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ALTERNATIVAS DE REMODELAGEM DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS FINANCEIROS EM UMA EMPRESA PÚBLICA Aline Vieira Malanovicz (UFRGS) malanovicz@gmail.com Este trabalho tem o objetivo de analisar alternativas de remodelagem do processo de desenvolvimento de produto em uma empresa pública do setor financeiro. Três alternativas de melhoria do processo foram descritas, bem como seus benefícios potenciais e soluções, com base em entrevistas com a equipe de desenvolvedores, análise de documentos e artefatos e observação participante em projetos, e essas melhorias foram analisadas de acordo com a literatura da área de Gestão de Processos, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia de Software. Conclui-se que as propostas apresentam contribuições para a organização estudada, indicando soluções para vários problemas identificados. As propostas também têm potenciais desdobramentos para outras organizações, na forma das diversas oportunidades de melhorias para a eficiência do processo de desenvolvimento de produtos. Podem ser destacados os principais benefícios potenciais das diferentes alternativas de solução. A alternativa de adoção de Métodos Ágeis para o desenvolvimento de software poderia simplificar os projetos de desenvolvimento, permitindo maior agilidade e simplificação do processo, entregas mais frequentes, melhor organização, e maior eficiência, mais foco no que precisa ser entregue no fim de cada Sprint. A alternativa de reforma do Sistema Legado representa um avanço dentro da lógica do sistema legado, pois a adoção de sub-rotinas nas fórmulas permite a modularização dos cálculos, permitindo maior flexibilidade para seu reuso. A repercussão dessa mudança representa melhoras em clareza e manutenibilidade. A alternativa de migração para o ERP SAP proporciona melhorias em organização, controle e agilidade das atividades, especialmente quanto à interligação dos processos em um sistema integrado. Palavras-chave: Remodelagem de Processos, Processos mais Eficientes, Processo de Desenvolvimento de Produtos Financeiros, Sistemas Legados, Sistemas Integrados de Gestão (ERP). XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 2 1. Introdução Os temas de interesse de pesquisa relacionados com gestão da qualidade e da produção incluem gestão de processos produtivos, confiabilidade de processos e produtos e qualidade em serviços (ENEGEP, 2015). Isso inclui transformar os processos organizacionais, para aumentar a eficiência dos processos, por meio de práticas incrementais, radicais, ou apenas novas para uma determinada empresa. O processo de desenvolvimento de produtos é um dos processos mais estratégicos para as empresas financeiras. Desenvolver produtos de maneira eficiente e com inovação tem sido um desafio crescente (TONOLLI Jr., 2012). Foi identificada, em uma empresa pública do setor financeiro, uma situação-problema relevante no processo de desenvolvimento de produtos, o que evidenciou ineficiências e a necessidade de soluções para este processo. Os produtos (financiamentos) comercializados pela empresa são desenvolvidos segundo um processo praticamente artesanal, baseado principalmente nos recursos atualmente já obsoletos do principal sistema legado da empresa. Considerando esse diagnóstico de situação-problema, este trabalho tem como objetivo identificar alternativas de remodelagem do processo de desenvolvimento de produto em uma empresa pública do setor financeiro. Este artigo tecnológico está estruturado com a Seção 2 apresentando o método de pesquisa adotado, e a Seção 3 apresentando os resultados do trabalho. São descritos: o contexto da realidade investigada, a situação-problema diagnosticada, as três alternativas propostas de solução, e sua análise segundo bases teórico-científicas identificadas na revisão bibliográfica sobre Gestão de Processos, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia de Software. A Seção 4 apresenta as conclusões da pesquisa, indicando recomendações decorrentes do estudo. 2. Metodologia Esta pesquisa tem característica exploratória e natureza qualitativa. A unidade de análise é o processo de desenvolvimento de produto da empresa, e foi aplicado o método Estudo de Caso (YIN, 2005). A coleta de dados foi realizada com uso das técnicas mostradas no Quadro 1: Quadro 1 – Técnicas de Coleta de Dados Utilizadas na Pesquisa Entrevistas Semi-Estruturadas Análise de Documentos Observação e Análise de Artefatos Os participantes da equipe de desenvolvimento de produtos foram entrevistados individualmente, e a eles foram feitas “poucas perguntas” (como recomendado para estudos exploratórios): questões mais gerais, simples, amplas e abertas sobre o contexto como um todo do processo de desenvolvimento de produtos: 1. Como é atualmente o Processo de Desenvolvimento de Produto? 2. Como deveria ser o Processo de Desenvolvimento de Produto? 3. Quais as alternativas de solução Foram consultados e analisados documentos tais como: website da empresa, normativos internos da empresa, normativos externos do Banco Central do Brasil, e de repassadores de recursos, manuais operacionais, manuais financeiros, tutoriais de utilização de sistemas, documentação dos programas de cálculo (fórmulas) e planilhas de conferência e acompanhamento dos cálculos desenvolvidos, além de e-mails trocados pela equipe de desenvolvimento entre si e com os A observação foi realizada junto à equipe de desenvolvimento, uma vez por semana durante o segundo semestre de 2014, ao longo do processo de desenvolvimento de dois produtos novos e de adaptações necessárias em quatro produtos já existentes. Foram observados artefatos como: sistemas utilizados, telas de entrada de dados, recursos como softwares de apoio, métodos de registro de documentação, tutoriais do processo, e o módulo XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 3 para os problemas deste processo? usuários-chave do processo. financeiro do sistema SAP. (MARCONI; LAKATOS, 2007) (PRIOR, 2004; FREITAS, 2010) (BAUER; GASKELL, 2002) A Consulta Documental e a Análise de Artefatos permitiram identificar o desenho do processo atual e propostas de redesenho realizadas por consultorias especializadas: uma reforma do processo de maneira independente de tecnologia, adotando Métodos Ágeis; uma reforma do sistema legado; e uma remodelagem voltada ao ERP SAP. As Entrevistas permitiram identificar algumas tentativas de melhorias ou alternativas de solução do processo de desenvolvimento e da linguagem de programação. Puderam ser identificadas as percepções dos clientes internos e dos desenvolvedores sobre o processo “como é” e “como deveria ser”, além da sua apreciação das alternativas de solução e de suas potenciais mudanças, melhorias e benefícios, especialmente no caso da alternativa de remodelagem do processo para adequar-se ao ERP SAP. A análise dos resultados adotou como fundamentos teórico-científicos os critérios de qualidade dados pelas “boas práticas” recomendadas na literatura das áreas de Gestão de Processos, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia de Software. O relato da pesquisa foi enviado para toda a equipe envolvida no desenvolvimentode produtos, para fins de validação das conclusões obtidas, e foi ajustado conforme suas indicações. 3. Resultados O contexto de estudo é uma empresa pública de fomento que atua na região sul do país há mais de 50 anos e conta com cerca de 500 funcionários. Os produtos desenvolvidos e comercializados pela empresa são financiamentos de médio e longo prazo. A empresa conduz atualmente um projeto de modernização de processos e tecnologia, visando à implantação de um sistema integrado de gestão (Enterprise Resource Planning (ERP) da empresa alemã SAP). Os gestores demonstraram receptividade a esta pesquisa de remodelagem de processos, mas manifestaram preferência pela não-divulgação do nome da empresa. Os produtos financeiros são desenvolvidos na forma de procedimentos e parâmetros de cálculo, que são processados e atualizados periodicamente via sistema informatizado. A principal ferramenta do processo é um sistema legado, desenvolvido em linguagem COBOL e implantado em mainframe na década de 1970. Atuando no Processo de Desenvolvimento de Produtos da empresa, há uma “equipe de fórmulas”: são desenvolvedores (analistas de negócio) da área de controle financeiro, que atuam em conjunto com analistas da área de tecnologia, realizando suas atividades na sala da área de negócio de controles financeiros. Trabalhos de pesquisa anteriores (BRAZ; CAMARGO, 2005; MALANOVICZ, 2014) diagnosticaram pontos de deficiência em processos da área de controle financeiro e na tecnologia de desenvolvimento de produtos utilizada na empresa. A Figura 1 mostra o fluxo do processo atual, com alguns artefatos utilizados ou produzidos. Uma avaliação do processo atual de desenvolvimento de produtos, com base nas “boas práticas” recomendadas pela literatura, revelou limitações e dificuldades em diferentes aspectos do processo, especialmente em termos de: Gestão de Processos (ineficiências, retrabalho, falta de comunicação e envolvimento); Desenvolvimento de Produtos (definições confusas, falta de padronização e parametrização dos produtos, numerosos procedimentos de cálculo a serem mantidos, dificuldades de produção e baixa legibilidade da documentação); e XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 4 Engenharia de Software (falta de ambiente e de ferramentas robustas e amigáveis de desenvolvimento, reduzida equipe que conhece a linguagem, dificuldades de manutenção, controle e teste de produtos). Figura 1 – Fluxo do processo atual e artefatos utilizados ou produzidos. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 5 Fonte: coleta de dados Com base nesse diagnóstico, foram identificadas três possíveis alternativas para resolução da situação-problema: adoção de Métodos Ágeis, reformas no Sistema Legado, e migração para o ERP SAP. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 6 3.1 Proposta de adoção de Métodos Ágeis Para melhorar o processo de desenvolvimento de produtos foi proposta a adoção de Metodologias Ágeis de desenvolvimento de software. Foi indicado à equipe o livro “Scrum e XP direto das Trincheiras” (KNIBERG, 2007), que apresenta casos reais de uso desses métodos. A metodologia adota ciclos/Sprints de planejamento com o cliente/Product Owner e com o gerente de projetos/Scrum Master, com reuniões diárias da equipe/Stand-up Meetings, trabalho dedicado e ininterrupto a cada Sprint, organização de um quadro de tarefas “feitas/fazendo/testando/a fazer” e entregas de partes funcionais do produto a cada Sprint. Para a adoção dessas práticas pela equipe de desenvolvimento de produto, foi sugerida uma abordagem de ações imediatas e outras de curto prazo e médio-longo prazo. Imediatamente, planejar os Sprints para dois projetos em andamento, fazer uma reunião de planejamento do Sprint, e marcar um prazo de duas semanas para fazer reuniões de retrospectiva do Sprint e de planejamento do próximo; começar também um projeto novo com o novo método desde o início; começar já a realizar as reuniões diárias, no início do dia, todos os dias, para relatos breves dos progressos e dificuldades, na sala da chefia, em pé mesmo, com perguntas simples: “O que tu fizeste ontem? O que tu vais fazer hoje? Quais as tuas dificuldades?”; criar o quadro de andamento das tarefas, com base no que o pessoal relatar na primeira reunião diária e fazer as reuniões diárias diante do quadro, para atualizá-lo „em tempo real‟. Todas essas seriam ações imediatas. No curto prazo, solicitar ao departamento de recursos humanos um Treinamento nessas metodologias ágeis. A médio ou longo prazo, depois dessa experiência inicial e do treinamento formal, propor gradualmente para outros projetos em andamento, e depois para novos projetos, a mudança geral para esta nova metodologia. Esta proposta de melhorias foi avaliada pela equipe como uma “boa ideia”, mas não foi implementada. 3.2 Proposta de reformas no Sistema Legado Para melhorar o processo de desenvolvimento de produtos, também foram propostos Projetos de Reforma do Sistema Financeiro Corporativo, incorporando à linguagem de programação os chamados supercomandos, além de explorar inovações possíveis no processo. Estas reformas contemplam aprimoramentos tais como: Reformulação do ambiente de testes, adotando interface mais amigável e tornando mais ágil o processo de testes; Reformulação das rotinas de Pagamentos Antecipados, de Liberações de Recursos, e de Projeções de Parcelas, reduzindo suas limitações e simplificando sua utilização. Além disso, incluem também a Reformulação completa das fórmulas, com sua otimização, racionalização e parametrização, utilizando comandos em COBOL mais abrangentes com mais variáveis de entrada e de saída, os chamados Supercomandos, que implementam funções de cálculos financeiros parametrizados conforme parâmetros e indicadores pré-definidos (Figura 2). Figura 2 – Artefatos da Alternativa de Reforma do Sistema Legado: Parâmetros e Indicadores de Supercomandos XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 7 Fonte: coleta de dados A proposta inclui também facilidades de carga, numeração automática, cópia a partir de modelo, inclusão de comandos estruturados de desvio condicional, atualização automática de passos com desvios no código, e documentação automática dos passos das fórmulas e dos registros de histórico e de auditoria das atualizações realizadas, além de promover a padronização e simplificar a manutenção das fórmulas; e Controles financeiros adicionais, como estorno e recálculo de lançamentos, indicadores de (in)adimplência, comissões, datas de vencimento, ampliação dos campos utilizados para os cálculos de encargos, e ampliação e maior abrangência dos eventos disparadores de fórmulas. Esta alternativa teve sua implementação iniciada por meio de projetos que desenvolveriam formas de parametrização dos cálculos, eventos disparadores de cálculos mais abrangentes, ambiente de testes mais seguro e amigável, comandos de cálculo mais robustos e controles financeiros adicionais. Em relação aos progressos desses projetos, a equipe envolvida avaliou que o desenvolvimento orientado por projetos e com formalização de prioridades funcionou. Os aprimoramentos referentes ao ambiente de testese a alguns controles financeiros adicionais foram efetivamente implementados. Foi avaliado pela equipe que esta melhoria de sistemas, com todos os aprimoramentos propostos, teria um impacto altamente significativo no processo de desenvolvimento de produtos. Entretanto, os projetos foram descontinuados. Esta decisão foi tomada em nome de um grande projeto de implantação de sistema integrado de gestão, mas resulta em manter a precariedade atual do processo no sistema legado e pode significar dificuldades na migração para um sistema novo. 3.3 Proposta de migração para o ERP SAP Para melhorar o processo de desenvolvimento de produtos, a proposta mais radical foi a de migração do sistema corporativo legado para um sistema integrado de gestão, exigindo a remodelagem do processo para o ERP SAP. Esta iniciativa insere-se no projeto de modernização de sistemas e processos em curso na empresa pesquisada. Desde recentemente, para obter ganhos de eficiência e de produtividade, a empresa objetiva migrar seus sistemas para uma plataforma mais moderna e conduz um projeto de modernização de processos e redefinição de seus recursos de tecnologia da informação. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 8 Esta proposta de melhoria envolve a utilização do módulo de Banking do sistema integrado (módulo Customer Mortgage Loans), que conta com uma grande variedade de configurações de parâmetros de cálculo pré-definidas (SAP, 2011). A criação de um novo produto é feita por meio da escolha ou configuração de parâmetros, que já estão pré-associados a cálculos já validados, implementados em linguagem de alto nível (ABAP), com simulação de cálculo simplificada e ambiente amigável para teste e homologação pelo usuário, testes automatizáveis, cenários-padrão de teste (pagamentos, recebimentos, liberações, fluxo de caixa, descontos, contabilização). A Figura 3 a seguir apresenta a sequência das atividades a serem executadas no processo de Desenvolvimento de Produtos remodelado, entre as quais se destaca a necessidade de definições prévias de regras de crédito, risco e operacionais, modelos de relatório de análise, condições de pagamento, regras de cálculo, pagamento, recebimento e prazos, formas de contabilização e demais controles financeiros. A remodelagem prevê que todas as definições estejam prontas antes da efetiva criação do produto no sistema, que então se resume à configuração, nos módulos do sistema, das condições previamente definidas. Figura 3 – Processo de Desenvolvimento de Produto no SAP: Fluxo, Parâmetros, Condições, Simulações. Fonte: coleta de dados. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 9 A Entrada do processo remodelado é a comunicação de aprovação do novo produto. Diferentemente do processo atual, estão previstas etapas de análise e definições de negócio previamente às parametrizações em sistema. Estas fases iniciais incluem tarefas como: Enviar aprovação de novo produto (no SAP), analisar recomendação e fazer estudos, a cargo de uma equipe de analistas de sistemas e analistas de negócios de diferentes áreas da empresa. Além disso, as definições estão previstas nas tarefas: Definir regras de crédito, risco e operacionais; modelos de relatório de análise no SAP; condições de pagamento, regras de cálculo, pagamento, recebimento e prazo. As Regras de Cálculo incluem definições de itens que às vezes eram duvidosos no processo atual, como: Periodicidade de encargos na carência, Periodicidade de encargos na amortização, Periodicidade de principal na amortização, Prazos de liberação e amortização (mensal, anual), Formas de pagamento do principal (SAC, PRICE), Juros (exponencial, linear), Calendário-ano (civil, comercial, civil bissexto), Taxa de juros (fixa, variável), Data do cálculo (fixa ou móvel para dia útil seguinte), Indexador/Moeda, Encargos (juros, atualização de saldo), Benefícios (bônus sobre juros ou principal, perda de benefício se inadimplente), Encargos de inadimplência, Regras para pagamento antecipado, pagamento ao provedor de recursos, e envio de cobranças. Outras definições prévias incluem controles financeiros e contábeis: definir contabilização de movimentos financeiros, controles de acompanhamento de saldo, conciliação entre operações ativa e passiva, manutenção de dados para órgãos fiscalizadores, acompanhamento de operações com benefícios, recolhimento antecipado ao provedor de recursos, envio de arquivos a órgãos externos. Também se deve definir a parte jurídica de contratos, ao Elaborar modelos de contrato a utilizar, cláusulas, regras, documentos necessários, garantias admissíveis. Depois dessas definições iniciais, a equipe de analistas de sistemas deve analisar adaptações necessárias no SAP para atender o produto, incluindo programas, campos, relatórios de controle, comunicações ao repassador de recursos. Depois disso, pode ser efetivada a criação do produto no SAP, na tarefa de Configurar o sistema para o novo produto: dados obrigatórios, validações, regras contábeis, regras de cálculo, comunicações ao repassador. Para a criação de produtos, o módulo de cálculo de empréstimos (Customer Mortgage Loans) do ERP SAP oferece diferentes tipos pré-definidos de produtos, subprodutos, classes e linhas. Estes tipos dispõem de opções pré-configuradas de parametrização como Categorias de Produtos (por exemplo, financiamentos hipotecários) e Grupos de Condições que implementam regras de cálculo comumente utilizadas. O módulo de controle de garantias é parametrizável e integrado com o sistema de cálculos, e este sistema é integrado com o módulo contábil, de modo que cada movimento financeiro de produto corresponde a um lançamento contábil automático. Prosseguindo, é necessário analisar e configurar garantias, configurar tabelas com regras de enquadramento e análise e parametrizar cláusulas do modelo de contrato. Ao mesmo tempo, deve-se elaborar e disponibilizar normativos internos e manuais referentes à operacionalização do novo produto. E devem-se reunir as equipes de usuários do produto para efetuar testes-pilotos (integrados) do produto no SAP nos ambientes de qualidade e de homologação, simulando desde as fases iniciais de analise até os pagamentos, recebimentos, liberações, fluxo de caixa, antecipação de saldo, descontos, contabilização. Nesse ponto, deve-se corrigir os erros eventualmente encontrados até que o produto seja validado pelo usuário. Após a validação, deve-se disponibilizar o produto, configurando-o em ambiente de produção (efetivo) pela equipe de analistas de sistemas, e informando à equipe de negócios, que encaminha o processo de divulgação interna e externa. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 10 A Saída do processo remodelado para o ERP SAP é o produto configurado e parametrizado no sistema, já testado pelos usuários e disponível para ser utilizado e divulgado. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 11 3.4 Análise das alternativas de solução propostas para a situação-problema Puderam ser resumidas no Quadro 2 as análises dos resultados da pesquisa sobre os benefícios potenciais proporcionados pelas três alternativas de solução propostas. As análises foram realizadas conforme as “boas práticas” dasabordagens da Gestão de Processos, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia de Software. Quadro 2 – Análise das alternativas propostas segundo as "boas práticas" da literatura XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 12 4 Conclusões Este trabalho atingiu seu objetivo de analisar alternativas de remodelagem do processo de desenvolvimento de produto em uma empresa pública do setor financeiro. Três alternativas de melhoria do processo foram descritas, XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 13 bem como seus benefícios potenciais e soluções, com base em entrevistas com a equipe de desenvolvedores, análise de documentos e artefatos e observação participante em projetos, e essas melhorias foram analisadas de acordo com a literatura da área de Gestão de Processos, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia de Software. Conclui-se que as propostas apresentam contribuições para a organização estudada, indicando soluções para vários problemas identificados. As propostas também têm potenciais desdobramentos para outras organizações, na forma das diversas oportunidades de melhorias para a eficiência do processo de desenvolvimento de produtos. Podem ser destacados os principais benefícios potenciais das diferentes alternativas de solução. A alternativa de adoção de Métodos Ágeis para o desenvolvimento de software poderia simplificar os projetos de desenvolvimento, permitindo maior agilidade e simplificação do processo, com entregas mais frequentes, melhor organização, e maior eficiência, com mais foco no que precisa ser entregue no fim de cada Sprint. A alternativa de reforma do Sistema Legado representa um avanço dentro da lógica do sistema legado, pois a adoção de sub- rotinas nas fórmulas permite a modularização dos cálculos, permitindo maior flexibilidade para seu reuso. A repercussão dessa mudança representa principalmente melhoras em clareza e manutenibilidade. A alternativa de migração para o ERP SAP proporciona melhorias sensíveis em termos de organização, controle e agilidade das atividades, especialmente quando se contempla a interligação dos processos em um sistema integrado. Também podem ser destacadas melhorias em: maior rigor no processo de desenvolvimento de produtos, pela organização modular configurável e parametrizada dos elementos comerciais de venda dos produtos integrada aos elementos de cálculo, contabilização e acompanhamento pós-venda; maior segurança e qualidade no desenvolvimento de produtos, pela necessidade de definição de condições multidepartamentais interconectadas no sistema integrado, e pela maior facilidade e amplitude de possibilidades de realização de testes, inclusive testes automatizados em grande escala; maior clareza e legibilidade de documentação, pela parametrização dos critérios de cálculo; maior eficiência e flexibilidade para o desenvolvimento de novos produtos, pela existência e pela variedade de condições pré-definidas que podem ser selecionadas e combinadas entre si para a composição de um novo produto; maior sustentabilidade do processo, pelas melhores condições de manutenção e testes, como consequências da segurança e flexibilidade alcançadas no novo processo. É possível perceber, com base nas melhorias a serem proporcionadas pela alternativa de migração para o ERP SAP, que ela oferece benefícios potenciais tanto para a migração para novo sistema como para a manutenção do legado. Recomenda-se, portanto, à empresa pesquisada que adote esta opção de melhoria do processo. A implementação do novo processo remodelado na organização deve permitir, depois de uma experiência inicial de médio ou longo prazo, pesquisas futuras no sentido da avaliação da percepção dos desenvolvedores sobre a efetividade das soluções propostas e dos benefícios da mudança para o novo sistema e para a nova metodologia. Isso configura uma oportunidade de pesquisa futura, pois possivelmente demandará uma mudança cultural substancial na organização estudada, pela potencial melhoria de eficiência e da sustentabilidade do processo. Referências Bibliográficas BACEN – Banco Central do Brasil. Programa de Educação Financeira. 2014. 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