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Do Aborto Lesão Corporal Crimes Contra Honrra

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Do Aborto - Artigo 124 a 128 do Código Penal
O aborto ocorre quando a gravidez é interrompida com a consequente destruição do produto da concepção, a eliminação da vida intrauterina.
Está fora do conceito a posterior expulsão do feto, porque pode ocorrer de o embrião, depois de dissolvido, ser reabsorvido pelo organismo em processo de autólise.
O aborto pode ocorrer entre a concepção e o início do parto. Depois disso avistam-se as figuras típicas do homicídio ou do infanticídio.
Principais formas de aborto:
1: Aborto atípico (não são puníveis e não estão previstos na lei):
Aborto natural ou espontâneo: É o aborto oriundo de causas patológicas decorrentes de um processo fisiológico espontâneo do organismo feminino.
Aborto acidental: Deriva de causas exteriores e traumáticas. Exemplo: escorregão.
Aborto culposo: É o aborto que resulta de culpa, de uma conduta imprudente, negligente ou imperita.
2: Aborto típico e jurídico (estão previstos em lei e não são puníveis):
Aborto terapêutico (artigo 128, inciso I): É realizado quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
Aborto sentimental e humanitário (artigo 128, inciso II): É o aborto autorizado quando a gravidez é resultante de estupro.
3: Aborto típico, antijurídico e culpável (estão previstos em lei e são puníveis):
Aborto doloso: é realizado pela própria gestante, ou por terceiro com ou sem seu consentimento (artigos 124 a 126). O dolo é a vontade livre e consciente de interromper a gravidez com a eliminação do produto da concepção ou com a assunção do risco de provocá-lo.
Aborto eugênico/eugenésio: aborto realizado quando o feto apresenta graves e irreversíveis defeitos genéticos. Exemplo: feto anencefálico.
Aborto econômico/social: aborto realizado para que não se agrave a situação de miséria da gestante, que não terá condições socioeconômicas para criar o filho.
Aborto honoris causa: aborto realizado para ocultar desonra própria. Exemplo: ficar grávida do amante.
A tutela, proteção principal é a vida intrauterina. Secundariamente, conforme os artigos 125 e 126, a tutela é a vida, a integridade física e a saúde da gestante.
A rigor, não se trata de crime contra a pessoa, mas contra a vida do ser humano em formação que tem seus direitos garantidos.
É indispensável a prova da eliminação da vida intrauterina por conduta do agente.
O aborto em todas as suas figuras típicas é crime material, de resultado naturalístico, exteriorizado, perceptível aos sentidos, de modo que, se exige o exame de corpo de delito.
Sujeito ativo: As 4 formas típicas de aborto são crimes unissubjetivos, ou seja, não é necessário a prática por mais de uma pessoa.
Nas figuras do autoaborto e do consentimento para abortar (artigo 124), o sujeito ativo é a gestante. Trata-se de crimes próprios, pois exigem especial atributo do agente, ou seja, SÓ a gestante pode praticar.
O terceiro que induz, instiga ou auxilia a gestante ao autoaborto é participe (artigo 124, 1ª parte). Portanto, admite concurso eventual de agentes, exclusivamente na modalidade participação. Exemplo: fornecer medicamento de efeito abortivo.
A figura do consentimento para abortar (artigo 124, parte final) não admite o concurso de pessoas, por se tratar de crime de mão própria.
Nas figuras típicas do aborto praticado por terceiro, sem ou com o consentimento da gestante (artigos 125 e 126) o sujeito ativo é qualquer pessoa, exceto a gestante.
Trata-se de uma exceção Pluralística à Teoria Unitária ou Monista adotada pelo código quando terceiro provoca o aborto com o consentimento da gestante. O terceiro responderá pelo artigo 126 enquanto a gestante pelo artigo 124, parte final.
Sujeito passivo: é o produto da concepção (óvulo fecundado, embrião ou feto).
Nas figuras do aborto provocado por terceiro, sem ou com o consentimento da gestante, ela também figura como sujeito passivo, de forma secundária, tutelando sua vida, sua integridade física e sua saúde.
Tipo objetivo: o código penal prevê 4 figuras típicas de abortamento:
Aborto provocado pela gestante (artigo 124, 1ª parte);
Aborto provocado por terceiro, sem ou com o consentimento (artigo 125 e 126);
Consentimento da gestante para o abortamento praticado por outrem (artigo 124).
A conduta prevista no artigo 125, o abortamento sem o consentimento da gestante, é a forma mais grave do delito, ao qual é aplicada maior pena em abstrato.
Para a tipificação do aborto é necessário o dissentimento real ou presumido, ou ainda que o abortamento se de a revelia da gestante (sem o consentimento da gestante)
Dissentimento real (não é válido): ocorre quando o terceiro emprega contra a gestante:
Fraude, que é o meio capaz de induzir a gestante em erro. Na falsa percepção da realidade ela consente no aborto;
Grave ameaça, que é a promessa de um mal grave, serio;
Violência, que é quando há emprego da força física.
Dissentimento presumido/ ficto (não é válido): ocorre quando há consentimento da gestante, mas o legislador reputa-o inválido, viciado: não é maior de 14 anos; é alienada; é débil mental.
Ausência de consentimento: hipóteses em que não há o consentimento da gestante.
As figuras típicas do aborto admitem, exceto a do consentimento para abortar, tanto a forma comissiva (regra) quanto a omissiva imprópria.
Classificação doutrinária: Aborto próprio = artigo 124, 1ª parte; Aborto de mão própria = artigo 124, parte final; Aborto comum = artigos 125 e 126; Unissubjetivo, material, de forma livre, instantâneo, comissivo ou omissivo (exceto o artigo 124, parte final), de dano, plurissubsistente ou unisubsistente e simples.
Tipo subjetivo: o agente age com dolo direito ou indireto eventual. Na primeira modalidade é a vontade livre e consciente de interromper a gravidez com a eliminação do produto da concepção. Na segunda, o agente assume o risco de produzir o resultado.
O aborto culposo é atípico. Porém, o terceiro que culposamente der causa ao abortamento responde por lesões corporais.
Consumação e tentativa: Consuma-se o aborto com a interrupção da gravidez e consequentemente morte do produto da concepção, sendo desnecessária sua expulsão do ventre materno.
Admite-se a tentativa quando empregado meio relativamente capaz de produzir o resultado, por circunstâncias alheias a vontade do agente, não há interrupção da gravidez ou ainda quando o feto que nasceu prematuro sobrevive.
Causas de aumento de pena (artigo 127): dois são os resultados que aumentam a pena: a morte e as lesões corporais de natureza grave.
As causas incidem apenas sobre as figuras do aborto provado por terceiros, sem ou com o consentimento da gestante.
Essas duas causas específicas de aumento de pena não são aplicáveis a 1ª figura do artigo 124, e por isso, quando houver participação, o terceiro responderá por homicídio ou lesões corporais culposas em concurso com autoaborto.
Os resultados que aumentam a pena são exclusivamente culposos = dolo no antecedente, no abortamento, e culpa na consequência, no resultado, na morte ou nas lesões corporais graves.
Aborto legal (artigo 128 – aborto necessário e aborto no caso de gravidez resultante de estupro): No caso do aborto necessário, em que há que se optar entre a vida da gestante e a do não nascido, melhor que se eleja aquela, a da vida já realizada em detrimento da do feto, da expectativa de ter vida extrauterina.
Maior divergência vem à colação no aborto sentimental ou humanitário, hipótese em que a continuação da vida intrauterina não fulmina nem põe em risco a extrauterina. Ou seja, não há qualquer motivo de ordem médica que impeça ou ao menos não recomende a continuação da gestação. De acordo com o princípio constitucional fundamental da dignidade da pessoa humana, é permitido a gestante vítima de tão odiosa agressão optar validamente pelo abortamento.
Aborto necessário ou terapêutico (artigo 128, inciso I): Não se pune o aborto praticado por médico se não há outro meio de salvar a vida da gestante.
Evidentemente que, na hipótese de aborto necessário, a lei se referiu aos casos em que é possívelaguardar a presença do médico. Em caso contrário, caracterizado o estado de necessidade de terceiro, excludente de antijuricidade, qualquer pessoa com conhecimento para tanto poderá provocar o abortamento desde que o perigo seja atual.
É imprescindível que o abortamento seja o único meio (e não melhor) apto a salvar a vida da gestante.
O legislador deixou a decisão do aborto exclusivamente a cargo do médico, não havendo necessidade do prévio consentimento da gestante ou de seu representante legal.
Se houver erro de diagnóstico do médico que concluiu pela necessidade de abortamento, que não era absolutamente necessário, o erro excluirá o dolo, ou seja, não estará caracterizado o crime.
Concluindo: não havendo outro meio de salvar a vida da gestante, o abortamento praticado por médico, presente ou não o perigo atual, incidirá na excludente de ilicitude específica do inciso em tela, ou seja, não será punido o aborto.
Aborto sentimental ou humanitário (artigo 128, inciso II): não se pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante, ou quando incapaz, de seu representante legal.
O médico não é obrigado a provocar o abortamento. A lei apenas faculta que intervenha. Questões pessoais ou religiosas permitem que se recuse a patrocinar a interrupção traumática da gravidez.
Como é desnecessária a autorização judicial, optando por provocar o abortamento o médico deve se cercar de provas suficientes da ocorrência do estupro para evitar sua responsabilização penal.
Comprovado que o médico foi induzido a erro, ou seja, não houve gravidez resultante de estupro, haverá erro de tipo que excluiu o dolo, portanto, não será penalizado.
Aborto eugênico, aborto econômico e aborto honoris causa: as três espécies são típicas, ou seja, estão previstas em lei e são punidas.
Aborto eugênico ou eugenésico: Não é permitido.
É o abortamento realizado quando diagnosticado que o feto apresenta sérias e irreversíveis anomalias que o tornem incompatível com a vida extrauterina. Exemplo: feto anencefálico.
Aborto econômico ou social: Não é permitido.
É o aborto realizado para que não se agrave a situação de penúria ou miséria da gestante, que não terá condições de criar o filho.
Aborto honoris causa: Não é permitido.
A finalidade da grávida ao optar pelo abortamento é ocultar desonra própria. São hipóteses em que a gestação lhe trará sérias consequências morais.
Lesão Corporal 
Bem jurídico tutelado à a integridade física, a normalidade psicológico.
Objeto material à a pessoa. Não pode ser praticado contra feto ou contra cadáver. No caso de cadáver, poderia ser crime impossível de lesão corporal, se o agente pensa que ela está viva, ou dependendo do dolo, ou se você sabe que a pessoa está morta e desfere golpes contra ela com finalidade aviltante, com finalidade de ofender o sentimento religioso, no máximo poderia ser crime de vilipêndio de cadáver.
Sujeito passivo à qualquer pessoa, desde que não seja o próprio agente.
Auto-lesão à Não é típica a auto-lesão enquanto crime de lesão corporal. Mas por que a auto-lesão é atípica? As auto-lesões são atípicas por conta do princípio da alteridade ou da transcendentalidade. “Alter” significa outro. Então, pelo princípio da alteridade só podem ser consideradas típicas se as condutas atingirem bens jurídicos de terceiros. Existem pessoas que na época da semana senta se autoflagelam, reproduzindo a “paixão de Cristo”, isso não é crime.
Auto-lesão no CPM e no CP
A questão das auto-lesões podem ser consideradas crime de acordo com o disposto no artigo 184 CPM. Mas por que a auto-lesão pode ser considerada crime no Código Penal Militar e no CP não? Porque no CP o bem jurídico tutelado é a integridade física, mas no CPM você não está atingindo só a você, mas sim a Administração Pública Militar, pois o agente se auto-lesiona para não prestar o serviço militar.
Art. 184 CPM - Criar ou simular incapacidade física, que inabilite o convocado para o serviço militar: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
A questão das auto-lesões podem ser consideradas crime no caso do art. 171, §2o, V, CP. Por que a auto-lesão no Código Penal Militar é crime e no CP não é? Porque no CP o bem jurídico tutelado é a integridade física, mas no CPM você está atingindo a Administração Pública Militar, o serviço militar.
O art. 171, §2o, V CP também vai caracterizar uma situação criminosa. Por que a auto-lesão no art. 171, §2o, V CP é crime? Porque aqui, na verdade, está se atingindo bem jurídico de terceiro, da seguradora, isso é crime de estelionato.
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
Art. 172, § 2º, V CP - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Lesão corporal e o consentimento do ofendido
 A lesão corporal é um crime contra a integridade física. E a nossa integridade física é bem disponível ou indisponível. Se a lesão é de natureza leve, é bem disponível, mas se for de natureza grave ou gravíssima, a nossa integridade física é indisponível.
O consentimento do ofendido tem alguma importância no que tange as lesões corporais? Ou seja, o consentimento do ofendido é importante quando se trata de lesão corporal? Sim. Qual é a natureza jurídica do consentimento do ofendido?  O consentimento do ofendido pode afastar tipicidade ou afastar ilicitude. Quando o consentimento do ofendido afasta a tipicidade? Quando a ausência de consentimento for elementar do crime. Por exemplo, na violação de domicílio, se houver o consentimento para a pessoa entrar na casa, existe crime de invasão de domicílio? Na violação de correspondência, se eu te der o consentimento para você devassar o conteúdo da minha correspondência, casa existe crime de violação de sigilo correspondência? Não. Ou seja, o consentimento do ofendido, quando houver menção a ausência de consentimento como elementar, vai ser causa de atipicidade, vai afastar a tipicidade do comportamento. Vejam o art. 129.
            Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
No art. 129 não existe como elementar do crime a falta de consentimento do ofendido. Isso significa, segundo a teoria clássica, que nunca o consentimento poderia afastar a tipicidade.
Mas o consentimento do ofendido, quando não funciona para afastar a tipicidade, pode funcionar como exclusão de ilicitude, porém se faz imprescindível que o consentimento verse sobre um bem jurídico disponível. Por exemplo, não posso dar autorização para que façam uma cicatriz imensa no meu rosto, mas posso consentir que seja praticada lesão de natureza leve, porque embora típica, a conduta não será ilícita, porque se trata de lesão de natureza leve. É igual a música “um tapinha não dói”.
Então, para o consentimento do ofendido funcionar como exclusão de ilicitude, se faz necessário que seja praticada lesão de natureza leve.
O que são lesões de natureza leve? O conceito de lesão de natureza leve se obtém por exclusão, ou seja, lesão de natureza leve é tudo que não foi de natureza grave, que são as descritas nos §§ 1º e 2º do art. 129.
Vejam, por exemplo, se não há a lesão que causa debilidade de membro, sentido ou função. Ela é considerada lesão de natureza grave. O consentimento do ofendido afasta a ilicitude quando vou consentir que uma pessoa me retire um órgão duplo? Não, porque o consentimento do ofendido é uma causa supralegal de exclusão de ilicitude, que só pode ser validamente invocada se o bem jurídico for disponível. O consentimento do ofendido não é relevante no caso de doação de órgão duplo, ele não é causa para excluir a ilicitude.
Só que todos sabem que podemos doar um rim. O médico que realiza essa cirurgia está praticando crime de lesão de natureza grave? Não. Ele pratica fato típico? Sim. O médico que realiza essa cirurgia atua sob o consentimento do ofendido? Não, o que valida a atitude dele é o exercícioregular do direito trazido pela Lei de Transplantes de Órgãos e Tecidos (Lei 9.434/97). Com isso é afastada a ilicitude. Mas para isso devem ser seguidos os trâmites que a lei determina.
E tatuagem, o consentimento do ofendido afasta o crime? Com certeza, porque a tatuagem é lesãocorporal de natureza leve. Se nas casas em que se realiza de tatuagem a pessoa fica com uma lesão? Se se verificar que houve culpa na realização da tatuagem, o tatuador pode responder.
Por que o tatuador quando vai fazer a tatuagem em um menor de 18 e maior de 14 exige a assinatura do responsável? Isso não tem nada a ver com Direito Penal, porque como ela é maior de 14 anos o consentimento dela é válido, a questão é de responsabilidade civil.
Lesão corporal e a Teoria da Tipicidade Conglobante
O médico quando realiza uma intervenção cirúrgica, evidentemente está nos causando uma lesãocorporal. Mas essa lesão corporal não é criminosa, porque ele atua no exercício regular do direto. Qual é a natureza jurídica do exercício regular do direto? É excludente de ilicitude. A conduta é típica, porém não é ilícita, portanto não é criminosa. Mas a teoria da tipicidade conglobante, que não é adotada na nossa lei, faz uma diferença. Para quem a adota, em se tratando de exercício regular do direto, devem ser visualizadas e distinguidas 2 tipos de situação.
1ª situação: atividade fomentada pelo Estado. É o caso de intervenção cirúrgica com finalidades terapêuticas, para fins curativos. Nessa hipótese da teoria da tipicidade conglobante a conduta não é sequer típica, porque não é anti-nortmativa, já que o Estado não pode ao mesmo tempo incentivar e proibir. Portanto, em atividade fomentada pelo Estado, será excludente de tipicidade.
2ª situação: cirurgias meramente estéticas. Estas cirurgias não são fomentadas pelo Estado, são meramente toleradas pelo Estado, tanto é que não se abate do IR. A tipicidade conglobante diz que no exercício regular do direto quando se realiza uma atividade meramente permitida, o comportamento é típico, mas não é ilícito. Portanto, em atividade apenas tolerada pelo Estado, é excludente de ilicitude.
Pela Teoria da Imputação objetiva não é nem típica, porque para ser típica ela precisa representar a realização de um risco proibido. Se ele representa um risco permitido, ela não pode ser típica.
Violência desportiva X lesão corporal
Violência desportiva, como uma disputa de bola no futebol, também é exercício regular do direito. A conduta é típica, mas não é ilícita. Pela tipicidade conglobante a violência desportiva é sempre excludente de tipicidade, porque o esporte válido é sempre atividade fomentada. No filme “Grande Dragão Branco” não se aplica o exercício regular do direito, porque a luta que o Van Dame praticou era clandestina. Também não pode ser considerado exercício regular do direito o fato do Mike Tysson morder a orelha do Hollyfield, pois comer orelha não tem nada a ver com luta de box.
No esporte de contato toda falta que ocasionar uma lesão, desde que seja falta característica do jogo, pode ser invocada a excludente de ilicitude, só não o poderá ser se não tiver nada a ver com a atividade. Foi o caso do jogador Leonardo que na Copa do Mundo deu uma cotovelada no adversário. Mas teve um jogador do Vasco, o Pedrinho, que sofreu uma falta violenta de um jogador em uma disputa de bola, nesse caso pode ser invocada a excludente de ilicitude. Mas quando se verifica má-fé, não pode ser invocada a excludente de ilicitude, como é o caso do Júnior Baiano, Nélio, Djalminha, jogadores famosos por fazerem faltas violentas sem o adversário sequer está com a bola nos pés. O famoso “carrinho” é atitude típica do jogo. Se a pessoa está parada, sem estar com a bola ou se o jogo já acabou a conduta não está amparada pela excludente de ilicitude.
No caso do filme “Menina de Ouro” a mulher que a atingiu não está amparada pela excludente de ilicitude, mas por qual crime ela vai responder é outra coisa, talvez ela não tivesse dolo de matar, mas ela tinha dolo de no mínimo lesionar a outra. Até porque a protagonista do filme não morreu em decorrência da lesão, mas da injeção que o treinador ministrou nela.
Lesões corporais # contravenção das vias de fato # injúria real
Não se pode confundir as lesões corporais com a contravenção das vias de fato. Não é correto dizer que a diferença é que a lesão corporal deixa vestígios e as vias de fato não deixam. Ex.: Eu pego um balde com ácido e atiro na direção do seu rosto, não consigo te atingir porque você se esquivou do conteúdo arremessado. Isso deixou vestígios? Não. E isso deixou de ser lesão corporal? Não, é tentativa de lesão corporal gravíssima. A diferença entre lesão corporal e as vias de fato não é que a lesão corporal deixa vestígios e as vias de fato não deixam, pois se fosse assim não haveria tentativa de lesão corporal, porque a lesão corporal neste caso, por exemplo, não deixou vestígios. A diferença reside no animus, no dolo de lesão que é o chamado  animus laedendi, que é a vontade de provocar a lesão, de ofender a integridade física. Quando eu arremesso o ácido na direção de alguém é inequívoca a vontade de lesionar, de ofender a integridade física de alguém. Nas vias de fato não pode haver o dolo de lesionar. Exemplos de vias de fato: beliscão, tapa, empurrão, puxão de cabelo.
Mas muitas vezes as vias de fato caracterizam o crime de injúria real. A injúria real são as vias de fato levadas a efeito com finalidade aviltante. Ex.: Na novela “chocolate com pimenta” a Priscila Fantin joga um balde com um líquido verde em uma personagem. Outro exemplo de injúria real é passar na poça de lama com vontade de humilhar alguém. Quando em briga de mulher uma puxa o cabelo da outra não há vontade de lesionar. Sem o animus laedendi  não há o crime de lesão corporal.
A multiplicidade de golpes na lesão corporal
Se eu quero te lesionar e começo a te dar várias pauladas, cada paulada é uma lesão corporal? A multiplicidade de golpes caracteriza pluralidade de crimes de lesão corporal? A pluralidade de movimentos corporais ou lesões caracteriza apenas um crime, a multiplicidade de golpes revela a multiplicidade de atos que integra a mesma conduta. Não confundam ato com conduta. O ato é o movimento corporal, a conduta é o comportamento que visa um determinado fim, um comportamento finalisticamente redigido. A minha conduta é ofender a tua integridade física, que pode ser levada a efeito com um ou com vários atos.  A multiplicidade de golpes, a pluralidade de atos que integram a minha conduta pode ter reflexo quando da fixação da pena-base. Pois uma coisa é eu te dar uma paulada e te provocar uma lesão, outra coisa é eu te dar várias pauladas e te deixar toda lesionada. Essa multiplicidade será avaliada quando da fixação da pena base. Art. 59 CP.
Qual é a pena da lesão corporal? Três meses a um ano. Vamos supor que querendo ofender a integridade física de alguém a pessoa deixa a outra toda roxa, porque foram muitos golpes. Quantos crimes de lesão corporal? Apenas um, mas na hora de fixar a pena base o juiz vai ver isso e aproximá-la ao máximo do legal.
Fixação da pena
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
A hipótese do sujeito passivo qualificado
O sujeito passivo qualificado é quando há, por exemplo, a situação do art. 129, § 9º. Neste parágrafo só quem pode ser sujeito passivo é pessoa das relações do agente, por exemplo, a mulher, o filho, a filha, o avô, a avó, pessoas que coabitem. Sempre que houver essas situações teremos o sujeito ativo qualificado.  
As lesões podem ser provocadas diretamente ou indiretamente. Você pode diretamente golpear uma pessoa, assim como pode arremessar essa pessoa contra um objeto para que ela seja ferida. Neste último haverá umaprovocação indireta das lesões.
Vimos que o tipo penal subjetivo nas lesões corporais é o dolo das lesões, que é o animus laedendi, a vontade de ofender a integridade física e a saúde da pessoa.
As lesões se classificam como leves, graves e gravíssimas. Mas a definição de gravíssimas é da doutrina e não da lei. A lei chama tanto as lesões do § 1º como as do § 2º de lesões graves. Mas para a doutrina a lesãodo § 1º é grave e a do § 2º é gravíssima.
A lesão leve encontramos tanto no art. 129 caput, como no art. 129, § 9º.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Art. 129, § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
O art. 129, § 9º é também lesão leve qualificada, mas por quê? O § 9º é qualificadora da lesão corporal, mas por quê? O tipo penal deste parágrafo foi introduzido pelo pela Lei 10.886/04. Vocês lembram que tinha uma novela chamada “Mulheres apaixonadas” em que o personagem Marcos vivia batendo na mulher, a Helena Ranaldi? Teve uma cena que ele bateu na mulher, depois de quase que diariamente dar-lhe raquetadas, e ela pegou a arma dele e atirou no espelho, ferindo-o com o estilhaço. Nesta cena ela dizia que tinha cansado de apanhar e que ia denunciá-lo. Ele respondeu que o que ele fazia era passível de pena cesta-básica, mas que o que ela tinha acabado de fazer é tentativa de homicídio, o que poderia até ocasionar a prisão dela. Além dessa situação tinha a personagem Dóris que batia nos avós.
Por conta disso, inspirada no clamor popular, em junho de 2004 foi editada a figura qualificadora do § 9º, com a pena de 6 meses a um ano, o que não mudava nada, pois continuava sendo crime de menor potencial ofensivo, continuava sendo possível a transação. Isso porque a lesão leve do caput tem pena de 3 meses a 1 ano e a lesão qualificada do § 9º tinha a pena de 6 meses a um ano.
Esse parágrafo 9º teve apenas a pena alterada pela Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06. Com a Lei Maria da Penha a lesão do § 9º passou a não mais ser crime de menor potencial ofensivo, agora ele tem pena de 3 meses a 3 anos.
Cuidado, porque nem tudo que está no parágrafo 9º se insere na Lei Maria da Penha. O parágrafo 9º fala do pai quando pratica lesão corporal no filho, do filho quando pratica lesão corporal no pai, do avô quando pratica lesão corporal na avó, da avó quando pratica lesão corporal no avô, etc. Logo, não interessa se é homem ou é mulher o sujeito passivo do § 9º, o que importa é que seja das relações domésticas, das relações de coabitação. E a pena será sempre de 3 meses a 3 anos. Só será Lei Maria da Penha se for violência doméstica contra a mulher.
Admite-se no § 9º a figura da representação? Ou seja, qual é a ação penal do crime do § 9º? Qual é a ação penal para a lesão corporal leve? Ação penal pública condicionada à representação. Quando é que é ação penal pública incondicionada? Quando a lei não fala nada. E essa lesão aqui, a lei fala alguma coisa? Não. A Lei Maria da Penha estabelece que se for violência contra a mulher, será ação penal pública incondicionada. Então, qual é a ação penal do crime do § 9º? Ação penal pública condicionada à representação. E nos casos da Lei Maria da Penha, na violência contra a mulher, será ação penal pública incondicionada. Embora a Lei Maria da Penha venha sofrendo vários questionamentos quanto a sua constitucionalidade, ela não foi declarada inconstitucional. Então em prova do MP deve-se colocar o que está na lei, pois o MP entende que enquanto o dispositivo não é declarado inconstitucional, ele é válido, ele tem presunção de constitucionalidade, ele é para ser aplicado e acabou! O atual examinador do MP, por exemplo, não a acha inconstitucional.
Resumindo: Ação penal do crime do § 9º - Ação penal pública condicionada à representação, porque se trata de lesão corporal de natureza leve. Mas se for violência doméstica contra a mulher a ação penal é pública incondicionada. Isso é o que devemos colocar em prova.
Mas agora vamos questionar: será que é correto, que é constitucional o art. 41, que diz a ação penal é pública incondicionada nessa situação? Sem tocar na questão da constitucionalidade ou inconstitucionalidade, acredito que o art. 41 da Lei Maria da Penha deve ter uma aplicação restritiva. Vamos lê-lo.
Art. 41 da Lei 11.340/06. .  Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Fazendo uma interpretação restritiva, o que se quis dizer com esse artigo é que não cabem os institutos despenalizadores típicos da Lei 9.099/95, que são a transação penal, composição civil dos danos, representação e suspensão condicional do processo. A transação penal é instituto típico da Lei 9.099/95? Sim, então não cabe para a Lei Maria da Penha. A transação penal é instituto típico de crime de menor potencial ofensivo? Sim, então não cabe na Lei Maria da Penha. A representação é instituto desapenador exclusivo da Lei Maria da Penha? Não, tem até estupro, que é crime hediondo, que somente se procede se houver a representação. Então, essa vedação não se refere à representação.
Até porque a própria Lei, pela leitura do art. 16, demonstra que é possível aplicar a representação nos crimes de violência contra a mulher. Logo, essa segunda corrente, que é defendida pelo professor Damásio, entende que é possível aplicar em qualquer caso a representação nos casos de violência doméstica contra a mulher em que há lesão corporal leve.
Art. 16 da Lei 11.340/06.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Recapitulando:
Primeira corrente - Ação penal do crime do § 9º: a regra é a ação penal pública condicionada à representação. E a ação penal é pública incondicionada se for violência doméstica contra a mulher. O fundamento é levar ao pé da letra o que está no art. 41 da Lei Maria da Penha.
Segunda corrente - Sempre de ação penal pública condicionada à representação, independente se for violência doméstica contra a mulher ou não.
Esse crime é de médio potencial ofensivo, são 3 meses a 3 anos, então é admitida a suspensão condicional do processo quando se tratar de violência doméstica contra a mulher? A suspensão condicional do processo tem como parâmetro a pena mínima, que não pode ser superior a 1 ano. E a pena mínima para este crime é de 3 meses, logo, admite-se a suspensão condicional do processo para este crime? Admite-se.
Mas e quando se tratar de violência contra a mulher, vai admitir a suspensão condicional do processo? Temos que ser coerentes, saber em qual corrente relatada acima nos posicionamos.
Para quem é partidário da primeira corrente relatada acima não cabe a suspensão condicional do processo na hipótese do § 9º, quando se tratar de violência contra a mulher, por força do disposto no art. 41.
Vamos voltar aos institutos despenalizadores típicos da Lei 9.099/95: transação penal, composição civil dos danos, representação e suspensão condicional do processo. A composição civil dos danos como causa extintiva da punibilidade é para crimes de menor potencial ofensivo? Sim, apenas nos crimes de menor potencial ofensivo que a composição civil dos danos gera a extinção da punibilidade. Logo, é típica sim. A transação é? Sim. A suspensão condicional do processo é típica de crimes de menor potencial ofensivo? Não, a suspensão condicional do processo é para crimes de médio potencial ofensivo. O furto não é crime de menor potencial ofensivo e cabe suspensão. Estelionato não é crime de menor potencial ofensivo e cabe suspensão. Se a estudarmos, veremos que a suspensão condicional do processosó foi colocada na Lei 9.099 por questão de oportunidade legislativa, pois isso não é instituto típico de menor potencial ofensivo. Daí vem a opinião da segunda corrente.
Para quem é partidário da segunda corrente cabe a suspensão condicional do processo na hipótese do § 9º, quando se tratar de violência contra a mulher porque a suspensão condicional do processo não é instituto típico dos crimes de menor potencial ofensivo, razão pela qual cabe perfeitamente a suspensão condicional do processo, ainda que se trate de violência doméstica contra a mulher.
A crítica que se faz é que dando essa interpretação a essa segunda corrente, se estaria mitigando o que o legislador queria que fosse feito na Lei Maria da Penha. Mas  rebatendo este argumento temos que o que o legislador não queria é que fossem aplicados os institutos típicos da Lei 9.099 (transação penal, pagamento de cesta básica, composição civil dos danos) e a suspensão condicional do processo não é instituto típico da Lei 9.099.
Sabem o que é a suspensão condicional do processo? Obrigação de não se ausentar da comarca, comparecimento mensal (aí eles colocam bimestral, trimestral), etc. é só o cara viver a vida dele direitinho por 4 anos que não dá nada pra ele. Vocês acham que alguém checa se o cara está obedecendo à proibição do cara freqüentar determinados locais depois das 18h00min? Claro que não.
Essa segunda corrente fala de uma interpretação restritiva do dispositivo, isso para não dizer que o dispositivo é inconstitucional, pois a rigor não tem nenhum sentido essa lei. Olha a incoerência: o pai dá uma surra na filha, vai pro JECrim; a mãe dá uma surra no filho, não acontece nada, pois é menor potencial ofensivo. Se o irmão de 18 anos bate na irmã de 35, é violência doméstica, mas se a irmã de 35 bate no irmão de 17, se for lesão leve vai pro art. 129. § 3º, sendo ou não violência doméstica, cabendo suspensão, representação, cabendo tudo. Não se justifica isso.
Lesões graves
O que temos na verdade são resultados qualificadores das lesões (art. 129 §§ 1º e 2º), eles podem ser praticados tanto a título de dolo, quanto a título de culpa. Por exemplo, no caso do inciso I, do § 1º “Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias”. Você pode ter objetivado isso ou não. Você pode ter dado uma surra na pessoa para deixá-la em casa 2 meses de molho ou não. Esse resultado pode ser causado tanto a título de dolo, quanto a título de culpa.
Mas há situações destes parágrafos em que só pode ser aplicado em razão de dolo, é o caso do §2º, V.
Art. 129, § 2° Se resulta: V – aborto.
O resultado “aborto” a que se refere o artigo não pode ter sido desejado, não pode ter sido doloso. Se, por exemplo, o cara vê a mulher com uma barriga de 8 meses e dá uns tiros nela, ele sabe que vai matá-la e ao feto também. Nesse caso falamos em homicídio e mais aborto. A mesma coisa acontece se for lesão corporal. Se o cara quiser lesionar a mulher e quiser causar o aborto nela, ele responde por lesão e por aborto. Essa lesãocom aumento de pena (qualificada) pelo aborto é quando o aborto vem culposamente. Por exemplo, o cara deu uns tapas na mulher e ela ficou nervosa perdendo o bebê, isso é lesão corporal qualificada pelo aborto, o aborto é a título de culpa.
Tanto na forma de lesão leve, quanto nas lesões graves ou gravíssimas, a lesão corporal é sempre um crime material, significa que ela descreve um resultado, que é a ofensa a integridade física, e ela exige para a consumação do delito a superveniência desse resultado. E como crime material que é, ela sempre admite tentativa. Inclusive se admite a figura da tentativa da lesão grave. 
Mas é possível a tentativa da lesão corporal grave com aborto no §2º, V? O dolo está na lesão corporal, o aborto é a título de culpa. Se o dolo estivesse no aborto também seria lesão + aborto.
É possível a tentativa da lesão corporal grave com aborto? Na lesão corporal com aborto, a lesão é a título de dolo e o aborto é a título de culpa. Isso é um crime preterdoloso? Qual é a diferença entre um crime preterdoloso e um crime qualificado pelo resultado?
Ex: Aborto com morte da gestante. O aborto é com dolo, a morte é a título de culpa.
Ex: Numa lesão corporal seguida de morte, a lesão é a título de dolo, mas a morte é a título de culpa. Este último é preterdoloso.
Mas por que nos dois exemplos anteriores (lesão corporal com aborto e aborto com morte da gestante) não se trata de preterdolo? Crime preterdoloso é quando o resultado qualificador a título de culpa abrange o resultado menos grave desejado a título de dolo. Então, quando você tem lesão corporal seguida de morte, não há como ter morte sem antes ter tido a lesão. Logo, esse resultado mais grave contém o resultado menos grave. Por isso é preterdolo. Por isso que na lesão corporal seguida de morte não é possível haver a morte sem que haja lesão corporal. Mas a morte da gestante não significa necessariamente que o aborto tenha ocorrido, pode ter ocorrido apenas a tentativa.
Ex.: A mulher tenta fazer o aborto, é levada ao hospital e como sangra muito acaba morrendo, mas o bebê é salvo. É aborto com morte da gestante. Então, é possível a tentativa de aborto com morte da gestante, que foi este caso. Nesse caso não há preterdolo, porque a morte da gestante não necessariamente implica na existência de um anterior aborto. A morte da gestante não necessariamente demanda que um aborto tenha ocorrido, pode ter ocorrido uma tentativa de aborto.
A mesma coisa se dá aqui: lesão corporal grave com aborto. A lesão é contra quem? Contra a mulher. O aborto é contra o feto. Neste caso tem como ter o aborto sem ter lesão? É admissível a tentativa da lesãocorporal com aborto? Sim. Se eu jogo um balde de ácido em uma mulher grávida e não consigo atingi-la, mas por ter ficado muito nervosa, ela aborta.
Isso prova que a lesão corporal admite tentativa tanto na forma simples como na forma qualificada dos parágrafos 1º e 2º.
O §1º, II diz que será lesão corporal de natureza grave se dela resulta perigo de vida. É possível tentativa de lesão se resulta perigo de vida? Não, porque ou há a lesão e acontece o perigo de vida ou nem há lesão. Ou seja, se ele a tivesse atingido, haveria o perigo de vida, mas se ele não a atingisse não haveria nem a lesão, quanto mais o perigo de vida.
§ 1º Se resulta: II - perigo de vida;
Então, na figura do §1º, II não é admissível a figura do conatos. Conatos é tentativa.
Embora parte da doutrina sustente a impossibilidade da tentativa no caso do art. 121, § 2º, V, ela é cabível. Ela só não cabe no §1º, II.
Lesão leve # lesão insignificante
Qual é a diferença entre lesão leve e lesão insignificante? Qual é conseqüência entre nós da aplicação do princípio da insignificância? Ele gera atipicidade comportamental. Quando tem uma lesão insignificante, isso é atípico. Mas qual é a diferença entre lesão leve e lesão insignificante? A lesão leve é quando a lesão teve algum significado para a integridade física, mas que não chegou a nenhuma das situações do § 1º, do § 2º e nem do § 3º. Mas se a lesão ao bem “integridade física” não tiver significado algum, não há sequer conduta típica. Ex.: Eu, na hora que fui abastecer, ao sair toquei na perna do frentista e provoquei nele um arranhão como se fosse feito por uma unha, uma coisa superficial. Isso é uma lesão leve ou não é lesão criminosa. Isso nem é crime porque é lesão insignificante. Isso nem é lesão corporal, poderia até se falar em vias de fato.
Análise de cada figura da lesão grave:
§ 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
O crime de lesão corporal é transeunte ou não transeunte? Os crimes transeuntes não deixam vestígios. Os não transeuntes deixam vestígios. Portanto, a lesão é não transeunte. Mas no caso deste § 1º vamos precisar de 2 exames de corpo de delito para caracterizar a qualificadora. O 1º é o exame de corpo de delito que precisamos sempre no crime de lesão corporal. O 2º é o chamado exame complementar, pos ele éque dirá se a lesão efetivamente resultou em incapacidade por prazo superior a 30 dias. E ele só pode ser feito após o 30º dia, se for feito no 29º dia ele não vai valer, não terá validade para comprovação da materialidade da qualificadora.
O que se entende por “ocupação habitual”? Para ser ocupação habitual não é necessário que seja atividade de trabalho. Até uma criança tem ocupação habitual, como ir pra creche, ir pro parquinho, etc. Se uma prostituta sofre uma lesão e fica mais de 30 dias sem trabalhar, essa lesão é qualificada pelo inciso I ou é uma lesão leve?  É qualificada, pois a prostituição (o meretrício) não é atividade ilícita, é só imoral, portanto se enquadra no § 1º, I. Mas se um apontador do jogo do bicho sofre a lesão e fica mais de 30 dias sem poder apontar o bicho, a lesão dele é a do § 1º ou é a do caput? A lesão dele não poderá se enquadra no § 1º, I, porque a atividade que ele exerce é ilícita. Se a lesão só o impediu de anotar o jogo do bicho, nós não vamos enquadrar no § 1º, I. Isso significa que o promotor não poderá ao denunciar dizer: “cuida-se de lesão qualificada, visto que a vítima permaneceu mais de 30 dias sem poder anotar o jogo do bicho”. Com esse argumento não estará caracterizada a qualificadora. Mas é óbvio que quem aponta o jogo do bicho, não apenas aponta o jogo do bicho, mas também realiza outras atividades, como por exemplo, levar o filho para a escola, jogar futebol, etc.
§ 1º Se resulta: II - perigo de vida;
Deve ser um perigo real, efetivo, isso inclusive deve estar positivado em laudo próprio. O item padrão do laudo de exame de corpo de delito que questiona se resultou perigo de vida deve estar respondido positivamente. A mera gravidade das lesões não pode levar a conclusão que houve perigo de vida, pois pode haver uma lesãomuito grave que não tenha representado perigo de vida.
Qual é a diferença entre o delito do § 1º, II e o do § 3º? O dolo. O contexto é que vai dizer se houve dolo de matar ou de lesionar.
Lesão corporal seguida de morte à § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
                                                 
E se a pessoa lesionou com dolo eventual de matar? Se você conseguir provar que ao lesionar a pessoa pouco se importava se a outra iria morrer ou não, eu não tenho lesão corporal com resultado “perigo de vida”, teremos então o quê, tentativa de homicídio? Vamos ver.
Ex.: Eu dou uma facada na barriga de uma pessoa, pouco me importando se ela vai morrer ou não. Eu queria lesionar. Ela é levada para um hospital e sofre sério risco de vida, mas não morre. Eu atuei com dolo eventual, pois pouco me importava  se ela ia morrer ou não. Eu respondo por lesão corporal com dolo eventual de perigo de vida ou por tentativa de homicídio? Opções: lesão corporal simples, lesão corporal qualificada pelo perigo de vida ou tentativa de homicídio?
Segundo doutrina amplamente majoritária não cabe tentativa de dolo eventual. O que é o dolo eventual? “Se eu fizer isso, aquilo pode acontecer, e se acontecer, dane-se”. No dolo eventual você não deseja o resultado, você até consente que ele aconteça. Como é possível você tentar algo que não desejava? Para ter tentativa é preciso que se prove que o agente queira o resultado e que este não sobreveio por circunstâncias alheias à vontade dele. A teoria adotada para o dolo eventual é a Teoria do Consentimento ou da Assunção.
Assim, a resposta para a pergunta acima é que se trata de lesão corporal grave com perigo de vida. E por que não poderia ser lesão corporal seguida de morte? Porque não houve morte.
Se eu disse que doutrina amplamente majoritária entende que não cabe tentativa de dolo eventual é porque existe corrente em sentido contrário. Há quem admita tentativa de dolo eventual, então estes defendem que neste caso seria tentativa de homicídio. Isso é minoritário, mas existe.
§ 1º Se resulta: III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
O que é debilidade? É o enfraquecimento ou a diminuição da capacidade de funcionamento. Se a pessoa sofre uma lesão e se submete a várias intervenções cirúrgicas e depois fica boa, não se descaracteriza a debilidade permanente. Por isso continua sendo lesão grave. Debilidade permanente é aquilo que o tempo reverte, a natureza reverte. Se a natureza puder reverter, não tem a qualificadora, mas se a natureza não puder reverter o quadro, há a qualificadora. Se aquilo foi revertido pelo homem, a lesão não deixou de ser permanente, deixou de ser perpétuo.
Permanente é aquilo que o tempo, a natureza não reverterá. Perpétuo é aquilo que nem o homem, nem a natureza reverterá.
Na debilidade permanente não precisa esperar os 30 dias, ela é constatada na hora, não precisa de exame complementar. Ex.: perda de rim, perda de dente permanente. Mas a perda de dente de leite nunca haverá debilidade.
Sempre que houver órgãos duplos e perder-se um deles, não se perde a função, acontece a função de forma debilitada. Mas quanto aos dentes, todos eles têm uma função específica (mastigar, morder, etc.). No caso do dente canino é perda. E se acontecer a perda total da função cai no § 2º, com pena de 2 a 8 anos.
§ 1º Se resulta: IV - aceleração de parto.
1 - Ana, grávida de 8 meses é surrada por um estranho. O bebê nasce prematuro em virtude das complicações sofridas por Ana. Os golpes foram apenas dados no rosto. Resposta: Em relação ao enunciado, a pessoa teve dolo de matar? Não. A pessoa teve dolo de causar o aborto? Não, caso contrário seriam dados os golpes na barriga. Capitulação: Art. 129, § 1º, IV, é quando em razão da atitude do agente acontece a antecipação de parto. Ele não pode ter obrado com dolo de aborto, pois se teve dolo de causar o abortamento, ele responde pelo aborto e mais a lesão corporal.
2 - A situação acima se alteraria caso os golpes fossem dados na barriga e em outras partes do corpo? Resposta: Sim, pois significaria que ele teria o dolo do aborto. Seria o art. 129, caput mais o art. 125.
3 - E se Ana tivesse grávida de 2 semanas, a hipótese de nº. 2 se alteraria?  Resposta: Sim, porque como um estranho vai saber que ela está grávida? Então não tem como ele responder pela morte do feto. Ele só responde por lesão simples, a do caput.
4 - Como ficaria a resposta de nº. 3, caso o agente fosse o marido da vítima e soubesse da gravidez de 2 semanas? Resposta: Se ele deu socos no corpo todo e inclusive na barriga, ele teve dolo de causar o aborto. Art. 129, § 9º e art. 125.
5 – Como seria a resposta acima se o marido da vítima não soubesse que ela está grávida? Resposta: Art. 129, § 9º, lesão leve qualificada (violência doméstica).
6 - Se o marido soubesse que ela está grávida e desse socos apenas no rosto e o feto morresse? Resposta: Estava na cara que ele não queria o aborto, mas era previsível que ela viesse a perder a criança. Não pode usar o §9º, porque é lesão grave, mas pode usar o § 10º, porque tudo o que qualifica a lesão leve no § 9º, aumenta a pena quando se trata de lesão grave. Art. 129, § 2º, V e § 10º.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
E quando se usa “Na forma de” ou “Combinado com”?
Resposta: “Na forma de” diz respeito a concurso de crimes. Ex.: art. 121 com art. 125 na forma do art. 69; art. 129 com art. 125 na forma do art. 70; 5 furtos na forma do art. 71; enfim dois ou mais crimes na forma do art. 69 ou na forma do art. 70 ou na forma do art. 71.
“Combinado com” é quando você precisa do outro dispositivo para formar a tipificação. Ex.: Sem o art. 14, II você conseguiria explicar a tentativa? Não, então é art. 121 combinado com art. 14, II.  Sem o art. 29 você conseguiria explicar a conduta do partícipe? Não, então é art. 155 combinado com art. 29, II. O crime omissivo impróprio, se o cara não fosse garantidor, ele responderia pelo homicídio se visse alguém se afogar e não salvasse?Então é art. 121 c/c art. 13.
Mas aqui não é nem “na forma de”, nem “combinado com”, é art. 129, § 2º, V e § 10º. Se você quer capitular uma lesão corporal contra a mulher, coloca-se art. 129, § 9º, nos termos da Lei Maria da Penha.
Tudo que falamos sobre homicídio culposo na condução de veículo automotor, se aplica as lesões corporais também. Isso responde o item 26 do nosso guia de estudo (As lesões culposas e a figura especial trazida pelo CTB). A única diferença é o resultado naturalístico, em um ocorre a morte e em outro ocorre a lesãocorporal, o resto é tudo igual.
Existe também uma causa de aumento de pena, quando se tratar de pessoa com debilidade mental, § 11º.
§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
Lucas pai de Mateus, este último portador de grave doença e deficiente físico e mental, bate violentamente em seu filho, causando-lhe, entretanto, lesões de natureza leve. Capitule a sua conduta indicando se a resposta se alteraria caso as lesões fossem de natureza grave.
Fatos relevantes da questão: o fato de ser lesão leve, de ser filho e de ser a vítima portadora de deficiência física. O fato de ser filho cuida-se de crime praticado no âmbito doméstico, incidindo o art. 129, § 9º. Não podem ser os §§ 2º e 3º porque não foi o resultado qualificador de lesão grave. Só que tem uma causa de aumento de pena no § 11º. Então a capitulação será art. 129, §§ 9º e 11º. Se fossem lesões de natureza grave: art. 129, § 1º ou 2º e § 10º, onde o fato das relações domésticas vai funcionar como causa de aumento de pena.
Ação penal no crime de lesão corporal
 Lesão leve à ação penal condicionada à representação.
 Lesão grave, lesão gravissíma e se tiver como resultado a morte à ação penal pública incondicionada.
Obs.: Quanto a ação penal no crime de lesão corporal, devemos lembrar as controvérsias apresentadas quando há incidência da Lei Maria da Penha.
Dos crimes contra a honra
Ultimamente essa questão dos crimes contra a honra tem tido muito espaço porque membros de Igrejas Evangélicas têm deflagrado sistematicamente ações contra determinados órgãos de imprensa. Eles não se limitam a narrar o fato.
Ao jornalista cabe reportar, dizer o que aconteceu. Contra fatos não há argumentos, mas contra impressões pessoais existem muitos e muitos argumentos. A imprensa noticia “A Igreja tal arrecada tanto e manda para o exterior”. Isso é fato.  Evidentemente que se aquilo não aconteceu, a tal Igreja pode responsabilizar o jornalista pela prática de calúnia, porque enviar dinheiro para o exterior sem pagar é crime. E com isso está se imputando a alguém a prática de um crime.
Mas a imprensa tem dito, por exemplo, “esse dinheiro vem da arrecadação de pobres fiéis que enganados entregam seu dízimo ...”. Com isso o repórter está dizendo que o fiel é um imbecil, está, inclusive, maculando a fé do outro e fé cada um tem a sua. Isso tem se tornado cada vez mais freqüente. E por isso cai cada vez mais em prova.
Para que haja o crime contra a honra a situação é mais complicada, porque todo crime contra a honra é delito de tendência. O que significa dizer que não há crime contra a honra quando atuo com animus narrandi, quando eu atuo com animus jocandi, quando eu atuo com animus criticandi. O crime contra a honra só existe quando se atua com animus injuriandi, e vel difamandi.
Ex.: Dois amigos se encontram na rua e um fala “seu filho disso, seu filho daquilo, pqp, estou te procurando pra irmos almoçar e você não atende essa M desse celular, seu V, vai para a casa do C”. Ele praticou crime contra a honra? Não, porque não estava atuando com animus injuriandi, e vel difamandi., imprescindíveis para a caracterização do crime.
Por que é um delito de tendência? Porque ainda que não esteja escrito em lugar algum, esse elemento subjetivo vem implícito, essa interação específica do dolo é implícita e ela é ditada pela própria natureza do delito. O dolo de tendência é imprescindível a caracterização porque ele é ditado pela própria natureza do delito. Por isso posso chamar o cara de filho de uma beautiful woman e estar praticando um crime como também não estar praticando nenhum crime, vai depender da tendência que eu vá imprimir ao meu dolo.
Os crimes contra a honra não temos apenas no CP. Eles aparecem na Lei de Imprensa, artigos 20 a 22 (Totalmente Revogada pelo STF considerado que não foi Recepcionada pela Constituição de 1988); no Código Eleitoral, artigos 324, 325, 326; na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170). Essas leis guardam entre elas uma relação de especialidade, a mais especial de todas é a Lei de Segurança Nacional. Depois dela, a mais especial é a Lei eleitoral. Depois da Lei eleitoral é a Lei de Imprensa (Esta Última Revogada). E por fim o Código Penal. Essa é a relação de especialidade.
Então devemos primeiro classificar os crimes contra a honra na seguinte ordem: Lei de Segurança Nacional, Lei Eleitoral, Código Penal, ou seja, primeiro vemos se o crime se encaixa nas leis especiais na ordem citada, se não se encaixa, aplica-se o CP. Para isso, olhamos o fato e vamos vendo nesta ordem em qual lei o fato se encaixa.
Exemplo: Um determinado deputado em uma propaganda eleitoral disse que o seu opositor havia praticado um determinado crime, quando ele sabia que o tal opositor não tinha praticado crime algum. Qual o crime que ele pratica? Ele praticou calúnia contra o seu opositor, mas onde está definido este crime? Na Lei Eleitoral, porque ela é mais especial do que o Código Penal.
O caso do jornalista americano que disse que o Lula é alcoólatra causou a expulsão desse jornalista. É lógico que dizer que o presidente de um país é um bêbado abala a credibilidade desse país perante a comunidade internacional e realmente é uma questão que tem a ver com a segurança nacional.  Nesse caso usa-se a Lei de Imprensa ou a Lei de Segurança Nacional? A Lei de Imprensa (Lei 5.250/67), porque não existe injúria na Lei de Segurança Nacional, nela ó existem os crimes de calúnia e difamação, não existe o crime de injúria (artigo 26 da Lei 7.170/83). Lembrando-se que no caso em tela a Lei de Imprensa ainda não havia sido revogada.
Art. 26 da Lei 7.170/83 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação.
Pergunta-se um candidato está em campanha e pratica através do jornal um crime contra honra? Aplica a Lei Eleitoral. Se for em campanha ou para fins eleitorais ou para fins de propaganda eleitoral, aplica a Lei Eleitoral.
Os crimes contra a honram tutelam dois aspectos da honra: a honra objetiva e a honra subbjetiva.
Honra objetiva – é aquilo que se pensa de alguém, é a reputação desse alguém perante o corpo social, é o que as pessoas pensam desse alguém. Ela é objeto de tutela nos crimes de calúnia e difamação. 
Honra subjetiva – é aquilo que cada um pensa de si mesmo, dos seus atributos sociais, éticos, morais, religiosos. É tutelada pelo crime de injúria.
Consumação dos crimes contra a honra
Todos os crimes contra a honra, quer se trate da honra objetiva ou da subjetiva, são crimes formais. Por que os crimes contra a honra são crimes formais? O que são crimes formais? E qual é o momento consumativo do crime contra a honra?  Crimes formais são aqueles crimes que têm um resultado, mas não demandam a superveniência desse resultado para serem considerados crimes consumados, ou seja, nos crimes formais o agente direciona o seu comportamento a causação de um dano a um bem jurídico, mas esse dano não precisa acontecer para o crime ser consumado. Pergunta-se: crime contra a honra tem resultado? Tem. O resultado do crime contra a honra é macular, ofender a honra.  Mas é preciso que se tenha a ofensa a honra para que este crime esteja consumado? Não é preciso ter esse resultado, basta realizar o tipo.
Ex.: Uma pessoa diz: “Vocêssabiam que aquela Madre que todos adoram e que tem uma capelinha pega o nosso dinheiro e manda para o exterior? Ela está rica as nossas custas.”. Aí, aqueles que estão ouvindo dizem isso é impossível acontecer.
 Ex.: Uma pessoa diz: “Vocês sabiam que a Claudia Barros está rica porque recebeu um dinheiro grande da quadrilha do Beira-Mar?”. Aí, aqueles que estão ouvindo dizem que não é nada disso, porque ela vive dura.
Pergunta-se: essas pessoas que fizeram esses comentários queriam macular a honra da madre e da professora, mas elas conseguiram? Não. Mas o crime estaria consumado? Estaria. Isso quer dizer que nos crimes contra a honra existe a característica dos crimes formais, porque o resultado, que é a mácula da honra, não precisa acontecer para que ele esteja consumado, basta que se diga, basta que realize o comportamento do tipo, realize o comportamento descrito na norma. Não é necessário que você consiga aquilo que queria conseguir.
Consumação dos crimes contra a honra
Qual o momento consumativo dos crimes contra a honra? É quando a ofensa chega ao conhecimento de terceiros, no crime de calúnia e de difamação, porque eles tutelam a honra objetiva, e quando a ofensa chega ao conhecimento do ofendido, no crime de injúria, porque ele tutela a honra subbjetiva. No crime de calúnia e de difamação quando a ofensa chega ao conhecimento de terceiros, ainda que esses terceiro não “comprem a história”, ainda que não se consiga ofender, o crime está consumado.
Tentativa nos crimes contra a honra
Diante disso, pergunta-se: é possível tentativa no crime contra a honra? Sim. Qual é o momento consumativo da calúnia? Não é quando ela chega ao conhecimento de terceiro? Sim. Não pode acontecer de você proferir uma ofensa e por uma razão alheia a sua vontade essa ofensa não chegar ao conhecimento de terceiros? Pode. Não pode acontecer de você querer macular a minha honra e dizer para mim coisas absurdas, mas isso não chegar ao meu conhecimento por circunstâncias alheias a sua vontade? Pode.
Então, haverá tentativa em qualquer modalidade dos crimes contra a honra quando, embora proferida a ofensa, ela não chegar ao conhecimento de terceiro ou da pessoa por razão alheia a vontade do agente.
Sujeito ativo
Quem pode praticar crime contra a honra? Qualquer pessoa.  
Sujeito passivo
Contra quem se pode praticar crime contra a honra? Quem pode ser sujeito passivo dos crimes contra a honra? Morto, pessoa jurídica, débil mental, criança podem ser sujeito passivo dos crimes contra a honra?
. Morto – não tem personalidade jurídica, não é sujeito passivo de crime algum. Entretanto, podem ser sujeito passivo os familiares do morto. Nos construímos uma idéia dos nossos familiares. Se alguém fala alguma coisa maculando a honra desse meu familiar já falecido, essa pessoa não estará maculando a honra dele, mas estará fazendo algo contra a minha família, contra a memória deste familiar e os sujeitos passivos são os familiares.
OBS: Morto é coisa (bem, objeto) e não pessoa. Logo, não pode ser sujeito passivo de nada. Na calúnia contra os mortos o sujeito passivo é a família.
E contra a memória dos mortos existem crimes contra a honra? Sim, no CP temos só a calúnia contra os mortos, art. 138, § 2º CP. Na Lei de Imprensa temos as três modalidades de crimes contra a honra contra a memória dos mortos, art. 24 da Lei 5.250/67.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Art 24 da Lei 5.250. São puníveis, nos termos dos arts. 20 a 22, a calúnia, difamação e injúria contra a memória dos mortos.
 . Pessoa Jurídica – Ela não pode ser sujeito passivo de injúria, pois não tem honra subjetiva. Mas existe honra objetiva, porque todos nós pensamos alguma coisa de uma pessoa jurídica. Por isso ela é passível de ser sujeito passivo de difamação, pois possui reputação própria independente de seus proprietários. Ex.: Em 1997 o então deputado Eurico Miranda disse que a Parmalat estava manipulando as arbitragens para favorecer o Palmeiras. A Parmalat ingressou com uma ação contra ele e ele teve a cara-de-pau de dizer que como era deputado tinha imunidade de palavras, votos e opiniões. O STF não reconheceu a imunidade, pois entendeu, acertadamente, que ele agiu como dirigente de clube futebol e não como deputado. Isso mostra que a pessoa jurídica é passível de ser sujeito passivo de difamação.
No caso do crime de calúnia ela pode ser sujeito passivo? Ela só pode ser sujeito passivo de calúnia, no caso de crime ambiental.
. Inimputáveis – Inimputável pode ser sujeito passivo dos crimes contra a honra? Para pessoa ser passiva de crime de injúria, a pessoa tem que ter consciência do que pensa sobre si, ainda que a mais rudimentar das idéias, ou seja, ela tem que ter capacidade para entender a ofensa.
Ex.: Se eu chego para um bebê e digo: feioso. Ele vai entender alguma coisa? Não, então crime não há.
Ex.: O cunhado de um professor chama o filho dele de cabeção. Aí ele pede que ele que não fizesse isso, mas o menino estava perto e falou: “chama sim, eu sou cabeção mesmo”. Ele entendeu o que o tio estava fazendo? Não, pelo contrário, ele achava o máximo ser chamado de cabeção. E neste caso nem injúria seria porque havia o animus jocandi.
Ex.: Eu fiz uma viagem em que estava uma menina Síndrome de Down, que era muito bem tratada e com bastante desenvolvimento diante dos tratamentos a que era submetida e do amor que a família dispensava a ela. Dentro de uma loja em Buenos Aires a menina perguntou a vendedora como era determinado produto. A outra vendedora, que era brasileira, disse para a colega: “não responde não, ela é doentinha”. A menina ouviu isso e respondeu: “eu não sou doentinha, eu sou portadora de Síndrome de Down e entendi direitinho o que você falou”. O que é que está caracterizado neste caso? Houve ofensa a honra subjetiva? Houve, pois a menina entendeu.
Por isso quando se fala em crime contra a honra do inimputável é preciso que ele entenda a ofensa.
O inimputável pode ser sujeito passivo do crime de difamação? Pode, porque todo mundo tem honra objetiva.
O menor pode ser sujeito passivo do crime de calúnia? A doutrina diz “depende”. Para ser sujeito passivo do crime de calúnia é porque se está dizendo que este sujeito praticou um crime, então só pode ser sujeito passivo de calúnia quem possa ter praticado um crime.
1ª Corrente - para quem acha que crime é fato típico e antijurídico, o menor pode praticar crime, então pode ser sujeito passivo de calúnia, pois alguém pode ter dito que ele praticou um crime sem que ele o tenha praticado.
2ª Corrente - para quem entende que é fato típico, ilícito e culpável, como o menor nunca pratica fato culpável, o menor não pratica crime, então ele nunca pode ser sujeito passivo do crime de calúnia.
3ª Corrente - Nenhuma das duas correntes está certa, diz Bittencourt, pois essas correntes se fundam em premissa equivocada: que calúnia só pode ser praticada contra quem puder praticar um crime, pois calúnia é uma falsa imputação de um crime a alguém.  Só que a calúnia não é a falsa imputação de um crime a alguém. A calúnia é a imputação falsa da prática de um fato que a lei define como crime. Sendo assim, não importa se você acha que crime é fato típico e antijurídico ou se você entende que crime é fato típico, ilícito e culpável. Sabe por quê? Porque o menor sempre pode praticar um fato que a lei define como crime. O menor não pode matar, roubar, furtar? Pode. Então ele pode praticar um fato definido como crime, independente de você entender que é crime ou não. Por isso que o menor pode ser sujeito passivo de calúnia, uma vez que ele pode praticar uma imputação falsa a prática de um fato que a lei define como crime.
Diferença entre calúnia, difamação e injúria
Qual é a diferença que existe entre os três crimes, além da questão do bem jurídico tutelado?
Vimos que na calúnia há a falsa imputação de um fato definido como criminoso. A calúnia, para existir, é preciso que a imputação seja falsa e que o fato que você impute seja definido como crime. Na calúnia tem que haver a mácula dahonra objetiva.
A imputação não tem que ser falsa e o fato que se atribui não é crime, diferentemente da calúnia em que a imputação tem que ser falsa e tem que ser uma imputação de um fato que a lei defina como crime. Na difamação a imputação do fato não importa se é falsa ou verdadeira, e o fato não pode ser criminoso, porque se for criminoso cai na calúnia.
Mas tanto a calúnia quanto a difamação, além de terem em comum a ofensa a honra objetiva, elas importam a imputação de um fato. Ex.: Plínio é ladrão. É crime de calúnia? Não, porque eu não estou imputando um fato. Mas se eu disser que o Plínio subtraiu as galinhas do seu Manoel, eu estou imputando um fato. Ex.: Fulana é a maior periguete. Isso é difamação? Não, porque isso não é fato, isso é adjetivo.
Já na injúria pode haver a imputação de uma mera qualidade ou de uma mera ausência de qualidade. Ex.: Você é ladrão. Isso é injúria. Você é safado. Isso é injúria.
Questão de prova para o MP. Uma funcionária de uma fábrica chega para a outra em um canto, sem ninguém perto, e diz: você é safada, eu estou sabendo que foi você quem subtraiu os bens do almoxarifado. Ela sabia que isso não era verdade, que a outra não tinha furtado nada. Que crime ela praticou? É injúria. Mas por que não é calúnia? Porque para ser calúnia tem que haver a mácula da honra objetiva. Ela não queria macular a honra objetiva da outra, porque se ela quisesse, ela teria dito “tá vendo essa aqui? Foi ela que levou os bens do almoxarifado”. 
Data a máxima vênia, o que a imprensa mais faz é macular a honra das pessoas. Ex.: o repórter escreve assim: “Suzana Vieira, no papel de atual, está tendo o pior desempenho de sua carreira”. Outro repórter escreve: “Suzana Vieira não vem conseguindo imprimir à sua personagem a característica desejada pelo autor, razão pela qual vem havendo conflitos internos...”. Isso é crítica televisiva e não caracteriza crime de imprensa, por mais que a Suzana Vieira fique aborrecida com isso. Mas se eu vou pra TV e digo: “Suzana Vieira em uma festividade carnavalesca no RJ: olha que ridículo o cabelo dela!!!” este último é crime contra a honra. O que os repórteres podem fazer é falar do desempenho das atrizes e dos atores, mas não pode ficar dizendo que são antipáticas, etc. O Pânico na TV não pode ser acusado de crime porque eles tem o animus jocandi. “calça as sandálias da humildade, Luana!!!”. Mas nas revistas de fofoca tem muito crime contra a honra. A Luana Piovanni ganhou uma indenização do Pânico na TV, mas foi na esfera cível.
A injúria pode ser qualificada por ter conotação racista, é a injúria do § 3º do art. 140 do CP. Não confundir este tipo de injúria com racismo.
Art. 140 § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Lembram do caso do jogador Grafite do SP? O jogador argentino o chamou de “macaquito”. Isso é crime contra a honra do Grafite e é crime do § 3º do art. 140 do CP, porque se refere ao elemento relacionado a cor. Muita gente questionou porque o argentino saiu da prisão pagando fiança, já que o racismo é inafiançável. Mas aquilo não é racismo. Não confundam o crime de injúria de conotação racista com o crime de racismo.
Importante: quando falamos de racismo não estamos falando só da cor. Pode ser cor, religião, etnia, procedência nacional. Por exemplo, se eu me referir a aspectos religiosos, isto é racismo também.
Qual a diferença do crime de racismo e entre o crime de injúria de conotação racista?
Se eu falo assim: “nesta escola, não estudam judeus”; “neste clube não entram negros”; “nesta praça não entram muçulmanos”; “americanos aqui não!”. Isso é crime de racismo, Lei 7.716/89. Para ser considerado crime de racismo, que é inafiançável e imprescritível, tem que se subsumir a qualquer das descrições da Lei 7.716/89.
Ex.: “Aqui não entram macumbeiros”. Mas se eu olho pra pessoa e digo: macumbeira sem-vergonha. Que crime é esse? Injúria, com conotação racista.
Por exemplo, se você diz “sua negrinha safada nesta casa você não entra” é injúria com conotação racista, uma vez que você se refere a uma pessoa e não aos negros em geral. Mas se você disser: “neste clube não entram negros”, isso é racismo.
Que crime estaria praticando a pessoa que chuta macumba? É crime do art. 208 do CP, não é racismo e nem injúria com conotação racista.
Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Se tiver uma freira passando pela rua com aquele chapéu que parece uma asa e o cara diz: “aí, freirinha, vai voar, hein?!” que crime é esse? É injúria com conotação racista por causa da religião, é racismo ou é o crime do art. 208? É o crime do art. 208. O cara que chutou a santa respondeu por este artigo.
A objetividade jurídica é distinta, o que se quer no art. 208 é escarnecer da religião da pessoa, não é ofender a honra dela.
Sabem aqueles evangélicos que ficam pregando na rua? Quando passa alguém e fica debochando deles (e isso acontece muito), “aí, otário, maior calor”, isso é contra o sentimento religioso dele, não é ofensa a honra dele.
Até o Zeca Pagodinho canta uma música que se refere ao Delegado Chico Palha, que não prendia, só batia naqueles que faziam macumba. Ele era muito arbitrário, entrava nos terreiros de santo e chutava tudo, acabava com a macumba.  Que crime cometia o Chico Palha? Não é o crime do art. 208, é abuso de autoridade, Lei 4.898/65, art. 3º. Ele cometeu abuso de autoridade, porque usava a autoridade dele para impedir que as pessoas professassem a fé delas.
            Art. 3º da Lei 4898/65 -  Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
            d) à liberdade de consciência e de crença;
            e) ao livre exercício do culto religioso;
Por exemplo, praticaria crime de racismo uma autoridade que impedisse a prática de determinados rituais religiosos? Sim, praticaria o abuso de autoridade.
Teve inclusive um julgado recente do STF que fazia a diferença entre a injúria com conotação racista e o racismo mesmo.
A lei do racismo, Lei 7.716/89, define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. É racismo impedir o ingresso em locais públicos, criar dificuldade para casamento, etc. Nesta lei tem algum artigo que mencione criar impedimento para a prática de cultos religiosos? Não. Isso vai para Lei de abuso de autoridade, Lei 4.898/65, art. 3º, no caso de a autoridade vedar a prática de cultos religiosos.
Ação penal nos crimes contra honra
A regra insculpida no art. 145 caput CP é que é ação penal privada, só se procede mediante queixa. Entretanto, no caso de injúria qualificada (art. 140, § 2º), o próprio artigo diz que é ação penal pública incondicionada. Isso porque quando o código foi feito, a lesão corporal era sempre de ação penal pública incondicionada. Em 1995, com a Lei 9.099, a lesão corporal de natureza leve passou a ser de ação penal pública condicionada a representação (art. 88 da Lei 9.099/95). Por isso hoje esse dispositivo tem que ser lido à luz das informações trazidas por artigos posteriores. E se olharmos as alterações trazidas por leis posteriores, o crime de injúria real, quando dela resultar lesão corporal de natureza leve, não pode ser de ação penal privada, é de ação penal pública condicionada à representação.
Resumindo: se do crime de injúria real resultar lesão corporal de natureza leve é ação penal pública condicionada a representação, mas se resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima é ação penal pública incondicionada.
E se for injúria real praticada por vias de fato, qual é a ação penal? Ação penal privada, pois a única exceção é a da injúria qualificada (art. 140, § 2º).
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º (ínjúria qualificada), da violênciaresulta lesão corporal.
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Problemático é o parágrafo único do art. 145.
Art. 145 parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.º I do art. 141, e mediante representação do ofendido, no caso do n.º II do mesmo artigo.
Diz a regra deste parágrafo que nos casos de crime contra honra do Presidente da República a ação penal é condicionada a requisição do Ministro da Justiça.
E em se tratando de crime contra honra do funcionário público em geral no exercício das suas funções, diz a lei que a ação penal é pública condicionada a representação. Mas temos um problema em relação a isso. Muitas vezes um funcionário público se julga vítima de um crime contra a honra e assim ele representa ao MP, só que nas ações penais de natureza pública, a opinio delict é ministerial. Por mais que você se julgue ofendido, se o MP entender que não houve crime, ele promove o arquivamento. Isso gerava muita revolta, pois se o funcionário fosse o ofendido na qualidade de particular, a ação era dele, dependia da vontade dele, mas sendo ele o ofendido na qualidade de funcionário público, ele ficava a mercê da vontade do MP. Por isso criou-se o entendimento que vem estampado na Súmula 714 do STF. Súmula essa totalmente contra legen, em total desconformidade legal. Mas ela está aí e deve ser obedecida, pois foi feita de acordo com a jurisprudência do STF.
Súmula 714 STF - É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO, CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR CRIME CONTRA A HONRA DE SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.
Ou seja, criou-se a esdrúxula figura da ação penal que ao mesmo tempo é pública e privada. Logo, ainda que o MP entenda que não houve crime, o particular pode deflagrar a ação penal pelo crime contra honra.

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