham, Beccaria e Mello Freire. Nesse código criamos a pena de multa dentro do sistema de dias-multa, considerada até hoje a forma mais adequada e proporcional de pena pecuniária. • Em que pese o seu viés liberal este código enfrentou uma sociedade extremamente escravista. O código de processo criminal de 1832 acabou por autorizar o juiz a prender sem crime e em sequência vários decretos descentralizados propagaram as punições aos escravos que resistissem à submissão. • O segundo fracasso deste código é simbolizado pela sua tentativa de vencer a descentralização do poder punitivo. • República: • O código de 1890 foi fruto da concreta proibição do trafico internacional de escravos e interestadual. A incapacidade de adquirir qualquer forma de patrimônio a parte do sistema mercantil oficial gerou uma forte demanda pelo escravismo em paralelo com a inserção da industrialização em 1850. Esse conflito constante de interesses permitiu o desenvolvimento de um sistema de controle das massas pelo coronelismo e uma política de embranquecimento da população pela importação de imigrantes nas lavouras. O discurso mudou de uma inferioridade jurídica (propriedade) para uma inferioridade biológica (doença). Foram desenvolvidas as políticas de medicina na higienização. O código em si não vingou pelas fortes críticas de reproduzir os textos anteriores de legislação esparsa. Direito penal no Brasil • Entre vários debates de Baptista Pereira, João Vieira de Araújo, Galdino SiqueiraVirgílio de Sá Pereira a legislação esparsa penal cresceu e o código penal de 1890 chegou a ser afastado pela consolidação das leis penais de Vicente Pirage de 1932. Durante o Estado Novo de 1937 o código de Alcântara Machado foi aprovado em 1940. • O código de 1940 passou por 5 constituições e um intenso período de governos ditadores. Essencialmente ele é marcado em seu surgimento pelas mudanças trazidas da urbanização e industrialização do Brasil. Esses movimentos culminaram em 1930 a eclosão de reivindicações trabalhistas e do desenvolver um sistema punitivo previdenciário. O Estado Novo de Vargas ditou uma política intervencionista que propiciou a edição do código de 1940 em princípios liberais e de controle previdenciário. • A sequencia para este código não é mais favorável durante a ditadura militar de 1968-1979 pois um sistema punitivo paralelo foi instaurado (DOPS/DOI-CODI). • Em 1963 o Código de Nelson Hungria ficou pronto e em publicado em 1969, mas sua entrada em vigor foi sucessivamente adiada até o momento em que se chegou a reforma de 84. Recorde-se que Hungria era Ministro da Justiça e foi afastado pelo ato institucional n.º 5 no ano de 1969 antes da edição do código. Direito penal no Brasil • A reforma de 1984 trouxe a antes fraca visão do finalismo para estrutura do sistema penal brasileiro e foi editado conjuntamente com a primeira lei de execução penal do Brasil (Lei n.º 7210/84). O eixo do código foi completamente transformado de um olhar previdenciário para o olhar social dos administrados em um marco claramente garantista. Escolas penais Escola Clássica liberal • Batizada pela Escola positivista, a Escola Clássica buscava no jusnaturalismo bases para criticar o sistema absolutista que havia sido instituído durante a Idade Média. Caracterizava-se, portanto, por possuir um pensamento liberal e humanitário. Por isso o batismo de “Escola Clássica”, tratava-se de uma analogia a um pensamento que já havia acabado. • A concepção defendida busca um contratualismo sendo a função do Estado de garantir o cumprimento do contrato social com a mínima interferência possível. • A Escola Clássica defendia a punição sobre o sujeito de direitos de acordo com o delito cometido, dentro de sua liberdade de escolha (na qual optou por contrariar o contrato social). Escola positiva • A Escola positiva é responsável pelo desenvolvimento de concepções baseadas no naturalismo e no evolucionismo. • Seus estudos são direcionados para os ramos da biologia e da sociologia e possui três fases a serem consideradas, marcadas por três autores-marcos: • Antropológica com Cesar Lombroso: Para Lombroso o homem não seria dotado de livre arbítrio; o indivíduo seria determinado por questões anatômicas, fisiológicas e psicológicas. • Sociológica com Enrico Ferri: Para Ferri esse determinismo da infração deve-se a um processo físico-psicológico ativados de acordo com o ambiente físico e social do indivíduo. • Jurídica com Rafael Garafalo: Já Garofalo sistematizou o pensamento da Escola e estabeleceu o conceito de periculosidade do agente de acordo com o seu grau de responsabilidade. • A partir de desta escola que a criminologia foi definida como ciência independente do direito penal. Criminologia sociológica • Crime como fato social: pela escola de Émile Durkheim passou-se a refletir o crime como um evento social natural, que pode ser meramente reduzido, controlado. • Surgiu espaço para discussão de “subculturas criminais” e a “associação diferencial”. Movimento de defesa social • Já no século XX que surgiu os primeiros posicionamentos para uma teoria de defesa social. • O direito penal deveria ser substituído por um direito de defesa social com o fulcro de adequar o indivíduo desviante a ordem social. Por este movimento, não se trata de crime, mas de medidas sociais necessária para inserção do indivíduo desviante na sociedade. Criminologia crítica • Teorias do labeling approach ou reação social pelo rotulamento dos indivíduos. • Necessidade de pensar políticas criminais efetivas. • Minimalismo X Abolicionismo X Eficientismo • Abolicionismo: Teóricos dos movimentos sociais da década de 80 (Foucault,Hulsman) proporcionaram o pensamento de redução da atuação do Estado em questões penais. A ideia parte do princípio da deslegitimação do sistema penal, o que exige uma mudança cultural para viabilizar a abolição do sistema fálido. • Minimalismo: Teóricos dos movimentos sociais de 1969 (Baratta, Zafaroni, Ferrajoli) começaram a defender a contração do sistema punitivo e a construção de alternativas para os problemas sociais-culturais. Tais autores dividem-se entre o minimalismo como um fim em si mesmo, ou como um meio para se chegar ao abolicionismo. • Eficientismo: Com origem em movimentos de Lei e Ordem das décadas de 80 e 90, tendem a conformação de uma legislação casuística, dispersa e severa por trazerem uma concepção de direito penal máximo (funcionalismo ou finalismo extremo). Aqui, o aumento da criminalidade é visto como um reflexo da falta de severidade da norma e atuação eficaz do Estado. Um dos expoentes desse posicionamento é Jakobs Günther pela teoria do direito penal do inimigo. Cidadão Inimigo Pena Sofre a pena como meio de rea.irmação da validade da norma (concepção retributiva hegeliana). Sobre a pena como uma medida de força como meio de prevenção a fatos futuros (concepção kantiana). Fato A pena serve para rea.irmar a norma em relação a fatos passados cometidos. A pena é .isicamente imposta como custódia de segurança preventiva ao perigo de fatos futuros. Autor Crimes normais, que não desa.iam o sistema social. Capacidade psíquica de .idelidade jurídica. Crimes de alta traição: crimes sexuais, contra economia ou organizado. Incapacidade psíquica de .idelidade jurídica. Sistema de imputação Acusatório com garantias constitucionais. Forma de justiça. Inquisitório sem garantias constitucionais. Forma de guerra. Política criminal Personalidade de cidadão. Direito penal do fato. Personalidade de inimigo. Direito penal do autor. Teorias da pena • Desde os estudos que começaram a ser desenvolvidos pelas Escolas existe uma reflexão sobre a finalidade da pena, reflexão esta muito importante não só para o direito penal como para criminologia. • As várias formas de se compreender qual a função da pena são divididas dentro de ramos todos eles voltados para a função geral da defesal social. Tais teorias seriam: absolutas, prevenção geral negativa, prevenção geral positiva, prevenção especial negativa, prevenção especial positiva e as mistas. Teorias absolutas • Os expoentes de pensamento foram Kant e Hegel. Pelas teorias absolutas o Estado é visto como guardião da justiça terrena. Tem-se, portanto, uma carga moral e de fé na capacidade dos homens de auto-determinarem-se. Tais teorias guiam-se pelo entendimento que dentro de sua capacidade e livre arbítrio o indivíduo comete o crime e, portanto, deve pagar segundo a lei do talião (sofrimento equivalente). Prevenção geral negativa • O objetivo central dessas teorias é que a pena sirva para dissuadir, intimidar os demais componentes da sociedade para que não recaiam no crime também. A criminalização teria uma função social de formação ética da sociedade. A tendência dessas teorias são de aumentar a pena para se obter a maior intimidação da sociedade. Logo, toda infração recebe uma resposta de aumento da pena, por isso a tendência de se chegar a penas perpétua e de morte. Em termos empíricos a pena não intimida a coletividade, em que pese alguns resultados fáticos positivos, esses não são mais que o reflexo de um comportamento social (cultura) da maioria das pessoas de evitar o conflito social. Não se trata verdadeiramente de um receio de recair na criminalização secundária (ilusão do penalismo). O resultado desse aumento desmedido das penas é que ela não possui correlação com o conteúdo injusto fato praticado, mas com com fatores alheios que façam com que a criminalidade aumente. Prevenção geral positiva • Como reflexo das falhas das teorias de prevenção geral negativa, buscou-se fundamentar a criminalização nos efeitos positivos sobre os não-criminosos com a intenção primária de reforçar a confiança desses no sistema, ao invés de intimidá- los. Mesmo que os danos a vítima não sejam reparados, o sistema traria a compensação de causar um mal ao autor do crime. Tal pensamento ordena-se demasiadamente pela opinião pública o que causa problemas quanto a seleção do que será punido (somente os casos de repercussão). Tal visão propicia que a propagação de uma ditadura de valores éticos eleitos como legitimadores da criminalização de determinadas condutas, sendo o crime punido com mais severidade em razão de ferir mais a esses valores. Prevenção especial positiva • As teorias de prevenção especial positiva focam a finalidade da pena no autor do crime. A pena serviria para melhorar o infrator, em total dissonância com os estudos que atestam o modo como a criminalização secundária deteriora e estigmatiza a imagem do apenado. Tais teorias também são conhecidas como ideologias “re”: ressocialização, reeducação, reinserção, repersonalização, reindividualização, reincorporação. O Estado seria o provedor de um modelo humano ético aos indivíduos infratores que seriam inferiores, o que demonstra também a conformação de um Estado que impõe valores. Prevenção especial negativa • As teorias da prevenção especial negativa assumem de forma clara o discurso da defesa social. Partindo da ideia de que a sociedade enquanto corpo social é mais importante que os seus indivíduos, defende que os que prejudicam o corpo social sejam “neutralizados”. Em combinação com o pensamento das teorias de prevenção especial positiva, o discurso aqui direciona-se para o que fazer diante de casos em que as ideologias “re” não resolvem. Nesses casos em que não é possível ressocializar a solução seria, em nome do corpo social, eliminar a inferioridade do indivíduo. O problema é que quase sempre as ideologias “re” não funcionam, justamente porque partem de um pressuposto que diverge dos dados fáticos: a pena não faz um bem ao indivíduo.
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