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as miserias do processo penal

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AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL
CARNELLUTI, Francesco. AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL.
Tradução da versão espanhola do original italiano para a nossa língua por Carlos Eduardo Trevelin. 3º tiragem, São Paulo, Editora Pilares. 2009.
Francesco Carnelutti nasceu em Udine, em 1879, ensinou na Universidad Bocconi de Milão (1909-1912), na Universidade da Catânia (1912-1915), na Universidade de Pádua (1915-1935), na Estatal de Milão (1936-1946) e na Universidade de Roma (1947-1949). Em 1924, juntamente com Giuseppe Chiovenda, fundou e dirigiu a Rivista di Diritto Processuale Civile (Revista de Direito Processual Civil). Principal inspirador do Código de Processo Civil italiano de 1940, mestre do direito substantivo civil e penal, foi também advogado famoso e grande jurista.
Em sua obra As misérias do processo penal ,escrita em (1957), Carnelluti retrata de maneira crítica e um tanto filosófico todos os atos e as figuras atuantes do processo penal, quais sejam: Os magistrados, os promotores, os defensores e o acusado, contempla ainda o processo como um palco, onde os envolvidos tornam se em verdadeiros atores de um espetáculo dramático e comovente para uma plateia de homens comuns, onde a sociedade acompanha o processo penal com o intuito de vingança contra o acusado. E que buscam no delito de outrem pura emoções e diversão. “O problema é que assistem ao processo do mesmo modo com que deliciam o espetáculo cinematográfico, que, de resto, simula com muita frequência, assim, o delito como o relativo processo”. (CARNELLUTI, 2009 pag,05)’
Para Carnelluti a maneira mais fácil e simples de compreender o importante papel da civilidade no processo penal seria se despir de toda uma mentalidade, do “eu sou o melhor” e “não sou como este,” deixando se entender que o acusado não é uma “coisa” para que se repudie e sim, para que se tenha compaixão e que o trate igualmente. Sendo assim, derrubar toda uma barreira de um comportamento preconceituoso em favor do mesmo é aceitar e entender que eu “sou como este,” e, ai sim, dá o verdadeiro sentido a palavra civilidade, que não é outra coisa a capacidade dos homens de quererem –se bem e, por isto, de viverem em paz. Não há expressão maior da incivilidade da população do que comparar um ser humano a uma coisa, res. As pessoas julgam-se melhores que as outras.
O autor faz uma autoanalise do seu caminho pelas as veredas da ciência do direito, tendo por longos anos dedicado- se ao Direito civil, mas que mantivera em suas lembranças de criança “o espetáculo do processo penal “, mantendo-o como uma atração secreta. [1] “Estava em mim uma espécie de corrente subterrânea, a qual a um certo ponto emergiu à superfície da terra. Seria fora de lugar recordar com detalhe as ocasiões que a vida me oferece; o fato é que, um dia, da cátedra de processo civil fui passado àquela do direito e depois à do processo penal”
É nessa analise dentro do processo penal que ele chega ao cume da montanha, de onde pode contemplar a luz, e chega à conclusão que se reconhece não melhor que o outros, ou que há outros piores que ele, mas sim, aqueles que como ele estão a contemplar do alto “os gladiadores” precisam deixar o orgulho e a soberba e passarem a olhar –los como se fossem irmão; [2] “Se aqueles que estão lá no meio arriscando a vida fossem nossos irmãos, correríamos para eles, não? Para separa-los e para salva-los. Como ocorreu que, pouco a pouco, de estranho se tornaram irmãos com precisão não sei”. Só assim então compreenderiam o verdadeiro sentido do processo. 
No capítulo I o autor faz uma comparação das vestes(Toga) dos magistrados, dos defensores e dos acusadores, com o poder que destes emanam e o acusado, e indaga se acerca da verdadeira necessidade dessas; seria por pura tradição ou simples vestes do oficio, e reconhece ser a toga somente um mero artificio de divisão e distinção de autoridades no processo. Sendo, assim, símbolo da divisão e da união ao mesmo tempo “um paradoxo “pois em seu significado de “divisa” representa a separação entre os magistrados, advogados, promotores, dos leigos, no sentido de uni-los e desuni-los enquanto ao significado “uniforme” (que tem uma só forma) representa a união dos magistrados, na figura do colegiado visto que enquanto eles decidem (união, paz), há um desacordo (guerra) entre os acusadores e os defensores. As togas são consideradas como um manto sagrado, pois quando julgam fazem as vezes de DEUS, no qual o juízo é justo e verdadeiro, e os que as vestem estão na verdade unidos a serviço da justiça. Mas toda esta solenidade do processo (defender e julgar) se contrapõe com o homem na jaula condenado, desde já, pelo preconceito da sociedade e as negligencias das autoridades –mostrando-nos a verdadeira realidade do nosso sistema processual. 
Na figura do preso (encarcerado), Carnelluti faz-nos refletirmos acerca das diferenças, se é que estas existem, entre as pessoas “boas e as “más, será que uma pessoa é boa independente de quaisquer circunstâncias à sua volta ou uma pessoa que é má será eternamente ruim e, jamais poderá reverter tal quadro? O próprio mestre consegue ver que é uma tarefa difícil de responder este questionamento, porquanto faz se necessário amar aquele que lhe causou o mal, pois simples é amar o que te fazes o bem. O autor vê-se diante de um caso que ousou defende-lo, primeiramente como ossos do oficio, de um homicida, que premeditadamente tirou a vida de dois homens, E tendo como cumplice seu irmão, acusado de instiga-lo ao crime. Carnelluti vê um caso sem esperança de livra-lo da condenação, no entanto buscava ao menos liberta-lo do calabouço, e recebesse uma pena de reclusão. A figura do preso que ele descreve é de um homem sem nenhuma “luz” ou seja, sem esperanças e sabedor do seu destino, mas que fazendo menção ao que seria seu último pedido, pede -lhe na figura de seu advogado –aquele que é chamado a socorrer- para sua surpresa, que defendesse seu irmão, pois tinha nove filhos. Então, agora, movido de intima compaixão não mas o trata como um simples cliente e sim, como um amigo. Vê o amor fluir nos olhos do terrível condenado e que, naquele momento, o monstro transformara-se em humano, como ele próprio e como qualquer um de nós. Pensou no irmão e em sua família. Como iriam sobreviver? O que seria daquelas crianças? E aquele que foi chamado a socorrer entende ser aquele encarcerado faminto e sedento de amor e descobre então a” sua alma” - fechada por desconfiança e ódio no qual são tidos como animais selvagens, o advogado deve colocar suas vestes (humildade) para compreender solidão do necessitado, colocando se no mesmo plano do acusado. “Colocar-se ao lado do acusado no último degrau da escada.” (Carnelluti 2009, pág. 13)
 Um outro ponto abordado nesta obra é a questão da influência da mídia nos processos penais, pois antes mesmo do julgamento do criminoso o mesmo já foi condenado antecipadamente pela opinião pública ,influenciando assim , até mesmo, os principais protagonistas a darem uma resposta para sociedade , e muita das vezes prejudicando a imparcialidade dos juízes nos seus julgados causando erros judiciais e danos irreparáveis ao simples acusado que levará consigo o estigma do cárcere pelo resto de sua vida. 
No processo do contraditório temos as figuras dos acusadores e defensores que estão em um duelo continuo, na tentativa de mostrar “as suas verdades” tanto da defesa como da acusação. Todo esse duelo tem o magistrado por observador, e como tal, neutralizará toda essa parcialidade unindo todo o exposto e, obviamente, sucumbirá aquele com menos razões. Não existem duas verdades para um mesmo fato. E contra fatos não há argumentos, estes devem ser provados para poder ser base para a aplicação de uma pena. É por meio das provas que um fato é exposto e comprovado como verídico ou não. É na categoria das provas que surge a testemunha, colocada no centro do processo penal e ao lado do acusado, como a mais infiel das prova, pois o sendo um homem está sujeito a persuasão de todas as formalidadesdo processo e da opinião pública. Já na figura do juiz, Carnelluti mostra nos que o mesmo, apesar de estar no topo não é nada mais que um simples homem e o que está embaixo é também um homem e que merece ser tratado como tal. Sabe-lo decifrar é a principal e difícil causa que um juiz tem em suas mãos para decidir, entender e compreender toda história do réu, ou seja, em qual contexto foi praticado tal delito É preciso estudar a forma ou modo do ocorrido, ou seja, o modo de agir do agente, e imputar lhe a sua pena, de valor provisório, para sua cura, não somente no mal que causou, mas o bem que fará. No momento da construção da pena, o passado é reconstruído, pois servirá de base sua aplicação. É exatamente por isso que o delito deve ser esclarecido: Para a aplicação correta da pena. Não há outro motivo. Carnelutti declara: “Preciso saber o que você tem sido, para decidir o que você será. Tens sido um delinquente; certamente serás um preso. Vens fazendo sofrer; sofrerás. Não tens sabido usar a sua liberdade; serás detido. Tenho nas mãos a balança da justiça, ela exige que o peso do teu delito seja também o da tua pena.”(CARNELLUTI 2009 pg 23)
Bem demostra o autor a que seria a grande misérias do processo penal; a sentença penal onde se resume todo o processo penal colocando todas as suas deficiências e impotências do. O acusado vê se diante de si o destino da sua vida nas mãos de uma decisão, a certeza positiva ou negativa da autoria do delito, eis a grande questão; e se o juiz absolve por insuficiência de provas torna se nem culpado nem inocente e continua a ser acusado por toda sua vida, pois o processo não termina nunca. E quando a sua absolvição se dá por erro judicial ou seja o que lhe foi imputado não é verdade, então mostra se claramente a confissão de impotência da justiça e não resta mais nada que confessar seu erro; e quanto ao pobre acusado arrancado de sua família, arruinado pela opinião pública, este preso paga a pena sem deve lá, pois bem sabemos que os tramites da nossa justiça são lentos e duram anos. E quanto ao veredito ser de uma certeza positiva, eis que começa o martírio do mesmo; a condenação, como forma de tratamento e de resposta a sociedade, tornando se coisa julgada e pondo fim ao processo para o justiça ,mas não para o culpado que é colocado recluso em uma penitenciaria para cumprir sua pena ;lugar que servirá para que o mesmo se regenere, se arrependa ,e se cure de toda suas mazelas, sendo assim um paradoxo a que realmente é as penitenciárias , lugar de depósitos humanos á espera da tão sonhada libertação; que não é nada mais que ledo engano por parte dos esperançoso ,pois quando esse dia tão sonhado chega, diga se para alguns felizardos, começa o pesadelo em ter que enfrentar uma pena perpetua , ser um ex condenado, um incivilizado no mundo dos civilizados.
 “As pessoas creem que o processo penal termina com a condenação, o que não é verdade. As pessoas pensam que a pena termina com a saída do cárcere, o que tampouco é verdade. As pessoas pensam que prisão perpétua é a única pena que se estende por toda a vida: eis uma outra ilusão. Senão sempre, nove em cada dez vezes a pena jamais termina. Quem pecou está perdido. Cristo perdoa, os homens não".(CARNELLUTI, 2009,pg 51)
O brilhante autor em muito tem contribuído, não só para os estudiosos do Direito que buscam em suas obras o alicerce para a construção de uma vida profissional na área jurídica, mas para todos que buscam conhecer o verdadeiro sentido do amor ao necessitado. Principalmente nesta obra lida “As misérias do processo penal”, onde com maestria ousa falar das deficiências do direito e principalmente processo penal, tendo como definição:” [6] é o conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides penais, por meio da aplicação do Direito Penal Objetivo”. Sendo então o processo o meio pelo qual o estado aplica do ius puniendi –poder direito de punir- aos que infligem as normas penais; eis a maior das misérias do processo, pois o mesmo não pode ser encarado como um instrumento a serviço do ius puniendi do Estado, e sim como um limitador deste poder, garantidor dos direitos dos indivíduos, garantidor da justiça e da fixação dos parâmetros de cidadania, de humanidade e estando acima de qualquer interesse privado a ele submetido, pois em muitos dos casos a decisão de condenar, não importando se inocente ou não, é mais para dá uma resposta a reação popular e promover a “paz social “do que realmente cumprir o seu papel fundamental que é promover a justiça e respeitar o bem mais valioso que o ser humano pode ter que é a sua vida . É necessário que seja eficiente.
 Na obra lida o autor em muito nos enriquece com sua obra, principalmente para nos ingressantes no mundo acadêmico do Direito, onde chegamos atônitos e ávidos por conhecimentos nos quais tem nos revelado um mundo de igualdade de oportunidades, de solidariedade e justiça, será? Este, definitivamente, é o nosso maior desafio dessa época, entender todo esse processo de direito versus justiça e amor dentro dos conflitos judiciais. Sendo assim, o único sentido da nossa existência sobre o planeta, sejamos criaturas de Deus ou nascidas ao acaso. Esta superação, por fim, acontecerá no momento em que, nós que somos “civilizados”, “homens do bem”, nos enxergamos exatamente no lugar dos” incivilizados “. Trocar de posição diante do espelho e superar a esta contradição, e somente assim nascerá um homem novo para um mundo novo. 
 
BIBLIOGRAFIAS.
---------- As misérias do processo penal, CARNELLUTI,Francesco - Tradução da versão espanhola do original italiano para a nossa língua por Carlos Eduardo Trevelin. 3º tiragem, São Paulo, Editora Pilares. 2009.
---------- http://pt.wikipedia.org/wiki/Francesco_Carnelutti
 ----------- [6] Curso de Direito Penal, Vol 1, parte geral. Pg. 49. Ed. Juspodium
 
 FACULDADE PITÁGORAS 
 
 CURSO DE DIREITO
 2º PERIODO MATUTINO TURMA311
 TRABALHO APRESENTADO Á DISCIPLINA DIREITO CONSTITUCIONAL I
 PROFESSOR PAULO DE JESUS
RESENHA CRÍTICA SOBRE O LIVRO AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL.
 
 
 DIANNE 
 HAGAMENON
 JHENNIFER
 SANDRA SERVELON MENDES
 SILVANETI PEREIRA DA SILVA
 FACULDADE PITÁGORAS 
 
 CURSO DE DIREITO
 TRABALHO APRESENTADO Á DISCIPLINA DIREITO CONSTITUCIONAL I
 
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