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A Construção da Identidade em Ambientes Virtuais

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MARINA VIEGAS SATHLER PAVÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM AMBIENTES DIGITAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2011 
 
 
MARINA VIEGAS SATHLER PAVÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM AMBIENTES DIGITAIS: 
Uma análise da Esquizofrenia Digital no Twitter 
 
Monografia apresentada ao Departamento de 
Relações Públicas, Propaganda e Turismo da 
Escola de Comunicação e Artes da Universidade 
de São Paulo, em cumprimento às exigências do 
Curso de Pós Graduação Latu Sensu, para 
obtenção do título de Especialista em Gestão 
Integrada da Comunicação Digital para Ambientes 
Corporativos. 
Orientador: Profª. Drª. Elizabeth Saad Corrêa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio incondicional. 
 
E aos #digicopos, pelo suporte acadêmico, técnico, emocional e emocionante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não sois máquinas! Homens é que sois! 
Charles Chaplin 
 
 
RESUMO 
 
SATHLER, M. V. P. A construção da identidade em ambientes digitais: Uma 
análise da Esquizofrenia Digital no Twitter 2011. 63 f. Monografia – Escola de 
Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. 
 
O presente estudo aborda a identidade conforme concebida pelos estudiosos 
Bauman (2001) e Castells (2008). A partir do conceito de pós-modernidade proposto 
por Bauman e do recorte investigativo em elementos da teoria da Esquizofrenia 
Digital analisamos manifestações da identidade na ferramenta de microbloging 
Twitter. Partindo de critérios estabelecidos por meio de elementos da fragmentação de 
identidade e de traços de Esquizofrenia Digital foram selecionados seis perfis cujos 
conteúdos foram analisados e categorizados em quatro grupos: Fragmentação, 
Linguagem, Interação e Publicidade. Conforme os subitens de cada categoria foram 
realçados os comportamentos dos analisados, o que resultou em uma escala dos tipos 
de Esquizofrenia Digital, com a descrição das caraterísticas principais de cada tipo 
proposto. Assim, concluímos que a identidade também se modifica por meio dos usos 
que são feitos das ferramentas de interação digitais e que a Teoria da Esquizofrenia 
Digital, portanto, está diretamente relacionada com a manifestação e a construção da 
identidade no tempo pós-moderno, o que é uma forma de entender também o 
momento que vivemos. 
 
 
Palavras-chave: pós-modernidade, identidade, esquizofrenia digital 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
SATHLER, M. V. P. The identity construction in digital environments: a digital 
schizophrenia analysis on Twitter. 2011. 63 f. Monografia – Escola de 
Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. 
 
This study focuses on identity as conceived by the authors Bauman (2001) and 
Castells (2008). From the concept of post-modernity proposed by Bauman and the 
investigative approach on elements of the theory of Digital schizophrenia we analyze 
manifestations of identity in the microbloging tool Twitter. Based on criteria 
established by elements of identity fragmentation and symptoms of Digital 
Schizophrenia we selected six profiles whose contents were analyzed and categorized 
in four groups: Fragmentation, Language, Interaction and Advertising. The sub-items 
in each category were highlighted according to the subjects‟ behavior, which resulted 
in a range of types of Digital Schizophrenia, with description to the main elements of 
each type proposed. Thus, we conclude that the identity also changes through the uses 
that people do of digital and interactive tools and also, that the Theory of Digital 
Schizophrenia, therefore, is directly related to the identity construction and its 
appearance in the post-modernity, which is also a way to understand the ages we live 
today. 
 
Palavras-chave: post-modernity, identity, digital schizophrenia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 
 
2. IDENTIDADE NA PÓS-MODERNIDADE ........................................................... 11 
 
3. MULTIPLICIDADE DIGITAL .............................................................................. 15 
 
4. ESQUIZOFRENIA DIGITAL ................................................................................. 20 
 
5. METODOLOGIA DE PESQUISA ......................................................................... 24 
5.1 Método e Abordagem ..................................................................................... 24 
5.2 Ambiente de Estudo ........................................................................................ 25 
5.3 Perfis selecionados .......................................................................................... 27 
 
6. ESQUIZOFRENIA DIGITAL NO TWITTER ....................................................... 29 
6.1 Descrição dos Perfis ........................................................................................ 29 
6.2 Aspectos da Análise ........................................................................................ 35 
6.3 Interpretação dos aspectos de análise ............................................................. 40 
6.3.1 Fragmentação ................................................................................... 40 
6.3.2 Linguagem ....................................................................................... 46 
6.3.3 Interação ........................................................................................... 53 
6.3.4 Propaganda ....................................................................................... 54 
 
7. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 58 
 
8. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 61 
 
9. ANEXOS .................................................................................................................... 63 
 
8 
 
Introdução 
 
O presente estudo tem como objetivo investigar as formas de construção da identidade 
em ambientes digitais, por meio de um recorte de perfis da ferramenta de microblogging 
Twitter, que apresentam traços de esquizofrenia digital. 
A esquizofrenia digital é um termo inspirado na medicina para representar uma forma 
de fragmentação de identidade que as pessoas apresentam em ambientes digitais. Não se 
refere somente ao fato de uma mesma pessoa utilizar diversos perfis em ferramentas distintas 
ou utilizar algumas ferramentas para determinados fins – como o trabalho, enquanto utiliza 
outra para fins de lazer, por exemplo. A esquizofrenia digital está mais relacionada à 
construção de um simulacro do “eu” e dos significadosque o indivíduo deseja atribuir ao 
perfil do que necessariamente ao uso que é feito da ferramenta. Esse recorte de estudo, é, 
portanto, uma das formas de se analisar como a identidade se constrói e se manifesta nos dias 
de hoje. 
Os estudiosos da pós-modernidade
1
, como Zygmunt Bauman, Manuel Castells e Stuart 
Hall concordam que a identidade se tornou um dos temas centrais na 
pós-modernidade, principalmente porque as mudanças sociais, políticas e econômicas que o 
advento da internet proporcionou em nossa era foram impactantes o bastante para alterar, não 
somente o cotidiano das pessoas através da tecnologia, mas também para transformar os 
 
1
 Não há até o momento presente um consenso sobre a definição e o período que a pós-modernidade se refere. 
Alguns autores consideram que o período está mais relacionado com a mudança da estética na arte enquanto 
outros consideram que a mudança do período moderno para o pós-moderno está mais relacionada com as esferas 
sociais e políticas. Neste estudo o termo pós-moderno será utilizado em referência ao conceito empregado por 
Bauman (2001), que o utiliza para representar o período cujo as mudanças observadas no presente são relevantes 
o suficiente a ponto de transformar os modos que a sociedade se relaciona com elementos do passado, no sentido 
que os comportamentos humanos são modificados a partir da interação da sociedade com elementos novos, por 
exemplo, a Internet e as novas Tecnologias de Interação e Comunicação - as TICs. Bauman não delimita o tempo 
da pós-modernidade, mas utiliza o termo para referir-se ao período de mudanças e transformações constantes, 
que são possibilitados e potencializados pelas TICs. 
9 
 
modos de interação e a própria noção de identidade em praticamente todos os povos e em 
todas as partes do globo. 
Bauman (2001) defende que o momento em que vivemos – a pós-modernidade - é de 
liquidez. O autor nomeia a pós-modernidade em seus estudos de Modernidade Líquida, como 
uma maneira de mostrar que esta era se caracteriza pela possibilidade de constante mudança, 
em contraponto aos períodos anteriores, o período sólido, em que as instituições de poder 
controlavam mais fortemente determinados setores da vida pública e privada, inclusive a 
identidade. Retrocedendo alguns séculos, podemos rapidamente estabelecer um paralelo de 
oposição entre a era atual com a Idade Média, em que a igreja controlava todos os setores, 
incluindo a vida privada, os lucros, a divisão do trabalho e a identidade que as pessoas 
deveriam exercer durante a vida – em devoção a Deus e ao trabalho. Hoje vivemos um 
momento em que as instituições já não possuem uma atuação centralizadora e controladora. 
Também observamos que através da internet e do que Castells (2010) chama de sociedade em 
rede, o que existe na verdade é uma descentralização do poder: através das redes podemos 
identificar diversos centros de poder onde as pessoas se agrupam, por interesse ou por 
qualquer outro motivo. Também vivemos um momento em que a Indústria de Massa está se 
reinventando, exatamente porque o modelo de centralização unificada não tem funcionado 
como antes. 
A Modernidade Líquida, portanto, trouxe consigo uma série de mudanças que estão 
em curso e continuam se modificando enquanto acontecem. Neste momento é que o estudo da 
identidade se torna relevante, para que possamos compreender de que maneira este ambiente 
novo tem afetado as relações pessoais e empresariais, e vice versa, como as práticas de 
comunicação podem e devem se reinventar com base nestas transformações. Hobsbawm 
(apud Bauman, 2001) comenta: “Exatamente quando a comunidade entra em colapso, 
inventa-se a identidade.” Bauman (op.cit) também defende que a identidade é líquida, e não 
10 
 
pode ser definida em um conceito delimitador. A identidade é algo que existe há muito tempo 
entre os homens, e que ao longo dos anos, foi adquirindo novos sentidos, novos significados, 
acompanhando as transformações históricas pelas quais a sociedade passou. 
A Modernidade Líquida é, portanto, o momento em que mais experimentamos 
identidades líquidas, uma vez que as mudanças acontecem rapidamente. Este ambiente de 
constante alteração tem trazido aos indivíduos um estado contínuo de ansiedade: “Estar 
inacabado, incompleto e subdeterminado é um estado cheio de riscos e ansiedade, mas seu 
contrário também não traz um prazer pleno, pois fecha antecipadamente o que a liberdade 
precisa manter aberto.” (BAUMAN, 2001, p.74). Trata-se, portanto, do momento em que os 
indivíduos experimentam uma grande liberdade de expressão, e estão munidos de tecnologia 
que lhes permite acesso rápido e praticamente constante a ferramentas que possibilitam 
expressar-se de maneiras infinitas – com textos, fotos, vídeos, voz, etc. - entre as mais 
diversas formas de arte e cultura. 
Para efetivar o estudo desta proliferação de identidades utilizaremos o método da 
Teoria Fundada, conforme proposto por Fragoso, Recuero e Amaral (2011) em uma análise de 
conteúdo de perfis selecionados no Twitter. O objetivo do estudo será identificar categorias de 
construção da identidade em ambientes digitais que possibilitem uma tipificação de graus de 
esquizofrenia digital, através dos elementos extraídos dos conteúdos publicados pelos autores 
dos perfis. 
 
 
11 
 
2. Identidade na Pós-Modernidade 
 
As transformações sociais, culturais, políticas e econômicas que o advento da internet 
operou em nossa sociedade são notáveis. Ao mesmo tempo em que vivenciamos estas 
transformações também passamos por um momento no qual as instituições de poder que 
serviram de base para a estrutura da sociedade ao longo da História estão sofrendo um 
processo de total ressignificação. Novos mecanismos e modelos de poder e influência surgem, 
através da rede ou suportados pela rede, de modo que, este conglomerado de acontecimentos 
culminam em uma crise generalizada. Stuart Hall defende: 
Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades 
modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens 
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no 
passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. 
(HALL, 2006, p. 9) 
Essa fragmentação citada por Hall como parte do resultado da crise que vivemos tem 
implicações diretas na definição pós-moderna da identidade. Se tomarmos a narrativa de 
Bauman sobre a variação histórica da identidade será possível vislumbrar como a 
fragmentação faz parte de seu conceito. Para o autor, a identidade não existia como um 
conceito em si e somente passou a existir dado o momento em que a noção de pertencimento 
começou a habitar o pensamento coletivo. Pertencer e ser tornaram-se temas necessários e 
relevantes. Bauman explica que essa necessidade de identificar-se surgiu no período entre 
guerras, quando as pessoas foram obrigadas a sair de suas terras “originais”, passando a 
habitar lugares diferentes e se estabelecendo em novos territórios. Antes disso, as pessoas 
simplesmente nasciam, viviam e morriam no mesmo lugar, sem necessidade de questionar 
suas origens. Depois, com as mudanças que as Grandes Guerras trouxeram, a nação e a língua 
passaram a ser os conceitos relacionados à identidade – de onde eu vim e o que eu sou 
estavam relacionados ao lugar ao qual se pertence. A identidade, portanto, neste momento 
histórico, estava diretamente relacionada aos fatores humanos como língua e região, e se 
12 
 
remetia a um conceito fixo e final, ao qual Bauman se refere como identidade sólida. Com o 
tempo, neste conceito fixo de identidade foram agregados novas formasde poder e controle, 
exercidas pelas instituições – igreja, governo, escola, economia, modos de produção, modos 
de consumo etc. Tempos depois, mais uma vez, a noção de identidade se transformou, 
passando a designar diretamente o papel exercido na sociedade, ou seja, o trabalho. Bauman 
explica: 
Houve um tempo que a identidade humana de uma pessoa era determinada 
fundamentalmente pelo papel produtivo desempenhado na divisão social do 
trabalho, quando o Estado garantia (se não na prática, ao menos nas 
intenções e promessas) a solidez e a durabilidade desse papel... (BAUMAN, 
2005, p. 51) 
Novamente, com o passar do tempo, esta abordagem deixou de englobar os conceitos 
que definiam a identidade humana. O momento que estamos agora é justamente o de percorrer 
os novos caminhos que determinam o que as pessoas entendem por identidade. A era da 
Modernidade Líquida trouxe à tona diversas situações que colocam em xeque as definições 
que, até então, pareciam remeter a uma ideia unificada de identidade. A fragmentação, como 
uma realidade presente em nosso dia-a-dia, é uma forma de entender a liquidez que Bauman 
defende. Para o autor, a possibilidade de uma noção unificada e sólida de identidade nos dias 
atuais é nula: 
As identidades parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de relance, de 
fora. A eventual solidez que podem ter quando contempladas de dentro da 
própria experiência bibliográfica parece frágil, vulnerável e constantemente 
dilacerada por forças que expõem sua fluidez e por contracorrentes que 
ameaçam fazê-la em pedaços e desmanchar qualquer forma que possa ter 
adquirido.” (BAUMAN, 2001, p. 98) 
Deste modo, o espaço que vivemos adquire uma função fundamental sobre o que 
entendemos por identidade hoje, uma vez que não há mais um símbolo ou tampouco uma 
determinação ideológica detentora da identidade. O período que vivemos se caracteriza 
pela mudança constante e veloz dos valores da sociedade, o que generaliza a sensação de 
fragmentação neste período que Bauman denomina “nova ordem”. As formas com que 
13 
 
esta nova ordem afeta os indivíduos são muitas, inclusive através da produção e distribuição 
da cultura, o que também está refletido na atuação da mídia. A mídia se tornou cada vez mais 
presente na vida das pessoas e sua atuação se propaga de forma exponencial, através da 
tecnologia e das novas mídias. Mark Deuze, Peter Blank e Laura Speers comentam: 
No momento em que a mídia se torna invisível, nosso senso de identidade e 
mesmo nossa experiência da própria realidade se tornam irreversivelmente 
modificados, no sentido de que toda a nossa identidade não é centrada e 
racional, mas subvertida e dispersada através do espaço social (DEUZE; 
BLANK; SPEERS. 2010 p. 142) 
Sendo assim, as diversas possibilidades de interação que obtemos hoje através das 
plataformas digitais elevam a potência das nossas formas de expressão, e possibilitam um 
espaço social sem fronteiras. Com das novas tecnologias experimentamos uma nova ordem 
social, com barreiras geográficas reduzidas e uma possibilidade de liberdade de expressão 
individual e coletiva que ainda não havia sido experimentada. Neste sentido, o que 
percebemos é que aquilo que sabemos de nós mesmos, e que percebemos de nós mesmos, está 
agora mais visível, mais exposto por todos e para todos e, ao mesmo tempo, se transformando 
muito rapidamente. A fluidez que percebemos no dia a dia, a velocidade com que as 
transformações afetam nosso ambiente e a fragmentação que está presente em praticamente 
todas as áreas nos levam a questionar constantemente Quem sou eu? Isto é, as convicções 
pessoais também se tornaram líquidas, em contraponto à identidade sólida comentada por 
Bauman. 
Assim sendo, a definição de identidade nos dias de hoje não é algo fixo. Assim como 
os valores, a identidade é algo volátil, que está em constante transformação, como um reflexo 
do que vivenciamos através das novas tecnologias e da mídia digital. Quando afirmamos que 
a tecnologia possibilitou novas formas de interação midiática, é importante frisar também que 
as pessoas passaram a lidar com a cultura e a mídia de novas maneiras, incorporando este 
elemento em suas vidas. MARTINO comenta: 
14 
 
O que vemos hoje é uma diluição das fronteiras entre os dois: é cada vez 
mais fácil para as pessoas deixarem de ser ordinary people e se tornarem 
media people, sobretudo quando se pensa nas ferramentas de produção 
caseira de imagens prontas para serem distribuídas na internet. (MARTINO, 
2010, p. 192) 
As novas tecnologias e a mídia digital, portanto, possibilitam ao indivíduo uma nova 
posição na sociedade – ele deixa de ser um receptáculo de informações emitidas pelas mídias 
de massa (TV, por exemplo) e adquire também um papel atuante, uma voz e uma nova 
percepção de si mesmo através desta nova ordem. Sua capacidade de expressar-se adquire um 
novo patamar, suas possibilidades são diversas, atribuindo ao indivíduo novas possibilidades 
de atuação na sociedade. 
 
 
15 
 
3. Multiplicidade Digital 
 
A fragmentação é algo que está presente em nossas vidas no dia a dia e está fortemente 
relacionada ao uso das tecnologias. Temos em mãos o poder de agilizar ou postergar nossas 
atividades, além de convergir informações e diversos tipos de dados em um único aparelho. A 
vida se tornou mais rápida e multitarefada ao mesmo tempo em que o mundo está colhendo os 
frutos do processo de globalização que se iniciou anos atrás. As cidades estão cada vez 
maiores e com mais pessoas enquanto o campo está cada vez mais restrito. Esse fenômeno 
desencadeia uma série de eventos, como por exemplo, a homogeneização cultural, comentada 
por Stuart Hall (2005, p.76). A homogeneização cultural é responsável pela existência da 
cultura universal: uma cultura abrangente e sem local específico, que pode ser vivenciada em 
qualquer lugar do globo, independente de sua origem. Esta homogeneização se torna mais 
potente através da tecnologia, que vem possibilitando acesso para cada vez mais pessoas, de 
forma que a cultura universal receberá novos elementos e se difundirá gradativamente. 
Da mesma maneira que a globalização vem acontecendo ao longo dos anos e vem 
transformando o mundo em uma aldeia global, há também a cultura da convergência, que é 
algo que já estamos vivenciando, mesmo que o acesso à internet ainda seja restrito a uma 
parte da população mundial. Jenkins argumenta: 
A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda 
larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos 
aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura de 
convergência. (JENKINS, 2009, p. 43). 
De acordo com a visão de Jenkins, a convergência é algo que já está alterando 
profundamente todos os setores da sociedade, desde a produção da cultura até o 
comportamento das pessoas. Não há, de momento, um controle individual do uso das redes. 
As legislações digitais e os códigos de boas práticas e conduta estão em construção, o que 
determina ao usuário total responsabilidade pelo uso que faz das ferramentas. A convergência 
16 
 
mencionada por Jenkins é responsável também pela liberdade proporcionada ao indivíduo de 
se manifestar e se relacionar. É notável que a tecnologia facilitou nossas vidas em 
determinados aspectos e está incorporada em nosso dia a dia, além de estar incorporada em 
nossa cultura. Castells argumenta: 
É claro que a tecnologia não determina a sociedade. (...) Na verdade, o 
dilema do determinismo tecnológico é, provavelmente, um problema 
infundado, dado que a tecnologia é a sociedade, a sociedade não pode ser 
entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas. (CASTELLS,2010, p. 43) 
Portanto, o que se destaca neste momento não são as tecnologias que estão em uso, 
mas sim a forma como são utilizadas pelas pessoas e o que seu uso proporciona a elas. Se a 
identidade é “uma fonte de significados e experiência de um povo” (CASTELLS, 2008, p. 
22), então sua presença será percebida nas redes. Da mesma forma, as manifestações 
individuais revelarão elementos da identidade individual. 
Bauman (2001) defende que as pessoas tentam fazer de suas vidas uma obra de arte, 
através da contínua tentativa de unificar a identidade. Entretanto, a dificuldade que se 
encontra em realizar esta tarefa no mundo pós-moderno é tremenda, com a fragmentação e a 
fluidez que vivenciamos a cada dia. O exercício de tornar a identidade algo sólido, em 
contraponto à liquidez da modernidade, é algo que traz consequências emocionais: ansiedade, 
agonia, hesitação, angústia, impaciência entre outras emoções que são resultados deste 
constante processo de convivência com a fragmentação e tentativa de “dar forma ao disforme” 
(op.cit). E além da questão emocional, o ambiente digital também influencia a formação da 
identidade. Diversos “locais” estão disponíveis para serem “habitados” pelas pessoas, 
proporcionando uma liberdade de presença que ainda não havia sido experimentada. A 
separação entre real e virtual é algo que deixa de existir enquanto falamos, uma vez que a 
cultura de convergência possibilita uma interação contínua entre os dois momentos. A 
separação, portanto, não existe, pois o que acontece no ambiente virtual é uma extensão do 
que acontece no ambiente real. Temos, portanto, uma convergência de espaços que possibilita 
17 
 
às pessoas extensões de suas identidades, que antes estavam restritas aos papéis sociais – ser 
um estudante, um filho e um jogador de futebol ao mesmo tempo, por exemplo. Da mesma 
maneira, possuir diversas contas de email, Twitter ou Facebook, por exemplo, são formas de 
se fazer presente em diversos espaços ao mesmo tempo e são novas maneiras de exercer 
papéis sociais. Portanto, manter diversos perfis em redes sociais, para finalidades distintas ou 
com personalidades distintas não é necessariamente um problema nos dias de hoje, são novas 
possibilidades de manifestação da identidade e de interação: 
“Chegou a vez da liquefação dos padrões de dependência e interação. Eles 
são agora maleáveis a um ponto que as gerações passadas não 
experimentaram e nem poderiam imaginar; mas, como todos os fluidos, eles 
não mantêm a forma por muito tempo.” (BAUMAN, 2001, p. 14) 
As pessoas se tornaram ávidas por estarem conectadas e cientes dos acontecimentos do 
mundo a maior parte do tempo, e o importante papel que o consumo da tecnologia vem 
exercendo em nossas vidas é um exemplo de como a sua presença é relevante: 
Como diz Christopher Lasch: “A vida moderna é tão completamente 
mediada por imagens eletrônicas que não podemos deixar de responder aos 
outros como se suas ações – e as nossas – estivessem sendo gravadas e 
transmitidas simultaneamente para uma audiência escondida, ou guardada 
para serem assistidas mais tarde” (apud Bauman, 2001, p. 99) 
O ser humano, como um ser social, quer se comunicar e se expressar. O fato de a 
tecnologia proporcionar um ambiente e um aparelho para potencializar este desejo, faz 
aumentar as oportunidades e possibilita a exposição de uma vida pública que é criada pelo 
próprio indivíduo. Ou seja, o ambiente digital possibilita que o indivíduo manifeste sua 
identidade da forma a ser mais conveniente. 
Existem pessoas que preferem diferenciar o perfil profissional e o particular, criando 
dois perfis na mesma rede, ou utilizando redes distintas para cada fim. Mesmo que já existam 
redes específicas para conexões de trabalho, como o LinkedIn, as pessoas fazem uso das 
ferramentas da maneira que lhes pareça mais confortável, e não existem regras. A duplicidade 
de perfis ou a criação de perfis que simulam personalidades distintas é algo comum na 
18 
 
internet desde o tempo em que as salas de bate-papo começaram a se propagar. O ambiente 
digital é propício à simulação, uma vez que está mediado por um equipamento. Algumas 
ferramentas de interação restringem o cadastro ao registro de documentos, a fim de evitar a 
duplicidade de perfis, porém este controle não impede que sejam criados perfis fake
2
. Os 
perfis fake são perfis de pessoas que não revelam sua verdadeira identidade, ou que revelam 
partes dela, e se utilizam de características genéricas ou de outras pessoas. Os perfis fake 
podem ser usados para fins de pirataria, crimes e spams e, nestes casos, observamos que a 
legislação de crimes online ainda está em construção, mas intervém quando acionada. Podem 
ser usados também, e neste sentido que nos interessa neste estudo, para representar 
identidades alternativas, ocultas, disfarçadas ou até mesmo inventadas, que podem ser 
identidades engraçadas ou depressivas, caricatas ou que apenas revelam características 
pessoais de forma anônima. Os motivos que levam uma pessoa a criar um perfil fake são 
diversos, mas o que se observa é que estes perfis são carregados de uma linguagem e uma 
manifestação específicos ao contexto em que se inserem, e que, portanto, fazem sentido 
naquele contexto. A comunidade que participa da rede desses perfis é também coadjuvante 
desse contexto, onde se cria uma cultura comum de aceitação do perfil fake. Também se 
observa que a identidade pessoal ou coletiva se faz presente nesses perfis, através da 
linguagem, da manifestação de opiniões e emoções etc. 
A manifestação da identidade através do perfil fake é uma representação da 
fragmentação que se vive na pós-modernidade. O fake é a manifestação de uma identidade 
que se descolou do todo, em um indivíduo ou comunidade, que luta por manter suas 
identidades estruturadas em uma só. Contudo, a cisão desta identidade é inevitável, pois como 
vimos, a identidade é flutuante. Bauman argumenta: 
 
2
 Fake, do inglês: falso, falsificado, cópia, falsificação, disfarçado. É um termo utilizado para se referir a perfis 
falsos em sites de relacionamento ou interação na Internet. De uma forma mais abrangente, também se refere a 
perfis em que não se pode identificar a verdadeira identidade do autor ou autora. 
19 
 
“Estar inacabado, incompleto e subdeterminado é um estado cheio de riscos 
e ansiedade, mas seu contrário também não traz um prazer pleno, pois fecha 
antecipadamente o que a liberdade precisa manter em aberto. (BAUMAN, 
2001, p. 74) 
A ansiedade de unificar aspectos de uma identidade fragmentada acompanha, portanto, 
a sociedade pós-moderna. Neste sentido é que vivemos uma multiplicidade digital, através da 
cultura da convergência e das diversas formas de manifestação em ambientes digitais, que nos 
permitem a exposição de fragmentos de nossa identidade, que se tornam também nossa vida 
pública. É, portanto, uma forma de vida que experimentamos nos dias de hoje, e que afeta 
diretamente a formação e reformação da identidade. 
A fragmentação que se faz presente em diversos aspectos da nossa vida e que também 
se replica nos ambientes digitais é um aspecto do comportamento humano que pode ser 
identificado através das manifestações individuais e coletivas em ambientes digitais. A esta 
manifestação de fragmentos de identidade está associada à esquizofrenia digital, que não se 
trata de uma doença clínica replicada aos ambientes digitais, mas do resultado de um processo 
de transformação que a pós-modernidade trouxe consigo, que vem causando alterações na 
subjetividade e nas formas de interação das pessoas, modificando, portanto, a formação da 
identidade individual e coletiva através das redes.Este estudo está relacionado às formas de manifestação da esquizofrenia digital 
em ambientes digitais como uma possível maneira de obter uma visão parcial de como a 
identidade tem se manifestado em ambientes digitais nos dias de hoje. 
 
 
20 
 
4. Esquizofrenia Digital 
 
A esquizofrenia é uma doença do grupo das psicoses, que causa desde alucinações, 
distúrbios da personalidade e alterações na formação do raciocínio lógico até a desenvoltura 
da linguagem. A sua causa ainda não está identificada pela medicina, mas, para alguns casos, 
existem tratamentos que podem proporcionar aos pacientes uma vida em sociedade, através 
do controle dos efeitos da doença. Os médicos indicam que as áreas que são mais comumente 
afetadas na vida dos esquizofrênicos são a cognitiva, sensoperceptivas e afetivas 
(COSTA;CALAIS, 2010, p. 3), e que levam o paciente a uma percepção fragmentada de si 
mesmo. Ou seja, o indivíduo possui dificuldade em processar uma síntese do eu 
(GENEROSO, 2008, p. 3), e esta dificuldade pode se manifestar de formas físicas, por 
exemplo, na fala. 
De acordo com STERIAN (2001), a etimologia da palavra é “composta de dois termos 
de origem grega: „skhizein‟, que significa fender, rasgar, dividir, separar e „phrên‟, „phrênos‟, 
que quer dizer pensamento.” O termo esquizofrenia foi registrado pela primeira vez em 1906, 
mas a compreensão atual da doença se formou na modernidade, com a influência dos estudos 
de Freud sobre o inconsciente. 
É importante ressaltar que ao longo da história da humanidade os tratamentos 
dispensados aos doentes foram diversos. Foucault escreveu sobre a História da loucura e o 
desenvolvimento deste conceito até a idade moderna. Em História da Loucura na Idade 
Clássica, o autor relata as diversas formas que a loucura foi entendida ao longo dos séculos, 
mostrando que o conceito moderno da loucura contém em si as descobertas modernas da 
medicina, e que conforme ocorreram foram atribuindo novos significados à loucura, além de 
colocar em questionamento o próprio conceito da loucura e dos loucos perante a sociedade. 
21 
 
Foucault (2008) também comenta que o lugar que pertence aos loucos na sociedade se 
manteve indefinido aos longo dos séculos, embora na idade clássica se tenha registros de que 
eram cuidados em casa. A partir da Idade Média surgiram os hospícios, que exerciam a 
função de isolar os doentes do convívio social e estudar uma forma de reintegração destas 
pessoas à sociedade. Ainda hoje a prática da exclusão e da reclusão se mantém recomendada 
em alguns casos clínicos; não cabe a este estudo questionar os métodos da medicina, mas esta 
convenção que leva tais pessoas ao afastamento da sociedade resulta em uma falta de espaço 
para a loucura no cenário da sociedade atual. Esta realidade pode indicar uma forma de 
esquizofrenia coletiva, na qual a sociedade não reconhece esta parte de si como 
formadora de um todo. Deste modo, os loucos habitam uma parte marginal da sociedade, 
que se torna na prática um mecanismo de preconceito e exclusão. Conforme comenta 
Foucault: 
(...) esse retiro da loucura, essa separação essencial entre sua presença e sua 
manifestação, não significa que ela se retira, sem nenhuma evidência, para 
um domínio inacessível onde sua verdade permanecerá oculta. O fato de não 
ter nem signo certo nem presença positiva faz com que se ofereça, 
paradoxalmente numa imediaticidade sem inquietações, totalmente estendida 
em sua superfície, sem retorno possível para a dúvida. Mas nesse caso ela 
não se oferece como loucura; ela se apresenta sob os traços irrecusáveis do 
louco (...) (FOUCAULT, 2008, p. 181) 
Mesmo que a sociedade não reconheça, ainda nos dias de hoje, que os loucos fazem 
parte do todo, a presença deles habita o inconsciente coletivo, deixando marcas na identidade 
social, Foucault explica: “O louco é o outro em relação aos outros: o outro – no sentido da 
exceção – entre os outros – no sentido do universal” (2008, p. 183). Ou seja, é a existência do 
louco que faz com que exista o são, o que é uma maneira de manifestação e definição de 
identidade: através da diferença. 
Neste sentido, o que chamamos de esquizofrenia digital vem de encontro com a 
concepção do termo e da medicina. Esquizofrenia é uma separação e uma divisão do 
pensamento; é a cisão de uma identidade em fragmentos. A diferença entre o indivíduo 
22 
 
louco e o são reside justamente na forma como administram as múltiplas identidades 
que cada um carrega. Uma pessoa sã consegue administrar que sua identidade é composta 
de elementos variados, maleáveis e mutantes, mas que fazem parte de um todo, que é o 
individuo. Já o esquizofrênico não tem a percepção do todo: para ele, cada faceta de sua 
personalidade compõe um novo indivíduo. Suas identidades variadas não são, portanto, 
fragmentos de si mesmo, mas são para o esquizofrênico, manifestações de um outro, de 
um terceiro, diferente de si. 
Outra semelhança entre o conceito médico e o conceito da esquizofrenia digital é a 
alteridade
3
. Se o louco é aquele que se comporta de maneira diferente dos demais, seu 
comportamento é facilmente identificado pelos demais como diferente. A alteridade e a cisão 
do indivíduo em fragmentos definem a esquizofrenia digital: ela é composta de um eu e um 
outro, diferente do eu. Tanto o eu quanto o outro fazem parte de um mesmo elemento, a 
identidade, que se refere a um mesmo corpo, um indivíduo. Este conceito de esquizofrenia 
digital nos remete à ideia da representação e do simulacro: a manifestação da esquizofrenia 
digital acontece através da representação de uma identidade, que provavelmente está 
relacionada com a imagem que tal indivíduo possui de si mesmo ou está relacionada a 
uma imagem criada para determinado fim, mas que da mesma maneira, é a simulação 
de uma identidade. Neste sentido, a esquizofrenia digital nos ambientes digitais é uma forma 
de manifestação de um fragmento de identidade, que se revela através de uma representação 
terceira de si mesmo. 
A diferença entre a esquizofrenia digital e os papéis sociais reside principalmente no 
significado de seus usos para os indivíduos. A esquizofrenia digital, apesar do empréstimo do 
termo médico, está mais relacionada a uma emoção ou necessidade de expressar-se através de 
 
3
 Alteridade: Qualidade ou natureza do que é outro, diferente. Fato de ser um outro ou qualidade de uma coisa 
ser outra [F.: Do latim alter, 'outro', + -(i)dade]. Disponível em: 
<http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=loadVerbete&pesquisa=1&palavra=alteridade&x=10
&y=7>. Acesso em 26 de junho 2011. 
23 
 
uma representação simulada enquanto o papel social tem relação direta com uma função 
exercida pelo indivíduo: “Em temos mais genéricos, pode-se dizer que identidades organizam 
significados, enquanto papéis organizam funções” (BAUMAN, 2008, p. 23). O estudo da 
esquizofrenia digital, como um fragmento da identidade, tem relevância para os estudos de 
comunicação digital porque reflete um comportamento social e individual, que tem relação 
direta com os efeitos da pós-modernidade em nosso tempo. O conjunto de transformações que 
resultam do desenvolvimento da cultura de convergência e da multiplicidade digital acarretam 
em mudanças importantes e estruturais, que implicam também mudanças nas formas de 
comunicação, produção e distribuição de cultura em todo o mundo. Portanto, entender o 
indivíduo com o qual se pretende comunicar é de extrema relevância para a atuação das áreas 
da comunicação, pois, mesmo que de novas formas, a comunicação se baseia ainda na relação 
entre emissor e receptor. O estudo da identidade é, portanto,uma forma de compreender as 
novas maneiras de posicionar-se nesta relação, conforme defende Bauman: 
Avento aqui a hipótese de que em linhas gerais, quem constrói a identidade 
coletiva, e para quê essa identidade é construída, são em grande medida os 
determinantes do conteúdo simbólico dessa identidade, bem como seu 
significado para que aqueles que com ela se identificam ou dela se excluem. 
(BAUMAN, 2008, p. 23-4) 
Desta maneira, entendemos que compreender os elementos da construção da 
identidade nos dias de hoje está fortemente relacionado com a responsabilidade que o 
comunicólogo possui em conhecer e entender a sociedade em que atua, e a esquizofrenia 
digital, como parte desse processo, pode indicar comportamentos e tendências relevantes 
para a representação da identidade em ambientes digitais. 
 
 
24 
 
5. Metodologia de Pesquisa 
 
Neste capítulo serão descritos o método e a abordagem utilizada para análise do 
corpus, bem como os caminhos que levaram à escolha dos analisados e tipo de análise a ser 
aplicada na pesquisa. 
 
5.1 Método e Abordagem 
A esquizofrenia digital, enquanto teoria, pode ser verificada em ambientes digitais 
através da análise de conteúdo e do acompanhamento de casos que apresentam determinados 
elementos relacionados a esta teoria. Para tanto, recorremos ao método da Teoria Fundada, 
comentado pelas autoras Fragoso, Recuero e Amaral (2011), em que o pesquisador se lança 
ao estudo dos dados com uma pergunta inicial, porém sem uma hipótese fundamentada 
teoricamente. Através da observação dos dados, do background do pesquisador e do suporte 
teórico recolhido ao longo da observação, surge uma teoria a respeito do fenômeno 
observado: 
A análise dos dados vai, assim, auxiliando a refinar o próprio processo de 
coleta dos mesmos. Trata-se de um processo de retroalimentação constante 
entre o empírico e a análise do mesmo. O campo, assim, oferece pistas não 
apenas a respeito da relevância das questões da pesquisa mas, igualmente, 
auxilia a construir essas questões e confronta, também, o pesquisador com 
novas questões. (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 92) 
Inicialmente, o presente estudo almejava identificar mecanismos de construção da 
identidade em ambientes digitais como uma maneira de traçar os novos modos de 
manifestação da identidade no mundo pós-moderno. Porém, em suas primeiras observações, 
esse objeto revelou-se muito amplo, sendo necessário um recorte para uma análise mais 
aprofundada. Entre os tipos de recorte – criação de personas, atores sociais e esquizofrenia 
digital, o terceiro se mostrou interessante para a problematização de uma questão inicial que 
pautava o estudo: Por que a sociedade convive com a presença dos atores sociais, aceita a 
25 
 
existência das personas, mas não aceita e em certos casos não convive bem com os perfis 
fake? E em contrapartida, por que determinados perfis que são declaradamente fake, ou até 
mesmo perfis de publicidade, são muitas vezes aceitos? Seriam eles uma manifestação de 
identidade coletiva que ainda não está incorporada na cultura? Seria uma forma de detenção 
de poder de certas pessoas em detrimento das demais? Estas perguntas resultaram em um 
recorte na esquizofrenia digital uma vez que o interesse principal da pesquisa estava 
relacionado a uma percepção de significados culturais e de identidade, enquanto o 
estudo de personas e atores sociais estaria mais relacionado ao estudo de funções, 
conforme defendeu Bauman (2008). 
O estudo se constitui, portanto, da observação de determinados perfis em uma rede 
social (Twitter), cujos conteúdos serão posteriormente avaliados e categorizados através de 
uma análise qualitativa. O objetivo final será determinar possíveis graus de esquizofrenia 
digital nos perfis analisados. 
 
5.2 Ambiente de Estudo 
Para verificar a manifestação da esquizofrenia digital como um elemento de formação 
de identidade em ambientes digitais utilizamos como amostra determinados perfis da rede 
social Twitter, que foram selecionados segundo alguns elementos de recorte preestabelecidos 
que serão descritos adiantes. 
O Twitter é uma ferramenta que permite a publicação de mensagens de texto de até 
140 caracteres, chamadas tweets. É denominado microblog, por sua semelhança ao uso de 
blog e também por ser uma ferramenta para uso rápido, que pode ser utilizada tanto em 
computadores como em celulares e tablets. Embora existam ferramentas que aumentem o 
número de caracteres, as mensagens curtas são a maioria, uma vez que a ferramenta surgiu 
com o propósito de trocar mensagens rápidas, objetivas e em tempo real. O Twitter foi 
26 
 
lançado em julho de 2006, e rapidamente se espalhou pelo mundo. A última pesquisa do 
ComScore, divulgada em fevereiro de 2011, “The Brazilian online audience” afirmou que o 
Brasil é o segundo maior mercado do Twitter, com 22% da audiência da ferramenta em todo o 
mundo. Uma pesquisa da agência Bullet divulgada em 2009 estimou mais de 110 mil usuários 
no Brasil, com um perfil de heavy-users – usuários com alta intensidade de consumo de 
internet, que utilizam a ferramenta para saber o que as pessoas estão falando e utilizam 
também a maioria das ferramentas 2.0 como: Facebook, YouTube, Orkut etc. A criação dos 
perfis é gratuita e sua identificação nas redes é precedida do sinal @, que foi posteriormente 
incorporado ao Facebook, com a finalidade de taguear os usuários. 
A incorporação do Twitter na cultura mundial é notável. Já existem estudos que 
procuram identificar como esta ferramenta vem influenciando as formas de comunicação, por 
exemplo, a exibição do “@”, endereço do perfil, em transmissões da TV indica a preocupação 
do veículo offline em atingir também audiência que se encontra conectada à internet enquanto 
assiste ao programa. Fragoso, Recuero e Amaral comentam: 
A perspectiva da internet como artefato cultural observa a inserção da 
tecnologia na vida cotidiana. Assim, favorece a percepção da rede como um 
elemento da cultura e não como uma entidade à parte, em uma perspectiva 
que se diferencia da anterior, entre outras coisas, pela integração dos âmbitos 
online e offline. (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL 2011, p. 42) 
Sua relevância se comprova, portanto, como elemento da formação de uma cultura 
pós-moderna e de construção de identidades. 
A escolha do Twitter como ambiente de estudo ocorreu por sua característica principal 
estar atrelada a uma interação rápida, passageira e constante. Isto é, o Twitter é um ambiente 
favorável a manifestações e representações de identidade, porque não pressupõe um grande 
esforço para engarja-se ou para ser utilizado, visto que é possível acessá-lo de qualquer 
aparelho com conexão à internet e em qualquer lugar. Sua dinâmica favorece a divulgação de 
muitas mensagens em pouco tempo, o que leva o usuário a sentir uma sensação de liberdade, 
27 
 
em que permite que qualquer coisa seja dita e, teoricamente, esquecida rapidamente (embora 
o registro fique gravado caso não seja apagado). 
Alguns critérios básicos foram definidos para selecionar os perfis a serem analisados. 
Foram eles: 
a) perfis brasileiros e em língua portuguesa; 
b) perfis que não requerem o follow para ver o conteúdo, ou seja, perfis públicos; 
c) perfis cujo discurso revelem traços da identidade do indivíduo que fala; 
d) perfis: fakes declarados, personagens declarados, para fins de propagada ou 
representação de uma pessoa pública. 
A partir do recorte dos perfis, foi observado o conteúdo dos mesmos (tweets), através 
do acompanhamento da conta entre os dias 28 de abril de 2011 e 15 de junho de 2011 – 50 
dias. Utilizou-se a captura da tela para armazenamento dos históricos dosperfis. 
 
5.3 Perfis selecionados 
A pergunta inicial, conforme sugere a prática da Teoria Fundada, foi por que certos 
perfis são aceitos socialmente ainda que sejam claramente fake e outros perfis são criticados 
por não revelarem o nome de uma pessoa. Então, a partir dos requisitos expostos acima, 
foram selecionados três pares de perfis com características semelhantes entre si e entre os 
pares. O critério foi baseado principalmente na presença de linguagem que indicasse 
manifestações de identidade no discurso do autor, de modo a possibilitar uma visão parcial 
sobre como a identidade tem se manifestado em ambientes digitais nos dias de hoje e, 
ainda, de que maneira a esquizofrenia digital se faz presente nestes perfis: 
@oqoshpensam @princesa_kate @claroronaldo 
@depressiveguy @pergunteaourso @rafinhabastos 
Tabela 1: Perfis selecionados para análise 
28 
 
Propositadamente, foram selecionados os perfis @claroronaldo e @rafinhabastos, 
pessoas públicas e vastamente conhecidas no Brasil, e também internacionalmente. Além de 
apresentarem traços de manifestação de identidade em seus discursos, ambos os perfis 
estiveram sob grande exposição na mídia durante o período da análise, o que elevou os 
índices de interação a atualizações dos mesmos. Da mesma maneira, o perfil @princesa_kate 
esteve em pontual e larga exposição midiática durante o período analisado, por sua relação 
com o casamento real, que foi transmitido ao vivo em diversos canais de televisão do Brasil e 
do mundo, além de transmissão ao vivo pelo canal de vídeos online YouTube. O casamento 
real foi considerado até o momento o evento do ano, e foi assistido por mais de 2 bilhões de 
pessoas em todo o mundo
4
. Também o perfil @oqoshpensam atuou de forma ativa no período 
de 10 a 14 de junho, data próxima ao Dia dos Namorados no Brasil, e o autor do perfil 
@pergunteaourso, também durante o mês de junho, esteve presente em um evento de Mídia 
Social no Brasil, o que também movimentou de forma atípica sua atividade. Já o perfil 
@depressiveguy não passou por datas ou eventos que alterassem a rotina de sua atividade, o 
que não anulou sua presença entre os analisados, uma vez que o foco da análise reside no 
conteúdo dos perfis. Contudo, os eventos descritos foram relevantes durante o período da 
análise e convém citá-los. 
Portanto, através da análise do conteúdo destes perfis, esperamos determinar 
possíveis graus de esquizofrenia digital, o que possivelmente poderá indicar uma visão 
parcial da construção da identidade nos dias atuais. 
 
 
4
 BBC Brasil: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/04/110429_vestido_mostra_pu.shtml>. Acesso 
em: 10 de jun 2011. 
29 
 
6. Esquizofrenia Digital no Twitter 
 
6.1 Descrição dos Perfis 
Um dos principais critérios levado em conta para a escolha dos perfis desta análise foi 
a presença de discursos que revelassem traços da identidade do indivíduo que fala. Sabemos 
que o ambiente analisado, o digital, não é composto apenas de pessoas que estão dispostas a 
revelar informações sobre si mesmas, porém é inevitável manifestar pontos de vista e opiniões 
que revelam algo sobre si, mesmo quando o objetivo é simular uma personagem. A mecânica 
do Twitter em formato de blog – com uma linha do tempo claramente estabelecida favorece a 
leitura dos perfis como se fossem uma história, como sugere o próprio nome usado para se 
referir ao conjunto dos tweets a timeline. Pensando a timeline como uma história, seria como 
analisar a história da vida destes perfis, através dos fragmentos que foram postados. 
THOMPSON (1995, p. 10) comenta que contar sobre nós mesmos é reconstruir uma 
narrativa, que se modifica enquanto é contada, sobre como chegamos onde estamos e para 
onde vamos em seguida. Isto vem de encontro com o que observamos nas timelines, que são 
também pequenos recortes do que acontece na vida das pessoas, e que em conjunto constroem 
um todo uno, que faz sentido em si mesmo e revela traços da identidade do autor. 
Foram selecionados, ao total, seis perfis, agrupados em pares que contêm alguma 
semelhança. Os perfis @oqoshpensam e @depressiveguy possuem em comum o fato de 
pertencerem a pessoas que se utilizam desta conta para falar sobre assuntos que não falariam 
em suas contas públicas. Utilizam o artefato fake para se manifestarem livremente, sem 
preocupação com as consequências que suas ideias podem trazer em suas vidas pessoais e 
profissionais. Enquanto @oqoshpensam aborda conteúdos relacionados a namoro e sexo, 
@depressiveguy se concentra em assuntos que causam aborrecimento ou, como o nome 
sugere, que o deixam depressivo. O perfil @oqoshpensam se concentra em interagir 
30 
 
especialmente com as mulheres, postando dicas e conteúdos relacionados a sexo, como 
conseguir um namorado, como se comportar em um encontro etc. Conta, até este momento, 
com 1.369 seguidores, que costumam interagir com o perfil, enviando perguntas ou 
manifestando opiniões sobre os temas comentados. O autor ou autora também estimula a 
interação, com perguntas e provocações. A descrição que apresenta de si mesmo é 
“PROIBIDO PARA MENORES DE 25 ANOS. O Twitter é apenas umas forma de dividir 
meus pensamentos e as coisas q acontecem cmg. oqoshpensam@gmail.com. Desde 09/04/10” 
(sic). A foto que utiliza no perfil não é a foto da pessoa que o atualiza, mas uma foto genérica 
e que não contém o rosto de uma pessoa: 
 
Imagem 1: @oqoshpensam 
 
Já o perfil @depressive_guy é utilizado a maior parte do tempo para publicar frases 
em tom de desabafo, que falam do próprio dia a dia ou de acontecimentos do mundo. A 
interação é baixa em comparação com os demais perfis, muitas vezes menor do que 1 tweet 
por dia, apesar dos 215 seguidores que acompanham o perfil. A maior parte das frases não 
estimula respostas ou comentários, é puramente descritiva, e a quantidade de atualizações é 
baixa, com cerca de um post por dia e com intervalos de alguns dias. A descrição do perfil e a 
foto também revelam pouco sobre a pessoa que o atualiza: “@depressiveguy – São Paulo – 
Questione-se” diz a descrição, e a foto é do escritor Charles Bukowski, um alemão radicado 
31 
 
nos Estados Unidos, reconhecido como um dos maiores escritores de língua inglesa da 
modernidade: 
“Sua obra obscena e estilo coloquial, com descrições de trabalhos braçais, 
porres e relacionamentos baratos, fascinaram gerações de jovens à procura 
de uma obra com a qual pudessem se identificar.” 5 
 
Imagem 2: @depressiveguy 
 
Ambos utilizam o fake porque preferem manifestar estas opiniões sem comprometer a 
imagem que possuem em seus perfis e preferem que as pessoas de seu convívio não saibam 
que são os responsáveis pelos mesmos. O Twitter é, portanto, para estas duas pessoas, uma 
válvula de escape para uma manifestação de um fragmento de si mesmos que preferem não 
compartilhar de forma pública. 
A segunda classe de perfis selecionados corresponde a perfis com uma grande 
quantidade de seguidores, que se tornaram famosos no universo do Twitter e também em 
outras mídias. O perfil @princesa_kate surgiu em ocasião do casamento do Príncipe William 
e Kate Middleton, em 29 de abril de 2011 no Reino Unido. Em seu blog, @princesa_kate 
divulgou que, em cerca de uma semana que o perfil estava criado, contava com 7.000 mil 
seguidores e 80.000 mil visitas ao blog. Durante a semana do Casamento Real, período em 
que foi analisado, o criador do perfil cedeu entrevistas a revistas, jornais e diversos sites que 
comentaram o sucesso que o perfil obteve em tão pouco tempo. As publicações foram 
relacionadas ao tema do casamento, através de uma abordagem cômica. Foiconstruída uma 
 
5
 Disponível no site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Bukowski>. Acesso em: 10 de jun 2011. 
32 
 
nova personagem, com base na noiva Kate Middleton, com a ambientação do subúrbio do Rio 
de Janeiro – Saquarema. As piadas rapidamente se espalharam, e o perfil começou a se tornar 
mais ativo, tendo feito cobertura em tempo real do casamento no dia 29 de abril. Poucos dias 
depois do casamento, em 3 de maio, seu criador, João Márcio Dias, publicou no blog um 
manifesto sobre a personagem @princesa_kate, no qual identifica-se como o autor do perfil e 
explica os motivos que o levaram a criá-la e por que, daquele dia em diante, se tornaria menos 
ativo: 
Em uma semana dei umas 10 entrevistas pra jornais, blogs, revistas… isso 
sem contar as citações e sites diversos como na Revista Época. Curti bem a 
brincadeira, mas sejamos francos: acabou a graça. 
6 
E complementa, com sua opinião sobre os perfis fake semelhantes ao 
@princesa_kate: 
Acho que muito o que falta pros fakes é perceber que chega uma hora que 
cansamos das mesmas piadas. Eu, como crítico ferrenho da PraçaNossísmo 
do humor, não seria coerente continuar ad infinitum com piadas de 
dobradinha, rabada e frituras.
7 
Desde então, a atividade no blog e no perfil se tornaram bastante reduzidas, inclusive o 
número de seguidores caiu de 7.000 mil para 5.431 mil. Sua descrição no Twitter é alusiva às 
piadas que publica: “@princesa_kate – Saquarema - Princesa do Povo (me add: 
contato.princesakate@gmail.com) http://princesakate.wordpress.com” 
 
Imagem 3: @princesa_kate 
 
 
6
 Disponível no blog: <http://princesakate.wordpress.com/2011/05/03/ultimo-post-lua-de-mel-mais-perfeita-de-
todas/>. Acesso em: 03 de mai 2011. 
7
 Op. cit. 
33 
 
De forma semelhante, o perfil @pergunteaourso lança mão de um personagem, neste 
caso fictício, para representar o criador do perfil. Aqui encontramos uma diferença 
importante: este perfil não é um fake declarado, pois seu autor, além de utilizar uma foto de si 
mesmo, expõe no blog www.pergunteaourso.com.br que é o autor do perfil e explica o motivo 
da criação do mesmo: 
“O blog teve diversas motivações, os amigos me incentivaram bastante, a 
falta de humor no dia a dia também, mas creio que precisava descarregar um 
pouco a tensão gerada pelas perguntas que não posso responder 
pessoalmente. Confesso que ficou divertido poder responder questões sem 
filtro, na lata, doa a quem doer.
8
 
Neste caso, portanto, @pergunteaourso é um personagem criado por Marcelo 
Vitorino, “publicitário e especialista em mídias digitais” @mvitorino_. A mesma informação 
se encontra também na descrição do Twitter: “@pergunteaourso ‒ São Paulo- Marcelo 
Vitorino. Twitter oficial do blog Pergunte ao Urso e também meu por tabela sobre coisas não 
oficiais! O meu pessoal é @mvitorino_ http://pergunteaourso.com.br/”. 
 
Imagem 4: @pergunteaourso 
 
Os dois últimos perfis escolhidos, conforme supracitado, foram selecionados também 
por se tratarem de pessoas públicas, que utilizam o Twitter como uma ferramenta de 
comunicação para os assuntos relacionados a trabalho, carreira, diversão, entre outros temas. 
São pessoas conhecidas internacionalmente e consideradas influenciadores importantes. O 
perfil @claroronado é o perfil oficial da companhia de telecomunicações Claro, e é também 
 
8
 Disponível no site: < http://www.pergunteaourso.com.br/faq/>. Acesso em: 10 de jun 2011. 
34 
 
o perfil do jogador Ronaldo (Luis Nazário de Lima). A empresa o contratou como garoto-
propaganda há cerca de 1 ano e anteriormente, Ronaldo também havia sido garoto-
propaganda da companhia Tim. O uso que é feito deste perfil é um mix entre um perfil 
particular do jogador e um perfil oficial da operadora de celular, que se utiliza deste meio para 
publicar promoções, comunicados etc. O que se torna interessante neste perfil é que o jogador 
também o utiliza para comentar assuntos de sua vida profissional e particular, além de 
interagir com os seguidores de todas as partes do mundo, lançar desafios e promoções 
relacionadas às marcas com as quais trabalha, além da oficial Claro. O volume de seguidores 
1.867.018 milhão – um dos maiores em números de seguidores no Brasil indica uma aceitação 
por parte do público deste perfil, de modo a se incluir na investigação da pergunta inicial 
deste estudo. Ainda que se proponha a ser o perfil do jogador em si, traz também uma marca 
agregada, como uma espécie de pílula dourada para o contato com o jogador. O período 
analisado compreendeu também a semana em que aconteceu seu último jogo pela Seleção 
Brasileira, no estádio Pacaembu, em São Paulo, 7 de junho de 2011. A apresentação do perfil 
e a foto são também um mescla da marca com o jogador: “@ClaroRonaldo – Brasil - O 
twitter oficial da Claro eh o twitter oficial do fenomeno. Siga e acompanhe seus comentários 
e as novidades da Claro. http://www.claro.com.br - http://www.claro.com.br”. 
 
Imagem 5: @claroronaldo 
 
O último perfil analisado, mas não menos importante, foi do comediante e 
apresentador @rafinhabastos. Seu perfil foi considerado o mais influente do Twitter, pela 
35 
 
ferramenta Twitalyzer, em pesquisa publicada em 24 de março de 2011.
9
 Rafinha Bastos 
contém, até o momento, mais de 2,3 milhões de seguidores e é um dos perfis com mais 
seguidores do Brasil, segundo a pesquisa da ferramenta TweetRank. O conteúdo de suas 
publicações é diversificado, e transita entre matérias do programa que apresenta o CQC, sobre 
política, economia, entretenimento, entre outros. Apesar de o programa CQC ser patrocinado 
por diversas marcas, o comediante Rafinha não representa oficialmente nenhuma delas em seu 
perfil do Twitter, o que nos leva a crer que o conteúdo que publica está basicamente 
relacionado a opiniões e ideias próprias. Diferente do também influenciador @claroronaldo, 
Rafinha não tem o compromisso de representar uma marca, apesar de ser adepto à prática do 
tweet patrocinado, em que uma marca pode pagar para que seja feita uma publicação que a 
mencione. Sendo assim, o discurso de Rafinha também indica um compromisso com sua 
imagem pública, e também expressa opiniões a respeito do seguimento em que atua, assim 
como @claroronaldo. A descrição e a foto do perfil de Rafinha remetem a seu perfil 
irreverente e cômico: “@rafinhabastos – Brasil - Funileiro e atriz. 
http://www.rafinhabastos.com.br”. 
 
Imagem 6: @rafinhabastos 
6.2 Aspectos da Análise 
A partir da análise do conteúdo dos perfis foram observados aspectos da comunicação 
que permitissem um recorte sobre a manifestação da identidade e os graus de esquizofrenia 
presentes. 
 
9
 Fonte: < http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,rafinha-bastos-e-o-mais-influente-no-twitter-diz-
pesquisa,697194,0.htm> 
36 
 
Os aspectos foram agrupados em grandes categorias de significação, de modo a 
permitir uma visão qualitativa dos elementos do corpus: 
 
Categorias de aspectos analisados 
 
1) Fragmentação: a fragmentação, como característica correspondente à 
esquizofrenia digital, é a principal categoria de análise do estudo. Ela é 
determinante para definir se o perfil contém ou não os principais aspectos 
da esquizofrenia digital, que não possui até o momento presente, uma 
definição específica que se possa identificar facilmente. Por este motivo, 
através da análise do conteúdo, foram selecionados aspectos que indiquem 
uma fragmentação do sujeito, tais como: 
i. declara-seum fake ou um personagem: indica em sua descrição 
ou durante o texto; 
ii. mescla discurso profissional e particular: fala de vida pessoal e 
também do trabalho; 
iii. discurso fragmentado, assuntos desconexos: mistura diversos 
temas, não se retém em um único assunto; 
iv. discurso em primeira pessoa do singular e também na primeira 
pessoa do plural: se identifica tanto como um representante de um 
conjunto de pessoas como a si mesmo; 
v. indica localidade física local ou regional: declara sua origem ou 
procura estabelecer um característica “universal”; 
 
37 
 
2) Linguagem: A análise da linguagem utilizada pelos analisados permite 
traçar um perfil do interlocutor. Através da linguagem são manifestados 
traços da personalidade, marcas regionais, além de permitirem manifestar 
sentimentos com símbolos característicos de registro da Internet, que 
foram considerados parte da categoria linguagem por se enquadrarem em 
uma seção de finalidade comunicacional. A importância desta categoria é 
que ela permite uma visão ampla do comportamento do analisado, porque 
informa dados relevantes de sua relação com o meio e com o seu 
posicionamento em relação ao item anterior, a fragmentação. 
i. usa ironia: seu discurso é irônico, sarcástico com objetivo de 
produzir humor ou crítica; 
ii. manifesta opinião: declara seu posicionamento sobre assuntos seja 
por meio da ironia ou de comentário; 
iii. cria expressões próprias: cria hashtags ou procura utilizar 
expressões que lhe atribuam uma característica própria; 
iv. usa expressões próprias do Twitter: adere hashtags (#) com 
objetivo de se encaixar no contexto de conversação do Twitter ou 
para situar seu perfil em determinado assunto. Cria-se hashtags 
intencionalmente, classificaremos na categoria interação, porque 
possui o objetivo de gerar uma conversa em torno de si mesmo; 
v. usa elementos históricos e sociais para contextualizar sua fala: 
se utiliza de elementos que acontecem no Brasil e no mundo para 
interação ou se mantém em seu próprio contexto. 
 
38 
 
3) Interação: neste estudo, o elemento interação corresponderá a todas as 
formas explícitas permitidas pela ferramenta para conversar com as 
pessoas, mediante análise do contexto em que a conversa ocorre (ou não 
ocorre como uma conversa, de modo a não ser considerado na análise). 
Desta forma, estão incluídos o tweets que contém o @ de outro perfil, 
considerando inclusive os retweets – RTs – quando o autor encaminha ou 
responde um tweet e os replys, que são simplesmente uma resposta . E 
também são levados em consideração o uso das hashtags (#) que visam 
categorizar os assuntos. 
i. usa RTs e replys: faz menção a outros usuários por motivo de 
conversa ou “retwita” algo para gerar uma conversa sobre o 
assunto; 
ii. usa hashtags: usa marcação # das hashtags com intenção de 
categorizar um assunto, com o propósito de gerar uma conversa 
sobre o tema; 
iii. posta fotos e vídeos: se utiliza de fotos e vídeos para interagir com 
os seguidores, demonstrar ou atrair conversas sobre o tema; 
iv. responde a críticas: preocupa-se em interagir com pessoas que 
eventualmente façam críticas à pessoa, o perfil ou a temas 
publicados. Este fator é relevante para verificar se o perfil está 
interessado em obter aceitação do público ou não. 
v. incita resposta e manifestação com chamadas: faz-se perguntas 
aos usuários esperando uma resposta para um contexto de conversa, 
ou mantém sua fala mais no nível da descrição, sem preocupar-se 
com a opinião dos seguidores. 
39 
 
 
4) Publicidade: este fator se revelou importante para esta análise uma vez 
que está relacionado com a pergunta inicial do estudo: Por que certos 
perfis são mais aceitos que outros? A presença ou ausência de elementos 
de publicidade no perfil podem influenciar no sucesso ou fracasso de um 
perfil fragmentado? Isso teria alguma relação direta com a esquizofrenia 
digital? Este recorte é também interessante para uma posterior aplicação 
prática do estudo em planejamento de mídia social para fins comercias e 
corporativos. 
i. faz publicidade abertamente: cita marcas e utiliza slogans, 
merchandising, promoções, etc; 
ii. faz menção direta à marcas: publica nome de marcas, porém, sem 
marcar a propaganda com o texto publicitário. Cita a marca como 
se fosse uma manifestação espontânea; 
iii. cita marcas indiretamente: comenta sobre elas mas não 
necessariamente com objetivo de divulgação. Aqui também serão 
consideradas menções negativas, irônicos ou meramente 
ilustrativas. 
iv. é patrocinado por alguma marca: seu perfil está explicitamente 
relacionado a uma marca; 
v. contém tweets enviados por terceiros: por meio da análise 
contínua dos tweets é possível verificar quando uma mensagem não 
foi escrita pela pessoa que mais atualiza, seja pela marcação de uma 
linguagem diferente ou por marcação de uma ferramenta que faz 
atualização automática (ex. Hootsuite). 
40 
 
 
Essas quatro categorias principais reúnem 20 fatores de análise, que por meio de uma 
tabela, indicarão uma escala para cada categoria. Desta maneira, as categorias agrupadas 
indicarão uma escala entre forte e fraco para o grau da esquizofrenia digital do perfil 
analisado. 
 
6.3 Interpretação dos aspectos de análise 
A partir das quatro categorias de análise do conteúdo, faremos um recorte de tweets 
relacionados aos itens, na tentativa de verificar o grau da esquizofrenia digital de cada perfil. 
 
6.3.1 Fragmentação 
A fragmentação, como elemento principal da esquizofrenia digital, é o elemento mais 
importante desta análise. A partir deste item será possível determinar se os perfis possuem 
traços fortes ou fracos de esquizofrenia. 
Partindo da descrição que o autor ou autora faz de si mesmo já encontramos elementos 
importantes para este recorte. Embora todos os selecionados tenham marcas de uma 
fragmentação em seu discurso, nem todos o manifestam claramente. Os perfis 
@depressiveguy e @oqoshpensam são declaradamente fragmentos de uma identidade oculta 
sob o perfil analisado: 
@depressiveguy Sou uma pessoa super famosa escondida nesse alterego! Meu nome 
real? Bukowski, Charles Bukowski! 
@oqoshpensam Esse lance de Twitter fake faz bem pro ego, as pessoas não me 
conhecem e me chamam de lindo, anjo, delicia (sic) .... É uma beleza! Rsrs 
De maneira distinta se posiciona o perfil @princesa_kate, pois seu objetivo principal é 
manter a personagem criada: 
41 
 
@princesa_kate estão me informando que eu tenho mais seguidores que aquela fake 
recalcada da @KateEMiddleton. SAQUABEACH É NÓIS! 
@princesa_kate AGORA EU SOU PRINCESA E NINGUÉM VAI ME SEGURAR 
DAQUELE JEITO! 
@princesa_kate GENTE EU NÃO SOU FAKE! PODE PERGUNTAR PRA 
@FIOMATTHEIS! 
Já o perfil @pergunteaourso se declara um personagem, porém revela a identidade do 
autor do perfil, e utiliza ambos para se manifestar. Em sua própria descrição no Twitter já 
procura deixar claro: 
@pergunteaourso Marcelo Vitorino. Twitter oficial do blog Pergunte ao Urso e 
também meu por tabela sobre coisas não oficiais! O meu pessoal é o @mvitorino_ 
Aparentemente este perfil comporta duas identidades diferentes. Seria uma forma de 
esquizofrenia digital em que o autor não utiliza do perfil fake, mas exercita uma identidade 
fragmentada de forma explícita, e sem ocultar sua verdadeira identidade. É interessante notar 
que, embora o @pergunteaourso desde a criação do blog e dos perfis tenha utilizado ambos 
@pergunteaourso e @mvitorino_ para dialogar com seus seguidores sobre os temas de ambos 
os perfis, no último período da análise o autor tomou a decisão de separar os temas entre os 
doisperfis, de modo a manter os temas do Blog Pergunte ao Urso estritamente neste perfil e 
utilizar o @mvitorino_ para temas profissionais, como palestras, participações do autor em 
eventos, entre outros: 
@pergunteaourso amigos e amigas, hoje termina um processo de transição do uso 
deste perfil de twitter e também do meu perfil no facebook 
@pergunteaourso a partir de hoje o @pergunteaourso fica focado nos assuntos 
tratados no blog. Divulgação de posts e diálogo com leitores do P.a.U 
@pergunteaourso Mídias sociais, eventos, corporativo ou qualquer tema sem relação 
com o Pergunte ao Urso, siga o perfil @mvitorino_ 
@pergunteaourso Na prática, gosta do blog? siga o @pergunteaourso. gosta do 
autor? siga mvitorino_. Se curtir os 2, siga ambos 
@pergunteaourso Antes meu perfil no facebook era alimentado pelo 
@pergunteaourso, agora passará a ser alimentado pelo @mvitorino_ 
42 
 
Nota-se, portanto, que este autor tem uma preocupação em utilizar os perfis para 
dialogar com seu público, que até o momento estava acostumado com a fragmentação do 
autor em dois perfis. Entretanto, esta mecânica deixou de atender as necessidades do autor, 
que optou por uma cisão mais forte, com total separação de temas, perfis e identidades. Deste 
momento em diante, Marcelo Vitorino se tornou exclusivamente um profissional de 
Publicidade e especialista em Mídias Sociais, enquanto Pergunte ao Urso se mantém como 
uma parte de sua identidade, porém sem referência direta à sua pessoa. 
Os perfis de Rafinha Bastos e Ronaldo, por se tratarem de pessoas públicas, procuram 
manter certa coerência com a imagem já conhecida do público. Mesmo assim, de algumas 
maneiras, marcam por meio da linguagem o fragmento de identidade que estão expostos nos 
perfis: 
@rafinhabastos Oi, meu nome é Rafinha Bastos. Eu sou comediante. Comediante faz 
piada. Obrigado. 
@ClaroRonaldo O twitter oficial da Claro eh (sic) o twitter oficial do fenomeno (sic). 
No caso destes dois perfis, é importante ressaltar que a mídia influencia muito o quê 
está sendo dito. Portanto, para todos os tipos de conversa e manifestações publicados, é 
necessário observar que os fatores comerciais estão presentes, por exemplo, quando o jogador 
Ronaldo utiliza o tema de seu último jogo pela seleção para divulgar o novo cliente de sua 
agência 9ine – a Duracell. Inicialmente o jogador comenta sobre o vídeo que seus filhos 
fizeram durante o jogo – em teoria um assunto de sua vida privada – mas que nesta situação 
havia sido utilizado como parte de uma ação de marketing: 
@claroronaldo vces (sic) viram meus filhos me filmando? lidos (sic) demais deem 
uma olhada www.facebook.com/duracellbrasil 
Da mesma maneira cita a marca Nike, relacionado ao jogo: 
@claroronaldo Vces (sic) viram o video (sic) q a Nike fez pra mim? 
http://www.youtube.com/nikefutebol#p/u/0/s1SEQh2lg6U 
43 
 
Ronaldo utiliza a primeira pessoa na maior parte do tempo, mas também aparecem 
tweets de propaganda, que utilizam chamadas para promoções e novidades da Claro, em que a 
marcação da pessoa que fala é oculta: 
@claroronaldo O Xperia Arc com Android 2.3 chega primeiro na Claro com uma 
oferta super bacana: R$ 349 a partir do Sob Medida R$270.http://t.co/9 
Algumas vezes também aparece a marcação da terceira pessoa, onde entendemos que 
está sendo utilizado o perfil do jogador para a fala de um terceiro, no caso a Claro: 
@claroronaldo Já viram o novo iPhone4 Branco? A Claro oferece variedade de 
iPhones para vc escolher. Aproveite a oferta de lançamento http://t.co/L 
Assim, a fragmentação deste perfil se confirma, tanto pelo uso de várias formas de 
marcação da pessoa que fala, quanto pela forma que são abordados os temas da vida particular 
e profissional. Esta forma de fragmentação já não ocorre no perfil de Rafinha Bastos, que se 
posiciona a maior parte do tempo como um comediante, falando em primeira pessoa, e 
principalmente sobre os temas relacionados ao seu universo de atuação profissional – o 
humor: 
@rafinhabastos Já q a Globo mostrou o casamento de Willian e Kate, aguardo 
amanhã na BBC o casório de Ivanilde e Wanderson. 
@rafinhabastos Os Brasil tudo (sic) assistindo aos programa (sic) CQC. Na sua 
tevelisão(sic). 
@rafinhabastos Visitei o Orkut de vários amigos. Pelo que notei, a maioria morreu 
em 2004. 
A fragmentação dos perfis também se manifesta por meio dos assuntos que são 
tratados nos perfis. Todos eles procuram estabelecer uma coerência em suas postagens, porém 
os assuntos são diversos. A mecânica de funcionamento do Twitter também facilita uma troca 
assuntos muito rápida, que também está relacionado com o diálogo que os seguidores 
estabelecem. Dos perfis observados, notamos que aquele que menos se preocupa em manter 
uma coerência dos tweets é o @depressiveguy. Uma pequena sequência de tweets podem 
mostrar a variedade de temas, que não estão necessariamente relacionados: 
44 
 
@depressiveguy Sabe o que eu não queria? Me dar mal! 
@depressiveguy Se você não consegue resolver os problemas, aprenda a livrar-se 
deles! 
@depressiveguy “Serumanos” (sic), quando vamos nos tocar que 8 horas de trabalho 
por dia é ridiculamente muito? 
@depressiveguy O estado normal das coisas nunca é bom! Você sempre tem que se 
esforçar e muito para que pareçam ao menos razoáveis! 
O tom altamente pessoal deste perfil se sobressai na maior parte dos tweets analisados, 
que demonstram principalmente os sentimentos do autor em relação à vida e ao trabalho, de 
uma forma melancólica. Seu interesse mais claro é utilizar-se do perfil fake como uma forma 
de desabafo para estes sentimentos, e o tom confessional de seu texto é uma forma de 
manifestar seus pensamentos conforme lhe ocorrem, sem um compromisso de transmitir uma 
mensagem específica para seus seguidores. Também por este motivo, notamos que sua fala é 
praticamente 100% do tempo em primeira pessoa. 
De uma maneira parecida se posiciona o @oqoshpensam. Sua fala está na maior parte 
do tempo em primeira pessoa, e grande parte dos tweets falam de sua vida privada, sem 
mencionar nome de pessoas ou qualquer elemento que possa ser relacionado à sua identidade 
verdadeira. Este perfil também possui tom confessional, como @depressiveguy, porém, se 
posiciona de uma forma diferente diante dos seguidores, pois tem um interesse maior em 
interagir com os usuários que os seguem – a maioria composta de mulheres. Por este motivo, 
suas publicações mesclam pensamentos e emoções relacionados à sua vida, como trabalho, 
namorada, vida sexual e também temas que possam gerar uma conversa com suas seguidoras, 
perguntado a opinião delas em certo assunto, postando fotos e vídeos, ou também fazendo 
perguntas diretas. 
@oqoshpensam Agora veio o eu te amo...Atrasado, mas veio! Hahahaha 
@oqoshpensam Pq precisamos trabalhar hein (sic)? O dinheiro não pode 
simplesmente cair na nossa conta? 
45 
 
@oqueoshpensam MULHERADA ME AJUDEM!!! o q (sic) devo dar de presente 
para minha namorada dia 12? 
De uma forma semelhante se posiciona @princesa_kate, porém, como já dito, seu 
interesse é dar vida a uma personagem. A maioria dos seus tweets fala sobre o casamento, 
preparativos e sentimentos relacionados ao eventos, sempre de forma cômica e irônica. Existe 
uma coesão de tema, mas também notamos uma fragmentação das postagens, que não seguem 
necessariamente uma linha do tempo, ou um assunto somente. Em meio a descrições dos 
preparativos (fictícios) aparecem pedaços de música, piadas e interações com seguidores. De 
certa forma, se estabelece um discurso que mescla aspectos da vida pessoal e profissional da 
personagem, sempre em primeira pessoa. 
@princesa_kate Os súditos fofos da @OnLine_RBTV estão

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